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MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves MIELOMA MÚLTIPLO É uma neoplasia hematológica progressiva e incurável de células B, caracterizada pela: Proliferação desregulada e clonal de plasmócitos malignos no microambiente da medula óssea; Associado ao surgimento de proteína monoclonal sérica e/ou urinária e presença de disfunção de órgãos-alvo. ETIOLOGIA A causa do MM ainda não é bem estabelecida. Numerosos vírus e outros agentes infecciosos têm sido relacionados à patogênese do MM, mas os mecanismos ainda não foram totalmente elucidados. Vários estudos associam o risco de MM à exposição a pesticidas, como: Dioxinas. É relatada a ocorrência de MM em: Grupos familiares de 2 ou mais parentes de 1º grau; e em Gêmeos idênticos. EPIDEMIOLOGIA O MM representa 1% de todos os tipos de câncer, sendo a: 2ª neoplasia hematológica mais frequente (13%). A incidência é de 4 por 100 mil aproximadamente, com predomínio discreto do sexo masculino. A idade mediana ao diagnóstico é de aproximadamente 70 anos, assim distribuídos: 37% dos pacientes são diagnosticados com > 75 anos; 26%, entre 65 e 74 anos; e 37% < 65 anos. A!! Raramente o MM é diagnosticado <35 anos (0,6% de todos os casos). Até recentemente existiam poucos dados sobre a epidemiologia do MM na América Latina e no Brasil. Em 1.112 pacientes com MM de instituições brasileiras, a idade mediana no diagnóstico foi de: 60,5 anos, e a maioria dos pacientes apresentava doença avançada. O aumento da incidência do MM nos últimos anos relaciona-se ao/à: Maior conhecimento da história natural da doença e sua patogênese; Melhora dos recursos laboratoriais; Aumento da expectativa de vida mundial; e Exposição crônica a agentes poluentes. PATOGÊNESE O desenvolvimento do MM é um processo com várias etapas. Além disso, as alterações genéticas dos plasmócitos e mudanças no microambiente da medula óssea favorecem o desenvolvimento tumoral. O plasmócito neoplásico apresenta uma combinação complexa de alterações genéticas. Podem ser observadas: Alterações cromossômicas múltiplas, com ganho e perda de vários cromossomos; e Anormalidades estruturais. Translocação cromossômica primariamente precoce ocorre na: Região switch do cromossomo 14 (q32.33), que é mais comumente justa posicionada ao oncogene MAF t(14;16) e MMSET (Multiple Myeloma SET, uma MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves histona metiltransferase e fator de transcrição) no cromossomo 4p16.3, t(4;14). Translocações tardias secundárias e mutações gênicas implicadas na progressão da doença incluem: Anormalidades cariotípicas no MYC; Ativação do NRAS e KRAS; Mutações no FGFR3 e TP53; e Inativação dos inibidores de ciclina dependentes de cinases CDKN2A e CDKN2C. Outras anormalidades genéticas envolvem a: Desregulação epigenética, com alterações na expressão do microRNA; e Modificações na metilação gênica. Os ganhos cromossômicos acontecem em mais de 30% dos casos e geralmente são encontrados no 1q, 3q, 9q, 11q e 15q. A complexidade cariotípica aumenta durante a progressão do tumor. A hipodiploidia está associada com pior prognóstico em comparação à hiperdiploidia. Anormalidades genéticas alteram a: Expressão das moléculas de adesão nos plasmócitos malignos, assim como resposta aos estímulos de crescimento do microambiente medular. As interações entre as células do MM e as do microambiente medular ou proteínas da matriz extracelular, que são mediadas por receptores de superfície celular (integrinas, caderinas, selectinas e moléculas de adesão celular): Aumentam o crescimento do tumor, sobrevida, migração e resistência a drogas. A adesão das células do MM às células hematopoéticas e do estroma induz a: Secreção de citocinas; e Secreção de fatores de crescimento, incluindo IL-6, VEGF, IGF-1, membros da superfamília dos fatores de necrose tumoral, TGF-b1 e IL-10. Essas citocinas e fatores de crescimento são produzidos e secretados pelas células do microambiente medular, incluindo as células do MM, estabelecendo uma regulação autócrina e parácrina. A adesão das células do MM às proteínas da matriz extracelular (colágeno, fibronectina, laminina e vitronectina) induz o: Aumento das proteínas reguladoras do ciclo celular e antiapoptóticas. A indução de