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MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA INTRODUÇÃO O conhecimento da citogenética permite reconhecer que LLA é uma doença clonal originada a partir de um precursor da medula óssea, com os blastos leucêmicos de um mesmo paciente apresentando a mesma alteração cromossômica numérica ou estrutural; A LLA se caracteriza pela: Proliferação clonal e pelo acúmulo na medula óssea e no sangue periférico de células imaturas denominadas linfoblastos; Essas células quando se proliferam e ocupam a medula óssea inibem o crescimento e a maturação normal dos precursores hematopoéticos da série vermelha, granulocítica e megacariocítica. EPIDEMIOLOGIA Maior incidência em pacientes do sexo masculino e raça branca; LLA é a neoplasia mais frequente na infância: 80% dos casos de leucemia, sendo que a leucemia, de modo geral, corresponde 25- 30% dos casos de CA na pediatria; Acomete principalmente crianças entre 2- 10 anos, com maior pico aos 4 anos; Em adultos é mais rara, representando apenas 15% de todas as leucemias, compreende aproximadamente 15% das leucemias agudas, tendo maior incidência entre 25 e 37 anos; A!! A sobrevida nas crianças pode chegar a 80 a 90% em 5 anos, já nos adultos é de 20-30% também em 5 anos. ETIOLOGIA LLA pode estar associada a fatores ambientais ou genéticos: Contato com agentes químicos: benzeno, agrotóxicos, tintas, solventes; Exposição a radiações ionizantes ou tratamento com quimioterapia por neoplasias prévias; História familiar de leucemia; Alta incidência de leucemia em gêmeos idênticos; Mutações no gene p53 (gene supressor de tumor); Peso mais elevado ao nascimento Já a... Síndrome de Down (20x mais chance de desenvolver leucemia aguda em relação a outras crianças); Síndrome de Bloom Anemia de Fanconia Ataxia telangiectasia Também são possíveis etiologias, porém só respondem a 10% dos casos em pediatria. FISIOPATOLOGIA A leucemia é considerada como resultado de anormalidades que ocorrem em uma célula progenitora do sistema linfo-hematopoiético. Essas anormalidades modificam o programa de diferenciação celular, determinando uma vantagem proliferativa do clone leucêmico sobre as células do tecido hematopoiético normal. Muitas evidencias sugerem que as alterações genéticas que ocorrem nas células leucêmicas comprometem genes que regulam a diferenciação celular e são importantes para o sistema hematopoiético na diferenciação, proliferação e apoptose. A LLA surge a partir de mutações espontâneas que podem ocorrer: Durante o desenvolvimento normal dos linfócitos, já que há atividade mutagênica no processo de rearranjo gênico e a taxa e multiplicação dessas células é alta. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves As alterações podem estar na expressão das proteínas do: Gene p53 (supressor de tumor); MDM2 (inativa p53); p16 ou p15; ou nos Genes dos cromossomos 9p, WT1, TEL e K1P1; A!! O gene p53 é importante na LLA, porque ele sofre mutações (deleções ou rearranjos gênicos) que levam a produção de proteína p53 alterada; Os blastos leucêmicos mantem algumas características das células normais, expressando moléculas receptoras de antígenos e glicoproteínas de superfície de membrana, refletindo estágio de parada de maturação celular: Quando faz um estudo imunofenotípico, consegue avaliar esse estágio; As alterações genéticas e de imunofenotipagem são importantes como fatores prognósticos para: Tratamento e sobrevida. QUADRO CLÍNICO Os sintomas estão relacionados com: Grau de infiltração da medula óssea; Diminuição da produção dos precursores normais das séries eritrócitárias, granulocíticas e megacariocítica; Intensidade que as células anômalas infiltram outros órgãos. O paciente pode apresentar: Palidez cutaneomucosa; Fadiga, cansaço, indisposição; Palpitações; Dispneia relacionados com o grau de anemia; Febre; Quadro infecciosos: relacionados ao trato urinário ou trato respiratório. A!! Isso se deve a diminuição do número absoluto de neutrófilos, variando de gravidade quanto menor o número: <500/mm³ ou <100/mm³ Aparecimento de petéquias, equimoses espontâneas, gengivorragia e epistaxe por causa da diminuição do número de plaquetas (< 30mil por mm³); Ao exame físico: Adenomegalias; Hepatomegalia; Esplenomegalia. Infiltração do SNC pode ser observado: Ao diagnóstico; ou Em razão da iatrogenia após acidente de punção liquórica em pacientes com leucocitoses acentuadas ao diagnóstico. Os pacientes podem apresentar cefaleia, confusão mental, parestesias ou paralisia dos pares cranianos (7, 3 e 6) e sintomas de hipertensão craniana (cefaleia, náuseas e vômitos). A!! A infiltração do SNC ocorre em 5% dos pacientes com leucemia. Uma fração tem sinais e sintomas associados com hipertensão intracraniana ou paralisia de nervos cranianos. Pode evidenciar sintomas de infiltração testicular A!! Em casos de infiltração do SNC + testicular: considera pior prognóstico a doença, sendo locais de recidiva frequente, por que a quimioterapia não atinge essa região de forma adequada. Pacientes com a classificação LLA-T podem ter: Sintomas relacionados a massa mediastinal volumosa: tosse seca, dispneia e sintomas de compressão de veia cava superior. Sintomas de leucostase: Tonturas, visão turva, zumbidos nos ouvidos, cefaleia, SE houver leucocitose >100.000/mm³ MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Pode ocorrer SINAL DE KRAVER devido à: Infiltração maciça da medula óssea que pode provocar dores ósseas intensas; Compressão do esterno. CARACTERÍSTICA CLÍNICA NA CRIANÇA Sintomas de leucemias são inespecíficos, por isso, especialmente na criança pode acabar mimetizando doenças comuns da infância; A criança também vai apresentar: Anemia, plaquetopenia e neutropenia, podendo estar presente há dias ou meses A!! Portanto, deve atentar a palidez, fadiga, anorexia, sangramentos, febre, hepatoesplenoadenomegalia e, especialmente, dor óssea, artrite e artralgia. A criança também pode apresentar: Febre: pode ser ou não resultado de um processo infeccioso ou resultado a produção de citocinas das células leucêmicas. Esplenomegalia, hepatomegalia e adenomegalia; Palidez; Sinais de hemorragia (equimoses, petéquias e gengivorragias); Diminuição do apetite, cansaço, fadiga e irritabilidade. A!! 50% das