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Aulas de Direito das Obrigacoes I

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AULA 01
 Matéria referente à Contrato promessa 
Conceitualização
O nosso legislador ordinário tutela tanto os contratos preliminares bem como os contratos definitivos, eis, a razão do preceituado no número 1 do artigo 227 do C.C , no qual prevê-se que “ Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à contraparte”.
Com base no espírito de tutela de acordos preliminares emergiu, no nosso ordenamento jurídico, à semelhança de tantos outros do sistema Romano-Germanico, os chamados contratos preliminares, desde logo, contrato promessa e pacto de preferência, nos termos dos artigos 410 e ss e 414 , todos do C.C.
Segundo Menezes Leitão “ contrato promessa é a convenção pela qual alguém se obriga a celebrar novo contrato “.[footnoteRef:2] [2: MENEZES Leitão, Direito das Obrigações, Vol I, introdução da constituição das obrigações, 9ª edição, 2010.p221.] 
Ora, estamos face de um contrato preliminar cujo objecto é a celebração de um outro contrato, desde logo, o contrato definitivo. Por maioria de razão, as partes vinculam-se, por meio de um contrato de modo à cautelar as suas pretensões cuja verificação, apenas pode ocorrer no futuro.
No entendimento de Menezes Leitão “ a celebração de contratos-promessa apresenta-se como muito frequente na actual vida económica, efectivamente, em muitas situações as partes iniciam negociações para a conclusão de um contrato, e chegam a acordo relativamente a essa celebração, mas não querem ou não podem, por algum motivo, realiza-la naquele momento”.[footnoteRef:3] [3: Idem, p.222.] 
Relação entre contrato promessa e o contrato prometido ( definitivo)
O contrato promessa é autónomo em relação ao contrato definitivo, visto que o primeiro tem o carácter obrigacional, ou seja, visa algo diferente do contrato definitivo, pois, este tem por objectivo a celebração de um contrato e nada mais, enquanto o contrato definitivo terá as suas especificidades, mesmo em relação aos efeitos do contrato. Por exemplo, se o contrato definitivo for de compra e venda, com a celebração do mesmo, as partes vinculam-se aos efeitos previstos no artigo 879 do C.C , algo que não acontece com o contrato promessa de compra e venda na qual não se opera a traditio, ou seja, o pagamento e recebimento da coisa devida.
Não obstante a autonomia do contrato promessa em relação ao contrato definitivo, verdade é que a lei não deixou de sujeitar ao regime de contrato promessa, o mesmo regime do contrato definitivo, denominando-se a este facto por Principio de equiparação, constante do número 1, do artigo 410 do C.C.
No entanto, o princípio de equiparação não é aplicável em todas as situações sendo, por isso, objecto de 2 (duas) excepções: a excepção relativa a forma e as disposições que pela sua razão de ser não devam considerar-se extensivas ao contrato promessa.
Relativamente a primeira excepção, dela resulta que a forma do contrato promessa não será a mesma do contrato definitivo, tal como resulta da interpretação do numero in fine , do artigo 410 do C.C ao exceptuar o principio da equiparação as matérias atinentes a forma.
Podemos, por via disso, afirmar a prevalência do princípio da liberdade de forma nos contratos promessas?
Em bom rigor não podemos assim afirmar. A liberdade de forma pressuporia que as partes concretizassem as suas intenções negocias sem o mínimo de orientação formal pelo legislador, todavia, não é o que, efectivamente, existe.[footnoteRef:4] [4: A semelhança do que se sucede com os contratos definitivos, o mesmo se sucedera em relação aos contratos prometidos. Se ao contrato definitivo for exigida maior solenidade, ao seu contrato prometido, para ser válido, deverá constar de documento particular assinado pelas partes. Se, todavia, o contrato definitivo nada exigir para a sua validade, obviamente, o contrato prometido do mesmo nada exigirá, muito menos documento particular. Por exemplo, querendo comprar um imóvel, porque a lei exige a solenidade do artigo 875 do C.C, o seu contrato prometido deve constar de documento particular assinado pelas partes; outrossim, porque a compra e venda de mangas não pressupõe formalismo algum, o seu contrato prometido muito menos exigirá forma alguma, podendo ser celebrado verbalmente.] 
Senão, vejamos só: a lei, por exemplo, prevê que o contrato definitivo de compra e venda de um imóvel deve ser materializado por via de uma escritura pública, nos termos do artigo 875 do C.C. No entanto, ao seu contrato prometido, o legislador não deixa ao total “ abandono”, pois impera a necessidade das partes reduzirem a promessa num escrito particular, nos termos do número 2, do artigo 410 do C.C.[footnoteRef:5] [5: Há, se quisermos, uma simples diminuição de solenidade, pois, se o contrato definitivo for demais solene, o contrato prometido do mesmo deve, para ser valido, constar de documento assinado pelos promitentes. Outrossim, contrariamente à amplitude das regras de forma nos negócios jurídicos, nos quais prevalece a liberdade de forma, nos termos do artigo 219 do C.C, através do qual, exceptuando as situações previamente estabelecidas pelo legislador, as partes podem, livremente, sem obediência de forma alguma celebrar negócios.] 
Consequências do incumprimento do contrato promessa
Como teríamos falado, aquando das características da obrigação, o cumprimento da obrigação constitui uma “ faculdade” ao devedor, pois, o mesmo pode, até ao seu belo prazer, incumprir a obrigação a que esta adstrita, sujeitando-se, como seria óbvia, as cominações legais pelo não cumprimento.
Assim, por via de regra, havendo um incumprimento, o credor pode querendo “ solicitar” ao Estado o poder de exigir coercivamente ao devedor, tal como estabelece o artigo 817 do C.C.[footnoteRef:6] [6: O Estado é o único detentor do direito de uso da forca para fazer valer direito seu e dos particulares. No entanto, excepcionalmente, aos particulares é lhes reconhecido o direito de uso de forca quando se encontrarem em legitima defesa própria ou de terceiro, acção directa, estado de necessidade.] 
Por via de regra, o incumprimento do contrato promessa dá lugar ao promitente defraudado exigir a execução específica, nos termos do artigo 830 do C.C. A execução específica tem em vista, o promitente defraudado obter do tribunal a declaração do promitente faltoso.
No entanto, não haverá execução específica em determinadas situações:
1.Convenção em contrário: o regime da execução específica não é imperativo, ou seja, não é linear ou dogmático que face ao incumprimento de um dos promitentes haja execução específica, pois, as partes podem derrogar este regime, é o que resulta do número 1, do artigo 830 do C.C ao prever que “ se alguém se tiver obrigado a celebrar certo contrato e não cumprir a promessa, pode a outra parte, na falta de convenção em contrário, obter sentença que produza os efeitos da declaração negocial do faltoso, sempre que a isso não se oponha a natureza da obrigação assumida”.
Assim, as partes podem, no gozo do princípio da autonomia privada das partes, declarar, de forma expressa, no contrato promessa que o incumprimento de uma das partes não dará lugar a execução específica. A declaração de afastamento do regime de execução especifica ou a chamada convenção em contrario pode ser expresso ou tácita, nos termos do artigo 217 do C.C.