moléculas pró-angiogênicas (ex. VEGF) aumenta a densidade microvascular da medula óssea e colabora para a estrutura anormal dos vasos tumorais no MM. A IL-6 é o fator de crescimento mais potente do MM. Quando secretada pelas células da medula óssea, potencializa a produção e a secreção de VEGF pelas células do MM e vice-versa. A proliferação de células do MM pode ser inibida por: Anticorpos monoclonais específicos para IL-6. A angiogênese, estimulada por fatores de crescimento do endotélio vascular, também tem um papel importante na patogênese do MM. As lesões ósseas ocorrem devido ao: Desequilíbrio na função dos osteoblastos e osteoclastos. A inibição da via Wnt suprime os osteoblastos, enquanto a amplificação na via do RANK (aumento do RANKL e redução da osteoprotegerina) e a ação do MIP1α ativam os osteoclastos. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O MM é precedido por uma fase de: Gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI); ou de Mieloma assintomático. Essas condições podem ser identificadas quando faz uma eletroforese de proteínas séricas na investigação de rotina e identifica a presença de um pico monoclonal. Uma simples elevação da VHS pode ser um achado que induz a solicitação da eletroforese e a identificação da proteína M. A!! A fase de MM assintomático pode preceder em vários anos o surgimento das manifestações clínicas. No diagnóstico de MM sintomático, os achados mais comuns são: Anemia; Dor óssea: pode ser induzida por movimento e é menos comum à noite durante o sono, embora possa ocorrer com a mudança de posição; leve ou moderada em intensidade; A!! A altura do paciente pode ser reduzida em vários centímetros devido ao colapso vertebral. Creatinina elevada; Fadiga / fraqueza generalizada; Hipercalcemia: cálcio sérico com média de 9,8- 10,5 mg/dL; Resultado da desmineralização/reabsorção óssea induzida pelo MM. Perda de peso (pode refletir possível estádio avançado da doença). A!! A anemia está presente em 60% dos pacientes ao diagnóstico e se deve à proliferação neoplásica na medula óssea, à inibição específica da eritropoese pelas citocinas do microambiente e à insuficiência renal. A!! A dor óssea é o sintoma mais frequente e ocorre em 60 a 90% dos pacientes. Outras alterações também podem estar presentes, como: Fraturas patológicas; Parestesias; Hepatomegalia, esplenomegalia e linfoadenomegalia; Hiperuricemia: ácido úrico com média de 7,0-8 mg/dL em 25 (24,8%) pacientes; Insuficiência renal: creatinina sérica aumentada; Tem como causa: nefropatia por elenco de cadeia leve (mieloma renal) e a hipercalcemia; Infecções de repetição; Manifestações neurológicas; Hiperviscosidade: caracterizada por sangramento oronasal, visão turva, sintomas neurológicos, confusão e/ou insuficiência cardíaca; e Complicações hemorrágicas. O comprometimento renal é relatado em 20 a 60% dos pacientes, dependendo da definição utilizada e da instituição onde foi feito o diagnóstico. O principal fator desencadeante dessa alteração são as: Cadeias leves monoclonais filtradas, que se precipitam e provocam uma disfunção tubular, devido à obstrução intratubular porcilindros (“rim do mieloma”). Outros fatores que podem precipitar ou agravar a insuficiência renal no MM são: Hipercalcemia; Hiperuricemia; Desidratação; Infecção; e Uso de AINE. Amiloidose ocorre em 10 a 15% dos pacientes, podendo produzir síndrome nefrótica ou insuficiência renal. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves A incidência de infecções no MM é 15 vezes maior do que em indivíduos normais, contribuindo com cerca de 25% das mortes nos primeiros 6 meses após o diagnóstico. Os patógenos mais comuns são: Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae, porém, atualmente, os microrganismos gram- negativos são responsáveis por mais de 50% das infecções. Os critérios diagnósticos de MM assintomático e MM sintomático, pelo International Myeloma Working Group (IMWG), estão descritos a seguir. Legenda: critérios diagnósticos para MM assintomático Legenda: critérios diagnósticos para MM sintomático DIAGNÓSTICO HEMOGRAMA A anemia normocítica e normocrômica é o achado mais frequente no MM. Hemoglobina com média de 9,5 g/dL. Esta anemia pode refletir: Substituição da medula óssea; Deficiência relativa de eritropoietina (em parte devido a danos nos rins); Diluição (no caso de uma proteína M grande). Pode ter: Leucograma: normal ou com neutropenia; Plaquetas: normais ou com leve trombocitopenia; Reticulócitos: contagens diminuídas. Na microscopia, é visto as hemácias com um aspecto de empilhamento exagerado (ROULEAUX), que neste caso está relacionado às: Altas taxas de proteína monoclonal; e Sua elevação aumenta o empilhamento formando conglomerados compactos. Esse aspecto é de extrema importância descrever no laudo como: “Rouleaux sugestivo de disproteinemia”, principalmente se visualizar na lâmina uma presença frequente de plasmócitos, pois é considerado como aspecto patognomônico do MM. Legenda: aspecto de rouleaux A!! Estes achados exigem confirmação no proteinograma e na eletroforese com imunofixação A!! O aumento dos níveis de globulina sérica associa-se com o aumento na VHS, o qual resultará num sangue mais viscoso. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves EXAME DE URINA A maioria dos pacientes com MM liberam na urina: Proteína de cadeia leve e livre, que é conhecida como proteína de Bence Jones. Este exame é utilizado para: Acompanhamento da doença identificando a sua presença ou não na urina. A realização de eletroforese de proteínas na urina de 24 horas quantifica a excreção renal de cadeias leves e livres, enquanto a Imunofixação identifica o tipo das cadeias Kappa ou Lambda. ELETROFORESE DE PROTEÍNAS A maioria dos pacientes apresenta produção de proteína M, sendo: Mais frequente do tipo IgG (60% dos casos); Seguidos pelo MM IgA em 20%; e MM de cadeia leve (proteína de Bence- Jones) em 17%. A!! MM dos subtipos IgD, IgE ou biclonal são muito raros. O MM não secretor pode corresponder a 3% dos casos. A eletroforese de proteínas é um estudo fundamental para detecção da proteína M no soro ou na urina. Legenda: eletroforese de proteínas séricas por técnica de zona capilar demonstrando pico monoclonal em região das gamaglobulinas. A imunofixação de proteínas deve ser realizada, preferencialmente, após a localização de banda ou pico monoclonal pela eletroforese de proteínas. A imunofixação urinária detecta: Proteína M em 75% dos pacientes. A detecção de cadeias leves livres no soro é mais sensível que a imunofixação, apresentando também a vantagem de ser um método quantitativo. É muito útil em casos de MM não secretor, e 70% dos casos assim classificados têm uma relação κ/λ alterada. MIELOGRAMA O mielograma demonstra um número de plasmócitos clonais > 10%. A clonalidade deve ser estabelecida pela: Identificação da proteína M no citoplasma dos plasmócitos pela coloração de imunoperoxidase ou por imunofluorêscencia. A imunofenotipagem por citometria de fluxo é utilizada em alguns centros, mas a falta de acesso à técnica e a sua adequada padronização não a tornam recomendada como rotina para investigação diagnóstica pelo IMWG. RX SIMPLES DE ESQUELETO O RX simples de esqueleto é o método-padrão para diagnosticar a doença óssea no MM: Detecção e monitora da destruição óssea causado pelo MM. A rotina deve incluir: Crânio; Tórax; Coluna cervical, torácica, lombar e sacra; pelve Úmero e fêmur. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves As radiografias mostram alterações ósseas, que consistem em: Lesões líticas em saca-bocado; Perda ou enfraquecimento ósseo: osteoporose ou osteopenia; ou Fraturas ou colapso do osso. RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA A RNM da coluna e pelve permite: Avaliar a extensão e o padrão de infiltração da medula óssea (localizado, difuso, misto); Avaliação da natureza e na extensão de plasmocitomas medulares e extramedulares, podendo inclusive detectar lesões totalmente assintomáticas. RNM é fundamental também para avaliar: Pacientes com suspeita de compressão do canal vertebral. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA A TC é altamente sensível na identificação de lesões líticas do esqueleto. Porém, é menos preconizada para a rotina devido à/ao: Superioridade da RNM; Fato de não alterar o estadiamento ou decisões terapêuticas quando utilizada além do rx. ________________________________________ O PET-CT não tem ainda o seu papel claramente definido no MM. Pode ser útil na identificação de plasmocitomas extramedulares e no estadiamento da doença. EXAMES ESPECIAIS São exames realizados para: Avaliar o prognóstico da doença. Como: Citometria de fluxo e PCR para avaliar o rearranjo da cadeia pesada da imunoglobulina; Imunofenotipagem utilizada para diferenciar os plasmócitos normais dos malignos presentes no MM (marcador CD 19- e CD56+); Citogenética e/ou FISH (hibridização in situ com fluorescência) analisa cromossomos anormais com perda total ou parcial. ESTADIAMENTO Recomenda-se que ao diagnóstico os doentes com MM sejam categorizados pelo: → Sistema Durie-Salmon (SDS); ou → Sistema de estadiamento internacional (ISS). SDS O SDS classifica segundo fatores relacionados ao volume tumoral em 3 categorias, que se correlacionam com a chance de resposta à quimioterapia e sobrevida: ESTÁGIO I Níveis baixos de proteína-M: → IgG < 5g/dL; → IgA < 3g/dL; Proteinúria de Bence Jones < 4g/24 horas; Ausência de lesão óssea ou lesão óssea solitária; Níveis fisiológicos de hemoglobina, cálcio sérico, imunoglobulinas (não proteína-M); ESTÁGIO II Quando não preencher os critérios para estágio I ou III; ESTÁGIO III Níveis elevados de proteína-M: MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves → IgG > 7g/dl; → IgA > 5g/dL; Proteinúria de Bence Jones > 12g/24 horas OU lesões osteolíticas múltiplas OU hemoglobina < 8,5 g/dL OU cálcio sérico > 12mg/dL. Emprega-se uma subclassificação em cada estágio segundo a ausência (A) ou não (B) de comprometimento da função renal (cujo ponto de corte é creatinina sérica de 2 mg/dL). ISS O ISS permite agrupar os doentes com MM em três estratos prognósticos, com base nos níveis séricos de beta-2 microglobulina (B2M) e albumina: ESTÁGIO I B2M < 3,5mg/L e albumina ≥ 3,5 g/dL; ESTÁGIO II Quando não preencher os critérios para estágio I ou III; ESTÁGIO III B2M ≥ 5,5 mg/L. No Brasil, o ISS apresenta desempenho prognóstico mais acurado que o SDS, sendo a presença de hipercalcemia fator prognóstico adicional independente. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Diversasalterações citogenéticas associam-se com o prognóstico no MM, mas atualmente não permitem a modificação da conduta clínica ou do planejamento terapêutico, e mesmo nos grupos com genética desfavorável, há heterogeneidade no prognóstico. Quando existir essa informação, recomenda-se a adoção do modelo de estratificação de risco proposto pelo IMWG, que pode ser aplicado a mais de 90% dos pacientes com MM, baseado no ISS e no exame citogenético - deleção 17p13, t(4;14) e ganho 1q21. Esta estratificação de risco ajuda a determinar o prognóstico e impacta a escolha do tratamento. MM DE ALTO RISCO Consideramos os pacientes com pelo menos um dos seguintes critérios clínicos ou patológicos: → t (4; 14), t (14; 16), t (14; 20), del17p13, ou ganho 1q por FISH → Níveis de lactato desidrogenase (LDH) ≥2 vezes o limite superior instituindo normal; → Características da leucemia de células plasmáticas primária (definida por ≥2000 células plasmáticas / microL de sangue periférico ou ≥20 % em uma contagem diferencial manual) Tem estimativa de sobrevida mediana de 2 anos. MIELOMA DE RISCO PADRÃO Consideramos os pacientes que não possuem todas as anormalidades de alto risco descritas acima. Pacientes com características intermediárias entre alto e baixo risco, com sobrevida mediana de 7 anos. MM DE BAIXO RISCO → Idade < 55 anos, → ISS I/II; e → Ausência dos três marcadores citogenéticos - deleção 17p13, t(4;14) e ganho 1q21. Sobrevida mediana superior a 10 anos. A estratificação de risco evolui ao longo do tempo e continuará a mudar à medida que o entendimento sobre o valor prognóstico de achados citogenéticos específicos no MM melhorar. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves → Embora testemos todos os marcadores FISH descritos, alguns não estão disponíveis em algumas regiões do mundo. O Revised International Staging System, que leva em consideração a disponibilidade internacional de sondas FISH específicas, considera pacientes com qualquer um dos seguintes como tendo MM de alto risco: t(4; 14), t(14; 16) e del17p. As anormalidades genéticas subjacentes no clone do mieloma ditam a biologia da doença e são um importante preditor do resultado. O prognóstico também depende de: → Fatores do hospedeiro (idade, status de desempenho, comorbidades); → Estágio e resposta à