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1o Bim01 REQUISITOS - HUMBERTO THEODORO JÚNIOR

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HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, Curso de Direito Processual Civil, Forense
Capítulo VII
REQUISITOS PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO
§ 21. PRESSUPOSTOS E CONDIÇÕES DA EXECUÇÃO FORÇADA
172. Pressupostos processuais e condições da ação
Realizam-se, por meio do processo de execução, pretensões de direito material formuladas pelo credor em face do devedor. O direito de praticar a execução forçada, no entanto, é exclusivo do Estado. Ao credor cabe apenas a faculdade de requerer a atuação estatal, o que se cumpre por via do direito de ação. Sendo, destarte, a execução forçada uma forma de ação, o seu manejo sofre subordinação aos pressupostos processuais e às condições da ação, tal como se passa com o processo de conhecimento.
A relação processual há de ser validamente estabelecida e validamente conduzida até o provimento executivo final, para o que se reclamam a capacidade das partes, a regular representação nos autos por advogado, a competência do órgão judicial e o procedimento legal compatível com o tipo de pretensão deduzida em juízo, além de outros requisitos dessa natureza (v. volume I, n° 87).
As condições da ação, como categorias intermediárias entre os pressupostos processuais e o mérito da causa, apresentam-se como requisitos que a lei impõe para que a parte possa, numa relação processual válida, chegar até a solução final da lide. Sem as condições da ação, portanto, o promovente não obterá a sentença de mérito ou o provimento executivo, ainda que o processo se tenha formado por meio de uma relação jurídica válida.
Nosso Código estabelece, expressamente, como condições da ação a legitimidade de parte e o interesse de agir (v. volume I, n° 97).
Para a execução forçada prevalecem essas mesmas condições genéricas, de todas as ações. Mas a aferição delas se torna mais fácil porque a lei só admite esse tipo de processo quando o credor possua título executivo e a obrigação nele documentada já seja exigível (arts. 786 e 783). É, no título, pois, que se revelam todas as condições da ação executiva.
Dessa maneira, pode-se dizer que são condições ou pressupostos específicos da execução forçada:
(a)	o formal, que se traduz na existência do título executivo, donde se extrai o atestado de certeza e liquidez da dívida;
(b)	o prático, que é a atitude ilícita do devedor, consistente no inadimplemento da obrigação, que comprova a exigibilidade da dívida.
A esses dois requisitos refere-se expressamente o Código de Processo Civil atual nos arts. 783 a 788, ao colocar o título executivo e a exigibilidade da obrigação sob a denominação de “requisitos necessários para realizar qualquer execução".
173. O título executivo
Não há consenso doutrinário sobre o conceito e a natureza do título executivo. Para Liebman, é ele um elemento constitutivo da ação de execução forçada; para Zanzuchi, é uma
condição do exercício da mesma ação para Carnelutti, é a prova legal do crédito; para Furno e Couture, é o pressuposto da execução forçada; para Rocco, é apenas o pressuposto de fato da mesma execução etc.
No entanto, em toda a doutrina e na maioria dos textos dos Códigos modernos, está unanimemente expressa a regra fundamental da nulla executio sine titulo. I.e., nenhuma execução forçada é cabível sem o título executivo que lhe sirva de base.
A discussão em torno da natureza do título passa, portanto, a um plano mais filosófico do que prático, já que ninguém contesta que, sem o documento e o respectivo conteúdo que a lei determina, nenhuma execução será admitida.
Nesse sentido, dispunha expressamente o art. 583 do nosso Código de Processo Civil de 1973 que "toda execução tem por base título executivo judicial ou extrajudicial" O dispositivo foi revogado pela Lei n° 11.382, de 06.12.2006, e não foi repetido pelo CPC/2015, mas sua supressão se deveu apenas ao fato de que seu texto fazia referência tanto ao título judicial quanto ao extrajudicial, e à circunstância de que o primeiro foi deslocado para disciplinamento no Livro I, sob a rubrica de "do processo de conhecimento e do cumprimento da sentença': Dita revogação, porém, não abalou o princípio de que a execução forçada somente é cabível com base em título legalmente qualificado como executivo. Continua explícita a exigência, em outro dispositivo, de que a petição inicial deva sempre ser instruída "com o título executivo extrajudicial" (CPC/2015, art. 798, I, "a"), além de o art. 783 prever que "a execução para a cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível".
