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Beatriz Maria Mesquita UEMA NEUTROPENIA FEBRIL Fonte: Sanarflix 1. Definição mais comum definição neutropenia: neutrófilo < 500 células/mm³ ou neutrófilos ≤ 1000 com expectativa de queda definição febril: temp. oral > 38,3°C ou 38°C persistente por > 1 hora / temp. axilar = 37,8°C neutropenia grave: neutrófilo < 100 células/mm³; grave porque há chance de ter infecção neutropenia induzida por quimioterapia: é uma redução temporária como consequência do tratamento quimioterápico; maior risco de desenvolver infecção e de ser uma infecção severa 2. Epidemiologia/etiologia Ocorre em 80% dos tumores hematológicos (linfomas, leucemia) e 10-50% nos tumores sólidos (mama, estomago...etc) Incidência varia de acordo com o diagnóstico e com a quimioterapia As infecções ocorrem através da transmissão de agentes infecciosos (pessoa/meio ambiente) mas o principal é através da flora endógena (80%) - as bactérias estão em equilíbrio, a partir do momento que a imunidade baixa, passa a ter desequilíbrio e bactérias que antes não causavam infecção passam a ser agentes infecciosos. - o foco infeccioso é identificado na minoria dos casos, ou seja, entre 20 a 30% 3. Agentes infecciosos mais comuns Bactérias: - Gram negativos: pseudomonas aeruginosa OBS: Contudo, atualmente, devido ao uso de cateteres de longa permanência, antibioticoprofilaxia com ciprofloxacina e antibióticos empíricos para pseudomonas, o mais comum são gram positivas (staphylococcus epidermidis, staphylococcus aureus) - Patógenos: Staphylococcus epidermidis (gram+): mais comum / menor virulência (menor capacidade de causar infecção grave) Beatriz Maria Mesquita UEMA para confirmar a presença desse patógeno precisa de 2 hemoculturas positivas Staphylococcus aureus, Estreptococos, Enterococos (gram+): infecções mais graves Pseudomonas aeruginosa, E. coli, Klebsiella spp, Enterobacter spp, Acinetobacter spp (gram -): infecções mais greves Fungos - Candida spp; Aspergillus spp - É raro ter uma neutropenia febril que comece com o fungo sendo o agente, normalmente aparece após neutropenias prolongadas (5-7 dias) - Risco aumenta com a duração e a severidade Vírus - HSV1 e HSV2 (herpes simples) - Herpes zoster extenso (ocupa mais de 1 dermátomo – paciente imunossuprimido) - Herpes viroses humanas: EBV (epstein barr vírus), CMV (citomegalovírus), HSV 6A ou HSV B (herpes tipo 6 e tipo 8); comum ser uma reativação viral, ou seja, o paciente já teve no passado e como a imunidade baixou eles reaparecem 4. Fisiopatologia Quimioterapia não é seletiva, ou seja, não age só na célula do tumor, ela age nas células que estão se multiplicando, como por exemplo o bulbo capilar (por isso o cabelo pode cair), células da medula (hemácias, plaquetas e leucócitos – neutrófilo pode diminuir), células da mucosa (pacientes podem ter mucosites) A diminuição de imunidade (efeito da quimioterapia) + a “quebra” da barreira mucosa + alterações na imunidade que a própria doença já causa = favorece a infecção e o quadro de neutropenia febril - Efeito da quimioterapia no sistema imune e na barreira mucosa: neutropenia os neutrófilos existentes podem tornar-se desfuncionantes translocação bacteriana para corrente sanguínea devido a quebra da barreira mucosa Beatriz Maria Mesquita UEMA - Alterações na imunidade do paciente relacionados a neoplasia de base: Comuns nos casos de tumores hematológicos (linfomas, leucemias) Alteração da produção de anticorpos ou aumento da destruição dos complexos imunes (linfoma); Defeitos na própria célula (leucemia e mieloma) Uso de altas doses de corticoide (leucemias, linfomas, tumores do SNC) OBS: Nadir = onde ocorre a neutropenia; ponto de maior risco da infecção; entre o 10 – 14º dia após a quimioterapia 5. Quadro clínico Febre + quimioterapia há menos de 6 semanas Presença ou não de sintomas infecciosos: é preciso estar atento pois a resposta inflamatória está diminuída, os leucócitos estão baixos, logo pode está acontecendo uma infecção grave por trás de uma “simples febre” em um paciente neutropênico Febre unicamente – resposta inflamatória diminuída 6. Diagnóstico da neutropenia Hemograma completo; Função renal; Função hepática; Hemocultura (2 pares de diferentes sítios); OBS: Se paciente tiver cateter de longa permanência deve-se coletar hemocultura do cateter porque se tiver infecção do cateter precisa tirar em algumas situações (relacionadas a germes específicos como S. aureus, pseudomonas, fungos, micobactérias; instabilidade hemodinâmica, endocartite, trombose, infec.do túnel do cateter, febre persistente) porque não ocorrerá melhora; OBS: Como saber se a infecção é do cateter? O crescimento da bactéria inicia com uma diferença de pelo menos 2 horas em relação a hemocultura periférica Urocultura (quando houver sintomas urinários); RX de tórax (quando houver sintomas