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FACULDADE FUTURA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL VOTUPORANGA – SP 1 1 ARTIGO PARA REFLEXÃO: Autores: Laécio Nobre de Macêdo, Ana Angélica Mathias Macêdo, José Aires de Castro Filho. Disponível em: http://ltcead.nutes.ufrj.br/constructore/objetos/Objeto%20de%20aprendizagem.pdf Acesso: 04/05/2016 Avaliação de um Objeto de Aprendizagem com Base nas Teorias Cognitivas Resumo No presente artigo, abordamos as concepções de aprendizagem e mostramos como o professor pode utilizar o conhecimento das mesmas para avaliar um Objeto de Aprendizagem. Além disso, mostramos as vantagens da utilização de Objetos de Aprendizagem para a compreensão de conceitos matemáticos. Ao final, realizamos uma avaliação de três Objetos de Aprendizagem para saber em qual concepção de aprendizagem eles se fundamentam. Introdução As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) deram um novo suporte ao ato de ensinar e aprender. O uso de diferentes softwares educacionais, as pesquisas na internet e a pedagogia de projetos podem ser utilizados pelo professor como ferramentas de apoio ao ensino. Esses recursos aliados à mediação eficaz do professor, ajudam os alunos na resolução de problemas, na análise de hipóteses, na experimentação e na busca das melhores soluções, constituindo-se assim em um novo paradigma educacional (OLIVEIRA; COSTA; MOREIRA, 2001). Entretanto, historicamente, a escola tem se mostrado muito relutante em adotar as inovações advindas das descobertas tecnológicas. Por vezes, somente após essas AULA 31 a 40 http://faculdadefutura.com.br/ 2 inovações terem sido adotadas no comércio e na indústria, é que a escola, por uma imposição da sociedade, passa a adotá-las. Não podemos cair no extremo de deificar ou excluir as novas tecnologias. Uma das primeiras coisas que se dever fazer é capacitar os professores para a utilização dessas ferramentas em sua prática pedagógica. Dessa forma, torna-se fundamental aprofundar os estudos nessa área, para fundamentar a prática pedagógica dos professores; a fim de que, eles possam utilizar o computador de forma crítica e sem nenhuma crença alienada que vá além das possibilidades dessa máquina (KENSKY, 2003). Na primeira parte desse artigo, apresentamos uma breve revisão sobre as concepções de aprendizagem que envolvem a construção, avaliação e utilização de um Objeto de Aprendizagem (OA). Entendemos que o conhecimento dessas concepções é muito importante para fundamentar a prática pedagógica do professor, seja no ensino presencial, semipresencial ou à distância. Na segunda parte, criamos algumas categorizações para que o professor possa utilizá-las na hora de avaliar um Objeto de Aprendizagem do ponto de vista pedagógico. Na terceira e última parte mostramos o resultado de uma avaliação realizada com alguns Objetos de Aprendizagem com o objetivo de identificar a concepção de aprendizagem que fundamentou a construção desses OA. Dessa forma, o professor poderá verificar se o OA é compatível com a concepção pedagógica adotada pela escola em seu Projeto Político Pedagógico - PPP. As Concepções de Aprendizagem Antes de nos determos no estudo sobre a utilização dos Objetos de Aprendizagem como ferramentas interativas de apoio ao ensino, faz-se necessário uma pequena abordagem sobre as concepções de aprendizagem que norteiam o processo de ensino. O conhecimento dessas concepções é que vão embasar a prática do professor e lhe dar condições para uma tomada de posição consciente na hora de avaliar e escolher um Objeto de Aprendizagem. Borges Neto (1998) afirma que em muitos casos, a escolha do software educacional é feita por catálogos, por indicação de alguém ou porque a escola concorrente também o utiliza e não por critérios pedagógicos. Concepção Empirista http://faculdadefutura.com.br/ 3 A crença que muitos professores possuem de que ensinar é transmitir conhecimentos, é fruto da concepção empirista de aprendizagem. Por esta concepção, a aprendizagem é algo que ocorre de fora para dentro e a principal responsabilidade do professor é ser grande conhecedor do assunto que vai tratar. De resto, basta que o mesmo proporcione estímulos adequados e eficientes para obter as respostas desejáveis de seus alunos (MOYSÉS, 1997). De acordo com Garret (1974), o empirismo baseia-se nas seguintes premissas: O homem ao nascer é uma tábula rasa (LOCKE, 1988); O conhecimento