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Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina Aterosclerose Definição A aterosclerose é caracterizada pela presença das placas ateroscleróticas, também chamadas de ateromas, lesões intimais elevadas compostas por centro mole e grumoso de lipídios, principalmente colesterol e ésteres de colesterol, com restos necróticos. Essas lesões geram redução do lúmen vascular e têm risco de ruptura, evoluindo para trombose catastrófica dos vasos; além disso, enfraquecem a camada média vascular e provocam a formação de aneurismas. Fatores de Risco A hiperlipidemia e, mais especificamente, a hipercolesterolemia, é o fator de risco fundamental para o desenvolvimento da aterosclerose, sendo suficiente para gerar lesões sem outros fatores de risco. O principal componente do colesterol associado a esse risco é o LDL (colesterol com lipoproteína de baixa densidade), popularmente conhecido como “mau colesterol”. O LDL é a forma de colesterol distribuída nos tecidos periféricos, diferentemente do HDL (lipoproteína de alta densidade), que mobiliza as placas de colesterol em desenvolvimento e as transporta para o fígado para que sejam excretadas pela via biliar – por isso os maiores níveis de HDL são associados a menores riscos de aterosclerose. Além do LDL e HDL, os níveis da lipoproteína (a), partícula semelhante ao LDL que contém a apolipoproteína B-100 ligada à apolipoproteína A, estão relacionados com o risco de doenças coronarianas e cerebrovasculares, independentemente dos níveis de colesterol total ou LDL. A hipertensão, por si só, aumenta cerca de 60% o risco de doença isquêmica do coração. Além de provocar diretamente a lesão endotelial, também é a principal causa de hipertrofia ventricular esquerda, que contribui para a isquemia do miocárdio. O diabetes mellitus, por sua vez, está relacionado com a elevação dos níveis circulantes de colesterol e, por isso, aumenta de forma significativa o risco de aterosclerose. Permanecendo outros fatores constantes, a incidência de infarto é duas vezes maior entre diabéticos e, além disso, essa doença está relacionada com o maior risco para acidente vascular cerebral e com o aumento de 100 vezes da probabilidade de os membros inferiores sofrerem gangrena induzida por aterosclerose. Resposta Vascular à Lesão Em condições normais, o endotélio é exposto a uma normotensão, ao fluxo laminar sanguíneo e à circulação de fatores de crescimento, como VEGF (fator de crescimento endotelial vascular). Isso promove um estado basal com superfície não adesiva do endotélio e, com isso, não trombogênica. Porém, quando exposto a condições lesivas, como fluxo sanguíneo turbulento, hipertensão, citocinas, infecções, tabagismo, fatores do sistema complemento, produtos bacterianos, produtos lipídicos, hipóxia, acidose e produtos finais da glicação avançada, o endotélio é ativado. Com isso, há um aumento na expressão de proteínas pró-coagulantes, moléculas de adesão e fatores Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina pró-inflamatórios, bem como expressão alterada de quimiocinas, citocinas e fatores de crescimento. Após a lesão endotelial, a parede vascular também reage. Isso ocorre com o recrutamento de células musculares lisas ou precursores para a íntima lesada, os quais se proliferam. Ou seja, as células endoteliais também influenciam na vasorreatividade das células musculares lisas adjacentes, a partir da produção de fatores relaxantes, como o óxido nítrico (NO), e fatores de contração, como a endotelina. Essas células musculares lisas possuem características diferentes das células musculares da camada média do vaso: não apresentam capacidade contrátil, porém, são capazes de produzir componentes da MEC, que, em conjunto com a proliferação celular, deflagram um processo semelhante ao da cicatrização de feridas pelos fibroblastos. Com isso, há a formação de uma nova camada íntima (neoíntima) e consequente espessamento da parede vascular. Quando essa resposta vascular a insultos é disfuncional ou inadequada, são estabelecidas patologias como a aterosclerose. Após restauração e/ou normalização da camada endotelial, as células musculares lisas da íntima retornam a um estado não proliferativo, mas, antes, a resposta cicatricial causa espessamento irreversível da íntima. Por isso, agressões recorrentes geram o espessamento excessivo, causando complicações como estenose de pequenos e médios vasos (como ocorre na aterosclerose). Placa de Ateroma As placas de ateroma são compostas por um centro necrótico, no qual estão presentes debris celulares, cristais de colesterol, células xantomizadas e cristais de cálcio. Esse centro necrótico é revestido por uma capa fibrosa, formada por células musculares lisas, colágeno, elastina, proteoglicanos, além de uma neovascularização na periferia. A formação da placa de