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Condições ortopédicas na infância BIOMECÂNICA DO DESENVOLVIMENTO Sistema musculoesquelético tem PLASTICIDADE se molda/remodela sua forma e função é influenciada, principalmente, por FATORES MECÂNICOS Plasticidade dos osso: Funções do osso: função na homeostase (reservatório de minerais) e função mecânica (suporte de cargas) O osso é formado por células efetoras Osteoblastos e osteoclastos Osteoblastos produz os osteoides (composto principalmente por colágeno) minerais cristalizam em volta do colágeno matriz óssea Os osteoblastos ficam presos na matriz óssea osteocitos Osteoclastos reabsorvem a matriz óssea libera minerais na circulação sanguínea (mantém homeostase) A ação das células efetoras é influenciada por fatores/estímulos químicos (nutricionais, hormonais) e essas células são responsável pelo metabolismo, que vai influenciar na forma e função CARGAS MECÂNICAS (cargas impostas, contração muscular) mecanotransdução ESTÍMULOS/ FATORES QUÍMICOS combustível para as CÉLULAS EFETORAS Metabolismo, modelagem e remodelagem forma e função Mecanotransdução: transforma estímulos mecânicos em estímulos químicos OBS: A contração muscular estimula crescimento de tecido ósseo (ativação de osteoblastos) Contrações musculares causam forças compressivas intermitentes (não constantes) que estimulam o crescimento (deposição de mais tecido ósseo). Se as forças são excessivas ou constantes elas podem atrapalhar o crescimento e provocar deformidades. o Desde os anos 60 sabemos que, ao contrário do que acreditava o antigo paradigma (acreditava que o que influenciava a forma e função dos tecidos ósseos eram fatores químicos), a forma e função dos tecidos ósseos são consequência principalmente de fatores mecânicos e não químicos. Os fatores químicos podem ajudar ou atrapalhar no desenvolvimento e manutenção dos ossos (por exemplo no caso de raquitismo quantidade inadequada de Vitamina D), mas não podem substituir os fatores mecânicos. Mecanostato: Carga aplicada excede limiar superior: estímulo mecânico ativação de células efetoras aumento da produção por osteoblastos remodelagem + aumento da resistência óssea (osso passa a ter uma maior resistência para a mesma carga aplicada) Carga aplicada abaixo do limiar inferior: estímulo mecânico ativação de células efetoras aumento da reabsorção por osteoclastos enfraquecimento ósseo Osteopenia cargas típicas tornam-se altas para o osso Ex: ocorre em casos de desuso Paralisia Cerebral Fatores mecânicos: Cargas assimétricas: (imaginar apertando vareta) Seta vermelha: lado com tendência a esticar força de distração Seta azul pontilhada: tendência a comprimir força de compressão Osteoclastos reabsorvem mais tecido ósseo onde há força de distração, e osteoblastos deposita mais tecido onde há força de compressão ao longo do tempo no desenvolvimento típico, essas angulações nos ossos vão retificando porém, em casos de forças excessivas anormais, esse mecanismo não consegue compensar o estímulo mecânico excessivo ocorre deformidades Ex: escoliose (devido cargas assimétricas vertebras crescem mais de um lado que do outro formato de cunha) Pé torto congênito (inversão e flexão plantar excessiva ocorre devido fatores mecânicos que influenciam na forma e função) Músculo mantido em posição encurtada: Ex: uso de salto alto tríceps sural mantido encurtado Encurtamento do músculo de forma constante perda de sarcomeros em série e diminuição do tamanho do tendão curva comprimento tensão desloca para esquerda a posição ótima para produzir tenção/força passa a ser a posição encurtada (como o músculo é mantido nessa posição por muito tempo, ele otimiza sua produção de tensão nela) Ao precisar produzir força na posição alongada fraqueza (não é a posição ótima) Músculo mantido em posição alongada: Ex: sóleo de criança que anda aguachada (marcha Crouch mantem dorsoflexão alongamento do Sóleo gastrocnêmico não alonga, porque o joelho esta fletido) Aumento dos sarcomeros em série desloca curva comprimento- tensão para direita posição ótima para produzir tensão é com o músculo alongado Passa a ter dificuldade para gerar tensão quando encurtado (Ex: criança com Marcha crouch ao precisar gerar impulso por meio de flexão plantar) Ex: torcicolo congênito encurtamento de rotadores e flexores laterais de pescoço de um lado e alongamento do outro lado (é mantido de forma prolongada nessa posição dentro do útero) PÉ TORTO CONGÊNITO Equino-varo (tipo mais comum) flexão plantar do tornozelo + varismo do calcâneo (calcâneo virado para dentro) Etiologia: forças anormais e prolongadas sobre o sistema