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CENTRO DE DIAGNÓSTICO DE SANIDADE ANIMAL - CEDISA Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais Marcia Cristina da Silva Médica Veterinária, D. Sc. em Patologia Veterinária Centro de Diagnóstico de Sanidade Animal – CEDISA marcia@cedisa.org.br Raquel Rubia Rech Médica Veterinária, D. Sc. em Patologia Veterinária Pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC raquel.rech@embrapa.br Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 2 Programação 28/08/2013 08h30min – Abertura 08h40min – Orientações para colheita de sangue, secreção nasal, fluido oral, fezes e tonsilas para exames laboratoriais 09h00min – Necropsia e coleta de material para exames laboratoriais 10h30min – Intervalo 10h45min – Descrição das lesões macroscópicas 12h30min – Almoço 13h30min – Visita ao CEDISA 14h00min – Aula prática de necropsia, colheita, conservação, acondicionamento das amostras e descrição das lesões macroscópicas 29/08/2013 08h00min – Recepção e análise crítica das amostras coletadas na aula prática 08h40min – Fundamentos das diferentes técnicas de diagnóstico laboratorial (biologia molecular, bacteriológico, virológico, sorológico, histopatológico e imuno-histoquímico) 09h40min – Intervalo 09h55min – Discussão de casos clínicos 12h30min – Encerramento Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 3 Necrospia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais A técnica de necropsia deve ser consistentemente sistemática para que se crie o hábito e seja facilmente memorizada. O mais importante é o exame cuidadoso de todos os órgãos e a coleta adequada das amostras. Este procedimento deve ser diferenciado do termo conhecido como “coleta de material”. Para o sucesso na obtenção do diagnóstico é necessário seguir 5 etapas essenciais: 1º • Preparar os materiais para necropsia, coleta, conservação e transporte das amostras 2º • Obter o histórico clínico 3º • Selecionar os suínos para necropsia 4º • Realizar a necropsia e colher amostras para exames laboratoriais 5º • Escrever o laudo de necropsia Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 4 Antes de iniciar a necropsia certifique-se que está com todos os instrumentos para a necropsia, assim como os materiais para a coleta, conservação e transporte das amostras para o laboratório, ou seja, o kit de necropsia. A seguir estão listados os itens que podem constar em um kit de necropsia: 1º • Preparar os materiais para necropsia, coleta, conservação e transporte das amostras Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 5 Antes de ir para as granjas, utilize uma checklist para verificar se tem todos os equipamentos (Fig. 1) para realizar a necropsia e a colheita de amostras para exames laboratoriais. Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 6 A associação entre a queixa do produtor, a idade, os sinais clínicos, o número de animais afetados, a taxa de morbidade/mortalidade e o manejo sanitário da granja é essencial para a elaboração da suspeita clínica. As características do problema auxiliam na conclusão do diagnóstico e essas informações devem ser fornecidas para o laboratório. No histórico clínico deve constar: 2º • Obter o histórico clínico A queixa do produtor/responsável pela granja Fase da produção em que está ocorrendo o problema Idade Sinais clínicos Evolução clínica (aguda, subaguda, crônica) Morbidade Mortalidade Medicação Vacinação Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 7 A seleção correta dos suínos é um dos passos mais importantes para o sucesso do diagnóstico. A anamnese e o exame clínico são essenciais para a escolha de suínos com sinais clínicos e/ou lesões representativas do problema da granja. Para aumentar as chances de diagnóstico, o ideal é que mais de um suíno seja necropsiado para a colheita de amostras para exames laboratorias. Para isso, alguns critérios devem ser seguidos: 3º • Seleção dos suínos para necropsia •Escolha alguns suínos que apresentam sinais clínicos típicos do problema e verifique a temperatura corporal retal. Destes, separe os suínos com febre para realizar a necropsia. •Evite colher amostras de suínos com lesões crônicas. Nas lesões crônicas o agente etiológico geralmente não está mais presente ou está em quantidade muito pequena. Nesses casos, os exames laboratoriais podem não ser capazes de detectá-lo, impossibilitando o diagnóstico definitivo. Identifique suínos na fase aguda da doença •Os antibióticos interferem no isolamento bacteriano. •Sem o isolamento bacteriano não é possivel obter o antibiograma. Evite selecionar suínos medicados •Diferencie suínos refugos de suínos com refugagem. •Refugo = suíno que nasceu fraco, com peso abaixo do esperado, que desde o início não apresentava bom desempenho. •Refugagem = suíno que estava com bom desempenho e começou a apresentar queda dos índices zootécnicos. Evite selecionar suínos refugos •A colheita de amostras de suínos encontrados mortos interfere no exame bacteriológico devido à proliferação de bactérias post mortem e prejudica o exame histopatológico devido à autólise. Evite colher amostras de suínos que foram encontrados mortos Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 8 O envio de amostras para exame laboratorial de suínos que não são representativos do problema implica em aumento dos custos, retorno à granja para realização de outras necropsias e colheita de amostras, atraso na obtenção do diagnóstico e das medidas para o controle do problema etc. Após a seleção dos suínos para necropsia, realize a eutanásia. A eutanásia deve ser realizada em local seguro, respeitando as normas de bem estar animal. A eutanásia por concussão cerebral deve ser evitada em suínos com suspeita de doença neurológica para não danificar o encéfalo. Após a eutanásia, realize a sangria seccionando a veia jugular externa e a artéria carótida. Para isso, rebata um dos membros torácicos. Após a eutanásia, escolha um local apropriado para realizar a necropsia. É recomendável que o local seja próximo a uma fonte de água limpa, de fácil remoção da carcaça e dos restos dos órgãos e de fácil limpeza e desinfecção. Evite que animais domésticos (ex. cães e gatos) fiquem no local da necropsia e tenham acesso às vísceras e restos da carcaça. Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 9 Esse passo compreende a técnica de necropsia propriamente dita e a colheita de amostras para exames laboratoriais. A realização de uma técnica de necropsia sistemática consiste em examinar todos os órgãos, reconhecer o que é normal e o que é anormal, interpretar e descrever as alterações encontradas e, se possível, elaborar o diagnóstico macroscópico. A colheita de amostras adequada, assim como a conservação, acondicionamento e submissão correta para o laboratório é essencial para a confirmação da suspeita clínica e/ou determinação do diagnóstico definitivo. Se for necessário, entre em contato com o laboratório de diagnóstico e peça informações. Para ter sucesso na obtenção do diagnóstico, a colheita, conservação, acondicionamento e envio das amostras para o laboratório deve respeitar alguns critérios: 4º • Realizar a necropsia e colher amostras para exames laboratoriais •Priorize a colheita de amostras para exames microbiológicos antes de manipular os órgãos para evitar contaminação; •Colha as amostras assepticamente. Utilize instrumentos (facas, pinças, tesouras) limpos e desinfetados para colher cada amostra.Para isso, passe álcool 92,8° GL nos instrumentos e flambe-os; •Coloque os órgãos em sacos plásticos separados para evitar contaminação; •Colha amostras de líquidos (articular, do saco pericárdico, das cavidades torácica e abdominal), preferencialmente, com seringa e agulha; •Refrigere (2-8°C) as amostras imediatamente após a