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Definição Aumento anormal do volume do fígado. A hepatimetria normal detectada pelo exame clínico atinge 10-12 cm no homem e 8-11 cm na mulher. O peso médio do fígado chega a 1.800 g no sexo masculino e 1.400 g no sexo feminino. A hepatomegalia pode ser classificada como: Leve (hepatimetria de 13-16 cm) Moderada (16-19 cm) Maciça (acima de 19 cm). É interessante observar que o fígado normal mantém uma massa que é determinada pelas necessidades do hospedeiro. Dessa forma, quando o órgão é seccionado em uma cirurgia, ocorre regeneração completa, com recomposição do tamanho original, em cerca de 6 semanas. Nas cirurgias de hepatectomia vários fatores seriam liberados localmente para induzir a multiplicação celular. O fígado pode aumentar de volume por múltiplas causas, mas só algumas costumam produzir aumentos maciços do órgão. Os hepatócitos podem acumular vários tipos de substâncias, como: Gordura, glicogênio e metais pesados (ferro e cobre). Além disso, podem induzir seu sistema enzimático de metabolização e se hipertrofiar quando expostos a alguma droga em doses excessivas. Nos quadros infecciosos acometendo o fígado, pode haver o chamado “desvio inflamatório”, ou seja, o desvio das células do sangue para o parênquima hepático. Outra causa comum para a hepatomegalia é o acúmulo ou retenção de sangue. A congestão hepática pode ser vista nas doenças que levam ao aumento da pressão venosa a jusante do órgão, como: Insuficiência cardíaca congestiva Cor pulmonale Pericardite constritiva Síndrome de budd-chiari. Várias causas extra-hepáticas podem simular hepatomegalia, como: tumores do estômago pseudocisto de pâncreas tumores do cólon (principalmente cólon transverso e transição ascendente/transverso) tumores do rim direito (raro) vesícula biliar distendida presença de massas fecais no cólon transverso CAUSAS DE HEPATOMEGALIA: Congestão venosa (acúmulo de sangue) Insuficiência cardíaca congestiva Insuficiência cardíaca direita predominante (cor pulmonale) Pericardite constritiva Síndrome de Budd-Chiari Doença venoclusiva Obstrução das vias biliares (acúmulo de bile) Cálculos biliares Pancreatite Neoplasias: Pâncreas Papila de Vater Colangiocarcinoma Compressão extrínseca (adenomegalias): Tuberculose Linfomas Metástases de tumores sólidos Colangite esclerosante Cirrose biliar primária Outras doenças das vias biliares Acúmulo de células inflamatórias (desvio inflamatório) Causas infecciosas: Hepatites virais Abscesso hepático Leptospirose Tuberculose Brucelose Sífilis Actinomicose Equinococose (cisto hidático) Esquistossomose Malária Leishmaniose visceral (calazar) Doença de Chagas Toxoplasmose Histoplasmose Dengue Chikungunya Outras infecções Causas não infecciosas: Hepatite autoimune Sarcoidose Acúmulo de substâncias nos hepatócitos/fígado Esteatose Amiloidose Hemocromatose (ferro) Hematopoiese extramedular Doença de Wilson (cobre) Defeitos metabólicos: Glicogenoses Doença de Gaucher (cerebrosídeos) Doença de Niemann-Pick (esfingomielina) Ação de substâncias tóxicas Álcool Hepatite por droga Neoplasias Adenocarcinoma hepático Linfomas Leucemias Tumores metastáticos (estômago, cólon, pâncreas etc.) Hemangioma hepático Outras Cirrose hepática Histiocitose X (célula de Langerhans) Fígado policístico Acromegalia Anemia falciforme FUNÇÕES DO FÍGADO Filtrar o sangue do TGI Secretar bile Metabolizar drogas Sintetizar proteínas A vascularização, localização e funções do fígado o tornam suscetível a várias condições que resultam em hepatomegalia. Função vascular O fígado recebe um duplo suprimento sanguíneo; cerca de 20% do fluxo sanguíneo consistem em sangue rico em oxigênio proveniente da artéria hepática, enquanto 