ateroma, que consiste em uma resposta inflamatória crônica, ocorre através dos seguintes eventos patogênicos: lesão endotelial, acúmulo de lipoproteínas, adesão plaquetária, adesão de monócitos ao endotélio (os quais se diferenciam em células espumosas), acúmulo de lipídios, recrutamento de células musculares lisas, proliferação de células musculares lisas e produção da MEC. Assim, a aterogênese se inicia com a lesão endotelial crônica, pelas injúrias já descritas como a hiperlipidemia, hipertensão, tabagismo, homocisteína, fatores hemodinâmicos, toxinas, infecções e reações imunes. Essas lesões geram uma disfunção endotelial, com preferência por locais de fluxo sanguíneo turbulento, como óstios, bifurcações e aorta abdominal. Após a lesão endotelial, ocorre o acúmulo de lipoproteínas, principalmente LDL oxidado e cristais de colesterol na parede dos vasos. Segue a adesão plaquetária, a partir da ativação do fator de won Willebrand (vWF) e da glicoproteína plaquetária Gp1b, aumentando a adesividade das plaquetas. Os monócitos se Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina convertem em macrófagos teciduais xantomizados (células espumosas), pois fagocitam as partículas de gordura na parede vascular. Além disso, há o recrutamento e a proliferação de células musculares lisas e a produção da matriz extracelular, formando um ateroma fibrogorduroso. A aterosclerose possui um espectro de alterações, mais e menos graves. Um deles são as estrias gordurosas, máculas amareladas, alongadas e coalescentes formadas pelo acúmulo de macrófagos xantomizados subintimais, e seu início é precoce, podendo ser identificadas em crianças com menos de um ano de idade. Outro espectro são as placas ateroscleróticas, lesões elevadas esbranquiçadas ou amareladas que podem apresentar ulceração ou trombose. Microscopicamente, é observada uma capa fibrosa e core necrótico com lipídios, macrófagos xantomizados, células musculares lisas e células musculares inflamatórias. Na periferia dessas lesões, também são observadas áreas de revascularização e calcificações basofílicas distróficas. As placas ateroscleróticas podem ser vulneráveis ou estáveis, o que determina seu risco maior ou menor de ruptura. A placa vulnerável possui uma capa fibrosa fina e um core lipídico espesso, além de bastante inflamação associada. Já a capa estável apresenta uma capa fibrosa espessa e um core lipídico menor proeminente, além de menos inflamação associada. Complicações A aterosclerose gera como consequências, com seu crescimento progressivo e promoção da estenose, a isquemia crônica em determinados tecidos, além de gerar a angina estável no coração. No caso de ruptura, ulceração ou erosão da placa, ocorre a exposição de superfície trombogênica e consequente trombose, ou ocorre uma hemorragia intraplaca, aumentando o volume da placa. Esse aumento de volume também pode causar obstrução vascular, com isquemia súbita. Em relação à evolução dessa condição, a aterosclerose, na fase pré-clínica, leva uma artéria normal a desenvolver uma estria gordurosa, que eventualmente se torna a placa ateromatosa. Se os fatores de risco não forem controlados, essa placa pode avançar para uma placa vulnerável. Na fase clínica, essa placa vulnerável(ou avançada) pode gerar oclusão por trombose, estenose crítica ou aneurisma e ruptura. Isso é outra consequência da aterosclerose: aneurismas da aorta abdominal e das artérias ilíacas comuns. Esses aneurismas são causados pelo enfraquecimento da parede vascular, graças à degradação de tecido conjuntivo da parede vascular adjacente às placas por causa da inflamação e da restrição ao fluxo de nutrientes por difusão para a musculatura lisa. Isso gera obstrução de ramos vasculares, tromboembolismo e ruptura. Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina Clínica Inicialmente, a aterosclerose é assintomática por décadas. Os sinais e sintomas desenvolvem-se quando as lesões impedem o fluxo sanguíneo. Pode haver desenvolvimento de sintomas isquêmicos transitórios (p. ex., angina estável por esforço, episódios isquêmicos transitórios e claudicação intermitente) quando as placas estáveis crescem e reduzem o lúmen arterial em > 70%. Vasoconstrição pode alterar uma lesão que não limita o fluxo sanguíneo para uma estenose grave ou completa. Podem surgir sintomas de angina instável ou infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico ou dor em repouso nos membros inferiores pode se desenvolver quando placas instáveis se rompem e causam oclusão aguda de artéria principal, com superposição de trombose ou embolia. A aterosclerose também pode causar morte súbita, sem angina de peito estável ou instável pregressa. O envolvimento aterosclerótico da parede arterial pode acarretar aneurismas e dissecção arterial, que podem se manifestar por dor, massa pulsátil, ausência de pulsos ou morte