colheita, acondicionando- as em caixas isotérmicas com gelo reciclável; •As amostras devem chegar ao laboratório sob refrigeração o mais breve possível e no máximo 72 horas após a colheita; •Amostras de casos suspeitos de doença de Glässer (Haemophilus parasuis) devem chegar ao laboratório no máximo 24 horas após a colheita, preferencialmente em meio de transporte Amies. Amostras para exames bacteriológicos Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 10 •Colha as amostras assepticamente. Siga o mesmo procedimento utilizado para a colheita de amostras paras exames bacteriológicos; •Coloque os órgãos em sacos plásticos separados para evitar contaminação; •Para investigar bactérias, as amostras colhidas devem ser mantidas sob refrigeração (2-8°C) ou congelamento (-20°C); •Para a quantificação de circovírus suíno tipo 2 (PCV2) envie 1 mL de sangue total (refrigerado), plasma ou soro (refrigerado ou congelado); •Para investigar o vírus influenza, congele os fragmentos de pulmão imediatamente após a colheita. Para amostras de secreção nasal, utilize suabes sintéticos (dracon ou rayon) com meio de transporte para vírus (informe-se com o laboratório); •Para a identificação de fímbrias e toxinas de Escherichia coli e para tipificação de Actinobacillus pleuropneumoniae, a amostra utilizada é a cepa isolada. Amostras para exames de biologia molecular (PCR) •Colha as amostras assepticamente, utilizado o mesmo procedimento para a colheita de amostras para exames bacteriológicos e de biologia molecular; •Isolamanto de vírus influenza é realizado somente em laboratórios com nível de segurança 3. Amostras para exame virológico Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 11 Amostras para exames histopatológico e imuno-histoquímico Conforme Não conforme • Use facas afiadas e uma superfície rígida para cortar os órgãos parenquimatosos (ex. baço, rim, fígado); • O corte de órgãos parenquimatosos com tesoura deixa as bordas irregulares e amassadas; • Utilize frascos de plástico rígido com tampa larga com excelente vedação; • Recipientes de vidro podem quebrar durante o transporte. Recipientes mal vedados podem causar vazamento de formol; • Conserve as amostras em formol tamponado a 10%; • O uso de formol não tamponado produz artefatos que podem interferir na interpretação do exame imuno-histoquímico; • Mantenha as amostras em formol tamponado a 10% em temperatura ambiente (21-23°C); • NÃO REFRIGERE as amostras em formol. O resfriamento do formol retarda a fixação, causando autólise. • Não transporte as amostras em formol com as amostras para exames microbiológicos e de PCR. Além de a refrigeração dificultar a fixação dos tecidos, o formol pode vazar e tornar as amostras impróprias para exames microbiológicos, já que o formol inativa os agentes infecciosos; • NÃO CONGELE as amostras para exame histopatológico. O congelamento produz cristais de gelo nos tecidos, tornando-os impróprios para exame histopatológico; • Colha fragmentos de órgãos parenquimatosos (ex. baço, fígado, rim) com no máximo 1 cm de espessura; • Fragmentos muito grandes não fixam completamente e autolisam, tornando-se impróprios para o exame; • Examine com cuidado a mucosa dos órgãos ocos (traqueia, intestino, útero); • Quando examinar órgãos ocos, não passe os dedos ou os instrumentos de necropsia na mucosa para não danificar o exame microscópico do epitélio; • Sempre remova as fezes antes de colocar os fragmentos de intestinos no formol; • As fezes impedem a penetração do formol, causando autólise do intestino; • Os órgãos colhidos para exame histopatológico e imuno-histoquímico podem ser colocados juntos no mesmo frasco com formol tamponado a 10%; • O formol inativa os agentes infecciosos, assim, não existe possibilidade de contaminação. Recomenda-se colher linfonodos ligados a uma estrutura adjacente para identificar a origem. • Para a fixação adequada dos tecidos deve-se respeitar a proporção de uma parte de tecido para 10 ou mais partes de formol; • Excesso de tecido e/ou pouco formol impede a fixação adequada e causa autólise; • Sempre coloque as amostras em frascos que já contêm formol; • Se colocar as amostras no frasco vazio, elas irão grudar no fundo e não haverá penetração do formol na parte que ficou grudada, causando autólise; • Fragmentos de pulmão que flutuam quando colocados no formol fixam, mesmo não estando completamente submersos; • O pulmão flutua porque tem ar. O formol penetra facilmente nos espaços com ar e fixa completamente o tecido. Assim, NÃO é necessário colocar algodão ou qualquer outro objeto no frasco com formol para submergir os fragmentos que flutuam; • As amostras para imuno-histoquímica são as mesmas para o exame histopatológico, portanto, não é preciso colher em duplicata; • A imuno-histoquímica é um exame complementar ao exame histopatológico de rotina e utiliza as mesmas amostras; • As amostras para exame imuno-histoquímico devem ficar preferencialmente no máximo 3 ou 4 dias no formol. • A chance de detecção de deteminados agentes infecciosos pode diminuir quando as amostras ficam muito tempo no formol. Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 12 Todas as amostras devem ser identificadas com caneta permanente e deve constar: nome do produtor ou granja, identificação do suíno (ex. mossa, baia), idade, tipo de amostra (ex. pulmão, suabe de pleura, líquido articular), data da necropsia e/ou coleta. A quarta etapa para o sucesso na obtenção do diagnóstico é a técnica de necropsia em si, que compreende uma sequência de procedimentos que visa o exame cuidadoso de todos os órgãos. Uma boa técnica de necropsia deve seguir 6 passos importantes. São eles: 1. Exame externo da carcaça; 2. Abertura da carcaça e visualização dos órgãos das cavidades torácica e abdominal; 3. Exame e colheita dos órgãos da cavidade torácica; 4. Exame e colheita dos órgãos da cavidade abdominal; 5. Exame e colheita do sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal); 6. Exame e colheita de músculos e ossos. A seguir a descrição do passo a passo da necropsia. João da Silva Mossa 180, 45 dias de vida Pulmão 28/08/2013 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 13 1º Passo: Exame externo da carcaça O exame externo do cadáver inclui a avaliação da condição corporal e o exame da pele, dos cascos, das mucosas visíveis e das articulações (Fig. 2). Avalie a condição corporal: ótima, boa, ruim, caquexia. Vértebras e costelas salientes indicam condição corporal ruim. Examine a pele à procura de alterações na cor: branca (anemia), azul (cianose), vermelha (congestão e hemorragia), amarela (icterícia). Verifique se há crostas, alopecia, espessamento, pústulas, feridas etc. •Colha assepticamente fragmentos com lesão de cerca de 5 x 5 cm ou maior. Amostras de pele para exame bacteriológico 2 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 14 Em leitões de maternidade examine o umbigo para observar se há cicatriz umbilical ou abscessos umbilicais (Fig. 3). Examine as mucosas visíveis. As mucosas oculares e oral devem ser rosadas (Fig. 4). As mucosas oculares podem estar pálidas (anemia), vermelhas (toxemia, septicemia ou trauma na região ocular) ou amarelas (icterícia). Examineos olhos para verificar o grau de hidratação. Olhos fundos nas órbitas indicam desidratação. Olhos salientes (protrusão) podem indicar trauma atrás do olho (traumatismo craniano) ou lesões que ocupam espaço (ex. abscessos retrobulbares). Pálpebras e conjuntivas oculares inchadas (edema) podem sugerir doença do edema. •Preferencialmente, colha fragmentos com lesão com uma porção de pele íntegra adjacente. O tamanho do fragmento pode ser de 2 x 2 cm ou até 5 x 5 cm. Cuide para não raspar a pele com a faca para não danificar o epitélio. Quando colher amostras de pele no frigorífico, evite colhê-lhas após a escaldagem. A escaldagem produz artefatos que prejudicam o exame histopatológico. Amostras de pele para exame histopatológico 3 4 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 15 Examine o focinho (Fig. 5) em busca de secreção nasal, vesículas e úlceras. Examine os espaços interdigitais, coxins (Fig. 6) e cascos (Fig. 7) e procure por vesículas, erosões e desprendimento da pele com formação de úlceras. Essas lesões ocorrem em doenças importantes como a febre aftosa, a doença vesicular dos suínos, a estomatite vesicular e o exantema vesicular dos suínos. Quando essas lesões forem observadas deve-se entrar imediatamente em contato com o serviço veterinário oficial do seu Estado (www.agricultura.gov.br). Examine os ouvidos (Fig. 8) em busca de secreções. 