174. Função do título executivo
Porque não pode haver execução sem título executivo, assume ele, no processo de realização coativa do direito do credor, tríplice função, como lembra Rosenberg, ou seja:
(a)	a de autorizar a execução;
(b)	a de definir o fim da execução; e
(c)	a de fixar os limites da execução.
Como lógica e juridicamente não se concebe execução sem prévia certeza sobre o direito do credor, cabe ao título executivo transmitir essa convicção ao órgão judicial. E, nessa ordem de ideias, observa José Alberto dos Reis, não é o título apenas a base da execução, mas, na realidade, sua condição necessária e suficiente. É condição necessária, explica o grande mestre, porque não é admissível execução que não se baseie em título executivo. É condição suficiente, porque, desde que exista o título, pode-se logo iniciar a ação de execução, sem que se haja de previamente propor a ação de condenação, tendente a comprovar o direito do autor.'
Diz-se que é o título que define o fim da execução porque é ele que revela qual foi a obrigação contraída pelo devedor e qual a sanção que corresponde a seu inadimplemento, apontando, dessa forma, o fim a ser alcançado no procedimento executivo. Assim, se a obrigação é de pagar uma soma de dinheiro, o procedimento corresponderá à execução por quantia certa; se a obrigação é de dar, executar-se-á sob o rito de execução para entrega de coisa; se a obrigação é de prestar fato, caberá a execução prevista para as obrigações de fazer.
Finalmente, como pressuposto legal indeclinável que é de toda e qualquer execução, cabe ao título executivo fixar os limites objetivos e subjetivos da coação estatal a ser desencadeada. Cabe-lhe, nesse sentido, definir os sujeitos ativo e passivo, assim como o objeto da execução forçada. Por princípio, a execução não se justifica a não ser dentro do indispensável para realizar
________________
REIS, José Alberto dos. Processo de execução. Coimbra: Coimbra Ed., 1943, v. I, n. 28, p. 78.
 
a prestação a que tem direito o credor perante o devedor. Assim, o conteúdo da obrigação, o seu valor ou seu objeto, os seus acessórios, quem responde pela dívida, quem pode exigi-la, tudo isto há de se definir pelo título executivo.
Como muito bem elucida Liebman, "ao poder executório do Estado e à ação executória do credor corresponde a responsabilidade executiva do devedor, que é a situação de sujeição à atuação da sanção", a qual será realizada em prejuízo de seu patrimônio mediante coação estatal. "Esta responsabilidade - ainda na lição do mestre peninsular - consiste propriamente na destinação dos bens do vencido (devedor) a servirem para satisfazer o direito do credor. Ela decorre do título, exatamente como deste decorre a ação executória correspondente..:” Em suma, a responsabilidade, assim como a ação executória, está ligada imediatamente apenas ao título"2 Daí se conclui que, sendo, como se reconhece amplamente, o título executivo a base, o fundamento, ou o pressuposto da execução forçada, a legitimação das partes, tanto ativa como passiva, não pode fugir aos seus limites subjetivos.
