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Definição ↣ É uma doença sistêmica e constitui a via comum final de muitas doenças renais e do trato urinário diferentes. ↣ Ocorre IR quando os rins são incapazes de remover produtos de degradação metabólica do organismo ou desempenhar suas funções reguladoras. ↣ As substâncias normalmente eliminadas na urina acumulam-se nos líquidos corporais devido ao comprometimento da excreção renal, afetando as funções endócrinas e metabólicas, bem como o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA) ↣ Refere-se a uma rápida perda da função renal devido à lesão dos rins. Dependendo da duração e da gravidade da IRA, podem ocorrer complicações metabólicas potencialmente fatais, como acidose metabólica e distúrbios hidroeletrolíticos. ↣ O tratamento visa a substituição da função renal temporariamente para diminuir as complicações fatais e reduzir causas potenciais de lesão renal aumentada. ↣ A IRA é um problema observado em pacientes hospitalizados e em ambientes ambulatoriais. Critério diagnóstico de IRA: ↣ Elevação de 50% ou + da creatinina sérica em seu valor basal (nível normal < 1,0 mg/dℓ). ↣ Presença de volume urinário normal ou alterado: Oligúria (< 500 mℓ/dia); Não oligúria (> 800 mℓ/dia) ou Anúria (< 50 mℓ/dia). Fisiopatologia ↣ Nem sempre está estabelecida, embora esteja associada a um problema subjacente específico. ↣ Fatores reversíveis: aqueles identificados e tratados de imediato, antes do comprometimento da função renal devido a redução do fluxo sanguíneo para o órgão. ↣ Havendo a reversão de níveis elevados de ureia e creatinina, a oligúria. São: 1. hipovolemia; 2. hipertensão; 3. redução do DC e IC; 4. obstrução do rim ou do trato urinário inferior por Insuficiência Renal Aguda tumor, coágulo sanguíneo ou cálculo renal; e 5. obstrução bilateral das artérias ou veias renais. ↣ Cálculos renais: podem aumentar o risco de IRA em caso de doenças calculosas hereditárias, cálculos de estruvita primários e a urolitíase relacionada com infecção, associada a anomalias anatômicas e funcionais do trato urinário e lesão da medula espinhal, podem causar surtos recorrentes de obstrução, bem como lesão das células epiteliais tubulares e das células renais intersticiais causada por cristais específicos. Classificação ↣ Pré-renal (hipoperfusão do rim): 60 a 70% dos casos, resulta do comprometimento do fluxo sanguíneo, levando à hipoperfusão do rim e diminuição da TFG. ↣ Intrarrenal (lesão efetiva do tecido renal): resulta de lesão parenquimatosa efetiva dos glomérulos ou dos túbulos renais. A necrose tubular aguda (NTA) é o tipo mais comum de IRA intrínseca, tem como características a obstrução intratubular, extravasamento tubular retrógrado (reabsorção anormal do filtrado e diminuição do fluxo urinário através do túbulo), vasoconstrição e alterações da permeabilidade glomerular. Resultando em diminuição da TFG, azotemia progressiva e desequilíbrio hidroeletrolítico. A DRC, o diabetes, a IC a HAS e a cirrose podem levar à NTA. ↣ Pós-renal (obstrução do fluxo de urina): resulta habitualmente de obstrução distal ao rim. A pressão eleva-se nos túbulos renais, e, por fim, a TFG diminui. Causas de IRA INSUFICIÊNCIA PRÉ-RENAL ↣ Depleção de volume em consequência de: Hemorragia Perdas renais (diuréticos, diurese osmótica) Perdas gastrintestinais (vômitos, diarreia, aspiração nasogástrica) ↣ Comprometimento da eficiência cardíaca em consequência: Infarto do miocárdio Insuficiência cardíaca Arritmias Choque cardiogênico ↣ Vasodilatação em consequência de: Sepse Anafilaxia Medicamentos anti-hipertensivos ou outros medicamentos que provocam vasodilatação. Nathalia de Tarso INSUFICIÊNCIA INTRARRENAL ↣ Isquemia renal prolongada em consequência de: Nefropatia por pigmento (associada à ruptura das células sanguíneas contendo pigmentos que, por sua vez, provocam oclusão das estruturas renais) Mioglobinúria (traumatismo, lesões por esmagamento, queimaduras) Hemoglobinúria (reação transfusional, anemia hemolítica) ↣ Agentes nefrotóxicos, como: Antibióticos