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Isabela Lobo Lima 1 Choque CONCEITO Choque é uma síndrome caracterizada pela incapacidade do sistema circulatório de fornecer oxigênio aos tecidos, levado à disfunção orgânica. A. Hipotensão arterial pode estar presente, porém não é fundamental para diagnóstico de choque. B. Choque é um estado de hipoperfusão e não hipotensão arterial. Diagnóstico baseado em três variáveis: 1. Hipotensão + taquicardia (PAS pode estar na variação “normal”, principalmente em pacientes hipertensos. 2. Achados de hipoperfusão periférica: a. Extremidades frias (muitas vezes associado a cianose) b. Oligúria (diurese < 0,5mL/kg/h) c. Manifestações de baixo DC no SNC (sonolência, confusão e desorientação). 3. Hiperlactatemia (quando ocorre hipoperfusão e oferta deficiente de o2 para os tecidos e células, essas passam a realizar glicólise anaeróbica com produção de lactato). CLASSIFICAÇÃO Hipovolêmico, distributivo e cardiogênico, obstrutivo. 1. Hipovolêmico a. Hemorrágico i. Relacionado ao trauma ii. Não relacionado ao trauma (HD, dissecação aórtica com ruptura, aneurisma roto, sangramento espontâneo ou causa iatrogênica (hemotórax, hemoperitônio). b. Não hemorrágico: perdas pelo TGI (diarreia, vômitos), diurese excessiva, perdas para 3º espaço (pancreatite aguda, obstrução intestinal), queimadura e síndromes hipertérmicas. 2. Obstrutivo: tamponamento cardíaco, obstrução do débito de VD (embolia pulmonar, hipertensão pulmonar aguda), pneumotórax hipertensivo, tumores mediastinais e SVCS. 3. Cardiogênico a. Com edema pulmonar: SCA e complicações, ICC avançada, miocardite aguda, arritmias, valvopatias e disfunção cardíaca pós-PCR. b. Sem edema pulmonar: infarto agudo do VD. 4. Distributivo: choque séptico, anafilaxia, insuficiência adrenal aguda e choque neurogênico (TRM). The Mottling Score: avalia a alteração da coloração da pele. Isabela Lobo Lima 2 FISIOPATOLOGIA Pequenas alterações na PA média (PAM) ou no metabolismo de oxigênio ativam barorreceptores e quimiorreceptores localizados no arco aórtico, átrio direito, corpo carotídeo, vasculatura esplâncnica, aparelho justaglomerular e no sistema nervoso central, culminando com uma série de respostas compensatórias (ativa SRAA, libera catecolaminas nas terminações simpáticas e medula adrenal, aumenta ACTH e cortisol, libera vasopressina pela neuro-hipófise, aumenta glucagon, reduz insulina e aumenta endotelina). Como consequência tem-se: aumento da contratilidade do miocárdio e da frequência cardíaca, vasoconstrição arterial e venosa, redistribuição da volemia (priorizando o SNC e o miocárdio), aumento da reabsorção de sódio e água pelos rins, aumento da extração de oxigênio e aumento da oferta de substratos (gliconeogênese, glicogenólise, lipólise e aumento do catabolismo proteico). Objetivo: restaurar a perfusão periférica e corrigir o desequilíbrio no consumo de oxigênio. O metabolismo aeróbio é substituído pelo anaeróbio, depleção de ATP, aumento de lactato e acidificação intracelular. A persistência desse desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio e/ou substratos culmina com ativação inflamatória sistêmica e lesão micro-vascular e celular, levando à disfunção orgânica (p. ex., lesão renal aguda, alteração neurológica, dano pulmonar/hipoxemia, disfunção cardíaca). Mecanismos compensatórios e ativação imunológica-inflamatória: a hipoperfusão tecidual é capaz de ativar uma resposta inflamatória sistêmica, ocasionando estase microvascular, ativação de macrófagos, neutrófilos, linfócitos e plaquetas e trombose. Isso leva a um círculo vicioso no qual a resposta inflamatória piora a hipoperfusão, amplificando ainda mais essas respostas patológicas. Mecanismos compensatórios › inflamação/lesão celular e microvascular › lesão celular irreversível ETIOLOGIA CHOQUE HIPOVOLÊMICO: inadequado DC, devido a perda de volume. Fisiopatologia: depleção volêmica › diminuí a pressão de enchimento do coração (inicialmente compensada pela taquicardia) › aumento da atividade simpática com venoconstrição acentuada › respostas compensatórias › aumenta consumo de O2 pelos tecidos › queda da saturação venosa mista de O2 › aumenta a diferença do conteúdo de O2 arterial e venoso. Com a manutenção da hipoperfusão › aumenta metabolismo anaeróbico › depleção de ATP › aumenta produção de lactato e H+ › acidificação intracelular › dano mitocondrial › lesão endotelial › ativação e agregação plaquetária › coagulopatia, estase e trombose microvascular. 1. Hemorrágico a. Relacionado ao trauma: hipovolemia + grande destruição tecidual + atividade inflamatória sistêmica intensa. Mecanismo adicional ao choque (lesão tecidual/fratura óssea, contusão miocárdica e choque obstrutivo: tamponamento cardíaco ou pneumotórax). Isabela Lobo Lima 3 b. Não relacionado ao trauma 2. Não hemorrágico CHOQUE OBSTRUTIVO: consequência de uma obstrução mecânica ao fluxo sanguíneo › redução do DC e perfusão sistêmica. Tamponamento cardíaco (TBC, trauma, infecções bacterianas e virais) obstrução do débito de VD (embolia pulmonar, hipertensão pulmonar aguda), aumento da pressão intratorácica (pneumotórax hipertensivo e VM com altos valores de PEEP), tumores mediastinais e SVCS. CHOQUE CARDIOGÊNICO: hipoperfusão sistêmica + hipotensão, devido a grave disfunção cardíaca, geralmente, associado a edema pulmonar. Ciclo vicioso › hipoxemia + hipotensão › reduz mais a pressão de perfusão coronariana › isquemia e lesão miocárdica progressiva. Eventualmente, o paciente em choque cardiogênico pode não apresentar edema pulmonar. CHOQUE DISTRIBUTIVO: causa mais importante e frequente é o choque séptico. O mecanismo central da sepse: ativação imunológica e inflamatória › ativa plaquetas, neutrófilos, monócitos, aumento de fatores pró-coagulantes e redução da fibrinólise. A hipóxia tecidual amplifica a inflamação e as vias pró-coagulantes › pioram mais a perfusão periférica › lesão endotelial › aumento da permeabilidade vascular › aumento da síntese de NO. Do ponto de vista hemodinâmico: a fase inicial da sepse é caracterizada pela resistência vascular sistêmica baixa, débito cardíaco normal ou aumentado e pressões de enchimento de ventrículo esquerdo normais ou um pouco diminuídas. Mesmo quando o débito cardíaco está aumentado, sempre ocorre algum grau de depressão miocárdica, como demonstrado pela presença de fração de ejeção ventricular esquerda relativamente diminuída. Em fases avançadas, essa depressão miocárdica é ainda maior, podendo cursar com baixo débito cardíaco. Na microcirculação, existem áreas com fluxo sanguíneo excessivo em áreas de demanda metabólica normal e fluxo sanguíneo diminuído em áreas de demanda metabólica aumentada, fenômeno descrito como shunt. A consequência final será o desvio para o metabolismo anaeróbio, hiperlactatemia e acidemia. ACHADOS CLÍNICOS Em situações de baixo DC: priorizar os órgãos nobres (cérebro e coração). Avaliação de extremidades: tempo de enchimento capilar aumentado (> 4,5s) › relacionado a vasoconstrição periférica (mecanismo comum em fases iniciais de situações de baixo DC). Reenchimento capilar lentificado associado à diminuição de temperatura de membros é um achado bastante sugestivo de situações de baixo débito cardíaco. Exame cardiovascular: FC, PA, avaliação de estase jugular, ausculta cardíaca nos quatro focos principais e palpação dos quatro pulsos periféricos. Hipotensão: forma mais comum de apresentação do paciente em choque. Preditor independente de mortalidade (especialmente se PAS <80mmHg – de forma sustentada (> 1 hora). Hipotensão não é obrigatória no diagnóstico de choque e em razão disso, deve Isabela Lobo Lima 4 ser dada maior