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1 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 1 Gastroenterologia Ascite e PBE Revisando com situações clínicas 1. Imagine que você se encontra atendendo no ambulatório de gastroenterologia do HUAC. O primeiro paciente, logo ao entrar no consultório, chama sua atenção devido ao extenso grau de dilatação abdominal apresentado. Seu primeiro pensamento é “provável ascite”. Ao exame físico, quais manobras semiológicas você realizaria a fim de examinar essa possível ascite? 2. Com base na situação exposta acima, como você classificaria a ascite desse paciente? Cite também os outros possíveis graus de classificação. 3. A partir dessa situação, que exames você solicitaria a fim de avaliar a ascite desse paciente? Explique o motivo da escolha de cada exame citado por você. 4. O paciente realizará o exame de coleta do liquido ascítico. Quais os principais parâmetros laboratoriais para os quais há forte indicação de avaliação? 5. O paciente realizou o exame e retorna até você com os resultados. Qual parâmetro pode indicar a etiologia da ascite dele? Explique. 6. Agora, suponha que você já diagnosticou e descobriu a causa da ascite do referido paciente, como deve ser feito o manejo desse quadro? 2 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 2 7. Cerca de 12 semanas depois, o paciente, mesmo em terapia farmacológica otimizada, retorna ao consultório ainda com queixa de ascite. Nesse caso, como diferenciar ascite refrataria de um cenário de má adesão ao tratamento? Caso realmente seja uma ascite refrataria, qual seria sua conduta perante a tal quadro clinico? 8. Em outra situação, imagine que você se encontra de plantão na emergência de uma UPA na cidade de Puxinanã. As 02h da madrugada, chega um paciente com visível rebaixamento do nível de consciência, sendo acompanhado pela esposa. Segundo relato da mulher, o paciente foi etilista crônico, e se encontra realizando tratamento para cirrose hepática e para complicações de uma ascite. Além disso, a acompanhante refere que o paciente tem febre > 38ºC e dor abdominal (não sabendo especificar intensidade e localização precisa). Ao exame físico, além do rebaixamento de consciência, você observa ascite volumosa, dor abdominal a palpação, hálito hepático e eritema palmar. Qual a sua hipótese diagnostica? Explique que fatores levam você a pensar em tal diagnostico. Como você poderia confirmar esse diagnóstico? 9. Nesse caso, supondo que você não dispõe de muitos recursos laboratoriais, qual seria sua conduta clinica diante de tal cenário? 10. Na situação apresentada, existe alguma indicação de profilaxia? Se sim, diga qual e explique como dever ser realizada essa profilaxia. Gabarito 1. Sinal do piparote e macicez móvel de decúbito. 2. Possivelmente, ascite de estagio III, devido ao extenso volume abdominal apresentado. Estagio I – somente detectável pelo US; estagio II – ascite moderada, detectada pelo exame físico; 3 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 3 estagio III – grande ascite com importante distensão abdominal. 3. Inicialmente, solicitaria uma US abdominal, que pode identificar tanto complicações, como a possível causa da ascite (cirrose, massas abdominais, cistos pancreáticos, etc.) [Há possibilidade da realização de TC, porem por ser um método mais caro, não seria a primeira escolha] Além da USG, também solicitaria paracentese (exame obrigatório no paciente com ascite!) com o objetivo de obter material para análise (diagnostico etiológico da ascite) e de promover alivio dos sintomas compressivos. 4. Os principais parâmetros analisados devem ser o aspecto do liquido (seroso, hemorrágico, turvo, lactescente, biloso ou gelatinoso); a bioquímica – GASA, proteína total, glicose, LDH, triglicerídeos, bilirrubina, ureia e amilase; a citometria – grande número de hemácias pode indicar processo neoplásico e grande numero de PMN pode indicar infecção bacteriana; citologia oncótica – diagnostico da ascite carcinomatosa; bacteriologia – Bacterioscopia e cultura. 