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Parte II – Indicadores estratégicos e operacionais Objetivo Na parte I você já pode entender o que são os indicadores de desempenho, sua utilidade e como os seus resultados podem ser avaliados. Nosso objetivo agora será o de saber como definir indicadores estratégicos e indicadores operacionais, com a preocupação de se ter um conjunto adequado de indicadores para se direcionar e avaliar as ações estratégicas e as operações nas organizações. Trataremos também dos indicadores relacionados ao atendimento dos requisitos das partes interessadas. Sumário Os tópicos que abordaremos nesta parte são os seguintes: Indicadores estratégicos Indicadores operacionais Indicadores relativos aos stakeholders Seleção de indicadores 3 – Indicadores estratégicos Para poder direcionar e avaliar seu desempenho, o que é sugerido é que as organizações adotem um sistema de indicadores que contemple indicadores estratégicos e indicadores operacionais. Os indicadores estratégicos devem representar os objetivos estratégicos, e os indicadores operacionais devem se relacionar com os objetivos dos diferentes processos principais e de apoio, necessários para o funcionamento das organizações, em consonância com os objetivos estratégicos. 3.1 – Definição dos indicadores estratégicos: Balanced Scorecard Vamos tratar, agora, dos indicadores estratégicos, e para tanto escolhemos a metodologia denominada “Balanced Scorecard”, e você rapidamente entenderá o porquê dessa escolha. O Balanced Scorecard (BSC) é uma ferramenta de gestão, proposta por Kaplan e Norton, em 1992, como um instrumento para medição de desempenho. De lá até os dias de hoje ele vem sendo cada vez mais aperfeiçoado e utilizado, não só para medição do desempenho, mas também para auxiliar na definição e implementação de estratégias. Várias obras já foram escritas a respeito do Balanced Scorecard(BSC), tanto por Kaplan e Norton, como por outros autores, tratando com profundidade do tema. Mas, ainda que sob o risco do excesso de simplificação, o que se pode entender como ideia central do BSC é que as organizações devem construir seus mapas estratégicos, aonde devem lançar seus objetivos estratégicos, considerando quatro perspectivas ou dimensões relacionadas entre si: perspectiva financeira, perspectiva do cliente, perspectiva dos processos internos e perspectiva do aprendizado e crescimento. Estabelecidos os objetivos, deve-se na sequência se definir os “indicadores estratégicos” que poderão retratar o alcance dos objetivos estabelecidos. Se desejarmos avaliar o desempenho estratégico de uma organização, então, em primeiro lugar será necessário saber quais são os objetivos estratégicos que ela almeja alcançar, nas quatro perspectivas mencionadas. Para o caso de empresas, o que sugere o BSC, é que os mapas estratégicos, devem começar pela perspectiva financeira isto é, pela definição dos objetivos financeiros . Para algumas empresas um objetivo financeiro síntese pode ser aumentar a taxa de retorno dos investimentos (ROI), para outras pode ser aumentar o valor de longo prazo da empresa, para os acionistas. Em ambos os casos, pode se ter, como objetivos relacionados, aumentar a receita e aumentar a produtividade (para reduzir custos). Para que os objetivos financeiros de uma empresa possam ser alcançados, em especial os relacionados ao crescimento da receita, é de se esperar que ela consiga conquistar e manter clientes, e portanto o que se espera é que ela defina objetivos estratégicos para alcançar esse fim. É aqui que entra a perspectiva de clientes. São exemplos de objetivos que se pode ter nessa perspectiva: aumentar a satisfação dos clientes, expandir oportunidades de receita, ou aumentar as receitas por clientes, e assim por diante. Para atingir os objetivos relacionados aos clientes ou os objetivos financeiros de produtividade, é preciso ação. É preciso, então que sejam definidos os processos (internos) que permitirão o atendimento das necessidades e expectativas dos clientes-alvo, e também os objetivos que se espera alcançar com esses processos. É aqui, então, que entra a perspectiva dos processos internos, e os objetivos a ela relacionados que podem ser, por exemplo, aumentar a qualidade dos produtos, melhorar a qualidade do atendimento, excelência operacional, etc. Para que os processos (da perspectiva interna) possam acontecer, é necessário, no mínimo, de gente. É aqui que entra a perspectiva denominada originalmente de aprendizado e crescimento, mas que algumas organizações a traduzem por “perspectiva pessoas”, onde se enfatiza, então, os objetivos relacionados a pessoas. Esse é o caso da Politeno que nessa perspectiva, definiu como objetivos “aumentar a produtividade dos empregados” e “aumentar a satisfação dos empregados”. (FNQ, 2002:12) Você já pensou como deve ser difícil conseguir atingir simultaneamente esses dois objetivos? De qualquer forma esse pode ser o caminho necessário para que os objetivos relacionados aos processos internos sejam atingidos. Muito bem, espera-se que você tenha entendido as quatro perspectivas propostas pela metodologia do BSC, e tenha compreendido que essa é uma forma de se orientar as etapas para definição das estratégias e dos objetivos estratégicos relacionados. Isso é só começo. Para que as pessoas da organização possam saber como transformar os objetivos em ação, o que propõe o modelo é que eles (os objetivos) sejam traduzidos em indicadores de desempenho, e que para cada indicador sejam definidas metas, e que para o alcance das metas sejam definidos planos de ação. Tudo isso você pode ver no quadro 3.1, que retrata o caso de uma companhia aérea de baixo custo, que deseja alcançar objetivos financeiros, e atrair e reter clientes, por meio de um objetivo de reabastecimento rápido no solo. Veja atentamente esse quadro. Veja, por exemplo, que um dos objetivos da perspectiva de clientes é “serviços pontuais”. Veja que o indicador de desempenho relacionado é “Posição no ranking de pontualidade da Agência Federal de Aviação”, veja que a meta é “ ser a empresa número 1” nesse ranking. A sugestão é que você veja todos os objetivos que aparecem no mapa estratégico, veja que para cada objetivo existem um ou mais indicadores de desempenho, e que para cada indicador existe uma meta. É esse o padrão que se espera ser observado, por empresas que adotam o BSC como referência para definição de seus objetivos estratégicos e indicadores relacionados. Quadro 3.1 – Mapa estratégico e indicadores relacionados Fonte. Kaplan e Norton, 2004: 57 Uma leitura essencial Será muito bom se você puder ler o capítulo 2 do livro “Organização orientada para a estratégia “ (Kaplan e Norton, 2000), intitulado “Como a Mobil se transformou em organização orientada para a estratégia”. Trata- se de um caso real, que mostra como a “Mobil NAM&R” implementou com sucesso uma estratégia que exigia expressivo reposicionamento do mercado simultaneamente a reduções de custo e melhorias operacionais, utilizando-se do BSC. Posso garantir que, ainda que o livro seja de 2000, o caso continua atualíssimo. Você verá o passo a passo da montagem do mapa estratégico, com a justificativa de cada objetivo definido, verá como foram definidos os indicadores de desempenho representativos de cada objetivo e principalmente verá os resultados alcançados. Tudo isso em pouco mais de 20 páginas que valem um livro inteiro. Sugestão para aplicação Os atributos que aparecem nas diferentes tabelas que estão apresentadas no Anexo A, talvez possam lhe ser úteis , caso você seja convidado a participar da elaboração do mapa estratégico de alguma organização. Todos eles podem ser transformados em objetivos estratégicos, em alguma das quatro perspectivas do BSC. A vantagem desse anexo,é que ele já apresenta sugestões de indicadores de desempenho relacionados aos atributos (objetivos). 3.2 - Um estudo de caso: o mapa estratégico da Bahia Sul Celulose Uma forma interessante de aprofundamento dos conhecimentos sobre o Balanced Scorecard (BSC) é aprender com quem o pratica e isto que vamos fazer agora, vendo o caso da Bahia Sul Celulose, empresa do município de Mucuri, na Bahia, produtora de celulose e papel, ganhadora do Prêmio Nacional da Qualidade de 2001. Antes de avançarmos, vale lembrar que as organizações ganhadoras do Prêmio Nacional da Qualidade são consideradas organizações classe mundial, ou seja, estão entre as melhores do mundo em termos de gestão organizacional. Este foi o caso da Bahia Sul Celulose, hoje incorporada pela Suzano Papel e Celulose. O que você verá na sequência é, em primeiro lugar, um quadro onde estão apresentados os fundamentos do modelo de gestão da Bahia Sul, que contempla a visão, a missão, os valores e a política da qualidade da empresa, fundamentos esses que devem balizar os objetivos a serem buscados. Na sequência você verá o mapa estratégico da Bahia Sul, que será mais bem entendido se você tiver visto com atenção os fundamentos do modelo de gestão apresentados. Na sequência, você verá um quadro onde aparecem somente os indicadores de desempenho, relativos aos objetivos das quatro perspectivas do BSC (finanças, clientes, processos e aprendizado e crescimento) apresentadas no mapa estratégico. Para nós que estamos estudando a “gestão do desempenho organizacional”, ter esses indicadores do desempenho é um dos nossos principais alvos, já que são os resultados desses indicadores que nos permitirão avaliar o desempenho organizacional. Identidade da