Ensina, a propósito, Rocco que "a legitimação ativa e passiva determinam as normas processuais com base na titularidade ativa, efetivamente existente, ou apenas afirmada, de uma determinada relação jurídica substancial que seja juridicamente certa ou presuntivamente certa, a respeito dos dois sujeitos (sujeito do direito e sujeito da obrigação jurídica), declaração de certeza que resulte de um documento que a consagre", que outro não é senão o títuloexecutivo.3 Enfim, "a ação executiva - observa Liebman - não só nasce com o título, mas tem unicamente nele o seu fundamento jurídico".4 
175. Efeito prático do título executivo
Como nenhuma execução pode ser admitida sem a prévia declaração de certeza a respeito do direito do credor, esteja ela contida numa sentença ou em outro documento a que a lei reconheça força equivalente à de uma sentença, impõe-se admitir, com base na lição de Ronaldo Cunha Campos, que o título executivo representa "o acertamento de um crédito", do qual promana "a certeza necessária para autorizar o Estado a desenvolver o processo onde a sanção se concretiza, em benefício do credor e a expensas do devedor".5 
"O Estado - prossegue o mesmo processualista - atua a sanção (por meio da execução forçada) após verificar se o preceito se viu desatendido e por quem:” Dessa maneira, "a atuação da sanção sempre é precedida pela atividade do órgão jurisdicional que acerta (define) a ocorrência de violação". Em regra, portanto, "entre o desatendimento do preceito e a imposição da sanção há um interregno representado pelo processo de conhecimento".6 
Mesmo quando a lei permite o início da execução sem o prévio processo de conhecimento, o título executivo extrajudicial exerce função equivalente à da sentença condenatória, i.e., representa, por vontade da lei, uma forma de declaração de certeza ou de acertamento da relação jurídica estabelecida entre devedor e credor. É que, na sistemática do direito atual, não apenas o Judiciário, mas também as próprias partes podem dar efetiva aplicação à lei.
Ao criar um documento a que a lei reconhece a força de título executivo, o devedor, além de reconhecer sua obrigação, aceita, no mesmo ato, o consectário lógico-jurídico de que poderá
_______________
2 LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1968, n. 35, p. 67.
3 ROCCO, Ugo. Tratado de derecho procesal civil. Buenos Aires: Depalma, 1976, v. IV, p. 133-134.
4 LIEBMAN, Enrico Tullio. Le opposizioni di merito nel processo d'esecuzione. 2. ed. Roma: Soc. Editrice del Foro
Italiano, 1936, p. 157-158.
5 CUNHA CAMPOS, Ronaldo. Execução fiscal e embargos do devedor. Rio de Janeiro: Forense, 1978, n. p. 6-7.
6 CUNHA CAMPOS, Ronaldo. Op. cit., p. 7.
 
vir a sofrer a agressão patrimonial que corresponde à sanção de seu eventual inadimplemento. O título, portanto, para Carnelutti, torna certa não apenas a existência do fat, mas também a sua eficácia jurídica.7
176. Requisitos do título executivo: obrigação certa, líquida e exigível
Já demonstramos que o processo de execução não tem conteúdo cognitivo e que, por isso, todo acertamento do direito do credor deve preceder à execução forçada. Não há, por isso mesmo, execução sem título, i.e., sem o documento de que resulte certificada, ou legalmente acertada, a tutela que o direito concede ao interesse do credor.8 O título executivo, portanto, é figura complexa - como quer Micheli -, que engloba em seu conteúdo elementos formais e substanciais, e cuja eficácia precípua é a de constituir para o credor o direito subjetivo à execução forçada (direito de ação).
Mas, para que o título tenha essa força, não basta a sua denominação legal. É indispensável que, por seu conteúdo, se revele uma obrigação certa, líquida e exigível, como dispõe textualmente o art. 783 do CPC/2015.9 Só assim terá o órgão judicial elementos prévios que lhe assegurem a abertura da atividade executiva, em situação de completa definição da existência e dos limites objetivos e subjetivos do direito a realizar.
Esses requisitos indispensáveis para reconhecer-se ao título a força executiva legal são definidos por Carnelutti nos seguintes termos: o direito do credor "é certo quando o título não deixa dúvida em torno de sua existência; líquido quando o título não deixa dúvida em torno de seu objeto; exigível quando não deixa dúvida em torno de sua atualidade"10. Em outras palavras, mas com o mesmo alcance, ensina Calamandrei que ocorre a certeza em torno de um crédito quando, em face do título, não há controvérsia sobre sua existência (an); a liquidez, quando é determinada a importância da prestação (quantum); e a exigibilidade, quando o seu pagamento não depende de termo ou condição, nem está sujeito a outras limitações."11
A certeza da obrigação, atestada pelo título, requisito primeiro para legitimar a execução, decorre normalmente de perfeição formal em face da lei que o instituiu e da ausência de reservas à plena eficácia do crédito nele documentado. Certa, pois, é a obrigação cujos elementos essenciais à sua existência jurídica se acham todos identificados no respectivo título.