A declaração expressa do afastamento do regime de execução especifica ocorre nos termos em que acima mencionamos, todavia, a declaração tacita do afastamento do regime de execução especifica resulta do numero 2 do artigo 830 do C.C ao prever, o legislador, que “ entende-se haver convenção em contrario, se existir sinal ou tiver sido fixada uma pena para o caso de não cumprimento da promessa”.[footnoteRef:7] [7: É importante distinguir o regime do sinal com o de antecipação. O sinal deve ser declarado pelas partes, por via de regra,excepto nos contratos promessa de compra e venda, pois, nestes o sinal é presuntivo, ou seja, o simples adiantamento de uma parte do valor referente ao preço da coisa a ser entregue com a celebração do contrato definitivo, presume-se como sinal. No entanto, os promitentes devem, desde logo, no contrato afastarem a possibilidade do adiantamento ser considerado como sinal, através de uma declaração expressa neste sentido. Por quanto, o adiantamento não será mais que a simples entrega de uma parte de pagamento, nos termos dos artigos 440 e 441 do C.C.] 
2.O sinal e cláusula penal : Tanto a presença de sinal como clausula penal obsta, em principio, salve convenção em contrário, a execução especifica. Segundo Menezes Leitão “ sinal consiste numa cláusula acessória dos contratos onerosos, mediante a qual uma das partes entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível, que pode ter natureza diversa da obrigação contraída ou a contrair”.[footnoteRef:8] [8: MENEZES Leitao, ob. Cit.p 236.] 
Enquanto cláusula penal é o acordo sancionatório que as partes estipulam, no âmbito do gozo do princípio da autonomia privada das partes. A lei, nos termos do artigo 810 do C.C, permite que as partes auto-regulem-se no capítulo das sanções em caso de incumprimento do contrato promessa bem como nos casos do contrato definitivo.[footnoteRef:9] [9: A liberdade ou a faculdade das partes auto sancionarem-se deve conformar-se com o espírito da lei, ou seja, jamais as sanções podem estar a margem do requisito do objecto negocial, os bons costumes, nos termos do artigo 280 e ss do C.C. Por exemplo, será tido nulo e de nenhum efeito o acordo sancionatório em que as partes prevejam a entrega de um dos seus filhos à contraparte, nos casos de incumprimento do contrato promessa.] 
Há, com o acordo do sinal ou cláusula penal, um afastamento presuntivo do regime da execução específica, pois, é o que resulta do número 2 do artigo 830 do C.C ao prever que “ entende-se haver convenção em contrário, se existir sinal ou tiver sido fixada uma pena para o caso de não cumprimento da promessa”.
As partes devem apenas contentar-se com o regime de sinal em caso de incumprimento do contrato promessa?
A resposta depende de duas situações: Primeiro, se as partes convencionaram o regime de sinal ou cláusula penal e nada mais estipularam, deverão apenas contentar-se com este regime. Mas, se as partes acordarem um destes regimes e salvaguardarem o regime de indemnização, por exemplo, nada os obstará que, cumulativamente, accionem, por exemplo, o regime de sinal ou cláusula penal e, também, o da indemnização, isto resulta do número 3, do artigo 442 do C.C ao referir que “ salvo estipulação em contrário, a existência de sinal impede os contraentes de exigirem qualquer outra indemnização pelo não cumprimento, além da fixada no número anterior”.
3.A outra situação impeditiva de execução específica é a natureza da obrigação assumida.
Existem obrigações, embora passíveis de ser objecto de contrato promessa, as mesmas não podem, por sua vez, sujeitar-se ao regime da execução específica.
Por exemplo, um contrato promessa de trabalho não dará lugar a execução específica, tal como alude o artigo 36 da Lei do Trabalho. O facto resulta da relação laboral ter como uma das suas características a liberdade, ou seja, o termo “ livre” caracteriza a relação jurídico-laboral subordinada, significando isto que, independentemente dos acordos preliminares, as partes devem manter a vontade de celebrar ou não até ao momento da celebração e ate durante a execução[footnoteRef:10]. [10: A respeito, interessa-nos dizer que, por exemplo, pelo facto da relação laboral ser livre, o trabalhador tem o direito a livre circulação, isto é, pode, de cada vez, se existir clausula de exclusividade, celebrar contratos de trabalho e, por poucos dias de execução, o mesmo pode cessar a(s) relação(oes) por via de denuncia, salvo se tiver uma clausula de permanência. Aliás, a cláusula de permanência constitui apenas uma sanção caso viole o pacto; de contrário, o trabalhador pode violar e seguir a sua vida, desde que pague a sanção acordada, por isso, em bom rigor, nem a cláusula de permanência o impede de , livremente, mudar de emprego.] 
Portanto, não sendo possível a execução específica dada a natureza da obrigação assumida, o promitente defraudado terá lugar a uma indemnização, nos termos do artigo 798 do C.C.
4.A última situação impeditiva do regime de execução especifica é o facto do bem ter sido alienado a um terceiro de boa fé
Como temos vindo a frisar, o cumprimento de obrigação constitui uma faculdade para o devedor, pois, este pode, querendo, incumprir culposamente a obrigação a que esta adstrita sujeitando-se, como seria de esperar, as cominações legais pelo não cumprimento.
Assim, dar-se-á, hipoteticamente, uma situação em que, por exemplo, num contrato promessa de compra e venda, o promitente vendedor vende a coisa prometida a um terceiro de boa fé. Ocorrendo este facto, o promitente defraudado deverá accionar o mecanismo de responsabilidade civil contratual, emergente do inadimplemento da contraparte, nos termos do artigo 798 do C.C. [footnoteRef:11] [11: Lembremo-nos do que, anteriormente, frisamos: o promitente defraudado pode, para além do regime de sinal, caso tenha acordado, exigir, em simultâneo os efeitos do sinal, nos termos do artigo 442 do C.C bem como o regime da indemnização, constante do artigo 798 do C.C.] 
No entanto, podem os promitentes, aquando da celebração de contrato promessa, atribuir ao contrato eficácia real ou direitos erga omnes, o poder do titular exercer o direito de sequela; direito de perseguir a coisa aonde ela esteja.
Assim, atribuindo eficácia real ao contrato promessa com base no registo, ocorrendo o incumprimento pelo promitente vendedor, por exemplo, pelo facto de alienar o imóvel a um terceiro, o promitente defraudado pode, mesmo assim, exigir a execução específica, pedindo ao tribunal para suprir a declaração do promitente faltoso, celebrando-se o contrato definitivo.[footnoteRef:12] [12: Em relação ao promitente faltoso e terceiro, dentro das relações internas, haverá o direito de regresso, isto é, o terceiro devolverá o imóvel ao promitente faltoso para cumprir a obrigação diante do promitente defraudado e, por sua vez, o promitente faltoso haverá de restituir tudo quanto tenha recebido do terceiro, nos termos do artigo 524 do C.C.] 
 
 AULA 2
Pacto de preferência
A semelhança do contrato promessa, o pacto de preferência constitui outro contrato preliminar visando a celebração de um contrato definitivo.
Porém, ao contrário do que sucede no contrato-promessa, o obrigado à preferência não se obriga a contratar, mas apenas a escolher alguém como contraente, no caso de decidir contratar, mas apenas a escolher alguém como contraente, no caso de decidir a contratar, se alguém lhe oferecer as mesmas condições que conseguiu negociar com um terceiro.
O pacto de preferência esta previsto no artigo 414 do C. C e consiste na convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem na venda de determinada coisa.
Segundo Menezes Leitão “ a lei referiu-se expressamente aos casos de preferência na venda, mas o pacto de preferência é figura mais geral, uma vez que o artigo 423 do C.C, admite igualmente a assunção da obrigação de preferência em relação a outros contratos, com ela compatíveis”.