Bahia Sul Antes de você ver o mapa estratégico da Bahia Sul, é importante que você saiba um pouco mais sobre essa empresa, para que o próprio mapa possa ser melhor entendido Quadro 2.2– Fundamentos do Modelo Bahia Sul de Gestão Nossa Missão Produzir e comercializar celulose e papel para os mercados interno e externo, com qualidade, respeito ao meio ambiente, satisfação do cliente e competitividade. Nossa Visão Ser um modelo de excelência empresarial Nossos Valores Cliente: Respeitar os clientes e antecipar o atendimento de suas expectativas e necessidades. Integridade: Agir de forma ética, respeitando os valores da organização, dos indivíduos e da sociedade. Resultados: Gerar Resultados que sustentem o crescimento e a competitividade e remunerem o acionista. Pessoas: Valorizar e respeitar as pessoas, incentivando o crescimento individual e das equipes, reconhecendo suas contribuições no trabalho. Parcerias: Desenvolver e fortalecer parcerias que favoreçam os resultados do negócio e promovam o comprometimento desses parceiros com os valores da empresa. Meio Ambiente: Respeitar o Meio Ambiente, adotando os princípios do desenvolvimento sustentável. Segurança e Saúde: Comprometer-se com a segurança e promover a melhoria da qualidade de vida no trabalho. Responsabilidade Social: Participar do desenvolvimento da comunidade apoiando a promoção do bem-estar social e econômico. Participação: Ter atitudes positivas, sugerindo soluções e comprometendo-se com os resultados da empresa. Fonte: FNQ (2001) - Relatório de Gestão – Bahia Sul Quadro 2.2– Fundamentos do Modelo Bahia Sul de Gestão(continuação) Política da Gestão para a Qualidade O nosso modelo de liderança – fundamentado na missão, na visão e nos valores – integra a gestão da qualidade, do meio ambiente, da segurança e da saúde ocupacional. Além da busca da melhoria contínua da satisfação do cliente e do desempenho em segurança e saúde ocupacional, são nossos compromissos: A prevenção da poluição; A valorização e o desenvolvimento do ser humano; A observância da legislação e de outros requisitos aplicáveis à qualidade, ao meio ambiente, à segurança e à saúde ocupacional, relativos aos nossos processos, produtos e serviços; A otimização dos sistemas de gerenciamento da qualidade, do meio ambiente, da segurança e da saúde ocupacional, por meio de objetivos e metas alinhados com o nosso planejamento estratégico; O diálogo com as partes interessadas sobre os aspectos da qualidade, do meio ambiente, da segurança e da saúde ocupacional, assegurando ao público o acesso a esta política e aos objetivos que a sustentam. Fonte: FNQ (2001) - Relatório de Gestão – Bahia Sul Mapa estratégico da Bahia Sul O Mapa Estratégico da Bahia Sul, derivado do uso do Balanced Scorecard e coerente com os fundamentos acima, está reproduzido na fig. 3.1, a seguir. A sugestão é que você procure compreender os objetivos de cada uma das quatro perspectivas (algo como: por que existe esse objetivo) e depois veja se consegue compreender a escolha dos indicadores de desempenho escolhidos (por que esse indicador?). Essa será uma excelente forma de aprender a partir de exemplos reais. Fig.3.1– Mapa Estratégico da Bahia Sul Celulose. Fonte: FNQ (2001) Relatório de Gestão – Bahia Sul Perspectiva Financeira Perspectiva do Cliente Perspectiva Interna Perspectiva do Aprendizado Lucratividade entre as melhores do setor Receitas Papel Cortado Elevar Margem de Contribuição Cliente x Maximizar os Ativos Existentes Ter o Menor Custo da Indústria Estratégia de Crescimento Estratégia de Produtividade EBTIDA Lucro Líquido/Ativo Total MC Total MC Celulose MC Papel Custo Papel CIF Brasil Custo Papel CIF ME Custo Celulose CIF ME Despesas Fixas Totais “Encantando o Cliente” Compra Rápida? Pedido Perfeito ? Aumentar Satisfação dos Clientes Aumentar Fidelidade Potencializa r Marca Bahia Sul Diferenciadores Índice reclamações Indenizações % clientes baixo risco % Vendas repetitivas M.S. Celulose M.S. Papel “Relação Ganha-Ganha Parceiros” Ampliar Capacidad e de Produção Área Comprada Área Implantada Curva S Proj. Ind. Entender Segment os de Clientes Implantar E- Business Meta de Share por Segmento % Vendas/E-Business Melhorar Logística Aumentar Produção Celulose Forns. de Serviços Forns. de Produtos Índice de Avaria Produção Cel. Excelência em: Meio Ambiente Segurança Avaliação P. Evolução Pontuação PNQ Taxa Inv. P. Sociais Avaliação P. SISSO “Construindo o Futuro” “Aumentar o Valor dos Clientes” “Excelência Operacional” “Empresa Cidadã” Força de Trabalho Motivada Melhorar Clima Interno Endomarketing Capacitação Gerencial Capacitação Tecnológica Atualização Tecnológica Inovação Clima Interno Competências Tecnologia Pesquisa Satisfação no Trabalho Avaliação SACI Avaliação do Programa - CurvaS IMA 7 – 1º E 2º Ciclos Curva S – Comitê de Tecnologia Melhorar Base Fornecedores Os indicadores estratégicos utilizados pela Bahia Sul Celulose, relativos aos seus objetivos estratégicos, que aparecem no mapa estratégico, estão reproduzidos no quadro 3.3, para reforçar o seu entendimento. Em negrito estão apresentados os objetivos estratégicos. Veja atentamente esse quadro. Quadro 3.3 – Indicadores Estratégicos da Bahia Sul Celulose 1 – Finanças 1.1 – Lucratividade entre as melhores do setor 1.1.1 EBTIDA(R$ mil) 1.1.2 Lucro Líquido / ativo total (%) 1.2 – Manter-se como referência em custo no mercado 1.2.1 Custo de papel CIF BRASIL (US$/t) 1.2.2 Custo de papel CIF ME (US$/t) 1.2.3 Custo de celulose (US$/t) 1.3 – Elevar margem de contribuição 1.3.1 Margem de contribuição unitária de celulose (US$/t) 1.3.2 Margem de contribuição unitária de papel(US$/t) 2 – Clientes 2.1 – Aumento da Satisfação dos Clientes 2.1.1 Índice de reclamações gerais de celulose e papel (pontos) 2.1.2 Indenizações de celulose e papel (US$/t) 2.1.3 4ª medição de satisfação dos clientes (%) 2.2 – Ampliar potencial da marca “BAHIA SUL” 2.2.1 Market Share total celulose (%) 2.2.2 Market Share total papel (%) 2.3 – Intensificar parcerias com clientes estratégicos visando aumento da fidelidade 2.3.1 Vendas para clientes que efetuaram compras anteriormente (Nº) 3 – Processos Internos e Inovações 3.1 – Estar com expansão da capacidade produtiva em andamento 3.1.1 Área efetivamente comprada (ha) 3.1.2 Área efetivamente implantada (ha) 3.2 – Ser “benchmarking” em gestão ambiental, saúde e segurança, qualidade 3.2.1 Avaliação do programa evolução (%) 3.2.2 Concluir implantação do programa SISSO – curva S (%) 3.2.3 Pontuação nos critérios PNQ (pontos) 3.2.4 CRC – Investimentos em programas sociais 3.3 – Melhorar projetos de logística da empresa 3.3.1 Índice de avarias papel (%) 3.4 – Buscar a atualização tecnologia dos processos, equipamentos e informação 3.4.1 IMA 7 para o 1º e 2º ciclo – implantação e reforma (m3/ha) 3.4.2 Inovações e Criatividade (números de idéias) 3.4.3 Curva S do comitê de tecnologia (%) 3.5 – Desenvolver continuamente a base de fornecedores 3.5.1 Avaliação de fornecedores de serviços (%) 3.5.2 Avaliação de fornecedores de produtos (%) 3.6 – Aumento da produção de celulose 3.6.1 Produção de celulose (tsa) 4 – Aprendizado e Crescimento 4.1 – Incrementar a capacitação e o desenvolvimento técnico e gerencial da equipe 4.1.1 Indicadores do SASC 4.2 – Colocar a empresa entre as melhores do país no que se refere a satisfação no trabalho 4.2.1 Satisfação no trabalho (SASC – categoria 11) (%) 4.2.2 SACI (%) 4.3 – Melhorar a comunicação na empresa 4.3.1 Comunicação na empresa (SASC – categoria 10) (%) Notas: SISSO. Sistema Integrado de Segurança e Saúde Ocupacional PNQ. Prêmio Nacional da Qualidade CRC. Comitê de Relações com a Comunidade SASC.Sistema de Avaliação do Nível de Satisfação do Colaborador SACI. Sistema de Avaliação da Satisfação do Cliente Interno Fonte: FNQ(2001) - Relatório de Gestão – Bahia Sul Mesmo que você não consiga saber o significado exato de cada um dos indicadores estratégicos utilizados pela Bahia Sul Celulose, dado que muitos são peculiares ao linguajar utilizado nos negócios de celulose e papel, não se poderá deixar de perceber que não basta estabelecer objetivos do tipo ter a melhor lucratividade do setor, aumentar a satisfação dos clientes ou ser benchmarking em gestão ambiental, saúde, segurança e qualidade, é preciso que esses objetivos sejam transformados em indicadores de desempenho passíveis de serem medidos, e é isso que o exemplo da Bahia Sul nos mostra. Por outro lado, também pode ser percebido que os indicadores de desempenho não surgem do nada, surgem, sim, das estratégias organizacionais e seus respectivos objetivos. Reflexões sobre o caso Bahia Sul Celulose O que pode ser observado, a partir da análise das informações apresentadas no caso Bahia Sul, é o seguinte: O mapa estratégico é precedido dos fundamentos do modelo de gestão que contemplam a visão, a missão, os valores organizacionais e a política de qualidade. O mapa estratégico da Bahia Sul apresenta como objetivo maior da perspectiva financeira a “lucratividade entre as melhores do setor”, sendo que para tanto estabelece uma estratégia de crescimento e uma estratégia de produtividade, de forma análoga ao do modelo genérico proposto por Kaplan e Norton. Em todas as perspectivas (financeira, do cliente, interna e de aprendizado) são apresentados os objetivos (dentro dos círculos ovais) e logo abaixo deles os indicadores de desempenho relacionados. No quadro 3.3, que segue o mapa estratégico, os indicadores de desempenho relativos aos objetivos estabelecidos estão mais claramente apresentados. O que é possível perceber, no caso Bahia Sul, é que a definição dos indicadores de desempenho, no nível estratégico, passa pelas seguintes etapas: definição da missão, definição da visão, definição dos valores organizacionais e da política de qualidade, definição dos objetivos estratégicos para cada uma das perspectivas do Balanced Scorecard e definição dos indicadores estratégicos. A proposta de Kaplan e Norton (2004) é que, uma vez definidos os indicadores estratégicos, sejam estabelecidas metas, e para que essas metas sejam atingidas, devem ser definidos os planos de ação. Isto leva a entender que metas desafiadoras devem exigir planos de ação adequados para que possam ser realizadas. 