tem como fonte a experiência sensível; A cadeia de conhecimento é formada a partir da associação das percepções que nossa mente colhe do mundo real através dos sentidos. Por isso, antes de iniciar uma turma, eles sistematizam o conteúdo, o dividem em unidades menores, escolhem o material pedagógico adequado e traçam objetivos que visam infiltrar nos alunos todos os conteúdos relativos ao currículo, a série e a idade, a qual o curso se refere. Via de regra, esses professores tem uma visão do erro, como algo indesejável. Quando o aluno comete um erro, ele recebe logo uma punição que pode ser um olhar de reprovação, uma crítica ou uma nota baixa. Já se o aluno acerta a resposta, logo recebe um elogio, uma nota alta ou uma medalha de honra ao mérito. Com podemos observar, trata-se de um modelo bastante adotado na prática pedagógica da maioria dos professores. Os grandes teóricos que desenvolveram os estudos que levaram a construção da concepção empirista foram Pavlov, Thorndike, John Watson, psicólogo americano que fundou o behaviorismo e Skinner, o inventor das famosas máquinas de ensinar na década de 1970. O ensino baseado na concepção behaviorista de aprendizagem é centrado no professor. Aos alunos, cabe apenas receber passivamente as informações e reproduzir os comportamentos esperados pelo mestre. Este modelo privilegia o treino, a repetição e a memorização mecânica de palavras, conceitos e soluções para determinados problemas. Ainda hoje, esse modelo é bastante aplicado em nossas escolas. Dentre as desvantagens da concepção empirista podemos citar: http://faculdadefutura.com.br/ 4 Negação de outros fatores que são determinantes da conduta tais como: as motivações internas de ordem afetivo-cognitiva; Descarta toda atividade mental que não seja decorrente de sensações e percepções extraídas do meio. Os conhecimentos prévios do aluno não são considerados; A relação entre os pares não é valorizada. Concepção Racionalista Esta concepção reflete a visão estruturalista e inatista do conhecimento. Ela está fundamentada principalmente, na teoria da Gestalt. Por esta concepção, a aprendizagem é algo que ocorre de dentro para fora e cabe ao professor apenas o papel de facilitador da aprendizagem que dependerá do processo de maturação e do consequente desenvolvimento da percepção do aluno através dos insights. Os maiores expoentes da teoria da Gestalt foram: Wertheimer, Köhler e Koffka. Eles acreditavam que nosso padrão de comportamento resulta de estruturas orgânicas inatas por isso foram chamados de estruturalistas (MOYSÉS, 1987). O modelo racionalista é também muito presente no contexto escolar. Dentre as influências que a Gestalt trouxe para a educação podemos citar: O conhecimento depende da prontidão do aluno; A motivação e o erro são explicados no plano da maturação; O planejamento deve levar em conta a maturação do aluno: ex.: classes homogêneas; Cabe ao professor apenas a facilitação do processo de ensino aprendizagem; A relação entre os pares não favorece a aprendizagem, uma vez que cada estudante aprende no seu próprio ritmo; Os conhecimentos prévios dos alunos não influenciam os insights; Redução da inteligência a capacidade de percepção e assim a maturação do sistema nervoso; Restringe o conhecimento à organização e reorganização do campoperceptual. Algumas críticas feitas à concepção racionalista de aprendizagem: Não há o que fazer para superar as diferenças individuais de aptidão; http://faculdadefutura.com.br/ 5 Igualmente nada pode ser feito em relação à prontidão. Tudo gira em torno da maturação do aluno; O insight independe do conhecimento prévio dos alunos. Concepção Interacionista Ao longo dos anos, ambas as concepções citadas acima, sofreram duras críticas, e por isso, novas concepções surgiram. Teóricos famosos da psicologia como Piaget, Vygotsky e Wallon criaram uma nova concepção de aprendizagem baseado nas interações do homem com o meio (OLIVEIRA, 1993). Esses teóricos acreditam que o conhecimento é uma construção social, ou seja, ele ocorre ao longo dos anos através das trocas dialéticas entre o homem e o meio em que vive. Nós acreditamos que essa abordagem é a mais eficiente para a construção de uma aprendizagem significativa e norteia tanto a construção de nossos Objetos de Aprendizagem como a nossa prática pedagógica. O ensino baseado na concepção interacionista de aprendizagem é centrado no aluno. O professor assume o