6 7 6 8 5 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 16 Examine a região perineal (Fig. 9) para verificar a se há restos de fezes aderidas (diarreia), prolapso de reto ou de útero, aumento de volume (hérnia perineal), alterações na genitália externa (secreções vulvares, aumento de volume (edema) na vulva, aumento de volume no escroto) e o aspecto da cauda. Examine as articulações dos membros torácicos e pélvicos. Observe se há aumento de volume. Abra as articulações. As superfícies articulares devem ser brancas, lisas e brilhantes. O líquido articular deve ser translúcido, límpido e levemente viscoso. Se o líquido sinovial estiver aumentado de volume, espesso, turvo ou flocular, colha amostras para exames bacteriológicos e PCR. Verifique quantas articulações estão afetadas para determinar se a inflamação é localizada ou generalizada. •Preferencialmente, colha amostras de líquido sinovial com seringa e agulha estéreis antes de abrir a articulação (Fig. 10). Caso não seja possível, abra a articulação e colha com suabe estéril (Fig. 11). Amostras de líquido articular para exames bacteriológico e PCR 9 11 10 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 17 O exame externo do cadáver pode demonstrar alterações ósseas, como a cifose e escoliose (Fig. 12). Também pode mostrar distensão abdominal causada por torção de mesentério, produção de gás post mortem (autólise) e atresia anal. 12 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 18 2º Passo: Abertura da carcaça e visualização dos órgãos das cavidades torácica e abdominal Antes de iniciar a abertura da carcaça, coloque o suíno em decúbito lateral direito. Com o cadáver em decúbito lateral direito não é preciso equilibrá-lo durante a desarticulação dos membros. Além disso, nessa posição o baço fica prontamente visível à abertura da cavidade abdominal (Fig. 22). Dessa maneira, lesões importantes no baço como esplenomegalia e infartos associados à circovirose, e infartos na salmonelose, são vistas de imediato, contribuindo para a colheita asséptica. Realizar a necropsia com o cadáver sempre na mesma posição permite adquirir uma memória visual da localização dos órgãos, que facilita a descrição macroscópica das lesões. Para abrir a carcaça e expor os órgãos internos, rebata os membros torácicos e pélvico esquerdos. Para isso, corte a pele, os músculos e o ligamento da articulação coxofemoral (Fig. 13). 13 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 19 Após desfazer a articulação coxofemoral, examine as superfícies articulares do acetábulo e da cabeça do fêmur (Fig. 14), que devem ser brancas, lisas e brilhantes. A seguir, corte a pele da região do queixo (mento) e faça uma incisão linear até a região abdominal ventral (Fig. 15). Corte a pele de dentro para fora. Se a faca cortar primeiro os pelos e a pele, perderá rapidamente o fio. O uso de facas sem fio pode causar acidentes devido à maior força exercida para cortar os tecidos. 14 15 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 20 Rebata a pele do tórax e do abdômen, expondo o tecido subcutâneo e a musculatura (Fig. 16). Toque o tecido subcutâneo com a palma da mão. Se a luva ficar um pouco aderida indica que o suíno estava desidratado. Apalpe o abdômen gentilmente à procura de fluído ou aumento de volume. Examine os linfonodos inguinais superficiais (Fig. 17, setas). A superfície natural dos linfonodos inguinais superficiais é levemente lobulada (inset Fig. 17) e a superfície de corte deve ser homogênea. A adminstração de ferro intramuscular confere cor marrom-escura ou laranja aos linfonodos da carcaça, e isso não deve ser confundido com hemorragia. Se os linfonodos estiverem aumentados de volume, amarelos (exsudato) ou vermelhos (hemorragia), colha-os para exames laboratoriais. 16 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 21 Para visualizar os órgãos da cavidade abdominal, localize o arco da última costela e corte os músculos abdominais (siga os tracejados da Fig. 18), fazendo uma janela ampla (Fig. 19). •Examine os linfonodos juntamente com os órgãos que eles drenam; •Correlacione as alterações observadas nos linfonodos inguinais superficiais com lesões na região e membros pélvicos; •Examine os linfonodos da cavidade torácica (retrofaríngeos e mediastínicos) junto com o pulmão; •Examine os linfonodos mesentéricos junto com os intestinos. Exame macroscópico dos linfonodos •Todos os linfonodos são microscopicamente idênticos. Para auxiliar o patologista na identificação da origem do linfonodo, colha uma estrutura adjacente junto com o linfonodo. Os linfonodos inguinais superficiais devem ser colhidos com a gordura que o circunda (inset Fig. 17). Colheita de linfondos inguinais superficiais para exames histopatológico e imuno-histoquímico 17 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 22 •Se durante o exame dos órgãos abdominais in situ observar líquido na cavidade ou fibrina sobre as serosas, colha amostras com seringa e agulha ou suabes estéreis. Colheita de líquido ou fibrina da cavidade abdominal para exames bacteriológico e PCR 18 19 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 23 A seguir, localize o diafragma e insira a ponta da faca para verificar se há pressão negativa na cavidade torácica (Fig. 20). Para expor os órgãos da cavidade torácica é necessário remover as costelas como um bloco (plastrão). Inicialmente, corte as inserções do diafragma com a faca. Depois, corte as junções das costelas com o esterno (siga o tracejado inferior da Fig. 21). A seguir, faça um corte com a faca nos músculos do dorso, rente à coluna vertebral (siga o tracejado superior da Fig. 21). 20 21 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 24 Levante o plastrão e force-o para trás, quebrando as costelas. Esse último passo pode ser facilitado com o uso do costótomo ou da serra para cortar as costelas, próximo às vértebras. Durante a exposição dos órgãos torácicose abdominais, observe atentamente todos os órgãos quanto à cor, posição e tamanho (Fig. 22). Procure por aderências e fluídos na superfície das cavidades torácica e abdominal. •Se durante a remoção do plastrão observar líquido na cavidade torácica ou fibrina sobre a pleura, colha amostras com seringa e agulha ou suabes estéreis antes de remover completamente o plastrão. Colheita de líquido ou fibrina da cavidade torácica para exames bacteriológico e PCR 22 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 25 3° Passo: Exame e colheita de órgãos da cavidade torácica Após a exposição dos órgãos, examine-os primeiramente in situ. Os órgãos examinados da cavidade torácica são: timo, esôfago, traqueia, pulmão, linfonodos traqueobrônquicos e mediastínicos, coração com o saco pericárdico e grandes vasos, e diafragma. Observe se há acúmulo de líquido ou aderências sobre as pleuras pulmonar (visceral) e costal (parietal) e no saco pericárdico. Examine os pulmões. A superfície pulmonar deve ser lisa e com a lobulação demarcada (Fig. 23). Os pulmões devem ser róseos e esponjosos. Áreas mais firmes e escuras podem indicar inflamação. Áreas com broncopneumonia são firmes e geralmente cranioventrais e bilaterais. Faça fatias no parênquima e examine a superfície de corte. Observe se há exsudato nos brônquios. A localização das lesões deve ser anotada de acordo com o(s) lobo(s) afetado(s). O esquema a seguir auxilia na identificação dos lobos pulmonares em caso de descrição de lesões (Fig. 24). 