terapia. DETERMINAÇÃO DA ELEGIBILIDADE DO TRANSPLANTE Após o diagnóstico e a estratificação de risco, todos os pacientes são avaliados para determinar a elegibilidade para o transplante autólogo de células hematopoéticas (HCT). → Quando comparado com a quimioterapia isolada, o HCT autólogo parece prolongar a sobrevida livre de eventos e global. A coleta de células-tronco deve ocorrer no início do curso de tratamento para todos os pacientes elegíveis, independentemente de plano do tratamento; → Se o HCT será incorporado ao tratamento inicial OU adiado até a primeira recaída. A quimioterapia inicial administrada a pacientes candidatos a HCT deve limitar os agentes que podem prejudicar a coleta de células- tronco ou danificá-las. A!! Uma minoria de pacientes será elegível para HCT alogênico, mas o papel das abordagens alogênicas no MM permanece investigacional e controverso. REQUISITOS GERAIS DE ELEGIBILIDADE A elegibilidade para HCT autólogo em MM varia entre países e instituições. Estas são diretrizes e a decisão sobre a elegibilidade para o transplante deve ser feita com base em uma avaliação de risco-benefício e nas necessidades e desejos do paciente. Não há evidências suficientes agora de que os programas quimioterápicos mais recentes (por exemplo, bortezomibe, lenalidomida) resultarão em uma necessidade reduzida de HCT. O TCH autólogo pode ser realizado com segurança em pacientes com todos os estágios da doença renal, mesmo em pacientes em diálise. → O comprometimento renal parece não ter efeito adverso na qualidade da coleta de células-tronco ou enxerto após HCT autólogo. TRATAMENTO A terapia dever ser instituída apenas quando houver sintomas. → O MM assintomático requer observação clínica, uma vez que tratamento com quimioterapia convencional não demonstrou benefício. O MM é uma doença incurável, porém, estão sendo desenvolvidos novos agentes dirigidos ao alvo, com potente atividade antimieloma. Essas novas drogas estão: → Trazendo melhores resultados ao tratamento; e → Aumentando a sobrevida dos pacientes. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves Para estabelecer a estratégia terapêutica é importante considerar: → Idade; → Performance status; e → Presença de comorbidades. A!! Os pacientes com idade < 65 anos e boas condições clínicas devem ser considerados elegíveis para altas doses de quimioterapia seguida de Transplante Autólogo de Células - Tronco Hematopoéticas (TCTH). Os objetivos da terapia inicial são o controle rápido da doença e a reversão das complicações, minimizando a toxicidade e a mortalidade precoce, e permitindo a coleta de células-tronco hematopoiéticas (CTH) em pacientes elegíveis. → Nesses, deve-se evitar terapia de indução baseada em melfalana, pois compromete a coleta. ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO PARA PACIENTES ELEGÍVEIS A TCTH O tratamento baseia-se na combinação de: → Drogas imunomoduladoras (IMiDs): talidomida, lenalidomida, pomalidomida; → Inibidores do proteassoma (IPs): bortezomibe, carfilzomibe*, ixazomibe*; → Quimioterapia (QT) tradicional: ciclofosfamida, doxorrubicina, doxorrubicina lipossomal; e → Anticorpos monoclonais :daratumumabe* e elotuzumabe*. Não aprovados ainda em primeira linha INDUÇÃO Os pacientes elegíveis para HCT recebem terapia de indução por três a quatro meses antes da coleta de células-tronco, a fim de: → Reduzir o número de células tumorais na MO e sangue periférico; → Diminuir os sintomas; → Mitigar os danos aos órgãos alvo. Durante este tempo, arranjos específicos para o HCT subsequente podem ser feitos para facilitar a transição da terapia. As células-tronco são coletadas neste momento, independentemente de ser usada uma estratégia de transplante precoce ou tardia. Aqueles que optam por atrasar o HCT até a primeira recidiva completam um total de 8 a 12 ciclos de terapia inicial, seguidos de manutenção até a recidiva. TERAPIA PÓS-INDUÇÃO Após terapia de indução e coleta de células-tronco, os pacientes que são elegíveis para HCT devem escolher entre as seguintes abordagens: 1. Estratégia de transplante precoce: Prossiga com HCT autólogo (simples ou duplo) diretamente após a recuperação da coleta de células-tronco 2. Estratégia de transplante retardado: terapia continuada, geralmente com o mesmo regime usado para