Na esteira do João de Matos Antunes Varela “ os pactos de preferência não têm apenas por objecto a compra e venda, mas também outros contratos, como o arrendamento, o aluguer, o contrato de fornecimento”.[footnoteRef:13] [13: João de Matos Antunes Varela, Das obrigações em geral, Vol I, 10ª edição, Almedina, p.376.] 
Forma de pacto de preferência
A regra relativa a forma de pacto de preferência encontra-se previsto no artigo 415 do C.C. A sua validade, regra geral, não depende de forma especial, apenas se exigindoque o pacto de preferência conste de documento particular, se para a celebração do contrato preferível for exigido documento autentico ou particular.
Portanto, quanto a forma do pacto de preferência é aplicável o mesmo regime do contrato promessa por remissão do artigo 415 do C.C.
Ao contrato de preferência também pode ser atribuída eficácia real, a semelhança do que se sucede com o contrato promessa, desde que se reportem a bens imóveis ou bens moveis sujeito a registo, as partes explicitamente o estipulem, celebrem o pacto de preferência por escritura publica ou documento particular autenticado, ou, quando não seja exigida essa forma para o contrato prometido, por documento particular com assinatura do obrigado.
A obrigação de preferência consistira no facto de, chegado o momento da verificação da condição para o qual as partes convencionaram, o obrigado a preferência devera comunicar o preferido, nos mesmos termos em que pretenda contratar com o terceiro. A lei avança um prazo supletivo para o preferido, recebida a comunicação, manifestar o seu interesse. Este prazo pode ser afastado pela convenção das partes, podendo fixar um outro prazo.
O incumprimento do pacto de preferência dará lugar a uma indemnizarão, nos termos do artigo 798 do C.C.
 AULA 03 ( AULA PRATICA)
 Caso prático de Direito da Obrigações I
 I
No dia 25 de Junho de 2015, Alberto obrigou-se a vender um apartamento na qualidade de único e legitimo proprietário do mesmo a Bernardo que se obrigou a compra-lo. O apartamento custaria 1.000.000.00 Mts ( Um milhão de meticais)
Tal acordo foi estabelecido através de documento particular assinado por ambos e continha o reconhecimento presencial das suas assinaturas.
Neste sentido, Bernardo entregou, desde logo, a Alberto, seu amigo de infância, a quantia de 500.000.00 Mts ( Quinhentos mil meticais), passando a habitar no referido imóvel, no qual realizou obras de beneficiação no valor de 200.000,00 Mts ( Duzentos mil meticais).
Por outro lado, ficou expressamente estatuído que caberia a Alberto as diligências necessárias para a marcação da escritura pública de compra e venda, devendo, ainda, avisar Bernardo da respectiva data, por meio da carta registada com, pelo menos, 8 dias de antecedência.
No dia 20 de Setembro de 2016, Bernardo teve o conhecimento que Alberto se preparava para vender o imóvel a Carlos, tendo sido, ate mesmo, conferenciado um dia especifico para a celebração da escritura pública desse negocio.
E, contra as expectativas de Bernardo, Alberto, no dia 10 de Outubro de 2016, alienou o imóvel a Carlos; este nada sabia do acordo existente entre Bernardo e Alberto a respeito da venda do mesmo imóvel.
Quid iuris.
 AULA 04
 CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO
Em regra, os contratos bilaterais procuram produzir efeitos entre as partes. O contrato a favor de terceiro constitui uma situação em que as partes celebram um contrato com o objectivo de beneficiar o terceiro.
Contrato a favor de terceiro é o contrato em que um dos contraentes (promitente) atribui, por conta e à ordem do outro (promissário), uma vantagem a um terceiro ( beneficiário), estranho à relação contratual.
Nos termos do número 1 do artigo 443 do C.C “ por meio de contrato, pode uma das partes assumir perante outra, que tenha na promessa um interesse digno de protecção legal, a obrigação de efectuar uma prestação a favor de terceiro, estranho ao negócio; diz promitente a parte que assume a obrigação e promissario o contraente a quem a promessa é feita”.
Segundo João de Matos Antunes Varela “ dentro da vastíssima zona dos contratos como fontes de obrigações, o contrato a favor de terceiro é, em alguns aspectos, uma das modalidades que maior interesse teórico reveste”.[footnoteRef:14] [14: João de Matos Antunes Varela, das obrigações em geral, vol. I, 10ª edição, Almedina, pag.408.] 
Exemplos:
1. A, que é o amparo de B, quer assegurar o futuro deste para além da sua morte; como não tem meios acumulados de fortuna, celebra com uma companhia de seguros um contrato de seguros de vida a favor de B.
2. A , visando segurar a sua viatura, celebra um contrato de seguro de responsabilidade civil junto da seguradora ( vulgo “ seguro contra terceiros) “ Azul do Indico, sa).[footnoteRef:15] [15: O contrato entre A e a seguradora é um contrato a favor de terceiro, pois, as partes celebram um contrato o qual beneficiará a uma pessoa indeterminada no momento da celebração, mas que será possível determina-lo verificada a condição.] 
A finalidade do contrato a favor de terceiro consta do número 2 do artigo 443 do C.C. As partes podem remitir dividas, isto é, por contrato entre A e B as partes podem remitir, nos termos do artigo 863 do C.C ( perdoar) a divida do C. Por exemplo, o A pode propor a B que realize um trabalho a seu favor cujo valor que seria para o pagamento destinar-se-á para cumprir a obrigação creditícia que o C tem diante do B. 
De igual forma, as partes podem cessionar créditos, nos termos do artigo 577 do C.C. A e B podem acordar a transmissão do crédito que seria do B a uma instituição de caridade.
Eficácia do contrato a favor de terceiro
Resulta do número 1 do artigo 443 do C.C que “ o terceiro a favor de quem for convencionada a promessa adquire direito à prestação, independentemente da aceitação”.
Ora, o elemento volitivo, isto é, a vontade do beneficiário é dispensável para que ocorra a celebração do contrato valido; bastando apenas a vontade do promitente e promissario.
No entanto, o beneficiário tem a faculdade de aderir ou rejeitar a promessa, nos termos do número 1 do artigo 447 do C.C. A adesão faz mediante uma declaração de aceitação, nos termos do número 2 do artigo 447 do C.C.[footnoteRef:16] [16: No entanto, a lei não distingue a espécie de declaração, podendo ser tacita ou expressa, nos termos do artigo 217 do C.C.] 
À semelhança dos negócios jurídicos unilaterais, a promessa pode ser revogada enquanto o terceiro não manifestar a sua adesão, ou enquanto o promissario for vivo, quando se trate de promessa que haja de ser cumprida depois da morte deste, nos termos do número 1 do artigo 448 do C.C.
 AULA 05
 Contrato para pessoa a nomear
O regime de contrato para pessoa a nomear esta regulado nos artigos 452 e seguintes do C.C.
Segundo Menezes Leitão “ o contrato para pessoa a nomear verifica-se quando um dos intervenientes no contrato se reserva a faculdade de designar outrem para adquirir os direitos ou assumir as obrigações resultantes desse contrato”.[footnoteRef:17] [17: LUIS Manuel Teles de Menezes Leitão, ob.cit.pag.280.] 
Trata-se assim de um caso em que se admite uma dissociação subjectiva entre a pessoa que celebra o contrato e aquela onde vão repercutir-se os respectivos efeitos jurídicos.
Contrariamente aos contratos a favor de terceiro, no contrato para a pessoa a nomear o contraente deve nomear, mediante uma declaração, dentro do prazo convencionado ou, na sua falta, no prazo dos 5 dias posteriores à celebração do contrato, nos termos do número 2, do artigo 453 do C.C.