súbita. Diagnóstico Avaliam-se os pacientes com sinais e sintomas de isquemia para determinar a magnitude e a localização da oclusão vascular, com vários exames invasivos e não invasivos, dependendo do órgão comprometido (ver em outras seções deste Manual). Esses pacientes também devem ser avaliados para a determinação da existência de fatores de risco de aterosclerose por ● História e exame físico ● Perfil lipídico de jejum ● Níveis de hemoglobina A1C Os pacientes com doença documentada em um local (p. ex., artérias periféricas) devem ser submetidos à investigação clínica para identificação dessa doença em outros locais (p. ex., artérias coronárias e carótidas). Como nem todas as placas ateroscleróticas têm risco semelhante, investigam-se várias tecnologias para testes de imagem como uma forma de identificar placas especialmente vulneráveis à ruptura; mas ainda não se usam essas técnicas na prática clínica. Os exames de imagem não invasivos que podem avaliar a morfologia e as características da placa são: ● Ultrassonografia vascular tridimensional ● Tomografia computadorizada (TC) ● Angiografia por RMN Exames invasivos por cateterismo também são usados. Esses incluem: ● Ultrassonografia intravascular, que utiliza um transdutor de ultrassom na ponta de um cateter para gerar imagens da luz e da parede da artéria ● Angioscopia, que utiliza cateteres especiais de fibra óptica que podem visualizar diretamente a superfície arterial ● Termografia das placas, que é usada para detectar o aumento da temperatura nas placas com processo inflamatório em atividade ● Tomografia de coerência óptica, que utiliza laser com luz infravermelha para geração de imagens ● Elastografia, usada para identificar placas moles ricas em lipídios A imunocintilografia é uma alternativa não invasiva que usa traçadores radioativos para localizar placas vulneráveis. Exame de imagem do tipo positron emission tomography (PET) da vasculatura é outra abordagem emergente para avaliar placa vulnerável. Além de lipidograma, glicemia plasmática e hemoglobina A1C de jejum, alguns médicos dosam os marcadores séricos de inflamação. Níveis de proteína C reativa ≥ 3,1 mg/L (≥ 29,5 https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/doen%C3%A7a-coronariana/angina-de-peito https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico-ave/ataque-isqu%C3%AAmico-transit%C3%B3rio-ait https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/acidente-vascular-encef%C3%A1lico-ave/ataque-isqu%C3%AAmico-transit%C3%B3rio-ait Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina nmol/L) são altamente preditivos de eventos cardiovasculares. Tratamento O tratamento envolve a modificação agressiva de fatores de risco de progressão lenta e indução de regressão de placas existentes. Não mais se recomenda a redução do colesterol LDL abaixo de certo alvo, e atualmente a abordagem "quanto mais baixo, melhor" é a preferida. As modificações do estilo de vida envolvem dieta, interrupção do tabagismo e atividade física regular. Com frequência, é necessária a utilização de fármacos para dislipidemia, hipertensão e diabetes. Tais fármacos e as modificações do estilo de vida melhoram direta ou indiretamente a função endotelial, reduzem a inflamação e melhoram a evolução clínica. Estatinas podem reduzir a morbidade e mortalidade relacionadas com a aterosclerose mesmo com níveis de colesterol normais ou discretamente aumentados. Reduzem principalmente o colesterol LDL. Outros potenciais efeitos benéficos incluem maior produção de óxido nítrico endotelial, estabilização das placas ateroscleróticas, redução do acúmulo de lípides na parede arterial e regressão das placas. Recomenda-se estatinas como terapia preventiva em 4 grupos de pacientes (1 ), constituídos por aqueles com qualquer um dos seguintes: ● Doença cardiovascular aterosclerótica clínica ● Colesterol LDL ≥ 190 mg/dL (≥ 4,92 mmol/L) ● Idade de 40 a 75 anos, com diabetes e LDL de 70 a 189 mg/dL (1,81 a 4,90 mmol/L) ● 40 a 75 anos de idade, com colesterol LDL 70 a 189 mg/dL e risco estimado em 10 anos de doença cardiovascular arteriosclerótica ≥ 7,5% Os fármacos antiplaquetários orais são essenciais porque a maioria das complicações resulta de fissura ou ruptura da placa, ocasionando ativação plaquetária e trombose. As seguintes fármacos são utilizados: ● Ácido acetilsalicílico ● Fármacos tienopiridínicos como clopidogrel, prasugrel e ticagrelor Pacientes com doença coronariana podem se beneficiar dos inibidores da ECA e betabloqueadores. Os inibidores da ECA e os bloqueadores do receptor da angiotensina II inibem os efeitos da angiotensina na disfunção endotelial e no processo inflamatório. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/arterioesclerose/aterosclerose#v31786705_pt https://www.passeidireto.com/perfil/luiz-felipe-ferreira/
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