80% consistem em sangue rico em nutrientes proveniente da veia porta a partir do estômago, intestinos, pâncreas e baço. Ou seja, o fígado é tido como um grande reservatório de sangue. Por conta disso, é fácil entender que quaisquer desregulações de pressão sistêmica podem afetar diretamente o fígado e a sua complacência, ou seja, em casos de aumento de PA, o fígado pode distender pela hipervolemia e o oposto pode ocorrer em casos de hipovolemia. FISIOPATOLOGIA CONGESTÃO VENOSA (ACÚMULO DE SANGUE) INSUFICIÊNCIA CARDIACA CONGESTIVA O aumento da pressão venosa transmitida a partir do coração transfere-se a todo o tecido hepático, causando estase venosa e queda da saturação de oxigênio. No exame histológico do fígado, é comum o encontro do centro lobular congesto, contrastando com a palidez da zona periportal. Oscilações rápidas da função cardíaca podem ocorrer necrose de hepatócitos A hepatomegalia pode variar de grau moderado a maciço, com borda romba e dolorosa. borda hepática palpada entre 2 e 8 cm abaixo do rebordo costal direito (RCD). exame clínico refluxo hepatojugular é usado distinguir entre a congestão hepática derivada do coração, das causas intra- hepáticas e da síndrome de Budd-Chiari (obstrução ao fluxo venoso de saída do fígado). refluxo hepatojugular examinador pressiona o fígado com ambas as mãos dispostas em garra e observa o ingurgitamento das veias jugulares. Geralmente, os pacientes com congestão hepática são assintomáticos. Pode acompanhar ASCITE SÍNDROME DE BUDD-CHIARI Mecanismo semelhante ao da ICC, porém a dimensão é muito maior. A obstrução ao fluxo venoso de saída do fígado, que caracteriza a síndrome, pode ser secundária à trombose das veias supra-hepáticas ou à formação de uma membrana intraluminal na veia cava. Ocorre rápido aumento da pressão venosa intra-hepática. aumento do órgão dor local Hepatomegalia maciça NÃO há refluxo hepatojugular. ASCITE mais rápida e acentuada que a ICC Varizes esofagogástricas, a esplenomegalia e a circulação portal 40-60% dos casos A realização de um método de imagem complementar pode mostrar hipertrofia do lobo caudado em um terço dos casos, apesar da atrofia dos demais lobos do fígado. Lobo caudado recebe fluxo preferencialmente da veia porta (pela menor pressão interna) e se hipertrofia. O diagnóstico da síndrome de Budd-Chiari deve ser investigado pelo ultrassom doppler das veias supra- hepáticas, tomografia computadorizada, angiografia por ressonância magnética e venografia (casos duvidosos). DOENÇA VENOCLUSIVA Lesão tóxica do endotélio das vênulas terminais do fígado e dos hepatócitos perivenulares, podendo atingir a total obliteração das vênulas hepáticas terminais. Esse fenômeno leva a manifestações semelhantes à síndrome de Budd-Chiari, com presença de: hepatomegalia de moderada a maciça dolorimento hepático ascite OBSTRUÇÃO DO COLÉDOCO/VIAS BILIARES OBSTRUÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS A obstrução das vias biliares extra-hepáticas causa hepatomegalia ao provocar dilatação dos ductos biliares intra-hepáticos. Ao exame clínico, o fígado apresenta borda romba e firme e a superfície é regular, semelhante à da congestão hepática. coloração verde quando visto à laparoscopia Presença de ICTERÍCIA é o sinal mais importante desse grupo Hepatomegalia em grau moderado COLEDOCOLITÍASE causa mais comum de icterícia obstrutiva. Quadro clínico dores em cólica de forte intensidade no QSD, irradiação para as costas podendo ter náuseas e vôitos. Tríade de Charcot icterícia, febre alta e cólica no quadrante superior direito. indicativo de colangite supurativa. O adenocarcinoma do pâncreas ocorre mais frequentemente na cabeça do órgão , podendo causar a obstrução do colédoco