A ratificação deve constar de documento escrito, nos termos do número 1 do artigo 454 do C.C.
Relativamente aos efeitos importa frisar que, com a nomeação, os efeitos do contrato repercutem-se na esfera da pessoa nomeada; se o contraente não nomear dentro do prazo acordado ou no prazo supletivo, os efeitos repercutirão na esfera do próprio contraente.
Se o contrato estiver sujeito a registo, pode este ser feito em nome do contraente originário, com indicação da cláusula para pessoa a nomear, fazendo-se posteriormente os necessários averbamentos, tal como prevê o número 2 do artigo 456 do C.C.[footnoteRef:18] [18: O outorgante e contraente podemcelebrar o contrato para pessoa a nomear de um imóvel, no entanto, devido as regras de validade deste negócio, a escritura pública, nos termos do artigo 875 do C.C, enquanto o contraente não indicar a pessoa, provavelmente a espera de verificação da condição, pode o imóvel ser inscrito em nome do contraente acompanhado da cláusula “ pessoa a nomear”. Identificada e nomeada a pessoa, far-se-á o respectivo averbamento na escritura pública.] 
 Promessa Pública ( Aula 06)
Diz-se promessa pública a declaração negocial dirigida ao público, prometendo uma prestação a quem se encontrar em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo, nos termos do número 1 do artigo 459 do C.C.[footnoteRef:19] [19: A lei exige uma forma específica para que a declaração do promitente seja considerado promessa pública: É necessário que a declaração seja feita mediante o anúncio público (jornais, rádio, televisão etc)] 
Exemplo: A não encontra o seu cachorro e, desesperado, dirige-se à rádio anunciando uma compensação, no valor de 5.000,00 mts, a quem o achar e entregar-lho.[footnoteRef:20] [20: Estamos, nesta situação, diante de uma obrigação de sujeito activo indeterminado, mas determinável, nos termos do artigo 511 do C.C.] 
A lei determina que essa situação implica imediatamente, e sem necessidade de aceitação do beneficiário, a vinculação do promitente a essa promessa, nos termos do numero 2 do artigo 459 do C.C.
Não constituirá, por exemplo, anúncio público o que for declarado numa conversa particular, a declaração deve ser emitida por um órgão de conhecimento de massa, quer áudio ou visual.
Prazo de validade e revogação da promessa
A promessa pública sem prazo de validade fixado pelo promitente ou imposto pela natureza ou fim da promessa mantêm-se enquanto não for revogada, nos termos do artigo 460 do C.C.
Significa, por outras, que nada obsta a que o promitente, com o anuncio publico, faca referencia do prazo de validade da sua declaração. Pode o promitente anunciar e indicar o prazo da sua validade.
Assim, não tendo prazo de validade, a promessa é revogável a todo o tempo pelo promitente, desde que os destinatários não se tenham encontrado na situação anunciada. Outrossim, o promitente, mesmo havendo prazo de validade, poderá revogar a promessa existindo justa causa para o efeito, nos termos do número 1, do artigo 461 do C.C.
A revogação deve ser feita na mesma forma do anúncio, tal como resulta do número 2, do artigo 462 do C.C.
Por último, se para a produção do resultado tiverem contribuído varias pessoas, a prestação será dividida equitativamente, nos termos do artigo 463 do C.C.
Por exemplo: se a gratificação anunciada for de 5.000,00 mts, havendo cooperação de 2 ( duas) pessoas, na mesma proporção do sacrifício para achar o cachorro perdido, fará sentido que a gratificação seja repartida ao meio pelas partes.
 
 Enriquecimento sem causa ( Aula 07)
Temos vindo a estudar, no capítulo das fontes das obrigações emergentes de contratos, diferentes fontes de constituição das obrigações sendo que, até a última aula, havíamos falado das obrigações constituídas por meio de contratos, mormente contratos preliminares, desde logo, o contrato promessa e pacto de preferência. De igual modo, debruçamo-nos em volta de contrato para pessoa a nomear , contrato a favor de terceiro e promessa pública.
Agora, trataremos de obrigações baseada numa outra fonte diferente do contrato; falaremos de obrigações constituídas por via do enriquecimento sem causa ou arrichimento senza causa na língua Italiana.
O instituto do enriquecimento sem causa vem regulado no artigo 473 ss do C.C. Assim, resulta do número 1 do artigo 473 do C.C que “ Aquele que, sem causa justificativa, enriquecer à custa de outrem é obrigado a restituir aquilo com que injustamente se locupletou.”
Segundo João de Matos Antunes Varela “ o credor da obrigação de restituir é a pessoa à custa de quem o enriquecimento se deu; o devedor, aquela que injustamente se locupletou à custa dele”.[footnoteRef:21] [21: JOÃO de Matos Antunes Varela, ob.cit.p.470.] 
Pressupostos do enriquecimento sem causa
· Existência de um enriquecimento;
· Obtenção desse enriquecimento à custa de outrem;
· Ausência de causa justificativa para o enriquecimento.
O regime do enriquecimento sem causa é quase subsidiário, nos termos do artigo 474 do C.C ao referir que “ não há lugar à restituição por enriquecimento, quando a lei facultar ao empobrecido outro meio de ser indemnizado ou restituído, negar o direito à restituição ou atribuir outros ao enriquecimento.”[footnoteRef:22] [22: O instituto do enriquecimento sem causa é praticamente residual ao regime da responsabilidade civil, por exemplo. Através de uma acção de condenação para pagamento ou entrega de coisa certa, o empobrecido pode, também, obter a restituição da coisa que tivera, erroneamente, entregue a terceiro.] 
Segundo Menezes Leitão “ o preceito do número 1 do artigo 473 do C.C apresenta-se como demasiado genérica, não permitindo o tratamento dogmático unitário do enriquecimento sem causa, uma adequada subsunção aos casos concretos, haverá, por isso, que estabelecer uma tipologia de categorias que permita efectuar, através da integração do caso numa dessas categorias, a referida subsunção”.[footnoteRef:23] [23: MENEZES, Leitão, ob.cit.p.440.] 
Modalidades de enriquecimento sem causa
1. O enriquecimento por prestação
O enriquecimento por prestação respeita a situações em que alguém efectua uma prestação a outrem, mas se verifica uma ausência de causa jurídica para que possa ocorrer por parte deste a recepção dessa prestação.
No entendimento de Menezes Leitão “ o requisito fundamental do enriquecimento sem causa é a realização de uma prestação, que se deve entender como uma atribuição finalisticamente orientada, sendo por isso, referida a uma determinada causa jurídica, ou na definição corrente na doutrina alemã dominante como o incremento consciente e finalisticamente orientado de um património alheio”.[footnoteRef:24] [24: MENEZES, Leitão, ob.cit.p.440.
] 
Exemplo: A, pretendendo efectuar uma transferência bancária para a conta 123337, à favor do seu amigo B, por lapso de escrita, no acto de transferência, escreveu 331237 cujo destinatário é C.
Havendo uma prestação indevida, o empobrecido tem o direito a repetição do indevido, nos termos do número 1, do artigo 476 do C.C.[footnoteRef:25] [25: Para a leitura complementar sobre a temática da repetição do indevido, para além das clássicas obras de Direito das Obrigações, vide a obra de “ Domingos Carlos Madeira Júnior, a problemática da fixação do quantum alimentício face ao contraditório deferido, Dissertação de Mestrado, AAFDL, Lisboa, 2019, pag.102.
