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2021.2 – MED UNIFTC Melissa Cristina Turma A | TUT 03 | 5º Semestre Introdução • Conceito: É a dificuldade de deglutir os alimentos sólidos ou líquidos. Sensação que o alimento para em sua descida ao estômago, estacionando em algum ponto entre o esterno e o apêndice xifóide. O termo disfagia refere-se a um sintoma que está relacionado a qualquer alteração no ato de deglutir, desde a boca até o estômago, e pode ocasionar complicações pulmonares, desnutrição e desidratação no indivíduo. Consideram-se disfagia orofaríngea quaisquer alterações decorrentes das fases oral e faríngea de diversas etiologias Dificuldade de deglutição (latu sensu): ® Para que ocorra a deglutição, é necessário que ocorra uma contração da musculatura esofágica. Essa musculatura é formada pelas camadas: circular e longitudinal. A camada circular precisa contrair primeiro para que a camada longitudinal contraia em seguida; ® Quando a camada circular contrai, existe um relaxamento da túnica muscular para que o bolo alimentar possa descer. Essa sincronicidade ocorre ao longo de todo o esôfago; ® Por último, ocorre o relaxamento do esfíncter esofágico interior para permitir que o bolo chegue até o estômago. Observe a Imagem: • Anatomia do esôfago: o Existe a camada mucosa e logo depois a camada submucosa, que apresenta o Plexo de Meissner, que é o plexo submucoso neurológico; o Segue-se com a camada muscular, que é divida em circular e longitudinal. Entre elas existe o Plexo Mioentérico de Auerbach. Observação: É importante saber que um desses Plexos é submucoso e o outro é muscular porque eles serão afetados e alterados em determinadas patologias como a Doença de Chagas e Acalasia. o Camada muscular circular: ® 4 - 5,6% proximal: músculo liso; ® 54 – 62% distal: músculo estriado esquelético; ® Existe uma musculatura de transição que corresponde a porcentagem residual que ficou da diferença entre o músculo liso e o estriado esquelético. • Semiologia: Quando há suspeita de disfagia no paciente, é preciso saber diferenciar alguns quadros de acordo com a sintomatologia: ® Odinofagia: há dor no processo de deglutição (fase oral-faringe-esofágica). Sendo assim, a dor pode ser referida na região de orofaringe ou na região toráxica. Essa dor é classificada como dor torácica não cardíaca; ® Afagia: impossibilidade de o paciente fazer a deglutição seja por alguma condição psiquiátrica ou por uma questão neurológica (quando há alguma lesão no tronco encefálico com comprometimento do centro da deglutição); ® Globus pharyngeous: o paciente apresenta uma sensação de “bolo” que não sobe nem desce. A pessoa precisa ingerir líquido ou saliva e ele permanece preso. É um sintoma atípico de refluxo; ® Fagofobia: geralmente acomete pacientes psiquiátricos e é o medo de se alimentar; o Classificação da disfagia: ® Orofaríngea: condições que afetam a cavidade oral, faringe e, em especial, o esfíncter esofágico superior (EES); ® Esofágica: ocorre depois do ato da deglutição, afeta principalmente o esfíncter esofágico inferior (EEI). o História clínica: ® Disfagia orofaríngea: Engasgos, regurgitação de líquidos pelas fossas nasais, refeições longas, se alimenta tossindo, voz molhada (fala parecendo gargarejo), perda de peso e desnutrição; Gastroenterologia Gastroenterologia Disfagia Abdominal Observação: Engasgo é diferente de entalo. O engasgo é sucedido de tosse, então, todo paciente que engasga vai ter dificuldade de deglutição por causa da tosse que é um mecanismo reflexo. Entalo é quando alimento fica preso, parado em alguma região do tórax. 