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Definir doença pulmonar intersticial e caracterizar seus subgrupos Definição As doenças pulmonares intersticiais (DPIs) são afecções heterogêneas, que acometem o parênquima pulmonar de maneira difusa e são agrupadas por conta de achados clínicos, radiológicos, funcionais e histológicos semelhantes. Muitos termos têm sido usados para englobar essas condições. Embora o termo “doenças pulmonares parenquimatosas difusas” seja considerado mais adequado, o termo “doenças intersticiais difusas” é consagrado pelo uso. Deve-se considerar que, nesse grupo de doenças, estão incluídas diversas formas de bronquiolite, doenças de preenchimento alveolar, vasculites pulmonares, além das doenças intersticiais, devido às semelhanças de apresentação. Interstício pulmonar - tecido conjuntivo entre células, parênquima Subgrupos ● As pneumonias intersticiais são doenças caracterizadas por espessamento dos septos alveolares, proliferação fibroblástica, deposição de colágeno e, se o processo permanecer descontrolado, fibrose pulmonar. As doenças pulmonares intersticiais podem ser classificadas de acordo com vários critérios (p. ex., aguda vs. crônica, não granulomatosa vs. granulomatosa, causa conhecida vs. desconhecida, doença pulmonar primária vs. secundária à doença sistêmica ● Em até 30% dos pacientes com doenças intersticiais sem nenhuma causa clara, os distúrbios são distinguidos principalmente por características histopatológicas específicas; esses distúrbios são denominados pneumonias intersticiais idiopáticas. ● As pneumonias intersticiais idiopáticas constituem um grupo heterogêneo de doenças pulmonares de causa desconhecida, decorrentes de lesão do parênquima pulmonar,resultando em graus variáveis de inflamação e fibrose. Fazem parte desse grupo: fibrose pulmonar idiopática, pneumonia intersticial não específica, pneumonia intersticial aguda, pneumonia organizante criptogâmicas e a pneumonia intersticial bronquiolocêntrica Características em comum ● Principal manifestação é a dispneia, frequentemente progressiva, que deve ser avaliada quanto duração e graduação, para determinar a gravidade da doença e para acompanhamento ● Tosse habitualmente seca ● Sibilância quando houver comprometimento do feixe broncovascular ou bronquiolite ● Dor pleurítica sugere inflamação pleural em algumas das doenças ● Pode haver hemoptise e escarro hemoptoico nas vasculites e neoplasia Estudar a epidemiologia, a etiologia, os fatores de risco, a fisiopatologia, o quadro clínico e os achados do exame físico das doenças intersticiais pulmonares Conceito ● É uma pneumonia intersticial fibrosante crônica,progressiva, restrita ao pulmão, de etiologia desconhecida ● Caracteriza-se por dispneia e perda de função pulmonar progressiva Epidemiologia ● >60 anos (67-68a), homens (1,5 a 1,7:1- 75%) e histórico de tabagismo ● É uma das DPI mais frequentes, com incidência estimada em 4,6 a 16,3 casos/100 mil e prevalência em 13-20 casos/100 mil ● Mau prognóstico ● Comorbidades mais comuns: refluxo gastroesofágico (até 90%), síndrome da apneia obstrutiva do sono, enfisema, insuficiência cardiaca, insuficiencia coronariana e neoplasia de pulmão (FPI + enfisema confere maior risco), hipertensão pulmonar (maioria moderado),maior risco de TVP, pré-angina, eventos coronarianos ● 5% dos casos de FPI correspondem a fibrose pulmonar familiar Fatores de risco ● Tabagismo: principalmente carga tabágica >20 maços/ano ● Exposições ambientais: poeira de metais e poeira de madeira ● DRGE ● Diabetes melito ● Fator genético: mutações nas proteínas surfactante A (SP-A2) e C (SFTPC), polimorfismo no promotor do gene que codifica a mucina 5B (MUC5B) localizado no cromossomo 11 (maior risco de FPI mas melhor sobrevida), mutação nos genes da telomerase (TERT, TERC, DKC1, TINF2) gerando telômero curto ● Agentes microbiológicos: virus Epstein-Baar, citomegalovírus, vírus da hepatite C, herpes vírus 7 e 8 Etiologia ● Desconhecida, mas uma combinação de fatores ambientais,genéticos e outros fatores