] 
Para que ocorra a repetição do indevido, será necessário a ocorrência de uma prestação com intenção de cumprir uma obrigação ( animo solvendi), sem que exista uma obrigação subjacente a essa prestação ( indevido objectivo) ou deva ser realizada naquele momento ( cumprimento antecipado)
O primeiro pressuposto referido pelo artigo 476 número 1 do C.C é que algo tenha sido prestado com intenção de cumprir uma obrigação. A lei exige aqui, uma intenção solutoria especifica, sem a qual não se poderá falar de um pagamento indevido, o que permite concluir pela exclusão da condictio indebiti quando o solvens realiza a prestação conhecendo a inexistência da divida.[footnoteRef:26] [26: A lei não exige o erro do solvens, ou seja, de quem realiza a prestação indevida, todavia, conhecendo da inexistência da divida, obviamente, em momento algum faria sentido que o mesmo pretendesse cumprir uma obrigação, salvo se o mesmo, após a prestação indevida declarar a intenção de tornar a prestação como sendo um acto de mera liberalidade ( doação, nos termos do artigo 940 do C.C). Nesta situação, com a declaração superveniente da causa de prestação, já não poderemos falar de enriquecimento semcausa, pois, a prestação passou a ter causa.] 
O segundo pressuposto é o de que a obrigação não existisse no momento da prestação (indevido objectivo). Se a obrigação que o solvens visou extinguir não se chegou a constituir ou já estava extinta quanto a solução ocorrera no caso de a prestação realizada poder ser aposta uma excepção duradoura, que o solvens ignorava.[footnoteRef:27] [27: A obrigação pode existir no momento da prestação, mas respeitar a sujeitos diferentes daquele que recebeu ou realizou a prestação, fala-se assim do indevido subjectivo.] 
Enriquecimento por intervenção
Segundo MENEZES Leitão “ ao referir-se apenas a situações de enriquecimento por prestação, o artigo 473 nº 2 do C.C, omite completamente a situação de alguém obter um enriquecimento através de uma ingerência não autorizada no património alheio, como sucedera nos casos de uso, consumo, fruição ou disposição de bens alheios”.[footnoteRef:28] [28: MENEZES, Leitao,ob.cit.pag.450.] 
Por exemplo, será uma situação de enriquecimento por intervenção, o facto de um passageiro de autocarro que não chega a pagar o seu bilhete de viagem. Haverá, no presente caso, uma situação de enriquecimento por intervenção.
Enriquecimento por despesas efectuadas por outrem
Uma outra categoria de enriquecimento sem causa, que se distingue, quer do enriquecimento por prestação, quer do enriquecimento por intervenção reside no enriquecimento resultante de despesas efectuadas por outrem.
O enriquecimento por despesas efectuadas por outrem sub-divide-se em enriquecimento por incremento de valor de coisas alheias e o enriquecimento por pagamento de dívidas alheias.
O enriquecimento por incremento de valor de coisas alheias esta associado ao acto de um indivíduo ter feito, por exemplo, benfeitorias no bem alheio, na convicção tratar-se sua a coisa ou nas situações de gestão de negócios.[footnoteRef:29] [29: Reveja os conceitos de benfeitorias úteis, voluptuarias e necessárias no Manual de Carlos Alberto Mota Pinto, Pedro Pais Vasconcelos etc. ( Manuais de Teoria Geral de Direito Civil) e artigo 216 do C.C.] 
Enquanto, o enriquecimento por pagamento de dividas alheias, esta associado ao cumprimento de uma obrigação alheia, por erro de quem o demanda.
O exemplo paradigmático será a situação de prestação de alimentos a quem, por lei, o prestador não deveria tê-la feito, mas porque aguarda os resultados do teste para a averiguação de paternidade o faz. Embora, os alimentos tem o carácter de irrestituibilidade, mesmo provando que o prestador não deveria realizar a prestação, isto só isenta ao beneficiário e não aos demais que por lei teriam a obrigação de prestar alimentos.[footnoteRef:30] [30: Para leitura complementar sobre a matéria, vide Domingos Carlos Madeira Júnior “ A problemática da fixação de quantum alimentício face ao contraditório deferido, ob.cit. pag.103”.] 
 A responsabilidade civil como fonte das obrigações
Denomina-se responsabilidade civil o conjunto de factos que originam a obrigação de indemnizar os danos sofridos por outrem. A responsabilidade civil consiste, por isso, numa fonte de obrigações baseada no princípio do ressarcimento dos danos.
A responsabilidade civil pode ser classificada em responsabilidade por culpa, pelo risco ou pelo sacrifício, consoante o título de imputação a que recorra para transferir o dano da esfera do lesado para outrem. Na responsabilidade por culpa, que é a regra geral, 483 nº 1 C.C, a responsabilização do agente pressupõe um juízo moral da sua conduta, que leve a efectuar uma censura ao seu comportamento.
Na responsabilidade pelo risco, admitida só nos casos previstos na lei, 483, nº 2 e 499 ss do C.C, prescinde-se desse juízo de desvalor, efectuando-se a imputação de acordo com critérios objectivos de distribuição do risco.
Na responsabilidade pelo sacrifício, também se prescinde de um juízo de desvalor da conduta do agente, sendo a imputação do dano baseada numa compensação ao lesado, justificada pelo sacrifício suportado.
A responsabilidade por culpa, além da função preventiva e punitiva, a qual se demonstra pela diminuição da indemnização em caso de negligencia, nos termos do artigo 494 do C.C; pela repartição da indemnização em função da culpa dos agentes, em caso de pluralidade de responsáveis, artigo 497, nº 2; pela redução ou exclusão da indemnização em caso de culpa do lesado, nos termos do artigo 570 C.C.
A responsabilidade civil pode ainda ser classificada em responsabilidade civil delitual (extracontratual) e responsabilidade obrigacional ( contratual).[footnoteRef:31] [31: A responsabilidade civil contratual ou obrigacional é a que resulta do incumprimento de um contrato. À respeito, interessa-nos dizer que emergem duas realidades do incumprimento obrigacional: o dever de prestar e o dever de indemnizar. Segundo Menezes Leitão, trata-se de realidades distintas, ou seja, o dever de indemnizar, embora surja do incumprimento do dever de prestar, àquele é autónomo em relação a este.
] 
Na responsabilidade delitual esta em causa a violação de deveres genéricos de respeito, de normas gerais destinadas à protecção doutrem, enquanto a responsabilidade obrigacional resulta do incumprimento das obrigações.[footnoteRef:32] [32: O código tratou separadamente estas duas categorias de responsabilidade nos artigos 483 e ss e 798, ainda que tenha sujeitado a obrigação de indemnização delas resultantes a um regime unitário, nos termos do artigo 562 do C.C. ] 
Diferença entre responsabilidade delitual e obrigacional
Segundo Menezes Leitão “ presume-se a culpa na responsabilidade obrigacional ( art.791 nº 1), mas não na delitual ( art. 487 nº 1).
A responsabilidade delitual tem prazos de prescrição mais curtos ( art.498), enquanto a responsabilidade obrigacional é sujeita aos prazos de prescrição gerais das obrigacionais ( art.309 e ss).
É diferente o regime da responsabilidade por actos de terceiro ( arts. 500 e 800). Em caso de pluralidade de responsáveis na responsabilidade delitual o regime aplicável é o da solidariedade (art.497) ao passo que na responsabilidade obrigacional tal só acontecerá se esse regime já vigorar para a obrigação incumprida.
