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Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Tuberculose A tuberculose é uma doença infecciosa causada pelo micobacterium tuberculosis, são bactérias aeróbias estritas (temperatura ótima de crescimento é de 37 graus) que possuem uma predileção de acometimento pulmonar, mas pode acometer pleura, meninges, linfonodos, pericárdio, olhos, ossos e rins. *Micobacterioses não-tuberculosas: Doença muito semelhante a tuberculose, mas tem um comportamento biológico diverso e modo de transmissão desconhecido/indeterminado. - Epidemiologia: É a principal causa de doença infecciosa no mundo, com uma alta prevalência no Brasil, mais frequente em homens, se relaciona de forma frequente com comorbidades imunossupressoras, como AIDS, DM1 (insulinodependente), silicose, nefropatias graves e neoplasias. Os dois maiores problemas de tuberculose no mundo são a co-infecção de TB com HIV e a resistência as drogas. - Etiologia: A doença ocorre pela infecção do micobacterium tuberculosis transmitido por meio de gotículas que ficam suspensas no ar, ou seja, transmissão por via inalatória/aerógena por pessoas que possuem a infecção ativa. Isso confere a doença uma relação mais com a zona urbana do que a zona rural, por conta da aglomeração de pessoas, possui uma grande relação com a desnutrição também. *As formas extrapulmonares da tuberculose não são transmissíveis, a não ser por algum acidente. - Fisiopatologia: Após a inalação do agente, podem ocorrer algumas coisas: a eliminação do bacilo, infecção latente, rápida progressão para a doença primária (de seis meses a um ano) e a evolução para a doença após um período de tempo da primo-infecção (reativação da infecção latente). Antes das gotículas chegarem até os alvéolos, elas podem entrar em contato com o muco das vias aéreas e serem eliminadas por células de defesa antes de chegarem até os alvéolos. Após chegarem nos alvéolos, os bacilos vão ser fagocitados por neutrófilos e macrófagos alveolares, nessa etapa eles podem ser eliminados, mas vão deixar o rastro de que você já teve contato com o bacilo da tuberculose, ou podem continuar se replicando, o que vai desencadear uma resposta imune de hipersensibilidade tardia, culminando com a formação de uma resposta inflamatória granulomatosa, é geralmente silenciosa sem a apresentação de sintomas, os granulomas vão evoluir com necrose caseosa no seu interior, processo que elimina muitos bacilos e deixa outros latentes. A necrose caseosa de dentro do granuloma pode evoluir com cicatrização e fibrose, caracterizando a infecção latente, mas sem adoecer, ou pode não resolver, nesse caso, esse cáseo pode sair se espalhar por via broncogênica, linfática ou hematogênica a medida que a necrose vai destruindo estruturas que servem de disseminação para o bacilo que está nesse conteúdo caseoso, que caracterizaria a doença primária, com sintomatologia e acometimento pulmonar, ganglionar, ou acometimento de outros órgãos como rins e fígado por conta da disseminação hematogênica. Todo esse processo caracteriza a fase primária da doença que pode seguir com a tuberculose primária ou a infecção latente. Imagem de tuberculose primária com nódulos calcificados no hilo pulmonar direito e em base pulmonar direita. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Radiografia de uma criança com a tuberculose primária progressiva, ou seja, que evoluiu com a doença. Criança com um foco cavitário pulmonar em pulmão direito. A reativação da infecção, a partir de um foco primário depois de alguns anos ou a partir de uma nova infecção pelo micobacterium é chamada de fase pós-primária, que diferente da fase primária, não é autolimitada e tem sintomatologia presente, o principal foco de acometimento dessa fase da doença é o pulmão, as formas extrapulmonares aqui são muito mais raras, mas não deixam de acontecer. Imagem que resume os dois caminhos que podem levar a doença pós-primária. Radiografia clássica da doença pós-primária, vemos uma grande cavitação no lobo superior do pulmão esquerdo, que por disseminação broncogênica acometeu o lado direito com, que é visível algumas cavitações. As lesões que a tuberculose pode causar são explicadas pela equação de Rich, assim como mostra a imagem abaixo: - Quadro clínico: O quadro clinico da fase primária que fica com infecção latente não possui muitas manifestações clínicas, visto que é mais visualizado por exames de imagem e testes bioquímicos e está relacionada mais com crianças antes dos 3 anos de idade e é autolimitada. Os pacientes com sintomatologia estão mais relacionados com a tuberculose primária com evolução para a doença e fase pós-primária, vão apresentar os sintomas clássico de tosse há mais de 2/3 semanas, podendo ser produtiva ou com escarro, febre vespertina, sudorese noturna e Lucas Melo – Medicina Ufes T103 perda ponderal, além de outros sintomas como dor torácica, dispneia e hemoptise. Quando a tuberculose se instala em regiões extrapulmonares, os sintomas podem ser específicos do local acometido, como linfonodomegalia com focos caseosos, derrame pleural, rouquidão, etc. - Diagnóstico: O diagnóstico de um paciente consiste em sintomatologia, com história de contato prévio, história de tratamento anterior e exame físico. O diagnóstico é feito por meio de baciloscopia, exames de imagem e cultura associados com um quadro clínico compatível. O exame de imagem mais utilizado é o RX de tórax, no qual vamos ver infiltrados e cavitações em lobos superiores principalmente (a fase primária da tuberculose afeta mais lobos inferiores, e a fase pós-primária afeta mais lobos superiores e parte superior do lobo inferior, isso tem relação com a tensão de CO2). Nessa radiografia, vemos nódulos calcificados em base e hilo pulmonar, mas há áreas de infiltrados mais densos nos pulmões, o que deve ser investigado se está relacionado com a TB ou não para realização do tratamento. TB primária evolutiva, é uma criança, vemos uma linfonodomegalia hilar, com áreas de infiltrado deflagrando pneumonia tuberculosa. Tuberculose miliar, com pequenos nódulos espalhados por todo o pulmão, característico de disseminação hematogênica. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Tuberculose pós primária com grande cavitação em lobo superior, esse é o aparecimento típico da lesão. Lesão cavitária vista em tomografia. Tuberculose pós primária mínima com apenas um infiltrado infraclavicular, esses casos costumam passar em branco. Tuberculose miliar, via disseminação hematogênica e tem grande relação com pacientes HIV positivos e terapia de imunossupressão. A baciloscopia é fundamental no diagnóstico e controle da TB, é feita com 2 amostras de escarro e verifica a presença de BAAR (bacilos álcool ácido resistentes) a partir da coloração de Ziehl-Neelsen. A sensibilidade desse exame não é tão alta, o que permite o aparecimento de casos falso-negativos, que são pacientes que estão infectados, mas não foram pegos no teste. Outro método é a cultura, que, a partir do escarro, permite a identificação de qual bactéria entre as micobactérias está causando a infecção e é possível fazer o teste de resistência a antibióticos. A cultura é solicitada em quase todos os pacientes, mas principalmente quando em contato com TB resistente, retratamento, pacientes imunodeprimidos, pacientes com baciloscopia positiva no final do 2º mês de tratamento, falência do tratamento, profissionais de saúde, população de rua, privados de liberdade e indígenas, nessas populações, o diagnóstico rápido é muito importante. PCR é um método que tem uma sensibilidade maior que a baciloscopia, é a reação em cadeia da polimerase que faz uma amplificação dos ácidos nucléicos, ele consegue dizer se o bacilo ainda é resistenteou não a rifampicina, mas não consegue dizer se o bacilo detectado é viável ou não. Se esse teste vier com algum resultado indeterminado, deve ser feito um novo teste. OBS: A dosagem de ADA (ADA-2) é uma alternativa de exame complementar bem moderna. O PPD é um teste de triagem que analisa se o paciente já teve contato com o bacilo causador da tuberculose, não serve muito para o adulto, na criança tem uma utilidade maior. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 *O diagnóstico da tuberculose latente se baseia no PPD, lembrando que tuberculose latente é aquela que o paciente controla a infecção mas não elimina o agente que causa a infecção. *O diagnóstico na infância é complicado, por isso pode ser feiro o lavado gástrico, broncoscopia e escore de pontos para avaliar o paciente (aplicado em crianças menores que 10 anos). - Formas de tuberculose: 1. Tuberculose primária: A partir da infecção pelo bacilo, há a formação de um processo inflamatório granulomatoso com a geração de um nódulo, chamado de nódulo de Gohn, a necrose caseosa que ocorre nesse nódulo pode curar por fibrose e/ou calcificação, o que consiste na infecção latente, ou drenar o conteúdo necrótico para os brônquios, via linfática ou via hematogênica, fazendo a evolução para doença primária. A associação do foco primário de infecção, que é o nódulo de Gohn, com um outro nódulo no parênquima e linfonodos hilares acometidos é denominado complexo de RANKE. A drenagem desse conteúdo necrótico pode afetar outras regiões da árvore brônquica e outras regiões do parênquima pulmonar, pode evoluir para uma tuberculose traqueobrônquica, para um derrame pleural, derrame pericárdico, tuberculose miliar (forma associada a disseminação hematogênica). O processo da infecção, formação do granuloma, formação do nódulo, necrose caseosa, resolução da necrose, seguindo para infecção latente tem a característica de um processo autolimitado. 2. Tuberculose pós-primária: É a reativação da infecção a partir de um foco primário com infecção latente ou uma nova infecção pelo bacilo. Tem uma predileção em afetar lobos superiores e região superior do lobo inferior e é a forma que mais possui sintomatologia na clínica, sendo que os sintomas clássicos são febre vespertina, sudorese noturna, tosse sem resolução a mais de 2 semanas que pode ser ou não produtiva ou com escarro, e, diferente da tuberculose primária, essa não é autolimitada. - Histopatologia: Os achados histopatológicos que definem o diagnóstico de tuberculose são granuloma com necrose caseosa e baciloscopia positiva. Lucas Melo – Medicina Ufes T103 - Tratamento: O tratamento é baseado em um esquema de remédios com 2 etapas (bifásico), a primeira etapa consiste na administração do RHZE (RIPE, rifampicina, isoniazida, etambutol e pirazinamida) por um período de 2 meses e a administração de RH (rifampicina de isoniazida) por um período de 4 meses para o tratamento de todos os tipos de tuberculose. A única exceção é para meningoencefalite, que o tratamento é feito por um período de 9 meses. O tratamento é ambulatorial e diretamente assistido (DOT) com notificação compulsória, e em todos os pacientes que iniciam o tratamento a sorologia de HIV é preconizada. Os efeitos colaterais da medicação devem ser considerados, pois podem ser muito comuns, os efeitos que são semelhantes aos 4 medicamentos são náuseas, vômitos, dor abdominal e exantema ou hipersensibilidade, os efeitos colaterais mais individuais de cada medicação são neuropatia periférica (isoniazida), urina e suor alaranjados (rifampicina) e neurite óptica (etambutol). O tratamento da tuberculose latente é feito com isoniazida (5mg/kg ou 300mg/dia) em algumas situações: Maiores de 15 anos com contato recente com doentes bacilíferos, pacientes com HIV+ e candidatos a início de tratamento com imunossupressores anti TNF-alfa.