Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 1 TUTORIA 1 – MÓDULO 4 – 10/08/2020 SP2 – “Super Liga” IDENTIFICAR AS DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO ÂMBITO NACIONAL E ESTADUAL. PORTARIA NO - 204, DE 17 DE FEVEREIRO DE 2016 Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, INTERINO, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e Considerando a Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975, que dispõe sobre a organização das ações de Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações, estabelece normas relativas à notificação compulsória de doenças, e dá outras providências; Considerando o art. 10, incisos VI a IX, da Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, que configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências; Considerando a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências; Considerando a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, alterada pela Lei nº 12.461, de 26 de julho de 2011, que determina a notificação compulsória dos atos de violência praticados contra o idoso atendido em estabelecimentos de saúde públicos ou privados; Considerando a Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, que estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde, públicos ou privados; Considerando a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, que regula o acesso às informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 2 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências; Considerando o Decreto Legislativo nº 395, publicado no Diário do Senado Federal em 13 de março de 2009, que aprova o texto revisado do Regulamento Sanitário Internacional, acordado na 58ª Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde, em 23 de maio de 2005; Considerando o Decreto nº 7.616, de 17 de novembro de 2011, que dispõe sobre a declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) e institui a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS); e Considerando a necessidade de padronizar os procedimentos normativos relacionados à notificação compulsória no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), resolve: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS Art. 1º Esta Portaria define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo. Art. 2º Para fins de notificação compulsória de importância nacional, serão considerados os seguintes conceitos: I - agravo: qualquer dano à integridade física ou mental do indivíduo, provocado por circunstâncias nocivas, tais como acidentes, intoxicações por substâncias químicas, abuso de drogas ou lesões decorrentes de violências interpessoais, como agressões e maus tratos, e lesão autoprovocada; II - autoridades de saúde: o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde dos Estados, Distrito Federal e Municípios, responsáveis pela vigilância em saúde em cada esfera de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS); III - doença: enfermidade ou estado clínico, independente de origem ou fonte, que represente ou possa representar um dano significativo para os seres humanos; IV - epizootia: doença ou morte de animal ou de grupo de animais que possa apresentar riscos à saúde pública; V - evento de saúde pública (ESP): situação que pode constituir potencial ameaça à saúde pública, como a ocorrência de surto ou epidemia, doença ou agravo de causa desconhecida, alteração no padrão clínicoepidemiológico das doenças conhecidas, considerando o potencial de disseminação, a magnitude, a gravidade, a severidade, a transcendência e a vulnerabilidade, bem como epizootias ou agravos decorrentes de desastres ou acidentes; VI - notificação compulsória: comunicação obrigatória à autoridade de saúde, realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 3 ou privados, sobre a ocorrência de suspeita ou confirmação de doença, agravo ou evento de saúde pública, descritos no anexo, podendo ser imediata ou semanal; VII - notificação compulsória imediata (NCI): notificação compulsória realizada em até 24 (vinte e quatro) horas, a partir do conhecimento da ocorrência de doença, agravo ou evento de saúde pública, pelo meio de comunicação mais rápido disponível; VIII - notificação compulsória semanal (NCS): notificação compulsória realizada em até 7 (sete) dias, a partir do conhecimento da ocorrência de doença ou agravo; IX - notificação compulsória negativa: comunicação semanal realizada pelo responsável pelo estabelecimento de saúde à autoridade de saúde, informando que na semana epidemiológica não foi identificado nenhuma doença, agravo ou evento de saúde pública constante da Lista de Notificação Compulsória; e X - vigilância sentinela: modelo de vigilância realizada a partir de estabelecimento de saúde estratégico para a vigilância de morbidade, mortalidade ou agentes etiológicos de interesse para a saúde pública, com participação facultativa, segundo norma técnica específica estabelecida pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS). CAPÍTULO II DA NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA Art. 3º A notificação compulsória é obrigatória para os médicos, outros profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços públicos e privados de saúde, que prestam assistência ao paciente, em conformidade com o art. 8º da Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. § 1º A notificação compulsória será realizada diante da suspeita ou confirmação de doença ou agravo, de acordo com o estabelecido no anexo, observando-se, também, as normas técnicas estabelecidas pela SVS/MS. § 2º A comunicação de doença, agravo ou evento de saúde pública de notificação compulsória à autoridade de saúde competente também será realizada pelos responsáveis por estabelecimentos pú- blicos ou privados educacionais, de cuidado coletivo, além de serviços de hemoterapia, unidades laboratoriais e instituições de pesquisa. § 3º A comunicação de doença, agravo ou evento de saúde pública de notificação compulsória pode ser realizada à autoridade de saúde por qualquer cidadão que deles tenha conhecimento. Art. 4º A notificação compulsória imediata deve ser realizada pelo profissional de saúde ou responsável pelo serviço assistencial que prestar o primeiro atendimento ao paciente, em até 24 (vinte e quatro) horas desse atendimento, pelo meio mais rápido disponível. Parágrafo único. A autoridade de saúde que receber a notificação compulsória imediata deverá informa-la, em até 24 (vinte e quatro) horas desse recebimento, às demais esferas de gestão do SUS, o conhecimento de qualquer uma das doenças ou agravos constantes no anexo. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde4 Art. 5º A notificação compulsória semanal será feita à Secretaria de Saúde do Município do local de atendimento do paciente com suspeita ou confirmação de doença ou agravo de notificação compulsória. Parágrafo único. No Distrito Federal, a notificação será feita à Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Art. 6º A notificação compulsória, independente da forma como realizada, também será registrada em sistema de informação em saúde e seguirá o fluxo de compartilhamento entre as esferas de gestão do SUS estabelecido pela SVS/MS. CAPÍTULO III DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 7º As autoridades de saúde garantirão o sigilo das informações pessoais integrantes da notificação compulsória que estejam sob sua responsabilidade Art. 8º As autoridades de saúde garantirão a divulgação atualizada dos dados públicos da notificação compulsória para profissionais de saúde, órgãos de controle social e população em geral. Art. 9º A SVS/MS e as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios divulgarão, em endereço eletrônico oficial, o número de telefone, fax, endereço de e- mail institucional ou formulário para notificação compulsória. Art. 10. A SVS/MS publicará normas técnicas complementares relativas aos fluxos, prazos, instrumentos, definições de casos suspeitos e confirmados, funcionamento dos sistemas de informação em saúde e demais diretrizes técnicas para o cumprimento e operacionalização desta Portaria, no prazo de até 90 (noventa) dias, contados a partir da sua publicação. Art. 11. A relação das doenças e agravos monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas diretrizes constarão em ato específico do Ministro de Estado da Saú- de. Art. 12. A relação das epizootias e suas diretrizes de notificação constarão em ato específico do Ministro de Estado da Saúde. Art. 13. Esta Portaria entra em vigor na data de sua pu- blicação. Art. 14. Fica revogada a Portaria nº 1.271/GM/MS, de 06 de junho de 2014, publicada no Diário Oficial da União, nº 108, Seção 1, do dia 09 de junho de 2014, p. 37. Art. 14. Fica revogada a Portaria nº 1.271/GM/MS, de 06 de junho de 2014, publicada no Diário Oficial da União, nº 108, Seção 1, do dia 09 de junho de 2014, p. 37. JOSÉ AGENOR ÁLVARES DA SILVA Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 5 Lista Nacional de Notificação Compulsória Nº DOENÇA OU AGRAVO (Ordem alfabética) Periodicidade de notificação Imediata (até 24 horas) para* Semanal* MS SES SMS 1 a. Acidente de trabalho com exposição a material biológico X b. Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes X 2 Acidente por animal peçonhento X 3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva X 4 Botulismo X X X 5 Cólera X X X 6 Coqueluche X X 7 a. Dengue - Casos X b. Dengue - Óbitos X X X 8 Difteria X X 9 Doença de Chagas Aguda X X 10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) X 11 a. Doença Invasiva por "Haemophilus Influenza" X X b. Doença Meningocócica e outras meningites X X 12 Doenças com suspeita de disseminação intencional: a. Antraz pneumônico b. Tularemia c. Varíola X X X 13 Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: a. Arenavírus b. Ebola c. Marburg d. Lassa e. Febre purpúrica brasileira X X X 14 a. Doença aguda pelo vírus Zika X b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante X X c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika X X X Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 6 15 Esquistossomose X 16 Evento de Saúde Pública (ESP) que se constitua ameaça à saúde pública (ver definição no Art. 2º desta portaria) X X X 17 Eventos adversos graves ou óbitos pós- vacinação X X X 18 Febre Amarela X X X 19 a. Febre de Chikungunya X b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão X X X c. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya X X X 20 Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em saúde pública X X X 21 Febre Maculosa e outras Riquetisioses X X X 22 Febre Tifoide X X 23 Hanseníase X 24 Hantavirose X X X 25 Hepatites virais X 26 HIV/AIDS - Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida X 27 Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV X 28 Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) X 29 Influenza humana produzida por novo subtipo viral X X X 30 Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados) X 31 Leishmaniose Tegumentar Americana X 32 Leishmaniose Visceral X 33 Leptospirose X 34 a. Malária na região amazônica X b. Malária na região extra Amazônica X X X Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 7 35 Óbito: a. Infantil b. Materno X 36 Poliomielite por poliovirus selvagem X X X 37 Peste X X X 38 Raiva humana X X X 39 Síndrome da Rubéola Congênita X X X 40 Doenças Exantemáticas: a. Sarampo b. Rubéola X X X 41 Sífilis: a. Adquirida b. Congênita c. Em gestante X 42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda X X X 43 Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus a. SARS-CoV b. MERS- CoV X X X 44 Tétano: a. Acidental b. Neonatal X 45 Toxoplasmose gestacional e congênita X 46 Tu b e r c u l o s e X 47 Varicela - caso grave internado ou óbito X X 48 a. Violência doméstica e/ou outras violências X b. Violência sexual e tentativa de suicídio X * Informação adicional: Notificação imediata ou semanal seguirá o fluxo de compartilhamento entre as esferas de gestão do SUS estabelecido pela SVS/MS; Legenda: MS (Ministério da Saúde), SES (Secretaria Estadual de Saúde) ou SMS (Secretaria Municipal de Saúde) A notificação imediata no Distrito Federal é equivalente à SMS. DIFERENCIAR INCIDÊNCIA DE PREVALÊNCIA E COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DA INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA COMO INDICADORES DE MORTALIDADE (CURVA DE NELSON DE MORAES & UEMEURA); Indicadores de saúde A disponibilidade de informação apoiada em dados válidos e confiáveis é condição essencial para a análise objetiva da situação sanitária, assim como para a tomada de decisões baseadas em evidências e para a programação de ações de saúde. A busca de medidas do estado de saúde da população é uma atividade central em saúde pública, iniciada com o registro sistemático de dados de mortalidade e de sobrevivência. Com os avanços no controle das doenças infecciosas e a melhor compreensão do conceito de saúde e de seus determinantes sociais, passou- se a analisar outras dimensões do estado de saúde, medidas por dados de morbidade, incapacidade, acesso a serviços, qualidade da atenção, condições de vida e fatores ambientais, entre outros. Os Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 8 indicadores de saúde foram desenvolvidos para facilitar a quantificação e a avaliação das informações produzidas com tal finalidade. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (2002), “em termos gerais, os indicadores são medidas-síntese que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões de estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde. Vistos em conjunto, devem refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde”. A construção de um indicador é um processo cuja complexidade pode variar desde a simples contagem direta de casos de determinada doença, até o cálculo de proporções, razões,taxas ou índices mais sofisticados, como a esperança de vida ao nascer. A qualidade de um indicador depende das propriedades dos componentes utilizados em sua formulação (frequência de casos, tamanho da população em risco) e da precisão dos sistemas de informação empregados (registro, coleta, transmissão dos dados). O grau de excelência de um indicador deve ser definido por sua: Validade (capacidade de medir o que se pretende); e confiabilidade (reproduzir os mesmos resultados quando aplicado em condições similares). Em geral, a validade de um indicador é determinada por sua sensibilidade (capacidade de detectar o fenômeno analisado) e especificidade (capacidade de detectar somente o fenômeno analisado). Outros atributos de um indicador são: mensurabilidade (basear-se em dados disponíveis ou fáceis de conseguir), relevância (responder a prioridades de saúde) e custo- efetividade (os resultados justificam o investimento de tempo e recursos). Espera-se que os indicadores possam ser analisados e interpretados com facilidade, e que sejam compreensíveis pelos usuários da informação, especialmente gerentes, gestores e os que atuam no controle social do sistema de saúde. Para um conjunto de indicadores, são atributos de qualidade importantes a integridade ou completude (dados completos) e a consistência interna (valores coerentes e não contraditórios). A qualidade e a comparabilidade dos indicadores de saúde dependem da aplicação sistemática de definições operacionais e de procedimentos padronizados de medição e cálculo. A seleção do conjunto básico de indicadores – e de seus níveis de desagregação – deve ajustar-se à disponibilidade de sistemas de informação, fontes de dados, recursos, prioridades e necessidades específicas em cada região. A manutenção deste conjunto de indicadores deve depender de instrumentos e métodos simples, para facilitar a sua extração regular dos sistemas de informação. Para assegurar a confiança dos usuários na informação produzida, é preciso monitorar a qualidade dos indicadores, revisar periodicamente a consistência da série histórica de dados, e disseminar a informação com oportunidade e regularidade. Indicadores de morbidade Os indicadores de morbidade são utilizadas, preferencialmente, para avaliação do nível de saúde e da necessidade de adoção de medidas de caráter abrangente (água no domicílio, esgotos e medidas gerais de saneamento básico) que visem melhorar a qualidade de vida da população, ou medidas específicas para garantir a correção das decisões (eficácia de vacinas) ou apoiar ações específicas necessárias ao controle de determinada doença (tratamento de tuberculose). Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 9 Os indicadores de morbidade mais utilizados no planejamento e na avaliação das medidas de prevenção e controle de doenças e agravos são as taxas de prevalência e de incidência. Prevalência I. O conceito de prevalência implica a magnitude com que as doenças subsistem na população. A taxa de prevalência possibilita realizar comparações e análises do quadro sanitário de diferentes populações. II. A medidas mais simples para a prevalência é a frequência absoluta dos casos de doenças. Superior a esta, por seu valor descritivo, a frequência relativa é o indicador que permite estimar e comparar, no tempo e no espaço, a prevalência de uma dada doença, segundo algumas variáveis de idade, sexo, ocupação, escolaridade, renda, entre outras; III. Operacionalmente, a taxa de prevalência pode ser definida como a relação entre o número de casos conhecidos 1 de uma dada doença e a população exposta, multiplicando o resultado pela base referencial que em geral é uma potência de 10; IV. Prevalência pontual ou instantânea: é medida pela frequência da doença ou por sua taxa em um ponto definido no tempo, seja a semana, o mês ou o ano; V. Prevalência lápsica ou por período: prevalência que abrange um lapso de tempo mais ou menos longo e que não concentra a informação em um dado ponto desse intervalo. Esta é uma medida que expressa o número total de casos de uma doença por unidade de tempo, sem levar em conta as defecções; VI. A prevalência é proporcional ao tempo de duração da doença. Em uma situação hipotética em que o surgimento de casos novos ocorra em um ritmo constante e igual para doenças agudas e crônicas, para essas últimas o acúmu- lo de casos aumentará a sua prevalência e para doenças de curta duração a tendência será de a prevalência permanecer constante; Incidência I. Traduz a ideia de intensidade com que acontece a morbidade em uma população; II. Operacionalmente, a taxa de incidência é definida como a razão entre o número de casos novos de uma doença que ocorre em uma coletividade, em um intervalo de tempo determinado, e a população exposta ao risco adquirir a referida doença no mesmo período, multiplicado o resultado por potência de 10, que é a base referencial da população; III. A taxa de incidência mediria a “velocidade” com que casos novos da doença não agregados ao contingente dos que no passado adquiriram a doença e que à data do cálculo da referida taxa de incidência permanecem doentes; IV. A taxa de incidência pode ser calculada de duas maneiras, tomando como referência a especificação do numerador: a) Como número de pessoas doentes; b) Como frequência de eventos relacionados com a doença; V. A taxa de incidência é, por definição, uma medida típica do risco de adoecer ou de sofrer agravo. Constitui peça fundamental nos estudos dos fatores de risco de doenças, considerando-se que alta incidência significa alto risco pessoal ou comunitário; 1 O “número de casos conhecidos de uma dada doença” mede os casos que subsistem, isto é, mede a soma dos “casos anteriormente conhecidos e que ainda existem” com os “casos novos” que foram diagnosticados desde a data da computação anterior, ao que denominamos de prevalência pontual Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 10 VI. Quando calculada com o número de pessoas expostas no período de tempo considerado no denominador a taxa de incidência é conhecida como incidência cumulativa ou incidência acumulada, ou ainda como proporção de incidência; a) Calculando-se como o quociente entre o número de casos novos e o tamanho da população em risco em um período de tempo, a incidência acumulada assume que todos os indivíduos da população em risco estiveram efetivamente em risco de apresentar a doença durante todo o período de tempo observado. VII. A incidência pode ser estimada ainda como uma taxa média de ocorrência de uma doença na população exposta em um período de tempo. A isso se denomina densidade de incidência e se calcula com o número de casos novos que ocorreram em um período dividido pelo número de pessoas-tempo2 de exposição; VIII. Em termos práticos, quando calculamos a incidência de uma doença na população, frequentemente, empregamos a incidência acumulada, pois o cálculo da taxa de incidência propriamente dita costuma estar restrito ao contexto de uma pesquisa epidemiológica. IX. Indica com mais precisão os fatores causadores de doenças; X. Na investigação de surtos e epidemias, logo no momento da eclosão e durante a sua evolução, o coeficiente de incidência recebe a denominação de coeficiente de ataque3. Este deve ser entendido como uma taxa de incidência referida a uma população específica ou a um grupo bem definido de pessoas, limitado a um período de tempo de dias ou semanas e localizadas em uma área restrita. Relação entre prevalência e incidência O nível de prevalência em um dado momento resulta do “equilíbrio” entre a taxa de incidência, que força aprevalência para mais, e a “velocidade” de defecção (casos que “saem” da população), que o força para menos. Com isto se expõem três situações distintas: I. A incidência e a “velocidade” de defecção são iguais ou têm valores próximos, com oscilação em torno de um valor médio; neste caso o nível de prevalência permanecerá constante; II. A “velocidade” de defecção é maior do que a incidência, fazendo com que o coeficiente de prevalência tenda a diminuir; III. Incidência maior que a “velocidade” de defecção faz com que a prevalência tenda a valores altos; A “velocidade” de defecção pode ser definida como a relação do número de casos depurados por cura, óbito e emigração de doentes por intervalo de tempo. A variável recíproca a esta que seja diretamente proporcional à prevalência é a duração, que se define como: Duração = (intervalo médio de tempo) /(caso) Nos estudos de morbidade, duração de uma doença é representada pelo intervalo médio de tempo transcorrido desde o mo- mento do seu diagnóstico até a ocorrência de cura, óbito ou emigração dos indivíduos acometidos. Esta variável possibilita definir a relação entre prevalência 2 Obtido pela soma dos tempos individuais de exposição (ou da duração do período observado de seguimento de cada indivíduo) transcorridos desde o início da exposição ou do período de observação da pesquisa até a ocorrência da doença ou o final do estudo (∆t). Esta medida será expressa em pessoas-ano, pessoas-meses ou pessoas-dias, dependendo da unidade de medida de tempo adotada no estudo. 3 Exemplo: Um surto de gastrenterite em um grupo de indivíduos que frequentou um restaurante para uma comemoração poderá originar o cálculo do coeficiente de ataque como a relação entre o número de pessoas acometidas e o número de pessoas presentes ao evento. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 11 e incidência que se expressa como segue: a prevalência, P, varia proporcionalmente com o produto da incidência, I, pela duração, D, essa última medida nas mesmas unidades de tempo usadas para especificar a incidência. P ≈ I × D Quando a incidência e a duração permanecem constantes no tempo, a morbidade é estável e, neste caso, a prevalência é igual ao produto da incidência pela duração média da doença, situação em que conhecidos os dois valores, é possível calcular o terceiro. P = I ×D Indicadores de mortalidade Medidas de mortalidade têm como utilização preferencial avaliação do nível de saúde e indicação de medidas preventivas e de controle de caráter abrangente (saneamento básico, detecção precoce do câncer de mama, redução do tabagismo, por exemplo), que objetivem melhorar o estado sanitário da comu- nidade. Esta aplicação visa, por uma parte, sugerir ações que reduzam o risco de morrer por uma determinada causa evitável e, por outra parte, indicar a necessidade de ações de controle sobre fatores de risco de adoecer ou de sofrer agravos que se associem a alta letalidade. A avaliação da efetividade dessas ações poderá ser feita pelo acompanhamento da evolução das medidas de mortalidade. Define-se genericamente a taxa de mortalidade como a proporção entre a frequência absoluta de óbitos e o número de indi- víduos expostos ao risco de morrer (população exposta), no mesmo período de referência e no mesmo local. A depender de como se define a população considerada exposta ao risco de óbito em determinado lugar e período de tempo, pode-se calcular a taxa de mortalidade geral e os indi- cadores de mortalidade específicos. Esses últimos são relativos a grupos populacionais definidos de acordo com categorias de: sexo, idade, raça/etnicidade, causa do óbito, grupo socioeconô- mico ou outra característica de interesse. Taxa de mortalidade geral I. A taxa de mortalidade geral (TMG) é calculada dividindo-se o número total de óbitos por todas as causas, em um determinado ano, pela população daquele ano, registrados em uma de- terminada área e multiplicando-se por 1.000, base referencial para a população exposta. É conhecido como taxa bruta de mortalidade quando seus valores não são padronizados; II. Esse indicador possibilita relacionar o nível de saúde de regiões diferentes em uma mesma época, ou de se empreenderem estudos comparativos, nos quais seja considerada a variável tempo; III. Os dados de óbito podem ser considerados no cálculo dos indicadores tanto pela residência do mesmo quanto pela ocorrência. O óbito por residência diz mais sobre os fatores epidemiológicos relativos ao risco de morrer dos indivíduos expostos, enquanto o local de ocorrência fala mais das circunstâncias da assistência médica e dos níveis de complexidade e organização dos serviços de saúde; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 12 IV. A comparação de valores da taxa de mortalidade geral so- mente terá