5. Nesse caso, devemos observar o gradiente de albumina soroascite (GASA). Valor menor do que 1,1 g/dl indica ascite oriunda de doença peritoneal com liquido exsudativo; valor maior do que 1,1 g/dl indica ascite oriunda de hipertensão portal com liquido transudativo. [Nos casos decorrentes de HP, em 85% das vezes se tem um quadro de cirrose hepática.] 6. Supondo que seja uma ascite exsudativa, a principal medida a ser tomada é o tratamento da causa base, o qual, sendo exitoso, deve culminar na remissão da ascite. Todavia, outras medidas são importantes, independentemente da etiologia, por exemplo o repouso do paciente (que facilita a mobilização de fluidos pelo organismo); restrição de sódio na dieta é aconselhável (2g ao dia); restrições hídricas não são recomendadas, a não ser que o paciente se encontre em quando de hiponatremia (observar o Na solicitado nos exames, se < 120 mEq/L se tem indicação para restrição hídrica – 1,0 a 1,5L/dia). Quanto à terapia medicamentosa, tem-se indicação do uso de diurético com atenção para a perda de peso diária do paciente! [Pacientes sem edema de MMII não devem 4 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 4 perder mais do que 0,5kg/dia, enquanto aqueles com edema de MMII podem perder ate 1kg/dia] A droga de escolha é a espironolactona na dose inicial de 100mg/dia, podendo ir ate 400mg/dia. Além disso, caso o paciente seja não responsivo as doses iniciais, pode-se associar a furosemida na dose inicial de 40mg/dia, podendo ir até 160 mg/dia. [Respeitar a proporção 100-40 entre espiro e furosemida, respectivamente] 7. A diferenciação deve ser feita a partir da medição do nível de sódio na urina de 24h. Caso esteja acima de 80 mEq/L e, mesmo assim, o paciente não apresente perda de peso, trata- se de ma adesão. Na ascite refrataria, o sódio é caracteristicamente inferior a 80 mEq/L pois, além da restrição dietética, o paciente tende a perder pelo uso dos diuréticos. Nesse caso, sendo a ascite de volume entre 5 e 15L, tem-se indicação para paracentese de grande volume – retirada de 5 a 9 litros a cada duas semanas com infusão de 6 a 8g de albumina para cada litro retirado, quando a paracentese é superior a 5 litros. 8. Diante da história apresentada, especialmente pela associação entre cirrose + ascite, além dos sintomas do paciente, a principal hipótese diagnostica é a PBE. Idealmente, a confirmação da PBE é realizada a partir da contagem PMN > 250/mm³ no liquido ascítico do paciente. 9. Incialmente, se possível, realizaria paracentese diagnostica e iniciaria imediatamente terapia com antibióticos. Especificamente, cefotaximine (ou outra cefalosporina de 3ª geração) 2g IV 12/12h por 5 dias. Após 5 dias, reavaliaria o paciente. Caso PMN < 250, tratamento encerrado. Caso, PMN > 250, porem menor do que a contagem anterior, completaria 7 dias de tratamento e realizaria nova paracentese. Caso PMN > contagem anterior, avaliaria possibilidade de PBS. Além do antibiótico, associaria expansão plasmática com albumina – 1,5g/kg no primeiro dia e 1,0g/Kg no terceiro dia. 10. Uma vez que o paciente desenvolve PBE, ele tem indicação para profilaxia secundaria, que é o caso do nosso paciente em questão. Essa profilaxia secundaria deve ser realizada com uso de norfloxacina 400mg/dia ou ciprofloxacina 500mg/dia ou sulfametoxazol/trimetoprim 800/160 mg/dia até o 5 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 5 desaparecimento da ascite. Outra situação é o paciente com cirrose + ascite apresentando hemorragia por varizes gastroesofágicas. Nessa situação, tem-se a indicação da profilaxia primaria aguda feita com norfloxacina 400mg/dia 12/12h por 7 dias OU ceftriaxone 1g/dia por 7 dias.
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