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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Abordagem inicial ...................................................... 3 3. Etiologias ....................................................................... 4 4. Anamnese e exame físico ...................................... 5 5. Solicitação de exames ...........................................11 6. Manejo..........................................................................13 7. Resolução ...................................................................15 8. Delirium ........................................................................15 9. Crises convulsivas ...................................................21 10. Tontura e desmaio ................................................28 Referências bibliográficas ........................................31 3ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 1. INTRODUÇÃO Para se entender a alteração do nível de consciência, é necessário entender o que é consciência. A consciência é o perfeito conhecimento de si pró- prio e do ambiente. O rebaixamento do nível de consciência (RNC) é um dos diagnósticos sindrômicos mais frequentes e mais importantes numa emergência, possuindo uma grande quantidade de etiologias diferentes. Independentemente da etiologia, a presença de alteração de cons- ciência é sempre indicativa de gravidade, pois traduz a falência dos mecanismos que promovem sua manutenção. Pode afetar pacientes de qual- quer faixa etária e pode se manifestar de forma variada, desde desorienta- ção temporo-espa- cial até um estado de coma profundo. Na prá- tica clínica é extremamente comum o médico se depa- rar frente a um paciente com altera- ção do nível de consciência. Dentre as etiologias comuns que ocasionam essa alteração estão as causas meta- bólicas, tóxicas e infecciosas. 2. ABORDAGEM INICIAL O papel inicial do médico ao receber um paciente é avaliar o seu nível de consciência. Pacientes orientados e com nível de consciência preservado pode-se continuar a avaliação. Pa- cientes rebaixados, principalmente comatosos, é preciso verificar a respi- ração e o pulso, para avaliar a neces- sidade de RCP. Pacientes que não respiram, mas que estão com pulso preservado, verificar possibilidade de obstrução de via aérea e posterior necessidade de intubação orotraque- al (IOT). A figura abaixo esque- matiza essa abordagem com base no ABC: CHECAR NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Consciente Orientado Presente Ausente Proceder com história Checar respiração RNC Checar pulso Presente Ausente Checar obstrução de vias aéreas Iniciar RCP Considerar IOT 4ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Após a abordagem inicial, deve-se proceder à história e ao exame físico, procurando identificar o diagnóstico diferencial. Nesse momento é crucial determinar se existem sinais localiza- tórios (lesões estruturais do sistema nervoso central), inclusive pares cra- nianos (lesão de tronco cerebral). Na maior parte dos casos, a anamnese cuidadosa e exame físico vão direcio- nar a uma curta lista de possibilidades e ao início imediato do tratamento. 3. ETIOLOGIAS São diversas as etiologias que podem ocasionar alteração da consciência. Para facilitar, o mnemônico AEI-OU- -TIPS ajuda a lembrar a extensa lista de diagnósticos diferenciais. Algumas causas e seus achados estão descri- tos na tabela logo a seguir. MNEMÔNICO “AEI-OU-TIPS” A Álcool/ acidose E Epilepsia/ encefalopatia/ eletrólitos/ endócrino I Infecção (sepse, meningite) O Overdose (álcool, medicação)/ opióde U Uremia T Trauma/ toxicidade I Insulina (diabetes) P Psicose S Stroke (AVCi ou VCh) 5ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA SE LIGA! Deve-se estar atento para as populações específicas para descartar os diagnósticos mais prevalentes. Em uma população idosa, o rebaixamento do nível de consciência (RNC), frequen- temente, está associada, pelo grande número de medicações, a overdose aci- dental, interações medicamentosas e reações adversas. Além disso, algumas infecções também podem ser a causa do RNC nos idosos, principalmente in- fecções de trato urinário, vias aéreas su- periores ou gastroenterites virais. Já os imunocomprometidos são susceptíveis a infecções oportunistas pouco preva- lentes na população em geral. 4. ANAMNESE E EXAME FÍSICO Anamnese Um paciente que apresenta RNC di- ficilmente conseguirá fornecer uma história adequada ou confiável. As- sim, essas informações devem ser coletadas de um acompanhante do paciente (familiares, amigos, poli- ciais, profissionais do atendimento pré-hospitalar). Essas informações incluem achados da cena do atendi- mento inicial, como presença de fras- cos de medicamentos vazios. Além disso, o inicio de instalação da altera- ção do nível de consciência também é essencial, visto que um início súbito CAUSA ACHADOS TRATAMENTO COMENTÁRIOS Hipoglicemia Diaforese, bomba de insulina Glicose 50% 40 ml IV - Hiperglicemia Taquipneia, náusea, vômitos, dor abdominal, desidratação Cristaloides IV, insulina - Sepse Critérios qSOFA, sinais de hipo- perfusão, delirium Cristaloides IV, antibiótico dirigido, controle do foco - Hiponatremia Confusão de piora progressiva, cefaleia, anorexia, crise convulsiva Restrição de água livre, solução salina hipertônica se houver convulsão Efeito colateral de diversas medicações Hipernatremia Letargia, poliúria, LRA, constipação Cristaloides IV Suspeitar de malignidade. É causa de diabetes insípi- dus nefrogênico Uremia Náusea, vômitos, anorexia, fadi- ga, hálito amoníaco Tratar hipercalemia, hemodiálise Procurar alterações de hipercalemia no ECG Encefalopatia hepática Flapping, ascite, hálito hepático e outros sinais de hepatopatia Lactulose, considerar clister via retal Deve-se excluir sepse, san- gramento gastrointestinal Crise tireotóxica Febre, taquicardia, sudorese e diarreia Cristaloides IV, consi- derar betabloqueador e propiltiouracil - Hipoglicemiantes Pacientes mais velhos com piora da função renal, overdose intencional. Glicose 50% 40 ml IV - 6ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA sugere causas mais agudas como AVC, crise convulsiva, alteração car- díaca, intoxicação; enquanto uma progressão mais lenta pode sugerir um processo infeccioso, alterações metabólicas ou tumores cranianos. Além