_________
7 CUNHA CAMPOS, Ronaldo. Op. cit., p. 11.
8 ROCCO, Ugo. Op. cit., IV, p. 137.
9 O caput do art. 586 do CPC/1973 [CPC/2015, art. 7831, na sua redação primitiva, falava em "título liquido, certo e exigível". A Lei n° 11.382/2006 a alterou para acomodar o dispositivo à doutrina que entendia serem a certeza, liquidez e exigibilidade atributos da obrigação e não do título. Daí dispor a nova redação do questionado artigo que a execução para cobrança de crédito deverá fundar-se sempre em título de "obrigação certa, líquida e exigível". Alterou-se, também, a ordem dos requisitos. O texto originário falava em "liquidez, certeza e exigibilidade". O texto alterado, e agora repetido pelo novo Código, coloca a certeza em primeiro lugar, atendendo a uma ponderação de Pontes de Miranda ("Além de falar da certeza e da liquidez [embora, erradamente, quanto à colocação dos adjetivos, título líquido e certo], o art. 586 alude a ser exigível". Cf. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1976, t. IX, p. 401). Com efeito, antes de ser líquida, a obrigação tem de existir. Somente havendo certeza a respeito de sua existência é que se pode cogitar da determinação, ou não, de seu objeto. Por último, para ser exigível, a obrigação terá, antes, de ser certa e líquida. De tal sorte, a ordem lógica dos atributos reclamados para a execução de qualquer obrigação é a da certeza, liquidez e exigibilidade, tal como consta do texto do art. 783, do CPC/2015.
10 CARNELUTTI, Francesco. Istituzioni del processo civile italiano. 5. ed. Roma: Società Editrice del Foro Italiano, 1956, v. I, n. 175, p. 164.
11 SERPA LOPES, Miguel Maria de. Exceções substanciais. Rio de Janeiro: Freitas Bastos. 1959, n. 57, p. 263.
 
Não está a certeza, portanto, no plano da vontade ulterior das partes, mas na convicção que o órgão judicial tem de formar diante do documento que lhe é exibido pelo credor. Pouco importa que, particularmente, estejam controvertendo as partes em torno da dívida. A certeza que permite ao juiz expedir o mandado executivo é a resultante do documento judicial ou de outros documentos que a lei equipare à sentença condenatória.12 Nessa ordem de ideias, o título há de ser completo, já que não se compreende nos objetivos da execução forçada a definição ou o acertamento de situação jurídica controvertida.
Na sistemática da tutela executiva, o título, quando perfeito, contém o acertamento da obrigação necessário e suficiente para autorizar o manejo, pelo credor, do processo de execução."13 Por isso, discussões em torno da certeza, liquidez e exigibilidade da dívida exequenda não impedem a abertura do procedimento respectivo, se o título executivo é em si completo quanto aos requisitos formais e substanciais. Eventuais questionamentos em torno do negócio subjacente serão, se for o caso, suscitados e resolvidos na ação de embargos à execução.
"Por suas medidas, brandas ou drásticas" - observa Mendonça Lima - "apenas se tornará efetivo o que já fora anteriormente assegurado". Toda declaração ou reconhecimento do direito do credor há de se conter, por inteiro, no título, visto que a execução "nada agrega, nem diminui e nem amplia: realiza-o se não o foi espontaneamente pelo vencido (devedor)".14
Não cabendo ao juiz pesquisar em torno da existência e extensão do direito do credor, no curso da execução, todafonte de convicção ou certeza deve se concentrar no título executivo. "A simples leitura do escrito - na lição de Amílcar de Castro - deve pôr o juiz em condições de saber quem seja o credor, quem seja o devedor, qual seja o bem devido e quando ele seja devido..."15
Quanto à liquidez, dispõe o CPC/2015 que a necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito não retira a liquidez da obrigação do título (art. 786, parágrafo único). Tanto é assim que o art. 509, §2°, no tocante ao título executivo judicial, dispensa o procedimento de liquidação quando a apuração do valor fixado pela sentença depender apenas de cálculo aritmético, podendo o credor iniciar, imediatamente, o cumprimento de sentença.