atenção aos sinais de hipoperfusão tecidual: 1. Taquicardia 2. Taquipneia 3. Extremidadesfrias e sudoreicas 4. Pele com livedo ou mosqueamento, 5. Tempo de reenchimento capilar aumentado 6. Alteração aguda do nível de consciência 7. Oligúria Taquicardia: resposta fisiológica normal á diminuição do VS. Eventualmente, a bradicardia pode ser a causa do estado de choque. Por isso, FC inapropriadamente baixas diante de hipotensão devem ser corrigidas. Temperatura corporal: via retal, membrana timpânica ou esôfago. Oximetria de pulso: pode mostrar hipoxemia (se vasoconstrição intensa, perdemos o sinal). ACHADOS DE ACORDO COM A ETIOLOGIA DO CHOQUE HIPOVOLÊMICO: traumas, sangramento ativo ou recente, diarreia e perda de líquido para o 3º espaço. Pode ser dividido em 4 classes: CARDIOGÊNICO: antecedentes sugestivos (IC avançada, IAMs prévios), sintomas de SCA atuais, turgência jugular, ictus desviado, 3ª bulha, hepatomegalia dolorosa e edema de MMII. OBSTRUTIVO: Tamponamento cardíaco: estase venosa jugular, ausculta pulmonar sem congestão, abafamento de bulhas, pulso paradoxal. Pneumotórax Hipertensivo: dispneia intensa, muitas vezes súbita (pneumotórax espontâneo) ou associada ao politrauma; diminuição assimétrica da ausculta pulmonar com timpanismo à percussão, traqueia desviada à palpação. Embolia Pulmonar: história sugestiva, FR, taquicardia, hipotensão, hipoxemia e sinais de falência de VD. DISTRIBUTIVO: Anafilaxia: inicia-se, geralmente, após fator desencadeante como anestesia, uso de fármacos, picada de insetos e alimentos. Associado a prurido, rash cutâneo, rouquidão, dispneia, cornagem, sibilos e manifestações de TGI. Isabela Lobo Lima 5 Choque Neurogênico: trauma cervical, que ocasiona perda do tônus simpático, com manutenção do parassimpático. profunda Vasodilatação, com extremidades quentes, na ausência de taquicardia (algumas vezes, até com bradicardia). ULTRASSOM À BEIRA DO LEITO (POCUS) Abordagem do paciente com choque na emergência (tabela e algoritmo). Com o US, o emergencista pode avaliar rapidamente: 1. VCI: distendida/ingurgitada? Colaba com a respiração? 2. Função global de ventrículo esquerdo: hiperdinâmica? Baixa contratilidade global? 3. Efusão pericárdica com tamponamento. 4. Pneumotórax hipertensivo. 5. Indícios de embolia pulmonar grave: VD dilatado e hipodinâmico. 6. Hipovolemia: sangramento na cavidade abdominal, gravidez ectópica rota. 7. Eventualmente, a etiologia do foco infeccioso (p. ex., pneumonia, abscesso em órgãos, colangite etc.) Achados de acordo com o tipo de choque e utilidade do ultrassom Isabela Lobo Lima 6 Isabela Lobo Lima 7 É importante ressaltar que o algoritmo de identificação do choque é baseado no DC ou na SVcO2 – (avaliar a relação global entre oferta e consumo de oxigênio – reserva de oxigênio). EXAMES COMPLEMENTARES Divididos em 2 grupos: • Exames gerais: independentes do tipo de choque o Exames gerais: hemograma, eletrólitos, glicemia e exame de urina, RX de tórax e eletrocardiograma (ambos na sala de emergência) o Avaliação fisiológica, inflamatória e de lesão orgânica: § Ureia e creatinina § Exames de coagulação (TP, TTPA), fibrinogênio e D- dímeros § (TGP), (TGO) e Bb § Gasometria arterial § Lactato (arterial ou venoso central) § Proteína C reativa ou procalcitonina o Avaliação hemodinâmica não invasiva: USG (VCI, função global de VE e DC). • Exames específicos: o Hemocultura, urocultura, cultura de outros sítios (p. ex., pleural, abscesso) o Punção liquórica o Teste de gravidez o Ecocardiografia transesofágica o Tomografia: crânio, coluna, tórax, abdominal, pélvica OBSERVAÇÕES IMPORTANTES A. Lactato: falta de O2 › piruvato não entra na mitocôndria › metabolizado a lactato › 2 ATPs › acúmulo de H+ e lactato i. Pode estar elevado por: aumento da produção (metabolismo anaeróbico), diminuição na captação (insuficiência hepática e nefropatia) e pelo fenômeno de lavagem (ao repor a volemia, libera o lactato que estava represado). ii. Não é bom indicador de perfusão regional. iii. Funciona bem como indicador de gravidade e mortalidade. iv. Sua queda indica melhor prognóstico. v. Apenas valores arteriais ou venosos centrais devem ser usados. Não usar de acesso venoso periférico. B. Base excess – BE: é a quantidade de íons H+ que devem ser adicionados em uma solução para que o pH fique normal. Valores menores que –3 mmol/L são indicativos de acidose metabólica. Os valores de excesso de bases correlacionam- se bem com a presença e gravidade do choque. Servem também como adjuvantes para a monitorização da reposição de fluidos e seus valores se normalizam com a restauração do metabolismo aeróbio. Isabela Lobo Lima 8 C. Saturação venosa central de O2 (SvcO2): correlaciona-se bem com o balanço entre oferta e consumo de oxigênio global, isto é, a soma de todos os leitos vasculares. i. Uma SvcO2 normal não indica oxigenação tecidual adequada, já que é uma medida global e não uma medida de cada região. ii. Já uma SvcO2 < 70% correlaciona-se com um balanço desfavorável entre a oferta e o consumo de oxigênio D. Hemoculturas: na suspeita de infecção, é importante a coleta de culturas seguida de antibioticoterapia empírica, guiada pelo quadro clínico e pela suspeita do foco inicial. O retardo para o início de antibiótico está associado a aumento de mortalidade na sepse. MONITORIZAÇÃO DO TRANSPORTE DE OXIGÊNIO Utilizada para avaliar oferta e consumo de oxigênio. 1. Oferta de oxigênio indexada (DO2): produto do conteúdo de oxigênio no sangue arterial (CaO2) x índice cardíaco (IC) x 10 (para transformar o resultado para mL/minuto/m2 a. Conteúdo arterial de oxigênio (CaO2): CaO2= (1,34 x SaO2 x Hb) + (0,003 x PaO2 b. Consumo de oxigênio indexado (VO2) b. Hemoglobina (Hb) é um importante fator na equação, todavia, como rotina, indica-se transfusão se Hb < 7 g/dL, com a meta de mantê-la entre 7 e 9 g/dL. 2. Consumo de oxigênio indexado (VO2): diferença entre o conteúdo de oxigênio no sangue arterial e o conteúdo de oxigênio no sangue venoso (CaO2 – CvO2) multiplicada pelo índice cardíaco (IC) x 10 (para transformar o resultado para mL/minuto/m2 a. VO2 = IC x 1,34 x Hb x (SaO2 - SvO2). 3. Balanço no transporte de oxigênio: depende da relação entre oferta (DO2) e consumo (VO2). Se a oferta não consegue atender ao consumo, o organismo será obrigado a realizar metabolismo anaeróbio com consequente acidose lática e morte celular. Portanto, manter uma DO2 otimizada tem sido uma estratégia comum em pacientes graves. 4. Acidose, febre e hipercapnia: deslocam para a direita a curva de dissociação da hemoglobina, aumentando, portanto, a oferta de O2. 5. Saturação venosa central de O2 (SvcO2): correlaciona-se bem com o balanço entre oferta e consumo de oxigênio global, isto é, a soma de todos os leitos vasculares. Uma SvcO2 normal não indica oxigenação tecidual adequada, já que é uma medida global e não uma medida de cada região. Já uma SvcO2 < 70% correlaciona-se com um balanço desfavorável entre a oferta e o consumo de oxigênio. Isabela Lobo Lima 9 TRATAMENTO Reconhecer o choque nas fases inicias e tratar de forma agressiva. Quanto mais precoce o tratamento, melhor o prognóstico. Fases: 1. Salvamento ou resgate: restaurar a hemodinâmica, com PAM e DC compatíveis com a sobrevida. 2. Otimização: manter a normalidade de oxigenação e perfusão sistêmica 3. Estabilização: reduzir ou prevenir disfunção orgânica e minimizar as complicações. 