disso, sintomas que precedam o RNC também são importantes, como cefaleia intensa de início súbito (su- gestivo de hemorragia intracraniana, trombose de venosa central ou dis- secção de artéria cervical), febre ou infecção prévia (encefalite), histórico de depressão (overdose medicamen- tosa proposital ou efeitos adversos de psicotrópicos). A história medica- mentosa do paciente deve ser colhida de forma cuidadosa, com atenção es- pecial a alterações recentes de medi- camentos e ajustes de doses, além do histórico médico do paciente, descre- vendo comorbidades presentes que podem levar a distúrbios metabólicos e eletrolíticos, principalmente. Exame físico O exame físico deve ser feito de forma sistemática, começando com a ava- liação dos sinais vitais, seguido pela solicitação da medida da glicemia capilar. Quanto ao exame físico, uma temperatura aumentada fala a favor de uma infecção, mas também pode ocorrer em outras condições como in- toxicação por salicilatos. Já uma tem- peratura diminuída pode falar a favor de uma exposição ao ambiente, mas também está presente em condições de sepse ou de hipotireoidismo. Hi- potensão associada a RNC aponta para choque resultando em hipoper- fusão cerebral. Já hipertensão pode ser um sinal de, por exemplo, intoxi- cação (principalmente por cocaína), abstinências (álcool ou opioides), in- farto cerebral ou do tronco encefálico, subaracnóidea, síndrome da ence- falopatia posterior reversível (PRES) ou elevação da pressão intracraniana (HIC). A combinação de hipertensão e bradicardia é conhecida como refle- xo de Cushing e sugere elevação na pressão intracraniana. Abradicardia pode ser vista também como uma anormalidade no sistema de condu- ção cardíaco, isquemia miocárdica ou MAPA MENTAL - ANAMNESE ANAMNESE Cena do atendimento inicial Início de instalação do RNC Sintomas antecedentes ao quadro História medicamentosa Comorbidades 7ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA overdose de medicamentos, como betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio, clonidina ou digitáli- cos. Muitas condições podem levar a taquicardias associada à alteração do nível de consciência, incluindo sepse, medicamentos de efeitos estimulan- te ou anticolinérgico, anemia grave, hipovolemia, tireotoxicose e lesão es- trutural cerebral aguda. Assim, no sis- tema cardiovascular avaliam-se alte- rações de ritmo, frequência, presença de sopros e sinais de depleção ou ex- cesso de volume. Alterações na ausculta pulmonar ou da parede torácica podem indicar uma causa pulmonar do RNC. Alte- rações na frequência respiratória, no seu padrão de profundidade são ge- ralmente causadas por anormalida- des primárias do SNC ou por causa toxicometabólicas. A respiração de Kussmaul, com inspiração rápida e profunda, pode ser encontrada em pacientes com acidose metabólica grave, especialmente em cetoacido- se metabólica. O padrão de Cheyne- -Stokes com episódios de aumento e lentificação gradual intercalados por período de apneia é visto em AVC e insuficiência cardíaca. Respiração de Kussmaul Respiração de Cheyne-Stoke Figura 1. DISPONÍVEL EM: https://www.romulopassos.com.br/materiais/baixar/MzY1YTM5YzhiZGVkNTgxY2E3Z- TI3NzI1YzhmMzg3OTY2YzI0N2U0ODQ4ZDA3MjlhNjVhNDZiNTY0NTM5Y2I4NNOjQW6qi2YwUDlL__N7j5z6G- 3MAhVIoRwW7pmMTcEms/0 Deve-se procurar por sinais de trau- ma, como hematomas, lacerações, equimose periorbital (olhos de guaxi- nim), equimose retroauricular (sinal de Battle), otorreia ou rinorreia liquórica. Em casos de suspeitas de trauma, a coluna cervical deve ser sempre imo- bilizada. Sinais de irritação meníngea aponta para meningite, hemorragia subaracnoide ou lesões intracrania- nas com efeito de massa. O estado da mucosa oral pode informar sobre estado de hidratação ou apontar para síndromes tóxicas específicas e lace- rações da língua podem sugerir cri- se convulsiva recente. O encontro de bócio em um paciente com alteração do estado mental levanta suspeita de coma mixedematoso ou tempes- tade tireoidiana. O paciente deve ser completamente exposto em busca de sinais de uso de drogas injetáveis, exantemas, sinais de trauma ou de infecção. https://www.romulopassos.com.br/materiais/baixar/MzY1YTM5YzhiZGVkNTgxY2E3ZTI3NzI1YzhmMzg3OTY2YzI0N2U0ODQ4ZDA3MjlhNjVhNDZiNTY0NTM5Y2I4NNOjQW6qi2YwUDlL__N7j5z6G3MAhVIoRwW7pmMTcEms/0 https://www.romulopassos.com.br/materiais/baixar/MzY1YTM5YzhiZGVkNTgxY2E3ZTI3NzI1YzhmMzg3OTY2YzI0N2U0ODQ4ZDA3MjlhNjVhNDZiNTY0NTM5Y2I4NNOjQW6qi2YwUDlL__N7j5z6G3MAhVIoRwW7pmMTcEms/0 https://www.romulopassos.com.br/materiais/baixar/MzY1YTM5YzhiZGVkNTgxY2E3ZTI3NzI1YzhmMzg3OTY2YzI0N2U0ODQ4ZDA3MjlhNjVhNDZiNTY0NTM5Y2I4NNOjQW6qi2YwUDlL__N7j5z6G3MAhVIoRwW7pmMTcEms/0 8ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA A B Figura 2. Em (A) sinal de guaxinim e em (B) sinal de Battle, ambos sugestivos de fratura de base de crânio. DISPONÍ- VEIS EM: http://www.fisiocti.com/site/traumatismo-cranioencefalico/ O exame de abdome pode revelar as- cite ou hepatoesplenomegalia, suge- rindo uma causa hepática ou massa pulsátil, indicando presença de aneu- risma de aorta abdominal. O achado de icterícia, eritema palmar, aranhas vasculares ou sinal da cabeça de medusa em paciente com RNC, deve- -se levantar a suspeita de encefalopa- tia hepática como causa. Distensão da bexiga e redução de ruídos hidroaére- os podem apontar para uma síndrome anticolinérgica. O exame retal pode re- velar sinais de hemorragia digestiva. A B C D Figura 3. Em (A) icterícia em região de esclera ocular, em (B) eritema palmar, em (C) ara- nhas vasculares, também chamadas de spiders e em (D) sinal da cabeça de medusa. Todos esses achados em um paciente com RNC fala a favor de encefalopatia hepática. DISPO- NÍVEIS EM: https:// pt.slideshare.net/ pauaualambert/ insuficincia-hep- tica-52781924, https://www. slideshare.net/pau- loalambert/insufi- ciencia-heptica-e- -hipertenso-porta e http://production. latec.ufms.br/new_ pmm/u1a5.html http://www.fisiocti.com/site/traumatismo-cranioencefalico/ https://pt.slideshare.net/pauaualambert/insuficincia-heptica-52781924 https://pt.slideshare.net/pauaualambert/insuficincia-heptica-52781924 https://pt.slideshare.net/pauaualambert/insuficincia-heptica-52781924 https://pt.slideshare.net/pauaualambert/insuficincia-heptica-52781924 https://pt.slideshare.net/pauaualambert/insuficincia-heptica-52781924 