Em suma, diante da exigência legal de que o título executivo demonstre obrigação sempre certa, líquida e exigível, um de seus requisitos substanciais é "o de ser completo", tanto objetiva como subjetivamente." Isso, porém, não impede que se agregue ao documento originário outros posteriormente obtidos para se realizar o aperfeiçoamento do título em seus requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade. O importante é que estes requisitos emanem de prova documental inequívoca e não estejam ainda a reclamar apuração e acertamento em juízo por diligências complexas e de resultado incerto (cf., por exemplo, a regra do art. 798, I, "d", que
________________
12 ROCCO, Ugo. Op. cit., IV, p. 145.
13 O ponto de partida da ação executiva é o acertamento contido no título, como lembra José Lebre de Freitas: "daí que se diga que [o título] constitui a base da execução, por ele se determinando o fim e os limites da ação executiva (art. 105) [...] em face dele [título] se verificando se a obrigação é certa, líquida e exigível (art. 713)" (FREITAS, José Lebre de. Ação executiva à luz do Código de Processo Civil de 2013. 7. ed. Coimbra: Gestlegal, 2018, n. 3.1, p. 45-47). Em face disso, "do título executivo é frequente dizer-se que é condição necessária e suficiente da ação executiva" (Op. cit., n. 3.7.2, p. 89. No mesmo sentido: MANDRIOLI, Crisanto. Corso di diritto processuale civile. Torino: G. Giapicheili, 1995, v. I, p. 26; CASTRO, Artur Anselmo de. A acção executiva singular, comum e especial: Coimbra: Coimbra Ed., 1973, p. 14).
14 LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1974, v. VI, n. 28, p. 14.
15 CASTRO, Amilcar de. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 1974, v. VIII, n. 90, p. 57. Cf. CASTRO. Amilcar de. Op. cit. loc cit.
 
autoriza o credor a executar obrigação derivada de contrato bilateral, mediante prova de já ter adimplido a contraprestação a seu cargo).
177. Formas dos títulos executivos
Sob o aspecto formal, os títulos que contêm a "declaração imperativa", geradora do direito à execução forçada, podem ser assim classificados:
(a)	o original da sentença (tanto na condenação como na homologação de acordos), contido no bojo dos autos da ação de cognição, onde também se desenvolverá a execução (CPC/2015, arts. 513 e 523);
(b)	a certidão ou cópia autenticada da decisão exequenda, nos casos de execução provisória (art. 522, parágrafo único, I), e, em geral, de execução civil da sentença penal condenatória (art. 515, VI), da sentença arbitral (art. 515, VII) e da sentença estrangeira homologada (art. 965, parágrafo único), ou carta de sentença, em hipóteses como a do formal de partilha (art. 515, IV);
(c)	os documentos extrajudiciais, públicos ou particulares, sempre sob a forma escrita, a que a lei reconhecer a eficácia executiva (art. 784).
178. A exigibilidade da obrigação
Como já ficou demonstrado, a admissibilidade da execução forçada exige a concorrência de dois requisitos básicos e indispensáveis e que são:
(a)	o título executivo, judicial ou extrajudicial (requisito formal) (arts. 515 e 784); e
(b)	o inadimplemento do devedor, em relação à obrigação exigível certificada no título (requisito material) (CPC/2015, art. 786).
Não são suficientes, outrossim, nem a situação de um crédito documentalmente provado, nem a situação de uma obrigação descumprida. Só com a conjugação dos dois requisitos supra é que se torna viável o manejo do processo de execução, ou o desenvolvimento dos atos de cumprimento da sentença.
A exigência dos requisitos em questão é geral, aplicando-se indistintamente a todas as espécies de execução, sejam das obrigações de pagar quantia certa, sejam das obrigações de dar, de fazer ou não fazer.