3.3 – Análise do desempenho estratégico: etapas O que estudamos nesta parte nos permite estabelecer uma sequência de etapas para a análise do desempenho estratégico de uma organização. Missão ↓ Visão ↓ Valores e políticas ↓ Objetivos estratégicos ↓ Indicadores de desempenho ↓ Metas ↓ Planos de ação ↓ Análise do desempenho Uma empresa, a partir de uma boa definição do que pretende ser (missão), de onde quer chegar (visão) e das orientações que devem nortear sua caminhada (valores e políticas), deve definir seus objetivos estratégicos, levando em conta suas forças e fraquezas, e as ameaças e oportunidades oferecidas pelo ambiente em que atua. A proposta do BSC é que esses objetivos levem em conta quatro perspectivas: financeira, de clientes, dos processos internos e a de aprendizado e crescimento. Os objetivos devem ser traduzidos em indicadores de desempenho, que, por poderem ser quantitativamente medidos, servem para demonstrar, revelar ou direcionar o desempenho daquilo que se está querendo medir. Quando se tem os indicadores de desempenho, os objetivos estratégicos podem ser quantitativamente definidos por meio de metas, e para que essas metas possam ser alcançadas é necessário que se tenha planos de ação, que colocados em prática, podem ou não produzir os resultados almejados.. A análise de desempenho corresponde, então, a análise dos resultados dos indicadores escolhidos, e de acordo com o que já estudamos, essa análise deverá levar em conta as metas estabelecidas, e também os fatores de avaliação propostos pelo MEG (melhoria, competitividade e compromisso), se as metas não tiverem levado em conta esses fatores, quando da sua definição. Mapa estratégico SENAC-RS No anexo B, você poderá ver, o Mapa do Negócio do SENAC-RS, ganhador do Prêmio Nacional da Qualidade(PNQ) de 2016 e dos Prêmio Melhores em Gestão (que substituiu o PNQ) de 2017. O SENAC-RS tem a missão de educar para o trabalho em atividades do comércio de bens, serviços e turismo, no Estado do Rio Grande do Sul. Tem sede em Porto Alegre-RS, e unidades educacionais espalhadas por todo o estado. O mapa estratégico do SENAC-RS, que está no anexo B, talvez seja muito mais didático do que o da Bahia Sul, já que cada uma de suas perspectivas e cada um dos objetivos de cada perspectiva são acompanhados de alguma explicação. Para cada indicador de desempenho escolhido há uma breve definição e é apresentada sua fórmula de cálculo. O que se sugere é que você veja o significado de cada perspectiva e tente entender os objetivos estratégicos relacionados a cada uma delas. Depois tente entender como que os indicadores escolhidos para cada objetivo servem para retratar o objetivo. 4 – Indicadores operacionais 4.1 – Desdobramento dos objetivos estratégicos em objetivos operacionais Para que os objetivos estratégicos possam ser atingidos é necessário que toda a organização se envolva. Isto significa que unidades de negócio, divisões, departamentos, superintendências, e seja lá qual for a designação que se dê a qualquer parte da organização, todos têmque saber a respeito daquilo que corresponde à sua parte, para que possam contribuir para que os objetivos estratégicos se tornem realidade. Em outras palavras, os objetivos estratégicos têm que ser desdobrados entre os agentes da organização, transformando-se em objetivos operacionais (necessários para que os objetivos estratégicos sejam alcançados) Um processo de desdobramento dos objetivos estratégicos, como não poderia deixar de ser, começa com a comunicação das estratégias organizacionais e seus respectivos objetivos para toda organização, incluindo- se aqui a comunicação dos indicadores de desempenho e das respectivas metas. Vale lembrar que uma comunicação é eficaz quando o receptor decodifica adequadamente a mensagem do emissor. O passo seguinte é o do desdobramento, propriamente dito, dos objetivos estratégicos e de suas respectivas metas, em objetivos (e metas) operacionais, para os diversos setores/processos da organização, sendo recomendado que isto se dê de forma participativa, como forma de gerar um maior envolvimento e comprometimento das pessoas da organização. Os desdobramentos dos objetivos/metas estratégicas, em objetivos/metas operacionais pode se dar por duas formas: desdobramento por contribuição e desdobramento por compartilhamento. Desdobramento por contribuição Para facilitar o entendimento de como se transformar os objetivos estratégicos em objetivos operacionais, e melhor identificar-se as ações concretas que devem caber a cada setor da organização, uma ferramenta muito útil é o diagrama da árvore, que é uma ferramenta que permite desdobrar os objetivos em graus sucessivos de detalhamento de suas causas. Um dos exemplos mais conhecidos de diagrama da árvore é a “Matriz Du Pont” – fig.4.1 - que foi largamente utilizada a partir de meados do início do século passado por organizações que precisavam de instrumentos para gerenciar, à distância, suas diferentes divisões, no tempo em que o foco em resultados financeiros era predominante. (Kaplan, 1993: 72) O que mostra essa matriz é que se existir um objetivo estratégico para se conseguir uma Taxa de Retorno do Investimento de 20%, isto será conseguido através de vários esforços relacionados a receitas, a custos diretos e indiretos e ao próprio tamanho e uso dos ativos. Assim, o desdobramento desse objetivo implicará tanto a definição de objetivos específicos relacionados ao volume de vendas, normalmente atinentes às áreas comerciais, como objetivos relacionados a custos e outros de otimização do uso dos ativos, mais relacionados às áreas de produção e aos processos de apoio. O que se pode concluir desse exemplo é que as pessoas dos setores envolvidos na realização dos objetivos estratégicos sofrerão maior impacto e verão com muito mais clareza aquilo que lhes cabe, quando um objetivo genérico, do tipo retorno nos investimentos, for desdobrado o suficiente para se saber todos os passos necessários para se chegar nele. Fig. 4.1 – Diagrama da árvore – Matriz Du Pont Fonte: Kaplan, 1993: p.72 Você já deve ter percebido que a construção de diagramas da árvore pressupõe a resposta a uma sequencia de perguntas “como”, algo mais ou menos assim: Como ter um elevado retorno de investimento? Resposta: por meio de uma boa rotação dos investimentos e uma boa margem operacional. ESTOQUES CONTAS A RECEBER DISPONÍVEL CUSTO DE VENDAS DAS FÁBRICAS DESPESAS DE COMERCIALIZA- ÇÃO FRETE & EXPEDIÇÃO ADMINISTRATI- VAS CAPITAL DE GIRO* INVESTIMENTO PERMANENTE INVESTIMENTO TOTAL VENDAS VENDAS CUSTO DE VENDAS LUCRO NAS OPERAÇÕES VENDAS MARGEM OPERACIONAL ROTAÇÃO DO INVESTIMENTO RETORNO DO INVESTI- MENTO multiplicada pela divididas pelo mais menos dividido pelas * Inclusive pequenos montantes de diferidos aqui não representados. Como ter uma boa rotação dos investimentos? Resposta: tendo uma elevada relação entre vendas e investimento total Como ter uma elevada relação entre vendas e investimentos? Resposta: tendo boas vendas em relação aos investimentos, aumentando o numerador (vendas) mais do que a elevação do denominador (investimentos) ou simplesmente otimizado o denominador (investimentos) Como otimizar os investimentos? Resposta: minimizando as necessidades de capital de giro e do investimento permanente, sem comprometer os negócios. Como minimizar as necessidades de capital de giro? Resposta: buscando aumentar o giro dos estoques ou diminuindo as contas a receber E assim por diante. Se você estiver familiarizado com o uso do “Diagrama de causa e efeito”, também conhecido como “diagrama da espinha de peixe” ou diagrama de Ishikawa, você também poderá utilizá-lo para elaborar os diagramas da árvore dos indicadores estratégicos que você desejar desdobrar. Neste caso você deverá colocar o objetivo desejado como “efeito”, e tudo aquilo que impactar nesse efeito como causas. Os grupos de causas não precisam ser os mesmos das que aparecem na figura 4.2 Fig. 4.2 – Diagrama de causa e efeito A tabela 4.1, a seguir, apresenta mais alguns exemplos de desdobramento por contribuição. A sugestão é que você veja atentamente essa tabela e procure entender a relação de causa e efeito entre os indicadores operacionais e os estratégicos apresentados. No caso dos hospitais, por exemplo, existe uma constatação de que a receita por paciente é decrescente, em termos diários, à medida que ele permanece mais tempo internado. Isso significa que, em termos de faturamento, é melhor um paciente ficar menos tempo internado, e ceder logo seu lugar para outro, do que um paciente ficar muito tempo internado, isso, é claro, se for mantida uma elevada taxa de ocupação dos leitos. Tabela 4.1 – Desdobramentos por contribuição Tipo de negócio Indicadores Operacionais Drivers Indicadores Estratégicos Outcomes Aviões Taxa média