respiratórios); Pesquisa de toxina do Clostridium difficile (quando houver diarreia) Beatriz Maria Mesquita UEMA Avaliar sinais de gravidade Procurar foco infeccioso História clinica detalhada Exame físico completo (sinais vitais, mucosas, cateter de longa permanência) 7. Estratificação de risco Escore de risco: MASCC (Multinational Association for Supportive Care in Cancer) Características Pontuação Sintomas leves ou ausentes 5 Sintomas moderados 3 Sem hipotensão 5 Sem DPOC 4 Tumor sólido ou hematológico sem infecção fúngica 4 Sem desidratação 3 Paciente ambulatorial (não internado no início da NF) 3 Idade <60 anos 2 - Aplicado para todos os pacientes - Deve ser somado a avalição clínica - Alto risco: MASCC < 21 / Baixo risco: MASCC ≥ 21 Importância da estratificação: pacientes com baixo risco podem receber tratamento ambulatorial em alguns casos específicos OBS: A neutropenia severa (<100) e com duração > 7 dias, que não está no score mas é importante citar, pois já é um fator de risco. Ex: leucemia. Paciente deve ser internado 8. Tratamento Beatriz Maria Mesquita UEMA Iniciar antibiótico em até 60 minutos da chegada do paciente no PS (pois pode-se tratar de um patógeno de alta virulência) Cobertura anti-pseudomonas - cefepime - piperacilina-tazobactan - carbapenêmicos – meropenem ou imipenem Gram-negativos são mais graves e associadas a maior mortalidade na neutropenia febril. Dessa maneira, recomenda-se inicialmente o tratamento empírico voltado para bactérias Gram-negativas, sendo a cobertura para Gram-positivos secundária, mas desejável, por exemplo, quando se suspeita de infecções relacionadas a cateteres A neutropenia febril é definida como < 500 neutrófilos/mm3 + 1 pico febril ≥ 38,3C ou ≥ 38C por mais de 1 hora. A medida imediata é coleta de culturas e ATB empírico. Quando há necessidade de cobrir pseudomonas o ATB utilizado é cefepime IV. Se houver sinais de infecção de pele, cateter, pulmão ou o paciente estiver hipotenso (possibilidade de infecção por patógeno gram positivo) deve-se associar vancomicina. Contudo, se houver possibilidade de tratamento ambulatorial (neutropenia durará < 7 dias, sem disfunção orgânica e sem manifestações gastrointestinais), o tratamento preconizado é ciprofloxacina + amoxacilina com clavulanato OBS: paciente com alergia a penincilina ciprofloxacina + clindamicina ou aztreonam + vancomicina Vancomicina: quando associar cobertura para gram+ com vancomicina já no primeiro momento? - Em casos de instabilidade hemodinâmica - Culturas prévias com gram+ (recente) - Infecção cutâneaou de cateter venoso central - Mucosite grave + profilaxia com quinolona - Em casos de pneumonia Em casos de febre persistente? - Paciente sintomático com uso de cefepime ou tazocin, febre persistente após 72 horas deve-se associar com vancomicina Beatriz Maria Mesquita UEMA - Febre persiste após 96 horas deve-se trocar o cefepime ou tazocin por carbapenêmico (mantendo o vancomicina) - Febre persiste após 5 a 7 dias deve-se associar anti-fúngico e procurar foco fechado (foco profundo – pulmão e seios da face – solicita tomografia da face e de tórax) Quando suspender o antibiótico? - Em caso de foco definido: tempo preconizado para a infecção - Em caso de foco não definido: paciente deve estar afebril por pelo menos 48 horas e neutrófilos > 500 em 2 hemogramas consecutivos Uso de fator estimulador de colônia/granulócitos (Granulokine) - Vai na medula e estimula a produção dos granulócitos, ou seja, a produção dos neutrófilos - Não está indicado de rotina - Não impacta em mortalidade - Diminui tempo de internação e morbidade - Indicado apenas para os casos de neutropenia grave Granulokine como profilaxia primária de neutropenia - Em casos de risco de neutropenia febril > 20% 9. Casos de tratamento ambulatorial Paciente de baixo risco MASCC ≥ 21 Acesso fácil a unidade saúde < 1 hora Acesso fácil a telefone e transporte 24h/dia Orientação + adesão ao tratamento Reavaliação precocemente 2, 3 dias) Antibiótico: ciprofloxacina + amoxacilina-clavulonato 10. Quando modificar esquema de antibiótico? Resultado de culturas Identificação do sitio primário Baixo risco trocar para VO Febre persistente Beatriz Maria Mesquita UEMA Pontos importantes: Sempre suspeitar nos pacientes com febre e história de quimioterapia recente (< 6 sem) Bactérias gram-positivas são os agentes mais comuns Atenção para os sinais vitais e presença de cateter Iniciar antibiótico com cobertura anti-pseudomonas nos primeiros 60 minutos Avaliar critérios para introdução imediata da vancomicina Se febre persistente por > 72h, sem foco identificado, escalonar cobertura anti-microbiana Manter antibiótico até neutrófilos > 500 e afebril por mais de 48h Granulokine não impacta em mortalidade, mas reduz morbidade e tempo de internação. Usar com critérios.
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