Quanto ao requisito que se denomina material, a situação de fato que dá lugar à execução consiste sempre "na falta de cumprimento de uma obrigação por parte do obrigado".17 Pertence ao direito material a conceituação do inadimplemento, no qual se considera devedor inadimplente o que não cumpriu, na forma e no tempo devidos, o que lhe competia segundo a obrigação pactuada.18
Relaciona-se a ideia de inadimplemento com a de exigibilidade da prestação, de maneira que, enquanto não vencido o débito, não se pode falar em descumprimento da obrigação do devedor. Ciente dessa verdade, ensinava Lopes da Costa que, para a execução, torna-se necessário que: (i) exista o título executivo; e (ii) "que a obrigação esteja vencida".19 
______________
17 LIEBMAN, Enrico Tuilio. Processo de execução. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1968, n. 4, p. 6.
18 ALVIM, Agostinho. Da inexecução das obrigações e suas consequências. 3. ed. Rio de Janeiro: Jurídica e Universitária, 1965, n. 4, p. 23-25. Nesse sentido, dispõe o art. 475 do Código Civil que "a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos".
19 LOPES DA COSTA, Alfredo Araújo. Direito processual civil brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1959, v. IV, n. 73, p. 71.
 
É evidente que, sem o vencimento da divida, seja normal ou extraordinário, não ocorre a sua exigibilidade. E, não sendo exigível a obrigação, o credor carece da ação executiva (arts. 783 e 786). Não há, todavia, necessidade de produzir prova do inadimplemento com a inicial; o transcurso do prazo da citação sem o cumprimento da obrigação, como forma de interpelação judicial, é a mais enérgica e convincente demonstração da mora do devedor. Além do mais, a simples verificação, no título, de que já ocorreu o vencimento é a prova suficiente para abertura da execução. Ao devedor incumbe o ônus da prova em contrário, i.e., a demonstração de que inocorreu o inadimplemento, o que deverá ser alegado e provado em embargos à execução (arts. 535, III, e 917, I), ou em impugnação ao cumprimento da sentença (art. 525, § 1°, III).
Salvo a excepcional possibilidade da execução provisória, em matéria de sentença (título executivo judicial), só se pode falar em inadimplemento após o trânsito em julgado e a liquidação da condenação, se for o caso. Para os títulos extrajudiciais, não se tratando de obrigação à vista, o inadimplemento se dá após a ultrapassagem do termo ou a verificação da condição suspensiva.
No Código de 2015, a estipulação do primeiro requisito da execução acha-se contida no art. 786, onde se dispõe que ela "pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo". O que se quis assentar foi a conotação de inadimplemento no campo da execução. Para que se tenha presente o requisito material da execução forçada, não basta o inadimplemento de qualquer obrigação. É preciso que o descumprimento se refira a uma obrigação corporificada em título executivo definido por lei.
O inadimplemento pressupõe uma situação de inércia culposa do devedor. Por isso mesmo, se ocorre, a qualquer tempo, o cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor, "o credor não poderá iniciar a execução" (art. 788). E mesmo que já tenha tido início a execução forçada caberá sempre ao devedor o direito de fazer cessar a sujeição processual por meio do pagamento da dívida, que é, invariavelmente, fato extintivo do processo executivo (arts. 788 e 924, II).Mas, para desvencilhar-se da execução e obter a quitação da dívida, é imprescindível que o devedor cumpra a prestação exatamente como a define o título executivo. Caso contrário, será lícito ao credor recusá-la e dar curso ao processo de execução (art. 788 do Código de Processo Civil e arts. 245, 249 e 313 do Código Civil). A discussão em torno da regularidade e perfeição do pagamento, se anterior à execução, deverá ser objeto do processo incidente (mas à parte) dos embargos à execução (art. 917, VI), se se tratar de execução fundada em título extrajudicial. Será tratada a matéria em impugnação quando a execução forçada estiver sendo processada como "cumprimento da sentença" (arts. 513 e 525, § 1°, VII). Se o pagamento for oferecido no curso da execução, qualquer divergência em torno dele será apreciada e decidida nos próprios autos.
179. O inadimplemento em contrato bilateral
Há negócios jurídicos em que após seu aperfeiçoamento apenas uma das partes tem obrigações (empréstimo, por exemplo). Em outros, ambas as partes assumem deveres e direitos recíprocos (compra e venda, parceria agrícola etc.). Diz-se que o contrato é unilateral no primeiro caso; e bilateral no segundo. Regulando a segunda hipótese, dispõe o Cód. Civil de 2002 que "nos contratos bilaterais nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro" (art. 476).