crianças com LLA tem linfoadenomegalia É frequente a presença de: Dores articulares com sinais flogísticos (artrite), podendo erroneamente ser diagnosticado como portadores de febre reumática, devido a infiltração óssea das epífises, próximo á cartilagem de crescimento; Sintomas do TGI: dor abdominal, náuseas e vômitos, distensão abdominal, obstipação, diarreia e hemorragia digestiva, quando de etiologia desconhecida, também pode entrar no diagnóstico diferencial das leucemias na ped.; Infiltração leucêmica extramedular no SNC, gânglios, fígado, baço, rins, testículos, ovários, olhos e pele; 1% dos meninos podem ter infiltração testicular: caracterizado por aumento indolor de 1 ou dos 2 testículos. O comprometimento do SNC é geralmente assintomático, mas quando ocorre sintomatologia, o paciente refere: Cefaleia, náuseas, vômitos, letargia, irritabilidade, papiledema ou rigidez de nuca, caso exista comprometimento dos pares cranianos (par 7, 3, 4 e 6) já indica presença de leucemia no SNC; A!! O exame de líquor coletado por punção lombar revela aumento de pressão, de celularidade e de proteína. No paciente assintomático, encontram-se apenas blastos leucêmicosno líquor, com ou sem pleocitos; Qualquer número de linfoblastos encontrados no líquor de LLA está associado a prognóstico pior, diminuindo a sobrevida do paciente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NA CRIANÇA ARTRITE REUMATOIDE JUVENIL A doença que é mais comumente confundida com a leucemia é a artrite reumatoide juvenil. Leucemia com manifestações “reumatológicas” pode ocorrer entre 1 a 2% dos casos de LLA. Tipicamente: Febre, dor óssea e articular são as manifestações clínicas mais proeminentes. O hemograma em geral é inexpressivo e pode mostrar anemia leve e contagem normal de plaquetas. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves A contagem diferencial de leucócitos, embora ocasionalmente não revele a presença de blastos, sempre mostra alguma anormalidade, como linfocitose e neutropenia. O pediatra deve estar alerta para essa apresentação da leucemia e evitar o uso de corticosteroides, muitas vezes prescritos. PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IDIOPÁTICA (PTI) É comumente a primeira consideração diagnóstica de crianças com leucemia. Nesses casos, a trombocitopenia domina as anormalidades no sangue periférico e desvia o pediatra do diagnóstico correto. É importante salientar que nos casos de PTI, o hemograma é absolutamente normal, exceto pelas alterações plaquetárias. Enquanto na leucemia o exame cuidadoso do hemograma revela outras alterações além da plaquetopenia, como neutropenia, por exemplo. MONONUCLEOSE INFECCIOSA Menos comumente os sinais de leucemia aguda são interpretados como parte de mononucleose infecciosa. Pacientes com leucemia que se apresentam com: Linfonodomegalia cervical, febre, hepatoesplenomegalia e linfocitose são os que têm maior probabilidade de receber um diagnóstico incorreto de infecção viral. Mononucleose infecciosa ou citomegalovirose raramente comprometem outras linhagens hematopoéticas, de forma que a presença de anemia e trombocitopenia deve alertar para o diagnóstico de leucemia. ANEMIA APLÁSTICA Outro diagnóstico comumente atribuído aos pacientes com leucemia. Isso ocorre devido ao fato de: Alguns casos de leucemia serem associados com um aspirado de medula óssea pobremente representativo e com poucas células e serem de difícil caracterização. Nesses casos, a biópsia da medula óssea, geralmente em conjunto com a imunofenotipagem e o cariótipo, estabelece diagnóstico correto; Pode também ser encontrada como uma manifestação inicial de leucemia. Tipicamente, esses pacientes desenvolvem febre e pancitopenia. O exame da medula óssea não revela nenhum infiltrado leucêmico. A função medular usualmente se restabelece com o tratamento de suporte. O exame de medula óssea é considerado normal na fase de regeneração do paciente. Mas, 3 a 6 meses após esse episódio os pacientes retornam com os achados clássicos de leucemia, geralmente da linhagem B. Portanto, crianças que têm diagnóstico de anemia aplástica transitória devem ser seguidas com hemogramas mensais por um período de 6 a 8 meses. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL É feito pelo: Exame de sangue periférico; e Esfregaços de medula óssea. A!! 15% dos pacientes, a aspiração de medula óssea é insatisfatória para diagnóstico, por isso as vezes é necessário realizar biópsia. O diagnóstico adequado depende dos seguintes parâmetros: HEMOGRAMA MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Observa: Anemia normocítica normocrômica; Mais frequentemente leucocitose, com presença de blastos circulantes, neutropenia e plaquetopenia. Cerca de 50% das crianças com LLA têm contagem de leucócitos <10mil/mm³ e 20% têm >50 mil leucócitos/mm³ no sangue periférico. Cerca de 75% das crianças diagnosticadas apresentam <100mil plaquetas/mm³ MIELOGRAMA Exame que estuda a morfologia dos blastos leucêmicos. O que sugere a necessidade do mielograma é: Presença de células atípicas no sangue periférico; Depressão inexplicada em mais de uma série no sangue periférico; Linfonodomegalia ou hepatoesplenomegalia inexplicada, associada a citopenia. Observa: Hipercelular em razão dos blastos (≥30%), com hipocelularidade em menor ou maior grau que as outras séries; IMUNOFENOTIPAGEM DOS BLASTOS DA MEDULA ÓSSEA E/OU SANGUE PERIFÉRICO Esse exame estuda as: Características imunológicas das células hematopoiéticas normais e das doentes, pela adição de anticorpos monoclonais que detectam os marcadores moleculares citoplasmáticos e os antígenos de superfície das células pesquisadas. Esse exame: Permite o diagnóstico entre LLA e LMA (leucemia mieloide aguda); e Classifica LLA-B e LLA-T. LÍQUOR CEFALORRAQUIDIANO Deve ser coletado, de preferência sob sedação, por profissional capacitado, já que qualquer blasto presente no líquor da LLA pode piorar o prognóstico. Nos casos de comprometimento do SNC, irá mostrar: Pleocitose e células leucêmicas no exame do sedimentado citológico: pode identificar presença de linfoblastos no SNC. Outros exames podem ser considerados para avaliar a extensão da leucemia: FUNDO DE OLHO USG DE ABDOME Avalia se existiu possível infiltração renal, hepatoesplenomegalia, gânglios. A!! Nos casos de suspeita de infiltração testicular, a USG pode corroborar a observação clínica. FUNÇÃO RENAL E HEPÁTICA ELETRÓLITOS SOROLOGIAS ECOCARDIOGRAMA PERFIL METABÓLICO DO SANGUE Não se apresenta substancialmente alterado na LLA, porém é comum a elevação da/do: Desidrogenase láctica; e Ácido úrico. A!! Ambos representando rápida destruição e regeneração celular. COAGULAÇÃO Na maioria dos casos é normal; O fibrinogênio em geral está elevado, refletindo uma resposta inflamatória inespecífica. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Raramente em pacientes com leucemia linfoblástica do tipo T podem ter sinais sugestivos de coagulopatia. O distúrbio de coagulação é resultado da presença de material procoagulante na célula leucêmica e pode ser agravado se existir alta contagem leucocitária. RADIOGRAFA SIMPLES DO TÓRAX É geralmente normal, mas pode demonstrar a presença de: Alargamento do mediastino, que ocorre em aproximadamente 50% dos casos de LLA do tipo T. O exame radiográfico do esqueleto em geral mostra alterações sugestivas da leucemia, porém esse exame é hoje raramente obtido nos pacientes com suspeita de leucemia devido à: Baixa especificidade; e Ausência de implicação prognóstica. É raro que pacientes apresentem dor lombar importante e dificuldade de deambulação devido ao colapso vertebral. O rx simples da coluna vertebral demonstra essas anormalidades. As manifestações clínicas em geral melhoram dentro de 4-6 semanas do início do tratamento específico da leucemia. ________________________________________ O diagnóstico definitivo da leucemia é baseado no exame da medula óssea. Na maioria das vezes, a infiltração da medula pelas células leucêmicas é evidente. Ocasionalmente, o material da medula é muito difícil de ser obtido devido a necrose, fibrose ou excessiva quantidade de células leucêmicas. Nesses casos, a biópsia da medula óssea e o preparo de imprints podem oferecer células para morfologia, citoquímica, análise citogenética e imunofenotípica. Raras vezes é necessária a biópsia de linfonodos, pele ou citologia do líquido pleural para obter células para o esclarecimento do diagnóstico. CLASSIFICAÇÃO DA LLA A classificação da LLA se baseia em critérios: Morfológicos; Imunofenotípicos; e Citogenéticos. Ela tem como objetivo: Facilitar o diagnóstico; Aumentar a reprodutibilidade entre os estudos; Identificar fatoresprognósticos favoráveis e desfavoráveis; e Permitir a detecção precoce da recaída da doença. Com esses critérios é possível identificar diferentes subgrupos prognósticos e, consequentemente, utilizar abordagem terapêutica específica para cada subgrupo. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA – CLASSIFICAÇÃO FAB A classificação morfológica-citoquímica proposta pelo grupo Franco-Americano-Britânico (FAB) se baseia em 7 parâmetros morfológicos, subdividindo os linfoblastos leucêmicos em 3 categorias: L1 Blastos pequenos, homogêneos, alta relação núcleo-citoplasmática, citoplasma escasso e nucléolo pouco evidente; Legenda: LI.A tipo LI (leishman x 1.000) MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves L2 Blastos de tamanho variável, relação núcleo- citoplasmática menor, citoplasma basofílico sem grânulos, núcleo com membrana nuclear irregular e cromatina frouxa com nucléolo proeminente.; e Legenda: LLA tipo L2 (leishman x 1.000) L3 Blastos de grande porte, com citoplasma intensamente basofílico e com vacúolos. Legenda: LLA-L3 (leishman x 1.000) Legenda: classificação FAB da LLA e a distribuição etária de seus subtipos Entre os adultos, a LLA L2 representa em torno de 50 a 60% dos casos, enquanto apenas 30 a 40% dos casos em adultos são classificados como L1 e 2 a 5% como L3. A!! A diferenciação citomorfológica entre LI e L2 não tem relevância clínica ou prognóstica. A!! Exceto pela LLA L3, que tem perfil imunológico próprio, cujos blastos na maioria dos casos são da linhagem B e expressam cadeias de imunoglobulina em sua superfície (células B maduras), não há correlação entre os subgrupos FAB e a imunofenotipagem, a citogenética ou o prognóstico. Atualmente, o subtipo L3 é tratado com protocolos distintos. Na classificação da OMS de 2008, as LLA são incluídas no capítulo das neoplasias de precursores de células B e são classificadas em 3 subtipos: 1. Leucemia/Linfoma Linfoblástico de células B (LLA/LLB-B) sem outra especificação, 2. leucemia/ linfoma linfoblástico de células B com alterações genéticas recorrentes; 3. Leucemia/ linfoma linfoblástico de células T. Legenda: classificação das neoplasias de precursores linfoides segundo a OMS (2008) Chama-se de linfoma linfoblástico a doença do paciente que se apresente primariamente com: Massas tumorais (mediastino ou outro); e com Pequena infiltração de sangue periférico e medula óssea (presença de menos de 25% de linfoblastos em medula óssea). Chama-se de leucemia linfoide aguda no caso de: Envolvimento extenso de sangue periférico e medula óssea (> 25% de linfoblastos em medula óssea) A!! Apesar dessa distinção na nomenclatura, o linfoma linfoblástico e a leucemia linfoide aguda devem ser considerados como a mesma entidade patológica, sendo atualmente o tratamento similar para ambas. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves CLASSIFICAÇÃO IMUNOLÓGICA – CLASSIFICAÇÃO EGIL Mais importante do que a classificação morfológica é a classificação imunológica. Legenda: classificação imunológica das LLAs Legenda: classificação imunológica das leucemias linfoides agudas LLA DE CÉLULAS B O subtipo mais comum é a LLA de células B, compreendendo: Aproximadamente 80 a 85% dos casos da doença em crianças; e Em torno de 70 a 75% em adultos. As células leucêmicas comprometidas com a linhagem B expressam: HLA-DR; CD19; CD22 no citoplasma (cCD22) ou na membrana, podendo expressar ou não CD79a (no citoplasma ou na membrana). A expressão do CD22 intracitoplasmática é uma das primeiras características a aparecer nas células comprometidas com a linhagem B. À medida que a célula se diferencia em linfócito B maduro, os seguintes antígenos são sequencialmente expressos: CD24, CD10, CD20, CD22 na membrana; Cadeias intracitoplasmáticas de imunoglobulina (cIg); CD21; Cadeias de imunoglobulina de superfície (sIg); e CD23. Os genes das imunoglobulinas também são