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CÂNCER COLORRETAL (CCR) · Se iniciam no intestino grosso até o seu final em reto e ânus · Tratável e, na maioria das vezes, curável quando detectado precocemente · Geralmente surgem a partir de pólipos no epitélio intestinal EPIDEMIOLOGIA · Nos EUA, apenas o Ca de pulmão mata mais que o CCR · No Brasil, o CCR é o 2º câncer não melanoma mais incidente em ambos os sexos, e 3º lugar em mortalidade FATORES DE RISCO · Idade ≥ 50 anos (90% dos casos diagnosticados a partir desta idade) · Risco de neoplasia invasiva é proporcional ao avançar da idade · Subtipo esporádico: · Depois dos 50 anos geralmente · Lesão única · Hábitos de vida: · Sedentarismo; · Tabagismo e/ou etilismo de longa data; · Questões dietéticas, como um alto consumo de carne vermelha ou processada, ou se alimentação pobre em frutas e fibras. · DM II e obesidade · Hiperinsulinemia provoca proliferação da mucosa intestinal por estímulo da concentração sérica IGF-I · Obesidade também acarreta um estado inflamatório sistêmico que contribui para desregulação imune. · Etnia negra · Doença inflamatória intestinal (como Crohn ou retocolite ulcerativa) · Exposição ocupacional ou terapêutica (radioterapia) à radiação ionizante · Infecções, como endocardite, com infecção documentada por Streptococcus bovis · Fatores hereditários: · História familiar de CCR e/ou pólipos adenomatosos · Condições genéticas, como Polipose adenomatosa familiar ou o câncer colorretal não poliposo hereditário (CCNPH – Síndrome de Lynch) · Geralmente com caso base em < 50 anos e parente de primeiro grau FATORES PROTETORES · Uso de AINEs · Terapia de reposição hormonal em mulheres (reduz incidência, mas não a mortalidade) · Consumo de fibras TUMORES HEREDITÁRIOS · Lembrar que o CCR ocorre nas formas hereditárias, esporádicas e familiares · É o principal perfil epidemiológico do CCR por ser o mais comum · Acomete geralmente a partir dos 60 anos (até uns 80) · Normalmente é uma lesão única (com as mutações genéticas limitadas ao próprio tumor) · Sem história familiar · Representam cerca de 10% das neoplasias colorretais, caracterizando-se pelo histórico familiar, com início em idades mais jovens e possibilidade de presença de outros tumores e defeitos específicos · Temos dois tipos principais: · Adenomatosa Familiar e; · Síndrome de Lynch CCR familiar: risco de ocorrência para a família aumenta quando o caso base é jovem (< 50 anos) e, quanto mais for parente de 1 º grau (pais, irmãos, filhos), igualmente maior será o risco conforme mais indivíduos na família apresentem casos POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR (PAF) · Doença autossômica dominante, resultado de uma mutação no gene APC (supressor tumoral), podendo em poucos casos apresentar ainda mutação no gene MYH · Principal consequência: · Desenvolvimento de centenas, de pólipos adenomatosos em todo o intestino grosso, podendo atingir até o duodeno, já desde a adolescência · Possui risco de desenvolver neoplasia colorretal pela “evolução adenoma-carcinoma” de 100%, inclusive antes dos 30 anos · Portadores da mutação APC ou com antecedente familiar de PAF é realizado o rastreamento a partir dos 10 anos com sigmoidoscopia anual Tratamento definitivo · REMOÇÃO DE TODA A MUCOSA COLÔNICA E RETAL AFETADA · Também é tratamento profilático · Técnica mais utilizada: · Proctocolectomia de restabelecimento com anastomose de bolsa ileal anal (ABIA), acompanhada de uma mucosectomia retal para assegurar que toda a mucosa pré-maligna tenha sido retirada · Técnica alternativa e mais antiga: · Colectomia abdominal total com anastomose ileorretal, geralmente indicada na presença de poucos pólipos Síndromes associadas · PAF é associada à várias manifestações extraintestinais · Além de tumores biliares tireoidiano, ampular, entre outros · Síndrome de Turcot: · Ocorrência de adenomas intestinais em associação a tumores do SNC · Síndrome de Gardner: · Os pólipos intestinais se associam a tumores de partes moles e ósseos, como tumores desmoides (na parede abdominal), osteomas (em proeminências ósseas) CÂNCER COLORRETAL NÃO POLIPOIDE HEREDITÁRIO (CCNPH) – SÍNDROME DE LYNCH · É a síndrome mais frequente de CCR hereditário · É uma doença autossômica dominante, de início mais tardio, por volta dos 40-50 anos · Possui caracteristicamente