23 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 26 Divisão dos lobos pulmonares: CrD (lobo cranial direito), MeD (lobo médio direito), CaD (lobo caudal direito), I (lobo intermediário), CrE (lobo cranial esquerdo), MeE (lobo médio esquerdo), CaE (lobo caudal esquerdo). Ramo broncotraqueal (*). Examine a superfície do saco pericárdico, que deve ser lisa, translúcida e brilhante. Faça um corte com a tesoura no saco pericárdico e observe se há líquido ou aderências (Fig. 25). No interior do saco pericárdico é normal ter pequena quantidade de líquido translúcido. Se houver •Colha assepticamente fragmentos de pulmão de 10 x 10 cm ou maior, preferencialmente com lesão; •Amostras de casos suspeitos de pneumonia por influenza devem ser congeladas imediatamente após a colheita. Colheita de pulmão para exames bacteriológico, virológico e PCR •Colha fragmentos com lesão, de cerca de 1 cm de espessura; •Os fragmentos não devem ser amassados; •Em casos suspeitos de influenza, colha amostras de pulmão com lesão, próximas à traqueia; •Não é necessário colocar algodão no frasco com formol. Colheita de pulmão para exames histopatológico e imuno-histoquímico 24 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 27 aumento do volume de líquido no saco pericárdico, avalie a cor e o aspecto (hidropericárdio, pericardite). Se houver aderências que se desfazem facilmente com a mão (fibrina), indica inflamação aguda. Aderências firmes que não se desfazem (fibrose) entre o saco pericárdico e o coração indicam inflamação crônica. Após o exame e a colheita de amostras do pulmão esquerdo e do saco pericárdico, remova todos os órgãos da cavidade torácica como um monobloco. O monobloco torácico inclui a língua, laringe, esôfago, traqueia, linfonodos traqueobronquiais e mediastínicos, pulmão e coração. Para iniciar a remoção do monobloco torácico, rebata a pele da região ventral da cabeça e do pescoço (Fig. 26). Nesse momento, examine as porções cervical (Fig. 26) e torácica do timo. O timo é bege claro, macio e lobulado. 25 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 28 Examine os linfonodos do pescoço (retrofaríngeos e mandibulares) (Fig 27). Especialmente em leitões jovens, os linfonodos da carcaça ficam inicialmente marrom-escuros (Fig. 27) e depois alaranjados, após a administração intramuscular de ferro dextrano. Esse pigmento deve ser diferenciado de hemorragia. 26 27 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 29 A superfície de corte dos linfonodos deve ser macia e homogênea (parte superior da Fig. 28). Diferencie os linfonodos de estruturas adjacentes como a glândula salivar que é lobulada (parte inferior da Fig. 28). A seguir, insira a faca entre a parte interna dos ramos da mandíbula e a língua e corte os músculos na sínfise da mandíbula. Siga os tracejados da Fig. 30. •Como todos os linfonodos são microscopicamente idênticos, colha os linfonodos retrofaríngeos junto com uma porção da glândula salivar parótida; •Colha os linfonodos mandibulares ligado a uma porção da glândula salivar submandibular. Colheita de linfondos retrofaríngeos e mandibulares para exames histopatológico e imuno-histoquímico 28 30 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 30 Libere a ponta da língua entre os ramos da mandíbula e puxe-a para trás. Alguns músculos ainda podem estar presos na mandíbula e impedir a saída da língua. Corte-os. Assim que conseguir liberar a ponta da língua, puxe-a para trás. Corte as articulações do osso hioide, de cada lado da inserção da língua (Fig. 31), para liberar a língua e continuar a remoção do monobloco torácico. Os tecidos que circundam a traqueia e o esôfago vão sendo dissecados à medida que o conjunto com a língua é puxado ventral e caudalmente. Com a liberação da língua da cavidade oral, examine as tonsilas do palato mole (Fig. 32). As tonsilas são estruturas linfoides bilaterais ovaladas e achatadas e com múltiplas depressões (as criptas) (inset Fig. 32). Abscessos nas tonsilas são comuns e considerados lesões incidentais. Geralmente estão associados à retenção de pelos, partículas de fibras vegetais ou corpos estranhos. 31 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 31 Para continuar a retirada do monobloco da cavidade torácica, puxe a língua, a traqueia e o esôfago caudalmente e corte onde o saco pericárdico fica aderido na porção ventral da cavidade torácica. Nesse momento, examine os lobos pulmonares do lado direito. Se for necessário, colha amostras de pulmão antes de remover o monobloco. O último passo para remover o monobloco torácico é a secção de três estruturas (aorta, esôfago e veia cava caudal) na altura do diafragma (Fig. 33), que conectam os órgãos da cavidade torácica aos abdominais. 32 33 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 32 Com o monobloco torácico fora da cavidade, coloque-o sobre uma superfície limpa para examinar os órgãos e colher amostras (Fig. 34). Examine a língua. Examina as faces dorsal e ventral da língua. Faça cortes transversais e examine a superfície de corte. Examine a mucosa do esôfago. Para isso abra o esôfago longitudinalmente. A mucosa deve ser lisa, brancacenta e brilhante. Depois, separe o esôfago do monobloco para examinar a traqueia e os linfonodos traqueobrônquicos e mediastínicos. Abra a traqueia (Fig. 35) e procure por exsudato na mucosa. Continue abrindo os ramos dos grandes brônquios até suas porções finais. 35 34 35 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 33 Examine os linfonodos traqueobrônquicos e mediastínicos, que devem ser pequenos e pouco salientes. Examine o coração. Analise o tamanho, a cor e a forma do coração e a superfície epicárdica. O epicárdio deve ser liso e brilhante. Observe a quantidade de gordura epicárdica. A quantidade dos depósitos de gordura corporal (epicárdica, perirrenal, mesentéricae subcutânea) é indicativa do estado nutricional. Gordura epicárdica marrom-clara e gelatinosa significa atrofia serosa da gordura e indica que houve consumo das reservas de gordura corporal. Separe o coração do monobloco torácico cortando os grandes vasos da base. O exame do coração deve incluir a visualização dos ventrículos e átrios direito e esquerdo, das quatro valvas (tricúspide, mitral, semilunares pulmonar e aórtica), da íntima dos grandes vasos e a avaliação do miocárdio. Segue uma forma simplificada de abertura do coração: 1. Faça um corte transversal na metade do coração, logo abaixo do depósito de gordura epicárdica (Fig. 36). 36 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 34 2. Observe a espessura do ventrículo esquerdo em relação à do direito e o aspecto do miocárdio. O ideal é que o ventrículo esquerdo tenha o dobro da espessura do ventrículo direito (Fig. 37). 3. Insira a faca no ventrículo direito e corte em direção à veia cava. Examine a valva tricúspide. Com a tesoura, corte a valva em direção à artéria pulmonar. Observe a valva semilunar pulmonar (Fig. 38). 4. Insira a faca no ventrículo esquerdo e corte em direção às veias pulmonares. Observe a valva mitral. Corte a valva mitral (Fig. 39). 5. Observe a íntima da aorta, o orifício das coronárias e a valva semilunar aórtica (Fig. 40). 