musculoesquelético durante o desenvolvimento intrauterino redução de mobilidade intra-utero (por redução do liquido amniótico ou por condições de saúde que reduzem a mobilidade Ex: artrogripose (causa contratura nas articulações, fraqueza muscular e fibrose), mielomeningocele/ espinha bífida (má formação da medula paralisia dos músculos abaixo do nível de lesão), fatores genéticos (incidência mais alta em pessoas da mesma família) e neuromusculares ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELETICAS NO PTC Articulção talocrural: flexão plantar Articulação subtalar (calcâneo + tálus): inversão e adução (supinação em cadeia aberta calcâneo move em relação ao tálus) Antepé: aduzido (devido ao descolamento medial dos ossos do tarso e das falanges) e pronado (último metatarso desviado pra cima e o primeiro para baixo) Flexão excessiva do primeiro metatarso leva ao pé cavo Para desfazer deformidade do pé cavo supinar o pé e mover o 1º metatarso no sentido da extensão/ dorsoflexão OBS: retropé (calcâneo e talus) está supinado e antepé pronado costuma apresentar padrão de marcha com os dedos virados para dentro (in toeing TRATAMENTO: Tratamento conservado: mobilização das articulações + gessamento seriado engessamento do pé em posições cada vez mais próxima do normal (com troca semanal) Método Ponseti: Consiste em manipulações e imobilizações seriadas (engessamento) e tenotomia do tendão de Aquiles (para correção do equinismo corte no tendão que permite seu alongamento). Após a tenotomia, é usada uma órtese para manter a correção obtida e evitar sua recidiva. Poucos profissionais com formação adequada para a aplicação do método em países em desenvolvimento (Brasil) poucas crianças recebem o tratamento adequado Tratamento deve começar nas primeiras semanas de vida tendões e capsulas articulares com mais elasticidade Fase 1: supinação do antepé (antepé nunca deve ser pronado agrava o cavo) e dorsoflexão do 1º metatarso redução/ correção do cavo e alinhamento do ante pé com o retropé (redução da pronação excessiva) Fase 2: abdução da mediotarsica (antepé) enquanto o terapeuta estabiliza o tálus faz com que o calcâneo mova em relação ao tálus, no sentido de eversão e abdução Fase 3: tornozelo movido em dorsoflexão* * Com a subtalar pronada, o antepé fica flexível mediotársica/ antepé aceita a dorsoflexão pode provocar hipermobildade pé em cadeira de balanço (convexidade na planta do pé) a dorsoflexão deve ser restrita ao tornozelo Fase 4: engessamento até parte superior da coxa (5 a 7 semanas) Fase 5: Tenotomia antes do último gesso (utiliza o último gesso por 3 semanas para cicatrização do tendão) Depois passa a utilizar as Botinhas de Denis Brown (mantem o tornozelo em dorsoflexão e rotação externa) todos os dias por 3-4 meses, e todos os sonos (12h) até os 5 anos de idade para evitar a recidiva DISPLASIA DE DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL ou Luxação congênita do quadril Displasia: desenvolvimento tecidual anormal alteração no desenvolvimento que afeta a congruência articular do quadril Acetábulo permanece mais plano e raso articulação instável Possíveis etiologias: mães primíparas (primeira gravidez), espaço reduzido para o feto se mover, apresentação pélvica (pressão do sacro da mãe contra o quadril do feto), frouxidão ligamentar excessiva (fatores hormonais e genéticos mais comum em meninas, tem maior frouxidão ligamentar) Graus: subluxado (existe algum contato entre as superfície articulares), subluxável (perde parcialmente a congruência durante o movimento); deslocado (sem contato entre superfícies), deslocável (ao movimento) A instabilidade pode aparecer após nascimento, dependendo do posicionamento do bebê posições de adução, extensão mais susceptível á luxação movimenta a cabeça do fêmur lateralmente (durante adução o fêmur desliza para lateral e superior) e posteriormente e tensão passiva dos músculos puxa o fêmur para cima (tensão passiva é a tendência elástica do músculo em encurtar) Fácil de corrigir (quanto mais cedo iniciado o tratamento mais fácil) se não detectado pode causar degeneração na adolescência e incapacidades AVALIAÇÃO Pacientes que apresentam torcicolo congênito ou pé torto congênito, podem apresentar também displasia de desenvolvimento do quadril já que todos tem origem mecânica e estão associados as mesmas patologias (artrogripose, mielomeningocele) fisioterapeuta deve se atentar e sempre avaliar a instabilidade do quadril em crianças com essas condições Fisioterapeuta deve fazer a avaliação em TODOS os bebês SINAIS DE INSTABILIDIADE: Principal sinal: limitação/ assimetria da abdução (cuidador