A responsabilidade civil por factos ilícito
O artigo 483 do C.C consagra o regime da responsabilidade civil subjectiva, fazendo depender a constituição da obrigação de indemnização da existência de uma conduta do agente (facto voluntario), a qual represente a violação de um dever imposto pela ordem jurídica (ilicitude), sendo o agente censurável (culpa), a qual tenha provocado danos (dano), que sejam consequência dessa conduta (nexo de causalidade entre o facto e o dano).[footnoteRef:33] [33: Não haverá lugar a responsabilidade civil subjectiva se, por exemplo, ocorrer um dano por culpa por culpa única e exclusiva do terceiro, o sofredor do dano. Resulta do artigo 505 do C.C que a responsabilidade civil será totalmente excluída quando se provar culpa única e exclusiva da vítima.] 
 São 5 os pressupostos da responsabilidade civil, desde logo, o facto voluntario do agente, ilicitude, culpa, dano e nexo de causalidade entre o facto e o dano.
Facto voluntário do lesante é o primeiro pressuposto. Na verdade, tratando-se de uma responsabilidade civil subjectiva, esta nunca poderia ser estabelecida sem existir um comportamento dominável pela vontade, que possa ser imputado a um ser humano.
Não se exige que o comportamento do agente seja intencional ou sequer que consista numa actuação, bastando que exista uma conduta que lhe possa ser imputada em virtude de estar sob o controle da sua vontade.[footnoteRef:34] [34: A responsabilidade civil pode emergir de uma acção, por via de regra, implicando isto dolo ou mera culpa, tal como resulta do número 1 do artigo 483 do C.C. Outrossim, a responsabilidade subjectiva, também pode emergir de omissão, nos termos do artigo 486 do C.C, para o efeito, será imperioso que a omissão tenha decorrido de uma situação em que o agente estava vinculado a agir. O agente é subjectivae civilmente responsabilizado quando estiver vinculado por um contrato para agir, por lei e ingerência.] 
A ilicitude será o segundo pressuposto da responsabilidade civil. A ilicitude não se aufere em relação ao resultado, mas pressupõe antes uma avaliação do comportamento do agente. De acordo a doutrina da acção final, a ilicitude é avaliada através da prossecução de um fim não permitido pelo Direito. Não há, por conseguinte, ilicitude sempre que o comportamento do agente, apesar de representar uma lesão de bens jurídicos, não prossiga qualquer fim proibido por lei.[footnoteRef:35] [35: No entanto, é preciso distinguir a ilicitude por violação de direitos subjectivos, previsto na primeira parte do número 1, do artigo 483 do C.C ao se referir que “ aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem”. Aqui, o legislador tem em conta a violação de, por exemplo, direitos de personalidades. Imaginemos que A viola o bom nome do Restaurante do B, divulgando falsa informação de que aquele restaurante vende alimentos deteriorados e, em consequência, ocorre uma redução significante da clientela. Há, aqui, violação de direitos subjectivos que deverão ser ressarcidos, nos termos do nº 1 do artigo 483 do C.C conjugado com o artigo 562 do C.C. Outrossim, existe a chamada ilicitude por violação de normas de protecção, previsto na segunda parte do nº 1, do artigo 483 do C..C. Por exemplo, nas situações em que, em violação ao C.E, um condutor circula na faixa contraria a que é recomendado e causa um acidente.] 
As causas de exclusão da ilicitude
Tradicionalmente, a doutrina admite as seguintes causas de justificação ou exclusão da ilicitude:
a) Exercício de um direito
b) Cumprimento de um dever
c) Legitima defesa
d) Acção directa
e) Estado de necessidade
f) Consentimento do lesado
a) Exercício de um direito: A primeira causa de justificação baseia-se no exercício de um direito, considerando-se que, se alguém tem um direito subjectivo e o exerce, não deve responder pelos danos dai resultantes para outrem. Por exemplo: se alguém tiver uma licença de caça poderá caçar num determinado terreno em que tal lhe seja permitido, sem que o seu proprietário possa reclamar indemnização pelos animais abatidos, salvo se agir fora do convencionado.
b) Cumprimento de um dever ou conflito de dever: Efectivamente, vigorando para o sujeito o dever de adoptar determinada conduta, este pode ver-se forcado a acata-la ainda que para isso tenha que infringir outros deveres relativos a posições jurídicas alheias, e cuja infracção normalmente acarretaria a ilicitude do facto. Nessas situações, está-se perante o que se chama de conflito de deveres. Por exemplo: o médico que apenas dispõe de um número limitado de unidades para efectuar transfusões de sangue pode, em caso de excesso de sinistrados, optar por privilegiar os doentes em maior risco, sem que actue ilicitamente.[footnoteRef:36] [36: No entanto, para que haja, efectivamente, um conflito de deveres, excludente da ilicitude, é necessário que o dever seja cumprido, não bastando a simples colisão.] 
c) Legitima defesa. A legítima defesa encontra-se prevista no artigo 337 do C.C e tem como pressupostos: a existência de uma agressão contra a pessoa ou património do agente ou de terceiro, actualidade e contrariedade à lei dessa agressão, impossibilidade de recurso aos meios normais, o prejuízo causado pelo acto não seja manifestamente superior ao que pode resultar da agressão.
d) A acção directa, vem consagrada no artigo 336 do C.C só pode ser utilizada quando estiver em causa um direito subjectivo do próprio agente, não parecendo possível a sua utilização em relação a direitos alheios.
e) Estado de necessidade: outra causa de justificação é o estado de necessidade. Ao contrário do que se sucede na legítima defesa, o estado de necessidade apenas justifica o sacrifício de bens patrimoniais. Estarão aqui, por exemplo, as situações em que o agente resolve arrombar um carro para transportar um ferido inconsciente ao hospital.
f) O consentimento do ofendido: A existência do consentimento retira ao acto lesivo a sua natureza ilícita; exige-se, apenas que os actos consentidos não se apresentem como contrários a uma proibição legal ou aos bons costumes, nos termos do número 2, do artigo 340 do C.C.
A CULPA
A culpa é, no âmbito da responsabilidade civil, um dos importantes pressupostos para se imputar o dano ao causador do mesmo.
No número 1, do artigo 483 do C.C, o legislador exige a culpa do agente para que o dano seja a si imputado. No entanto, torna-se importante não perder de vista que, a culpa não será, unicamente, assacada dos actos dolosos, mas aos actos de mera culpa ou negligencia que venham a causar danos na esfera jurídica de outrem, tal como se fez menção no numero 1 do artigo 483 do C.C.
A culpa é, em regra, o critério para a responsabilidade civil, no entanto, existem as chamadas situações excepcionais em que, mesmo sem culpa, o agente responde pelos danos causados, não por si, mas por pessoas que, sobre a sua direcção, realizavam tarefas do seu interesse, chama-se a isto de responsabilidade objectiva, nos termos do número 2, do artigo 483 do C.C enquanto a responsabilidade oriunda de culpa, prevista no número 1 do artigo 483 do C.C, é subjectiva.
Constituem casos de responsabilidade objectiva, nos termos do número 2 do artigo 483 do C.C, os danos causados no âmbito de comissão, por exemplo, os danos causados pelo condutor de uma carrinha de passageiros pertencentes a alguém que não conduzia, o proprietário. Aqui, provado a existência de comissão, o proprietário, embora não se tenha envolvido directamente no sinistro será, solidariamente, chamado à responsabilidade civil, podendo, ter o direito de regresso, nos termos do artigo 524 do C.C se o mesmo provar que o acidente ocorreu fora de comissão.
Prova da culpa
Nos termos do artigo 487 nº 1 do C.C, incumbe ao lesado a prova da culpa do autor da lesão, salvo havendo presencio legal de culpa. É, em princípio, ao lesado que incumbe apresentar o ónus de prova, nos termos do número 1, do artigo 342 do C.C.
