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Pressão arterial e volume sanguíneo Uma resposta mecânica simples para “Por que o sangue flui?” é que os líquidos e os gases fluem por gradientes de pressão (ΔP) de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão. Por essa razão, o sangue pode fluir no sistema circulatório apenas se uma região desenvolver pressão mais elevada do que outras. Nos seres humanos, o coração gera alta pressão quando se contrai. O sangue flui para fora do coração (a região de pressão mais alta) para o circuito fechado de vasos sanguíneos (uma região de menor pressão). Conforme o sangue se move pelo sistema, a pressão diminui, devido ao atrito entre o sangue e a parede dos vasos sanguíneos. A pressão do líquido em movimento diminui com o aumento da distância A pressão em um líquido é a força exercida pelo líquido no seu recipiente. No coração e nos vasos sanguíneos, a pressão é normalmente mensurada em milímetros de mercúrio (mmHg), em que um milímetro de mercúrio equivale à pressão hidrostática exercida por uma coluna de mercúrio com 1 mm de altura sobre uma área de 1 cm2. Se o fluido não está se movendo, a pressão que ele exerce é chamada de pressão hidrostática, e a força é exercida igualmente em todas as direções. Por exemplo, uma coluna de líquido em um tubo exerce pressão hidrostática na base e nos lados do tubo. Em um sistema no qual o líquido está em movimento, a pressão cai com a distância à medida que a energia é perdida devido ao atrito. Além disso, a pressão exercida por um líquido em movimento tem dois componentes: um dinâmico, que é o componente do movimento e que representa a energia cinética do sistema, e um componente lateral, que representa a pressão hidrostática (energia potencial) exercida sobre as paredes do sistema. A pressão dentro do nosso sistema circulatório geralmente é denominada pressão hidrostática, embora se saiba que é um sistema no qual o líquido está em movimento. Alguns livros-texto estão começando a substituir o termo pressão hidrostática pelo termo pressão hidráulica. A hidráulica é o estudo do líquido em movimento. A pressão nos líquidos pode mudar sem uma alteração no volume Se as paredes de um recipiente cheio de líquido se contraem, a pressão exercida sobre o líquido no recipiente aumenta. No coração humano, a contração dos ventrículos cheios de sangue é similar a apertar um balão com água: a pressão gerada pela contração do músculo ventricular é transferida para o sangue. O sangue sob alta pressão flui para fora do ventrículo, para os vasos sanguíneos, deslocando o sangue sob baixa pressão que já está nos vasos. A pressão criada dentro dos ventrículos é denominada pressão propulsora, pois é a força que impulsiona o sangue pelos vasos sanguíneos. Quando as paredes de um recipiente preenchido com líquido se expandem, a pressão exercida sobre o líquido diminui. Por isso, quando o coração relaxa e se expande, a pressão dentro das câmaras cheias de líquido cai. Variações na pressão também podem ocorrer nos vasos sanguíneos. Se os vasos sanguíneos dilatarem, a pressão dentro do sistema circulatório cai. Se os vasos sanguíneos contraírem, a pressão sanguínea no sistema aumenta. O sangue flui de uma área de maior pressão para uma área de menor pressão Como citado, o fluxo sanguíneo pelo sistema circulatório requer um gradiente de pressão. Esse gradiente de pressão é análogo à diferença na pressão entre as extremidades de um tubo através do qual o líquido flui. O fluxo pelo tubo é diretamente proporcional ao gradiente de pressão (ΔP). 𝑓𝑙𝑢𝑥𝑜 ∝ ∆ 𝑃 , em que ∆𝑃 = 𝑃1 − 𝑃2. Essa relação significa que quanto maior o gradiente de pressão, maior é o fluxo de líquido. A resistência se opõe ao fluxo A tendência de o sistema circulatório se opor ao fluxo sanguíneo é denominada resistência ao fluxo. A resistência (R) é um termo que a maioria de nós entende a partir da nossa vida cotidiana. Falamos de pessoas que resistem a mudanças ou escolhem caminhos que ofereçam menor resistência. Esse conceito se adapta bem ao sistema circulatório, visto que o fluxo sanguíneo também escolhe o caminho com menor resistência. Um aumento na resistência de um vaso sanguíneo resulta em redução do fluxo por ele. Podemos expressar essa relação da seguinte forma: Fluxo ∝ 1/R Essa expressão diz que o fluxo é inversamente