pode relatar dificuldade em trocar a fralda) um quadril abduz mais que o outro Sinal de Galeazzi: com o bebê em supino e com joelhos flexionados nota-se uma diferença na altura dos joelhos coxa afetada fica em um nível mais baixo, pois a cabeça do fêmur desloca-se posteriormente no acetábulo (articulação instável, movimenta mais, então ao flexionar o quadril e o joelho a cabeça do fêmur é empurrada para trás) Assimetria das pregas cutâneas: ocorre quando quadril está subluxado ou deslocado pregas em alturas diferentes (porque um quadril está mais deslocado para cima que o outro) MANOBRAS DE BARLOW E ORTOLANI (Em bebês de até 2 meses) Manobra de Barlow: bebê em supino, aduzir e pressionar a coxa para baixo (isso move o quadril no sentido da extensão) contra a maca Se o quadril for instável ele sai do acetábulo Manobra de Ortolani: coloca o fêmur novamente em contato com o acetábulo abduzir o quadril e pressionar a cabeça do fêmur para cima com o dedo indicador (abdução e flexão) ouve-se um “clic” e sente-se um tranco quando a cabeça do fêmur é recolocada EFEITO DO QUADRIL LUXADO/SUBLUXADO EM CRIANÇAS MAIS VELHAS Sinal de Trendelemburg durante a marcha Descarga de peso bipodal (dois pés no chão):impressão de assimetria entre o comprimento de MMII Pelve do lado afetado não consegue repousar sobre a cabeça do fêmur, então ocorre uma queda pélvica Sem descarga de peso no lado afetado (tira pé do lado afetado do chão): os abdutores do lado contralateral ao afetado tem força preservada, e por isso mantem a pelve nivelada. Sem descarga de peso no lado contralateral (tira pé do lado contralateral ao afetado do chão): abdutores do lado afetado não tem mecânica preservada queda pélvica para o lado não afetado A luxação aproxima a origem e inserção do glúteo médio (fêmur desloca para cima) Reduz braço de alavanca TRATAMENTO Tratamento conservador Objetiva manter o quadril em posição alinhada (abdução e flexão proporciona mais estabilidade ao quadril) Órtese de Pavilik: impede a adução e a extensão, mas permite que a criança se movimente em abdução e flexão (utilizada por cerca de 4 meses) Complicação: compressão do nervo femoral que inerva o quadríceps, devido flexão excessiva do quadril levando à redução da movimentação ativa do quadril afetado e do joelho (devido comprometimento da movimentação do quadríceps) deve-se reajustar a órtese Identificação após 6 meses: tecidos já estão adaptados encurtamento de adutores e isquiotibiais (devido adução e extensão prolongada), alongamento da capsula (superfícies articulares estão distantes uma da outra) Tratamento após 6 meses: manter o quadril em tração (distanciamento de superfícies articulares) por algumas semanas depois esse quadril é recolocado no acetábulo (redução) e imobilizado em flexão e abdução pratica controversa (não são todos centros de reabilitação que adotam) Identificação tardia: cirurgia, alongamento de tecidos moles e reconstrução da articulação APÓS IMOBILIZAÇÃO Músculos flexores e abdutores encurtados (curva comprimento- tensão para esquerda) Dificuldade tem produzir tensão nas posturas alongadas com quadril em adução e extensão Músculos extensores e adutores alongados (curva descoloca para direita) dificuldade em produzir tensão em posição encurtada com quadril em adução e extensão (melhor produção de tensão na posição alongada flexão e abdução) Deve ganhar estabilidade e força para descarga de peso com o quadril aduzido e estendido (subir escadas, correr, andar) Atividades funcionais adotadas como intervenção: atividades na piscina com prancha, andador posterior (favorece extensão dos quadril), esteira ORIENTAÇÕES AOS PAIS Pais devem receber orientações para prevenir a displasia e para colaborarem no tratamento: Maneira de carregar a criança Para carregar em faixas ela deve ser colocada com as pernas abertas abdução e flexão Assentos do tipo mochila, devem ser amplos para manter quadris abduzidos Ao enrolar o bebe (fazer rolinho) deixar espaço para movimentação das pernas Cadeirinhas devem ter espaço para abdução TORCICOLO CONGÊNITO Musculatura lateral do pescoço encurtada (especialmente esternocleidomastoide faz flexão lateral e rotação contralateral) Flexão lateral para o lado afetado e Rotação lateral para o lado oposto Fraqueza muscular dificuldade em controlar cabeça, escoliose cervical Etiologia: principalmente fatores mecânicos (baixa mobilidade intra-útero, traumas no parto), fatores genéticos Se não for corrigido pode comprometer desenvolvimento musculoesquelético do rosto e do crânio as forças gravitacionais e musculares assimétricas promovem desenvolvimento assimétrico do