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Aula 4 - Princípios Sociais dos Contratos - 30 08 21 (1)

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Direito dos Contratos
Princípios Sociais dos Contratos
Professora: Carolina Cavalcante Mendes
Carolina.mendes@umj.edu.br
Princípios Sociais dos Contratos
Contexto Histórico
Modelo constitucional de Estado Social
Podem ser agrupados em:
Princípio da função social
Princípio da boa-fé objetiva
Princípio da equivalência material
Princípio da Função Social do Contrato
Princípio da Função Social do Contrato
Determina que os interesses individuais das partes do contrato sejam exercidos em conformidade com os interesses sociais, sempre que estes se apresentem. 
Interesses sociais são prevalecentes.
Código Civil
Art. 421, caput.  A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Constituição Federal
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
III - função social da propriedade;
Código Civil
Art. 1.228, § 1º. O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Código Civil
Art. 2.035. (...) - Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.
Princípio da Função Social
A função social não é excludente da função individual do contrato.
Eficácia interna (entre as partes) e eficácia externa (para além das partes).
Princípio da Função Social
Enunciado 360 da CJF/STJ – aprovado pela IV Jornada de Direito Civil;
“O princípio da função social dos contratos também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes.” 
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 421;
Princípio da Função Social
A) Eficácia interna da função social dos contratos: (Aspectos)
1 – Proteção dos vulneráveis contratuais – CDC; Arts. 423 e 424, da CLT; Enunciado 364, do CJF/STJ, da IV Jornada de Direito Civil; Enunciado 433, do CJF/STJ, da V Jornada de Direito Civil; Súmula 355, do STJ; Enunciado 372,do CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil; 
2 – Vedação da onerosidade excessiva ou desequilíbrio contratual (efeito gangorra) – consequência: anulação; revisão ou resolução do contrato. 
3 – Proteção da dignidade humana e dos direitos da personalidade – Enunciado 23, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil; Art. 1º, da CF/88;
4 – Nulidade das cláusulas sociais tida como abusivas – Enunciado 431, do CJF/STJ, da V Jornada de Direito Civil; Súmula 302, do STJ; Enunciado 432, do CJF/STJ, da V Jornada de Direito Civil; Súmula 566, do STJ; Súmula 565, do STJ;
5 – Tendência a conservação do contrato - (extinção como ultima ratio) – Enunciado 22, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil; Informativo 467 do STJ. 
Princípio da Função Social
Enunciado 21 da CJF/STJ – aprovado pela I Jornada de Direito Civil;
“A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.” 
Referência Legislativa
Norma: Código de Processo Civil 2015 - Lei n. 13.105/2015
ART: 220;
Princípio da Função Social
B) Eficácia Externa da função social do contratos: (Aspectos)
1 – Proteção dos direitos difusos e coletivos – Enunciado 23, do CJF/STJ, da I jornada de Direito Civil; 
2 – Tutela externa do crédito – Art. 608, do CC/2002. 
Princípio da Função Social
Função Social - Independe da vontade das partes;
Função Econômica - Interesse particular.
Princípio da Função Social
Por mais insignificante que seja, o contrato ostenta dupla função: individual e social, realizando a primeira a autorregulação dos interesses individuais e a segunda sua conformação aos interesses sociais.
Autonomia (privada) solidária
Princípio da Equivalência Material
Princípio da Equivalência Material
Busca realizar e preservar o equilíbrio real de direitos e deveres no contrato, antes, durante e após sua execução, para harmonização dos interesses.
Princípio da Equivalência Material
Preserva a equação e o justo equilíbrio contratual
Mantendo a proporcionalidade inicial dos direitos e obrigações
Corrigindo desequilíbrios supervenientes
Princípio da Equivalência Material
A execução não pode acarretar vantagem excessiva para uma parte e desvantagem excessiva para outra.
Aspectos
Subjetivo
Leva em conta a identificação do poder contratual dominante das partes e a presunção legal de vulnerabilidade.
Trabalhador, inquilino, consumidor, aderente de contrato de adesão etc.
Aspectos
Objetivo
Considera o real desequilíbrio de direitos e deveres contratuais.
Celebração do contrato
Eventual mudança do equilíbrio em virtude de circunstâncias supervenientes que acarretem onerosidade excessiva para uma das partes. 
Código de Defesa do Consumidor
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
 V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Princípio da Equivalência Material
Princípios constitucionais da Solidariedade (art. 3º, I) e da Justiça Social (art. 170).
Interpretatio contra stipulatorem
 interpretação mais favorável ao aderente
Princípio da Equivalência Material
Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
 Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
Princípio da Equivalência Material
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;       VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.       
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.         (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
Requisitos para Aplicação do Princípio da Equivalência Material
Desproporção manifesta entre direitos e deveres de cada parte;
Desigualdade de poderes negociais; 
- não incide sobre contratos paritários
Situação de vulnerabilidade da parte
- reconhecida pelo direito.
Consequências
Sanção de nulidade da parte ou totalidade do contrato
Interpretação do contrato de acordo com o princípio, quando possível a sua conservação, no todo ou em parte.
Princípio da Boa-fé Objetiva
Princípio da Boa-fé Objetiva
Importa em conduta honesta, leal, correta. 
É regra de conduta dos indivíduos nas relações jurídicas contratuais.
Funções
Função Integrativa (art. 422)
Função Interpretativa (art. 113)
Função de Controle (art. 187)
Código Civil
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidadee boa-fé.
Código Civil
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Código Civil
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Enunciado 27, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil
“Na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
Enunciado 1, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Processual Civil
“A verificação da violação à boa-fé objetiva dispensa a comprovação do animus do sujeito processual.”
Referência Legislativa
Norma: Código de Processo Civil 2015 - Lei n. 13.105/2015
ART: 5;
Enunciado 24, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil
“Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
Enunciado 363, do CJF/STJ, da IV Jornada de Direito Civil
“Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar a existência da violação.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
Enunciado 37, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil
“A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 187;
“O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
Enunciado 25, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil
Enunciado 170, do CJF/STJ, da III Jornada de Direito Civil
“A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
Enunciado 26, do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil
“A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
A boa-fé objetiva não é somente aplicável à conduta dos contratantes na execução de suas obrigações, mas também:
Aos comportamentos que devem ser adotados antes da celebração (in contrahendo).
Após a extinção do contrato (post pactum finitum).
Venire contra factum proprium
A ninguém é dado valer-se de determinado comportamento, quando lhe for conveniente e vantajoso, e depois voltar-se contra ele quando não mais lhe interessar mediante comportamento contrário.
Enunciado 362, do CJF/STJ, da IV Jornada de Direito Civil
“A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil.”
Referência Legislativa
Norma: Código Civil 2002 - Lei n. 10.406/2002
ART: 422;
Código Civil
Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.
Supressio
Exercício surpreendente de uma posição jurídica cujo abandono o titular já tornara aparente, permitindo o surgimento de uma posição digna de tutela em favor de outrem.
Exemplo
Uso de área comum por condômino em regime de exclusividade por período de tempo considerável, que implica a supressão da pretensão de cobrança de aluguel pelo período de uso.
Surrectio
Surgimento de um direito exigível, como decorrência lógica do comportamento de uma das partes.
Tu quoque
Comportamento que, rompendo com o valor confiança, surpreende uma das partes da relação negocial, colocando em situação de injusta desvantagem.
“não faça como outro o que você não quer que façam com você.”
Código Civil
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

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