semanal de ocupação dos assentos, por trajeto. Faturamento anual Indústria Preço médio praticado Preço médio de reposição (diário, semanal, mensal) Volume semanal de produção vendida Margem bruta anual Hospitais Tempo de permanência hospitalar Taxa de ocupação dos leitos Taxa de crescimento anual do faturamento bruto Supermercados Faturamento por metro quadrado, setor a setor (semanal ou mensal) Taxa média anual de faturamento por metro quadrado Faturamento anual Resumindo, quando temos o desdobramento por contribuição, “ alguns indicadores são idênticos aos do Painel de Bordo, mas a maioria deles são ‘traduzidos’, ou seja, contribuem para o painel, mas não são necessariamente idênticos” (FNQ,2012: 52). Neste caso, à medida que vão se desdobrando os indicadores, a ideia é que os diferentes setores da organização assumam compromissos relativos a metas de indicadores direcionadores (drivers) que lhes competir, sendo essa sua contribuição para que as metas dos indicadores resultantes (outcomes) sejam atingidas. No exemplo da matriz Du Pont – fig.4.1 - são muitas as variáveis (indicadores direcionadores) que contribuem para retorno do investimento (indicador resultante). Para que uma meta de retorno do investimento possa ser atingida, deverão também existir metas para todas as outras variáveis (indicadores) que contribuem para a formação do retorno de investimento desejado. Desdobramento por compartilhamento Outra forma de desdobramento é a que ocorre por compartilhamento (“desdobramento por compartilhamento”), quando uma meta relativa a um indicador é subdividida em diferentes metas do mesmo indicador para diferentes setores responsáveis diretos pela sua realização. Esse é o caso, por exemplo, de metas de vendas de uma organização que vende diferentes produtos, em diferentes localidades, para diferentes tipos de clientes. Tudo são vendas,mas cada um tem que fazer sua parte. A esse respeito, por exemplo, pense uma organização como a “Magazine Luiza”, que tem muitas filiais, ou um grande banco com muitas agências. É fácil imaginar que cada filial ou cada agência bancária deve ter seus objetivos individuais, desmembrados dos objetivos estratégicos. Se o objetivo estratégico é, por exemplo, o crescimento das vendas, provavelmente cada filial deverá ter suas metas de vendas. O que diferencia o desdobramento por compartilhamento do desdobramento por contribuição, é que no caso do compartilhamento os indicadores de desempenho das unidades (filiais) ou os operacionais têm a mesma denominação que os indicadores estratégicos, o que não acontece no caso do desdobramento por contribuição. Se, por exemplo, um banco tem objetivos relacionados ao total de depósitos, total de empréstimos, captação de investimentos ou saldo médio por cliente, os indicadores corporativos (estratégicos) para esse objetivos deverão ser exatamente os mesmos para as agências (operacionais). É razoável imaginar que o desdobramento por compartilhamento é mais simples de ser realizado do que o desdobramento por contribuição, mas na hora de fixar a metas, certamente ambos apresentam os mesmos desafios. 4.2 – Definição dos indicadores operacionais Para que possa acontecer o desdobramento dos indicadores/metas relacionados aos objetivos estratégicos, para toda a organização, um passo fundamental é que a “organização esteja organizada”, isto é, tenha claramente definido “quem faz o quê” e “quem tem autoridade sobre quem”. Em resumo, tenha claramente definido seu organograma e definidas as responsabilidades/autoridade de cada cargo. Melhor será ainda, se seu macro processo e seus respectivos processos (principais e de apoio) estiverem bem definidos. Ponto de Reflexão Você entendeu bem a diferença entre “desdobramento por contribuição” e “desdobramento por compartilhamento”? O quê, em essência, diferencia essas duas formas de desdobramento de objetivos estratégicos? Aliás, por que os desdobramentos são necessários? Como fruto do desdobramento das estratégias, o que se espera é que as diferentes áreas organizacionais, os diferentes processos, e até mesmo as pessoas, tenham objetivos/metas a alcançar, que contribuam para o alcance dos objetivos/metas estratégicos. A esse respeito veja com atenção o quadro 4.1 abaixo que mostra a experiência da SERASA de desdobramento de indicadores Quadro 4.1 – Hierarquia de indicadores da SERASA Indicadores de Resultados A SERASA (2000), com base nos seus objetivos e metas estratégicas, no foco e equilíbrio entre as partes interessadas e na busca de melhorias no modelo operacional, desenvolveu sua Rede de Informações para Gestão, que integra os sistemas da empresa, a monitoração do desempenho e os principais processos. A Hierarquia Estratégica dos Indicadores é um sistema de indicadores alinhado com as estratégias da empresa, monitorando tanto o desempenho global, quanto seus desdobramentos no negócio, nos processos e nas atividades. Conta com uma estrutura de dados abrangente e hierarquizada, composta por três níveis: Indicadores de resultados globais do negócio Indicadores de resultados dos processos e produtos Indicadores internos dos processos e atividades. A estrutura de monitoração dos indicadores de resultados globais do negócio, primeiro nível, destina-se principalmente à análise da Alta Direção e principais executivos. A estrutura de monitoração dos indicadores de resultados do processos e dos produtos, segundo nível, destina-se principalmente aos gestores e líderes e é constituída de indicadores globais, que oferecem uma visão macro dos processos e produtos, permitindo o desenvolvimento de ações de melhoria nas seguintes dimensões: exatidão, tempo de ciclo, retrabalho, satisfação, custo, produtividade e produção. A estrutura e monitoração dos resultados dos indicadores internos dos processos e atividades, terceiro nível, considera as mesmas dimensões básicas dos níveis anteriores e peculiaridades de cada processo ou atividade e volta-se mais para os executantes nas áreas de trabalho. Na Hierarquia Estratégica de Indicadores, cada superintendência ou diretoria gerencia até 12 indicadores , que se desdobram nos diversos níveis funcionais, de tal maneira que cada colaborador (Ser Serasa), no nível de sua atividade, dispõem de 2 a 3 indicadores para monitorar, avaliar e melhorar seu próprio desempenho Fonte: FNQ, 2001 – Revista Classe Mundial – case SERASA De acordo com o que nós já vimos no item 2.1, os indicadores de desempenho, para os quais são fixadas metas, devem servir para medir eficácia, eficiência e satisfação, tanto em termos estratégicos, como em termos operacionais. Veja a tabela 4.2, que apresenta exemplos de indicadores desses diferentes tipos. A sugestão é que você veja quais deles você entende como estratégicos (corporativos) e quais você entende como operacionais (desmembrados de algum indicador estratégico). Tabela 4.2 – Indicadores de eficácia, eficiência e satisfação Indicadores de Eficácia Indicadores de Eficiência Indicadores de Satisfação Percentual médio de competências atendidas face às competências requeridas (indicador de treinamentos) Taxa de mortalidade (indicador hospitalar) Tempo médio de espera nas filas dos caixas de supermercados % de trocas de produtos em garantia Custo unitário de produtos ou serviços Valor agregado por empregado Número de ligações de água por empregado (organizações de saneamento) Número médio de atendimento de ligações telefônicas por atendente (call centers) Número médio de clientes atendidos por hora, por caixa, nos bancos Índice de satisfação dos clientes (global) Índice de satisfação dos clientes (por segmento de clientes) Índice de fidelidade dos clientes Vamos agora nos fixar nos indicadores operacionais, isto é, vamos ver como definir os indicadores operacionais que precisamos ter para uma boa gestão dos processos organizacionais, levando em consideração os fatores eficácia, eficiência e satisfação, começando pela eficácia. Medindo a eficácia Você já sabe que um processo é eficaz quando ele cumpre com suas finalidades ou atende seus objetivos. Assim, por exemplo: Um processo de fabricação será eficaz quando gerar o produto certo, na quantidade certa, no momento certo, para o cliente certo. Um serviço de lavanderia será eficaz se entregar a roupa limpa e bem passada no prazo combinado Um processo de enfermagem, num hospital, estará sendo eficaz se aplicar o tratamento correto, na hora correta, para o paciente correto Um processo de manutenção de máquinas de uma indústria estará sendo eficaz se as paradas de máquinas forem minimizadas. Um processo de vendas será tão ou mais eficaz quanto mais as metas de venda forem atingidas. Um serviço de segurança patrimonial será tão ou mais eficaz quanto menor for o número de ocorrências de roubo ou danos ao patrimônio. Um processo de faturamento será tão ou mais eficaz quanto maior sua pontualidade e menor o número de erros. Um processo de “serviço interno de restaurante” será tão ou mais eficaz quanto melhor se adequar aos gostos e necessidades dos que se servem desse serviço. Em todos esses casos é possível verificar-se a eficácia dos processos por meio de indicadores de desempenho. Assim: No caso do processo de fabricação os indicadores poderiam ser: % de refugos; % de devoluções; gastos com garantia; produção realizada/meta de produção; % das entregas no prazo; % de entregas corretas. No caso da lavanderia: % de retrabalho; % de roupas devolvidas; % das entregas no prazo. No caso do processo de serviços de enfermagem, a medição deeficácia