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Reumatologia – Michelle Del Nery Lúpus Eritematoso Sistêmico Introdução Paciente com LES possui comprometimento sistêmico. Doença inflamatória crônica do tecido conjuntivo de etiologia multifatorial que apresenta múltiplas anormalidades imunológicas com a presença de anticorpos dirigidos contra proteínas do próprio organismo, caracterizada por períodos de atividade e remissão. É uma doença potencialmente grave mas que é possível ter um bom controle. Porem, nunca atinge a cura. Epidemiologia Prevalência: 40-50 casos/100.000 habitantes Incidência: 2-8 casos/ 100.000 habitantes Predominância maior no sexo feminino: efeito do hormônio estrogênio. Ou seja, o hormônio estrogênio é um fator de risco para o lúpus. Por isso, o lúpus é mais prevalente nas mulheres em idade fértil. Em crianças – efeito hormonal mínimo: 3:1 Em adultos em idade fértil: 9.1 Em idosos – pós menopausa: 8:1 Assim, em relação à idade: ➢ 16-55 anos – 65% dos pacientes com lúpus ➢ < 16 anos – 20% ➢ >55 anos – 15% Obs: mulheres lupicas não podem tomar anticoncepcional hormonal Etiologia O Lupus possui componente imunológico importante. Além disso, também possui fator hormonal, principalmente estrogênio. Ainda, há fatores ambientais como a exposição solar, pois a radiação no geral também influencia. Também, os fatores genéticos. Etiopatogenese O individuo possui uma pré disposição genética. Este individuo sofre a influencia de fatores ambientais, hormonais, e isto leva a exposição de auto antígenos. Esta exposição ativa células T e receptores de células B. Com essa ativação, produz-se anticorpos patogênicos. Quando o anticorpo patogênico se liga ao antígeno formam-se imunocomplexos. Os imunocomplexos serão responsáveis pelo quadro de lúpus pois vão se depositar nos órgãos alvos. Por exemplo, se há manifestação renal é pq há deposição de imunocomplexos e afins. Manifestações Clinicas Qualquer órgão e sistema pode ser acometido pelo lúpus pois onde o Imunocomplexo se depositar irá gerar manifestação. Mas ocorre variação entre a prevalência dos sintomas. Sintomas Constitucionais – 53-77%: São inespecíficos: febre, fadiga, emagrecimento, mialgia Imunologicos Hormonais Ambientais Geneticos Reumatologia – Michelle Del Nery Manifestações Cutâneas – 70-80%: ESPECIFICAS -Agudas: Rash Malar ou Asa de Borboleta: lesão eritematosa edematosa na região malar que poupa o sulco nasolabial. O inicio é geralmente é abrupto. Iniciado ou exacerbado pela exposição solar. Fotossensibilidade: erupção cutânea eritematosa após exposição aos raios solares, preominando nas áreas expostas ao sol: colo, face e extremidades. Lupus bolhoso: apenas 10% dos casos. É uma forma grave pois pode ser associado com infecção secundaria e complicações. -Subagudas: Papuloescamosas: lesões papulares e descamativas. Não tem correlação direta com o sol. Anulares: borda avermelhada com o centro esbranquiçado. -Crônicas: LE discoide localizado e LE discoide generalizado: pode ou não estar associado à doença sistêmica. São placas, as vezes eritematosas, cobertas por crostas que se estendem até os folículos pilosos, com uma cicatriz atrofia central. Quando estiver fora da atividade lupica, a lesão se mostra cicatricial. LE verrucoso LE túmido LE Outra forma de diagnosticar o lúpus é pela idade < 16anos: juvenil Induzido por droga: pct usa algum tipo de medicamento que induziu o lúpus. É o único que tem cura. INESPECIFICAS Alopecia – não discoide. Manifestação comum. Pode ser subdividida em: -difusa: acompanha os períodos de atividade da doença, é transitória e reversivel -localizada: lesões discoides no couro cabeludo e são irreversíveis. Lesões em Mucosas: orais, nasais, aftas de repetição. Livedo reticular: frequente e inespecífica. Desenho rendilhado. Fenomeno de Raunaud: alteração de coloração nas extremidades. Pode ser: palidez -> cianose - > rubor. Esta é a sequencia do fenômeno, mas podem coexistir em fases