distribuição proximal (70% em cólon direito), predominando tipos histológicos pouco diferenciados · É descrita inicialmente em dois tipos: · Síndrome de Lynch I: Ca de cólon proximal em uma idade relativamente jovem · Síndrome de Lynch II: famílias com alto risco de CCR e tumores extra-colônicos, como os endometriais, ovarianos, gástricos, de intestino delgado, pancreáticos, ureterais e de pelve renal · Atualmente, a Síndrome de Lynch englobar os 2 padrões, por haver sobreposição entre as duas variantes Diagnóstico · Anamnese completa com antecedentes familiares aprofundados · Suspeitar através dos critérios de Amsterdam · Dica: 3 parentes afetados, 2 gerações, 1 < 50 anos Critérios de Amsterdam II · Três ou mais parentes com cânceres associados à Síndrome de Lynch histologicamente verificados (CCR, Ca de endométrio ou intestino delgado, carcinoma de células transicionais do ureter ou pelve renal), um dos quais é parente de 1º grau dos outros dois e cuja PAF foi excluída · Ca associado à Síndrome de Lynch, envolvendo pelo menos duas gerações · Um ou mais cânceres foram diagnosticados em < 50 anos · Em pacientes sabidamente portadores, geralmente, recomenda-se o início do acompanhamento com colonoscopia por volta dos 20 anos · Quanto às demais manifestações, realizam-se algumas testagens urinárias e, se mulher, alguns exames ginecológicos de rastreio, a fim de se evitar um diagnóstico tardio e de pior prognóstico Tratamento · Em caso de detecção colônica: · Colectomia total e anastomose ileorretal são os procedimentos de escolha · Em caso de mulher sem planos para nova gravidez: · Histerectomia total com salpingo-ooforectomia bilateral profilática · Ao reto remanescente: · Exames proctológicos regulares Para o diagnóstico no mesmo estágio, pacientes com síndrome de Lynch têm melhor prognóstico que pacientes sem a CCNPH SÍNDROME DE PEUTZ-JEGHERS · Síndrome autossômica dominante · Caracteristicamente combina a presença de pólipos hamartomatosos no trato intestinal com uma hiperpigmentação da mucosa bucal, dos lábios e dos dígitos · Associa-se a um aumento no risco de Ca do trato intestinal, do estômago até o reto, assim como de algumas malignidades extraintestinais, como o de mama, de ovário, de tireoide, pulmão... · Os pólipos podem causar sangramento ou até obstruírem o intestino, de forma que na necessidade de operar, deve-se tentar remover a maior quantidade possível de pólipos, principalmente aqueles com > 1,5 cm · Devido ao risco de malignidade, aconselha-se colonoscopia a cada dois anos, assim como rastreamento periódico nos outros sítios citados CONCEITOS IMPORTANTES A SEQUÊNCIA ADENOMA-CARCINOMA · Processo de desenvolvimento da maioria dos CCR, surgindo a partir de pólipos adenomatosos que sofrem uma sequência de mutações ao longo de anos (cerca de 10 anos) até se tornar um adenocarcinoma · Principais mutações: · Inativação dos genes supressores tumorais APC e p53 · Ativação do oncogene K-ras PÓLIPO COLORRETAL · É qualquer massa que se projete para o lúmen intestinal acima do epitélio, ocorrendo variedade morfológica: · Pediculados: com uma raste · Sésseis: achatados, sem haste · A partir da aparência histológica, podemos ter: · Adenoma tubular: com glândulas tubulares ramificadas, sendo os mais comuns (65-80%) e geralmente mais pediculados · Adenoma viloso: com longas projeções digitiformes do epitélio, sendo os mais raros (5-10%), mais comumente sésseis. São os que mais degeneram para câncer · Adenoma túbulo-viloso: com elementos de ambos os padrões celulares · Não adenomatosos: NÃO CAUSAM CÂNCER · O grau de atipia é variável, sendo encontrado maior grau de atipia e displasia (alterações pré-cancerosas) nos adenomas vilosos · A incidência de carcinoma invasivo é diretamente proporcional ao tamanhodo pólipo: · Menos de 5% de risco em um pólipo < 1 cm · Cerca de 50% de chance em um adenoma viloso > 2 cm de diâmetro · Os pólipos não adenomatosos como os hiperplásicos, os hamartomatosos e os inflamatórios não são precursores de câncer Pólipo encontrado é pólipo removido · Pólipos adenomatosos devem ser considerados precursores cancerígenos · Uma vez detectada a presença de uma lesão polipoide, há indicação de remoção por colonoscopia com polipectomia e análise histopatológica Carcinoma invasivo · Definido quando células malignas se estendem através da muscular