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4° período Medicina Propedêutica Atitude e Posição Introdução • Atitude representa a posição ou decúbito de preferência adotada pelo paciente, geralmente como forma de alívio de algum sintoma ou por contração muscular involuntária. Esse termo pode ter outras definições, sobretudo na psiquiatria, se referindo ao modo de agir do paciente e abrangendo muito mais categorias, mas para esse texto vamos nos ater à primeira definição. A posição pode ser diferenciada entre voluntária (aquela assumida espontaneamente) ou involuntária (resultado de estímulos do sistema nervoso central). Semiotécnica • A análise da atitude do paciente é feita fundamentalmente pela ectoscopia, ocorrendo de maneira quase involuntária durante o atendimento de um médico especializado. Para aqueles que estão começando, uma sistematização pode ser feita para sua percepção: • Observe os movimentos corporais do paciente • O paciente fica muito em pé ou mais deitado? Se movimenta o tempo inteiro ou está imóvel? Apresenta alguma postura anômala? • Expressões faciais • A face diz muito sobre como o paciente se sente. Observe se ele expressa dor ao movimento, se fica dispneico ou mais irritado; • Analise os dados vitais nas diferentes posições • Se você nota que o paciente prefere uma posição específica, tente mudá-lo de decúbito e examinar seus dados vitais durante essa mudança, observando se há alguma alteração. Também é importante perguntar o paciente sobre como ele se sente em cada posição e o motivo pelo qual prefere uma específica. • Distinguir se a atitude é voluntária ou involuntária • Um passo fundamental é saber se a posição é tomada voluntariamente ou não. A forma mais fácil é avaliando o nível de consciência do paciente, como por meio da Escala de Coma de Glasgow: se há rebaixamento da consciência, essa atitude muito provavelmente é involuntária. Porém mesmos pacientes alertas podem ter atitudes que independem da sua vontade, geralmente por contrações musculares involuntárias. Nesses casos é importante fazer um exame neurológico mais específico para tentar identificar alterações nervosas. • Principais Erros - Não respeitar a posição preferida pelo paciente. Como mencionado, a maioria delas ocorre para alívio de algum sintoma (dor, dispneia), com o paciente sentindo grande desconforto em outro decúbito. É importante adaptar o exame físico para permitir que o paciente adote a posição desejada, movendo-o pelo menor tempo possível. Achados e Correlações Clínicas • Atitude ortopneica • Representa uma dispneia exacerbada pelo decúbito, que melhora em ortostatismo. Com isso, o paciente assume a posição voluntária de elevação do tronco, mantendo-se em pé ou sentado com a cabeceira elevada. Eles relatam dormir com múltiplos travesseiros e até sentados, com objetivo de manter o tórax na posição mais ereta possível. Ocorre em doenças com congestão pulmonar, como na Insuficiência cardíaca descompensada, ou com aumento de volume abdominal, como na ascite, na qual o decúbito leva à compressão torácica pelo abdome. • Posição genupeitoral • Paciente em decúbito ventral com pernas a 90° e tórax em contato com o solo (prece maometana), adotada voluntariamente. Pode ser encontrada em pacientes com derrame pericárdico, pois facilita o enchimento cardíaco. • Cócoras (squatting) • Consiste em posição de agachamento, adotada por crianças com cardiopatia congênita cianótica (Ex: Tetralogia de Fallot). • Atitude antálgica • A posição mais frequentemente adotada perante uma dor é apoiar sua mão sobre o local. O exemplo mais comum é o sinal de Levine (punho cerrado sobre o tórax) na angina. Já em outros casos pode haver uma contração corporal visando reduzir o estímulo no local doloroso. O decúbito dorsal com pernas fletidas sobre as coxas é uma postura comum, que ocorre em processos inflamatórios pélvicos (cólica menstrual); o decúbito ventral em dores abdominais; e a escoliose antálgica (sinal de Vanzetti), em lombalgias. • Paciente inquieto • Certos tipos de dores levam o paciente a se movimentar ativamente, procurando uma posição de maior alívio. Ocorre em cólicas intestinais (gastroenterites agudas) e renais (nefrolitíase). • Paciente imóvel • Geralmente ocorre em pacientes com dores agravadas pelo movimento como na peritonite, quando a dor piora quando o peritônio parietal toca o visceral inflamado. Ocorre em perfurações do trato gastrointestinal ou infecções abdominais graves: apendicite, úlcera péptica perfurada, diverticulite. • Decúbito lateral • O paciente evita deitar-se com o dorso apoiado na maca e mantém o corpo em rotação. Pode ser adotado por grávidas, que tendem a manter um decúbito lateral para reduzir a pressão uterina sobre a veia cava inferior, o que geraria redução do retorno venoso, ou por pacientes com dor pleurítica, que se deitam do lado da dor de modo a reduzir a movimentação desse hemitórax, aliviando a dor. • Atitude Passiva • Consiste em pacientes não responsivos (comatosos, tetraplégicos) que assumem involuntariamente a posição colocada pelo examinador. • Opistótono • É uma atitude involuntária na qual há hipertonicidade de todos os membros e tronco, resultando em um paciente rígido e ereto. Pode ocorrer no tétano. • Curvaturas corporais involuntárias • No opistótono há contratura lombar com curvatura do corpo para cima, se apoiando na cabeça e nos calcanhares, formando um arco. No Emprostótono a contração é abdominal, contrária do Opistótono, formando uma concavidade. Já no pleurostótono a curvação é em um lado do corpo, levando a um encurvamento lateral. Todos podem ocorrer no tétano, meningite e na raiva. Caso Clínico • I.A.G, 59 anos, sexo feminino, chega ao pronto atendimento com queixa de “inchaço nas pernas e falta de ar”. Enquanto o emergencista inicia a anamnese, com a paciente sentada, você nota que ela tem bom padrão respiratório apesar do relato, com frequência de 18 irpm e saturação de oxigênio 97%. Em seguida, a paciente é deitada na maca para exame cardíaco e evolui com desconforto respiratório, sua frequência aumenta para 28 incursões por minuto, com uso de musculatura abdominal, e sua saturação cai para 91%. Sem outras alterações na ectoscopia e demais dados vitais normais. O exame é breve e a paciente torna a se sentar no leito, com relato que não consegue ficar deitada e que está dormindo com três travesseiros para se manter elevada há uma semana. Qual o nome do desconforto apresentado pela paciente? A que patologias ele está relacionado? • A paciente apresenta um quadro clássico de ortopneia (com atitude ortopneica), com piora do padrão respiratório na posição horizontal e melhora com elevação do tronco. O edema de membros inferiores associados e o tempo de evolução dos sintomas nos fazem pensar em uma insuficiência cardíaca como causa, levando a congestão pulmonar. Também poderia ser resultado de grandes pneumonias, contusões pulmonares e aumento de volume abdominal.
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