diferentes. Manifestações MusculoEsqueleticas: Artralgia – 76-100%. A grande maioria dos pacientes só vai ter dor articular Artrite: Paciente apresenta dor articular + sinais flogisticos. Poliarticular, intermitente, discretos e incapacitantes, principalmente em pequenas articulações das mãos, punhos e joelhos, não erosiva – isto é, não causa destruição óssea, não deforma. --Artropatia de Jaccoud: tipo especifico de artrite do lúpus. Há frouxidão da capcsula articular, tendão e ligamentos -> instabilidade articular. No lúpus, é reversil e na artrite reumatoide não. Manifestações renais: Presente clinicamente em 50-70% dos pacientes. Microscopia eletrônica -100%. Reumatologia – Michelle Del Nery Pode ocorrer lesão de glomérulo, túbulo ou interstício. Isto varia de acordo com a região que o imunocomplexo se deposita nos rins. Podem apresentar: ▪ Proteinuria >0,5 g/24h ▪ Cilindruria ▪ Hematuria ▪ Alteração de função renal A nefrite lupica é classificada em 6 classes, baseadas na histopatologia da biopsia renal. Mas, há algumas manifestações mais comuns para cada classe: Classe I: Nefrite Lupica Mesangial Minima: Estagio inicial, bom prognostico. Glomerulos normais a MO, porem com depósitos imunes a microscopia eletrônica. Sem alterações clinicas ou laboratoriais, nem chega a diagnosticar. Classe II: Nefrite Lupica Proliferativa Mesangial: Classe III: Nefrite Lupica Focal: ▪ Acometimento < 50% dos glomérulos, de forma segmentar ou global ▪ Proteinuria > 1g/24hrs, hematúria e HAS ▪ Anti DNA positivo e complemento baixo. O Anti DNA é um anticorpo do lúpus que varia e vai estar positivo quando há atividade renal, isto é, nefrite lupica. ▪ Prognostico intermediário ▪ Tratamento corticoterapia Classe IV: Nefrite Lupica Difusa: Forma mais grave e de pior prognostico. Alterações proliferativas globais em mais de 50% dos glomérulos, extensas áreas de necrose fibrinoide, múltiplos crescentes celulares Proteinuria nefrotica, hematúria, HAS e insuficiência renal Anti-DNA positivo e complemento baixo Prognostico ruim, forma mais grave e mais comum. Iniciam-se os sinais de insuficiência renal. Classe V: Nefrite Lupica Membranosa: Distoa um pouco da progessão ruim das classes, pois aqui há pouca hematúria e ausência de insuficienica renal. Espessamento difuso das paredes capilares glomerulares e depósitos imunes. Síndrome nefrótica – proteinúria >3,5g, hipoproteinemia, edema, hiperlipidemia – pouca hematúria e ausência de insuficiência renal Maior risco de manifestações trombóticas, em especial trombose da veia renal O anti-DNA pode ser negativo e o complemento sérico costuma ser normal. Prognóstico intermediário. Tratamento: corticoterapia em doses imunossupressoras, e ciclofosfamida (imunossupressor). Pode trocar a ciclofosfamida pelo micofenolato, porque a ciclofosfamida aumenta risco de doença ovariana Classe VI: Nefrite Lupica Esclerotica Avançada: Esclerose global de mais de 90% dos glomérulos. Insuficiencia renal progressiva em associação com proteinúria Terapia imunossupressora não apresenta benefícios. Só é possível fazer o transplante renal. Manifestações NeuroPsiquiatricas: Podem ocorrer manifestações tanto no SNC quanto no SNP: Reumatologia – Michelle Del Nery Manifestações Hematologicas: Anemia hemolítica autoimune: < 10% dos casos. É a anemia mais característicado lúpus, no entanto não é a mais comum, atinge apenas 10% dos pacientes. Quando presente, entra como critério diagnostico. Anemia inespecífica de doença crônica: > 80%. Anemia normocítica e normocrômica. Ocorre em mais de 80% dos casos de lúpus. O paciente pode apresentar, ainda: ➢ Leucopenia (<4000): >50% ➢ Linfopenia (<1000): 20-70% ➢ Trombocitopenia: Moderada (50.000 a 100.000): Crônica e assintomática Profunda (<20.000): Aguda e sintomática → Sangramentos espontâneos. Manifestações Cardíacas: Acomete pericárdio, endocárdio, miocárdio e artérias coronárias. Pericardite: É a inflamação do pericárdio Manifestação mais comum (6 – 45% dos casos) Derrame