dos serviços, ainda que difícil, deve estar relacionada a minimização de erros, visto que, a simples aplicação errada de um remédio pode ter consequências graves. Assim sendo, indicadores de não conformidades como: número de aplicações de tratamentos trocadas; número de tratamentos realizados fora do horário; ou número de pacientes com piora do quadro clínico por tratamento inadequado da enfermaria, entre outros, poderiam servir para medir a eficácia de tais serviços. No caso do processo de manutenção uma medida de eficácia é número de horas/máquina paradas por problemas de manutenção não programada A eficácia das vendas é medida pelas próprias vendas, face aos objetivos de vendas. No caso dos processos de segurança patrimonial, a eficácia pode ser medida por indicadores como: % valor dos roubos em relação as vendas; número de ocorrências de roubos. No caso dos processos de faturamento a eficácia pode ser medida por indicadores como: % de notas fiscais com erros; % das notas fiscais emitidas com atraso. No caso do serviço interno de restaurantes, talvez uma boa medida de eficácia seja o número de quilos de resíduos de comida jogada fora (quando a comida é considerada boa o volume de resíduos tende a ser pequeno) Em todos os exemplos acima, você pode notar que, em primeiro lugar procurou-se entender quando é que um processo seria eficaz e, somente depois disso, é que puderam ser mostrados exemplos de indicadores que pudessem retratar os objetivos de eficácia identificados. Essa constatação nos permite sugerir uma sequência de passos a serem respeitados, quando se deseja definir indicadores de desempenho relacionados à eficácia: Passo 1 – Definição da missão ou razão de ser do processo. Passo 2 – Definição dos produtos do processo. Passo 3 – Definição dos clientes do processo. Passo 4 – Definição dos requisitos dos clientes do processo. Passo 5 – Definição dos objetivos que se pretende atingir com o processo. Passo 6 - A definição dos indicadores de desempenho do processo. Da mesma forma que é importante que as organizações tenham suas missões claramente definidas, também é importante que os participantes de um processo saibam com clareza a “razão de ser” desse processo para cumprimento da missão organizacional. Entendida essa missão, o passo seguinte é saber quais são os produtos que saem do processo e para quem eles se destinam. Estas informações já são o começo para definição dos objetivos do processo, passo fundamental para definição dos indicadores de desempenho relacionados à eficácia. Definição dos Processos Definição dos objetivos de eficácia dos processos Definição dos indicadores de desempenho dos processos Em essência, o que se está propondo é que a definição de indicadores da eficácia dos processos organizacionais deve ser precedida da definição de objetivos de eficácia desses processos, da mesma forma que, conforme vimos no módulo anterior, a definição dos indicadores estratégicos deve ser precedida da definição dos objetivos estratégicos. A sugestão de se identificar a missão de cada processo, em relação à missão da organização como um todo, está relacionada ao fato de que os processos existem para que a organização possa cumprir com sua missão (e realizar sua visão), sendo então imperativo que a “missão dos processos” e seus respectivos objetivos estejam altamente alinhados com a “missão organizacional”. A sugestão de se definir os produtos dos processos, seus clientes e respectivos requisitos reside no fato de que quando se trata de eficácia de processos, regra geral está se tratando do atendimento de requisitos de clientes, por meio dos produtos dos processos. Nas palavras de Harrington (1993: 88) “eficácia é a extensão com que as saídas do processo ou subprocesso atendem às necessidades e expectativas de seus clientes. Um sinônimo para eficácia é qualidade. Eficácia é ter a saída certa, no lugar certo, e no momento certo. A eficácia exerce impacto sobre o cliente” Na tabela 4.3 é apresentado um exemplo de como definir os indicadores de desempenho de um processo de manutenção de máquinas e equipamentos de uma organização industrial. Tab .4.3 – Exemplo de definição de indicador de eficácia de processo Processo: Manutenção de máquinas Missão do processo: Otimizar o funcionamento das máquinas e equipamentos Produto: Máquinas e equipamento em funcionamento Clientes do processo: setores produtivos Requisitos dos clientes: máquinas e equipamentos em funcionamento, com funcionamento adequado, na maior parte do tempo. Objetivos: minimizar o tempo de paradas programadas e evitar paradas não programadas Indicadores de desempenho: Horas/máquinas perdidas com paradas programadas Horas/máquinas perdidas com paradas não programadas Medindo a eficiência Da mesma forma que na medição da eficácia, a definição de indicadores de desempenho para medição da eficiência está relacionada aos objetivos de eficiência da organização, entendida a eficiência como “a extensão com que a demanda de recursos é minimizada e o desperdício eliminado, na busca da eficácia. Produtividade é a medida da eficiência” (Harrington, 1993: 88). É razoável imaginar que todas as organizações devem ter objetivos relacionados a eficiência (otimização do uso dos recursos), sendo isso mais latente nas organizações que atuam em mercados competitivos, já que custos e eficiência são variáveis altamente relacionadas e quanto mais eficiente for uma organização menores tenderão aser seus custos e maior sua competitividade. Regra geral os objetivos de eficiência são relacionados a: Otimização do desempenho da força de trabalho. Otimização do uso das instalações físicas. Otimização do uso dos equipamentos. Otimização do uso dos insumos. Otimizações combinadas de diferentes recursos. São exemplos de indicadores de desempenho atrelados a esses objetivos: Produção/homem/hora; tempo médio de atendimento; Faturamento por metro quadrado; Produção/hora por equipamento; Quantidade de óleo por pastel frito; quantidade média de água utilizada por litro lavado; Tempo de ciclo do processo. O que é comum, entretanto, no caso da medição da eficiência, é a identificação de fatores geradores de ineficiência e o estabelecimento de objetivos e indicadores ligados à sua minimização. Assim, por exemplo, retrabalhos e desperdícios são sinônimos de ineficiência e, como tal, podem ser medidos por meio de indicadores como: percentual de materiais perdidos em relação ao material utilizado; número total de horas de retrabalho sobre o total de horas programadas; tempo improdutivo dividido pelo tempo do ciclo total (este indicador mede a influência dos tempos ‘mortos’ do processo, tais como preparação e manutenção). (FNQ, 2012: 100) O indicador síntese da eficiência são os custos unitários e, certamente, sua minimização frente a referenciais comparativos é o objetivo síntese da busca da eficiência. Claro que custos unitários são altamente influenciados por preços dos insumos adquiridos, mas o que se está querendo tratar aqui é o seguinte: se duas diferentes empresas tiverem o mesmo tamanho, utilizarem a mesma tecnologia, tiverem o mesmo quadro de pessoal, tiverem uma mesma folha de pagamentos, utilizarem os mesmos insumos com preços iguais de aquisição e uma série de outros fatores iguais, a empresa que tiver maior eficiência/produtividade terá custos unitários menores. Um detalhe importante a respeito dos objetivos de eficiência deve ser destacado. Esses objetivos não podem ser descolados dos objetivos de eficácia. O que se quer dizer com isso é que de nada adianta um médico ser considerado muitíssimo eficiente, por atender 60 pacientes por hora, se a maioria dos seus diagnósticos e tratamentosé errada. Da mesma forma que não adianta um caixa de supermercado ser rápido, mas impreciso no processo de cobrança. Por outro lado, também não faz sentido exagerar-se no uso de recursos para atender os requisitos de eficácia. A esse respeito, por exemplo, a imprensa, rotineiramente, noticia que “planos de saúde” cobram dos médicos que eles consigam fazer diagnósticos corretos, recorrendo tão somente a exames necessários, sem exageros. Um exemplo interessante sobre este assunto está no quadro 4.2, que trata de indicadores de eficiência e eficácia nos serviços de atendimento da Telefônica. Analisando-se o quadro 4.2 abaixo, e as informações a ele relacionadas, o primeiro fato a ser destacado é que houve uma mudança de objetivo nos atendimentos: antes, o objetivo era simplesmente o de se atender as reclamações; depois da mudança, o objetivo passou a ser “resolver os problemas no primeiro contato.” Ao que tudo indica, as práticas associadas ao novo objetivo foram eficazes: caiu o número de chamadas, em especial por conta da não necessidade dos clientes realizarem várias chamadas para solução de um mesmo problema; o índice de solução dos problemas na primeira chamada aumentou significativamente; o número de reclamações ao Procon caiu. Por outro lado, a queda do custo total de atendimento ao cliente é um indício de aumento da eficiência do processo (melhorou-se o atendimento com menos recursos financeiros). A questão fica por conta dos resultados do indicador “tempo médio de atendimento do operador” que passou de 3 minutos para 5 minutos. Será que podemos dizer que houve diminuição da eficiência? Certamente não. O que mudou foi a fórmula de cálculo da eficiência: antes era “tempo médio de atendimento para atendimento do maior número de ligações ” e agora é “tempo médio do atendimento para solução de problemas na primeira chamada”. Este é um caso típico de mudança de um indicador de eficiência, por conta de uma mudança num objetivo de eficácia. Quadro 4.2 – Objetivos e indicadores do atendimento da Telefônica No artigo “Tudo numa só ligação“, publicado pela Revista Exame de 16 de janeiro de 2006, há um relato a respeito de uma mudança de objetivos da Telefônica (Atual VIVO Telefônica Brasil S/A)), uma das maiores operadoras de telefonia fixa do Brasil, a respeito do atendimento de reclamações e solicitações dos clientes. Diz o artigo: “Diante da enxurrada de queixas, a Telefônica passou em março a remunerar os atendentes da Atento, companhia que controla as centrais de atendimento da operadora, por problemas resolvidos no primeiro contato dos clientes, e não mais pelo volume de ligações atendidas. Com isso, os bônus distribuídos aos atendentes podem representar até 30% do salário. Os clientes que ainda são transferidos contam agora com um recurso por meio do qual o primeiro atendente acompanha a conversa com outro operador, evitando a necessidade de o usuário repetir a queixa a cada passo.