papel de orientador do processo de ensino- aprendizagem e o erro do aluno deixa de ser motivo de punição, passando a ser visto como parte integrante do processo e o modo pelo qual o mestre pode verificar como o aluno está compreendendo a matéria estudada. A análise do erro constitui um novo ponto de partida para que o professor possa saber até que ponto o aluno aprendeu a matéria e assim, possa replanejar suas aulas de modo a abordar o mesmo conteúdo de uma forma mais criativa e dinâmica. Algumas pessoas acreditam que o ensino construtivista só acontece quando o professor faz uso de materiais concretos e das Tecnologias da Informação e Comunicação. Se considerarmos apenas o uso desses recursos no processo de ensino, verificaremos que nem as TIC nem o material concreto, sozinhos são os fatores determinantes de uma postura tradicional ou construtivista, e sim, o uso que damos a essas ferramentas ao conduzir uma determinada aula. Por exemplo: um professor pode dar uma nova roupagem ao seu ensino trocando o quadro e giz pelo computador e o projetor de slides e mesmo assim continuar dando uma aula tradicional ao não permitir a participação dos alunos, ao não levar em conta seus conhecimentos prévios, nem procurando desenvolver a autonomia dos mesmos através da pedagogia de projetos ou não utilizando o debate de ideias para despertar o senso crítico de seus alunos. http://faculdadefutura.com.br/ 6 Em muitos casos, é isso que observamos na linguagem adotada tanto na escola como nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem – AVA utilizados para o ensino a distância. Usa-se muita tecnologia e nenhuma mudança de postura do professor. Novas roupagens encobrem um modelo já ultrapassado de ensino. Fala-se de construtivismos e não saímos do modelo de educação bancária criticada por Paulo Freire (FREIRE, 1996). Objetos de Aprendizagem O uso de Objetos de Aprendizagem - OA como ferramentas interativas na educação presencial ou a distância é algo recente. Os primeiros estudos sobre o tema surgiram no ano 2000, através de David Wiley que definiu os OA como sendo “qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para o suporte ao ensino” (WILEY, 2000). A principal ideia dos Objetos de Aprendizagem é quebrar o conteúdo educacional em pequenos pedaços que possam ser reutilizados em diferentes ambientes de aprendizagem, em um espírito de programação orientada a objetos. Essa primeira definição deixou os Objetos de Aprendizagem em uma categoria bastante abrangente que envolve diferentes recursos como: pequenos softwares, fotos com uma mensagem para a reflexão, apresentações feitas em um visualizador de imagens como o “Power Point” ou uma simulação feita em “Flash”. Os Objetos de Aprendizagem utilizam-se de imagens, animações e “applets”, documentos VRML (Realidade Virtual), arquivos documentos do tipo (doc. e txt), arquivos do tipo “hipertexto” (html) dentre outros. Porém, como existem diversos conceitos de OA, faz-se necessário o estudo de alguns desses conceitos para uma melhor compreensão deste assunto. Gibbons & Nelson (2001) usam o termo objeto instrucional e o definem como “um elemento ou parte da arquitetura de um evento instrucional que foi modelado para ser usado independentemente em outra ocasião”. Muzio; Heins & Mundell (2001) utilizam o termo objeto de comunicação e conceituam como o objeto que é designado e/ou utilizado para propósitos instrucionais. Esses objetos vão desde mapas e gráficos até demonstrações em vídeo e simulações interativas". Como se pode observar, o termo Objeto de Aprendizagem ainda permanece vago e não existe ainda um conceito que seja universalmente aceito, mas há o consenso de que ele deve ter um propósito educacional definido, um elemento que http://faculdadefutura.com.br/ 7 estimule a reflexão do estudante e que ele seja construído de forma que possa ser facilmente reutilizado em outros contextos de aprendizagem. A reutilização é uma das grandes vantagens do uso de um Objeto de Aprendizagem. Por exemplo: um OA feito para o ensino de uma disciplina no curso de enfermagem, poderia, com algumas adaptações, ser utilizado com eficiência em outra disciplina de um curso de medicina (BETTIO; MARTINS, 2004). A reutilização de um OA traz um outro benefício além da praticidade: o custo. Ao reutilizar um Objeto de Aprendizagem a escola diminui os custos com a compra de novos programas e licenças de instalação o que constituem