pericárdico: assintomático, e pode ser pequeno ou moderado O tamponamento cardíaco é raro. Miocardite primária: <10%, taquicardia, taquipneia, aumento área cardíaca. Doença valvar cardíaca. Os pacientes com lúpus tem um risco de 7 a 10x maior de sofrerem eventos cardiovasculares. Endocardite de Libman-Sacks: Vai haver formação de vegetações devido a deposição de imunocomplexos, células mononucleares, trombos de fibrina e plaquetas. É uma endocardite estéril, não há microrganismos envolvidos. São lesões verrucosas, principalmente nas válvulas mitral e aórtica. Geralmente é assintomática, porque a disfunção valvar não é significante. Manifestações Pulmonares: Pleural: Pleurite (dor ventilatório dependente), com ou sem derrame pleural, geralmente pequeno e bilateral → O derrame é com exsudato. Pulmonar: Pneumonite aguda, pneumonite intersticial, hipertensão arterial pulmonar, hemorragia alveolar difusa (não é comum, mas é grave e leva a óbito), e síndrome do pulmão contraído (elevação da cúpula diafragmática; É patognomônico de lúpus) Exames Laboratoriais Exames Gerais: Vão representar as manifestações que o LES está realizando, em cada órgão: Hemograma: anemia, leucopenia, linfopenia, plaquetopenia --Anemia hemolítica: Coombs direto positivo, reticulocitose, aumento de bilirrubina indireta, aumento de DHL Exame de sedimento urinário (exame de urina 1): proteinúria, hematúria, cilindrúria. Deve pedir a urina de 24h para o paciente caso ele venha com proteinúria no exame de urina 1. Ureia/Creatinina Reumatologia – Michelle Del Nery Provas inflamatórias: VHS (velocidade de hemossedimentação), PCR. São alterações inespecíficas, porque em fase aguda, todo paciente tem prova inflamatória aumentada. Hipocomplementenemia: C3, C4 CH50. Deve sempre dosar a quantidade de complemento basal do paciente quando ele é diagnosticado com lúpus, porque assim é possível fazer um controle da doença, saber se a quantidade de complemento aumentou (mesmo que ela ainda seja baixa), saber se abaixou mais. Exames Imunologicos: FAN fator antinuclear: solicitar ao paciente que é suspeita de colagenase. É um teste para avaliar a presença de um ou mais anticorpos contra antígenos nucleares. Presentes em 99% dos pacientes com LES = sensível. Cada padrão de FAN se relaciona a um tipo de anticorpos. Esse padrão sugere os anticorpos associados e consequentemente a doença associada. É pouco especifico = presentes em outras colagenoses e em até 10% da população normal. O teste fornece 3 tipos básicos de informação: ➢ Presença ou ausência de autoanticorpos ➢ Titulação: concentração do autoanticorpo no soro ➢ Padrão da imunofluorescência ➢ Padrões mais relacionados ao LES: Padrão nuclear pontilhado grosso (Sm, RNP) e Padrão nuclear homogêneo (anti- histona, anti-DNA) Obs: 98% dos casos de fan pontilhado fino denso são pacientes saudáveis. Autoanticorpos: Anti-DNA: Nefritelúpica. Utilizado para lúpus e outras doenças associadas a ele. Quando o lúpus está em atividade ele é positivo, e quando está em remissão é negativo. Anti-Sm: Específico para LES. É específico de lúpus. Faz parte dos critérios diagnósticos. Antinucleossomo: Específico LES É específico de lúpus. Mas não faz parte dos critérios diagnósticos. Anti-RNP: Altos títulos Doença mista do tecido conjuntivo. Anti-Ro: Lúpus neonatal, lúpus cutâneo subagudo, fotossensibilidade, Síndrome de Sjogren. Mulheres com o Anti-Ro positivo devem tomar cuidado no pré-natal, e devem realizar ecocardiograma fetal, porque ele aumenta o risco de bloqueio cardíaco congênito. Anti-La: Associação negativa com a nefritelúpica, Síndrome de Sjogren. Geralmente quando ele é positivo, expressa um fator protetor contra nefrite lúpica, ou seja, apresentam menor chance de desenvolver a nefrite. Anti-histona: Lúpus farmacoinduzido. Quando esse anticorpo é positivo é verificado que o lúpus foi mesmo induzido por determinada droga. Anti-P: Psicoselúpica. Demora muito tempo para ter o resultado se é positivo