proporcional à resistência; se a resistência aumenta, o fluxo diminui; se a resistência diminui, o fluxo aumenta. Quais parâmetros determinam a resistência? Para um líquido que flui por um tubo, a resistência é influenciada por três componentes: o raio do tubo (r), o comprimento do tubo (L) e a viscosidade (“espessura”) do líquido (η, a letra grega eta). A seguinte equação, derivada pelo médico francês Jean Leonard Marie Poiseuille e conhecida como lei de Poiseuille, mostra a relação entre esses fatores: 𝑅 ∝ 𝐿𝜂/𝑟4 Essa expressão diz que (1) a resistência oferecida por um tubo ao fluxo do líquido aumenta quando o comprimento do tubo aumenta, (2) a resistência aumenta à medida que aumenta a viscosidade do líquido, mas (3) a resistência diminui quando o raio do tubo aumenta. O comprimento da circulação sistêmica é determinado pela anatomia do sistema e é essencialmente constante. A viscosidade do sangue é determinada pela razão entre os eritrócitos e o plasma, bem como pela quantidade de proteínas plasmáticas. Em geral, a viscosidade é constante, e pequenas mudanças no comprimento ou na viscosidade causam poucos efeitos na resistência. Isso faz as mudanças no raio dos vasos sanguíneos serem a principal variável que afeta a resistência na circulação sistêmica. o. Do mesmo modo, uma pequena mudança no raio de um vaso sanguíneo terá um grande efeito na resistência desse vaso ao fluxo sanguíneo. A diminuição no diâmetro de um vaso sanguíneo é chamada de vasoconstrição. O aumento no diâmetro de um vaso sanguíneo é chamado de vasodilatação. A vasoconstrição diminui o fluxo sanguíneo pelo vaso, e a vasodilatação o aumento. A velocidade de fluxo depende da taxa de fluxo e da área de secção transversal O fluxo geralmente significa a taxa de fluxo, que é o volume sanguíneo que passa em um dado ponto do sistema por unidade de tempo. Na circulação, o fluxo é expresso em litros por minuto (L/min) ou em mililitros por minuto (mL/min). Por exemplo, o fluxo sanguíneo através da aorta de um homem que pesa 70 kg em repouso é de cerca de 5 L/min. A taxa de fluxo não deve ser confundida com a velocidade de fluxo (ou simplesmente velocidade), que é a distância que um dado volume sanguíneo percorre em um dado período de tempo. Em contrapartida, a taxa de fluxo mensura quanto sangue (volume) passa por um ponto em um dado período de tempo. A relação entre a velocidade de fluxo (v), a taxa de fluxo (Q) e a área de secção transversal do tubo (A) é expressa pela equação v = Q/A Em outras palavras, a velocidade é maior em partes mais estreitas e mais lenta em partes mais largas. O coração gera pressão quando se contrai e bombeia o sangue para o lado arterial da circulação. As artérias atuam como um reservatório de pressão durante a fase de relaxamento do coração, mantendo a pressão arterial média (PAM), que é a força impulsora do fluxo sanguíneo. A pressão arterial média é influenciada por dois parâmetros: o débito cardíaco (volume sanguíneo que o coração bombeia por minuto) e a resistência periférica (resistência dos vasos sanguíneos ao fluxo sanguíneo por eles): Pressão arterial média ∝ débito cardíaco X resistência periférica Ovolume sistólico é o volume sanguíneo bombeado em uma contração A quantidade de sangue (volume) bombeado por um ventrículo durante uma contração é chamada de volume sistólico. É medido em mililitros por batimento e pode ser calculado da seguinte forma: Volume sanguíneo antes da contração - volume sanguíneo após a contração = volume sistólico VDF - VSF = volume sistólico Para a contração média em uma pessoa em repouso: 135 mL - 65 mL = 70 mL, o volume sistólico normal. O volume sistólico não é constante e pode aumentar até 100 mL durante o exercício. O débito cardíaco é uma medida do desempenho cardíaco Uma forma é medir o débito cardíaco (DC), o volume sanguíneo ejetado pelo ventrículo esquerdo em um determinado período de tempo. Uma vez que todo o sangue que deixa o coração flui através dos tecidos, o débito cardíaco é um indicador do fluxo sanguíneo total do corpo. Entretanto, o débito cardíaco não nos informa como o sangue é distribuído aos vários tecidos. Esse aspecto do fluxo sanguíneo é regulado nos tecidos. O débito cardíaco (DC) pode ser calculado multiplicando-se a frequência cardíaca (batimentos por minuto) pelo volume sistólico (mL por