37 40 39 38 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 35 •Material rugoro e friável, com aspecto de couve-flor, recobrindo as valvas cardíacas indica endocardite vegetativa. Essa lesão geralmente está associa à infecção por Streptococcus suis ou Erysipelothrix rhusiophatiae. Nesses casos, envie o coração com as valvas para exame bacteriológico; •Em casos suspeitos de aborto associado ao PCV2, envie o coração do feto para PCR. Colheita de coração para exames bacteriológico e PCR •Colha um fragmento do miocárdio de 1 cm de espessura, que contenha ventrículos direito e esquerdo e septo ventricular (tracejado da Fig. 41). Colheita de coração para exame histopatológico e imuno-histoquímico 41 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 36 4° Passo: Exame e colheita de órgãos da cavidade abdominal Os órgãos examinados da cavidade abdominal são: baço, estômago, intestinos delgado e grosso, pâncreas, fígado, vesícula biliar, rins, adrenais, bexiga e aparelho reprodutor da fêmea (útero e ovários) e do macho (glândulas sexuais acessórias). Nesse conjunto, examine os testículos e epidídimos. Observe todos os órgãos da cavidade abdominal quanto à cor, posição e tamanho (Fig. 42). Examine primeiramente os órgãos in situ. Amostras para exames microbiológicos e PCR devem ser colhidas de forma asséptica e preferencialmente antes da remoção dos órgãos da cavidade. Amostras para exames histopatológico e imuno-histoquímico são colhidas após a remoção dos órgãos da cavidade abdominal. Examine o baço. O baço deve ser relativamente plano, macio, maleável e com as margens finas. 42 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 37 Remova o baço junto com o omento que está inserido na borda do estômago (Fig. 43), e examine o omento. Coloque o baço em uma superfície limpa e rígida (Fig, 44) e faça fatias para examinar o parênquima. A superfície de corte deve ser uniforme e com leve aspecto reticular. •Colha assepticamente um fragmento de aproximadamente um terço do órgão (Fig.45), preferencialmente antes de removê-lo da cavidade. Colheita de baço para exames bacteriológico e PCR 43 44 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 38 A seguir examine o fígado in situ. O fígado deve ser vermelho-escuro (cor de vinho) (Fig. 46). A superfície capsular deve ser lisa e brilhante e a lobulação bem demarcada. Se o suíno foi sangrado, o fígado estará pálido (inset Fig. 46) e isso não deve ser confundido com anemia. •Colha pelo menos duas fatias de 1 cm de espessura (Fig. 45). Evite colher fragmentos das extremidades do órgão. Colheita de baço para exames histopatológico e imuno-histoquímico 45 46 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 39 Apalpe delicadamente o fígado pela superfície capsular e procure por nódulos, áreas friáveis, cistos ou outras lesões. Com o fígado na cavidade abdominal, colha amostras para exames bacteriológico e PCR. Após, remova o fígado da cavidade abdominal, coloque-o sobre uma superfície limpa e rígida e faça diversos cortes para examinar a consistência e o aspecto do parênquima. A consistência do fígado dos suínos é mais firme que a das outras espécies, porque os lóbulos hepáticos são demarcados por tecido fibroso. Depois, abra a vesícula biliar e observe o conteúdo e a parede. Vesícula biliar distendida indica que o suíno estava sem se alimentar há várias horas. A seguir examine os intestinos in situ. Examine atentamente a serosa e observe as placas de Peyer do jejuno e íleo (Fig. 48) e os agregados •Colha assepticamente um fragmento de 10 x 10 cm ou maior, antes de removê-lo da cavidade abdominal. Cuide para não perfurar a vesícula biliar. Colheita de fígado para exames bacteriológico e PCR •Colha pelo menos duas fatias de 2 x 1 cm (Fig. 47). Evite colher amostras das bordas do órgão. Colheita de fígado para exames histopatológico e imuno-histoquímico 47 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 40 linfóides do intestino grosso (Fig. 49). Apalpe o intestino grosso para verificar a consistência das fezes. Examine os linfonodos mesentéricos junto com os intestinos. Para isso, localize primeiramente o íleo, na sua inserção com o ceco (Fig. 53). Em leitões jovens, os linfonodos da carcaça ficam inicialmente marrom- escuros e depois alaranjados, devido à administração intramuscular de ferro dextrano (Fig. 50). •Colha assepticamente uma porção dos linfonodos, preferencialmente sem remover o mesentério adjacente. Colheita de linfondos mesentéricos para exames bacteriológico e PCR 48 49 50 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 41 Após o exame e colheita dos linfonodos mesentéricos, colha amostras das diferentes porções de intestino delgado e grosso para exames laboratoriais. •Colha um fragmento de linfonodo mesentérico de 2 cm de comprimento, ligado ao mesentério adjacente. Colheita de linfonodos mesentéricos para exames histopatológico e imuno-histoquímico •Colha porções de alças intestinais com conteúdo. Para isso, amarre com barbante segmentos de cerca de 10 ou 15 cm de comprimento, de duodeno (próximo ao pâncreas), jejuno e íleo (Fig. 51); •Amarre uma porção do ceco (na sua extremidade cega). Depois, amarre as alças do cólon (não é necessário separar as alças do cólon); •Depois que todos os segmentos de intestino estiverem amarrados, retire- os da cavidade abdominal, embale-os separadamente, identifique e conserve-os sob refrigeração até a chegada ao laboratório. Colheita de intestinos para exames bacteriológico e PCR 51 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 42 Após a colheita de amostras para exames microbiológicos e PCR, os intestinos podem ser removidos da cavidade abdominal como um monobloco. Para isso, corte o duodeno próximo ao piloro, a inserção do mesentério logo abaixo do rim e na porção final do reto (Fig. 52). Coloque o monobloco de intestinos (Fig.53) em uma superfície limpa para examinar a mucosa. 52 53 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 43 Examine a mucosa dos intestinos. Abra algumas porções do duodeno, jejuno e íleo e examine a mucosa e as placas de Peyer (Fig. 54). Examine a mucosa do ceco, cólon e reto. Para exames histopatológico e imuno-histoquímico pode-se colher amostras de intestinos de duas maneiras: 1. Fragmentos em forma de cilindro: corte segmentos de 3 a 4 cm de comprimento na forma de um cilindro (Fig. 51). Depois, faça um corte de 0,5 cm com a tesoura em cada extremidade do cilindro para facilitar a penetração do formol. Para remover as fezes, segure o fragmento por uma das extremidadas com a pinça e mergulhe-o em um recipiente com água ou no próprio frasco com formol tamponado a 10%. Faça movimentos leves para que as fezes saiam. Certifique-se que as fezes foram removidas, caso contrário, haverá autólise que prejudicará o exame histopatológico. 2. Fragmentos em forma de fita: corte segmentos de cerca de 5 cm de comprimento (Fig. 51) de várias porções do intestino. Remova as fezes da superfície da mucosa mergulhando o fragmento em água ou formol tamponado a 10%, fazendo movimentos delicados até que as fezes se desprendam. Não jogue água diretamente na mucosa e não raspe a mucosa para remover as fezes. 