4. Redução: reduzir o uso de drogas vasopressoras e suspendê-las, promover diurese espontânea e reduzir sobrecarga de volume. SOER O tratamento inclui dois principais aspectos, realizados concomitantemente (figura): 1. Restaurar rapidamente a perfusão e a oferta de O2 aos órgãos vitais: a. Ressuscitaçãocom fluidos b. Vasopressor, se indicado c. Suporte respiratório e correção da hipoxemia 2. Identificação e tratamento da causa de base. Assim, a atitude imediata e mais importante em casos específicos de choque é tratar a causa. OBS: É importante lembrar que, se o paciente necessitar de noradrenalina, ela pode ser iniciada em veia periférica calibrosa (antecubital ou jugular externa), mas não em veias distais ou de membros inferiores; a infusão pode ser mantida por algumas horas, até que um cateter venoso central seja passado com segurança. Não se deve deixar o paciente em choque por receio de iniciar noradrenalina em veia calibrosa periférica. Também não se deve passar um cateter central às pressas (mantendo o paciente chocado nesse intervalo). Inicie a noradrenalina e estabilize o paciente. RESTAURAR PERFUSÃO E A OFERTA DE O2: 1. RESSUSCITAÇÃO 2. VASOPRESSOR, SE PRECISO 3. SUPORTE VENTILATÓRIO E CORRECAO DA HIPOXEMIA IDENTIFICAR E TRATAR A CAUSA BASE SE NORADRENALINA › INICIE NORADRENALINA E ESTABILIZE O PACIENTE Isabela Lobo Lima 10 M.O.V: é a sigla para monitorização, oxigênio e veia. Realizar monitorização cardioscópica, de pressão arterial e de oximetria de pulso › obtêm-se os principais sinais vitais. Oxigênio suplementar deve ser oferecido se a SatO2 for menor que 90% ou se paciente for de risco para hipoxemia (paciente com DPOC ou IC e dispneia). Por fim, providenciar um acesso venoso de grosso calibre (veias antecubitais) › coletar exames. Especialmente nos casos de rebaixamento do nível de consciência ou crises epilépticas, ou crise epiléptica, o exame de glicemia capilar deve ser realizado logo à chegada. Isabela Lobo Lima 11 RESSUSCITAÇÃO COM FLUIDOS: ocasiona melhora no fluxo sanguíneo microcirculatório e aumento do débito cardíaco. Bloqueia o círculo vicioso do choque e diminui a necessidade de vasopressores. Um dos mais importantes passos no tratamento do paciente em choque. Mesmo no choque cardiogênico, pequenas ofertas de volume podem ser conduzidas, exceto no paciente em franco edema pulmonar. Essa reposição de fluidos deve ser feita de forma seriada, observando-se a resposta do paciente, com todo esforço para evitar edema pulmonar por hipervolemia. De maneira geral, os principais aspectos são: 1. Acesso venoso: dois acessos venosos calibrosos (antecubitais e/ou jugular externa). 2. Escolha da solução inicial: ainda é tema controverso e nem coloides nem cristaloides parecem ser superiores um ao outro, porém o custo das soluções cristaloides é bem menor e, por isso, são as recomendadas (cristaloides mais usados: plasma, SF 0,9%, Plasma-Lyte e RL). 3. Quantidade de cristaloide: a. Em geral, de 20 a 40 mL/kg nas primeiras horas. b. Bolus adicionais podem ser repetidos. c. A avaliação do estado hemodinâmico deve ser feita com a monitorização de perto e frequente da frequência cardíaca, pressão arterial, exame cardiovascular, tempo de reenchimento capilar e avaliação de pele e mucosas. d. O grande diferencial é a avaliação de perto e frequente e. Ultrassom de beira de leito fornece evidência direta e rápida da volemia e da resposta hemodinâmica a cada prova de volume. OBTER ACESSOS VENOSOS CALIBROSOS ESCOLHER A SOLUÇÃO INICIAL – CRISTALÓIDE COM MENOR CUSTO ADEQUAR A QUANTIDADE Isabela Lobo Lima 12 DROGAS VASOATIVAS: em pacientes que não corrigiram a hipotensão com a ressuscitação volêmica ou aqueles que já apresentam grave hipotensão, o uso de vasopressor é recomendado. 1. Noradrenalina: efeitos alfa e beta-adrenérgicos (principalmente alfa 1 e beta 1), potente vasoconstritor e 1ª escolha quando há necessidade de elevar a PAM, rapidamente, em paciente não responsivo a ressuscitação. Principal efeito adverso: taquiarritmia. 