uma grande economia para a mesma. Além disso, os OA possuem a interoperabilidade, ou seja, a capacidade de ser utilizado em qualquer plataforma de ensino em todo o mundo. Uma outra vantagem dos OA é que eles podem ser armazenados em um banco de dados, conhecido como repositório. Neste, o usuário poderá encontrar Objetos de Aprendizagem de diferentes conteúdos, níveis, qualidade e formatos. Em geral, os repositórios possuem catálogos por assunto e uma descrição sobre os objetos, bem como um guia do professor onde o usuário poderá se informar sobre a utilização do OA. Há também, um controle sobre o número de vezes em que os objetos foram visualizados e/ou baixados através de download. Os repositórios facilitam a atualização e a busca de novos OA. Exemplos de repositórios podem ser encontrados nos sites: http://rived.proinfo.mec.gov.br/, www.merlot.org e http://www.labvirt.futuro.usp.br O OA possui também a vantagem de atualização rápida e segura. Para isso, basta que o desenvolvedor faça a atualização do OA diretamente no repositório onde ele está armazenado e o mesmo ficará disponível, para todos os usuários, já atualizado. Metodologia Após um criterioso estudo das concepções empirista, racionalista e interacionista de aprendizagem elaboramos alguns quadros em forma de check list que irão ajudar o professor na hora de avaliar um Objeto de Aprendizagem segundo os critérios pedagógicos e que esteja fundamentado na mesma concepção de aprendizagem que é adotada pela escola. http://faculdadefutura.com.br/ 8 Quadro 1: Características de um OA empirista. Adaptado de MARTINS (2002). Se a maioria das respostas do quadro 1 forem positivas o OA tem por base uma concepção empirista. Quadro 2: Características de um OA racionalista. Adaptado de MARTINS (2002). Se a maioria das respostas do quadro 2 forem positivas o OA tem por base uma concepção racionalista. http://faculdadefutura.com.br/ 9 Quadro 3: Características de um OA interacionista. Adaptado de MARTINS (2002). Se a maioria das respostas do quadro 3 forem positivas o OA tem por base uma concepção interacionista. Resultados Para efeito de análise, selecionamos três Objetos de Aprendizagem e aplicamos os critérioscitados acima para identificar quais as concepções de aprendizagem que fundamentam esses objetos. Foram analisados os seguintes OA: Balanceando a Equação, Estação Espacial e Salto dos Recordes. Estes OA estão disponíveis na página do Laboratório Didático Virtual da Universidade de São Paulo – USP em http://www.labvirtq.futuro.usp.br/. O LabVirt é coordenado pela Escola do Futuro e conta com a participação das Faculdades de Educação, POLI, ECA e Instituto de Química. O propósito dessa análise é apenas identificar a concepção de aprendizagem que fundamentou a construção do OA para que o professor possa adaptá-lo ou não a sua prática pedagógica. Isso é muito importante, porque o planejamento de uma boa aula, depende em grande parte, da capacidade do professor de conhecer e dominar o assunto a ser tratado, bem como ter uma concepção de aprendizagem bem definida que o leve a optar por recursos audiovisuais que se adaptem à sua metodologia de ensino. OA Balanceando a Equação Trata-se de um OA, onde o objetivo é que o aprendiz aprenda a balancear uma equação. A aplicação de um teste com as questões do checkl ist mostrou o seguinte resultado: O OA apresenta todas as características da concepção empirista. http://faculdadefutura.com.br/ 10 Figura 1: OA Balanceando a Equação OA Estação Espacial Neste AO, o objetivo a ser alcançado é posicionar uma estação espacial entre a Terra e a Lua de maneira que a força gravitacional entre os dois se anule. Esse OA não dispõe de nenhuma ajuda ao aluno. Mesmo em caso de erro não existe nenhum feed back para o aluno. A aplicação de um teste com as questões do check list mostrou o seguinte resultado: O OA apresenta quase todas as características da concepção racionalista. Não há indicativos sobre o funcionamento do Objeto de Aprendizagem, nem tópicos de ajuda ao aprendiz que, neste caso, só pode chegar à resposta através da estratégia de tentativa e erro. http://faculdadefutura.com.br/ 11 Figura 2: OA Estação Espacial OA Salto dos Recordes Este OA traz como desafio ajudar um motoqueiro a saltar de uma rampa até outra rampa, com uma distância de 100 metros uma da outra. Este OA possibilita ao aluno manipular a altura das rampas (em graus) e a velocidade da moto em metros