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Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc Pancreatite Aguda CASO CLÍNICO QP: “Dor abdominal e vômito” HMA: Paciente refere que iniciou quadro de dor abdominal, tipo cólica, em região epigástrica e flanco direito, de leve a moderada intensidade. Fez uso de Buscopan e Dipirona com melhora parcial. Relata que nos últimos 3 meses houve piora do quadro, com náuseas, vômitos com restos alimentares, incoercíveis e febre NT, intermitente. Associado ao quadro a paciente relata discreta palidez, com dor abdominal intensa, em pontada, em região epigástrica, que se inicia localizada, mas posteriormente se irrada para todo o abdome e dorso; piora com alimentação. Sem relação com posição. Refere discreta perda de peso, mas não sabe quanto. Relata diminuição do volume urinário e urina escura. Nega outros sinais e sintomas. HP: Hipertensa, há aproximadamente 05 anos, em uso de Losartana 50mh, 2 vezes ao dia, e hidroclorotiazida 25mg, 1 vez ao dia. Nega tabagismo. Nega etilismo. Relata quadro de pneumonia hospitalar, quando foi internada por hiperemese gravídica (há mais de 30 anos). Apresenta colecistolitíase, diagnosticada por US. HF: Viúva, pais falecidos (pai aos 76 anos, e mãe aos 74 anos por infarto). Possuía 8 irmãos, 5 faleceram (o mais velho falecido devivo pneumonia), 3 vivos (hipertensão), filhos hígidos. EXAME FÍSICO • PA: 140/100 mmHg • Pulso: 84 bpm • FC: 84 bpm • FV 16 irpm • TAX: 37,6º C Estado geral preservado, facies e marcha atípica, bem orientado no tempo e no espaço, fala e linguagem preservados, mucosas hidratadas e coradas, escleras ictéricas +/4+, linfonodos não palpáveis. Pele sem alterações. Fâneros bem implantados e distribuídos, Músculos eutróficos e eutônicos. Panturrilhas livres. MMII sem edemas. • SCV: BNRNF, 2T • SR: Expansibilidade simétrica, FTV preservado, som claro pulmonar e MVF. • SD: Abdome globoso, ausência de circulação colateral, sem cicatrizes visualizadas, com ruídos hidroaéros presentes, ausência de massas ou visceromegalias, doloroso a palpação do epigástrio, mas sem sinais de irratação peritoneal. PATOLOGIA CLÍNICA Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc EXAME COMPLEMENTARES Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc PANCREATITE AGUDA CONCEITO Condição inflamatória aguda do tecido pancreático causada pela autodigestão tecidual; pode acometer também estruturas peripancreáticas e até mesmo orgãos à distância. • Normalmente cursa com recuperação completa e não cursa com sequelas pancreáticas (exceção de casos graves quando se há necrose pancreática grave) REVISÃO BÁSICA DA FISIOLOGIA DO PANCREAS • Exócrino: produção e secreção de suco pancreático (enzimas digestivas); • Endócrino: liberação de hormônio (insulina, glucagon e somastatina). EPIDEMIOLOGIA • Alta mortalidade e morbidade • Requer atendimento médico de urgência, uma vez que é uma importante emergência clínica. CLASSIFICAÇÃO LEVE, INTERSTICILA OU EDEMATOSA • 80% dos casos: edema do pâncreas • Menos de 1% de letalidade AGUDA NECROSANTE OU NECRO-HEMORRÁGICA OU GRAVE • 10 a 20%; • Extensa necrose parenquimatosa, hemorragia retroperotomeal, grave, evolução 3-6 semanas; CAUSAS • Biliar: Colelitíase – 35-45% → CAUSA MAIS COMUM • Abuso do álcool – 2 a 3%; segunda causa mais comun de PA → CAUSA MAIS COMUM • Procedimentos cirúrgicos e endoscópicos: <1% (CPRE) • Variantes anatômicas • Obstruções mecânicas (tumor, muco, parasita etc) • Desordens metabólicas: Hipertrigliceridemia> 5% para TG > 1000 Mg/L • Traumas (abdominal fechado ou penetrante) – principal causa de PA em crianças → CAUSA MAIS COMUM • Medicações (ex.: azatioprina, hidroclorotiazida, estrógenos, furosemida etc) – 5% Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc • Causas autoimunes e genéticas – incomuns: <1% dos casos. • Infecciosas: vírus, bacterías, fungos e parasitos (lembrar do ascaris lumbricoides) → CAUSA MAIS COMUM FISIOPATOLOGIA • Multifatorial; • Mecanismo primário e crucial para a ocorrência da pancreatite aguda: Evento inicial → Conversão patológica do tripsinogênio em tripsina → expressão intra-acinar da tripsina e indução de morte celular e inflamação no tecido pancreático pela tripsina → liberação de enzimas pancreáticas ativas na corrente sanguínea (fosfolipase, quimiotripsina, elastase) e estimulação da produção de citocinas inflamatórias e do fator de necrose tumoral por neutrófilos, macrófagos e linfócitos → cascasta inflamatória → lesões microcirculatórias → autodigestão do tecido pancreático → ação da catepsina B sobre o tripsinogênio → reinicia o ciclo Em alguns casos: síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) em casos graves (pode ser confundida com SEPSE – difícil de diferenciar do quadro de SEPSE em alguns casos). QUADRO CLÍNICO TÍPICO: DOR ABDOMINAL (EPIGÁSTRICA OU QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO), NÁUSEAS E VÔMITOS. • DESCRIÇÃO DA DOR o Constante o Duração de dias ou semanas o Com irradiação para região dorsal (40 a 70% dos pacientes), tórax ou flancos – é a chamada “dor em faixa”. • OUTROS SINTOMAS: o Inquietação e agitação o Alívio da dor em posição genupeitoral o Taquicardia o Derrame pleural à esquerda (irritação da região) • Alguns pacientes podem ter icterícia leve (10% dos casos – em decorrência de cálculo biliar) e febre; sinais de desidratação (sequestro de liquido), choque e coma; • Exame físico: sinal de gray-turner (equimose em flancos), Sinal de Cullen (equimose periumbilical) e Sinal de Fox (Equimose na base do pênis). Retinopatia de Purtscher: escotomas e perda súbita da visão. Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc LABORATÓRIO INESPECÍFICO • Leucocitose: até 30.000 mm³ • PCR: marcador de gravidade → prognóstico da doença → maior que 150 indica mal prognóstico; • Hiperglicemia: alteração da parte endócrino do pâncreas • Escórias nitrogenadas aumentadas e alterações nas provas de coagulação: indicam gravidade; • Aminotransferases, FA e bilirrubina: aumentadas DIAGNÓSTICO a) Dor abdominal consistente com o quadro de PA; b) Valores séricos de amilase e/ou lipase aumentados mais que 3x o valor de referência; c) Achados característicos em exames de imagem (TC de abdômen – padrão ouro) – usado principalmente em casos duvidosos) Outros exames: • Peptídeo ativador do tripsinogênio • Tripsinogênio 2 • Tripsinogênio urinário Indicação de TC na pancreatite aguda • O dx clínico de PA é duvidoso; • Presença de critérios clínicos de gravidade como distensão e dor abdominal, hipertermia (>39º e leucocitose) → suspeita de necrose pancreática; • Ranson > 3 e APACHE II > 8; • Deteriorização clínica a despeito de tratamento conservador inicial por 72h → identificar fatores que estão perpertuando o processo. • Deteriorização aguda após as primeiras 72horas. ESTRATIFICAÇÃO DA GRAVIDADE DO QUADRO CRITÉRIOS DE RANSON • Utilizado para estratificar a gravidade de uma pancreatite aguda; serve para avaliar o prognóstico de um paciente acometido pela patologia; • Na admissão e depois de 48 horas; caiu em desuso pela complexidade de seu uso; Quadro clínico típico + valores séricos de amilase e/ou lipase alterados já posso fechar o diagnóstico; em dúvida, solicitar TC. SABER Amilase e lipase aumentadas nem sempre indicam pancreatite aguda; outras condições que cursam com dor abdominal pode aumentar as enzimas, como colecistite. LEMBRAR Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc ESCORE DE APACHE II • Sistema médico de classificação que determina os índices de gravidade de um paciente internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI); • Parametros epidemiológicos, clínicos; Calculado nas primeiras 24 horas de admissão; • Tem uma calculadora online pra se calcular; Maior ouigual a 9 = pancreatite aguda grave. BISAP • Ferramenta simples e ideal para uma estratificação de risco rápida; Usado para prognóstico; substitui o critério de Ranson. • Se baseia em uma classificação de 5 pontos, derivados de 5 parâmetros coletados dentro das 24 primeiras horas do paciente no hospital. Convenientemente, há um mnemônico em inglês para esses parâmetros. ESCORE DE BALTHAZAR • Classificação tomográfica da pancreatite aguda; vai do grau A até o grau E. Avaliar se tem ou não necrose pancreática Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Doença péptica / úlcera perfurada • Colelitíase, coledocolitíase, colecistite aguda • Isquemia mesentérica • Obstrução intestinal aguda • IAM inferior / dissecção aórtica abdominal • Gravidez ectópica TRATAMENTO TRÍADE: JEJUM + ANALGESIA + HIDRATAÇÃO PRECOCE - JEJUM: NPO (nada por via oral) • Por conta das dores abdominais, náuseas e vômitos; estabelece alimentação oral caso a paciente tolere; recomenda-se nutrição enteral jejunal • Evitar jejum prolongado em PA. - ANALGESIA: manejo da dor do paciente • Uso de drogas parenterais (opioides: meperidina e morfina); - HIDRATAÇÃO PRECOCE: suporte volêmico e correção de distúrbios hidroeletrolíticos. • O sequestro volêmico faz parte da fisiopatologia da doença. - NECROSECTOMIA: em casos de necrose infectada; - CPRE (terapêutica – litíase biliar) e papilotomia; - COLECISTECTOMIA: nos casos com etiologia biliar, realizar o procedimento ainda na internação); - AMINAS VASOPRESSORAS: paciente que cursa com choque. • NÃO INDICAR ATP PROFILÁTICO; • TOMOGRAFIA NÃO É IMPORTANTE EM TODOS OS CASOS DE PA; • MORFINA PODE SER PRESCRITA PARA ALÍVIO DA DOR; • INDICAÇÕES CIRÚRGICAS: CONTROVÉRSIAS; ANALISE AMPLA DO QUADRO CLÍNICO DO PACIENTE; HÁ POSTERGAÇÃO AO MÁXIMO DA CIRURGIA PORQUE NORMALMENTE O PACIENTE NÃO EVOLUI BEM. IMPORTANTE Isabelle Gualberto Souza – T. XXII Medicina UNIFIPMoc COMPLICAÇÕES Sistemicas: choque, insuficiência renal, insuficiência respiratória por SEPSE Locais: pseudocisto de pancreas (1 mes pra se formar – não é um epitélio verdadeiro, por isso pseudo), abscesso pancreático.
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