Prevendo a possibilidade de execução de título que contenha uma obrigação dessa natureza, estatui o Cód. de Processo Civil que, "se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão mediante a contraprestação do credor, este deverá provar que a adimpliu ao requerer a execução, sob pena de extinção do processo" (CPC/2015, art. 787).
Trata-se de aplicação ao processo de execução, da exceptio non adimpleti contractus, que é de natureza substancial e que terá lugar sempre que o credor pretender executar o devedor sem a prévia ou a concomitante realização da contraprestação a seu cargo. Por força dessa exceção frustrar-se-á, dada a ausência de um dos seus pressupostos indeclináveis - o inadimplemento -, já que a recusa do devedor ao pagamento será justa e, por isso, o credor, enquanto não cumprida sua contraprestação, apresentar-se-á corno carente da ação de execução.20 É que não se poderá falar em exigibilidade da obrigação na espécie a não ser depois que o exequente houver cumprido a prestação a seu cargo. Daí exigir o art. 787, caput, que a petição inicial da execução seja acompanhada da prova de já ter o exequente satisfeito a prestação a seu cargo.
Na realidade, nos contratos bilaterais não há credor nem devedor, pois ambos os contraentes são, a um só tempo, credores e devedores. Aquele que pretender executar o respectivo crédito terá antes que deixar de ser devedor, solvendo o débito a seu cargo e fazendo cessar a bilateralidade do vínculo contratual. Note-se que a reciprocidade de obrigações, para os fins do art. 787, deverá proceder do mesmo e único título, pois se assim não for as obrigações serão independentes e não autorizarão a exceção de contrato não cumprido.
Mesmo sem o prévio adiantamento da contraprestação do exequente, o executado, em vez de opor a exceção, pode preferir cumprir a sua parte no contrato. Ser-lhe-á, então, permitido oferecer a prestação em juízo para exonerar-se da dívida. Isto ocorrendo, o juiz suspenderá a execução e só permitirá ao credor-exequente o respectivo levantamento se "cumprir a contraprestação que lhe tocar" (art. 787, parágrafo único).
Naturalmente, será marcado um prazo pelo juiz para cumprimento da citada obrigação, levando-se em conta a natureza da prestação e as condições do contrato. Decorrido ele, sem providência do exequente, o primitivo executado, agora munido de declaração judicial de exoneração de seu débito, estará em condições de assumir a posição de sujeito ativo e promover a completa execução contra aquele que teve a iniciativa do processo.
Não é, por outro lado, correto pretender que o contrato, por ser bilateral, impede a configuração do título executivo, sob o pretexto de que o direito do credor estaria na dependência de acertamento em torno da contraprestação, reclamando, por isso, processo de conhecimento, e repelindo a execução forçada.
O que descaracteriza o título executivo é a iliquidez ou incerteza relativamente às prestações previstas no título, não a sua bilateralidade. Se estas têm objeto certo e momentos precisos para sua implementação, uma vez comprovado documentalmente o pagamento de uma delas, o contrato se torna unilateral e aquele que já cumpriu a prestação a seu cargo terá contra a outra parte título obrigacional certo, líquido e exigível.
Tanto pode o contrato bilateral servir de título executivo, que o art. 798, I, "d", prevê, expressamente, a obrigação do credor de, ao requerer a execução, instruir a inicial com "a prova, se for o caso, de que adimpliu contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente".21
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20 LIMA, Alcides de Mendonça. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1974, v. VI, t. I, n. 586, p. 266.
21 “O contrato bilateral pode servir de título de pagar quantia certa, desde que definida a liquidez e certeza da prestação do devedor, comprovando o credor o cumprimento integral de sua obrigação" (STJ, 4a T., REsp 81.399/MG, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU 13.05.1996, p. 15.561; REsp 170.446/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU 15.09.1998, p. 82). STJ, 3a T., AgRg no Ag 454.513'MT. Rel. Min. Vasco Della Giustina, ac_ 18.08.2009. DJe 01.092009.

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