distal. icterícia pode surgir subitamente em 50% das vezes, sendo progressiva em geral. dor epigástrica que pode irradiar-se paraas costas. Na pancreatite crônica ocorrerá estenose da porção intrapancreática do colédoco em um terço dos casos. A icterícia tende a ser fugaz e leve, acompanhando as crises dolorosas da pancreatite crônica. No carcinoma da ampola de Vater, pela sua localização peculiar, a icterícia obstrutiva estará presente em 80% dos casos. dor abdominal e o sangramento digestivo (melena ou hematêmese) podem acontecer. O colangiocarcinoma é o tumor maligno que surge do epitélio da via biliar. Os seguintes sintomas são comuns: perda de peso, dor abdominal no quadrante superior direito com irradiação para as costas, fadiga, náuseas, vômito e febre. prevalência em faixa etária mais idosa, principalmente entre 50-70 anos. Na ascaridíase biliar ocorre migração do verme Ascaris lumbricoides do intestino para a árvore biliar. O paciente apresenta quadro clínico muito grave com cólica biliar intensa, febre alta, e hepatomegalia muito dolorosa pela presença de abscessos hepáticos. OBSTRUÇÕES INTRA-HEPÁTICAS A cirrose biliar primária (CBP) é uma das principais doenças desse grupo. A CBP é doença inflamatória que provoca destruição dos ductos biliares. Quadro clínico prurido, hiperpigmentação da pele e hepatomegalia, em paciente com exames laboratoriais de padrão colestático. 95% dos casos em mulheres As demais causas de colestase intra-hepática produzem hepatomegalia em padrão semelhante ao da CBP. São doenças raras, como a colangite esclerosante primária (CEP). OUTRAS DOENÇAS OBSTRUTIVAS DAS VIAS BILIARES A doença de Caroli é uma doença congênita caracterizada por dilatações císticas dos ductos biliares intra-hepáticos segmentares e multifocais, alternando-se com áreas preservadas. Quadro clínico hipertensão portal, ascite, hemorragia por varizes de esôfago, dor abdominal e prurido. A hepatomegalia é frequente. A esplenomegalia ocorrerá se houver hipertensão portal. ACÚMULO DE CÉLULAS INFLAMATÓRIAS (DESVIO INFLAMATÓRIO) CAUSAS INFECCIOSAS As hepatites virais agudas levam à hepatomegalia de grau leve a moderado, dolorosa à palpação e frequentemente acompanhada de icterícia. Aumento do fígado edema difuso dos hepatócitos por todo o lóbulo, podendo progredir para necrose focal Os abscessos hepáticos, dois tipos mais frequentes: o piogênico e o abscesso amebiano. A hepatomegalia pode ser de grau leve a moderado e é muito dolorosa, com o clássico sinal de Torres-Homem (sinal da percussão hepática dolorosa localizada) positivo Nos abscessos piogênicos em geral os sintomas têm menos de 2 semanas de duração: febre, dor na área hepática e icterícia O abscesso amebiano ocorre após invasão intestinal da Entamoeba histolytica com quadros de disenteria grave sendo concomitantes em 50% dos casos. Geralmente o abscesso amebiano é único, ocupando a porção superior do lobo direito do fígado. A dor abdominal e a febre são os sintomas mais proeminentes. É característica do abscesso amebiano fistulizar para estruturas vizinhas, como pleura, pericárdio, parede torácica e abdominal. A leptospirose tem seu quadro clínico variável iniciando-se geralmente com febre, calafrios, mialgias e cefaleia na maioria dos pacientes. Cerca de 50% apresentam náuseas, vômito e diarreia, e até 35% têm tosse não produtiva. Ao exame clínico, a sufusão conjuntival é característica da doença. Até 40% dos casos poderão apresentar hepatomegalia, esplenomegalia, dores musculares (com ou sem rigidez), linfadenopatia, faringite, dor abdominal ou exantema. O acometimento hepático mais exuberante ocorre na forma ictero-hemorrágica da doença, também conhecida como doença de Weil. Clinicamente, é