validade quando feita entre populações que tenham estrutura etária semelhante; V. Ao comparar indicadores de mortalidade geral entre períodos de tempo de uma mesma po- pulação é necessário considerar também que a estrutura etária pode ter sofrido mudanças entre esses períodos. Outras carac- terísticas populacionais como a distribuição por sexo, raça/et- nicidade ou condições socioeconômicas poderão influenciar os perfis de mortalidade e assim comprometer comparações de valores não padronizados das medidas de mortalidade; Taxas de mortalidade específica a) Para a taxa de mortalidade específica por causa o cálculo levará em consideração a frequência de óbitos por uma causa ou grupo de causas e a população exposta ao risco de óbito por aquela causa. Isto pode significar também que é possível calcular taxas específicas de mortalidade combinando-se características da população exposta; b) Taxa de mortalidade infantil (A taxa de mortalidade infantil [TMI] é calculada dividindo- se o número de óbitos de crianças menores de 1 ano [um ano in- completo de vida] registrados em um dado período [ano] pelo número de nascidos vivos naquele ano, em uma determinada área, e multiplicando-se o valor encontrado por 1.000, método este conhecido como direto); a) A TMI é considerada um bom indicador para descrever e analisar as condições de vida e saúde de uma população, porque a criança pequena é mais sensível às condições socioeconômi- cas que repercutem no meio ambiente onde vive. c) As taxas específicas de mortalidade por causa são calculadas pela divisão do número de óbitos ocorridos por determinada causa e a população exposta, multiplicando-se o resultado por 100.000. Assim como as medidas de mortalidade geral e mortalidade infantil, as várias taxas de mortalidade por causas podem ser reveladores das condições gerais de saúde da população; d) A razão de mortalidade materna (RMM) é uma medida de risco de óbito da mulher, no período transcorrido desde que a mesma se torna grávida até 42 dias após o término da gravidez. É obtido dividindo-se o número de óbitos por causas ligadas à gestação, parto e puerpério em uma certa área e período pelo número de nascidos vivos no mesmo local e período, multiplicado por 100.000; e) Letalidade expressa o maior ou menor poder que tem uma doença ou agravo de provocar a morte das pessoas acometidas pela doença ou que sofreram agravos à saúde. Para estimar a medida dessa propriedade da morbidade, calcula-se o coeficiente de letalidade, dividindo-se o número de óbitos devidos a determinada causa pelo número de pessoas que foram realmente afetadas pela doença, multiplicando-se o resultado por 100; f) Diferentemente das taxasde mortalidade que são referidas à população exposta ao risco de morrer, os indicadores de mortalidade proporcional são obtidos pela proporção de óbitos por uma característica, como faixa etária, sexo ou causa calculada do total de óbitos, observando-se a pertinência das frequências de óbitos que se deseja expressar proporcionalmente em relação ao total (mede a importância relativa de uma causa ou de uma característica dos indivíduos no conjunto dos óbitos, sendo por isto influenciada pela variação percentual das demais causas ou características); g) Entre os indicadores de mortalidade proporcional destaca- se a mortalidade infantil proporcional (MIP), calculada dividin- do-se o número de óbitos de crianças até 1 ano de idade pelo total de óbitos e multiplicando-se por 100; Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 13 h) O índice de Swaroop & Uemura, conhecido como razão de mortalidade proporcional, é considerado um dos indicadores do nível de vida e de saúde. É obtido do cálculo da mortalidade proporcional para a faixa etária de 50 e mais anos de idade e expressa o percentual de pessoas que morreram nessa faixa de idade em uma determinada população e período; a) Como este índice não é afetado por diferenças na estrutura populacional por idade, é utilizado para fazer comparações entre áreas ou períodos de tempo, tendo a vantagem da simplicidade de cálculo e poder discriminante; b) Quanto mais elevado o seu valor, tanto melhores serão as condições de saúde e outras condições sociais e econômicas da população; c) Os autores Swaroop & Uemura, aplicando-o a 55 países, conseguiram classificá-los em quatro grupos assim discriminados: 1º grupo: índice igual ou superior a 75% – nesta categoria encontra-se a maioria dos países considerados desenvolvidos; 2º grupo: variando de 50 a 74%; 3º grupo: variando de 25 a 49% – neste grupo encontram-se alguns países em desenvolvimento; 4º grupo: com valores inferiores a 25% – conjunto de países com alto grau de subdesenvolvimento em que uma elevada proporção de pessoas morre muito jovem; d) Tal como a maioria dos indicadores em saúde, o índice de Swaroop & Uemura considera a população de referência no espaço geográfico definido como homogênea em relação aos valores calculados, como se todos os óbitos ocorridos se distribu- íssem igualmente por todos os indivíduos; i) O estudo da mortalidade proporcional por idade deu origem às curvas de mortalidade proporcional, propostas por Moraes (Moraes, 1959), utilizando faixas etárias predefinidas. Estas in- cluem o grupo infantil (< 1 ano); as crianças em idade pré-escolar (1 a 4), as demais crianças e os adolescentes (5 a 19), os adultos jovens (20 a 49) e as pessoas de meia-idade e idosas (50 e +). A representação gráfica dos valores da mortalidade proporcional assim obtidos possibilita visualizar o padrão de mortalidade e o seu significado epidemiológico, constituindo essas curvas os índices de Moraes. a) Isto se aplica na comparação de níveis de saúde de países ou regiões ou para acompanhar a evolução da mortalidade proporcional em vista das mudanças no perfil epidemiológico dos riscos, doenças e agravos à saúde e de como afetam os diversos grupos de idade. b) Os tipos de curvas que se obtêm foram classificados de acordo com sua forma geral: em Jota normal – J –, em U, em Jota invertido etc. c) Regiões subdesenvolvidas têm curvas do tipo I, onde ocorrem níveis baixos de saúde e predomínio de óbitos de adultos jovens. Essas são típicas de locais onde doenças infecciosas endêmicas pro-vocam mortes precoces, embora o sub-registro de óbitos nessas áreas contribua também para o formato característico desta curva. d) Nas curvas do tipo II, o nível de saúde também é baixo, mas há predomínio de óbitos de crianças, gerando curvas em Jota invertido. As doenças infecciosas e a desnutrição que respondem por elevada mortalidade infantil proporcional confor-mam esse tipo. e) Nas do tipo III, com formato em U, revela-se nível de saúde regular ou em transição, com menor proporção de óbitos infantis que no tipo anterior, e com nítido aumento da participação relativa de óbitos de pessoas com 50 anos e mais, mostrando tendência à melhoria no nível de saúde. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 14 f) As curvas em forma de Jota, do tipo IV, indicam alto nível de saúde, com baixa proporção de óbitos de crianças e jovens e elevada parti- cipação percentual dos óbitos de pessoas idosas; g) As curvas de Moraes para o Brasil em 1990 e em 2005 demonstram o impacto de mudanças socioeconômicas e das ações e serviços de saúde nestes anos, com redução da mortalidade infantil e incremento da longevidade; COMPREENDER A HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA - FEBRE AMARELA + ARTIGO II História natural da doença Em lugar de considerar saúde e doença como componentes de um sistema binário, do tipo presença/ausência, pode-se mais adequadamente concebê-las como um processo no qual o ser humano passa por múltiplas situações, que exigem do seu meio interno um trabalho de compensações e adaptações sucessivas. As características gerais do curso de uma doença podem ser descritas, com relativa facilidade, de modo a que se disponha de um referencial sobre a evolução do processo, referencial que se convencionou denominar “história natural”. A história natural de uma doença costuma ser focalizada segundo duas óticas principais: em função de as observações referirem-se à demanda espontânea de pacientes que procuram um serviço ou à pesquisa da doença na comunidade. Visão da doença a partir dos serviços A denominação “história natural” é muito empregada para designar “investigações clínicas”, geralmente longitudinais, que visam a produzir informações sobre a evolução de um evento. Tais pesquisas descrevem o “curso clínico” e, em termos ideais, estão centradas na observação de um número suficiente de pacientes, reunidos e acompanhados criteriosamente, a fim de produzir detalhes que permitam expressar a evolução do processo, em geral após as manifestações clínicas que levaram ao diagnóstico. Visão da doença, a partir da comunidade Na segunda maneira de conceber a história natural da doença, os dados para descrevê-la provêm da busca ativa de pacientes na comunidade. Há nesta forma de descrição da doença, uma “base populacional”, delimitando um “território” em cujos limites está a população na qual a afecção é investigada. Descrita desta maneira permite esclarecer, além da etapa patológica propriamente dita, detalhes de uma fase anterior, em que a saúde ainda não foi manifestadamente afetada. O acompanhamento de um grupo de indivíduos desde uma fase “pré-patológica” evidencia a existência de diversos graus de risco e a ocorrência de uma variedade de estados – os portadores, os casos atípicos e os de evolução subclínica – ao lado dos casos clínicos típicos, que evoluem com ou sem complicações. Realça, assim, que a doença, quando se manifesta clinicamente, não deve ser tomada como um fato brusco nem isolado, como aparenta ser em numerosas oportunidades, mas como a exteriorização de um processo iniciado há algum tempo. Compreendida desta maneira, a epidemiologia passa a ser corretamente considerada como a disciplina que estuda a história natural da doença, ou seja, do processo saúde-doença. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 15 Fases da história natural da doença Embora visualizados conceitualmente como contínuos, cortes são feitos no processo saúde-doença, visando a formar categorias a seremtratadas como unidades isoladas. Todavia, a representação esquemática em fases é útil para a compreensão do gradiente que caracteriza o processo saúde-doença, para colocar os indivíduos em diferentes categorias, em função dos riscos e danos à saúde que apresentem, bem como para localizar ações preventivas e curativas, em diversos momentos; Subdivisão da história natural em quatro fases Fase inicial (ou de suscetibilidade) I. Nesta fase ainda não há doença propriamente dita, no sentido clássico de fase patológica, mas já existem condições que favorecem o seu aparecimento. Contudo, as pessoas não apresentam o mesmo risco de adoecer; II. Muitas pessoas passam as suas vidas em condições ou possuem características, atributos ou hábitos que facilitam ou dificultam a ocorrência de danos à saúde: são os fatores de risco ou de proteção; III. O conhecimento dos fatores de risco ou de proteção permite a adoção de duas importantes estratégias, em prevenção: a) Eliminação do fator de risco ou alteração de sua intensidade; b) O uso de determinadas características que funcionam como “marcadores de risco”. As pessoas portadoras destas características são protegidas, através de medidas em função do risco ou acompanhadas, sistematicamente, visando ao diagnóstico precoce de intercorrências patológicas; Fase patológica pré-clínica I. Nesta fase, a doença ainda está no estágio de ausência de sintomatologia, embora o organismo já apresente alterações patológicas. Esta etapa vai desde o início do processo patológico até o aparecimento de sintomas ou sinais da doença; II. O seu curso pode ser subclínico evoluir para a cura ou progredir para a fase seguinte. III. É possível a identificação precoce de numerosas afecções ainda em fase de atividade subclínica; IV. A identificação precoce resulta, na maioria das vezes, em maior probabilidade de êxito, quando adotado um tratamento adequado; V. Rastreamento, triagem ou “screening” é a procura por indivíduos suspeitos de estarem enfermos ou em risco de adoecer, no seio da população aparentemente sadia. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 16 Fase clínica I. Ao manifestar-se clinicamente, a doença já se encontra em estágio adiantado. Há diferentes graus de acometimento do organismo, podendo a manifestação ser apenas leve, de mediana intensidade ou grave, de evolução aguda ou crônica, ou, então, sob alguma outra forma de classificação; II. A percepção do limiar clínico, nível acima do qual a doença é exteriorizada, pode variar segundo a natureza da própria doença, as características do paciente, as condições de observação, a capacidade do observador, a tecnologia empregada e o esmero com que é utilizada; III. A assistência prestada, no que concerne a muitas doenças, corresponde à demanda espontânea por serviços de saúde; IV. Nesta fase, a atuação pode ser exclusivamente curativa ou preventiva de um risco em potencial; Fase de incapacidade residual I. Se a doença não progrediu até a morte ou não houve cura completa, as alterações anatômicas e funcionais se estabilizam , sob efeito de terapêutica ou do seu próprio curso natural, deixando, por vezes, sequelas; II. As medidas de reabilitação de cunho físico, psicológico ou social visam ao desenvolvimento do potencial residual da pessoa afetada, ou seja, da capacidade funcional que lhe restou após a estabilização clínica; Latência e incubação Nas doenças transmissíveis, o período de latência é o tempo que transcorre desde a infecção até que a pessoa se torne infectada. O período de incubação é o tempo que transcorre desde a infecção até a apresentação dos sintomas. No caso das doenças não transmissíveis, a terminologia difere um pouco e se considera que o período de latência corresponde ao período que transcorre entre o desenvolvimento da doença subclínica até a apresentação de sintomas (Rothman, 1986). DISCORRER SOBRE PLANEJAMENTO DE AÇÕES DE PREVENÇÃO (NÍVEIS DE PREVENÇÃO PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO) CONSIDERANDO A HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA. Promoção da saúde e níveis de prevenção A promoção da saúde foi nominada, pela primeira vez, pelo sanitarista Henry Sigerist, no início do século XX. Ele elaborou as quatro funções da Medicina: promoção da saúde, prevenção das doenças, tratamentos dos doentes e reabilitação. Segundo a sua concepção, a promoção da saúde envolveria ações de educação em saúde e ações estruturais do Estado para melhorar as condições de vida da população. Leavell & Clark, em 1965, propuseram o modelo da história natural da doença, composto por três níveis de prevenção: prevenção primária, secundária e terciária. Nesse modelo, a promoção da saúde se limitava e compunha um nível de atenção da Medicina Preventiva (prevenção primária), constituindo ações destinadas ao desenvolvimento da saúde e bem-estar gerais no período de pré-patogênese. Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 17 Primária (promoção da saúde e proteção específica) I. A promoção da saúde aparece como prevenção primária, confundindo-se com a prevenção referente à proteção específica (vacinação, por exemplo). Corresponde a medidas gerais, educativas, que objetivam melhorar a resistência e o bem-estar geral dos indivíduos (comportamentos alimentares, exercício físico e repouso, contenção de estresse, não ingestão de drogas ou de tabaco), para que resistam às agressões dos agentes. Também diz respeito a ações de orientação para cuidados com o ambiente, para que esse não favoreça o desenvolvimento de agentes etiológicos (comportamentos higiênicos relacionados à habitação e aos entornos); Secundária (diagnóstico e tratamento precoce; limitação da invalidez) II. Engloba estratégias populacionais para detecção precoce de doenças, como por exemplo, o rastreamento de câncer de colo uterino. Também contempla ações com indivíduos doentes ou acidentados com diagnósticos confirmados, para que se curem ou mantenham-se funcionalmente sadios, evitando complicações e mortes prematuras. Isto se dá por meio de práticas clínicas preventivas e de educação em saúde, objetivando a adoção/mudança de comportamentos (alimentares, atividades físicas etc.); Terciária (reabilitação) III. Consiste no cuidado de sujeitos com sequelas de doenças ou acidentes, visando a recuperação ou a manutenção em equilíbrio funcional (desenvolver a capacidade residual do indivíduo); O movimento moderno da promoção de saúde Marc Lalonde, Ministro da Saúde do Canadá na década de 1970, ao investigar o impacto dos investimentos e gastos em saúde na melhoria dos indicadores, constatou que 80% das causas das doenças estavam relacionadas a estilos de vida e ambiente. Esse foi um disparador para o questionamento sobre a capacidade das ações sanitárias setoriais serem capazes de resolver os problemas de saúde. Isto levou Lalonde a atribuir ao governo a responsabilidade por outras medidas, como o controle de fatores que influenciam o meio ambiente (poluição do ar, eliminação de dejetos humanos, água de abastecimento público). Assim, um processo de (re)valorização e (re)conceituação da promoção da saúde começou a surgir, a partir da demanda pelo controle dos custos crescentes referentes à assistência médica – os quais não correspondiam a resultados igualmente significativos, bem como da necessidade de enfrentamento do quadro