2. Dopamina: a. Em doses baixas (<3): efeitos dopaminérgicos. b. Em doses intermediárias (5-10): predomina efeitos beta-adrenérgicos, com aumento do inotropismo e da FC. c. Em doses altas (>10): predomina efeitos alfa-adrenérgicos, com aumento da RVP e da PA. d. Está associada a maior incidência de taquiarritmias (mais do que a noradrenalina). e. Pode ser útil em casos de bradicardia + hipotensão 3. Dobutamina: efeito predominante nos receptores beta-adrenérgicos. Apresenta efeitos inotrópicos e cronotrópicos positivos, discreta vasodilatação sistêmica e propriedades positivas na microcirculação. A dobutamina pode ser útil no tratamento de choque cardiogênico. Os efeitos adversos são: pode piorar a hipotensão em pacientes com depleção de volume, causa arritmias e aumento de consumo de O2 pelo miocárdio. 4. Epinefrina (adrenalina) ou vasopressina: a. Epinefrina: 1ª escolha em pacientes com choque anafilático (propriedades broncodilatadoras, reduz edema de via aérea, aumenta contratilidade cardíaca e um potente vasoconstritor). Terapia de resgate: pode ser usada juntamente com a noradrenalina nos casos de pacientes que permanecem em choque e já está em uso de altas doses de noradrenalina. Efeitos adversos: taquiarritmia (é a que mais causa), piora do fluxo esplênico e aumento do lactato. b. Vasopressina: atua nos receptores V1 (células musculares lisas dos vasos), pode ser indicada no choque séptico (em pacientes que persistem hipotensos com doses moderadas de noradrenalina e iniciaram hidrocortisona). O efeito da vasopressina é diminuir a necessidade de noradrenalina. Efeitos adversos: bradicardia, isquemia de órgãos e extremidades. 5. Inibidor da fosfodiasterase 3: agente inotrópico positivo com propriedades vasodilatadoras. Dose deve ser ajustada de acordo com o clearence de creatinina. É uma alternativa quando o objetivo é o aumento da contratilidade cardíaca (disfunção sistólica grave de VE). Possui ação vasodilatadora em circulação pulmonar, podendo ser usado em caso de disfunção grave de VD. Pode piorar a hipotensão em paciente com depleção de volume. Isabela Lobo Lima 13 Em casos de choque refratário deve-se perguntar se há alguma causa ou motivo para a inadequada resposta à noradrenalina: a hipovolemia foi corrigida? A noradrenalina está sendo infundida? HIPOXEMIA E INSUFISCIÊNCIA RESPIRATÓRIA: é imprescindível melhorar a oferta de O2 as células. Oximetria de pulso não é confiável portanto, deve-se usar a gasometria arterial. • Pode-se iniciar com máscara de O2 ou cânula nasal de alto fluxo. • Em pacientes com hipoxemia refratária e/ou grave, deve-se considerar a IOT de sequência rápida, seguida de VM. • Evitar Midazolam e Propofol (causam hipotensão). • Quetamina ou etomidato são as melhores opções. OUTROS TÓPICOS RELEVANTES: • Hidrocortisona: indicado para pacientes que persistem hipotensos no uso de noradrenalina ou que necessitam aumentar a BIC constantemente para manter a PAM > ou igual a 65 mmHg. • Insulina: pacientes com glicemia acima de 180 mg/dL devem receber insulina regular IV. Todo cuidado deve ser tomado a fim de evitar a hipoglicemia. • Profilaxia de tromboembolia venosa: profilaxia farmacológica e/ou mecânica (se não houver contraindicações): o Farmacológica: HBPM 1x/dia (enoxaparina, dalteparina) o Mecânica: dispositivos de compressão pneumática intermitente o Se houver contraindicação na profilaxia farmacológica • Profilaxia de sangramento digestivo: indicado se houver risco como VM >48 horas, coagulopatia e necessidade de vasopressor. o Antagonista H2: ranitidina o IBP: omeprazol • Transfusão de hemácias: em geral, deve-se evitar transfusões rotineiras apenas para se obter níveis mais elevados de Hb. Assim, indica-se hemotransfusão se valor de HB < 7mg/dL com meta de mantê-la entre 7-9 mg/dL, exceto em casos como isquemia miocárdica, hipoxemia muito grave e choque hemorrágico em que a hemotransfusão pode ser mais liberal.