Por vezes, no entanto, a lei estabelece presunções de culpa, nestes casos verifica-se uma inversão do ónus da prova, nos termos do número 1, do artigo 350 do C.C.
Segundo Menezes Leitão “ apesar de as presunções serem genericamente elidíveis, nos termos do numero 2, do artigo 350 do C.C, a verdade é que as dificuldades de prova neste domínio tornam, em caso de presunção de culpa, muito mais segura a obtenção de indemnização pelo lesado, levando assim a que na responsabilidade por culpa presumida a função indemnizatória praticamente apague a função sancionatória”.[footnoteRef:37] [37: MENEZES, Leitão, ob.cit.p.332.] 
Causas de exclusão de culpa
Constituem causas de exclusão de culpa, o erro desculpável, o medo invencível e a desculpabilidade.
O erro desculpável ocorre sempre que a actuação do agente resulte de uma falsa representação da realidade, que não lhe possa, em face das circunstâncias, ser censurada. Por exemplo, no artigo 338 do C.C, sobre os pressupostos da acção directa ou da legítima defesa. Imaginemos que, um individuo esta sendo perseguido numa floresta e na fuga depara com dois homens armados, os quais julga ser malfeitores pelo que, resolve atingi-los a tiros.
A outra causa de exclusão de culpa é o medo invencível. Esta situação ocorre sempre que a actuação do agente tenha sido provocada por um medo que ele não conseguiu ultrapassar, sem que tal lhe possa, em face das circunstâncias, ser censurado. Por exemplo: Uma situação de estado de necessidade subjectivo, em que uma mãe, com o receio de que a doença do seu filho venha a agravar, numa situação em que qualquer outra pessoa assim não entenderia, aquela danifica, durante a madrugada as portas de uma farmácia e de lá , retira alguns fármacos.
Por último, a desculpabilidade constitui outra causa de exclusão de culpa. A desculpabilidade, embora não se verificando do medo e muito menos de erro, constituirá uma situação em que ao agentenão se poderia esperar uma outra conduta, face a uma realidade desculpável. Imagine-se, por exemplo, a situação de um médico que causa danos ao doente numa intervenção cirúrgica de emergência, em virtude de, num estado de emergência geral provocado por uma catástrofe, ter sido obrigado a trabalhar dezoito horas sem o descanso adequado. Neste caso, não obstante a existência do erro médico, as circunstâncias concretas em que ele ocorreu tornam-no desculpável, excluindo assim a indemnização.
Concurso de culpa e culpa única e exclusiva do lesado
A culpa sendo um dos pressupostos importantes para se chegar ao dever de indemnizar, a sua percentagem, ou seja, o comportamento das partes em relação ao dano produzido, determina o nível/grau de culpa o que condiciona o quantitativo indemnizatório.
Resulta do número 1, do artigo 570 do C.C que “ Quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para a produção ou agravamento dos danos, cabe ao tribunal determinar, com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída”.
Assim, o legislador entende que, havendo concurso de culpa do lesado, faz sentido que o lesante não indemnize na íntegra ao lesado. Por exemplo, se de um sinistro provar-se que o lesado teve um dano avaliado em 100.000,00 mts (Cem mil meticais), todavia, o tribunal, na graduação de culpa, atribui-o 30 % de culpa pelo evento sinistro, mormente pelo facto de ter mal estacionado a sua viatura. Neste caso, o lesante não será obrigado a indemnizar no valor do dano real ( 100.000,00 Mts), pois, deste valor será subtraído, proporcionalmente, o valor correspondente a culpa do lesado. 
Portanto, dos 100.000,00 mts, serão subtraídos 30.000,00 mts, devendo o lesado receber 70.000,00 Mts ( Setenta mil meticais).
Outrossim, é a exclusão da responsabilidade civil do lesante devido ao comportamento único e exclusivo do lesado/ vitima, nos termos do artigo 505 do C.C.
Resulta do artigo 505 do C.C que “ Sem prejuízo do disposto no artigo 570, a responsabilidade fixada pelo número 1 do artigo 503, só é excluída quando o acidente for imputável ao próprio lesado ou a terceiro, ou quando resulte de causa de forca maior estranha ao funcionamento do veiculo”.
Imaginemos a seguinte situação: Um indivíduo, na ausência do proprietário da viatura, esconde-se em baixo da viatura. Sucede que, o titular da viatura aparece e liga a ignição, fazendo respectivas manobras e como resultado, atropelou mortalmente o indivíduo que se encontrava em baixo da viatura. Nesta situação, fica difícil censurar o agente por pretensa omissão do dever de cuidado, pois, ao critério do homem de diligência mediana, não se podia pensar que o condutor, sempre que quisesse ligar a ignição para partir, verificasse o que eventualmente encontrar-se-ia em baixo da viatura.
Portanto, nestas situações, o comportamento da vitima fará com que compensação aos seus familiares ( ofendidos) por danos não patrimoniais, mormente a morte seja totalmente excluída.
O DANO
Não menos importante, para se efectivar a responsabilidade civil, será a ocorrência de dano. Não obstante, a ocorrência de um determinado comportamento doloso ou culposo na esfera jurídica de outrem, verdade é que, para efectivação da responsabilidade civil, será necessária a verificação de dano; de contrário não se poderá falar de dever de reparar.
Segundo Luís Menezes Leitão” em termos naturalísticos, entende-se por dano a supressão de uma vantagem de que o sujeito beneficiava. Essa noção não será, porém, suficiente para definir o dano em termos jurídicos, já que as vantagens que não sejam juridicamente tuteladas não são susceptíveis de indemnização. O conceito de dano terá por isso que ser definido num sentido simultaneamente fáctico e normativo, ou seja, como a frustração de uma utilidade que era objecto de tutela jurídica”.[footnoteRef:38] [38: Luis Manuel Teles de Menezes Leitão, ob.cit.p.343.] 
Nesta ordem de ideias, o dano não será analisado apenas numa perspectiva fáctica, ou seja, não basta que ocorra o dano no sentido físico, é necessário que o mesmo dano seja juridicamente tutelavel. Por exemplo: Não será dano juridicamente relevante a destruição de um campo de cultivo de drogas.
Espécies de danos
1. Dano em sentido real e dano em sentido patrimonial: Em sentido real, o dano corresponde à avaliação em abstracto das utilidades que eram objectos de tutela jurídica, o que implica a sua diminuição através da reparação do objecto lesado ( restauração natural) ou da entrega de outro equivalente ( indemnização especifica). Em sentido patrimonial, o dano corresponde à avaliação concreta dos efeitos da lesão no âmbito do património do lesado, consistindo assim a indemnização na compensação da diminuição verificada nesse património, em virtude da lesão.
Assim, se alguém embate na viatura de outra pessoa, o dano em sentido real, consistirá na perda ou na deterioração do automóvel. Já no sentido patrimonial corresponderá às alterações que se verificam no património do lesado em consequência dessa perda ou deterioração, designadamente as despesas do conserto e as importâncias que deixou de auferir em consequência da não utilização do automóvel.
2. Danos emergentes e lucros cessante : O dano ou prejuízo emergente corresponde assim à situação em que alguém em consequência da lesão ve frustrada uma utilidade que já tinha adquirido. O lucro cessante corresponde àquela situação em que é frustrada uma utilidade que o lesado iria adquirir, se não fosse a lesão.