crescente de doenças crônico-degenerativas numa realidade de envelhecimento populacional. Nesse contexto, um conceito mais contemporâneo de promoção da saúde surgiu em 1986, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu a PrimeiraConferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em Ottawa, Canadá. Esse encontro consistiu em uma resposta à crescente demanda por uma nova concepção de saúde pública no mundo, que pudesse responder à complexidade emergente dos problemas de saúde, cujo entendimento não era mais possível por meio do enfoque preventivo tradicional – vinculação de uma determinada doença a um determinado agente ou a um grupo de agentes – mas que se relacionasse a questões como as Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 18 condições e modos de vida. Como produto da Conferência, foi emitida a Carta de Ottawa para a Promoção da Saúde. Promoção da saúde vs. prevenção de doenças É importante salientar a diferença entre prevenção de doenças e promoção da saúde, lembrando que ambas são importantes para a condição de saúde. Enquanto a primeira trabalha no sentido de garantir proteção a doenças específicas, reduzindo sua incidência e prevalência nas populações, a promoção da saúde moderna visa incrementar a saúde e o bem-estar gerais, promovendo mudanças nas condições de vida e de trabalho capazes de beneficiar a saúde de camadas mais amplas da população, ou seja, facilitar o acesso às escolhas mais saudáveis. A promoção da saúde deve possuir enfoque mais amplo e abrangente, pois deve trabalhar a partir da identificação e enfrentamento dos macrodeterminantes do PSa, procurando transformá-los favoravelmente na direção da saúde. Para a prevenção, evitar a doença é o objetivo final. Para a promoção, o objetivo contínuo é um nível ótimo de vida e de saúde, portanto a ausência de doenças não é suficiente. Prevenção quaternária As ações em saúde, tanto preventivas quanto curativas, têm sido consideradas, em algumas situações, excessivas e agressivas, tornando-se também um fator de risco para a enfermidade e a doença. Por essa razão, em 1995, Jamoulle e Roland propuseram o conceito de Prevenção Quaternária (Prevenção da Iatrogenia), aceito pelo Comitê Internacional da Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA) em 1999. Esse novo nível de prevenção pressupõe ações clínicas centradas na pessoa, e pautadas na epidemiologia clínica e na saúde baseada em evidências, visando melhorar a qualidade da prática em saúde, bem como a racionalidade econômica. Portanto, as ações devem ser cultural e cientificamente aceitáveis, necessárias e justificadas, prezando pelo máximo de qualidade da atenção com o mínimo de quantidade/intervenção possível. Outro objetivo da prevenção quaternária é construir a autonomia dos usuários e pacientes por meio de informações necessárias e suficientes para poderem tomar suas próprias decisões, sem falsas expectativas, conhecendo as vantagens e os inconvenientes dos métodos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos propostos. Em suma, consiste na construção da autonomia dos sujeitos e na detecção de indivíduos em risco de sobretratamento ou excesso de prevenção, para protegê-los de intervenções profissionais inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis (ALMEIDA, 2005). DESCREVER ACERCA DOS INDICADORES DE SAÚDE. O verbo "mensurar" deve ser entendido como o procedimento de aplicar uma escala padrão a uma variável ou um conjunto de variáveis (6), enquanto que o substantivo "mensuração" se refere à extensão, dimensão ou quantidade de um atributo. De acordo com Morgenstern (7), mensurar variáveis de saúde abrange diferentes níveis de mensuração, concebidos de duas formas: 1. Pela observação direta de um indivíduo (por exemplo, pressão arterial do indivíduo, acesso aos serviços de saúde quando necessário). https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref6 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref7 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 19 2. Pela observação de um grupo populacional ou um espaço geográfico segundo taxas e proporções (como taxa de prevalência da hipertensão ou porcentagem de mães adolescentes com idade entre 15 e 19 anos), médias (média de consumo de sal per capita em um município) e medianas (mediana da sobrevida de pacientes com câncer). As mensurações feitas a partir da observação de grupos ou espaços geográficos são usadas para elaborar indicadores e são classificadas em: 1. Mensuração consolidada em saúde: são medidas (médias, medianas, proporções) que sintetizam observações de indivíduos em cada grupo observado (por exemplo, taxa de prevalência de hipertensão em mulheres e homens em uma faixa etária). Ou seja, mensuram a saúde na população. 2. Mensuração ecológica ou ambiental: se refere a características físicas do lugar onde vive ou trabalha um grupo populacional. Algumas destas características são difíceis de serem medidas (por exemplo, exposição à contaminação atmosférica, exposição diária à luz solar, exposição ao vetor da dengue). São fatores externos ao indivíduo. 3. Mensuração global: são atributos de um grupo ou do espaço sem equivalente ao nível individual (densidade populacional, índice de desenvolvimento humano, produto interno bruto per capita). São considerados indicadores contextuais. Nesta publicação, o termo "indicador de saúde" é usado como sinônimo de "indicador de saúde da população", em contraposição a "indicador de saúde do indivíduo". Assim, se trabalha com dados de grupos ou lugares produzidos por mensurações consolidadas de saúde, para as quais se costuma definir um evento de interesse, uma população de referência e critérios de inclusão e exclusão. Mensurar as dimensões de saúde em uma população implica fazer estimativas, com certo grau de imprecisão. Todo indicador de saúde é uma estimativa (mensuração com certo grau de imprecisão) de uma dimensão de saúde em uma população-alvo. 1.1.3 dado, indicador e indicador de saúde Em saúde pública, existe uma hierarquia de conceitos: o dado é a unidade primária (input) que, ao ser trabalhada, gera um indicador; este, ao ser analisado, produz informação que, ao ser interpretada, gera conhecimento. O conhecimento precisa ser divulgado por processos de comunicação adequados e eficientes para influenciar a tomada de decisão em saúde e produzir uma ação. Esta espiral de produção de evidências que termina na ação adotada em saúde pública é a base do que se denomina "saúde pública baseada em evidências" (8-10). Um indicador é uma mensuração que reflete uma determinada situação. Existem diversas definições de indicadores na literatura (10-12) , em geral, os indicadores são medidas-síntese, capazes de revelar (ou mensurar) de forma simples uma situação que não é por si só evidente. O indicador de saúde tem a capacidade de mensurar uma característica de saúde em uma determinada população. Para a finalidade deste compêndio, os indicadores de saúde são definidos como medidas-síntese que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref8 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref10 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 20 bem como do desempenho de um sistema de saúde. Os indicadores de saúde procuram descrever e monitorar a situação em saúde de uma população. Os atributos se relacionam às características ou qualidades da saúde e as dimensões da saúde compreendem o bem-estar físico, emocional, espiritual, ambiental, mental e social. Neste contexto, é importante fazer a distinção entre dado e indicador. O dado é todo elemento numérico que contribui para a elaboração do indicador. "Dado" e "indicador" não são sinônimos apesarde, em alguns contextos, a distinção entre estes termos pode não ser totalmente clara do ponto de vista conceitual. Por exemplo, a taxa de incidência de sífilis congênita em uma população em um ano considerado é um indicador. Os dados são o número de casos de sífilis congênita diagnosticados em menores de 1 ano de idade (numerador) e o total de nascidos vivos nessa população no ano considerado (denominador). Contudo, o dado de cada novo caso de sífilis congênita é também um indicador por si só, que indica a transmissão vertical da doença, reflete a qualidade da atenção pré-natal e mostra um evento que pode ser evitado com a ação dos serviços de saúde. Por último, vale destacar que os indicadores são dinâmicos e respondem a determinadas situações e contextos culturais e temporais. Por exemplo, atualmente existe um processo acelerado de envelhecimento da população em vários países das Américas, com o aumento das doenças não transmissíveis (DNTs) crônicas. Portanto, muitos países realizam grandes esforços para coletar dados relevantes sobre os principais indicadores para controlar efetivamente as DNTs. 1.1.4 indicadores de saúde positivos e negativos A classificação dos indicadores como positivos ou negativos diz respeito à forma como um indicador se relaciona ao conceito de saúde, de forma direta ou inversa. Um indicador é positivo se tem uma relação, associação ou correlação direta com o estado de saúde. Quanto maior sua magnitude, melhor o estado de saúde dos indivíduos nesta população. A expectativa de vida ao nascer é um indicador de sobrevida a longo prazo. Portanto, é considerado um indicador de saúde positivo. Outros exemplos são a proporção de casos de tuberculose curados, a cobertura de vacinação ou a necessidade atendida de planejamento familiar. Um indicador é negativo se tem uma relação, associação ou correlação inversa com o estado de saúde. Quanto maior sua magnitude, pior é estado de saúde dos indivíduos nesta população. São exemplos de indicadores negativos a taxa de mortalidade infantil, razão de mortalidade materna, taxa de incidência de aids e proporção de abandono do tratamento de tuberculose. 