https://www.slideshare.net/pauloalambert/insuficiencia-heptica-e-hipertenso-porta https://www.slideshare.net/pauloalambert/insuficiencia-heptica-e-hipertenso-porta https://www.slideshare.net/pauloalambert/insuficiencia-heptica-e-hipertenso-porta https://www.slideshare.net/pauloalambert/insuficiencia-heptica-e-hipertenso-porta https://www.slideshare.net/pauloalambert/insuficiencia-heptica-e-hipertenso-porta http://production.latec.ufms.br/new_pmm/u1a5.html http://production.latec.ufms.br/new_pmm/u1a5.html http://production.latec.ufms.br/new_pmm/u1a5.html 9ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA O exame neurológico dirigido visa es- tratificar o estado comatoso, identifi- car déficits focais e avaliar integrida- de do tronco encefálico. A avaliação deve ser feita de forma sistemática e deve incluir a avaliação do nível de consciência por meio da Escala de Coma de Glasgow (ECG), dos pares cranianos, dos reflexos do tronco en- cefálico e resposta motora. O exame de fundo de olho pode acrescentar in- formações ao exame, já que o papile- dema e hemorragias retinianas estão associadas com aumento da pressão intracraniana e hipertensão maligna ESCALA DE COMA DE GLASGOW PARÂMETRO RESPOSTA OBTIDA PONTUAÇÃO Abertura ocular Espontânea 4 Ao estímulo sonoro 3 Ao estímulo de pressão 2 Nenhuma 1 Resposta verbal Orientada 5 Confusa 4 Verbaliza palavras soltas 3 Verbaliza sons 2 Nenhuma 1 Resposta motora Obedece a comandos 6 Localiza estímulo 5 Flexão normal ao estímulo 4 Flexão anormal ao estímulo 3 Extensão anormal ao estímulo 2 Nenhuma 1 Trauma leve Trauma moderado Trauma grave 13 – 15 9 – 12 3 – 8 Reatividade pupilar Inexistente Unilateral Bilateral -2 -1 0 Tabela 2. Escala de Coma de Glasgow (2018). Em relação a reatividade pupilar, quando inexistente vai indicar uma maior gravidade e pior prognóstico. ADAPTADO DE: American College of Surgions Committee on Trauma. Advanced Trauma Life Suport – ATLS. 10 ed., 2018. 10ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA MAPA MENTAL – EXAME FÍSICO Sinais vitais EXAME FÍSICO Frequência cardíaca Glicemia capilar Exame geral (pele, tireoide, sinais de trauma) Pele Exame cardiovascular Ritmo Exame respiratório Frequência Exame do abdome Ascite Exame neurológico ECG Pressão arterial Frequência respiratória Temperatura Tireoide Sinais de trauma Sinais de irritação meníngea Frequência Sopros Sinais de depleção ou excesso de volume Padrão respiratório Ausculta pulmonar e da parede torácica Hepatoesplenomegalia Spiders Massa pulsátil Pares cranianos Reflexos do tronco encefálico Fundo de olho 11ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 5. SOLICITAÇÃO DE EXAMES Como mencionado, o primeiro exa- me que deve ser solicitado em um paciente com alteração do nível de consciência é a glicemia capilar para confirmar ou excluir a hipoglicemia como causa. Posteriormente deve-se pesquisar nos exames laboratoriais a presença de acidose metabólica, disfunção hepática renal e altera- ções hidroeletrolíticas, em especial hiponatremia e hipercalcemia. O he- mograma pode mostrar anemia ou trombocitopenia, que não explicam um RNC, exceto em contexto de hi- potensão grave ou como causa de hemorragia intracraniana. A leuco- citose pode ser um marcador de in- fecção, mas é inespecíficae pouco útil em distinguir a etiologia do RNC. Entretanto, uma leucopenia grave su- gere um estado de imunodepressão e deve alertar para infecção ou malig- nidade. A gasometria arterial pode ser obtida para avaliar rapidamente distúrbios acidobásicos e identificar hipóxia ou hipercapnia. Exame de urina pode ajudar quando é vista, por exemplo, glicosúria, que pode ser encontrada na cetoacidose diabética ou no estado hiperglicêmico hiperos- molar, ou quanto indica infecção do trato urinário (leucocitúria, presença de nitrito). A presença de cristais de oxalato de cálcio é associada com a ingestão de etilenoglicol. A função tireoidiana pode ser testada para confirmar coma mixedematoso ou ti- reotoxicose. Hemoculturas e urocul- turas devem ser coletadas na sus- peita de infecção. O exame do líquor também deve ser realizado após to- mografia computadorizada (TC) de crânio, quando suspeita de lesões de SNC. Um eletrocardiograma (ECG) pode diagnosticar isquemia miocárdi- ca, bloqueios de condução ou outras arritmias, além de fornecer evidências de alteração eletrolíticas (principal- mente de potássio e cálcio), intoxica- ção (por tricíclicos, por exemplo) ou hi- potermia. Eletroencefalograma deve ser solicitado na suspeita de estado de mal epiléptico não convulsivo e em pacientes que apresentam crises convulsivas e receberam sedativos ou bloqueadores neuromusculares. SAIBA MAIS! A avaliação toxicológica pouco afeta o manejo inicial do paciente com RNC, podendo ser postergada para o momento apropriado. 12ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA SE LIGA! Exames de imagem de escolha na abordagem de paciente com RNC é a TC de crânio sem contraste, pela maior disponibilidade e rapidez de realização. Deve ser realizada em pacientes com trauma cranioencefálico (TCE), com suspei- tas de lesões cerebrais estruturais e naqueles em que o diagnóstico ainda não foi prontamente identificado por outros meios. Esse é um exame que pode identificar hemorragia intracraniana, hidrocefalia, edema cerebral, lesões de massa e indicar sinais de HIC ou de AVCi. Porém, em suspeitas de lesão de tronco encefálico no exame neurológico, uma angiotomografia de crânio e de vasos cervicais. A ra- diografia de tórax pode identificar pneumonia, pneumotórax, presença de corpo estranho ou sinais de dissecção de aorta ou de ICC. MAPA MENTAL – SOLICITAÇÃO DE EXAMES Glicemia capilar Distúrbio acidobásico Distúrbio hidroeletrolítico Hipóxia Hipercapnia Função hepática Função renal Exame de urina Hemograma Hemo e uroculturas Função tireoidiana TC sem contraste Exame de líquor ECG Eletroencefalograma Gasometria (distúrbio acidobásico e hidroeletrolítico) Avaliação toxicológica EXAMES SOLICITADOS EM CASOS ESPECÍFICOS 13ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 6. MANEJO O manejo de um paciente rebaixa- do se inicia antes de se estabelecer um diagnóstico. Como vimos, deve- -se priorizar a permeabilidade de vias aéreas, a oxigenação e perfusão en- quanto se inicia a avalição, primeiro colhendo os sinais vitais e fazendo monitorização, incluindo