da mucosa da lesão · Se confinadas à muscular da mucosa acima da lâmina própria, não temos metástase, logo uma excisão endoscópica já basta · Se há penetração da muscular da mucosa, devemos considerar o risco das metástases para linfonodos e de recorrência local, ponderando-se uma ressecção mais extensa QUADRO CLÍNICO · Os sinais e sintomas são variados, inespecíficos e dependem da localização do tumor no cólon, assim como da extensão da estenose do lúmen CÓLON DIREITO X CÓLON ESQUERDO · Atualmente há uma migração epidemiológica dos tumores do lado esquerdo (reto e sigmoide) para o lado direito (ceco e cólon ascendente) No cólon direito há inacessibilidade da aplicação da retossigmoidoscopia flexível · Cólon direito: · Como as fezes ainda não estão formadas, a sintomatologia é pobre, · Dor abdominal inespecífica · Predomina o sangramento oculto Melena · Emagrecimento · Anemia ferropriva (sempre investigar uma anemia ferropriva sem causa óbvia!), melhor evidenciada pela fadiga gerada, ou, se mais evidentes, com melena · Cólon esquerdo · São frequentemente estenosantes · Principal sintoma: Alteração dos hábitos intestinais, com redução no calibre das vezes, a maioria relatando uma constipação progressiva · Pode haver também: perdas sanguíneas (hematoquezias) · Se em região sigmoide, podemos ter um importante diagnóstico diferencial com diverticulite, ainda mais se acompanhado de febre, dor e sintomas obstrutivos · Caso seja mais distal, no território do reto, a hematoquezia (sangramento vivo) e o tenesmo são os mais frequentes Apesar de mais relacionados aos tumores esquerdos, qualquer carcinoma colorretal pode cursar com sintomas obstrutivos DIAGNÓSTICO COLONOSCOPIA · PADRÃO-OURO PARA O DIAGNÓSTICO DE CCR · SEMPRE FAZER A COLONOSCOPIA · Permite a biópsia tumoral para o diagnóstico histopatológico · Permite também uma inspeção de todo o cólon para exclusão de demais pólipos ou carcinomas sincrônicos · É realizada mesmo após diagnóstico por retossigmoidoscopia, ou por clister opaco · Caso o tumor obstrua o lúmen, impedindo o exame, está indicada uma colonoscopia virtual, que utiliza TC para obter imagens do órgão TUMORES METACRÔNICOS X SINCRÔNICOS · A presença de mais de uma lesão colorretal maligna é classificada de acordo com o seu período de instalação Carcinomas metacrônicos · São lesões primárias identificadas 6m após a detecção da primeira lesão · Pode-se dividir entre precoce e tardio Carcinomas sincrônicos · São duas ou mais lesões identificadas simultaneamente, ou com a segunda lesão sendo identificadas até 6m após o diagnóstico inicial CEA – ANTÍGENO CARCINOEMBRIONÁRIO · É um marcador tumoral (não serve para fins diagnósticos) · É um importante fator prognóstico (pior, se títulos altos no pré-operatório) e no seguimento pós-operatório (identificar recidiva) RASTREIO · Colonoscopia a cada 10 anos após os 50 anos INDIVÍUOS NEGROS · A Sociedade Americana de Gastroenterologia recomenda iniciar o rastreio aos 45 anos. OUTRAS FORMAS ACERTAS DE RASTREIO · Pesquisa de sangue nas fezes ANUAL · Se presença de sangue oculto nas fezes, fazer rastreio anual · Retossigmoidoscopia ou colonoscopia virtual A CADA 5 ANOS OBS: · Se um pólipo adenomatoso for ressecado e identificado, deve-se repetir a colonoscopia após 3 ou 5 anos, dependendo do tipo · Vilosos merecem uma atenção maior, geralmente com recomendação de repetir o exame em 3 anos) · Se o paciente tiver antecedente de CCR em familiar de 1ª grau, é indicado o rastreio a partir de 10 anos antes do diagnóstico desse paciente ESTADIAMENTO QUAIS EXAMES REALIZAR? · Estadiamento pré-operatório, avaliação intra e pós-operatório com estadiamento patológico, indicando necessidade de tratamento adjuvante, além do prognóstico · PRINCIPAL EXAME: · TC de tórax, abdome e pelve para identificar possíveis metástases, pp. hepáticas (drenagem venosa via veia porta, à exceção dos tumores de reto médio e inferior) · Colonoscopia para buscar lesões sincrônicas em outros pontos do intestino grosso TUMORES DE RETO · USG endorretal ou a RM de pelve são exames importantes, capazes de realizar com precisão o estadiamento T e N (tamanho e linfonodos), principalmente de linfonodos do mesorreto e estruturas adjacentes TNM ESTADIAMENTO T · T1: invade a submucosa · T2: invade muscular própria · T3: atinge tecidos pericólicos · T4: invade