1.2 usos dos indicadores de saúde A elaboração de indicadores não deve ser entendida como uma finalidade por si só, com uma perspectiva contemplativa da distribuição espacial ou temporal ou exclusivamente documental. O uso de indicadores em saúde pública tem como objetivo embasar a tomada de decisão em saúde, com a missão ulterior de melhorar a saúde da população e reduzir as desigualdades injustas e evitáveis (13). https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref13 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 21 Alguns autores fizeram propostas sobre os usos dos indicadores de saúde (3, 10, 14). Entre seus principais usos ou aplicações encontram-se os seguintes: Descrição. Os indicadores de saúde podem ser usados para descrever as necessidades de atenção de saúde de uma população ou a carga de doença em um determinado grupo populacional. A descrição das necessidades de saúde de uma população pode, por sua vez, nortear a tomada de decisão quanto à grandeza e natureza das necessidades a serem atendidas, subsídios necessários para enfrentar o problema ou grupos que requerem maior atenção. Predição ou prognóstico. Os indicadores de saúde são usados para prever desfechos do estado de saúde de uma população (predição) ou de um grupo de pacientes (prognóstico). Estes indicadores são usados para mensurar o risco e o prognóstico individuais, bem como na predição da carga de morbidade em grupos da população. Desta forma, podem predizer o risco de surto de doenças e auxiliar, por exemplo, a prevenção de epidemias ou conter a expansão territorial de determinados problemas de saúde. Explicação. Os indicadores de saúde ajudam a compreender por que alguns indivíduos de uma população são saudáveis e outros não. Neste caso, é possível analisar os indicadores segundo os determinantes sociais da saúde, como os papéis e as normas de gênero, a pertinência a um grupo étnico e a renda e o apoio social, além das inter-relações entre os determinantes. Gestão dos sistemas e melhoria da qualidade. A produção e a observação periódica de indicadores de saúde também retroalimentam os sistemas visando melhorar a tomada de decisão em vários sistemas e setores. Por exemplo, o progresso substancial na qualidade dos dados e indicadores produzidos nos Estados Membros da OPAS é devido em grande parte à melhoria nos sistemas nacionais de saúde na coleta, análise e monitoramento de um conjunto de indicadores básicos de saúde. No Brasil, por exemplo, a Rede Interagencial de Informação para a Saúde (RIPSA) incentiva a produção e a análise de indicadores de saúde e a retroalimentação às fontes de dados e sistemas de informação nacionais. Avaliação. Os indicadores de saúde reproduzem os resultados das intervenções em saúde. O monitoramento destes indicadores reflete a repercussão de políticas, programas, serviços e ações de saúde. Vários autores analisaram o nível de adequação (resultados compatíveis com o esperado) e plausibilidade (resultados não explicados por fatores externos) das evidências do impacto em saúde, em que as tendências e a distribuição dos indicadores de saúde são úteis e, em certos casos, suficientes como evidências para demonstrar o efeito das políticas, programas, serviços e ações em saúde pública (15). Promoção da causa 2 . Os indicadores podem ser instrumentos para favorecer ou contrariar ideias e ideologias em diferentes contextos históricos e culturais. Um exemplo é a eloquência com que os políticos evocam certos indicadores de saúde para defender ou atacar políticas ou governos. O uso de indicadores de saúde para a promoção da causa é uma das estratégias mais importantes para alcançar progresso, porque pode nortear a tomada de decisão e melhorar o nível de saúde da população. Prestação de contas. O uso de indicadores de saúde atende à necessidade de informação sobre riscos, padrões de doença e morte e tendências temporais relacionadas à saúde para diversos públicos e usuários, como governos, profissionais da saúde, organismos internacionais, sociedade civil e a comunidade em geral. Possibilitar a eles monitorar a situação e as tendências em saúde de uma população cumpre um papel primordial no controle social, avaliação e acompanhamento institucional. https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401:health-indicators-conceptual-and-operational-considerations-section-1&Itemid=0&showall=1&lang=pt#ref3 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401:health-indicators-conceptual-and-operational-considerations-section-1&Itemid=0&showall=1&lang=pt#ref10 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref14 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref15 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 22 Pesquisa. A observação simples da distribuição especial e temporal dos indicadores de saúde em grupos da população facilita a análise e a formulação de hipóteses para explicar as tendências e as discrepâncias observadas. Mensuração das disparidades de gênero. Os indicadores que levam em conta o gênero mensuram as disparidades entre o sexo masculino e o sexo feminino decorrentes de diferenças ou desigualdades dos papéis, normas e relações de gênero. Também proporcionam evidências indicando se a diferença observada entre homens e mulheres em um indicador de saúde (mortalidade, morbidade, fatores de risco, atitude quanto à busca de serviços de saúde) decorre de desigualdades de gênero. Para elaborarestes indicadores, é necessário desagregar os dados e/ou o conjunto de variáveis adicionais. Por exemplo, pode-se combinar a porcentagem de mães adolescentes e a porcentagem destas mães que informaram que o pai da criança tem idade de 30 anos ou acima. 2 Neste documento se usa o termo "promoção da causa" como tradução para advocacy em inglês. Segundo o dicionário Cambridge (online), advocacy significa "apoiar ou sugerir publicamente uma idéia, plano ou modo de fazer algo". 1.3 estratificação segundo as características do indivíduo, espaço e tempo Sabe-se que os dados regionais e nacionais podem encobrir diferenças quanto a problemas e necessidades de saúde entre os países e dentro de um mesmo país. É, portanto, necessário desagregar os dados para determinar os grupos com necessidades prioritárias e as desigualdades em saúde. Além disso, o monitoramento de mudanças no padrão de distribuição de um evento ao longo do tempo permite formular hipóteses em saúde, como o impacto das ações e políticas de saúde, mudança no padrão de suscetibilidade da população, introdução de novos sorogrupos ou sorotipos de vírus com comportamentos distintos. Um atributo comum à maioria dos indicadores é a viabilidade de serem mensurados em diferentes níveis geográficos (regional, nacional ou local) e subgrupos populacionais (por idade, sexo, grupo socioeconômico ou origem étnica). Outro atributo necessário é a sensibilidade a alterações ao longo do tempo decorrentes de mudanças em outros âmbitos da sociedade (socioeconômico, ambiental ou de políticas públicas) (2). Por exemplo, é fundamental considerar as questões de gênero para entender a epidemia de HIV/aids. Embora tanto homens quanto mulheres possam ser expostos ao HIV, a transmissão sexual do vírus é mais frequente do sexo masculino ao feminino que do sexo feminino ao masculino (16). Existem também diversos outros fatores sociais, educacionais, econômicos e culturais que se revestem de importância, podendo afetar de modo distinto as necessidades específicas de homens e mulheres e a resposta do setor da saúde. Para se entender a epidemia de HIV, é importante dispor de dados desagregados por sexo e idade, medidos segundo a prevalência e a incidência. Estes dados básicos são necessários para