54 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 44 A seguir, remova o estômago da cavidade abdominal. Examine a mucosa do estômago. Para isso, abra o estômago pela curvatura maior (Fig. 55). A região das glândulas fúndicas é normalmente vermelho- acastanhada (Fig. 56), em comparação com as outras regiões da mucosa, que são brancacentas. Após a morte, o avermelhamento das glândulas fúndicas fica mais acentuado, principalmente se o estômago estiver repleto de alimento. Examine os rins. Remova os rins da cavidade abdominal (Fig. 57). Faça um corte longitudinal em um dos rins no lado oposto da pelve renal e examine a relação córtex:medular (Fig. 58). Retire a cápsula com o auxílio da pinça. O outro rim pode ser cortado transversalmente, para obter uma fatia com a pelve inteira para exame histopatológico (tracejado da direita da Fig. 58). Remova as adrenais (Fig. 57) que •Colha dois ou três segmentos de duodeno, de jejuno e de íleo; •Colha um ou dois segmentos de ceco e de cólon espiral; •Não aperte ou passe os dedos ou os instrumentos de necropsia na serosa ou na mucosa para não danificar o epitélio; •Os intestinos autolisam muito rápido. Colha as amostras imediatamente após a eutanásia; •Evite colher amostras de intestinos de suínos encontrados mortos; •Remova as fezes antes de colocar os fragmentos no formol para evitar a autólise. Colheita de intestinos para exames histopatológico e imuno- histoquímico 55 56 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 45 estão localizadas próximo ao polo cranial de cada rim. Faça cortes transversais e examine a relação córtex:medular Examine a bexiga. Abra a bexiga e avalie a cor (Fig. 59) e o odor da urina. Examine a mucosa. A parede da bexiga é normalmente espessa quando está vazia e fina quando está distendida por urina. •Colha assepticamente um fragmento de cerca da metade do rim, cortado transversalmente (Fig. 58). Colheita de rim para exames bacteriológico e PCR •Colha uma fatia transversal com a pelve, de 1 cm de largura (tracejado da direita da Fig.58) ou uma porção da metade cortada logitudinalmente (tracejado da esquerda da Fig. 58) Colheita de rim para exames histopatológico e imuno-histoquímico 57 58 59 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 46 Examine o sistema reprodutor da fêmea (Fig. 60). Remova o útero da cavidade abdominal e abra os cornos uterinos. Em fêmeas reprodutoras, examine os ovários e avalie se há corpos lúteos. Fêmeas ciclando apresentam corpos lúteos. Fêmeas pré-púberes, consideradas não cíclicas, apresentam apenas folículos em diversos estágios de desenvolvimento e ausência de corpos lúteos. Se o útero estiver gravídico, examine-o juntamente com a placenta e as outras membranas fetais (Fig.61). Retire os fetos e examine-os. Avalie se os fetos estão bem formados (Fig. 62) ou se há fetos mumificados (Fig. 63). Envie alguns fetos e mumificados inteiros sob refrigeração para o laboratório. 60 61 62 61 63 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 47 Examine o sistema reprodutor do macho (testículos e glândulas sexuais acessórias). As glândulas sexuais acessórias (vesículas seminais, glândulas bulbouretrais e próstata) são removidas junto com a bexiga. Nesse momento, remova os testículos e epidídimos do saco escrotal e seccione-os longitudinalmente para observar o parênquima (Fig. 64). 64 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 48 5° Passo: Exame e colheita do sistema nervoso central (encéfalo e medula espinhal) O exame do sistema nervoso central inclui o exame do encéfalo e da medula espinhal. A remoção do sistema nervoso central é laboriosa, mas é essencial em casos que cursam com sinais clínicos neurológicos. Em casos de morte súbita, o exame do encéfalo pode ser importante para a determinação do diagnóstico definitivo, especialmente quando não são observadas lesões macroscópicas nos demais órgãos que justifiquem a causa da morte. Em muitos casos, o exame macroscópico pode direcionar para a provável causa da morte, mesmo que não seja possível colher amostras para exames laboratoriais devido à autólise. Para remover o encéfalo, desarticule a cabeça do pescoço, acessando ventralmente a articulação atlanto-occipital e seccione a medula espinhal cervical (Fig. 65). 65 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 49 Disseque a pele e remova e os músculos da cabeça. Para segurar a cabeça mais facilmente, mantenha a pele que recobre o focinho (Fig. 66). A seguir, serre ou corte os ossos da cavidade craniana, com o auxílio da serra, machado ou alicate de corte, seguindo os três tracejados da Fig. 66. Corte o osso occipital seguindo os dois tracejados da Fig. 67. Após o corte das linhas demarcadas, force a calota craniana para trás e exponha o encéfalo envolto pela dura-máter (Fig. 68). 66 67 68 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 50 A seguir, corte a dura-máter com a tesoura para observar a superfície do encéfalo recoberta pelas leptomeninges (Fig. 69). Certifique-se que cortou o tentório do cerebelo (porção da dura-máter que fica entre o encéfalo e o cerebelo). Se não cortar o tentório do cerebelo, quando for remover o encéfalo, o cerebelo será separado do restante do encéfalo. Examine as leptomeninges, que devem ser transparentes a olho nu (Fig. 69). Nesse momento, colha amostras com suabe estéril para exame bacteriológico. Após o exame das leptomeninges da porção superior do encéfalo, proceda a remoção do encéfalo. Para isso, dependendo do tamanho do suíno, pode-se fazer a remoção do encéfalo de duas maneiras: Em leitões de poucas semanas de idade, pode-se retirar o encéfalo da cavidade craniana invertendo a posição da cabeça para baixo, de forma que o encéfalo fique pendurado apenas pelo bulbo olfatório e pelos nervos cranianos. Depois, com uma das mãos, segure o crânio invertido e corte com a tesoura as •Em casos suspeitos de meningite, antes de remover o encéfalo do crânio, passe o suabe nas leptomeninges entre os hemisférios cerebrais;•Como o exsudato tende a se acumular em maior quantidade na porção ventral do encéfalo, recomenda-se passar outro suabe na base do encéfalo (tronco encefálico) ou entre o cerebelo e a ponte (na altura do IV ventrículo), pois as chances de isolar a bactéria do exsudato são maiores. Colheita de fibrina ou exsudato das leptomeninges com suabe para exames bacteriológico e PCR 69 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 51 inserções dos nervos cranianos no assoalho da cavidade e do bulbo olfatório, cranioventralmente ao lobo frontal. Dessa forma, o encéfalo cairá cuidadosamente sobre a palma da mão. Nesse momento, examine a face ventral do encéfalo. Em leitões maiores, coloque a cabeça de lado sobre uma superfície limpa e seccione as inserções dos nervos cranianos e do bulbo olfatório. Enquanto isso coloque a outra mão próxima ao encéfalo para segurá-lo. Quando o encéfalo estiver fora da cavidade craniana, identifique as três grandes áreas anatômicas: telencéfalo ou hemisférios cerebrais (H), cerebelo (C) e tronco encefálico (T) (Fig. 70). •Coloque o encéfalo em uma superfície limpa e corte-o longitudinalmente (entre os hemisférios cerebrais) (tracejado da Fig. 71) separando-o em duas metades. Envie uma das metades (Fig. 72) sob refrigeração. Colheita de encéfalo para exames bacteriológico, virológico e PCR 70 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 52 Com o encéfalo fora do crânio, é possível observar a localização do par de gânglios do nervo trigêmeo (T ou GT) ou de Gasser no assoalho da cavidade craniana, de cada lado da hipófise (H) (Fig. 73). A colheita do monobloco do gânglio do nervo trigêmeo + rete mirabile carotídea + hipófise (Fig. 74) pode ser feita com o bisturi ou com a ponta da faca. No aspecto ventral do monobloco pode-se observar a rete mirabile carotídea (R) (Fig. 75). •Se for possível, envie o encéfalo inteiro (Fig. 70) para exame histopatológico em formol tamponado a 10%. Respeite a proporção de uma parte de tecido para 10 ou mais partes de formol e o encéfalo inteiro fixará adequadamente; •Se não for possível enviar o encéfalo inteiro, corte-o longitudinalmente (entre os hemisférios cerebrais) separando-o em duas metades. Envie uma metades (Fig. 72) em formol tamponado a 10%; •Evite fazer múltiplos cortes no encéfalo. Isso prejudica a identificação das estruturas pelo patologista; •Evite manipular o encéfalo excessivamente para não produzir artefatos que interferem no exame histopatológico. Colheita de encéfalo para exame histopatológico 71 72 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 53 O gânglio do nervo trigêmeo é o local de latência do vírus da