rearranjados diferencialmente ao longo da maturação B: Primeiro os genes das cadeias pesadas; Seguidos pelos das cadeias leves κ; e Por último, os genes das cadeias λ. De acordo com o estádio da diferenciação B, os blastos da LLA podem ser subclassificados em: Pró-B (CD19+, CD79a+ e CD22 citoplasmático); Comum (CD10+); e B maduro (CD20+, cadeia pesada citoplasmática) (Se atentar à figura acima) ________________________________________ Por sua vez, o grupo europeu para a caracterização imunológica das leucemias (Egil) propôs a subclassificação da LLA de células B em subtipos que vão de B-I a B-IV. A LLA pró-B ou B-I representa aproximadamente: 5% dos casos pediátricos (predominando em pacientes menores de 1 ano); e 10% dos casos em adultos. Seus blastos expressam: HLA-DR; CD19; TdT; e CD22 (intracitoplasmático). MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves A LLA do tipo comum representa em torno de 65% dos casos em crianças e 50% dos casos em adultos, e seus blastos, expressam os antígenos anteriores e expressam o CD10. A expressão de imunoglobulina citoplasmática (cIg) é o pré-requisito para o subtipo pré-B ou B- III, que representa aproximadamente: 15% dos casos em crianças; e 0% dos casos em adultos. A LLA de células B maduras corresponde ao subtipo morfológico FAB L3 e é o subtipo mais raro em crianças e adultos. Caracteriza-se pela: Expressão de cadeias leves de imunoglobulinas na superfície de membrana (sIg). Os blastos do linfoma de Burkitt com apresentação leucêmica possuem o fenótipo B maduro. Eles são CD34 negativos e usualmente TdT negativos. Ademais expressam CD19, CD20, CD22 e CD79a. O CD10 pode ser positivo. A coexpressão de antígenos mieloides pode ser encontrada em até 30% dos casos e não exclui o diagnóstico de LLA/LLB-B. Os mais comumente encontrados são: CD13 e CD33 e estão em geral associados às LLA/LLB-B com alterações genéticas recorrentes envolvendo rearranjos dos genes ETV6 (t(12;22)) e MLL (t(4;11)). Legenda: Classificação EGIL da LLA de células B LLA DE CÉLULA T Aproximadamente 15% das LLAs em crianças e 25% das em adultos apresentam blastos leucêmicos da linhagem\T. A expressão do antígeno CD3 no citoplasma (cCD3) ou na membrana celular é considerado sinal específico do comprometimento com a linhagem T. Legenda: marcadores imunológicos para a definição de linhagem celular nas leucemias linfoides agudas O TdT é positivo, as expressões do CD1a, CD2, CD4, CD5 e CD8 são variáveis. Ademais, o CD7 é expresso em praticamente todos os casos, mas não é linhagem-específico. O CD10 pode ser positivo e o cCD79a pode ser observado em alguns casos. Os antígenos mieloides CD13, CD33 ou ambos podem ser expressos, mas raramente ocorre a expressão do CD117. Os blastos da LLA de linhagem T podem ser classificados de acordo com o estágio de diferenciação em: LLA de timócitos imaturos (ou pré-T), intermediários e maduros (ver imagem acima). Na LLA-T os blastos expressam CD3 no citoplasma, mas não na superfície celular, expressam CD7 e são negativos para os demais marcadores T. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Os blastos leucêmicos de aproximadamente 6% dos adultos e 1% das crianças com LLA são classificadas como pré-T. Na LLA de timócitos intermediários, os blastos expressam CD3 na membrana e podem coexpressar o CD4 e o CD8, frequentemente o CD1a; CD2 e CD7 são positivos. A expressão apenas do CD4 ou do CD8 em células mCD3 caracteriza o estágio de timócito maduro. A!! O significado prognóstico de casos nesses diferentes estágiosde maturação não é claro. Legenda: Classificação EGIL da LLA de células T ALTERAÇÕES CITOGENÉTICAS E MOLECULARES As anormalidades citogéneticas e moleculares são as características de maior impacto prognóstico no resultado do tratamento das LLAs e definem hoje alvos terapêuticos específicos (como o gene bcr-abl). Legenda: alterações cromossômicas em LLA Algumas das alterações, especialmente as numéricas, têm um impacto prognóstico muito mais marcante nas crianças do que nos adultos. Aproximadamente 60 a 80% dos pacientes adultos e 90% das crianças com LLA apresentam anormalidades cromossômicas. A!! A tabela da classificação imunológica apresenta algumas das características das anormalidades mais frequentes na LLA. As alterações numéricas são mais frequentes do que as estruturais, sendo que crianças com blastos leucêmicos hiperdiploides (51 a 65 cromossomos; índice de DNA determinado por citometria de 1,16 a 1,6), que representam 20 a 25% dos casos infantis, têm prognóstico favorável. Por outro lado, os casos com 47 a 50 cromossomos e os hipodiploides têm prognóstico desfavorável. A translocação t(9;22), rara em crianças, continua sendo a alteração citogenética mais comum em adultos (15 a 30%). Esses pacientes normalmente são mais velhos, com maior leucocitose ao diagnóstico e frequente coexpressão de antígenos mieloides na imunofenotipagem. Tanto a translocação t(9;22) quanto as translocações t(4;11) e t(1;19) são associadas a mau prognóstico em adultos e em crianças. Ao contrário, a t(12;21) (p13;q22), correspondente ao rearranjo dos genes TEL- AML, está presente em 20 a 25% das LLAs de células B de crianças, é associada a hiperdiploidia e tem prognóstico favorável. A t(8;14), associada a LLA de células B maduras, causa o deslocamento do proto- oncogene MYC para as proximidades das regiões promotoras do gene da cadeia pesada da imunoglobulina, o que resulta na superexpressão do MYC. A!! Essa anormalidade citogenética já foi considerada como de mau prognóstico, porém essa característica foi modificada pelos protocolos de tratamento atuais. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Entre as crianças com LLA, a t(1;19) (gene de fusão PBX/E2A) é encontrada em aproximadamente 5 a 6% dos casos, sendo mais comum no subtipo pré-B. A t(9;22) (rearranjo BCR/ ABL) está associada à LLA de células B e é encontrada em 3 a 5% dos casos em crianças e em <5% dos casos em adultos, sendo fator prognóstico de extrema relevância. A t(4;11) (rearranjo MLL/AF4) é mais frequente no subtipo pré-B e representa 2% das LLAs em crianças e 3 a 4% das em adultos. Entre as LLA de células T, 1/3 dos casos apresentam translocações envolvendo os locus do receptor de células T a, b e d localizados respectivamente nos cromossomos 14q11.2, 7q35 e 7p14-15. Vários marcadores moleculares foram identificados envolvidos na leucemogenese. Mutações do gene NOTCH-I, receptor transmembrana que regula o desenvolvimento normal dos linfócitos T, foram detectadas na maior parte das LLAs-T. Alterações epigenéticas (hipermetilação e organização do complexo das histonas) também foram descritas em grande proporção de casos de LLA. Estudo de avaliação genômica em larga escala (microarrays) recentemente identificou por exemplo a deleção do gene IKZF1 (Ikaros Family Zinc Finger 1) como a alteração presente em um subgrupo de LLA-B de prognóstio bastante desfavorável. Estudos de farmacogenômica têm contribuído para determinar a sensibilidade dos blastos leucêmicos às diferentes drogas empregadas no tratamento da LLA. Assim, células hiperdiploides acumulam mais metotrexate e blastos com o gene de fusão ETV6-RUNX1 parecem ser mais sensíveis aos análogos de purinas e à asparaginase. A melhor identificação dessas alterações genéticas e epignéticas possibilitará no futuro o manejo terapêutico talvez mais dirigido e personalizado dos pacientes com leucemias agudas. FATORES PROGNÓSTICOS A LLA é uma neoplasia bastante heterogênica, os fatores de prognóstico mais relevantes ao diagnóstico incluem: Idade: em especial >60 anos; Leucocitose: contagem de leucócitos >30.000/µL; Subtipo imunofenoúpico e citogenético (Quadro 4). Alguns pacientes com pior prognóstico podem se beneficiar de terapêutica mais intensiva, incluindo: Transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) em primeira remissão Legenda: fatores de prognóstico: números de leucócitos, imunofenotipagem, citogenética e outras variáveis Legenda: fatores de mau prognóstico na LLA do adulto estabelecidos em diversos estudos clínicos na Europa e nos EUA MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves LLA DO TIPO B Na LLA do tipo B, há pior prognóstico se o paciente apresentar: Leucocitose>30.000/mm; Remissão tardia após 4 semanas de tratamento; Idade ao diagnóstico>35 anos; Subtipo fenotípico pró-B com translocação t(4;1l). A citogenética com hiperdiploidia>50 cromossomos é fator de bom prognóstico em crianças com sobrevida livre de doença até de 90%, mas em adultos o significado prognóstico é mais duvidoso. Há mau prognóstico quando é observada t(9;22)/BCR-ABLI. Essa translocação ocorre em aproximadamente 25% nos adultos e 3% na criança e associa-se mais frequentemente, com os subtipos B comum e pré-B. A!! Os pacientes que apresentam essa translocação devem ser tratados de forma diferenciada com um inibidor da atividade tirosina quinase da proteína que surge da fusão de ambos os genes (imatinibe). A LLA pré-B com t( l;l9)/PBX-E2A ocorre em: 6% das LLA pró-B e em 25% na LLA pré-B, conferindo pior prognóstico. Outras alterações citogenéticas são descritas como fatores de prognóstico na LLA pró-B. A t(12;21) ETV6-RUNX1 presente em 25% das crianças é um fator de bom prognóstico, mas muito rara em adultos. A sobrevida livre de doença nas crianças é de aproximadamente 90%. LLA DO TIPO T Variáveis associadas a mau prognóstico na LLA de células T incluem: Leucocitose >100.000/mm; Idade avançada; Período para obtenção de remissão completa >4 semanas; Leucemias com aspecto linfomatoso e subtipos imaturos pró·T e pré-T (CD3ci+). A leucocitose aumenta o risco de complicações durante a indução do tratamento e as recidivas de SNC são mais frequentes. ________________________________________ Outro fator de extrema importância no prognóstico da LLA é a: Quantificação da Doença Residual Mínima (DRM) por Método Molecular (PCR) ou imunofenotipagem. A!! Principalmente o Grupo Alemão (GMALL) tem buscado identificar o impacto prognóstico dessa avaliação, classificando os pacientes em 3 subgrupos de risco na dependência da velocidade de desaparecimento da DRM. A avaliação da DRM também tem papel crucial no momento pré-transplante alogênico de Medula Óssea (TMO) e no seguimento pós-TMO. DOENÇA RESIDUAL MÍNIMA (DRM) Apesar de a maioria dos pacientes, tanto adultos quanto crianças, obter remissão clínica completa com os esquemas terapêuticos atuais, grande parte deles sofrerá uma recidiva da doença. Isto significa que células residuais restaram na medula óssea ou em outros locais que foram indetectáveis pelos métodos convencionais. Com o desenvolvimento de métodos mais sensíveis é possível identificar um número menor de células leucêmicas entre células normais. Vários trabalhos mostraram o papel prognóstico fundamental do nível de DRM tanto em doença MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves de novo quanto após recaída, quanto após transplante de medula óssea. Desta maneira, os atuais protocolos terapêuticos utilizam a doença residual mínimapara estratificar os pacientes em subgrupos de risco. MÉTODOS DE DETECÇÃO DA DRM Os métodos utilizados para a detecção de doença residual mínima são basicamente a: Imunofenotipagem; e Análise molecular (PCR). MÉTODO PCR O PCR pode detectar: Rearranjos de imunoglobulinas; e Rearranjos cromossômicos específicos, como é o caso do bcr/abl. Durante o desenvolvimento dos linfócitos B e T ocorre um rearranjo dos genes das imunoglobulinas dos receptores de linfócitos T. A justaposição das regiões V (Variável), D (Diversity) e J (Joining) de cada Imunoglobulina (Ig) e de cada Receptor de Células T (RCT) cria uma combinação V(D)J específica. Essa assinatura genética única que os define também pode ser utilizada para: Detectar as células neoplásicas e serve assim como um marcador para verificar a persistência ou não do clone neoplásico. Esse método tem a desvantagem de que para cada paciente precisa ser identificado e clonado o rearranjo específico, de forma que sirva como marcador de DRM. Pode ser utilizado para todos os pacientes, tem uma sensibilidade de 10-4 a 10-5, e é utilizado em especial em estudos pediátricos, com alto poder de discriminar precocemente pacientes que terão uma evolução desfavorável ou estão em risco de recidiva. O método tem a vantagem de ser realizado com DNA, que é altamente estável mesmo após tempo maior de transporte. Apesar disto, sua padronização, limites e significado têm sido alvo de estudo amplo pelo grupo europeu (“EuroMRD”). Outro aspecto importante é que a célula neoplásica mantém todo seu