1- Início súbito com outros sinais neurológicos: evento cerebrovascular (por exemplo: AVC); ® Disfagia esofágica: entalos na região retroesternal ou do apêndice xifóide; 1- Pode acontecer com alimentos líquidos, pastosos ou sólidos; 2- Normalmente o paciente apresenta alguma comorbidade; 3- Há medicações que também podem desencadear o quadro de disfagia. • Fases da deglutição: o Fase oral: Inicia-se com a mastigação, é voluntária e ocorre o preparo do alimento para ejeção; a língua está envolvida na preparação e condução do alimento, e apresenta músculos extrínsecos que favorecem a protrusão, retrusão e lateralização, e músculos intrínsecos responsáveis por alterar a sua forma e o seu tamanho. Simultaneamente, ocorre o fechamento da nasofainge, isolando a rinofaringe e ampliando a zona do esfíncter glossofaríngeo, o qual permanece fechado na presença de alimento na cavidade oral, para prevenir o escape prematuro em direção à orofaringe, abrindo durante a deglutição o Fase faríngea: é uma fase extremamente rápida, de transição, mas muito importante. Nessa fase recebe-se o alimento depois da mastigação e é necessário que haja exclusão da rinofaringe para que o alimento não saia através das fossas nasais. Além disso, há abertura da transição faríngeo- esofágica (TFE) como mecanismo de proteção das vias aéreas. É uma fase involuntária que envolve nervos cranianos. Qualquer distúrbio que acontece nessa fase dá origem à disfagia; A fase faríngea inicia-se com a entrada do bolo na faringe. Tal fase é coincidente com a elevação do palato mole contra a parede faríngea posterior, permitindo que o bolo deixe a boca, além de isolar a nasofaringe da possibilidade de regurgitação. Essa fase requer a realização bem-sucedida de duas condições: transporte completo do bolo através da faringe para o esfíncter superior do esôfago e proteção do caminho aéreo de aspiração do material deglutido. o Fase esofágica: essa fase também é involuntária e é responsável pelo transporte do alimento até o estômago através do mecanismo de contração da musculatura circular e relaxamento da tônica mucosa. A transição entre as fases faríngea e esofágica da deglutição é marcada pela passagem da onda de con- tração peristáltica faríngea pelo cricofaríngeo, encer- rando o relaxamento do ESE. • Resumo da disfagia: o Orofaríngea: ® Causas: 1- Mecânica; 2- Neurogênica; 3- Drogas; 4- Envelhecimento; 5- Doenças sistêmicas; 6- Funcional do recém-nascido prematuro; 7- Psicogênica. o Esofágica: ® Causas orgânicas ou funcionais: 1- Mecânica: intrínseca ou extrínseca, benigna ou maligna; 2- Distúrbios de motilidade: alteração na peristalse esofágica ou de relaxamento do esfíncter esofágico inferior (EEI). Disfagia Orofaríngea: Disfagia Orofaríngea é a dificuldade de engolir, seja alimento, secreção e medicamento, considerando desde o momento de retirada do alimento do talher até a passagem desse alimento pela faringe. • Impacto epidemiológico: Neonatos prematuros (por isso eles ganham uma sonda nasoenteral para alimentação) e idosos; ® Identificar as doenças sistêmicas e metabólicas; ® Localizar a lesão neurológica; ® Detectar aspiração, desnutrição e sepse pulmonar: o Grupo de risco: doenças neurológicas, alterações mecânico-estruturais, ventilação mecânica prolongada, intubações ou extubações traumáticas, traqueostomias. • Avaliação inicial: o Estrutural: dentição, higiene oral, próteses dentárias; o Funcional (consistência): National Dysphagia Diet (líquido, néctar, mel, pudim). • Exames complementares: o Vídeo deglutograma ou videofluoroscopia de deglutição: método radiológico não invasivo, registro em tempo real da dinâmica da deglutição das fases oral e faríngea. Tem baixa radiação; ® Identifica escapes para rinofaringe, eficiência do mecanismo de proteção das vias aéreas e a ejeção do bolo alimentar; o Estudo endoscópico funcional ou da deglutição: introdução nasal, avalia a dinâmica da abertura e fechamento da TFE, capacidade reflexa da via aérea, fase faríngea apenas. Quadro de etiologia da Disfagia Orofaríngea: Disfagia Esofágica: • Apresentação clínica: o Súbita– impactação por corpo estranho, E. eosinofílica (que ocorre devido a formação daqueles anéis no esôfago); o Progressiva com perda de peso – neoplasia; o Disfagia exclusiva para sólidos de longa duração – estenoses benignas, principalmente a séptica; o Disfagia intermitente para sólidos e líquidos + dor torácica – espasmo esofagiano benigno; o Disfagia para sólidos e líquidos de longa duração com estado geral bom – Acalasia. Quadro de etiologia da Disfagia Orofaríngea: • Disfagia esofagiana funcional: distúrbios de motilidade o Etiologia desconhecida; o Fisiopatologia é controversa; o Exemplos: ® Acalasia; ® Espasmo