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1 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC SAÚDE DA MULHER JULIANA OLIVEIRA MENOPAUSA E TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL DEFINIÇÕES ➔ Climatério: Período de vida da mulher compreendida entre o final da fase reprodutora até a senilidade, que varia dos 40 aos 65 anos. ➔ Menopausa: Interrupção permanente da menstruação, reconhecida após 12 meses consecutivos de amenorreia. ETIOPATOGENIA A nível de ovário tem-se uma diminuição progressiva dos folículos e aqueles remanescentes tornam-se refratários às gonadotrofinas. Desse modo, tem-se um declínio progressivo dos estrógenos e da inibina B (mantêm o FSH baixo). Assim, por mecanismo de retroação tem-se uma elevação progressiva das gonadotrofinas FSH e LH, na tentativa de manter a foliculogênese. As gonadotrofinas que continuam atuando sobre o estroma do ovário fazem com que haja maior produção de androgênios (testosterona e androstenediona). Esses androgênios, juntamente com os produzidos pelas adrenais nos tecidos periféricos, através da aromatase são convertidos em estrona, principal hormônio da mulher no climatério. Atualmente, acredita-se que o hipotálamo e a hipófise também participam desse processo, pois, seu envelhecimento acarreta em alterações no metabolismo dopaminérgico e diminuição dos receptores estrogênicos. A exaustão dos folículos ovarianos também pode ser acelerada por perda de sincronia dos sinais neurais. ALTERAÇÕES ENDOCRINOLÓGICAS Insuficiência do corpo lúteo e anovulação. ➔ Fases iniciais: Irregularidades menstruais como espaniomenorreia (ciclos menstruais com intervalos longos) ou polimenorreia (a mulher menstrua muitas vezes). ➔ Fase tardia: Amenorreia. Tem-se um declínio dos níveis de progesterona, estradiol e inibina, redução das células secretoras e diminuição dos receptores de gonadotrofinas são alterações endocrinológicas consequentes a insuficiência do corpo lúteo e anovulação. O aumento da secreção de androstenediona pelo estroma do ovário e pelas suprarrenais, irá sofrer conversão periférica para estrogênios, principalmente a estrona. A estrona é o principal hormônio presente na mulher na pós menopausa, no entanto, não consegue compensar as alterações evidenciadas pelo hiperestrogenismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MANIFESTAÇÕES NEUROGÊNICAS Ondas de calor, sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesia, insônia, perda da memória e fadiga. As ondas de calor são as principais indicações para terapia hormonal, no entanto, sua patogênese não é conhecida. MANIFESTAÇÕES METABÓLICAS A queda de estrogênio faz diminuir a atividade dos osteoblastos e aumenta a atividade dos osteoclastos de modo que não há formação, mas há reabsorção óssea. A matriz óssea se desfaz e libera cálcio (desmineralização), ocorrendo alta remodelação óssea e instalando-se progressivamente a osteopenia e a osteoporose. A coluna e o colo do fêmur são os pontos usualmente mais comprometidos. METABOLISMO LIPÍDICO Após a menopausa, os níveis de LDL aumentam, geralmente excedendo os de homens da mesma idade, com tendência para partículas menores, mais densas e potencialmente mais aterogênicas, enquanto os níveis de HDL diminuem. A deficiência estrogênica da pós menopausa é considerada como fator relevante na etiopatogenia da doença cardiovascular e das doenças cerebrovasculares isquêmicas. MANIFESTAÇÕES UROGENITAIS Devido a mesma origem embriológica, tanto a bexiga quanto a uretra e órgãos genitais têm respostas semelhantes as mudanças hormonais, especialmente ao estrógeno. O processo atrófico que acompanha a redução estrogênica pode ser verificado no epitélio e tecidos pélvicos de sustentação, tornando a mucosa mais delgada, propiciando prolapsos genitais, além de sintomas vaginais, como ressecamento, sangramento e dispareunia, e sintomas uretrais como disúria, frequência e urgência miccional. MANIFESTAÇÕES TEGUMENTARES 2 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC SAÚDE DA MULHER JULIANA OLIVEIRA O hipoestrogenismo reduz a produção de colágeno pela alteração da polimerização dos mucopolissacarídeos. Na derme diminui a síntese de ácido hialurônico e com isso há a diminuição de água. Desse modo, com o avançar da idade, a pele perde a elasticidade, os músculos enfraquecem e ficam frouxos e a pele fica mais afinada, perdendo o apoio e permitindo o aparecimento das rugas. OUTRAS MANIFESTAÇÕES ▪ Manifestações psicogênicas: Diminuição da autoestima, irritabilidade, labilidade afetiva, sintomas depressivos, dificuldades de concentração, memória e insônia. ▪ Alterações sexuais: Redução de libido. ▪ Alterações mamárias: Redução do tecido glandular. ▪ Alterações visuais: Tendência à presbiopia. ▪ Alterações dentárias: Descolamento e a retração da gengiva, favorecendo as infecções e as cáries dentárias. ▪ Obesidade: Decorrente das alterações metabólicas, há tendência à obesidade do tipo androide, ou seja, com maior acúmulo central. É importante estar ciente que as mulheres não terão todos esses sintomas, algumas terão mais outros menos, mas é algo muito variável, cada um vai passar por essa fase de uma maneira particular. TERAPÊUTICA HORMONAL ➔ Benefícios da terapêutica hormonal: As principais indicações da terapia hormonal são para o tratamento dos sintomas vasomotores e da síndrome geniturinária e a prevenção da osteoporose e fraturas osteoporóticas. O início da TH em mulheres com + de 10 anos de pós menopausa pode associar-se ao aumento do risco de doenças cardiovascular. Contudo, se iniciada na peri e na pós menopausa inicial, a TH pode diminuir o risco cardiovascular, conceito conhecido como “janela de oportunidade”. ▪ Tratamento dos sintomas vasomotores é considerado indicação primária para TH, especialmente para mulheres sintomáticas abaixo dos 60 anos e com menos de dez anos de menopausa. ▪ A TH é eficaz na prevenção da perda óssea associada à menopausa e na redução da incidência de todas as fraturas relacionadas à osteoporose, incluindo fraturas vertebrais e de quadril. ▪ Os estrogênios tópicos vaginais são eficazes no tratamento da síndrome geniturinária, com alívio das manifestações atróficas vaginais, principalmente o ressecamento vaginal. ▪ Tem-se benefícios também sobre os sintomas geniturinários, distúrbios da função sexual e na redução da doença cardiovascular, além de melhora da qualidade de vida em mulheres na pós menopausa. ▪ TH sistêmica ou estrogenoterapia local pode melhorar a satisfação sexual por aumentar a lubrificação vaginal, o fluxo sanguíneo e a sensibilidade da mucosa vaginal e melhorar a dispareunia. ▪ Poucas evidências demonstram efeito significativo da TH sobre interesse sexual, excitação, orgasmo ou desejo sexual hipoativo. ▪ O uso de TH vias oral e transdérmica em baixa dose parece ser seguro com relação ao risco de DCV em mulheres na transição da menopausa e nos primeiros anos após o início dessa, em que pese pequeno aumento no risco para TEV. ▪ O risco de diabetes tipo 2 parece diminuir com o uso da TH pela redução da resistência à insulina não relacionada ao IMC. ▪ Com o uso da TH, a incidência de diabetes diminuiu cerca de 40%, com níveis mais baixos de glicose de jejum e hemoglobina glicada, porém tais resultados não são suficientes para indicar TH na prevenção primária de diabetes. ➔ Riscos da terapia hormonal: ▪ O uso de TH estroprogestativaé limitado pelo aumento do risco de CA de mama em três a cinco anos, enquanto terapia estrogênica isolada teria maior período de uso com segurança. ▪ Não há motivos para impor limites com relação a duração da TH, referindo que estudos indicam o uso por pelo menos cinco anos em mulheres saudáveis que iniciaram a TH na “janela de oportunidade” e que a continuidade, além desse período, pode ser realizada baseada no perfil de risco individual de cada mulher. ▪ A associação brasileira de climatério considera que não há duração máxima obrigatória para o uso da TH e que está deverá ser suspensa quando os benefícios não forem mais necessários ou quando a relação risco- benefício for desfavorável. ▪ O efeito da TH sobre o risco de CA de mama pode depender do tipo de TH, da dose, da duração do uso, do regime, da via de administração, da exposição prévia 3 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC SAÚDE DA MULHER JULIANA OLIVEIRA e das características individuais. O aumento do risco de CA de mama associado ao TH é pequeno e estimado em menos de 0,1% ao ano. ▪ A incidência estimada de trombose venosa profunda e embolia pulmonar é pequeno, ou seja, não justifica não fornecer a medicação ao paciente. ▪ Para as mulheres que iniciaram TH com idade inferior a 60 anos, o risco absoluto de TEV foi raro, mas aumentava significativamente com a idade. Doses mais baixas de TH oral poderiam conferir menos risco de TEV do que doses mais elevadas. Há evidências de que a via de adm da TH e o tipo de progestagênio associado ao estrogênio sejam importantes no risco de TEV. ➔ Contraindicações da TH: ▪ Doença hepática descompensada. ▪ CA de mama. ▪ Lesão precursora para CA de mama. ▪ CA de endométrio. ▪ Sangramento vaginal de causa desconhecida. ▪ Porfiria ▪ Doença coronariana ▪ Doença cerebrovascular ▪ Doença trombótica ou tromboembólica venosa ▪ Lúpus eritematoso sistêmico ▪ Meningioma – apenas para progestagênio ➔ Regimes terapêuticos: ▪ Estrogênio isolado é indicado para a mulher histerectomizada. ▪ A