3. Danos presentes e danos futuros: Os danos consideram-se presentes se já se encontram verificados no momento da fixação da indemnização, sendo futuros no caso contrário. A tutela jurídica dos danos futuros vem prevista no artigo 564 nº 2 do C.C.
4. Danos patrimoniais e danos não patrimoniais: Os danos não patrimoniais são, por vezes, designados por danos morais. Danos patrimoniais são aqueles que correspondem à frustração de utilidades susceptíveis de avaliação pecuniária. Os segundos são aqueles que correspondem à frustração de utilidades não susceptíveis de avaliação pecuniária, como o desgosto resultante da perda de um ente querido ou a violação dos direitos de personalidade de alguém, por exemplo, direito a reserva de intimidade da vida privada.
 EXERCICIOS ( Caso prático)
O Instituto Nacional das Actividades Económicas emitiu um regulamento no qual se definiam normas para o acondicionamento do mel de abelha.
Lúcio, apicultor, produziu mel em grandes quantidades e em condições que não respeitavam inteiramente o disposto no regulamento, que se destinava ao fornecimento de várias superfícies comerciais.
Nhama, Urhombo e Bassopa, consumidores, que habitualmente se dirigiam a um desses entrepostos comerciais, foram hospitalizados após terem ingerido mel , pelo facto deste se encontrar estragado.
Armando, conhecido jornalista desse meio regional, publicou uma notícia na qual se divulgava que a hospitalização das pessoas em causa ocorreu após terem ingerido mel de abelha produzido por Lúcio, acrescentando que este não havia respeitado o regulamento.
Em virtude da divulgação desta notícia, as vendas dos produtores do sector diminuíram consideravelmente, e, por isso, pretendem responsabilizar Lúcio pelo Sucedido.
a) Poderão fazê-lo? 
b) Poderão esses mesmos produtores responsabilizar Armando pelo sucedido? Terá viabilidade o respectivo pedido de indemnização pelos prejuízos sofridos? Justifique. 
c) Imagine, agora, que os produtores souberam, na véspera, que Armando preparava-se para publicar tal notícia no jornal do dia seguinte. Alarmados com o que poderia suceder com a divulgação de tal notícia, dirigiram-se as instalações do jornal e destruíram todos os exemplares. O conselho de Administração do jornal pretende que tais produtores respondam civilmente por perdas e danos.
 A Gestão de negócios
Diferentemente das fontes de obrigações que vimos,baseadas em princípios gerais das obrigações, por exemplo, o princípio da autonomia privada, o princípio da responsabilidade patrimonial, o princípio do enriquecimento injustificado, o princípio da responsabilidade civil, o regime de gestão de negócios existem, porém, igualmente casos de fontes das obrigações, que não se podem reconduzir à aplicação de um princípio genérico, constituindo antes previsões específicas, cuja aplicação se restringe a certos casos particulares.
Conceito
Nos termos do artigo 464 do C.C “ Dá-se a gestão de negócios, quando uma pessoa assume a direcção de negócio alheio no interesse e por conta do respectivo dono, sem para tal estar autorizado.
Pressupostos
· Assunção da direcção de negócio alheio;
· Realizado no interesse e por conta do dono do negócio;
· Falta de autorização do dominus (dono do negocio).
Objecto
A gestão de negócios deve incidir numa conduta de facere, ou seja, de acção, não podendo qualificar-se como tal uma conduta omissiva.
Outrossim, a lei não estabelece qualquer distinção quanto ao objecto de gestão de negócio, podendo consequentemente abranger-se não apenas negócios jurídicos, mas também simples actos jurídicos, ou mesmo actos materiais.
A gestão poderá abranger não apenas actos de mera administração, mas também actos de administração extraordinária, ou mesmo de disposição. Não parece, também, que os actos abrangidos tenham necessariamente cariz patrimonial.
No entanto, o objecto da gestão de negócios deve conformar-se com os requisitos do objecto negocial, nos termos do artigo 280 do C.C. Assim, estão excluídos da gestão de negócios os actos contrários à lei, à ordem publica ou ofensivos dos bons costumes, por tal representar uma conduta proibida em relação ao gestor, bem como aqueles em que não seja possível a substituição do dono ( o dominus), por nesse cão não haver qualquer utilidade para este na intervenção do gestor.
Exemplo de gestão de negócio: A, resolve reparar o muro da casa que se encontra em risco de ruína pertencente ao seu vizinho que se encontra ausente, sem noticias do mesmo.[footnoteRef:39] [39: A gestão deve ser assumida no interesse e por conta do dominus. Só faz sentido falar de gestão de negócios, se os os actos praticados pelo gestor tiverem relevância para o dono. A relevância será apreciada pelo critério de homem de diligência mediana, pois, não poderá, por exemplo, após a reparação do murro do vizinho ausente, este recusar-se a reconhecer os actos praticados pelo gestor, com o fundamento de que não constituía vontade sua ver o murro reparado. A vontade do dominus é assacada presumivelmente, ou seja, age-se tendo em conta que o acto praticado pelo gestor será, presumivelmente, a coisa que qualquer homem normal pretenderia que fosse feito na sua ausência para acautelar os seus interesses.] 
Intenção de gestão
A norma do artigo 464 do C.C, ao referir que a gestão deve ser realizada por conta do dono do negocio, vem exigir uma intenção especifica do gestor de actuar para outrem, sem o que não se verifica a gestão de negócios, como é confirmado pelo artigo 472 do C.C ao determinar que quando o gestor actua , desconhecendo a alienidade do negocio, não se aplica imediatamente o regime da gestão. Deve existir, do lado do gestor, animus aliena negotia gerendi.
Falta de autorização
Não poderemos falar do regime de gestão de negócios se, os actos praticados pelo gestor forem praticados a mando do dominus . Quando a intervenção do gestor for legitimada pelo dono, por exemplo, por via de procuração, mandato ou contrato de prestação de serviços, não se pode qualifica-la como sendo gestão de negócios.
Deveres do gestor para com o dono do negócio
O artigo 465 refere-se aos deveres do gestor para com o dono do negócio, sendo mencionada no artigo 466 a constituição do gestor em responsabilidade para com o dono de negócio.
Haverá obrigatoriedade do gestor prosseguir com a gestão uma vez iniciada?
Segundo Menezes Leitão, não esta legalmente consagrada uma obrigação de continuar a gestão ate determinado terminus ad quem , uma vez que a lei se limita a responsabilizar o gestor pelos danos que causar com a interrupção injustificada da gestão. Assim, o que a lei consagra é um dever especifico de protecção do dominus, através do qual o gestor é responsabilizado se interromper injustificadamente a gestão numa situação susceptível de lhe causar danos.
Nos termos do artigo 465 do C.C o gestor tem a obrigação de exercer a gestão em conformidade, com o interesse e a vontade, real ou presumível do dono do negócio, sempre que esta não seja contrária a lei, à ordem pública, ou ofensiva dos bons costumes.
A responsabilidade do gestor
Resulta do artigo 466 do C.C. que o gestor será responsável pelos danos que causar com culpa sua no exercício da gestão como com a injustificada interrupção desta, considerando-se culposa a sua actuação sempre que ele agir em desconformidade com o interesse ou a vontade, real ou presumível do dono do negócio.
Segundo Menezes Leitão, o gestor deve ficar sempre sujeito à diligencia do bom pai de família, prevista no artigo 487 nº 2 do C.C, uma vez que a intervenção do gestor se apresenta sempre como uma forma de realizar uma prestação ao dominus, não se encontrando razão para que a diligencia no exercício dessa prestação seja apreciada de forma diferente do que o que resulta do regime geral das obrigações.
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