clássico o aparecimento da icterícia rubínica, na qual pele e mucosas assumem a coloração alaranjada pela associação das cores amarela (excesso de bilirrubina circulante) e vermelha (vasodilatação cutânea). A equinococose (cisto hidático) é causada pela tênia Echinococcus. Duas espécies são mais comuns, o E. granulosus e o E. multilocularis. Os cistos provocados pelo agente aumentam de diâmetro na taxa de 1-5 cm por ano. A esquistossomose é frequentemente acompanhada por hepatomegalia. Tem epidemiologia clássica com referência pelo paciente do contato com águas paradas, onde ocorre a contaminação com as cercárias. O fígado tem consistência firme, borda fina, com aumento predominante do lobo esquerdo sobre o direito. Na fase aguda da doença, a hepatomegalia deve-se ao infiltrado celular e ao edema. Na fase crônica, a fibrose dos espaços-porta leva a hipertensão portal muito acentuada, em geral acompanhada de grande esplenomegalia, e circulação colateral venosa exuberante. Na forma crônica grave, a lesão hepática resulta da agressão imunológica ao grande número de ovos e vermes. Na histologia hepática observa-se fibrose periportal, com vários graus de obstrução dos ramos intra-hepáticos da veia porta. Na malária o fígado aumenta de volume pela hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer, nas quais se observam parasitas, restos de hemácias e pigmento malárico (hemozoína). As formas clínicas agudas cursam com hepatomegalia em aproximadamente metade dos casos, e o fígado assume a cor cinza escura pela impregnação do pigmento malárico. O fígado é firme, doloroso à palpação e regride com o tratamento. Na leishmaniose visceral, a hepatomegalia é leve a moderada, ocorrendo na forma crônica da doença. A hepatoesplenomegalia pode chegar ao grau maciço. O aumento do fígado é homogêneo (lobo esquerdo e direito). A febre quase sempre está presente, em geral entre 37-38 ºC, sendo irregular com períodos afebris de até 2 semanas. No quadro clínico, destaca-se o emagrecimento progressivo, levando o paciente à caquexia. Na doença de Chagas pode haver hepatoesplenomegalia apenas nas formas agudas da doença. Em geral os órgãos são dolorosos à palpação, com aumento de grau moderado. A febre tende a ser diária e elevada, podendo durar de 1-2 meses. O aumento do fígado e do baço na fase aguda se deve ao parasitismo intenso e ao tropismo do Trypanosoma cruzi pelos macrófagos. A toxoplasmose é a infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii e pode apresentar hepatomegalia apenas no quadro agudo, mesmo assim não frequentemente. O gato é hospedeiro definitivo da doença e ajuda na transmissão ao ser humano. A maioria dos pacientes com infecção aguda é assintomática. A hepatomegalia é atribuída à proliferação dos taquizoítos, causando hepatite por necrose focal hepática de curta duração. Nas formas mais graves e generalizadas pode haver ainda: pneumonite, miocardite, encefalite e exantema generalizado (maculopapular, não pruriginoso) poupando a palma das mãos e planta dos pés. Na Histoplasmose a infecção devida à inalação de micronídeas da fase filamentosa do fungo Histoplasma capsulatum. Geralmente, ocorre em pacientes com comprometimento grave da imunidade celular, especialmente pacientes com neoplasias hematológicas e com aids. O quadro clínico é exuberante, com febre alta e prolongada, emagrecimento, náuseas e vômito, diarreia, linfonodomegalia generalizada, lesões cutâneas (papuloulceradas) e pancitopenia. A dengue, uma das viroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (ao lado da Zika e do Chikungunya) apresenta diferentes tipos de hepatomegalia, dependendo da forma clínica da doença. Na dengue clássica, forma com evolução benigna, a hepatomegalia