associação de estrogênio e progestagênio é indicado para mulheres com útero. A adição do progestagênio é necessária para a proteção endometrial, contrabalanceando os efeitos proliferativos do estrogênio e diminuindo os riscos de hiperplasia e CA endometrial. ▪ A forma combinada de TH pode ser do tipo sequencial, em que o estrogênio é administrado continuamente e o progestagênio durante 12 a 14 dias consecutivos ao mês. Na forma combinada contínua, o estrogênio e o progestagênio são administrados diariamente. ▪ Os regimes combinados sequenciais são indicados na transição menopausal até os primeiros anos de pós menopausa e os combinados contínuos, na pós menopausa. ▪ Na TH sistêmica, o estrogênio frequentemente é utilizado é o estradiol (E2), na forma de 17B-estradiol micronizado ou valerato de estradiol. E2 pode ser empregado por via oral, transdérmica (adesivo) ou percutânea (gel). ▪ Na via oral, o estrogênio é absorvido pelo trato digestório, atingindo o fígado pelo sistema porta para, depois, atingir os órgãos-alvos pela circulação sistêmica, o que é denominado primeira passagem hepática. ▪ O efeito do metabolismo de primeira passagem hepática do estrogênio oral pode potencialmente resultar em alterações hemostáticas pró-trombóticas. Logo, as formulações estrogênicas por via oral são mais trombogênicas em relação as formulações orais, logo, as formulações transdérmicas e percutâneas são preferíveis, no entanto, são mais caras. ▪ Os estrogênios administrados por via não oral atingem diretamente a circulação sanguínea com nível hepático inferior ao da via oral, não ocorrendo a primeira passagem hepática e suas consequências metabólicas. Dados sugerem menor risco de TVP com a via transdérmica do que com a via oral do estrogênio. ▪ A terapia estrogênica vaginal é uma opção eficaz e segura no tratamento da síndrome geniturinária de moderada a grave. ▪ Com a terapia estrogênica vaginal, não é preciso associar progestagênicos para proteger o endométrio nem recomendar monitoração endometrial, pois, as baixas doses das preparações vaginais não apresentam absorção sistêmica significativa. ▪ Os progestagênios empregados na TH são compostos sintéticos com atividade progestagênica obtidos de modificações ou da espironolactona. Características desejáveis na escolha do progestagênio são adequada potência progestacional, segurança endometrial e que possa preservar os benefícios estrogênicos com mínimos efeitos colaterais. Todos os progestagênios empregados na TH têm um efeito em comum, o efeito secretor no endométrio, selecionados por apresentarem adequada atividade após administração e biodisponibilidade. A tendência atual é preferir progestagênios mais seletivos aos receptores de progesterona. ▪ Os progestagênios medeiam seus efeitos intracelulares modulando a transcrição de genes-alvo em células específicas, por meio da ligação não apenas ao receptor da progesterona, mas também pela afinidade variada a outros receptores esteroides como glicocorticoides, mineralocorticoides e androgênicos. ▪ O SIU liberador de levonorgestrel tem sido empregado como forma alternativa de proteção endometrial em regime de estrogenoterapia. ▪ A segurança de administração local da progesterona no endométrio está bem documentada ao longo de muitos anos de seguimento na contracepção e os benefícios do SIU-LNG na TH justificam sua utilização em mulheres na pós menopausa. ▪ A tibolona é considerada uma forma de TH mas com características próprias. É um esteroide sintético derivado da 19- nortestosterona, com propriedades progestagênica, estrogênica e androgênica. É empregada para alívio dos sintomas climatéricos e da atrofia vulvovaginal e na prevenção da perda de massa óssea e de fraturas osteoporóticas. 4 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC SAÚDE DA MULHER JULIANA OLIVEIRA Em mulheres na pós-menopausa, a tibolona apresenta efeitos positivos sobre a sexualidade, o bem estar físico e o humor. Recomendações finais ▪ A TH é considerada o tratamento mais eficaz para os sintomas decorrentes da falência ovariana. ▪ O uso de TH é uma decisão individualizada, em que a qualidade de vida e os fatores de risco, como idade, tempo de pós menopausa e risco individual de tromboembolismo venoso, de DCV e de câncer de mama, devem ser avaliados. ▪ Recomenda-se a menor dose efetiva da TH e pelo tempo que for necessário. ▪ Na avaliação dos benefícios e riscos, o tempo de manutenção do tratamento deve ser considerado de acordo com os objetivos da prescrição e os critérios de segurança na utilização. O QR code abaixo corresponde à um material da ferbasgo, em relação a essa última parte de terapia hormonal.
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