por segundo. Permite ainda que seja traçada uma linha imaginaria do que seria uma trajetória ideal para o sucesso do salto. A aplicação de um teste com as questões do check list mostrou o seguinte resultado: O OA apresenta todas as características da concepção interacionista. Figura 3: OA Salto dos Recordes http://faculdadefutura.com.br/ 12 Considerações Finais Os desafios para a educação no século XXI são grandes. Principalmente, no que diz respeito à informatização das escolas e a inclusão digital. Surge então a necessidade de um corpo docente que saiba utilizar-se de forma correta das ferramentas digitais. Não há como prescindir do uso da internet e de suas potencialidades para superação das dificuldades de aprendizagem tão comuns entre os estudantes. Dessa forma, o uso de Objetos de Aprendizagem surge como uma excelente alternativa para as escolas públicas e particulares devido a sua facilidade de uso, ao baixo custo, sua capacidade de reutilização, interoperabilidade e atualização. Os OA podem contribuir para melhorar o processo de ensino e aprendizagem e proporcionar oportunidades para que professor possa acompanhar o desenvolvimento de seus alunos e conhecer suas dificuldades. Além disso, os Objetos de Aprendizagem surgem como uma alternativa às práticas pedagógicas baseada apenas na oralidade e na escrita, permitindo ao aluno fazer simulações, testar hipóteses, desenvolver projetos, superar desafios e encontrar soluções para determinados problemas. 2 AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM “Se a avaliação da aprendizagem pretende cumprir uma finalidade dentro do processo de ensino, deve então, ser analisada em seus aspectos específicos[...]”. (DEPRESBITERIS, 2007). Sendo assim caminhar-se-á em direção aos tópicos dispostos a seguir. http://faculdadefutura.com.br/ 13 Fonte: www.faculdadearapoti.com.br 3 ENSINAR E APRENDER Antes de falar sobre a avaliação no processo de ensino aprendizagem, é importante conhecer o significado de ensinar e de aprender, os quais apresentam conceitos distintos, decorrentes da perspectiva de sociedade, ser humano e conhecimento dos diferentes autores. Para Abreu e Masetto (1990) ensinar é instruir, fazer saber, comunicar conhecimentos ou habilidades, mostrar, guiar, orientar, dirigir, sendo o professor o agente principal e responsável pelo ensino. Ainda para Abreu e Masetto, quando se fala em aprender, entende-se buscar informações, rever a própria experiência, adquirir habilidades, adaptar-se às mudanças, descobrir significados nos seres, fatos e acontecimentos, modificar atitudes e comportamentos, sendo que estas atividades estão centradas no aprendiz, sendo este o responsável por sua aprendizagem. A finalidade verdadeira da aprendizagem segundo Depresbiteris (2007) consistem resolver situações, e em alguns casos, criar, recriar soluções na interação entre estudantes diferentes, pois, para a autora, o estudante aprende quando consegue ultrapassar conflitos gerados pela confrontação de pontos de vista, no seio de um grupo. http://faculdadefutura.com.br/ 14 Fonte: rosanaflor.pbworks.com Demo (2006) diz que a aprendizagem é dinâmica, reconstrutiva, ou seja, o estudante só aprende se reconstruir o conhecimento. Nesta mesma direção, Luckesi (2011) afirma que a aprendizagem não é algo dado, mas construído, compreendendo o ser humano como ser voltado para frente, para o desenvolvimento em busca de sua autoconstrução e auto realização. Assim, ensino e aprendizagem estão relacionados a uma concepção “construtiva”. Essa abordagem favorece ao estudante, a mobilização de recursos de assimilação de novos conhecimentos e a consciência de que o aprender não é estático, ao contrário, é contínuo, e por isso, passível de desconstrução e reconstrução pelo sujeito que aprende. Libanêo (1994) ressalta que, ensinar visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o processo de aprendizagem dos estudantes, sendo o meio de organizar a atividade de estudo, enquanto aprender corresponde à atividade de assimilação de conhecimentos e habilidades sob as condições específicas do processo de ensino. Dessa forma, o ensino não existe por si mesmo, mas na relação com a aprendizagem. “Ensinar e aprender, são duas facetas do mesmo processo [...]” (LIBANÊO, 1994), são, portanto, ativos, tanto do ponto de vista do professor quanto do estudante. Independente do modelo teórico/conceitual adotado nas instituições de ensino, que