aminoglicosídios (gentamicina, tobramicina) Agentes de contraste radiopacos Metais pesados (chumbo, mercúrio) Solventes e substâncias químicas (etilenoglicol, tetracloreto de carbono, arsênico) Agentes anti-inflamatórios não esteroides (AINE) Inibidores da enzima conversora de angiotensina (inibidores da ECA) ↣ Processos infecciosos, como: Pielonefrite aguda Glomerulonefrite aguda INSUFICIÊNCIA PÓS-RENAL ↣ Obstrução do trato urinário, incluindo: Cálculos Tumores Hiperplasia prostática benigna Estenoses Coágulos sanguíneos. Fases da IRA Existem quatro fases da IRA: início, oligúria, diurese e recuperação. Período de início: acontece com a agressão inicial e termina quando se desenvolve a oligúria. Período da oligúria: é acompanhado de ↑ na concentração sérica de substâncias habitualmente excretadas pelos rins (ureia, creatinina, ácido úrico, ácidos orgânicos e cátions intracelulares [K+ e Mg+2]). ↣ A quantidade mínima de urina necessária para livrar o organismo dos produtos de degradação metabólicos normais é de 400 mℓ. Nessa fase, os sintomas urêmicos são os primeiros a aparecer e verifica-se o desenvolvimento de condições potencialmente fatais, como a hiperpotassemia. ↣ Manifestações: ↓ da função renal com retenção de nitrogênio crescente, apesar de excreção em quantidades normais de urina (2 ℓ/dia ou mais). Trata- se da forma não oligúrica da IR, que ocorre predominantemente após exposição do paciente a agentes nefrotóxicos, queimaduras, lesão traumática e uso de agentes anestésicos halogenados. Período da diurese: é marcado por um ↑ gradual do débito urinário, indicando que a TFG começou a se recuperar. Os valores laboratoriais estabilizam-se e, por fim, diminuem. Embora o volume do débito urinário possa alcançar níveis normais ou elevados, a função renal pode estar anormal. ↣ Como os sintomas urêmicos podem estar presentes, continua a necessidade de tratamento médico e cuidado de enfermagem especializados. O paciente deve ser observado quanto à ocorrência de desidratação durante essa fase; caso ocorra, é provável que os sintomas urêmicos aumentem. Período de recuperação: sinaliza a melhora da função renal e pode levar 3 a 12 meses. Os valores laboratoriais retornam ao nível normal. Embora seja comum uma redução permanente de 1 a 3% na TFG, esta não é clinicamente significativa. Manifestações Clínicas ↣ Quase todos os sistemas do corpo estão afetados, com a falha dos mecanismos reguladores renais normais. O paciente pode parecer criticamente doente e letárgico. Pele e mucosas: secas devido à desidratação. Sinais e sintomas do SNC: sonolência, cefaleia, contrações musculares e convulsões. Histórico e Achados Diagnósticos Histórico: avaliar das alterações na urina, exames complementares que definem o contorno renal e uma variedade de valores laboratoriais. Débito Urinário: variação de volume escasso a normal, pode haver hematúria, e a urina com baixa densidade específica (em comparação com um valor normal de 1.010 a 1.025); incapacidade de concentração da urina devido a lesão tubular Azotemia pré-renal: apresentam uma quantidade diminuída de Na+ na urina (<20 mEq/ℓ) e sedimento urinário normal. Azotemia intrarrenal: exibem níveis urinários de Na+ > 40 mEq/ℓ, com cilindros urinários e restos celulares. Azotemia: alteração bioquímica caracterizada pela presença de ↑ [ ] de produtos nitrogenados (ureia, creatinina, ácido úrico e proteínas) no sangue, soro ou plasma, e que podem interferir na TFG acarretar danos progressivos e possivelmente definitivos aos rins. Nathalia de Tarso USG ou TC ou RM: revelam evidências de alterações anatômicas renais. Nível de ureia: ↑ contínuo de acordo com o grau de catabolismo (decomposição da proteína), perfusão renal e aportede proteína. Níveis séricos de creatinina: refletem a função renal e a progressão da doença, ↑ com a lesão glomerular. Risco de hiperpotassemia: devido ao declínio da TFG, oligúria e anúria. O catabolismo proteico resulta na liberação de K+ celular nos líquidos corporais, provocando hiperpotassemia grave; acarretando arritmias, como