maquinário intacto, podendo sofrer novos rearranjos e, dessa maneira, não ser mais detectável pela sonda desenhada para o rearranjo do momento do diagnóstico. Em outras palavras, o método detecta um processo que possivelmente não está envolvido diretamente no processo neoplásico. ________________________________________ Outra opção seria amplificar as regiões de quebra e translocação específicos de genes de fusão. Estes são específicos da leucemia e se tornam assim alvo ideal para avaliação de DRM por não estarem presentes nas células normais. Infelizmente apenas 30 a 40% de LLA-B e apenas 10 a 20% de LLA-T apresentam alterações ou translocações que podem ser identificadas e perseguidas. A translocação que tem sido utilizada como marcador de DRM mais frequentemente é a: t(9;22), presente em pelo menos 25% dos casos de LLA do adulto, assim chamada LLA Ph+. Esse método tem a desvantagem de necessitar do RNA para análise, material mais facilmente degradável, mas tem uma sensibilidade de até 10- 6. A degradação e a qualidade do RNA são aspectos críticos desse exame e, em alguns casos, se não cuidadosamente avaliados e realizados por laboratórios experientes, podem levar tanto a falsos-negativos quanto a falsos-positivos. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Este método é largamente utilizado como: Marcador de resposta e evolução em Leucemia Mieloide Crônica (LMC), em que a quantificação dos transcritos já é bem padronizada e os níveis de resposta definidos. No caso da LLA Ph+, é importante frisar que a detecção deve ser feita sempre a partir de material de medula óssea, e não sangue periférico, como na LMC, por ter sensibilidade de um log a mais. A padronização na LLA Ph+ tem sido estabelecida e é alvo de estudo internacional. IMUNOFENOTIPAGEM Baseia-se no fato de que as: Células leucêmicas podem expressar um perfil antigênico distinto das células linfoides normais. Usando uma citometria de fluxo de 4 cores, imunofenótipos específicos do clone neoplásico podem ser identificados em até 95% dos casos de LLA com uma sensibilidade de 10-3 a 10-4, ou seja, 1 log abaixo dos métodos moleculares. A grande vantagem da citometria de fluxo é a rapidez com que o resultado pode ser obtido, em geral no mesmo dia. O método tem a desvantagem que o imunofenótipo pode mudar durante a evolução da doença e, desta maneira, o clone neoplásico não poder ser acompanhado de forma adequada em alguns casos. IMUNOFENOTIPAGEM E PCR A vantagem da imunofenotipagem e do PCR é que é: Aplicável a virtualmente todos os casos de LLA. Enquanto o limite da sensibilidade do método de análise morfológica e citogenética é de 5 mil blastos em 100 mil células, a análise molecular e a imunofenotipagem identificam 0,1 e 1 célula, respectivamente. Por outro lado. é necessário ter amostras do diagnóstico para acompanhamento e seguir a padronização recomendada pelos grupos cooperativos que estudam DRM. Legenda: métodos de detecção de doença residual mínima: vantagens, desvantagens e sensibilidade SIGNIFICADO CLÍNICO DA DRM A avaliação da DRM é de extrema utilidade em diferentes momentos do tratamento da LLA. Vários trabalhos demonstraram que a dinâmica do desaparecimento do clone neoplásico no início do tratamento é fator decisivo prognóstico assim como a permanência de células tumorais no curso do tratamento e após Transplante de Medula Óssea (TMO). A correlação entre níveis de DRM e resultado terapêutico é bem mais estudado e definido para crianças do que para adultos. A presença de células neoplásicas residuais em método com sensibilidade > 10-4 após a indução de remissão demonstrou relação direta com as taxas de recidiva (39 versus 3% DRM negativos) em um grande estudo pediátrico. Em crianças também a identificação de DRM em 2 momentos distintos antes da consolidação (>10-3) resultava em uma taxa de recidiva de 84%. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Em adultos, o grupo alemão (GMALL) tem se ocupado do estudo da DRM há vários anos em seus protocolos para: Aspectos técnicos; e Principalmente para definir quais os momentos do tratamento e que nível de DRM tem significado clínico. Eles acharam que em torno de 25% dos pacientes definidos como standard ao diagnóstico por critérios clínicos tinham, ainda antes da consolidação, níveis elevados de doença (> 10-4). Em 3 anos, esse grupo apresentou uma sobrevida livre de doença de apenas 12%. 2 outros grupos confirmaram também em adultos o papel da DRM após indução (entre a 10ª e a 22ª semana de tratamento) com altas taxas de recidiva nos pacientes com DMR positiva nesses momentos. Por outro lado, pacientes com rápida eliminação das células neoplásicas (DRM nos 11º e 14º dias) apresentam a longo prazo um grupo de baixíssimo risco de recidiva em crianças e adultos. No caso da LLA-Ph+, o papel da DRM em termos prognósticos é bem estabelecido: No período da quimioterapia; e Antes e após o transplante. A dinâmica dessa doença é bem mais rápida e agressiva, sendo o monitoramento molecular fundamental para: Surpreender recidivas e definir estratégias terapêuticas mesmo depois do TMO (manutenção com inibidores de tirosinocinase, por exemplo). O desaparecimento dos transcritos bcr/abl ocorreu em 52% dos pacientes tratados pelo grupo alemão com quimioterapia e Imatinib, os quais tiveram uma sobrevida livre de doença significativamente superior aos pacientes que mantinham DRM após um período de 6-10 semanas de início do tratamento. Todos esses últimos pacientes apresentaram recidiva da doença. Assim, o estudo da DRM pode ser incorporado em diferentes momentos do tratamento da LLA, servindo como um dos: Fatores prognósticos para estratificar os pacientes em subgrupos terapêuticos distintos. O grupo alemão considera pacientes com níveis de DRM < 10-4 consistentemente após a indução e níveis indetectáveis de DRM após a consolidação com o grupo de baixo risco (MRD-LR), enquanto pacientes com níveis > 10-4 após a indução e durante a consolidação são consideradosde alto risco (MRD-HR). Os pacientes do grupo MRD-HR eram submetidos a transplante alogênico de medula óssea e os do grupo de baixo risco nem fizeram a manutenção. FATORES DE RISCO PARA REICIDIVA EM SNC Em crianças, os principais fatores prognósticos para recidiva em SNC são: Imunofenótipo T; Leucocitose >100.000/mm; t(9;22) e t(4,l l); Blastos no LCR (iatrogenia); Resistência ao metotrexato. Já em adultos, os fatores prognósticos para a recidiva cm SNC são: Imunofenótipos T ou B maduros; Leucocitose; e Presença de massa mediastinal. A incidência de recidiva no SNC diminuiu após a introdução de tratamento profilático com QT intratecal e sistêmica com altas doses, sendo estimada em 5%. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves TRATAMENTO NA CRIANÇA FATORES PROGNÓSTICOS Por definição, fatores prognósticos são dados (parâmetros) relacionados à doença ou ao paciente, que individualmente ou em conjunto expressam a probabilidade de o paciente conseguir remissão e permanecer continuamente em remissão (cura). A fidelidade com que esses fatores estimam a probabilidade de cura é depende em grande medida do esquema de tratamento. Desta forma, pequenas variações do tratamento podem alterar de maneira radical o valor prognóstico desses fatores. Os fatores prognósticos podem ser de natureza: Clínica, laboratorial ou constitucional (genéticos). É também possível que diferenças constitucionais entre os pacientes possam determinar variações no metabolismo e farmacocinética dos agentes quimioterápicos, dificultando a interpretação de muitos dos fatores prognósticos existentes. Devido a essas limitações, vários parâmetros são combinados para determinar a categoria de risco. De um modo geral em LLA, parâmetros clínicos e biológicos podem ser combinados para estabelecer 3 categorias de risco: BAIXO (45% dos casos) Possuem probabilidade de cura de aproximadamente 80%, mesmo se tratados com quimioterápicos baseados em antimetabólicos. PADRÃO (50%) Possuem as mesmas probabilidades de cura, porém necessitam uma terapia muito mais complexa e intensiva. ALTO (5%) Possuem expectativa de sucesso terapêutico <50%, mesmo quando utilizada uma terapia intensiva. O transplante de medula óssea é frequentemente considerado. ________________________________________ A estratificação para os grupos de risco inicia-se com a: Determinação do imunofenótipo. Pacientes com LLA de linhagem B precoce com idade entre 1-10 anos e contagem leucocitária inicial <50.000/mm3 são considerados provisoriamente como de baixo risco. Devido à estreita associação com um excelente prognóstico, o índice de DNA ≥ 1,16 ou o rearranjo TEL/AML1, 2 características genéticas da célula leucêmica, colocam os pacientes na categoria de baixo risco independente da idade ou contagem leucocitária. Por outro lado, a presença de doença extramedular (SNC ou testicular) ao diagnóstico ou presença de blastos na medula óssea após 2 semanas de tratamento de indução são indicadores de mau prognóstico, elevando o paciente da condição de baixo risco para a de risco-padrão. Da mesma forma, se o estudo citogenético ou molecular revelar alguma das anormalidades associadas com insucesso terapêutico, como t(9;22), t(1;19), 11q23, ou hipodiploidia, a terapia deve ser adaptada às características clínicas desses pacientes. Por exemplo, os pacientes com a translocação t(9;22) são tratados com a adição dos inibidores da tirosinacinase ao esquema de quimioterapia intensiva convencional. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves A recomendação de realizar o transplante de medula óssea em primeira remissão nesses pacientes depende de vários fatores, incluindo: Resposta ao tratamento inicial. Os casos de leucemia com a t(1;19) são tratados com uma intensidade maior, principalmente para evitar recidiva no SNC, e os casos com anormalidades do cromossomo 11q23 são monitorados cuidadosamente para persistência de DRM. A!! Nos últimos anos, muitos estudos vêm mostrando que a resposta à terapia de indução é um fator prognóstico importante. A cinética do desaparecimento das células da leucemia da circulação ou da medula óssea durante as primeiras semanas de tratamento está significativamente associada com o prognóstico. Mesmo nos casos em que a avaliação inicial sugere que a leucemia é de bom prognóstico, a identificação das células da leucemia por qualquer método após a fase de indução é um critério para a retirada do paciente da categoria de baixo risco. TRATAMENTO DE SUPORTE Antes do tratamento específico com quimioterapia, é importante considerar possíveis problemas que frequentemente complicam as condições clínicas iniciais dos pacientes com leucemia. VEIA CENTRAL A tomada de uma veia central que permita um bom fluxo é essencial, principalmente em pacientes de baixa idade. Preferência pela colocação de um cateter de Hickman ou Broviak. Deve atentar para a possibilidade de infecção. Antibióticos de amplo espectro são feitos para cobrir bactérias gram negativa e positiva, e se há febre, mesmo sem evidência de foco infeccioso. TRANSFUSÃO DE DERIVADOS SANGUÍNEOS Transfusão de derivados sanguíneos devem ser utilizadas para: Corrigir valores anormais de plaquetas e hemoglobina. CONCENTRADO DE HEMÁCIAS Se o paciente mostra sinais de leucoestase ou tem hiperleucocitose, a transfusão de concentrado de hemácias pode determinar um aumento ainda maior da viscosidade sanguínea. Esses pacientes não devem ser transfundidos com hemácias, a não ser que os níveis de hemoglobina estejam criticamente baixos. A!! Valores de hemoglobina entre 7 e 8 g/dL são bem tolerados por esses pacientes. A!! Se transfusão de hemácias for necessária em pacientes com hiperleucocitose, essa deve ser feita lentamente, com uma quantidade de concentrado de hemácias estimada para não ultrapassar o nível de hemoglobina de 8 g/dL. LEUCOFÉRESE As indicações de leucoferese não estão bem estabelecidas, mas ela é frequentemente considerada em: Pacientes com LLA e contagem leucocitária >250.000/µL. PLAQUETOFÉRESE A coagulopatia, que ocorre em aproximadamente 5% dos pacientes, em geral é corrigida com o: Tratamento específico da leucemia. Porém, ela pode agravar durante os primeiros dias do tratamento por causa destruição celular, o que resulta em aumento transitório de material procoagulante. PLASMA FRESCO MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Transfusão de plasma fresco, concentrado de plaquetas e ocasionalmente de crioprecipitado são suficientes para: Controlar as manifestações hemorrágicas. ANORMALIDADES METABÓLICAS Anormalidades metabólicas com