doença de Aujezky. O 5º passo da necropsia também inclui a remoção da medula espinhal. Para isso é necessário acessar o canal vertebral. Inicialmente, para facilitar o acesso, remova os músculos que circundam a porção dorsal da coluna vertebral. Após a remoção dos músculos adjacentes à coluna vertebral deve-se cortar a porção dorsal das vértebras para visualizar a medula espinhal. Para isso, corte (com machado ou alicate de corte) ou serre a parte •Envie um gânglio sob refrigeração. Colheita de gânglio do nervo trigêmeo para exame virológico •Envie um gânglio ligado à hipófise em formol tamponado a 10%. Colheita de gânglio do nervo trigêmeo para exame histopatológico 73 74 75 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 54 dorsal das vértebras para expor a medula espinhal recoberta pela durá- máter. A seguir, seccione com a tesoura as raízes dos nervos cranianos para remover a medula espinhal, recoberta pela dura-máter, da coluna vertebral. Evite manipular excessivamente a medula espinhal para não produzir artefatos que interferem no exame histopatológico. •Se possível, envie a medula espinhal inteira e envolta pela dura-máter em formol tamponado a 10%; •Se não for possível enviá-la inteira, identifique os segmentos (cervical, torácico, lombar e lombossacral) enviados para exame laboratorial. Para isso, coloque cada segmento em um frasco separado e identifique. Colheita de medula espinhal para exame histopatológico Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 55 6° Passo: Exame e colheita de músculos e ossos Ainda na cabeça, após a remoção do encéfalo, examine os cornetos nasais. Para isso, trace uma linha imaginária ligando as comissuras labiais e serre o nariz (tracejado da Fig. 76). Os cornetos devem ser simétricos e não devem conter secreções. O septo nasal não deve ter desvios (Fig. 77). Antes de descartar a cabeça é possível examinar o músculo masseter. Faça uma fatia superficial e outra mais profunda no músculo masseter de cada lado e examine o aspecto da superfície de corte. •Serre uma fatia de aproximadamente 1 cm de espessura e coloque-a em formol tamponado a 10%. Avise o laboratório que está enviando os ossos do nariz com os cornetos. Nesses casos, será necessário descalcificar o osso no laboratório. •Outra maneira é colocar a tesoura dentro do nariz serrado, cortar um fragmento de corneto e retirá-lo do nariz com a pinça. Como o espaço para cortar os cornetos com a tesoura é estreito, cuide para não esmagá-lo e prejudicar o exame histopatológico. Colheita de cornetos nasais para exame histopatológico 76 77 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 56 Examine as grandes massas musculares. Faça cortes nas grandes massas musculares da região lombar e pélvica e examine a superfície de corte. Músculos pálidos, com aspecto de carne cozida, pode ser uma alteração post mortem. Examine os ossos e a medula óssea. O exame dos ossos geralmente é realizado no momento em que o plastrão está sendo removido. Durante o corte das costelas é possível verificar a consistência do osso e a cor da medula óssea. Separe uma costela e force para quebrá-la. A costela não deve sofrer deformação. A medula óssea deve ser vermelha. Examine a coluna vertebral. Após a remoção da medula espinhal, serre a coluna vertebral longitudinalmente e examine as vértebras e os discos intervertebrais. •Se a necropsia foi realizada imediatamente após a morte e forem observadas contrações musculares na carcaça (cotrações involuntárias post mortem), corte fatias de músculos de 1 a 1,5 cm de espessura e deixe-as por cerca de 5 a 10 minutos repousando sobre uma superfície limpa e plana, em temperatura ambiente, antes de colocar em formol tamponado a 10%. Isso evita que o músculo fixe contraído e interfira na interpretação do exame histopatológico. Colheita de músculos para exame histopatológico •Corte um fragmento de costela da epífise, de cerca de 4 cm de comprimento e coloque-o em formol tamponado a 10%; •Corte outro fragmento de costela da epífise e remova parte do osso para expor a medula óssea. Isso facilita a penetração do formol na medula óssea. Colheita de ossos e medula óssea para exame histopatológico Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 57 Após o término da necropsia e da coleta das amostras para exames laboratoriais, remova a carcaça e os restos de órgãos do local e elimine- os corretamente (enterre ou incinere). O local da necropsia, assim como os instrumentos de necropsia deverão ser limpos e desinfetados. Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 58 O laudo de necropsia consiste na descrição das lesões macroscópicas. Para isso, ainda na granja, pode-se utilizar uma checklist para descrever as alterações observadas em cadaórgão, assim como anotar as amostras que foram coletadas. O hábito de fotografar as lesões de necropsia também auxilia na descrição, principalmente quando várias necropsias são realizadas no mesmo dia. O uso de uma checklist é útil para lembrar todos os detalhes observados na necropsia. Se o laboratório tiver uma ficha específica, preencha todas as informações solicitadas, assim como os exames laboratoriais necessários para o diagnóstico. Quando preencher a ficha do laboratório, inclua o histórico clínico completo, as suspeitas clínicas, a descrição das lesões macroscópicas e os possíveis diagnósticos diferenciais. No laudo de necropsia deve constar: 1. Identificação: idade estimada, sexo, fase de produção, número de suínos necropsiados etc; 2. Condição corporal (ótima, boa, ruim, caquético); 3. Grau de autólise (leve, moderada, acentuada); 4. Descrição dos achados externos (incluindo cor das mucosas); 5. Descrição das alterações internas. Descreva primeiro as alterações mais importantes (lesões), que são aqueles que causaram a morte 5º • Escrever o laudo de necropsia Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 59 ou a razão para a eutanásia. Depois descreva as alterações menos importantes (consideradas como lesões de pouco significado ou incidentais) e que não estão correlacionadas diretamente com a morte ou razão para eutanásia. Para mais informações, consulte o artigo aceito para publicação intitulado “Nem tudo que parece ser, é lesão: aspectos anatômicos, não lesões, artefatos, lesões de pouco significado clínico e alterações post mortem encontrados na necropsia de suínos domésticos e selvagens (Sus scrofa)”, Raquel R. Rech et al., que encontra-se anexado neste manual. Sempre faça a descrição da lesão e se estiver certo da interpretação macroscópica da lesão, coloque-a entre parênteses após a descrição. Ex: a gordura epicárdica estava substituída por material gelatinoso (interpretado como atrofia serosa da gordura); 6. Observações: acrescente qualquer informação que achar pertinente para auxiliar no diagnóstico laboratorial. Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 60 DESCRIÇÃO DAS LESÕES MACROSCÓPICAS A necropsia fornece informações importantes para comprovar o diagnóstico clínico ou ampliar a lista de diagnósticos diferenciais. A necropsia só é completa quando se descreve detalhadamente as alterações macroscópicas para auxiliar o pessoal do laboratório na interpretação dos resultados. Portanto, a necropsia não consiste apenas na coleta de amostras para o laboratório. A descrição macroscópica deve incluir todos os achados e lesões observados na necropsia. Os achados de necropsia são alterações menos importantes e/ou que não estão relacionadas com a causa da morte ou razão para a eutanásia. Já as lesões são aquelas relacionadas aos sinais clínicos ou à causa da morte do suíno. Se nenhuma lesão macroscópica for observada em um determinado órgão, deve-se informar “sem alterações macroscópicas”. Se não houver lesões no estômago e intestinos, deve-se descrever se existe conteúdo gástrico (ingesta) ou intestinal (digesta ou fezes), bem como o volume e o aspecto do conteúdo. No caso do útero, deve-se informar se estava gravídico, o número de fetos, a aparência dos fetos (viáveis, mumificados etc) e a idade gestacional estimada. A descrição das lesões macroscópicas utilizada neste manual é baseada na metodologia aplicada pelo Prof. Claudio Barros, professor de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria. Essa metodologia utiliza 6 critérios para descrever as lesões: Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 61 1. Localização 2. Distribuição 3. Cor 4. Tamanho 5. Forma 6. Consistência Cada lesão deve ser descrita seguindo os 6 critérios: 1. Localização: é o local onde está a lesão, que pode ser uma estrutura anatômica, um órgão, uma cavidade corporal. Ex. cavidade abdominal, saco pericárdico, lobo cardíaco direito do pulmão, córtex renal, pele, leptomeninges etc. 2. Distribuição: usam-se alguns termos específicos para descrever a distribuição das lesões macroscópicas: a. Lesão focal é aquela que abrange apenas uma área de determinado órgão ou estrutura anatômica; b. Lesão multifocal é aquela que ocorre em mais de uma área em um determinado órgão ou estrutura anatômica; c. Lesão multifocal ou coalescente é aquela em que alguns focos da lesão estão unidos (coalescente); d. Lesão difusa é aquela que acomete todo o orgão ou estrutura anatômica. Focal Multifocal Multifocal ou coalescente Difusa Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 62 3. Cor: as cores frequentemente observadas na necropsia podem ser relacionadas com determinados processos patogênicos e auxiliam o médico veterinário no entendimento do processo que desenvolveu a lesão. As cores observadas na necropsia são: •observado principalmente em processos que envolvem problemas circulatórios. •Ex.: congestão (Fig. 78, torção de mesentério que inicialmente causa congestão dos vasos sanguíneos do mesentério, culminando em perda do fluxo sanguíneo e necrose). •Ex. hemorragia (Fig. 79, Pneumonia necro-hemorrágica causada por Actinobacillus pleuropneumoniae). Vermelho •observado frequentemente em processos inflamatórios agudos, principalmente os que cursam com exsudação de fibrina. Na doença de Glässer ocorre polisserosite (Fig. 80), poliartrite e meningite fibrinosas, causada por Haemophilus parasuis. •doenças que cursam com desordens do pigmento bilirrubina também conferem cor amarela (icterícia) aos órgãos, geralmente associada à doenças hemolíticas ou hepáticas. Amarelo 78 79 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 63 •mucosas oculares brancas ou pálidas indica anemia. Quando áreas brancas são vistas em um órgão, corresponde a perda do fluxo sanguíneo daquela área e indica infarto; •a cor branca também é associada a processos inflamatórios crônicos, por exemplo, fibrose (Fig. 81, aderências fibrosas entre as pleuras visceral e parietal, correspondendo à pleurite fibrosante). Na fase aguda da inflamação, a fibrina (amarela) mais tarde é substituída por fibrose (branca) e indica lesão crônica; •Músculos brancos pode indicar necrose; •Músculos pálidos, com aspecto de carne cozida, pode ser uma alteração post mortem; Branco 80 81 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 64 •a cor preta das fezes de suínos pode estar associada à úlceras gástricas (Fig. 82). Nesses casos, o sangue da mucosa ulcerada sofre digestão e torna-se preto. Fezes pretas (Fig. 83) indicam presença de sangue digerido (melena) e é um sinal importante que indicae úlcera gástrica; •a cor preta também pode estar associada à pseudomelanose que é uma alteração post mortem. A pseudomelanose é vista como áreas enegrecidas, acinzentadas, esverdeadas ou azuladas, causadas pela decomposição do sangue pela ação de bactérias, com formação de sulfeto de hidrogênio. Pode ser observada na parede do abdômen e na superfície de órgãos que ficam em contato com o intestino, como o fígado, baço e rim (Fig. 84). Preto •é vista nos estágios avançados de autólise (Fig. 85). A proliferação de bactérias post mortem produz pigmento verde que tinge, principalmente, a pele do abdômen. Os órgãos em contato com a vesícula biliar também ficam tingidos de verde após a morte. Isso ocorre porque o epitélio da vesícula biliar autolisa muito rápido e causa impregnação do pigmento biliar nos tecidos vizinhos. Verde 82 83 84 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exameslaboratoriais 65 •o conteúdo de cistos é translúcido (Fig. 86, cistos renais). O edema é translúcido (Fig. 87, edema no mesocólon). Translúcido •é observada nos linfonodos de leitões após a administração intramuscular de ferro. Logo após a administração do ferro, os linfonodos ficam marrom- escuros e mais tarde ficam laranja (Fig. 88). O pigmento férrico é filtrado pelos linfonodos de toda a carcaça. Não confundir com hemorragia. Laranja 85 86 87 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 66 4. Tamanho: as alterações de tamanho (aumento ou diminuição) dos órgãos, assim como o volume de líquidos cavitários devem ser descritos baseados em 3 categorias: leve, moderada e acentuada. Por exemplo, na circovirose (PCV2), os linfonodos mesentéricos podem estar acentuadamente aumentados de volume (Fig. 89). Ainda, é possível descrever o aumento de tamanho dos órgãos utilizando medidas exponenciais. Por exemplo, os linfonodos mesentéricos estão o triplo do tamanho normal. O tamanho das lesões pode ser medido utilizando-se uma régua ou o palmo da mão ou do polegar como referência. 88 89 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 67 5. Forma: quanto à forma, as lesões podem ser descritas como deprimidas, elevadas, geométricas, lineares, circulares etc. Endocardite vegetante produz lesões elevadas nas valvas cardíacas (Fig. 90). Lesões geométricas são observadas na erisipela (Fig. 91). Úlceras gástricas são lesões deprimidas (Fig. 92) 6. Consistência: a consistência das lesões pode ser classificada de três formas: a. Macia: consistência do lobo da orelha. A maioria das lesões tem consistência macia. Ex. abscessos (Fig. 93). Cortesia Noah´s Arkive 90 91 92 93 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 68 Nessa classificação também estão incluídas as lesões friáveis (que desmancham ao toque). b. Firme: consistência da ponta do nariz. Inflamações no pulmão geralmente são firmes, pois os espaços aéreos são preenchidos por células inflamatórias que conferem consitência firme ao parênquima (Fig. 94, broncopneumonia cranioventral associada ao Mycoplasma hyopneumoniae). c. Dura: consistência da testa. Em suínos, lesões duras podem estar associadas à calcificação de tecidos necróticos, como na infecção por micobactérias (Fig. 95). Nesses casos, a consistência ao corte da faca é semalhante à de grãos de areia. Cortesia Dr. Nuno Santos 94 95 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 69 A seguir um exemplo de descrição macroscópica (Figs. 96 e 97): 96 97 Necropsia de suínos e coleta de amostras para exames laboratoriais 70 Pulmão: múltiplos lóbulos vermelho-escuros, firmes e deprimidos, distribuídos pelos lobos cranial (principalmente), cardíado e diafragmático esquerdos. Na superfície de corte há brônquios com secreção mucopurulenta. Diagnóstico morfológico: pneumonia broncointersticial cranioventral multifocal ou coalescente moderada Suspeita macroscópica: pneumonia pelo vírus influenza A Diagnósticos complementares/diferenciais: investigar pneumonia por Mycoplasma hyopneumoniae e bactérias piogênicas secundárias Para mais informações, consultar o artigo intitulado “Orientações para o diagnóstico de influenza em suínos”, Schaefer et al. publicado na revista Pesquisa Veterinária Brasileira, 33(1):61-73, 2013, que encontra-se anexado neste manual.
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