(...) Para colocar esse sistema em funcionamento, mais de 2400 operadores passaram por um treinamento de 45 dias para obter informações sobre os serviços prestados e a legislação do setor. ‘Agora eles têm mais autonomia para tomar decisões e resolver as solicitações’, diz Nelson Armbrust, vice presidente de clientes da Atento.” Os resultados dessa mudança de objetivo foram os seguintes: Indicadores Resultados (média anual) 2004 2005 Total de chamadas na central de atendimento por mês 5 milhões 3 milhões Tempo médio de atendimento por operador 3 minutos 5 minutos Índice de solução dos problemas na primeira chamada 60% 89% Número de solicitações mensais ao Procon 2087 1390 Custo total do atendimento ao cliente Queda de 25% Fonte: Artigo “Tudo numa só ligação” - Revista Exame – 16/01/2006 - O que é mais fácil de medir, a eficiência ou a eficácia? Por quê? Medindo a satisfação e insatisfação dos clientes De acordo com o que foi visto no módulo 1, além de medir eficácia e eficiência, a gestão do desempenho requer, também, medições da satisfação e insatisfação, que, na verdade, constituem um outro jeito de medir eficácia, a partir da percepção dos clientes a respeito do atendimento dos seus requisitos Regra geral, as medições de satisfação/insatisfação dos clientes são feitas com base em pesquisas a respeito de como o cliente percebe o atendimento de requisitos que se entende que ele considera importantes, na relação dele com a organização, nos diferentes papéis que ele exerce (comprador, pagante e usuário). As respostas às questões são tratadas e tabuladas de acordo com métodos específicos, resultando normalmente em percentuais de satisfação/insatisfação Para realização de uma pesquisa de satisfação, certamente um primeiro passo é o da identificação dos requisitos valorizados pelos clientes; segue-se a isso a elaboração do instrumento de pesquisa (normalmente um questionário) e a aplicação desse instrumento junto aos clientes alvo. Não se trata de um trabalho simples, já que muitas são as regras a serem respeitadas tanto no que diz respeito à amostra de clientes a serem pesquisado, como no que diz respeito à elaboração de questionários, ou como no que diz respeito ao gerenciamento dos trabalhos dos pesquisadores. Não faz parte dos objetivos desta disciplina tratar desses métodos, mas o fato é que não basta avaliar a eficácia dos processos somente acompanhando o que a organização faz, é importante também saber se o que a organização faz, ou pensa que faz, atende satisfatoriamente aos destinatários dos processos. Por este motivo é que indicadores de satisfação e insatisfação são recomendados. 4.3 – Uma proposta para definição de indicadores operacionais Pode ser que você tenha achado muito abrangente, ou talvez genéricas, as formas de se estabelecer indicadores operacionais de eficácia, eficiência e satisfação que apresentamos até aqui. Talvez você gostasse de ver algo mais específico, mais direcionado. A esse respeito vale conhecer a proposta do Prof. Vicente Falconi Campos, que desde o seu livro “TQC – Controle da qualidade total” (1992), passando pelo livro “Gerenciamento da rotina de trabalho do dia-a-dia” (2004a) e chegando ao livro “Gerenciamento pelas diretrizes: Hoshin Kanri” (2004b), tem insistido na proposta de que as organizações devem ter metas para produtos e para pessoas. Na abordagem do Prof. Falconi (2004b), para os produtos devem ser estabelecidas metas de: Qualidade intrínseca – características dos bens ou serviços que satisfazem às necessidades das pessoas que os recebem (clientes internos e externos) Custo – custo de cada produto, preço a ser praticado, margem por produto, etc. Entrega – condições de entrega em local certo, quantidade certa e prazo certo. Segurança – segurança física das pessoas (clientes) ao utilizarem o produto As metas que devem ser estabelecidas para as pessoas que trabalham na organização, na abordagem de Falconi, devem relacionar-se a: Moral – clima organizacional, motivação humana, desenvolvimento de habilidade, etc. Segurança – segurança física das pessoas (empregados) que trabalham no negócio Na prática essas dimensões passaram a fazer parte de um só grupo, com cinco componentes, para os quais devem ser estabelecidas metas: qualidade intrínseca, custo, entrega, moral e segurança. Para Falconi, a palavra meta significa um resultado a ser atingido no futuro e é constituída de objetivo, valor e prazo (Falconi, 2004b: p.307) e, para que se possam estabelecer objetivos com valores definidos, é necessário que se tenham indicadores que sirvam para designar tais objetivos. Assim, por exemplo, poderemos ter indicadores como os apresentados na tabela 4.4 ou na tabela 4.5 Tab.4.4– Gerenciamento pelas diretrizes:exemplos de indicadores Dimensão Indicadores Qualidade Índice de defeitos Produtos não conformes Índices de dispersões de resultados Reclamações Retrabalho Custo Custo financeiro do processo Horas-homem por unidade do produto Número de cópias xerox por pessoa Consumo de água Consumo de energia Entrega Pedido perfeito Entregas fora do prazo Entregas erradas Tempo médio de ciclo Moral Turn-over Absenteísmo Índice de causas trabalhistas Clima organizacional Número de sugestões Percentual de pessoas que participam de grupos de melhoria Segurança Número de acidentes Gravidade de acidentes Frequência de acidentes Fonte: Adaptado de PAVANI JR e SCUCUGLIA(2011) – fig.5 – p.232 Para confirmar o que está sugerido na tabela 4.4(acima), que é genérica, vale a pena você ver os indicadores utilizados pela WEG Motores, que foi ganhadora do Prêmio Nacional da Qualidade em 1997, e que, certamente até hoje continua sendo um exemplo de boa gestão. Veja as semelhanças entre as duas tabelas. Tab.4.5 – WEG Motores(1997) – Indicadores de Desempenho Dimensões Indicadores Tempo Lead time (horas) Eficácia (%) Eficiência (%) Custo Custo do departamento ($) Custo do departamento x orçado (%) Custo da qualidade (%) Qualidade Índice de refugo (%) Índice de recuperação (%) Nível de não conformidade (%) Moral Absenteísmo (%) Rotatividade (%) Índice do clima organizacional (%) Segurança Numero de acidentes Coeficiente de gravidade Coeficiente de frequência Fonte. FNQ, 1997 – Relatório de Gestão da WEG Motores Se você achou complicado definir indicadores a partir daquilo que foi proposto no item 4.2, a respeito de eficácia, eficiência e satisfação, a recomendação é que, talvez, você possa começar a estabelecer os indicadores da sua organização, em especial os indicadores operacionais, com base nessa proposta do GPD (Gerenciamento pelas diretrizes) . O que posso adiantar é que, o que se sabe é que em fins da década e 1980 e, ao menos, na década de 1990, esse modelo reinou entre as organizações que estavam buscando um modelo de gestão da qualidade para ser adotado. Entretanto, com o advento dos modelos relacionados aos prêmios nacionais de qualidade e do Balanced Scorecard, muitas organizações migraram para aquilo que se pode considerar uma nova etapa do processo de definição de objetivos estratégicos, e dos respectivos indicadores de desempenho, com foco em objetivos mais amplos que os propostos pelo GPD. De qualquer forma, continua bastante válido ter-se objetivos e metas relacionadas às dimensões propostas pelo Prof. Falconi, talvez dentro de um modelo mais amplo, como é o caso do BSC ou do sistema de indicadores proposto pelo MEG (Modelo de Excelência da Gestão) Ponto de Reflexão Você conhece organizações que estejam utilizando o GPD (Gerenciamento pelas Diretrizes) para definição dos seus indicadores de desempenho? Quais são elas? Você recomendaria esse modelo para sua organização? Por quê? 5 – Indicadores relativos aos stakeholders Você deve estar lembrado que no item 2.3, quando tratamos do assunto “significado de bom desempenho”, nós vimos que a avaliação dos resultados, envolve também a verificação se os resultados alcançados atendem os requisitos das partes interessadas. Em outras palavras, precisamos cuidar para que nosso sistema de indicadores permita a verificação do alcance desse objetivo. É bastante provável que os indicadores estratégicos e os indicadores operacionais que sejam definidos para o sistema de indicadores já possam servir para essa finalidade, caso contrário, eles deverão ser definidos. Para a escolha ou definição dos indicadores relativos às partes interessadas são esperadas as seguintes ações: Definição das partes interessadas