saturação de oxigênio do paciente, e estabelecen- do um acesso venoso, colhendo tam- bém rapidamente uma glicemia ca- pilar à beira do leito e tratamento de imediato a hipoglicemia, se presente, o que leva a reversão do coma se a hipoglicemia tiver sido a causa. Uma atenção especial deve ser dada para evitar hipóxia ou hiperóxia. Se houver suspeita de intoxicação por opioide, deve-se administrar naloxona 0,4 mg via intravenosa (IV) para rápida reversão da intoxicação. Em pacien- tes desnutridos, alcoólatras ou outros com suspeita de deficiência de vita- mina B1 (tiamina), é recomendada a administração empírica de 100 mg via IV de tiamina. Caso essas medidas iniciais não re- sultem na melhora do paciente, de- ve-se considerar se o paciente con- segue manter a via aérea patente e protegida. Caso não consiga, ou mesmo se Glasgow ≤ 8, é indicada a intubação orotraqueal (IOT), lembran- do que se deve ter bastante atenção ao escore na escala de Glasgow visto que é inversamente proporcional ao risco de aspiração. Antes da intuba- ção, se possível, deve-se tentar obter um exame neurológico mínimo, com atenção especial aos reflexos de tron- co encefálico. Após abordagem da via aérea, caso o paciente não apresente nenhuma suspeita clínica de meningi- te (febre ou outros sinais de infecção, sepse, rash), recomenda-se tratar o paciente com ceftriaxone 2g via IV (preferencialmente com uma dose de corticoide anterior ao antibiótico) an- tes de se obter o exame de imagem. Se houver suspeita de encefalite, é recomendado iniciar empiricamente o aciclovir IV. Após uma TC de crânio ou angio-TC, caso conclusiva para o diagnósti- co, informar equipe apropriada para realização de tratamento definitivo. Em casos de ausência de achados no exame de imagem, deve-se ava- liar se há alguma outra condição de emergência que possa ser tratada e revertida. O diagnóstico diferencial do mnemônico AEI-OU-TIPS podem ajudar nessa avaliação. 14ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Acesso venoso, Glicemia capilar, Monitorização Estabelecer via aérea pérvia, ventilação e perfusão adequados Normal Glasgow ≤ 8 ou risco de aspiração Não História e exame físico Sinais localizatórios Não Sinais de comprometimento de tronco cerebral Não Sinais de infecção do SNC Não Continuar a investigação diagnóstica Administração de Glicose 50%Hipoglicemia IOTSim TC de crânio e chamar neurologistaSim Iniciar ceftriaxone 2g IVSim Sim Exames específicosMnemônico “AEI-OU-TIPS” 15ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 7. RESOLUÇÃO Muitos pacientes com causas tóxicas ou metabólicas de RNC (como hipo- glicemia, intoxicação por opioides) podem ser rapidamente tratados e estabilizados no departamento de emergência e alguns podem ter alta após um período breve de observa- ção. Aqueles pacientes com intoxi- cação alcoólica ou por uso de drogas recreativas sem outras causas identi- ficáveis de RNC também podem ser liberados após cessado o efeito de in- toxicação. A maioria das outras cau- sas de RNC, entretanto, mesmo com melhora inicial do quadro, provavel- mente exigirão observação mais pro- longada ou internação, sendo que a maior parte dos pacientes com RNC vai necessitar de tratamento definiti- vo em unidade de terapia intensiva. 8. DELIRIUM O delirium se define como um esta- do confusional agudo caracteriza- do por distúrbio de atenção e de consciência e que se apresenta de forma flutuante. É bastante comum em idosos com baixa reserva cogni- tiva e associada de forma indepen- dente a aumento de mortalidade em paciente internados, além de potente fator de risco para complicações e au- mento do tempo de internação. Cerca de 1/3 dos pacientes internados por problemas médicos gerais apresen- ta delirium, sendo 50% na admissão e outros 50% na internação. Cerca de 10 a 15% dos pacientes que são atendidos em serviços de emergên- cia apresentam diagnóstico de deli- rium. A incidência varia de 15 a 25% em pacientes idosos submetidos a cirurgias de grande porte a até 75% em pacientes em UTI sob ventilação mecânica. Mas o que afinal provoca um quadro de delirium? A fisiopatologia do deli- rium é complexa, multifatorial e ain- da não completamente esclarecida. Os fatores de risco são classificados em predisponentes e precipitantes. Quanto mais fatores predisponentes estão presentes, menos fatores preci- pitantes são necessários para causar delirium. As tabelas abaixo listam es- tes fatores: FATORES DE RISCO PREDISPONENTES Idade > 70 anos Diagnóstico prévio de demência (aumenta em 2 a 5x a incidência de delirium) Perda da funcionalidade Condições coexistentes diversas 16ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-V), o diagnóstico de delirium pode ser firmado quando presentes: • Perturbação da atenção e da consciência.• Perturbação que se desenvolve em curto período de tempo (horas a dias), representando uma mu- dança em relação à linha de base e com tendência a flutuar ao longo do dia. • Distúrbio adicional na cognição (déficit de memória, desorientação, linguagem, capacidade visuoespa- cial ou percepção). • Os distúrbios não são melhor ex- plicados por outro distúrbio neuro- cognitivo preexistente, em evolu- ção ou estabelecido, e não ocorrem no contexto de um nível de excita- ção gravemente reduzido, como coma. • Existem evidências da história, exame físico ou achados labora- toriais de que o distúrbio é uma FATORES DESENCADEANTES SNC TCE, Encefalopatia hepática, hematomas subdurais, hidrocefalias, infecções Distúrbios metabólicos Uremia, insuficiência hepática, hipoxemia, hipo/ hiperglicemia, avitaminoses, dist. hidroeletrolíticos, desequilíbrios acidobásicos, desidratação Doenças cardiopulmonares IAM, IC, arritmia cardíaca, choque, insuficiência respiratória Infecções sistêmicas Pneumonias, infecções de vias aéreas superiores, ITU, infecções cutâneas, infecções abdominais Neoplasias Tumor primário ou metastático do SNC, infiltração meníngea, síndromes paraneoplásicas Outras etiologias Abstinências, desregulação térmica, estado pós-operatório, restrição física, sondagem vesical de demora, déficit visual, gravidade da doença de base, desnutrição, introdução de três medicações novas, iatrogenia. 17ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA consequência fisiológica direta de outra condição médica, intoxicação ou abstinência de substâncias, de exposição a uma toxina ou de que ela se deve a múltiplas etiologias. SE LIGA! Um instrumento muito útil e validado para diagnóstico de delirium, à beira do leito, é o Confusion Asses- sment Method (CAM). O diagnóstico é firmado quando o paciente apresentar os critérios 1 e 2, acrescido do critério 3 ou 4. CAM (CONFUSION ASSESSMENT METHOD) 1 Mudança aguda no estado mental com curso flutuante 2 Desatenção 3 Pensamento desorganizado 4 Alteração do nível de consciência O delirium pode ocorrer segundo al- gumas condições. Decorrente de: • Intoxicação por substâncias, principalmente por álcool, canna- bis, fenciclidina, outro alucinógeno, inalante, opioides, sedativo, hipnó- tico, ansiolítico, anfetamina ou ou- tro estimulante. • Abstinência de substância, po- dendo ser por álcool, opioides, sedativo, hipnótico, ansiolítico, ou- tra substância/medicamento. • Induzido por medicamento, em que o delirium decorre de efeito co- lateral de um medicamento toma- do conforme prescrição. Por isso é tão importante na anamnese a his- tória medicamentosa do paciente. • Devido a outra condição médi- ca, a partir de evidências da histó- ria, do exame físico ou de achados laboratoriais, como, por exemplo, devido a encefalopatia hepática. • Devido a múltiplas etiologias, também perceptível por evidên- cias na história, exame físico e achados laboratoriais, como mais de uma condição médica etiológi- ca; ou outra condição médica mais intoxicação por substância ou efei- to colateral de medicamento. Uma outra informação importante diante de um quadro de delirium é a especificação se é um delirium hipoa- tivo, hiperativo ou misto. • Hipoativo: o indivíduo tem um ní- vel de atividade psicomotora redu- zida que pode vim acompanhada de lentificação e letargia que se aproxima do estupor • Hiperativo: o indivíduo tem um nível de atividade psicomotora aumentada que pode ser acom- panhada de oscilação de humor, 18ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA agitação e/ou recusa a cooperar com os cuidados médicos. • Misto: o indivíduo tem uma ativi- dade psicomotora normal mesmo com perturbação da atenção e da percepção. Inclui também indiví- duos cujo nível de atividade oscila rapidamente. SAIBA MAIS! Na abordagem desses pacientes é importante ter em mente os principais diagnósticos dife- renciais de delirium. Como visto, o quadro de delirium é agudo e flutuante, sendo o diagnósti- co feito clinicamente. Porém pode ser confundido com condições neurológicas, principalmen- te demência, ou com condições psiquiátricas. As principais características estão descritas abaixo: CARACTERÍSTICA DELIRIUM DEMÊNCIA DOENÇA PSIQUIÁTRICA Instalação Abrupta Lenta Abrupta Evolução em 24 horas Flutuante Estável Estável Atenção Reduzida Sem alterações Pode estar alterada Consciência Flutuação: reduzido a hiperalerta Normal Pode estar alterada Orientação Alterada Alterada Pode estar alterada Memória Alterada Alterada Normal, mas pode ser difícil de avaliar Percepção Alucinações visuais e raramente auditivos Intacta Alucinações usualmente auditivas Pensamento Desorganizado Vago Pode estar alterado e delirante Linguagem Lentificada Dificuldade em achar as palavras Pode estar alterada Alteração de movimentos Pode ter flapping Usualmente sem alterações Sem alterações, exceto se secundárias a medicações A abordagem do paciente com deli- rium deve ser feita rapidamente, por ser considerado uma emergência ameaçadora à vida. Assim, quando firmado o diagnóstico sindrômico de delirium, deve-se determinar a causa precipitante do quadro, como medi- cações, infecção, distúrbios metabó- licos. Exames de rotina, além da gli- cemia capilar, podem ser solicitados para detectar infecção ou distúrbios metabólicos (hemograma, eletrólitos, 19ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA função renal, urina, culturas, radio- grafia de tórax). Caso indicado, exa- mes como TC de tórax e o exame do LCR também podem ser realizados. Vale ressaltar que contemplar todos os fatores de risco modificáveis que são identificados é de grande impor- tância, já que múltiplas intervenções podem trazer substancial benefício. Assim, intervenções para melhorar a orientação e reduzir a privação sen- sório incluem relógios, calendários, uso de óculos e aparelhos auditivos, visita de familiares, ambiente calmo. Fora essas intervenções, deve-se re- alizar uma vigilância e prevenção de complicações, como monitorização de débito intestinal e urinário, monito- rar ingesta de alimentos e fluidos em pacientes com risco de desnutrição e desidratação, estimular deambula- ção, evitar restrição física, estimular autocuidado, tratar privação do sono, terapia ocupacional para déficit cog- nitivo e acompanhar medicações com potenciais riscos de provocar deli- rium. Tais medicações, principalmen- te em idosos, são os benzodiazepí- nicos, opioides, sedativos hipnóticos, anticolinérgicos, anti-histamínicos, anticonvulsivantes, antidepressivos, agentes antiparkinsonianos, antipsi- cóticos e barbitúricos. Quanto a terapia farmacológica nem sempre será indicada, dependendo da agitação psicomotora do pacien- te, da ameaça dessa condição tanto para o paciente quanto para terceiros e da etiologia do delirium. Assim, há indicação de benzodiazepínicos para tratamento de pacientes com delirium hiperativo decorrente de intoxicação por estimulantes, abstinência alcoóli- ca ou a benzodiazepínico ou mesmo para etiologia de agitação desconhe- cida. Para outras situações de deli- rium hiperativo, agente antipsicóti- cos possuem melhor risco/benefício. A escolha do agente antipsicóticos deve levar em consideração os efei- tos adversos e efetividade, porém até hoje, o haloperidol ainda é o antipsi- cóticos padrão para agitação psico- motora. Independentemente da dro- ga escolhida, a dose inicial deve ser sempre baixa, em função da grande variabilidade de resposta. O paciente deve ser reavaliado a cada 30 minu- tos e, preferencialmente, quantificar os níveis de tranquilização/agitação por meio da pontuação de escalas de gravidade, bem como aferição de sinais vitais. Doses adicionais po- dem ser administradas a cada 30 a 60 minutos até o efeito desejado ser alcançado. Pacientes com delirium prolongado podem precisar de doses de manutenção continuadas, de 2 a 3 vezes ao dia. 20ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA MAPA MENTAL – MANEJO DA AGITAÇÃO AGUDAMANEJO DE AGITAÇÃO AGUDA Intervenções verbais, atitudinais e comportamentais Envolver equipe de enfermagem e segurança Registrar no prontuário a justificativa da droga de escolha Idade, sexo, IMC, presença de condição médica geral ou complicação clínicas, medicações prescritas anteriormente, ocorrência de efeitos colaterais com tratamentos anteriores, uso de substâncias psicoativas. Condição médica geral HALOPERIDOL 2,5 a 5 mg, via IM Intoxicação por álcool ou substâncias psicoativas HALOPERIDOL 2,5 a 5 mg, via IM Intoxicação por estimulantes MIDAZOLAM 5 a 15 mg, via IM Gestantes HALOPERIDOL 2,5 a 5 mg, via IM OLANZAPINA 5 a 10 mg, via IM ZIPRASIDONA 5 a 10 mg, via IM DIAZEPAM 5 a 10 mg, via IV ADAPTADO DE: Mantovani et al. Management of the violent or agitated patient. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol 32, supl II (2010). 21ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA SE LIGA! Sempre que possível, oferecer medicação por via oral (VO). Quando não possível optar por medicações intramusculares (IM). A via IV é a última opção, visto que, muitas vezes, um paciente agitado pode retirar os acessos ou mesmo nem deixar fazê-los. Um paciente que não está agitado, mas com risco de agitação também pode ser medicado com haloperidol 2,5 a 5 mg por VO, diazepam 10 mg por VO ou ambos associados nas mesmas doses. Antipsicóticos como risperidona 2mg por VO também pode ser utilizado, em monoterapia ou associado a Lorazepam 2 mg por VO. Um outro ponto é que a melhor abordagem para pacientes em intoxicação alcoólica é não utilizar medicação, tentar reduzir a estimulação do ambiente, hidratação venosa, medicação antiemética, verificar glicemia, mas caso ne- cessário, utilizar haloperidol (evitar uma segunda dose, pois a concentração sérica do álcool vai reduzindo com o tempo). A utilização de benzodiazepínicos nesses pacientes podem induzir depressão respiratória. Já em casos de abs- tinência, é preferível o uso de benzodiazepínicos em relação ao haloperidol. SAIBA MAIS! Em casos de administração de ziprasidona, deve se realizar eletrocardiograma (ECG) de acompanhamento. 9. CRISES CONVULSIVAS As crises convulsivas decorrem de uma alteração involuntária e repenti- na dos sentidos, do comportamento, da atividade muscular ou do nível de consciência que resulta da irritação ou da superatividade das células ce- rebrais. A convulsão é uma ativida- de muscular reflexa frequentemen- te observada em crises convulsivas. Qualquer condição que afete as cé- lulas estruturais do cérebro ou altere o equilíbrio metabólico químico pode desencadear crises convulsivas. Em geral, são causadas por uma des- carga anormal de energia elétrica no cérebro. Possui início repentino e a crise costuma ser precedida apenas por uma breve aura, mas nem sempre. A principal etiologia das crises con- vulsivas é a epilepsia, um distúrbio cerebral crônico caracterizado por cri- ses convulsivas recorrentes que não são causadas por problemas agudos. É um termo geral para muitos distúr- bios convulsivos diferentes. Entre- tanto, as crises convulsivas podem ocorrer em qualquer pessoa como re- sultado de lesão cerebral aguda ou de uma condição cerebral crônica, como as destacadas abaixo. 22ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA As possíveis causas para o desenca- deamento de crises convulsivas são classificadas em: • Tóxica: As convulsões podem ocorrer como consequência direta de reações alérgicas a drogas, uso de drogas ou outras substâncias químicas ou abstinência de subs- tâncias que causam vício, espe- cialmente álcool. • Metabólica: Desarranjos na quí- mica do corpo podem ser acompa- nhados por uma convulsão. • Trauma: Uma lesão cerebral prévia pode resultar na formação de uma cicatriz, que pode servir como um foco para convulsão. • Vascular: Qualquer condição que reduza o fluxo sanguíneo para o cérebro pode causar convulsões. • Infecção: Inflamação cerebral cau- sada por infecções bacterianas, virais ou parasíticas pode causar convulsões. • Febril: Mais comumente observa- das em crianças entre 6 meses e 3 anos; essas convulsões ocorrem em conjunto com febre. A febre é a causa mais comum de convulsões em crianças abaixo dos 5 anos de idade; geralmente, a elevação rá- pida da temperatura e não o grau de febre propriamente dito causa a convulsão. • Idiopática: Por definição, esse tipo de convulsão surge espontanea- mente sem causa conhecida. • Degenerativa: Distúrbios que causam degeneração do SNC, in- cluindo esclerose múltipla e cer- tas demências, podem causar convulsões. • Defeitos congênitos do cérebro: Defeitos congênitos são causa de Hipoglicemia Hiperglicemia Alterações endócrinas TCE ou AVC grave Hipóxia no cérebro Drogas e álcool Desequilíbrio na química corporal Inflamação do cérebro Degeneração do SNC Lesões que causem cicatrizes no cérebro Baixo fluxo sanguíneo cerebral Febre, principalmente em crianças Defeitos cerebrais congênitos Tumor cerebral Queimaduras graves 23ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA convulsões, particularmente em lactente e crianças menores. • Tumores cerebrais: Os tumores cerebrais são causas incomuns de convulsão locais – podem ser o primeiro sinal de tumor cerebral em adultos. • Outros: Outras causas de con- vulsões incluem hipertensão, eclampsia, queimaduras severas, alterações endócrinas durante a gestação e menstruação, estirões de crescimento, doença da infância, variações extremas nos hábitos do sono (incluindo privação do sono) e edema do tecido cerebral (a des- peito da causa). Já os tipos de crises convulsivas de acordo com seus sintomas são: • Crise tônico-clônica generaliza- da (grande mal): Condição ca- racterizada por rigidez e contração musculares alternadas, suspensão temporária da respiração e estado mental alterado. O QUE ACONTECE PODE-SE CONFUNDIR COM Choro ou lamentos repentinos Ataque cardíaco Desmaio Acidente vascular encefálico Rigidez Espasmos musculares Saliva espumosa Respiração superficial Pele azulada Habitualmente, dura entre 2 e 5 minutos, seguida de respiração normal SE LIGA! Esse é um tipo de convulsão que é demarcado por estágios, variando da fase de alerta até o período de recuperação. A aura é o período de aviso que dura apenas alguns segundos, podendo apresentar alucinações visuais ou auditi- vas, gosto estranho na boca ou sensações dolorosas; fase tônica dura de 15 a 20 segundos, o indivíduo perde a consciência, os olhos viram para cima, há contrações musculares contínuas e a parada da respiração; fase hipertônica dura de 5 a 15 segundos e ocorre rigidez muscular extrema; fase tônico clônica dura de 30 a 60 segundos, ocorre rigidez e relaxamento musculares se alternando de modo rítmico e em sucessões rápidas, a saliva se torna espumosa e a vítima pode perder o controle urinário e intestinal; descarga autonômica dura alguns segundos, ocorre hiperven- tilação, salivação e batimentos cardíacos acelerados; fase pós-crise convulsiva em que a vítima entra em coma; fase de estupor pós ictal ou fase de recuperação que dura de 5 a 30 minutos, as vezes até algumas horas, a vítima recupera a consciên- cia, mas permanece exausta. 24ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA • Crise de ausência (pequeno mal): Condição caracterizada por olhar fixo e ausente, que dura apenas alguns segundos, mais comum em crianças; esse tipo de crise não en- volve convulsões. O QUE ACONTECE PODE-SE CONFUNDIR COM Olhar vago Devaneio Rápido piscar de olhos Desatenção Movimentos de mastigação Em crianças, quando ignoram deliberadamente instruções de adultos Dura apenas alguns segundos • Crise parcial simples ( jacksonia- na): Crise simples e parcial carac- terizada por contração dos dedos das mãos e dos pés; a contração pode espalhar-se e envolver todo o braço ou perna, ou até mesmo todo o corpo, mas a vítima perma- nece acordada e altera. O QUE ACONTECE PODE-SE CONFUNDIR COM Espasmos nos dedos das mãos e dos pés Gesticulações A vítima permanece acordadae alerta Comportamento bizarro Os espasmos podem progredir para a mão e o braço e então para o corpo inteiro, tornando-se uma crise convulsiva. • Crise parcial complexa (psico- motora): crise que se inicia com o olhar fico e ausente, progredindo para mastigação e atividade mo- tora aleatória; a vítima parece desnorteada. O QUE ACONTECE PODE-SE CONFUNDIR COM Começa com olhar vago, seguido por movimentos de mastigação e ativida- de motora aleatória e repetitiva Embriaguez A vítima parece desnorteada Intoxicação por drogas Resmungos/murmúrios Doença mental A vítima começa a pegar objetos ou tenta tirar as roupas Atitude indecorosa Se for reprimida, a vítima começa a brigar e se debater Conduta rebelde Confusão pós-convulsão • Crise mioclônica: Crise caracte- rizada por contrações musculares súbitas, breves e significativas que envolvem todo o corpo ou parte dele. 25ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA O QUE ACONTECE PODE-SE CONFUNDIR COM Espasmos musculares repentinos, breves e pesados que podem envolver todo o corpo ou parte Modo desajeitado Falta de coordenação entram súbita e temporariamente em colapso. • Crise atônica: Também chamada de ataque de queda, convulsão na qual as pernas de uma criança O QUE ACONTECE PODE-SE CONFUNDIR COM As pernas da criança de repente enfraquecem, fazendo que ela caia Modo desajeitado Dura menos de 1 minuto Falta de habilidade para andar “Estágio” normal da infância Movimentos infantis normais Primeiros socorros na crise A crise convulsiva, exceto o estado epiléptico, é autolimitante, durando cerca de 1 a 2 minutos, embora o pa- ciente possa apresentar sonolência por várias horas. Além disso, as cri- ses convulsivas se iniciam e cessam de forma espontânea, não sendo possível reduzir sua duração. Por ser um evento de curta duração, alguns cuidados imediatos devem ser ado- tados a fim dar apoio e evitar lesões pós-convulsão: • Mover a vítima quando próxima a um objeto perigoso que não possa ser afastado ou quando em local de grande risco de acidente; Figura 4. DISPONÍVEL EM: http://emercor.com.br/ como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ • Posicionar a vítima em decúbito lateral, com rosto virado para bai- xo (posição lateral de segurança), a fim de que secreções e vômitos não sejam broncoaspirados e para que a base da língua não regrida e bloqueie a via aérea; http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ 26ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Figura 5. DISPONÍVEL EM: http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/. Passo a passo da late- ralização em pacientes em crise convulsiva. (1) Colocar mão em face oposta do rosto da vítima; (2) Fletir perna oposta e rotacionar o corpo, a fim de que o joelho sirva de anteparo para o corpo; (3) Rotacionar a cabeça para baixo, evitando broncoaspiração de secreções e vômitos; (4) Posição final de lateralização da vítima. DISPONÍVEL EM: http://emercor. com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ Figura 7. Manobra de abertura das vias aéreas por dorsiflexão da cabeça, podendo-se ainda realizar a elevação da mandíbula, deslocando-a para frente; os polegares retraem o lobo inferior. DISPONÍVEL EM: http://geicpe.tripod.com/clin_emerg_parada.htm • Colocar apoio macio sob a cabeça da vítima, a fim de evitar lesões na cabeça; Figura 6. DISPONÍVEL EM: http://emercor.com.br/ como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ • Manter vias aéreas desobstruídas; http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ http://geicpe.tripod.com/clin_emerg_parada.htm http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ http://emercor.com.br/como-agir-perante-uma-crise-de-epilepsia/ 27ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA • Remover ou afrouxar as roupas apertadas da vítima, principalmen- te em volta do pescoço, e remover óculos; • Permanecer com a vítima por toda a crise, caso necessite buscar aju- da, mandar outra pessoa; • Não colocar nada a força entre os dentes da vítima e nunca adminis- trar nada por via oral; • Não restringir movimentos da víti- ma, a menos que esteja próximo a objetos perigosos que não possam ser movidos; • Se vítima consciente, tranquiliza- -la, assim como outras pessoas que estiverem com ela; • Evitar que a vítima se transforme em um espetáculo, pedindo para que os observadores se retirem; • Após a crise convulsiva, acalmar e reorientar a vítima, mantendo-a mais confortável possível. SE LIGA! Após a crise, todo paciente que sofreu o episódio necessita de um atendimento na emergência? Embora, normalmente, as crises convulsivas não oferecem risco à vida, qualquer pessoa que passe pela primeira vez por esse tipo de problema deve ser examinada por um médico. Além disso, deve rece- ber assistência médica quando: Primeira crise convulsiva da vida ASSITÊNCIA MÉDICA Crise com duração > 5 minutos Causa da crise incerta Ocorrer mais de uma crise Lesão decorrente dessa crise Dificuldade respiratória pós episódio For diabética For lactente/criança ou gestante A abordagem desse paciente deve ser feita, inicialmente, se obtendo um relato da crise de alguém que tenha presenciado o quadro, visto que, rara- mente, a vítima será capaz de respon- der sobre o acontecimento. A figura abaixo ilustra informações importan- tes na abordagem desse paciente. 28ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA Já no exame físico desse paciente, buscar por: • Sinais de lesão na cabeça, na lín- gua ou em qualquer outro lugar do corpo; • Sinais de abuso de drogas ou de álcool (como odor de álcool ou marcas de injeção); • O nível de consciência da vítima; • Febre; • Presença de cartões ou acessórios de identificação médica. 10. TONTURA E DESMAIO Tontura e desmaio são duas das quei- xas mais comuns na clínica. Apesar de não serem condições médicas em si, são sintomatologias que podem resultar de várias doenças e lesões. A tontura é dividida em vertigem cen- tral e labiríntica. A vertigem central é a menos comum e a mais séria, visto que envolve o sistema nervoso cen- tral. Os principais sinais e sintomas são: disfunção dos músculos oculares; tamanho desigual das pupilas; flaci- dez facial. Se assemelha a um ata- que isquêmico transitório ou acidente vascular encefálico. Não manifestam náuseas, vômitos, perda auditiva, nem sensação de rotação. Já a vertigem la- biríntica, muito mais frequente, decor- re de um distúrbio do ouvido interno e causa: náuseas, vômitos, movimentos rápidos e involuntários do globo ocular, sensação de rotação, palidez e umi- dade da pele e batimentos cardíacos acelerados. Além disso, todos os sin- tomas de vertigem labiríntica se agra- vam quando o paciente se movimenta. São sintomas que podem ocorrer du- rantes horas e recorrer por período de vários anos. Ao abordar esse pacien- te é necessário acalmá-lo, ajudá-lo a encontrar uma posição confortável e fazer uma avaliação minuciosa para descartar qualquer condição de risco imediato à vida. Já o desmaio, ou também chama- do de síncope, é a perda repentina 1. Como foi a crise? 2. Como progrediu? 3. Sofreu TCE 4. Usuário de drogas ou álcool? 5. Histórico de convulsão? 6. Medicamentos? 7. Diabetes? 29ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA e breve da consciência que ocorre quando o cérebro é temporariamente privado de oxigênio. Algumas vítimas tem a sensação de que está tudo fi- cando escuro e, de repente, perdem a consciência. Logo em seguida ocorre um colapso o qual leva o corpo a uma posição horizontal, o que melhora a circulação sanguínea para o cérebro. Como resultado a vítima recobra a consciência rapidamente. Algumas condições em que podem desen- cadear um quadro de síncope são: fortes emoções, medo, calor, uso de certas drogas, dor profunda, ficar em pé ou sentado por muito tempo, hipo- glicemia,arritmias cardíacas. Alguns sinais e sintomas que podem ante- ceder o quadro de síncope são: náu- seas, tontura, fraqueza, tremores, dor abdominal profunda, dor de cabeça latejante, bocejos. Os primeiros socorros a essa vítima envolvem: • Caso a vítima ainda não esteja desmaiada, evitar que ela caia ao chão, colocando-a sentada com a cabeça entre os joelhos, ou colo- cando-a deitada no chão com as pernas elevadas em 20 a 30 cm. • Caso a vítima já esteja desmaiada, mantê-la deitada em decúbito dorsal com pernas elevadas de 20 a 30 cm. Figura 8. DISPONÍVEL EM: Primeiros Socorros para estudantes. 2012. Capítulo 20 • Monitorar possíveis vômitos; • Afrouxar as roupas que possam restringir a respiração; • Fazer uma rápida avaliação para detectar qualquer condição poten- cialmente fatal que possa ter cau- sado o quadro; • Verificar se houve alguma lesão durante a queda da vítima; • Após recuperação da consciência, não sentar a vítima imediatamente, mas sim de forma lenta e gradual; • Acionar o serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU), quan- do necessário. 30ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA MAPA MENTAL GERAL ABORDAGEM INICIAL Pulso Obstrução de via aérea Considerar IOT Acessos, glicemia e monitorização História e exame físico ANAMNESE Cena do atendimento Início de instalação do RNC Sintomas antecedentes ao quadro História medicamentosa Comorbidades EXAME FÍSICO Sinais vitais Exame geral Exame cardiovascular Exame respiratório Exame abdome Exame neurológico PROPEDÊUTICA Tontura ETIOLOGIAS MNEMÔNICO “AIE-OU-TIPS” Álcool/acidose Infecção Overdose/ opioide Trauma/ toxicidade Psicose DELIRIUM Perturbação da atenção e da consciência Alteração aguda com flutuação Distúrbio adicional na cognição Causa adjacente evidente Intoxicação Medicamentos Múltiplas etiologias Hipoativo SOLICITAÇÃO DE EXAMES Glicemia capilar Gasometria arterial Função hepática Exame de urina Hemo e urocultura TC de crânio Eletroence- falograma Avaliação toxicológica CRISES CONVULSIVAS Hipoglicemia TCE ou AVC Endócrina Desequilíbrio químico Hipofluxo cerebral Febre Tônico-clônica generalizada De ausência Parcial simples Parcial complexa Mioclônica Atônica Respiração Desmaio Epilepsia/ encefalopatia/ eletrólitos/ endócrino Uremia Insulina (diabetes) Stroke (AVCi ou AVCh) MistoHiperativo Abstinência Condição médica Função renal Hemograma Tireoide Líquor ECG Hiperglicemia Hipóxia Drogas/álcool Degeneração do SNC Lesões cerebrais Queimaduras graves REBAIXAMENTO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 31ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Velasco, IT et al. Manual de medicina de emergência. Medicina de emergência. Abordagem prática. Nova edição de Emergências Clínicas. HCFMUSP KARREN, Keith. J. et al. Primeiros Socorros para estudantes. 2012 Capítulo 20 Manual diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais- 5ª edição (DMS-V). American Psy- chiatric Association (APA). Porto Alegre, 2014. Manual de Primeiros Socorros. Ministérios da Saúde. 2003. Fundação Oswaldo Cruz- FIOCRUZ Protocolos de Suporte Básico de Vida. Ministério da Saúde. SAMU 2014 32ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA
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