orienta a escolha das estratégias a serem empregadas e medidas avaliativas no processo ensino aprendizagem, Abreu e Masseto (1990) elencam alguns princípios comuns a todos os que se preocupam com a aprendizagem do estudante. São eles: http://faculdadefutura.com.br/ 15 Toda a aprendizagem precisa ser significativa para o aprendiz, e isso exige que a aprendizagem se relacione com o seu universo de conhecimentos, lhe permita formular problemas e questões que o interessem, entrar em confronto experiencial de natureza social, ética e profissional, participar com responsabilidade do processo de aprendizagem, e o ajude a transferir o que aprendeu para circunstância da vida e suscite modificações no comportamento e na personalidade do aprendiz; Toda aprendizagem é pessoal, a aprendizagem envolve mudança de comportamento ou de situação do aprendiz; Toda aprendizagem precisa visar objetivos realísticos, que possam de fato ser significativos para o estudante; Toda aprendizagemprecisa ser acompanhada de feedback imediato. A aprendizagem se faz num processo contínuo e o feedback fornece ao estudante e ao professor dados para corrigir e reiniciar a aprendizagem; Toda aprendizagem precisa ser embasada em um bom relacionamento interpessoal (estudante, professor e colegas de turma). Sendo assim, a função do professor, para Demo (2006), é cuidar da aprendizagem do estudante no rumo da autonomia, com afinco, dedicação, sistematicidade e persistência. Em contrapartida para Mizukami (1986), com sentido complementar, o professor torna-se um facilitador da aprendizagem, devendo para isso, ser autêntico e congruente, sendo a autenticidade e a congruência consideradas para esta autora condições facilitadoras da aprendizagem, as quais, por sua vez, irão facilitar um processo de autenticidade ou congruência na pessoa ajudada. Nesta perspectiva Demo (2006), traz a avaliação como procedimento essencial, que contribui neste processo de aprendizagem do estudante. http://faculdadefutura.com.br/ 16 Fonte: www.unochapeco.edu.br Assim, “é urgente que enxerguemos o ensino e a aprendizagem, não com a finalidade de desenvolver a capacidade cognitiva, mas também todas as demais”. (HAAS et al, 2003). Esta perspectiva encontra ressonância nas recomendações do Parecer CNE/CES nº 1.133 de 7 de agosto de 2001, as quais visam mudanças na prática pedagógica saindo do ensino centrado no professor para atingir uma aprendizagem ativa desenvolvendo-se em múltiplos cenários. O papel do professor seria de facilitador do processo de construção do conhecimento, caracterizando-se o estudante como o sujeito da aprendizagem (BRASIL, 2001). Avaliação – Alguns Conceitos, Depresbiteris (1998) coloca que: “Falar da avaliação é uma tarefa difícil. Difícil por ser um assunto que gera controvérsias entre estudantes, professores, diretores, especialistas e outros elementos, ligados direta ou indiretamente ao processo ensino e aprendizagem; as posições geralmente são radicais: alguns defendem a avaliação como se ela significasse a resolução de todos os problemas educacionais; outros a atacam bradando morra a avaliação!, desconsiderando seu importante papel de informação e orientação para a melhoria do ensino. Difícil, também, em virtude da extensa gama de variáveis que a avaliação abarca, desde as que se referem ao macro aspecto socioeconômico e, sobretudo, políticos, até as que se relacionam a aspectos metodológicos mais específicos, ligados à definição de critérios, elaboração de instrumentos, formas de análise e interpretação de resultados”. Segundo Abreu e Masetto (1990), para muitos professores do ensino superior, avaliar, é uma das atividades pedagógicas mais difíceis de realizar. http://faculdadefutura.com.br/ 17 Com grande intensidade e com significados particulares, a avaliação está incorporada ao cotidiano de professores, estudantes e escolas, de tal forma que é geralmente considerada um patrimônio das instituições educativas, associada a notas, provas, testes, aprovações, reprovações, classificações, conceitos, recuperação, exclusão, autoritarismo (DIAS SOBRINHO, 2003). Fonte: 1.bp.blogspot.com Essa associação segundo Haydt (2006) é resultante de uma concepção pedagógica arcaica, mas tradicionalmente dominante, caracterizada, por mera transmissão e memorização de informações prontas para o estudante, ser passivo e receptivo. Dentro de uma visão pedagógica moderna, a avaliação assume dimensões