é incomum. Na dengue hemorrágica, forma grave da doença, a hepatomegalia dolorosa está presente, frequentemente atingindo grau moderado. A chikungunya uma das viroses transmitidas pelo Aedes aegypti é a que mais pode apresentar hepatomegalia dolorosa na fase aguda. CAUSAS NÃO INFECCIOSAS Hepatite autoimune doença hepática diagnosticada pelapresença de autoanticorpos séricos contra componentes hepáticos. Atualmente, a hepatite autoimune é classificada como tipo 1 (ou clássica) e tipo 2 (ou LKM-1). O tipo 1 ocorre em todas as faixas etárias, predominantemente no sexo feminino, e o tipo 2 ocorre mais nas mulheres jovens. Muitos pacientes, com apresentação aguda, já apresentam cirrose no momento do diagnóstico. Em geral esses pacientes apresentam doença subclínica por muitos anos. A hepatomegalia é de grau leve a moderado, sendo dolorosa em 40% dos casos. A esplenomegalia associada está presente em torno de 50% dos casos. Sarcoidose doença granulomatosa sistêmica de etiologia desconhecida. A maior característica histológica da doença são os granulomas não caseosos. O fígado é acometido muito comumente nessa doença, com granulomas presentes no espaço-porta. Quadro clínico: infiltrados pulmonares, febre, linfadenomegalia (principalmente no mediastino), exantema papular e uveíte. Uma das formas de apresentação da doença no fígado é como hepatite crônica, levando à hepatoesplenomegalia com hipertensão portal. ACÚMULO DE SUBSTÂNCIAS NOS HEPATÓCITOS/FÍGADO ESTEATOSE O hepatócito é capaz de produzir gordura e exportá-la para todo o organismo. A esteatose hepática (acúmulo de lípides no fígado) ocorre quando o fígado acumula lípides acima de 5% do peso hepático. Entre os lípides acumulados predominam os triglicérides, seguidos dos fosfolípides. Em condições de doença, quando a célula é atacada por drogas (álcool), por mediadores inflamatórios ou agentes infecciosos (vírus hepatotrópicos), pode haver dificuldade na exportação de gordura pelo hepatócito, levando ao acúmulo de gordura e à hepatomegalia. O fígado apresenta consistência firme, tamanho muito variável (aumento de grau leve a maciço), borda romba, sendo indolor à palpação na maioria dos casos. O órgão assume cor amarelo-pálida. No diabetes tipo 1, o acúmulo de glicogênio (e não o acúmulo de gordura) é o responsável pela hepatomegalia dos pacientes, que tende a ocorrer com níveis elevados de glicemia, quando se inicia a terapêutica com insulina. Em crianças desnutridas com kwashiorkor, observa-se a esteatose hepática acompanhada por leve fibrose periportal. O mais provável mecanismo implicado é a menor síntese de lipoproteínas pelos hepatócitos, pela falta da porção proteica da molécula (desnutrição proteica). dificuldade em exportar a gordura, passando a retê-la no citoplasma. AMILOIDOSE está entre as causas de hepatomegalia maciça. Nessa doença ocorre deposição de fibrilas no tecido extracelular de uma variedade de proteínas séricas normais identificadas no tecido pelo teste do vermelho congo. Há 3 tipos principais de amiloidose: primária (AL) – as fibrilas são compostas por fragmentos de cadeias leves monoclonais; secundária ou reativa (AA) – as fibrilas são compostas de fragmentos do amiloide A (reagente de fase aguda); diálise-relacionada – fibrilas compostas de beta2- microglobulina. HEMOCROMATOSE A forma hereditária dessa doença é autossômica recessiva com mutações conhecidas no gene HFE, que produzem aumento da absorção intestinal de ferro. O acúmulo de ferro acontece fígado, coração, pâncreas e pituitária. A hepatomegalia está presente em mais de 95% dos pacientes sintomáticos, sendo de grau moderado a maciço, com aumento de todo o órgão de forma homogênea. O fígado apresenta consistência firme