frequência complicam o tratamento inicial dos pacientes com leucemia. Essas complicações decorrem da destruição maciça das células leucêmicas (síndrome da lise tumoral), determinando níveis séricos elevados de: Lactato; Ácido úrico; Fósforo; e Potássio. Legenda: fisiopatologia da síndrome de lise tumoral Desidratação, que é frequente em crianças de baixa idade, é um fator agravante das manifestações da síndrome de lise tumoral, facilitando a deposição de ácido úrico nos rins (nefropatia úrica). Por isso hidratação generosa é imprescindível no tratamento inicial de suporte do paciente com leucemia. Administração de solução contendo 5% glicose com 0,33% de sódio sem potássio irá: Corrigir a deficiência de volume; Aumentar o fluxo glomerular; e Eliminação de solutos. ________________________________________ Hiperuricemia, embora presente na maioria dos casos de LLA,constitui um problema clínico importante nos casos de LLA de linhagem B madura (FAB M3) e de linhagem T. A administração de Alopurinol deve ser iniciada antes de iniciar a quimioterapia. Notar que ao inibir a xantina oxidase, embora a produção de ácido úrico diminua, os precursores dele (xantina e hipoxantina) podem se acumular e precipitar nos rins, causando nefropatia. Assim, Rasburicase deve ser usada durante os primeiros dias do tratamento e, na sequência, Alopurinol. A!! A Rasburicase age muito mais rapidamente e é muito mais efetiva do que o Alopurinol. ________________________________________ As indicações para o uso de bicarbonato de sódio no fluido intravenoso não estão bem definidas. Devido ao fato de os distúrbios metabólicos iniciais também cursarem com o aumento de fósforo sérico, a alcalinização pode predispor à formação de precipitados de fósforo e cálcio. Portanto, recomenda não acrescentar bicarbonato no fluido intravenoso. ________________________________________ Alguns casos de LLA têm um agravamento das alterações metabólicas mesmo com um suporte hídrico adequado. Esses pacientes, que em geral possuem: Nefropatia úrica estabelecida antes do início da quimioterapia; ou Outras comorbidades: infecção, infiltração leucêmica dos rins e acidose, poderão necessitar de hemodiálise durante os primeiros dias de tratamento. A!! Pacientes com essas alterações devem ser admitidos na unidade de cuidados intensivos e ser monitorados cuidadosamente. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves ________________________________________ Pacientes com massa de mediastino resultando em: Compressão de vias áreas superiores devem ser mantidos na posição semissentada. A tentativa de forçar o posicionamento nesse tipo de paciente para a realização de punção lombar ou de crista ilíaca pode ocasionar parada respiratória. Da mesma forma, a sedação ou anestesia do paciente na posição supina pode causar dificuldades respiratórias. Na posição supina, a pressão intratorácica aumenta, resultando em agravamento da compressão das vias aéreas pela massa de mediastino. A!! Se houver necessidade de sedação do paciente, um anestesista com experiência e material apropriado para intubação endotraqueal devem estar disponíveis. TRATAMENTO ESPECÍFICO DA LLA A base do tratamento da LLA se deve ao conceito de “terapia total”, que consiste no: Uso de combinações de drogas com diferentes mecanismos de ação administradas durante a indução, consolidação e manutenção, com duração total do tratamento de 2,5-3 anos. Há também o conceito de “profilaxia do SNC”, que consiste na: Administração intratecal de quimioterapia e radiação na região do crânio e da medula espinhal. Essa estratégia foi importante para reduzir a frequência de infiltração do SNC, a qual era a primeira evidência de recidiva nesses pacientes. ________________________________________ O tratamento inicial (indução da remissão) da leucemia consiste na: Utilização de pelo menos 3 medicamentos — Prednisona, Vincristina e L- Asparaginase — e, em casos de risco elevado de recidiva, uma quarta medicação, em geral uma antraciclina. Com esse esquema terapêutico, mais de 95% dos pacientes obtêm a remissão completa. Consolidação da indução é normalmente realizada com: Antimetabólicos, em geral Metotrexate e 6- Mercaptopurine. Seguindo a consolidação, os pacientes recebem a manutenção. Nas semanas iniciais da manutenção, tratamento similar ao da indução (reindução) é repetido 2 vezes, em geral com um intervalo de 8 semanas entre uma reindução e outra. A!! A chamada reindução tem importância prognóstica, mesmo naqueles pacientes com LLA de baixo risco. O tratamento de manutenção varia dependendo do risco da LLA. Na leucemia de alto risco, de modo geral, recebem uma manutenção bastante intensiva. Na de baixo risco, a manutenção consiste de Metotrexate semanal e 6- Mercaptopurina diário. A esse regime, ciclos de Vincristina com Prednisona ou Metotrexate são agregados. A duração do tratamento de manutenção ainda não está bem definida. Tentativas de diminuir o tempo do tratamento de manutenção para menos de 18 meses foi associado com um risco aumentado de recidivas. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P2 | Luíza Moura e Vitória Neves Também não existem evidências de vantagem em estender o tratamento além de 3 anos. No protocolo atual do St. Jude Children’s Research Hospital, Total XVI, os pacientes recebem 120 semanas de manutenção independente do risco de recidiva ou do sexo do paciente. As leucemias com cromossomo Philadelfia recebem um inibidor da tirosinacinase (Imatinib, Dasatinib) durante todas as fases do tratamento. A indicação de transplante para esses pacientes continua sendo investigada. PLUS O tratamento direcionado ao SN, que tem o objetivo de: Reduzir a frequência de recidivas no SNC, passou por modificações nos últimos anos. Hoje, a radioterapia craniana tem sido substituída por regimes mais intensivos de quimioterapia sistêmica e intratecal. A tendência tem sido diminuir o uso, a dosagem e o campo irradiado. Essas modificações foram introduzidas em parte devido às: Complicações neurológicas e à Incidência aumentada de neoplasias secundárias que podem complicar o uso da radioterapia. Atualmente, a radioterapia é reservada para pacientes que têm alta probalidade de desenvolver recidiva para o SNC.
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