mais abrangentes, não sendo reduzida apenas a atribuição de notas. Sua conotação segundo Haydt (2006): “Se amplia e se desloca, no sentido de verificar em que medida os alunos estão alcançando os objetivos propostos para o processo ensino aprendizagem. [...] mudança e aquisição de comportamentos motores, cognitivos, afetivos e sociais. [...] para ajudar o aluno a avançar na aprendizagem e na construção do seu saber. [...] a avaliação assume um sentido orientador e cooperativo. ” Nesta perspectiva, Haydt (2006) afirma que, a avaliação é um processo contínuo e sistemático, pois faz parte de um sistema mais amplo, que é o processo http://faculdadefutura.com.br/ 18 de ensino e aprendizagem. É funcional, pois se realiza em função de objetivos previstos. É orientadora, pois indica os avanços e dificuldades do estudante, ajudando-o a progredir na aprendizagem, e ao professor replanejar seu trabalho. É integral, pois considera o estudante com um ser total e integrado e não compartimentado. Luckesi (2006) em sua Avaliação da aprendizagem escolar considera a avaliação como “um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão”. O autor explicita a viabilidade de uma avaliação qualitativa, na qual o professor tem por base o papel de acompanhamento, conhecendo seus estudantes, identificando o seu desempenho, bem como suas possíveis dificuldades, tendo com isso condições de intervir, sempre que houver necessidade, readequando conteúdos, alterando procedimento quer de ensino, quer de avaliação. Fonte: static.wixstatic.com Desse modo a avaliação deve permear todo o processo de ensino e de aprendizagem, o que Luckesi (2011) denomina de avaliação operacional, a qual: “Investiga a qualidade dos resultados em andamento, sucessivamente, primeiro sob o foco formativo –processo –e segundo sob o foco final de uma ação –produto, o qual em si, deverá ser positivo, pois para isso terão sido feitos investimentos, incluindo os decorrentes de tomadas de decisões subsidiadas pela investigação avaliativa atrelada à ação” http://faculdadefutura.com.br/ 19 A avaliação da aprendizagem configura-se como recurso que dá suporte para desvendar a qualidade da realidade, oferecendo ao professor bases consistentes para as suas ações, o seu agir, o seu ensino, subsidiando a intervenção adequada, pertinente para a melhoria dos resultados, “da aprendizagem” do estudante, perante critérios previamente determinados. Luckesi (2006) deixa claro que a avaliação não traz consigo apenas os aspectos coibitivos, visto que ele mesmo a define como um “ato amoroso”, no sentido de que, por si, é um ato acolhedor, integrativo e inclusivo, ainda que a prática predominante seja custosa de ser mudada, pois quando a escola avalia, o que sobressai são os interesses da burguesia, e para Luckesi modificar esta prática avaliativa seria negar estes interesses. Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com Nesta perspectiva, e considerando não se ter modelos puros de avaliação, Dias Sobrinho (2003) ressalta os enfoques de avaliação democrática e participativa, considerando à pluralidade, a perspectiva de complexidade, a negociação e a participação como atitudes importantes diante da avaliação. Mediante a percepção de Dias Sobrinho a avaliação deve agir em função da educação em sua significação maior, sendo a perspectiva burocrática, controladora e tradicional incompatível com a construção de uma educação democrática e cidadã. http://faculdadefutura.com.br/ 20 Fonte: gai.espjs.edu.pt Segundo Perrenoud (1999), por meio da prática da avaliação da aprendizagem se fortalece a hierarquia da organização social. Esta se apresenta com relações de subordinação, em graus sucessivos entre as classes sociais. Assim, para o autor francês: “À avaliação inflama necessariamente as paixões, já que estigmatiza a ignorância de alguns para melhor celebrar a excelência de outros. [...] certos adultos associam a avaliação a uma experiência gratificante, construtiva; para outros, ela evoca ao contrário, uma sequência de humilhações”. [...] Avaliar é, cedo ou tardecriar hierarquias de excelências, em função das quais se decidirão a progressão no curso seguido, a seleção no início do secundário, a orientação para diversos tipos de estudos, a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, frequentemente, a contratação”. Ainda nas palavras de Perrenoud (1999): “Em todos os casos, a avaliação não é um fim em si. É uma