Identificação das necessidades e expectativas das partes interessadas Definição dos requisitos das partes interessadas Definição dos indicadores que sirvam para medir o atendimento desses requisitos Identificação do nível de atendimento desejado, isto é, dos resultados desejados para cada indicador. Acredito que as informações contidas nas tabelas 5.1 e 5.2, que retratam como a SABESP-Unidade de Negócios Leste trata desse assunto, ajudam a entender esse conjunto de exigências. Na tabela 5.1 você encontra a relação das partes interessadas, e as principais necessidades de cada uma delas e, na última coluna os indicadores que são utilizados para se verificar o atendimento ou não dessas necessidades, entendendo-se aqui que são esses indicadores que retratam os requisitos que devem ser atendidos pela unidade de negócios. Na tabela 5.2, de forma resumida, você poderá ver três dos indicadores listados, seus respectivos resultados relativos aos últimos três anos e, na coluna RPI (Requisitos das partes interessadas), os valores representativos dos resultados desejados pelas partes interessadas. O que você poderá ver é que os resultados de 2015, não atenderam a expectativa dos acionistas, relativamente ao IPF-Índice de Perdas no Faturamento, mas atenderam aos requisitos dos clientes e da força de trabalho nos outros dois indicadores apresentados. Tab. 5.1 - SABESP – Unidade de Negócios Leste Partes interessadas – necessidades, expectativas e requisitos Partes interessadas Método de identificação Principais necessidades Métodos de tradução Indicadores Acionista Diretrizes governamentais/plano de governo – anual Conselho de Administração/Diretoria Executiva Planejamento Sabesp/Caderno de metas - anual Crescimento sustentável Retorno sobre o investimento Universalização do saneamento Nível máximo de satisfação Desdobramento do ciclo orçamentário e planejamento Sabesp Volume faturado vendas IPF-Índice de perdas no faturamento Margem operacional Índice de execução orçamentaria de investimentos IAA-Índice de atendimento água IAE-índice de atendimento esgoto Ligações de água Ligações de Esgoto ITEC-Índice de tratamento de esgotos coletados Índice de satisfação dos clientes Cliente Pesquisa pós serviço Pesquisa de satisfação dos clientes e imagem Qualidade da água Continuidade do fornecimento Coleta de esgoto Qualidade do atendimento Análise das pesquisas, deliberações, relatório Voz do Cliente e desdobramento do planejamento IRD-Índice de regularidade na distribuição IEE – Índice de extravasamento de esgoto ITEC Índice de satisfação pós serviço Índice de satisfação dos clientes Índice do FAC – avaliação de contratada Força de trabalho Pesquisa de clima organizacional Avaliação por competências Prática de feedback Reuniões setoriais Capacitação e desenvolvimento Valorização, reconhecimento e ambiente de trabalho Estabilidade no emprego Análise crítica do resultados da pesquisas e acordo coletivo Índice de cumprimento do PCD – Plano de capacitação e desenvolvimento Índice de satisfação na pesquisa de clima Índice do nível de emprego Fornecedores reuniões Pagamento em dia Análise das demandas apontadas nas reuniões Índice de atraso nos pagamentos Poder concedente Sociedade Comunidade Encontros com prefeitos Contratos de concessão Legislação Encontros/audiências públicas Encontros com a comunidade Pesquisa de satisfação dos encontros Programa de participação comunitária (PPC) Cumprimento da legislação Cumprimento dos contratos Universalização do saneamento Coleta e tratamento do esgoto Demandas diversas de saneamento e resgate da cidadania Educação e conservação ambiental Contrato de programa Planejamento Reuniões de análise crítica do ciclo de planejamento Padrões de trabalho e procedimentos empresariais e operacionais IAA, IAE., IEE, ITEC Ligações de água Ligações de esgoto Índice de satisfação dos clientes Nível de serviço – tempo médio de atendimento Índice socioambiental IRD – Índice de regularidade na distribuição IPDT-Índice de perdas totais Fonte: Adaptado de PNQS – Relatório de Gestão – Sabesp Unidade de Negócio Leste – 2016 Tab 5.2 - Sabesp Leste Alguns resultados relativos às partes interessadas Parte interessada Indicador Resultados RPI 2013 2014 2014 Acionista IPF-Índice de perdas no faturamento 26.2% 21,4% 10,1% 14,7% Cliente IRD-Indice de regularidade da distribuição 99,4% 99,5% 98,4% 98,0% Força de trabalho Índice do nível de emprego 98,0% 98,0% 98,0% 98,0% Fonte: PNQS – Relatório de Gestão – Sabesp Unidade de Negócio Leste – 2016 Talvez agora tenha ficado mais claro para você aquilo que estudamos no capitulo 2, a respeito de análise dos resultados dos indicadores de desempenho – item 2.3 , quando vimos que os critérios para avaliação dos resultados são relevância, melhoria, competitividade e compromisso, sendo a avaliação do compromisso feita comparando-se os resultados obtidos com os resultados esperados pelas partes interessadas. Os resultados organizacionais serão tão melhores quanto maior o número de resultados que apresentarem evolução favorável ao longo do tempo, números iguais ou superiores aos dos referenciais comparativos e números iguais ou superiores aos esperados pelas partes interessadas. Para que essa avaliação possa ocorrer é necessário que: se consiga avaliar os resultados ao longo do tempo, tenha-se informações de referenciais comparativos e se tenha informações quantitativas ou qualitativas sobre os requisitos das partes interessadas. Em suma, quando se pensa em se estabelecer um sistema de medição de desempenho organizacional, um fator a ser considerado é que esse sistema deve permitir o controle do atendimento dos requisitos das partes interessadas, por meio do acompanhamento de resultados de indicadores de desempenho que retratem tais requisitos. Como você avalia essa ideia de se controlar o atendimento dos requisitos para partes interessadas, por meio do acompanhamento de resultados de indicadores de desempenho que retratem esses requisitos? É uma boa ideia? Por quê? 6 – Estruturação do sistema de indicadores 6.1 – Sistema de indicadores De acordo com o que foi estudado até esta parte, você viu que qualquer organização que desejar implantar sistemas de controle de desempenho, por meio de indicadores de desempenho, deverá saber os objetivos estratégicos que pretende alcançar e os objetivos operacionais a eles relacionados, incluindo-se entre esses, os objetivos relacionados ao atendimento dos requisitos das partes interessadas (stakeholders). Definidos esses objetivos, a etapa seguinte é a da definição de indicadores que possam representá-los quantitativamente. Se entendermos que organizações diferentes têm estruturas hierárquicas diferentes, estratégias diferentes, processos diferentes e, talvez, diferentes stakeholders (partes interessadas) com diferentes requisitos, ficará fácil entender-se, também, que elas devem ter diferentes objetivos. Por tantas potenciais diferenças, é razoável imaginar-se que cada organização deva ter seu próprio sistema de indicadores. Isto, entretanto, não significa que você deva sempre “partir do zero” toda vez que desejar montar um sistema de medição de desempenho. Figura 6.1 – Medição e direcionamento do desempenho Objetivos Estraté- gicos Objetivos Opera- cionais Indicado- res Metas/ Medição O que estamos querendo dizer com “não partir do zero” é que você pode se basear em modelos existentes de medição do desempenho e, a partir daí, montar o seu. Um desses modelos é o “modelo de medição de resultados” contido no Modelo de Excelência da Gestão, proposto pela Fundação Nacional da Qualidade, e que já foi abordado no item 2.2 – do capitulo 2. De acordo com esse modelo, os resultados organizacionais devem abranger, como já visto, seis grupos de resultados: Resultados econômico-financeiros; Resultados ambientais Resultados sociais Resultados relativos a clientes e ao mercado; Resultados relativos à força de trabalho; Resultados relativos aos fornecedores; Resultados dos produtos e processos Para apresentação dos resultados, em cada um desses seis grupos, é fundamental que se tenha indicadores de desempenho, o que quer dizer que na abordagem do Modelo de Excelência da Gestão, os sistemas de medição do desempenho devem conter indicadores econômico-financeiros, ambientais, sociais, relativos a clientes e ao mercado, e assim por diante. O que se espera, entretanto, é que ao se estabelecer indicadores para cada um desses grupos, os objetivos estratégicos e os operacionais devem ter sido definidos, bem como os objetivos relacionados às partes interessadas. Assim, por exemplo, o conjunto de indicadores relativos a clientes e mercados, deve servir para avaliar se os objetivos de atração, conquista e manutenção de clientes está sendo atingido, como também para avaliar se os requisitos dos clientes (enquanto parte interessada) estão sendo atendidos. Os indicadores econômico-financeiros devem retratar a saúde financeira da organização (sustentabilidade financeira), e a contribuição que os vários níveis hierárquicos e processos dão para essa saúde, bem como se os requisitos dos acionistas/proprietários (uma parte interessada), principalmente relacionados à rentabilidade e ao valor da empresa, estão sendo atendidos1. Os indicadores relativos às pessoas devem retratar a contribuição das pessoas para o alcance dos objetivos organizacionais, a eficiência e a eficácia dos processos de gestão de pessoas (recrutamento e seleção, capacitação e desenvolvimento, etc) e, também, o quanto os requisitos da força de trabalho (parte interessada) estão sendo atendidos. Da mesma forma, os indicadores relativos aos fornecedores devem servir para avaliar eficiência e a eficácia dos processos de suprimento e o grau de atendimento de requisitos de fornecedores. Por outro lado, os indicadores relativos à sociedade devem demonstrar não só o atendimento dos requisitos dessa parte interessada, mas também a contribuição dos diferentes processos organizacionais para esse fim. Por último, os indicadores dos processos principais do negócio e dos processos de apoio, como o próprio nome já diz, focalizam essencialmente os processos organizacionais, quaisquer que sejam eles. Aqui prevalece a ótica das organizações como processos e, portanto, a ótica da medição da eficiência e eficácia de cada processo Não é demais lembrar, que a finalidade dos indicadores de desempenho não é somente exercer controle por meio do acompanhamento de resultados. Eles também servem para direcionamento das ações, por meio do estabelecimento de metas, aqui entendidas como resultados quantificados que se pretende alcançar num prazo futuro definido. 