ou não, e por isso não faz parte dos critérios diagnósticos. Antifosfolípides: Anticardiolipina IgG, anticardiolipina IgM, anticoagulantelúpico, anti- B2 glicoproteína 1 IgG, antiB2 glicoproteína 1 IgM, e VDRL falso positivo Risco aumentado para eventos trombóticos e abortos. Síndrome dos anticorpos antifosfolipides Reumatologia – Michelle Del Nery Critérios de Classificação Existem dos principais do Lupus: ➢ Criterios Americanos de Reumatologia – ACR ➢ Criterios pelo Grupo SLIIC – mais utilizado hoje Criterios SLIIC Classifica-se o paciente como portador de LES se: ✓ APRESENTAR NEFRITE LÚPICA COMPROVADA POR BIOPSIA COM FAN POSITIVO OU BIOPSIA COM ANTI-DNA POSITIVO. OU ✓ O PACIENTE DEVE APRESENTAR PELO MENOS 4 CRITÉRIOS RELACIONADOS NA TABELA, SENDO PELO MENOS UM DOS CRITÉRIOS CLÍNICO, E OUTRO UM CRITÉRIO IMUNOLÓGICO Serosite: derrame pericardico ou derrame pleural. Mas ascite não entra como pontuação aqui. Leucopenia ou linfopenia: como manifestação clinica hematológica. Tratamento Objetivo: 1. Induzir a remissão da doença 2. manter o paciente nesse estado com a menor quantidade de medicamento possível. Tratamento Não-Medicamentoso: ✓ Educação e orientação do paciente: Uso de protetor solar, e deve escrever na receita. O sol é a única “proibição” ✓ Apoio psicológico: Verificar o impacto do diagnóstico na vida do paciente, porque alterações emocionais podem servir de gatilho para piora da doença. ✓ Atividade física ✓ Dieta balanceada ✓ Evitar tabagismo ✓ Tratamento de comorbidade ✓ Noite tranquila de sono Tratamento Medicamentoso: Antimalaricos: são estabilizadores de citocinas e autoanticorpos. Não serve para fase de atividade. É uma classe para utilizar na manutenção. Difosfato de cloroquina 4mg/kg (250mg/dia): É mais barata, porém aumenta o risco de deposição de imunocomplexos no fundo do olho, aumentando o risco de maculopatia. Hidroxicloroquina 6mg/kg (400mg/dia): É mais cara, porém tem menor risco de deposição de imunocomplexos no fundo do olho, aumentando o risco de maculopatia. Indicado para todos os pacientes, se não tiverem contraindicação. Corticoides: Na fase ativa, todos os pacientes. Na fase de manutenção, o mínimo possível pelo menor tempo possível. Reumatologia – Michelle Del Nery Nas manifestações graves, a terapia com corticoides em doses elevadas é chamada de pulso terapia: Pulsoterapia com metilprednisolona - 1g de corticoide endovenoso por três dias consecutivos Após esse período faz a pulsoterapia de ciclofosfamida – 0,5-1g/m2 de superfície corporal EV 1x/mês por 6 meses. Esse ciclo deve ser feito uma vez por mêsdurante 6 meses. Após esse tempo o paciente está em remissão, e é mantido com imunossupressores Imunossupressores: Temos como imunossupressores: ▪ AZATIOPRINA: Usada para manifestações hematológicas ▪ METOTREXATO: Usado para manifestações articulares ▪ MICOFENOLATO: Usado para manifestações pulmonares e renais. ▪ CICLOFOSFAMIDA: Usado para manifestações pulmonares, renais e de sistema nervoso Não devem ser usados em associação, deve escolher apenas um. Pode associar com corticoides ou antimaláricos. A escolha do imunossupressor é sempre direcionada para a manifestação mais grave. Novas Terapias: Anticorpo monoclonal que inibe um fator de sobrevivência de células B ou BlyS – Belimumab (Benlysta): É benéfico no LES em atividade em associação a terapia padrão. Não indicado para formas graves. Ele é reservado para pacientes que tiveram intolerância as outras formas de imunossupressão. Não é usado rotineiramente. Anti-CD20 – Rituximab: Foi criado para tratamento de linfoma e depois foi adaptado para algumas doenças reumatologicas como a artrite reumatoide. Hoje é muito usado para manifestações graves do lúpus com acometimento renal, de sistema nervoso central e hematológico, principalmente em casos resistentes ao tratamento convencional. Recomendação off label na bula, pois ele não tem essa indicação normalmente mas pode ser utilizado e é benéfico nas formas graves.