taquicardia ventricular e parada cardíaca. ↣ As fontes de potássio incluem o catabolismo tecidual normal, consumo nutricional, presença de sangue no trato GI ou transfusão de sangue, outras fontes (infusões IV, penicilina potássica e deslocamento extracelular em resposta à acidose metabólica). Acidose metabólica progressiva: devido a não elimina- ção da carga metabólica diária de substâncias de tipo ácido produzidas pelos processos metabólicos normais, somada a falha dos mecanismos normais de tamponamento renal. Como reflexo da ↓ no poder de combinação do CO2 sérico e pH sanguíneo. ↑ [ ] sanguíneas de fosfato + ↓ níveis de Ca+2: devido à ↓ absorção pelo intestino e como mecanismo compensatório para os níveis sanguíneos elevados de fosfato (PO43-). Anemia: devido a ↓ produção de eritropoetina, lesões GI urêmicas, ↓ do tempo de sobrevida dos eritrócitos e perda sanguínea do trato GI. Prevenção A IRA apresenta uma ↑ taxa de mortalidade (25 a 90%). ↣ Os fatores que influenciam a mortalidade incluem idade avançada, condições comórbidas e doenças renais e vasculares preexistentes. Nathalia de Tarso COMPARAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS PRÉ-RENAL INTRARRENAL PÓS-RENAL Etiologia Hipofunção Lesão parenquimatosa Obstrução Valor da ureia sanguínea Aumentado (fora da proporção normal de 20:1 em relação à creatinina) Aumentado Aumentado Creatinina Aumentada Aumentada Aumentada Débito urinário Diminuído Varia, frequentemente diminuído Varia, pode estar diminuído, ou anúria súbita Sódio urinário Diminuído para < 20 mEq/ℓ Aumentado para > 40 mEq/ℓ Varia, frequentemente diminuído para 20 mEq/ℓ ou menos Sedimento urinário Normal, poucos cilindros hialinos Cilindros e restos anormais Habitualmente normal Osmolalidade urinária Aumentada para 500 mOsm Cerca de 350 mOsm semelhante ao soro Varia, > ou igual ao soro Densidade específica da urina Aumentada Normal baixa Varia PREVENÇÃO DA IRA 1. Fornecer uma hidratação adequada aos pacientes com risco de desidratação, incluindo: o Antes, no decorrer e depois da cirurgia o Pacientes que se submetem a exames complementares intensivos exigindo restrição hídrica e agentes de contraste (ex. enema baritado, pielografias intravenosas), particularmente pacientes idosos que podem ter uma reserva renal marginal; o Distúrbios neoplásicos ou distúrbios do metabolismo (p. ex., gota) e aqueles que recebem quimioterapia. ↣ Identificação de exposição a agentes nefrotóxicos ou toxinas ambientais: os rins são suscetíveis aos efeitos adversos dos medicamentos por estarem expostos às substâncias presentes no sangue. Em uso de medicamentos nefrotóxicos (ex. aminoglicosídios, gentamicina, tobramicina, colistimetato, polimixina B, anfotericina B, vancomicina, amicacina, ciclosporina) deve haver monitoramento à procura de alterações na função renal. ↣ Níveis de ureia e de creatinina sérica: devem ser obtidos em condições basais dentro de 24 h após o início desses medicamentos e pelo menos 2x/semana enquanto o paciente está sendo tratado com eles. ↣ Redução do fluxo sanguíneo renal: devido ao uso crônico de analgésicos, como AINE pode provocar nefrite intersticial (inflamação dentro do tecido renal) e necrose papilar em pacientes com IC ou cirrose com ascite. ↣ Evitar exames com contraste para prevenir nefropatia induzida por radiocontraste (NIC) em pacientes hospitalizados. A adm de N-acetilcisteína e de bicarbonato de sódio antes e no decorrer dos procedimentos ↓o risco, porém a pré-hidratação com SF é considerada o método + efetivo para a prevenção. Tratamento Visa restaurar o equilíbrio químico normal e evitar as complicações até que possam ocorrer reparo do tecido renal e restauração da função. Consiste em: ↣ Eliminar a causa subjacente, manter balanço hídrico, evitar os líquidos em excesso e, quando indicado, providenciar a terapia de substituição renal. P/azotemia pré-renal: otimizar a perfusão renal, enquanto a insuficiência pós-renal é tratada ao aliviar a obstrução; P/ azotemia intrarrenal: terapia de suporte, com remoção dos agentes etiológicos, tratamento