1 É importante destacar que outras partes interessadas, além dos acionistas/proprietários têm interesse na saúde financeira das organizações. Fornecedores e sistema financeiros avaliam essa saúde para concessão de créditos; clientes, que dependem de garantia de fornecimento no longo prazo, levam em consideração essa saúde financeira; e, certamente, a capacidade de uma organização para atrair e manter a força de trabalho certamente será pequena se a sua saúde financeira for ruim. PENSE Você sabia que que a totalidade das organizações que já participaram do processo de avaliação da sua gestão, de acordo com as regras do antigo “PrêmioNacional da Qualidade”, hoje denominado de “Melhores em Gestão”, apresentaram seus sistemas de indicadores de desempenho e respectivos resultados classificados nos seis grupos requeridos pelo Modelo de Excelência da Gestão (MEG) da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)? E você sabia que a grande maioria dessas organizações se utilizou da metodologia do Balanced Scorecard (que vimos no capítulo 3) para definir seus objetivos e indicadores estratégicos? O que significa isso para você? 6.2 – A escolha dos indicadores As organizações, a depender do seu tamanho, podem contar com inúmeros processos e inúmeros objetivos, e correm o risco de estabelecerem indicadores demais, e isso pode ser tão problemático, como ter-se indicadores de menos. Não é demais lembrar que para se conseguir medir os resultados dos indicadores, isso envolve trabalho, o que significa dizer, envolve custos. O que sugere FRANCISCINI e FRANCISCINI (2017) é que as organizações ao buscarem estabelecer os seus sistemas de medição do desempenho, devem se preocupar em identificar os seus KPI (Key Performance Indicator), isto é, seus indicadores chave de performance (desempenho), entendendo-se a palavra chave como “elemento importantíssimo, decisivo”, conforme o dicionário Aurélio, e evitar indicadores inúteis ou de pouca utilidade. Na abordagem da FNQ (2011) (...) Algumas organizações adotam o conceito de que a cultura de orientação para resultados é caracterizada pelo uso extensivo de indicadores em todos os detalhes de todos os processos. Este enfoque exagerado é agravado pela facilidade que os recursos da tecnologia de informação proporcionam para implantar, armazenar e disseminar indicadores. Como resultado, algumas organizações produzem várias centenas (ou até milhares) de indicadores, que: tornam-se de difícil gestão devido à grande quantidade; provocam desperdícios de tempo e dificuldades para análise; e podem estar ‘escondendo’ os indicadores realmente relevantes. No artigo “Os 7 pecados capitais da medição do desempenho”, Michael Hammer (2007) afirma: “A medição do desempenho operacional continua sendo um problema insolúvel. Apesar de atraírem pouca atenção na literatura da gestão, a criação e o uso de métricas para acompanhar e melhorar o desempenho operacional são um dos problemas mais persistentes que as organizações enfrentam.(...) Entre as centenas de administradores com quem discuti o problema, há amplo consenso de que se mede demais ou de menos ou as coisas erradas, e que as métricas não são usadas com eficiência.”(p.43) Um caminho sugerido para se evitar indicadores demais, ou indicadores de menos é o de, inicialmente, pecar-se pelo exagero, isto é pelo excesso de propostas de indicadores. Depois disso, parte-se para uma seleção dos indicadores mais relevantes. A esse respeito, a Fundação Nacional da Qualidade (2008), sugere dez pontos a serem considerados para uma adequada seleção dos indicadores de desempenho a serem utilizados pelas organizações, conforme apresentado no quadro 6.1. Quadro 6.1 – Pontos de verificação para seleção de indicadores 1. Reflete valor para uma ou mais partes interessadas? 2. Tem relação (direta ou indireta) com pelo menos uma das estratégias? 3. Apresenta alinhamento ou inter-relação com outro(s) indicador(es) usados na organização? 4. Apresenta possibilidade de medição periódica 5. Tem relação (direta ou indireta) com pelo menos um dos [principais processos do negócio ou um dos principais processos de apoio] ou com os mecanismos do sistema de aprendizado? 6. Está claramente definido e é facilmente entendido nos diversos níveis em que será utilizado? 7. Tem características que possibilitam sua coleta com acuracidade? 8. Pode ser objetivamente mensurado? 9. Tem características que possibilitem sua apresentação em diferentes mídias e é de fácil interpretação? 10. Pode ser comparado com referenciais? Fonte: FNQ – Cadernos de Excelência/Resultados – 2011 – p.9 Ratificando e complementado o que está sugerido no quadro acima, vale considerar o que FRANCISCHINI e FRANCISCHINI (2017), consideram os principais erros cometidos na implementação de um sistema de indicadores do desempenho, erros esses que devem ser evitados: Elaborar os indicadores antes de definir os objetivos Excesso de indicadores Não conhecer os termos discutidos Indicadores sem meta Indicadores que não são utilizados para a gestão A análise dos indicadores não gera ações corretivas Os gestores não entendem o que o indicador mede Periodicidade inadequada Coleta de dados errada Para esses autores, levando-se em conta que os gestores tem capacidade limitada de analisar informações, o que eles consideram é que um gestor não deve monitorar um número muito grande de indicadores, e sugerem “no máximo nove indicadores para gestores de cargos de diretoria; para gestores em cargos gerenciais recomenda-se um máximo de sete indicadores; e para cargos operacionais, como supervisores e líderes, não mais que cinco indicadores” (p.8). Neste caso, então, o desafio é ter-se um conjunto de indicadores (KPIs), que sirvam para medir corretamente o que deve ser medido e se respeite o limite de indicadores gerenciáveis por seus responsáveis. Na abordagem da FNQ (2011) neste caso é bastante aplicável a regra 80/20 estabelecida por Vilfredo Pareto, segundo a qual: 80% dos resultados são devidos a 20% dos esforços 80% das consequências são derivadas de 20% das causas 80% das saídas são derivadas de 20% das entradas. Respeitando-se essa regra, o estabelecimento de indicadores deve ter como foco destacar os 20% de pontos de medição que fornecerão à organização 80% de informações relevantes sobre os objetivos estratégicos, processos, produtos, considerando-se as necessidades de todas as partes interessadas. Não existe uma receita infalível a respeito de como se chegar ao número ideal de indicadores, mas com certeza o que está sugerido no quadro 6.1 e, os erros a serem evitados, devem ajudar muito nessa tarefa. Bom trabalho!!! Resumo Talvez possamos resumir essa parte II com a ideia de que as organizações devem ter um sistema de indicadores que contemple, tanto indicadores estratégicos, como indicadores operacionais, dos sete grupos de resultados propostos pela Fundação Nacional da Qualidade, embutida aí a sugestão de que os objetivos estratégicos (e consequentemente os objetivos operacionais) devem se relacionar a esses sete grupos. Na estruturação desse sistema de indicadores uma preocupação importante é a de medir o que importa, isto é ter-se, de fato, um conjunto de indicadores chave de performance (Key Performance Indicators –KPI). Talvez aqui fique claro para você o que vimos no item 2.3, quando tratamos dos fatores que são considerados pelo MEG na avaliação de resultados: relevância, melhoria, competitividade e compromisso. É preciso que os indicadores escolhidos sejam relevantes. Pense bem, do que é que vale um indicador irrelevante apresentar melhoria, ser melhor que referenciais comparativos ou atender a requisitos de partes interessadas? Não vale nada. PARA SABER MAIS Para que você possa saber um pouco mais sobre sistemas de medição de desempenho, o que se sugere é: 1. Faça uma consulta nos sites de busca, a respeito de indicadores de desempenho, KPI e OKR. Veja vídeos a respeito. 2. Veja, em especial, a publicação “Transformando o sistema de indicadores: avaliação do desempenho global sob a ótica do MEG” (2015), publicada pela Fundação Nacional da Qualidade. Em especial veja o anexo “Atributos e indicadores mais usados: uma visão crítica”. São quase 50 páginas com sugestões comentadas a respeito de indicadores de desempenho que podem ser utilizados. 3. Veja se você consegue ter acesso
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