desconhecidos provavelmente contribui para a disfunção ou reprogramação das células epiteliais alveolares, o que leva à fibroproliferação anormal no pulmão. Fisiopatologia ● Os achados histológicos fundamentais da FPI são fibrose subpleural com locais de proliferação de fibroblastos (focos fibroblásticos) e cicatrização densa, alternados com áreas de tecido pulmonar normal (heterogeneidade). A inflamação intersticial esparsa ocorre com a infiltração de linfócitos, neutrófilos, plasmócitos e histiócitos. A anormalidade cística (aspecto em favo de mel) é encontrada em todos os pacientes e aumenta com a progressão da doença. Com menor frequência, ocorre padrão histológico semelhante em casos de doenças pulmonares intersticiais de etiologia conhecida ● Proliferação de pneumócitos tipo II ● O estresse oxidativo acentua a inflamação e a fibrose, tendo um papel importante na patogenia da FPI. Nos pulmões normais o estresse oxidativo é contrabalançado por diversos antioxidantes, a glutationa tendo um papel central. Na FPI os níveis de glutationa estão reduzidos. ● A lesão e a ativação epitelial persistente levam simultaneamente a uma resposta imunológica inata e adaptativa (fatores) e ativação de fatores pró-fibrogênicos, que fazem a sinalização intracelular anormal, gerando proliferação, produção de colágeno e fibrose intersticial, com eventual insuficiência respiratória ● Causa hipertensao pulmonar por fibrose da intima e espessamento da média, diminuindo o lúmen e a elasticidade da artéria, resultando no aumento da pressão. Histologia ● Histologicamente, manifesta-se pelo padrão de pneumonia intersticial usual (PIU), o qual frequentemente pode ser inferido a partir de achados topográficos típicos ● Achados diagnósticos incluem: distribuição heterogênea, com áreas de pulmão fibrótico entremeadas de áreas de pulmão normal; distorção arquitetural; focos fibroblásticos; e áreas de faveolamento. Quadro clínico - Apesar de ser uma doença de curso heterogêneo, a maioria dos pacientes tem doença clinica moderada ou avançada no diagnóstico e o tto não impede muito a deterioração - O tempo de história varia em geral de 6 a 24 meses até o diagnóstico ● Dispneia aos esforços progressiva ○ A intensidade da dispneia se correlaciona inversamente com a sobrevida ● Tosse não produtiva ● Incomum: febre baixa e mialgia ● Perda funcional ○ Redução anual da CVF de 130 a 210ml Achados do exame físico ● Ausculta de estertores crepitantes, finos, secos e inspiratório em ambas as bases (estertores em velcro) ● Pode haver baqueteamento/hipocratismo digital (30-50%) ● Quando doença avançada, pode haver sinais das complicações ○ Hipertensão pulmonar ○ Cor pulmonale - estase jugular, edema de MMII, segunda bulha cardiaca em foco pulmonar Elucidar o diagnostico (critérios), exames complementares, critérios para realização de biópsias pulmonares e como é feita e diagnósticos diferenciais Diagnóstico ● FPI é um diagnóstico de exclusão, sendo necessário excluir aquelas com padrão PIU como as associadas à exposição ambiental (asbestose, pneumonia de hipersensibilidade crônica), doenças sistêmicas (colagenoses) e toxicidade por drogas (VER MAIS EM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL) ● Diagnóstico multidisciplinar: pneumo + radio + patologia Exames complementares ● Exames laboratoriais ○ Hemograma ○ VHS e PCR - VHS pode estar aumentado ○ Ureia e creatinina ○ Glicemia ○ Calcio, fósforo ○ DHL ○ TGO, TGP ○ Fosfatase alcalina ○ CPK ○ FAN, fator reumatoide, anti-Jo1,anti-Ro, anti-La, anti-RNP, anti-Scl70,anti-centromérico, anti-PCC ■ FAN e FR podem estar em baixos títulos em FPI em ate ¼ dos casos ○ Sumário de urina ● Radiografia de tórax ○ Opacidades reticulares difusas nas áreas pulmonares inferiores e periféricas ○ Pequenas lesões císticas(em favo de mel) e vias respiratórias dilatadas em decorrência da bronquiectasia de tração ● Tomografia de tórax ○ Redução dos volumes pulmonares ○ Padrão PIU - presença de opacidades reticulares, frequentemente associadas a bronquiolectasiasde tração, predominância basal