lidar com as desigualdades de gênero que agravam a epidemia. Outro exemplo é o uso de indicadores de saúde para avaliar as desigualdades sociais em saúde. Embora não será feita aqui uma discussão mais aprofundada sobre este tópico, vale lembrar que as mensurações pontuais de tendência central (como média, mediana e proporção) podem mascarar grandes desigualdades internas (em um espaço geográfico, subgrupo populacional ou ponto no tempo). É de suma importância observar a dispersão interna do indicador, seja pelos desvios padrão, quartis ou valores máximos e mínimos (entre outras medidas de dispersão) com https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref2 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref16 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 23 o intuito de deixar à mostra a heterogeneidade interna. Por exemplo, analisar a taxa de mortalidade infantil no Brasil em 2013 (15,0 por 1.000 nascidos vivos) tem um valor informativo limitado porque este indicador varia de 10,4 (Região Sul) a 19,4 (Região Nordeste). Na própria Região Nordeste, a taxa varia entre os estados, de 14,9 (em Pernambuco) a 24,7 (no Maranhão). No Maranhão, observa-se grande variabilidade desse indicador. A bibliografia deste capítulo cobre um grande número de medidas de desigualdade nos indicadores de saúde, concebidas para mostrar a distribuição interna em vez dos seus valores (7, 8). É preferível usar indicadores que permitam conhecer sua distribuição com maior detalhamento possível em relação ao espaço (unidades sub-regionais, subnacionais, municipais), ao indivíduo (segundo sexo, idade, nível socioeconômico, nível de escolaridade, ocupação, grupo étnico, localização geográfica) ou ao tempo (dias, semanas, meses, anos). De acordo com a OMS, os fatores de estratificação mais usados para monitorar as desigualdades em saúde estão incluídos na sigla em inglês PROGRESS: Place (nível regional, de província, de estado), Race ou ethnicity (raça ou grupo étnico), Occupation (ocupação), Gender (gênero), Religion (religião), Education (escolaridade), Socioeconomic status (condição socioeconômica) e Social capital (capital social ou recursos). Vale ressaltar que, em geral, o número de indicadores necessário aos níveis global e regional deve ser menor que o necessário em nível nacional, que por sua vez deve ser menor que o necessário ao nível de estado e assim em diante (Figura 1). Figura 1. Decisões e tópicos exigem diferentes categorias e níveis de indicadores. NÍVEL DESAGREGAÇÃO Global e regional Sub-região, país, sexo. Metas globais e regionais Nacional Estado, sexo, faixa etária, grupo étnico. Metas regionais e nacionais Distrital Indicadores para notificação e planejamento aos níveis distrital e nacional Comunidade Indicadores da situação da saúde ao nível da comunidade Serviços de saúde Indicadores para gestão de serviços de saúde https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401:health-indicators-conceptual-and-operational-considerations-section-1&Itemid=0&showall=1&lang=pt#ref7 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401:health-indicators-conceptual-and-operational-considerations-section-1&Itemid=0&showall=1&lang=pt#ref8 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 24 1.4 atributos importantes de um indicador de saúde Existem vários critérios para selecionar os indicadores de saúde de acordo com a finalidade, as fontes disponíveis e o público-alvo, entre outros. Neste capítulo, destacam-se alguns dos atributos importantes que um indicador deve possuir. Examina-se também a importância de dispor de indicadores que possam ser estratificados segundo as características do indivíduo, espaço e o momento em que estão sendo avaliados. Como dito anteriormente, ter condição de ser estratificado é um atributo importante de um indicador. A seguir, alguns atributos úteis ao avaliar indicadores para mensurar a saúde da população (10; 18-21). Mensurabilidade e viabilidade: diz respeito à disponibilidade de dados para mensurar o indicador. Se não se consegue mensurar um indicador em razão da disponibilidade de dados ou complexidade do cálculo, não é possível monitorar com facilidade o progresso e o alcance dos objetivos (17). No entanto, ao se selecionar um indicador, deve-se considerar também sua utilidade. Por exemplo, vários indicadores de saúde são calculados com base em dados de sistemas nacionais de informação sem relevância e, portanto, sem repercussão na tomada de decisão, de validade duvidosa, que não são oportunos ou com qualquer outra limitação. Validade: é a capacidade do indicador de mensurar o que se pretende mensurar. Diz respeito à exatidão das fontes de dados usadas e ao método de mensuração. Por exemplo, os sistemas de informação de mortalidade costumam ser relativamente válidos para calcular o número de óbitos nos países com registro adequado de estatísticas vitais4 (22), mas eles podem ser menos válidos para estimar as causas de morte devido a erros de diagnóstico e codificação (19). Além disso, os sistemas de informação com baixa cobertura podem gerar cálculos de indicadores pouco válidos por viés de seleção (os casos notificados são sistematicamente diferentes dos casos não notificados). Por exemplo, os dados de morbidade podem estar sujeitos ao viés de detecção (um tipo de viés de seleção) se a gravidade do caso influir na probabilidadede notificação, o que significa que é provável que apenas os casos mais graves são notificados. Oportunidade: é a capacidade de coleta e notificação em tempo hábil. Entende-se oportunidade como o momento em que se precisa do indicador para tomar uma decisão relativa à saúde. O tempo que transcorre entre a coleta e a notificação dos dados deve ser mais curto possível para que o indicador transmita informação atualizada e não informação histórica. Reprodutibilidade: as mensurações devem ser iguais quando são realizadas por pessoas diferentes usando o mesmo método. Um indicador é considerado reprodutível se não há viés por parte do observador, dos instrumentos de mensuração ou das fontes de dados, entre outros fatores. Sustentabilidade: é a existência de condições necessárias para a estimativa contínua. Isso depende de existir condições locais para manter as fontes de dados, assim como a manutenção da capacidade técnica e, sobretudo, vontade política para estimar o indicador. Quanto mais pertinente e útil for o indicador para a gestão em saúde e mais simples for a estimativa, maior é a probabilidade de ser sustentável. Os indicadores compostos com métodos de cálculo complexos (como indicadores de carga de morbidade, qualidade de vida, expectativa de vida livre de invalidez), apesar de serem importantes para a gestão, podem ter limitações quanto à sustentabilidade por falta de capacidade nacional para reter https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref10 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401:health-indicators-conceptual-and-operational-considerations-section-1&Itemid=0&showall=1&lang=pt#ref18 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref17 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref22 https://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=14401&lang=pt&limitstart=5#ref19 Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) UCIV – Abrangência das ações de saúde 25 e manter os recursos técnicos necessários nos serviços locais de saúde. Por outro lado, se ele for importante, é preciso reforçar a capacidade técnica para produzir o indicador. Pertinência e relevância: é a capacidade de proporcionar informação adequada e útil para nortear as políticas e os programas bem como a tomada de decisão. Por exemplo, a estimativa das taxas de prevalência de portadores de marcadores genéticos ou biológicos preditivos de doenças para as quais não existe intervenção ou prevenção viável conhecida (por exemplo, doença de Alzheimer) pode ter relevância acadêmica, mas é irrelevante para a gestão em saúde. Compreensibilidade: é a necessidade de o indicador ser compreendido pelos responsáveis por executar ações e, em particular, pelos encarregados da tomada de decisão. Ao fazer a escolha entre dois indicadores semelhantes que representam o mesmo problema de saúde, deve-se optar pelo mais fácil de compreender. Quanto melhor a compreensão do indicador, maior será a probabilidade de ser considerado na tomada de decisão em saúde. DISCUTIR A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO- SINAN. – ARTIGO I COMPREENDER OS PAPÉIS E ATRIBUIÇÕES DAS ESFERAS DE GESTÃO DO SUS (FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL). – TUTORIA 3 UCI DISCUTIR O PAPEL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA VIGILÂNCIA A DOENÇAS E AGRAVOS NOS DIVERSOS NÍVEIS DO SISTEMA.
Compartilhar