indução, reservando HCT autólogo até a primeira recidiva 3. HCT alogênico. Para a maioria dos pacientes, a abordagem preferida é a quimioterapia de indução seguida por TCH autólogo precoce ou tardio, em vez de TCH alogênico. A incorporação de HCT autólogo na estratégia de tratamento melhora a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global em relação àquela observada com doses padrão de quimioterapia sozinha. Estudos avaliando estratégias de transplante precoce e tardio demonstraram taxas de sobrevida semelhantes, portanto, qualquer opção é aceitável para a maioria dos pacientes. Embora o TCH alogênico ofereça uma chance de cura, seu uso na terapia inicial é limitado por MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves altas taxas de mortalidade e morbidade precoces. A escolha entre TCH precoce e tardio é individualizada. Os fatores que influenciam esta decisão incluem: → Preferência do paciente; → Estratificação de risco (HCT precoce é preferido paraMM de alto risco); → Idade (conforme a idade se aproxima dos 70, HCT precoce é preferido); → Resposta e tolerabilidade ao regime de quimioterapia inicial; → Aprovação de seguro (algumas seguradoras não cobrem a colheita de células-tronco e criopreservação sem transplante imediato); e → Instalações e recursos dos centros para armazenamento de longo prazo de células-tronco. É importante ressaltar que os pacientes que optam por adiar o transplante podem ter um evento ou complicação que os torna inelegíveis para o transplante no futuro. MANUTENÇÃO APÓS HCT Como virtualmente todos os pacientes que recebem HCT autólogo para MM eventualmente desenvolvem doença recidivante, os ensaios investigaram o uso de agentes quimioterápicos e biológicos na tentativa de eliminar células malignas residuais após HCT. Nossa abordagem de tratamento preferencial usa: → Manutenção com lenalidomida para pacientes de risco padrão; e → Manutenção com inibidor de proteassoma para pacientes de alto risco. PACIENTES ELEGÍVEIS AO TRANSPLATE: QUIMIOTERAPIA + TRANPLANTE ESTRATÉGIA DE TRATAMENTO PARA PACIENTES ILEGÍVEIS A TCTH Os pacientes inelegíveis para HCT recebem de 8 a 12 ciclos de terapia inicial com um regime triplo seguido de terapia de manutenção até a progressão, a menos que haja toxicidade significativa; Em pacientes frágeis e não considerados candidatos à terapia tripla, oferecemos terapia dupla com lenalidomida e dexametasona em dose baixa até a progressão. Há um debate contínuo sobre o papel da terapia de manutenção nesses pacientes, e os especialistas diferem em sua abordagem. → Sugerimos terapia de manutenção para a maioria dos pacientes; O tipo de manutenção depende da estratificação de risco e comorbidades. → MM de alto risco: Após 8 a 12 ciclos de terapia tripla, oferecemos aos pacientes manutenção baseada em inibidor de proteassoma até a progressão. → MM de risco padrão: Após 8 a 12 ciclos de terapia tripla, oferecemos aos pacientes manutenção baseada em lenalidomida até a progressão. A!! O risco de um segundo câncer deve ser discutido com todos os pacientes que são tratados com lenalidomida de manutenção. PACIENTES NÃO ELEGÍVEIS AO TRANSPLANTE: QUIMIOTERPIA PROGNÓSTICO A sobrevida do MM varia desde poucos meses a mais de dez anos. O incremento na sobrevida foi mais significativo na última década, devido aos novos tratamentos e à quimioterapia em altas doses, além da melhora nos cuidados de suporte. MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA – P3 | Luíza Moura e Vitória Neves A heterogeneidade da doença está relacionada às características do próprio MM e do paciente. Além disso, o estadiamento utilizando o SDS e o ISS, fornecem a classificação dos doentes em categorias, auxiliando nas informações prognósticas importantes e independentes. Qualquer alteração que apareça na citogenética convencional acarreta um pior prognóstico quando comparado a um cariótipo normal. Translocações e deleções específicas detectadas pela técnica de FISH também têm valor prognóstico. → Alto risco: t(4;14), t(14;16), t(14;20), Del 17p e as anormalidades do cromossoma. Apesar da importância da citogenética molecular, devido ao custo e às dificuldades técnicas, ainda não é um exame realizado de rotina na maioria dos centros.
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