esofagiano difuso; ® Esôfago em quebra nozes; ® Esfíncter inferior hipertenso; ® Distúrbio motor inespecífico (MEI). Observação: A disfagia esofágica funcional tem etiologia desconhecida com exceção da Acalasia, que é conhecida como “Distúrbio de Motilidade verdadeiro” porque é possível definir a fisiopatologia desse distúrbio. o Esses distúrbios ocorrem quando há alguma alteração nos Plexos da camada circular (Plexo de Auerbach) e da camada submucosa (Plexo de Meissner). • Sintomatologia das anormalidades motoras do esôfago: • Exames complementares para o diagnóstico: o Esofagomanometria: Padrão de referência (critérios específicos para cada distúrbio: tônus e relaxamento do EIE) – Chicago 2010; o Endoscopia (EDA): afasta lesões orgânicas e funcionais; o Estudo radiológico do esôfago-estômago e duodeno (EREED) ou esofagografia: baixa sensibilidade. o EED: Espasmo esofagiano difuso: aspecto em terço de rosário ou espiral, não afeta a transição esôfago- gástrica; o Acalasia: dilatação a montante, nível hidro aéreo, aspecto “bico de pássaro”; o Esôfago em Quebra Nozes (EQN): achados inespecíficos, ondas peristálticas terciárias podiscinesia esofágica. Acalasia: É fator de risco para neoplasia de esôfago (10-50x); Acalasia é o único distúrbio motor universalmente aceito como verdadeiro (fisiopatologia conhecida); A = não Calasia = relaxamento Doença idiopática, secundária à perda seletiva da função dos neurônios inibitórios dos plexos mioentéricos; • Fatores desencadeantes: o Infeccioso ou ambiental (nutricional, toxinas): Infiltrado inflamatório de linfócitos T ao redor de neurônios do plexo mioentérico; o Resposta autoimune (HLA DQw1): destruição do plexo mioentérico em corpo distal e EEI. • Quadro clínico: o Fases iniciais: ® Dor torácica espontânea que alivia com líquidos (dura meses, anos após); ® Disfagia (70-90%): sólidos e líquidos com quadro geral bom, regurgitações semelhantes a clara de ovo e também de restos alimentares (70%); o Quadro avançado: Microaspirações crônicas eAnomalias pulmonares. • Diagnóstico diferencial: o DRGE; o Pseudocalasia (5% dos pacientes com suspeita de acalasia) que ocorre devido à obstrução neoplásica submucosa; o Operações na junção esôfago-gástrica; o A acalasia pode ocorrer também devido à doença de Chagas, que é caracterizada pela degeneração dos plexos mioentéricos pela ação do Trypanossoma Cruzi. • Distúrbio de motilidade funcional – causa secundária: Doença de Chagas ® 65 milhões de pessoas em 21 países endêmicos das Américas; ® 1950: 1ª campanha de profilaxia da doença de chagas; ® Brasil (2007): Região Norte > Região Nordeste; ® Protozoário flagelado Trypanossoma Cruzi (forma amastigota dentro das células); o Transmissão: ® Oral: acidental (mais frequente) – vetor infectado macerado nos alimentos como caldo de cana-de-açúcar e açaí; ® Vetorial: através das fezes do vetor; ® Vertical; ® Transfusão sanguínea/tecidos. o Classificação de Rezende para os graus de dilatação esofágica: ® Grau I: esôfago hipotônico e presença de bolha gástrica; ® Grau II: esôfago dilatado moderadamente e apresentando ondas terciárias frequentes; ® Grau III: esôfago dilatado e apresentando aspecto de “bico de pássaro” da cárdia. Apresenta ondas terciárias, mas pouco frequentes; • Tratamento: o Acompanhamento nutricional + orientação da consistência alimentar + relaxantes musculares (para reduzir o tônus do EIE): ® Nitratos, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da fosfodiesterase (sildenafi), antidepressivos; o Acalasia: ® Toxina botulínica – FPP: Acalasia vigorosa / > 50 anos / boa resposta inicial; ® Dilatação pneumática – FPP: idade mais velha, redução do tônus basal > 50% após dilatação; ® Cirurgia: Miotomia de Heller. Os indivíduos com quadro clínico suspeito de acalásia devem passar por completa investigação diagnóstica, uma vez que os sintomas por si só não são suficientes para diferenciar esta de outras doenças do esôfago. Além disto, investigação detalhada e sistemática permite não apenas diagnóstico correto e rápido mas também contribui para melhor escolha do tratamento e prognóstico destes pacientes.
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