batimento, ou por contração): Débito cardíaco (DC) = frequência cardíaca X volume sistólico Em geral, o débito cardíaco é o mesmo em ambos os ventrículos. Contudo, se por alguma razão um lado do coração começa a falhar e se torna incapaz de bombear de maneira eficiente, o débito cardíaco torna-se desigual. Nessa situação, o sangue é represado na circulação atrás do lado mais fraco do coração. PRESSÃO ARTERIAL A contração ventricular é a força que cria o fluxo sanguíneo através do sistema circulatório. Como o sangue sob pressão é ejetado a partir do ventrículo esquerdo, a aorta e as artérias expandem-se para acomodá- lo. Quando o ventrículo relaxa e a valva da aorta fecha, as paredes arteriais elásticas retraem, propelindo o sangue para a frente, em direção às pequenas artérias e arteríolas. Por sustentar a pressão direcionadora do fluxo sanguíneo durante o relaxamento ventricular, as artérias mantêm o sangue fluindo continuamente através dos vasos sanguíneos. O fluxo sanguíneo obedece a regras do fluxo de fluidos. A pressão arterial é maior nas artérias e menor nas veias A pressão arterial é maior nas artérias e diminui continuamente à medida que o sangue flui através do sistema circulatório. A diminuição da pressão ocorre porque é perdida energia, como consequência da resistência ao fluxo oferecida pelos vasos. A resistência ao fluxo sanguíneo também resulta do atrito entre as células sanguíneas. Na circulação sistêmica, a maior pressão ocorre na aorta e resulta da pressão gerada pelo ventrículo esquerdo. A pressão aórtica alcança uma média de 120 mmHg durante a sístole ventricular (pressão sistólica) e, após, cai constantemente até 80 mmHg durante a diástole ventricular (pressão diastólica). Observe que a pressão no ventrículo cai para apenas alguns poucos mmHg quando o ventrículo relaxa, mas a pressão diastólica nas grandes artérias permanece relativamente alta. A pressão diastólica alta nas artérias é decorrente da capacidade desses vasos de capturar e armazenar energia nas suas paredes elásticas. O rápido aumento da pressão que ocorre quando o ventrículo esquerdo empurra o sangue para dentro da aorta pode ser percebido como um pulso, ou onda de pressão, transmitido ao longo das artérias preenchidas com líquido. A onda de pressão viaja cerca de 10 vezes mais rápido que o próprio sangue. Mesmo assim, o pulso que é percebido no braço ocorre um pouco depois da contração ventricular que gerou a onda. Devido ao atrito, a amplitude da onda de pressão diminui com a distância e, por fim, desaparece nos capilares. Pressão de pulso = pressão sistólica – pressão diastólica Pressão arterial média = pressão diastólica + 1/3(pressão de pulso). O retorno de sangue ao coração, conhecido como retorno venoso, é auxiliado pelas valvas, pela bomba musculesquelética e pela bomba respiratória. A pressão sanguínea arterial reflete a pressão de propulsão do fluxo sanguíneo A pressão sanguínea arterial, ou simplesmente “pressão arterial”, reflete a pressão de propulsão criada pela ação de bombeamento do coração. Já que a pressão ventricular é difícil de ser medida, é comum assumir que a pressão sanguínea arterial reflete a pressão ventricular. Como você aprendeu, a pressão arterial é pulsátil, então usamos um único valor – a pressão arterial média (PAM) – para representar a pressão direcionadora. A PAM é estimada somando-se a pressão diastólica mais um terço da pressão de pulso: PAM = P diastólica + 1/3 (P sistólica - P diastólica) Para uma pessoa cuja pressão sistólica é de 120 e a pressão diastólica é de 80: PAM = 80 mmHg + 1/3 (120 - 80 mmHg) -> 93 mmHg A pressão arterial média é mais próxima da pressão diastólica do que da pressão sistólica, uma vez que a diástole dura o dobro do tempo da sístole. Pressão sanguínea arterial muito alta ou muito baixa pode ser um indicativo de problemas no sistema circulatório. Se a pressão arterial cai muito baixo (hipotensão), a força direcionadora do fluxo sanguíneo é incapaz de superar a oposição da gravidade. Nesse caso, o fluxo sanguíneo e a oferta de oxigênio para o encéfalo são prejudicados e podem causar tontura ou desmaio. Por outro lado, se a pressão arterial estiver cronicamente elevada (uma condição conhecida como hipertensão, ou pressão sanguínea alta), a alta pressão sobre a parede dos vasos sanguíneos pode fazer as áreas