e cor de ferrugem (vermelho-marrom) à laparoscopia. As enzimas hepáticas comumente são elevadas levando cronicamente à cirrose. DOENÇA DE WILSON Nesta doença, há um defeito genético autossômico recessivo que impede os hepatócitos de eliminar o cobre absorvido pela dieta através da via biliar aumento homogêneo do fígado. A hepatomegalia tende a ser de grau leve a moderado. O cobre em excesso leva à lesão hepática progressiva por ser um pró-oxidante e levar à síntese dos radicais livres de oxigênio. Causada por um defeito no cromossomo 13, envolvendo a proteína ATP7B, transportadora de cobre. HEMATOPOIESE EXTRAMEDULAR (METAPLASIA MIELOIDE) A infiltração hepática é muito comum na metaplasia mieloide. Em todos os casos, os pacientes apresentam grande esplenomegalia associada. AÇÃO DE SUBSTÂNCIAS TÓXICAS ÁLCOOL A lesão hepática pelo álcool caracteriza-se por 3 manifestações principais: esteatose hepática, hepatite alcoólica e cirrose. A anormalidade bioquímica mais comum aumento desproporcional da enzima TGO comparada com a TGP, com razão maior que 2. Essa razão tem se mostrado útil na diferenciação da doença hepática pelo álcool da esteato-hepatite não alcoólica. Na fase de esteatose, os hepatócitos são repletos de gordura, que desloca o núcleo para a periferia da célula. O hepatócito não consegue aumentar a exportação da fração VLDL do colesterol e ocorre acúmulo de gordura assintomático nessa fase da doença e o único achado pode ser a presença de hepatomegalia ao exame físico. Na fase de hepatite alcoólica, os hepatócitos mostram-se edemaciados, com presença frequente dos corpúsculos de Mallory. A hepatomegalia está presente em 95% dos casos, com dolorimento local em 50- 70%. Outros sintomas importantes são a icterícia e a febre. Na fase de cirrose alcoólica, observam-se sinais de doença hepática crônica, como spiders, eritema palmar e ginecomastia, sugere presença da cirrose. HEPATITE POR DROGA A lesão hepática aguda induzida por drogas pode ser decorrente das seguintes disfunções: hepatocelulares (citotóxicos) colestáticas mistas citotóxicas/colestáticas esteatose. Uma das características mais marcantes da lesão hepática por drogas é a recuperação hepática rápida com a retirada da droga suspeita. Dependendo da droga, pode haver necrose zonal ou não zonal. Dentre as drogas que podem causar uma necrose zonal, destacam-se: tetracloreto de carbono (zona 3), acetaminofen (zona 3) e o fósforo amarelo (região médio-zonal). No grupo de drogas que pode causar uma necrose não zonal, estão: fenitoína, metildopa, isoniazida, diclofenaco e aspirina. As drogas que produzem um padrão colestático agudo são: clorpromazina, trimetoprima-sulfametoxazol, naproxeno, rifampicina, estolato de eritromicina, captopril, estradiol e amiodarona. Outras drogas podem causar uma esteatose aguda de padrão microvesicular, a saber: tetraciclina (altas doses EV), amiodarona (altas doses EV), cocaína, piroxicam, ácido valproico, zidovudina, estavudina, didanosina. A esteatose crônica induzida por droga do tipo macrovesicular é a maior causadora de hepatomegalia desse grupo. Nesse grupo, destacam-se: glicocorticoides, griseofulvina, metotrexato, nifedipina, tamoxifeno. Já a colestase intra-hepática crônica pode ser observada com as seguintes drogas: amitriptilina, ampicilina, amoxicilina- clavulanato, carbamazepina, clorpromazina, estolato de eritromicina, haloperidol, imipramina, fenitoína, trimetoprima-sulfametoxazol, thiabendazol, tolbutamina, tetraciclina, contraceptivos orais e esteroides anabólicos. NEOPLASIAS CARCINOMA HEPATOCELULAR Vários fatores estão relacionados a maior incidência dessa neoplasia, a saber: infecção crônica pelo vírus B, vírus delta ou C, cirrose de várias