crânio e do rosto (PLAGIOCEFALIA) Antes dos 12 meses a maioria dos casos são solucionados com tratamento conservador Tratamento plagiocefalia: uso de capacete para remodelação aplica contato entre áreas mais proeminentes do crânio e deixa espaço para o crescimento das áreas afundadas serve como molde (O tratamento da plagiocefalia é feito após a correção total ou parcial da contratura) TRATAMENTO Tratamento conservador é efetivo em 90% dos casos Alongamentos para ganhos imediatos de extensibilidade Movimentação ativa da criança colocar a criança em posturas que exijam: flexão lateral para lado contralateral e rotação lateral para lado afetado Orientação familiar sobre posicionamentos e exercícios criança deve ser colocada em prono com rotação da cabeça para o lado afetado (mas não deve- se colocar a criança para dormir em prono risco de morte súbita) Orientações sobre a forma de carregar o bebê para auxiliar no alongamento da musculatura Colocar toalhinha na cadeirinha e berço do bebê (para evitar a flexão lateral para o lado afetado e o agravamento da musculatura) É importante variar as posturas do bebê no berço ou na cadeirinha para evitar deformidades do crânio. Casos mais graves, compersistência da contratura após primeiro ano de idade ou de perda de mais de 30° de flexão lateral: indicado tenotomia e a ressecção do tecido fibrótico ao redor da musculatura após a cirurgia utiliza-se colete e gorro para manter a musculatura alongada. CLASSIFICAÇÃO O TMC pode ser classificado em três subgrupos com base na apresentação clínica da criança: Crianças com nódulo: presença de nódulo no esternocleidomastoide (ECM) massa fibrótica palpável + limitação de ADM ativa e passiva do pescoço Torcicolo muscular: limitações de ADM ativa e passiva devido encurtamento do ECM, mas sem presença de nódulo Torcicolo postural: sem presença de nódulo e sem limitação de ADM Crianças nos níveis inferiores (1 – 4) apresentam melhor prognostico, enquanto crianças nos níveis superiores (5 – 7 )apresentam pior prognóstico ESCOLIOSE IDIOPÁTICA DA ADOLESCÊNCIA Tipo mais comum de escoliose que afeta crianças Idiopática: de causa desconhecida Todo adolescente deve fazer acompanhamento e os profissionais devem realizar a avaliação só é possível identificar com confiabilidade a escoliose quando ela atinge 10° Lado da escoliose lado da convexidade Mais frequente em meninas A curva escoliotica mais comum é a torácica cervicais e lombares são secundárias Ângulo de Cobb: utilizado em radiografias para determinar ângulo da curvatura primeiro são identificadas as vertebras terminais da curva (vertebras mais inclinada na parte superior e inferior da curvatura) traçar linha ao longo da face superior da primeira vértebra e uma linha ao logo da face inferior da última vertebra o ângulo de Coob é o ângulo entre as perpendiculares Escoliose postural: (Ex: carregar a mochila de um lado só) corrigida com flexão lateral ativa da coluna Algumas outras causas de escoliose: Discrepância no comprimento de MMII: inclinação da pelve (ex: displasia de quadril) curva compensatória da coluna Condições que causem inflamação na coluna ou dor abdominal (ex: apendicite) Escoliose estruturada: não pode ser corrigida nem ativamente nem passivamente pelo examinador nessa condição as vertebras da curva estão rodadas a rotação pode ser vista pedindo ao paciente pra se inclinar para frente corpo da vértebra vira para o lado da convexidade costela é empurrada para trás formando a GIBA (aparece no lado da convexidade) Risco da escoliose Progressão da curva Cargas assimétricas crescimento assimétrico da vertebra vertebra crescem em cunha forma curvatura cargas assimétricas na coluna OBS: Enquanto a criança não para de crescer (aumento de carga) a curva não para de progredir afeta função cardíaca e respiratória, diminui extensibilidade torácica e aumenta risco de infecções respiratórias graves TRATAMENTO Objetiva impedir a progressão da curva Curva progressiva: é aquela que ganha 5° ou mais na medida do Ângulo de Cobb de 4 a 6 meses Atividade física no geral Programa domiciliar de exercícios ganho de força e flexibilidade de tronco e pelve, exercícios para aumentar capacidade pulmonar, condicionamento cardiorrespiratório A cinesioterapia isolada não é suficiente para impedir progressão Curva já atingiu 20° e a criança tem potencial de crescimento uso de colete rígido para conter a curva + Curvas de 40-45°ou mais: indicado cirurgia artrodese (fusão cirúrgica das vertebras com hastes e parafusos) afeta crescimento raramente feita em crianças com menos de 10 anos.
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