enfraquecidas sofrerem rupturas e pode ocorrer sangramento nos tecidos. Se a ruptura ocorre no encéfalo, esta é chamada de hemorragia cerebral, e pode causar a perda da função neurológica, comumente chamada de derrame (AVE). Se a ruptura ocorrer em uma artéria grande, como a aorta descendente, a perda rápida de sangue para dentro da cavidade abdominal causará queda da pressão sanguínea para abaixo do mínimo crítico. Sem tratamento imediato, a ruptura de uma artéria grande é fatal. O débito cardíaco e a resistência periférica determinam a pressão arterial média A pressão arterial é um balanço entre o fluxo sanguíneo para dentro das artérias e o fluxo sanguíneo para fora das artérias. Se o fluxo para dentro excede o fluxo para fora, o volume sanguíneo nas artérias aumenta e a pressão arterial média também. Se o fluxo para fora excede o para dentro, o volume diminui e a pressão arterial média cai. O fluxo sanguíneo para dentro da aorta é igual ao débito cardíaco do ventrículo esquerdo. O fluxo sanguíneo para fora das artérias é influenciado principalmente pela resistência periférica, definida como a resistência ao fluxo oferecida pelas arteríolas. Então, a PAM é proporcional ao débito cardíaco (DC) vezes a resistência (R) das arteríolas: PAM = DC X R(arteríolas) Se o débito cardíaco aumenta, o coração bombeia mais sangue para dentro das artérias por unidade de tempo. Se a resistência ao fluxo sanguíneo para fora das artérias não mudar, o fluxo para dentro das artérias fica maior que o fluxo para fora, o volume sanguíneo nas artérias aumenta, e a pressão sanguínea arterial sobe Dois fatores adicionais podem influenciar a pressão sanguínea arterial: a distribuição de sangue na circulação sistêmica e o volume total de sangue. A distribuição relativa de sangue entre os lados arterial e venoso da circulação pode ser um fator importante para manter a pressão sanguínea arterial. As artérias são vasos que contêm pouco volume sanguíneo e contêm somente cerca de 11% do volume total de sangue em qualquer momento. As veias, ao contrário, são vasos com grande volume sanguíneo, que contêm cerca de 60% do volume sanguíneo circulante em qualquer momento. As veias atuam como um reservatório de volume para a circulaçãosistêmica, armazenando sangue, que pode ser redistribuído para as artérias se necessário. Se a pressão arterial cai, a aumentada atividade simpática constringe as veias, diminuindo sua capacidade de reter volume. O retorno venoso aumenta, enviando sangue para o coração, o qual, de acordo com a lei de Frank-Starling do coração, bombeia todo o retorno venoso para o lado sistêmico da circulação. Assim, a constrição das veias redistribui sangue para o lado arterial da circulação e eleva a pressão arterial média. Alterações no volume sanguíneo afetam a pressão arterial Se o volume sanguíneo aumenta, a pressão arterial aumenta. Quando o volume sanguíneo diminui, a pressão arterial diminui. Pequenos aumentos no volume sanguíneo ocorrem durante o dia, devido à ingestão de alimentos e líquidos, contudo, em geral, esses aumentos não geram mudanças duradouras na pressão sanguínea, devido às compensações homeostáticas. Ajustes ao volume sanguíneo aumentado são de responsabilidade dos rins. Se o volume sanguíneo aumenta, os rins restabelecem o volume normal por excretar o excesso de água na urina. A compensação para a diminuição do volume sanguíneo é mais difícil e necessita de uma resposta integrada dos rins e do sistema circulatório. Se o volume sanguíneo diminui, os rins não podem restabelecer a perda de líquidos. Os rins podem apenas conservar o volume sanguíneo e, assim, prevenir diminuições adicionais da pressão arterial. A única forma de restaurar o volume de líquido perdido é pela ingestão de líquidos ou por infusão intravenosa. A compensação cardiovascular para o volume sanguíneo diminuído inclui vasoconstrição e aumento da estimulação simpática ao coração, a fim de aumentar o débito cardíaco. Contudo, há limites para a efetividade da compensação cardiovascular – se a perda de líquidos é muito grande, o corpo não pode manter uma pressão arterial adequada. Eventos típicos que podem causar mudanças significativas no volume sanguíneo, incluem a desidratação, a hemorragia e a ingestão de grande quantidade de líquido.
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