engrenagem no funcionamento didático e, mais globalmente, na seleção e na orientação escolares. Ela serve para controlar o trabalho dos alunos e, simultaneamente, para gerir os fluxos” Sendo assim, para este autor, a avaliação só tem sentido à medida que contribui para que o professor conheça melhor o estudante, constate o que está sendo aprendido e possa adequar o processo de ensino aprendizagem. Nesta direção Hoffman (2005), configura a avaliação como “mito e desafio”. O mito decorrente da reprodução e perpetuação da avaliação tradicional, permeada pelo http://faculdadefutura.com.br/ 21 controle e autoritarismo, e que precisa ser vencida. Para isso, o professor precisa reavaliar a sua prática avaliativa, buscando a compreensão das dificuldades, na perspectiva de melhores resultados da aprendizagem, sendo este o maior desafio. Avaliação deve ser “mediadora e contínua”. Fonte: ielts7band.net Dessa forma Hoffman (2005), defende a avaliação numa visão construtivista, isto é, uma avaliação ligada com processos de aprendizagem, com a valorização das formas de aprender. A avaliação nessa perspectiva deverá encaminhar-se a um processo dialógico e cooperativo, através do qual professores e estudantes aprendem sobre si mesmo no próprio ato da avaliação. Desse modo: “Avaliar não é observar se o estudante aprende. Esta resposta já se tem: todos aprendem sempre, senão não estariam sequer vivos, pois enquanto se respira, se aprende, [...]. Entretanto, ninguém aprende apenas sozinho, aprende muito melhor com o outro, [...] E aí entra o professor, o avaliador. Olhando cada um, investigando e refletindo sobre o seu jeito de aprender, conversando, convivendo, organizando o cenário dessa interação, fazendo a pergunta mais desafiadora possível, escutando o silêncio, se for o caso. O professor mediador é o avaliador essencial. Cuidar para que o estudante aprenda mais e melhor todos os dias. Isso é avaliar”. Hoffman (2005). Hadji (2001) coloca que a avaliação traz a ideia de “avaliar os alunos para fazer com que evoluam melhor”, o que é por ele designada de "aprendizagem assistida por avaliação". Segundo Hadji (2001), a avaliação com este sentido, é capaz de compreender, tanto a situação do aluno, quanto de “medir” seu desempenho; fornecer-lhe indicações esclarecedoras, mais do que o oprimir com recriminações; http://faculdadefutura.com.br/ 22 Preparar a operacionalização das ferramentas do êxito, mais do que resignar a ser apenas um instrumento do fracasso. Fonte: robertolazarosilveira.com.br É, portanto, uma avaliação direcionada à regulação das aprendizagens, capaz de orientar o estudante para que ele mesmo possa situar suas dificuldades, analisá- las e descobrir ou operacionalizar os procedimentos que lhe permitam progredir. Nesta direção, o erro é para Hadji, uma fonte de informação tanto para o professor como para o estudante, para este último com a função de não mais cometê-lo e progredir. Neste sentido, para Demo (2006), a avaliação tem uma ligação intrínseca com a aprendizagem sendo sua única razão de ser, ocupando sem dúvida, espaço relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas aos processos de ensino aprendizagem. Avaliar, portanto, não é um momento isolado. Equivale a um processo, interligado ao universo do ensino aprendizagem, possibilitando a tomada de decisões. Assim pode-se afirmar que “ensinar, aprender e avaliar são, na realidade, três processos inseparáveis” (SANMARTÍ, 2009), desempenhando funções importantes. Tendo como base as funções que a avaliação pode desempenhar é que são alicerçadas as modalidades de avaliação: diagnóstica, formativa e somativa, as quais atuam de forma interdependente, não podendo ser consideradas isoladamente. Portanto, apesar da temporalidade e espaço da avaliação ser características dessas funções, sendo antes do processo (diagnóstica), durante o processo (formativa) e http://faculdadefutura.com.br/ 23 após o processo (somativa), o mais relevante é considerar que as três permitem diferentes tipos de decisões. Sendo assim, segundo Depresbiteris (2009) tem-se a função diagnóstica e a função formativa, pelas decisões de reorientação da aprendizagem, para a melhoria do currículo ou do sistema educacional; e a função somativa que não permite retornos imediatos no processo. Fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br http://faculdadefutura.com.br/
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