e periférica, áreas sugestivas de fibrose e ausência de sinais inconsistentes com PIU ○ Opacidades reticulares geralmente refletem-se presença de fibrose, que causa distorção da arquitetura pulmonar,bronquiectasias de tração e bronquiolectasias, mais frequentemente periférico e basal ○ Faveolamento (padrão cístico) corresponde a formação débitos pulmonares de 3 a 10mm de D, criados pela destruição de espaços aéreos distais, por fibrose do parênquima pulmonar,com desarranjo da arquitetura de ácinos e bronquíolos. Caracteristicamente subpleurais e de paredes bem definidas. É comum e necessário para diagnóstico tomográfico definitivo. Padrão com maior correlação com padrão PIU. ○ Opacidade em vidro fosco em mais que 30% dos pulmões sugerem outro diagnóstico! ● Espirometria ○ Apresenta padrão funcional restritivo, com diminuição proporcional da CVF e VEF1, com relação CVF/VEF1 normal (>0,7), redução da capacidade pulmonar total e do volume residual. ● Ergoespirometria ○ A capacidade de difusão do monóxido de carbono é tipicamente reduzida e representa o teste mais sensível da função respiratória ○ Queda de PaO2 e da SaO2 no repouso e mais ainda no exercício ○ Teste de exercício cardiopulmonar, teste de caminhada de 6 minutos ou teste do degrau ● Lavado broncoalveolar LBA ○ Feito durante broncoscopia flexível, pouco invasivo, seguro e representativo de diversos componentes do TRI. ○ A distribuição normal de células no TRI em pct ao tabagista saudável é: 80-90% macrofagos, 5-15% linfocitos, 1-3%polimorfonucleares, <1% eosinófilos e <1% mastócito ○ O alterado pode ser classificado em: neutrofílico, linfocitico, eosinofílico e misto. Na FPI, o padrão encontrado normalmente é o neutrofilico, mas pode ter aumento eosinofílico <25%. ○ Pode também ser usado para afastar outras doenças, caso seja detectado linfocitose >30%, como PHC (pneumonite de hipersensibilidade na fase cronica) # Biópsia Pulmonar ● Critérios ○ Quando os achados tomográficos não são característicos, o que ocorre em 20 a 30% dos casos (“FPI com TCAR atípica”) ○ Quando outra condição é possível pelos dados clínicos (exposição para PHC) ○ Em pacientes com menos de 50 a 55 anos, independente dos achados tomográficos. ○ Por outro lado, a biopsia deve ser evitada em indivíduos muito idosos e com comorbidades significativas. ● Indicações ○ Doença progressiva, apresentação tomográfico atípica (não PIU, sem faveolamento), descartar infecção e neoplasia, diagnóstico não realizado com os métodos nao invasivos, eventualmente definição terapêutica e/ou prognóstica ● Como é realizada ○ Transbrônquica ■ Menos invasiva, mas apresenta baixo rendimento nos suspeitos de PIU devido ao caráter periférico das lesões e baixa representatividade do parênquima. ○ Biópsia cirúrgica ■ Melhor método, desde que nao haja limitação clinica ou funcional que contraindique realização ■ Achados histológicos sugestivos: focos fibroblásticos intramurais e fibrose plenamente constituída ○ Transtorácica guiada por TC INTERPRETAR ACHADOS TOMOGRÁFICOS E HISTOLÓGICOS - Ao descartar doenças autoimunes e outras doenças com base na ausência de autoanticorpos e história clínica, os achados Tomo e Histo podem culminar em três categorias diagnósticas de FPI: - Biópsia pulmonar cirúrgica com histologia evidenciando padrão PIU - Biópsia pulmonar cirúrgica evidenciando que definitivamente não é PIU - diagnóstico não é PIU mesmo com TC - TCAR com achados sugestivos como reticulado periférico e basal, mas ausência de faveolamento - a biópsia evidencia fibrose não classificável (difusa ou focal com ou sem inflamacao); diagnóstico de possível FPI Diagnósticos diferenciais ● Colagenoses com manifestação pulmonar e padrão PIU ○ Artrite reumatoide, esclerodermia sine esclero, sindrome antissintetase e as conectivopatias nao diferenciadas “pulmão dominante” ● Decorrentes de exposição ambiental ○ asbestose, pneumonia de hipersensibilidade crônica ● Toxicidade por drogas ● Bronquite ● Asma ● Insuficiência cardíaca ● Enfisema (principalmente o parasseptal por causa dos achados de TC)