peritônio visceral ou adere a órgãos e estruturas adjascentes METÁSTASES · FÍGADO: · Primeiro órgão a ser atingido pelo tumor de cólon, por conta da drenagem venosa para o sistema porta-hepático · É o principal sítio de metástase visceral · Antes, teremos o acometimento de linfonodos locorregionais · Pode-se ainda, ter implantes secundários em pulmões, ovários, trato genitourinário como um todo, considerando a disseminação por contiguidade, principalmente se CA de reto TUMORES DO RETO · Possui drenagem venosa diretamente para o sistema cava, podendo originar metástases primeiramente em outros órgãos, principalmente PULMÕES Estágios: · I: T1/T2 e N0 e M0 · II: T3/T4 e N0 e M0 · III: N+ e M+ · IV: M1 TRATAMENTO CÓLON · CIRURGIA único modo de tratamento curativo · Pode ser realizada mesmo se houver metástases ressecáveis, ou seja, em estágio IV · Cirurgia: · Ressecção com margem (5cm): · Hemicolectomia esquerda · Hemicolectomia direita · Transversectomia · Sigmoidectomia · Ressecção de linfonodos regionais: · Mínimo de 12 linfonodos · Retirada do mesocólon e suprimento vascular · Quimioterapia: · SEMPRE indicada em pacientes com pior prognóstico avaliando caso a caso, mas principalmente se há acometimento de linfonodos (N+) e em alguns casos de tumor T3 e T4 (controverso) · Neoadjuvância · Indicada para tumores a menos de 5cm da borda anal · Radioterapia ou QT adjuvantes: · CONTRAINDICADO NO CCR RETO · Carcinomas que surgem nos 15cm distais do intestino grosso, em muito se assemelham biologicamente aos carcinomas de cólon · Devido à anatomia singular do reto, localizado estreitamente e em grande proximidade do trato urogenital (disseminação por contiguidade), além de toda a inervação e esfíncteres anais, o acesso cirúrgico é mais complexo com riscos de sequelas mediante a dissecção cirúrgica QT + RT neoadjuvante · Indicações: · Todos os tumores T3/T4, N+ ou se invadindo o mesorreto QT + RT adjuvante · Indicada a todos que recebem terapia neoadjuvante Cirurgia · Usa-se como guia a proximidade ou não da região esfincteriana, pelo risco de comprometimento, dada a necessidade de se impor uma margem mínima · Tumores de reto acima de 5 cm da margem anal: · Pode-se poupar as estruturas anais (p.ex., o esfíncter), ressecando apenas o reto, realizando uma Ressecção Anterior Baixa (RAB) com anastomose colorretal; · O cólon sigmoide quase sempre está incluso na peça ressecada; o suprimento sanguíneo ao sigmoide não seria adequado para manter a anastomose isoladamente · Inclui-se o mesorreto, aquele tecido gorduroso adjacente que comporta os canais linfáticos que drenam o leito tumoral, reduzindo, assim, o risco de recidiva · Tumores de reto à menos de 5 cm da margem anal: · Com pouca margem para manobra, ficamos sem muitas opções a não ser optar pela muito mórbida Cirurgia de Miles (amputação abdominoperineal), na qual ressecamos o reto, o canal anal e ânus, exigindo uma colostomia definitiva, com fechamento perineal · Sempre tentar evita-la. Como? Realizando QT + RT neoadjuvante para reduzir o tamanho do tumor a ponto de poder realizar a RAB, que envolve anastomose(sem precisar da colostomia definitiva) DOENÇA METASTÁTICA (CÓLON E RETO) · O CCR pode ser curado mesmo com a existência de metástases à distância, desde que sejam consideradas ressecáveis, assim, especialmente quando estão restritas ao fígado e no máximo 3 lesões (oligometastático). · Irresecável: · QT paliativa 1. Cite um fator considerado protetor no CCR 2. Qual agente etiológico infeccioso é considerado fator de risco para CCR? 3. Obesidade e diabetes são considerados fatores de risco, por qual fator fisiopatológico? 4. Entre os possíveis sítios alternativos ao cólon na Síndrome de Lynch tipo II, qual o principal trato? 5. Cólon direito x Cólon esquerdo: qual mais comumente se apresenta com alteração dos hábitos intestinais e constipação progressiva? 6. Qual o exame diagnóstico padrão-ouro no CCR? 7. Qual a importância clínica do marcador CEA? 8. Qual o principal exame complementar de estadiamento no CCR? 9. Sobre o tumor de reto, quais exames são essenciais ao estadiamento? 10. Excetuando-se o fígado (principal sítio de metástase visceral), qual o sítio em que mais esperamos disseminação metastáticas? 11. Indicação de QT + RT neoadjuvantes nos tumores de reto?
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