origens, uso crônico de drogas, entre outros. O tumor pode ser único, acometendo preferencialmente o lobo direito do fígado, ou assumir padrão nodular, no qual pequenos tumores se espalham pelo órgão. O fígado apresenta consistência endurecida, superfície nodular, e pode ser doloroso à palpação. A suspeita de hepatocarcinoma pode ser levantada em pacientes com cirrose que descompensam com ascite, encefalopatia, icterícia ou sangramento de varizes. O aumento da alfafetoproteína é achado característico. HEMANGIOMA HEPÁTICOÉ o mais comum tumor hepático mesenquimal benigno. Eles variam de tamanho, de poucos milímetros até 20 cm ou mais. Quando são maiores que 5 cm de diâmetro, recebem a denominação de hemangiomas gigantes. Geralmente, são diagnosticados na faixa dos 30-50 anos, com predomínio do sexo feminino (3:1). Esses tumores podem ser encontrados em ambos os lobos hepáticos, mas são mais comuns no lobo direito. Os sintomas mais comuns ocorrem principalmente nos hemangiomas gigantes, e incluem dor abdominal no quadrante superior direito, além de sensação de plenitude. LINFOMAS/LEUCEMIAS Tanto os linfomas de Hodgkin quanto os não Hodgkin podem infiltrar o fígado, levando à hepatomegalia. Como mencionado anteriormente, os linfomas de Hodgkin podem induzir a formação de granulomas hepáticos (mais raro nos linfomas não Hodgkin). Os linfomas indolentes podem induzir à formação de grandes hepatomegalias, enquanto os linfomas agressivos geralmente produzem pequenas massas hepáticas. TUMORES METASTÁTICOS O fígado é sítio frequente de metástases de tumores, principalmente primários do trato gastrointestinal (reto, cólon, pâncreas e estômago). Os tumores urogenitais, neuroendócrinos, do pulmão e da mama também são causas de metástases hepáticas. A dupla vascularização do órgão facilita a implantação e o crescimento de metástases. A hepatomegalia é frequentemente de aspecto irregular e pode atingir grau maciço. OUTRAS CAUSAS HISTIOCITOSES Correspondem a um conjunto de doenças raras, caracterizadas pela proliferação de histiócitos normais ou malignos. Recentemente, foram renomeadas como histiocitose de células de Langerhans (classe I). Essa doença pode atingir crianças e adultos. Nos adultos, a faixa de incidência maior vai de 21-69 anos, com média de idade de 32 anos. O acometimento hepático é visto mais nas crianças com a doença, podendo levar a insuficiência hepática com hipoalbuminemia, ascite, icterícia e alteração do coagulograma. DOENÇA CÍSTICA DO FÍGADO Os cistos simples do fígado são formações císticas com líquido claro, que não se comunicam com a árvore biliar intra-hepática. Geralmente são assintomáticos. Os cistos grandes são mais prováveis causadores de sintomas como: hemorragia espontânea, ruptura na cavidade peritoneal, infecção ou compressão da árvore biliar. O tamanho dos cistos hepáticos é muito variável. Os cistos simples ocorrem mais no lobo direito e no sexo feminino. No fígado policístico, a hepatomegalia pode chegar a ser de grau maciço, dependendo do tamanho dos cistos, e o fígado apresenta consistência firme. ACROMEGALIA Nesses casos, a hepatomegalia apresenta grau leve a moderado, acompanhando outras visceromegalias que caracterizam a doença. O excesso de hormônio de crescimento (GH) circulante estimula a multiplicação dos hepatócitos, tanto in vitro como in vivo. ANEMIA FALCIFORME Aproximadamente 10% dos pacientes com anemia falciforme podem ter “crise hepática aguda”, caracterizada por dor aguda no quadrante superior direito, náuseas, febre em baixo grau, hepatomegalia dolorosa e icterícia. Na crise hepática, pode haver sequestro de grande quantidade de eritrócitos no fígado, além do baço.
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