agressivo da insuficiência pré-renal e pós-renal e prevenção dos fatores de risco associados. Balanço hídrico: baseia-se no peso corporal diário, medições seriadas da PVC, concentrações séricas e urinárias, perdas hídricas, PA e estado clínico do paciente. ↣ Reposição Hídrica: é calculada a partir do aporte parenteral e oral e débito de urina, drenagem gástrica, fezes, drenagem de feridas e sudorese. ↣ E Líquido Insensível: produzido através dos processos metabólicos normais e perdido através da pele e dos pulmões também é considerado no manejo dos líquidos. Sobrecarga de líquidos: detectados através da dispneia, taquicardia e distensão das veias do pescoço; estertores úmidos auscultados nos pulmões (precursores do edema pulmonar). Hiperpotassemia: se apresenta como um risco de vida e uma emergência médica entre as alterações hidreletrolíticas que ocorrem em pacientes com distúrbios renais. ↣ Exige monitoramento quanto ao desenvolvimento de hiperpotassemia por meio dos níveis séricos seriados de eletrólitos (nível de potássio > 5,0 mEq/ℓ [5 mmol/ℓ]), alterações do ECG (ondas T altas, em tenda ou em pico) e alterações no estado clínico. ↣ Sintomas: irritabilidade, cólica abdominal, diarreia, parestesia e fraqueza muscular generalizada. o Sinal de fraqueza muscular: fala arrastada, dispneia, parestesia e paralisia. Com o ↑ contínuo do K+, há o declínio de função do miocárdio e outros músculos. Nathalia de Tarso 2. Evitar e tratar imediatamente o choque, com reposição de sangue e líquidos. 3. Monitorar as pressões arterial e venosa central e o débito urinário a cada hora dos pacientes em estado crítico para detectar o início da insuficiência renal o mais cedo possível. 4. Tratar imediatamente a hipotensão. 5. Avaliar continuamente a função renal (débito urinário, valores laboratoriais), quando apropriado. 6. Tomar precauções para garantir a administração do sangue apropriado ao paciente correto, a fim de evitar reações transfusionais graves, que podem precipitar insuficiência renal. 7. Evitar e tratar imediatamente as infecções. As infecções podem provocar lesão renal progressiva. 8. Dispensar uma atenção especial para feridas, queimaduras e outros precursores da sepse. 9. Para evitar que as infecções ascendam no trato urinário, dar um cuidado meticuloso aos pacientes com cateteres de demora. Remover os cateteres logo que possível. 10. Para evitar os efeitos medicamentosos tóxicos, monitorar rigorosamente a dose, a duração do uso e os níveis sanguíneos de todos os medicamentos metabolizados ou excretados pelos rins. Nathalia de Tarso Terapia Nutricional Desequilíbrios nutricionais: causado por náuseas e vômitos, comprometimento do uso da glicose e síntese de proteína e catabolismo tecidual aumentado. ↣ Pesagem diária: com perda de 0,2 a 0,5 kg/dia se o balanço nitrogenado for negativo. Se houver ganho, não perda peso ou HAS, deve-se suspeitar de retenção de líquidos. Suporte Nutricional: baseado na causa subjacente da IRA, resposta catabólica, tipo e frequência de terapia de substituição renal, comorbidades e estado nutricional. ↣ Reposição proteica individualizada para ofertar benefício máximo e reduzir os sintomas urêmicos. ↣ Necessidades calóricas supridas com refeições ricas em carboidratos, por possuir efeito poupador de proteína (esta não é utilizada para atender às necessidades energéticas,mas é “poupada” para o crescimento e a cicatrização tecidual). ↣ Restrição de alimentos e líquidos contendo potássio ou fósforo (ex. bananas, sucos e frutas cítricas, café). Cuidado de Enfermagem ↣ Monitorar as complicações, em particular, no tratamento de emergência dos distúrbios hidreletrolíticos; ↣ Avaliar evolução e resposta do paciente ao tratamento e fornecer suporte físico e emocional; ↣ Fornecimento de Apoio Psicossocial; ↣ Redução da Taxa Metabólica; ↣ Prevenção da Infecção; ↣ Fornecimento do Cuidado Cutâneo. Referências Bibliográficas SMELTZER, S.C; BARE, B.G. Brunner & Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
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