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Avaliação do estado nutricional (AEN) do paciente hospitalizado, ambulatorial ou domiciliar Objetivos: Identificar os indivíduos com distúrbios nutricionais ou em risco e, desta forma, elaborar condutas dietéticas adequadas. Atividades do nutricionista clínico: ● Anamnese/entrevista – coleta + análise + interpretação de dados + diagnóstico nutricional ● Prescrição/orientação – momento de propor condutas/intervenções dietéticas adequadas ● Acompanhamento – reavaliação periódica para monitorar a resposta às intervenções para definir qual a ser adotada Avaliação do estado nutricional – paciente enfermo: Uma das maiores preocupações nutricionais no ambiente hospitalar. Perda de peso Risco de mortalidade pós-operária - Instabilidade clínica - Imunocompetência -Má cicatrização Desnutrição - Aumento do custo - Perda de peso e massa muscular - Aumento da permanência hospitalar e mortalidade Desnutrição no ambiente hospitalar: No ambiente hospitalar o quadro de desnutrição pode ser determinado por: ● Patologias com elevada demanda calórica ● Redução ou ausência da ingestão adequada de calorias, proteínas – macro ou micronutrientes Características da desnutrição no ambiente hospitalar: ● Comum em idosos ● Não reconhecida e não tratada ● Aumento de readmissões hospitalares ● Permanência hospitalar prolongada ● Aumento de consumo de cuidados de saúde – complicações Quimio -> mucosite -> dor -> medo de comer Fatores de risco nutricional: ● Peso: - Insuficiente: < 80% do peso habitual - Perda involuntária de peso: > 10% do peso habitual nos últimos 6 meses ● Valores laboratoriais alterados: - Albumina sérica: < 3,5g/dL (é preditora de morbi-mortalidade e não de desnutrição) - Contagem total de linfócitos: < 1500/mm³ ● Mudanças dietéticas: - Diminuição significativa da ingestão alimentar (< 60% das necessidades diárias) durante 7 dias ou mais. - Jejum operatório (após a meia noite é desnecessário na maioria dos pacientes): * cirurgias que não apresentam risco de aspiração: líquidos claros ate 2h antes da anestesia * alimentos sólidos: ate 6h antes da anestesia (exceto paciente de risco – ex: cirurgia de emergência) - Dietas hospitalares: * cardápios monótonos, dieta mal cozida e algumas vezes insuficiente. * alterações na consistência aumenta em mais de 3x o risco do paciente não comer toda refeição oferecida. ● Presença de patologia catabólica: - Perdas prolongadas de nutrientes em razão de: fistulas, má absorção, hemodiálise, abscessos, síndrome do intestino curto. - Aumento das necessidades metabólicas devido: queimaduras extensas, cirurgias importantes recentes, infecções, traumatismos, uso de drogas catabólicas. - Doença prolongada: > 3 semanas - Outras alterações clínicas: desnutrição preexistente, neoplasia e tratamento antineoplásico, doenças gastrointestinais, demora na cicatrização, presença de úlceras de pressão. Triagem de risco nutricional: - Primeiro passo para a avaliação do estado nutricional em unidades hospitalares. - Determina se a avaliação nutricional mais detalhada é necessária. ● Triagem: * Identifica o risco nutricional com o objetivo de realizar intervenção precoce. * Sinaliza precocemente pacientes que poderiam beneficiar-se da terapia nutricional. * Possibilita a identificação de características associadas com problemas nutricionais ou dietéticos. * Após a triagem o paciente pode ser classificado em: - Não é de risco, mas deve ser reavaliado em intervalos regulares (a cada 7 dias) - É de risco e necessita de uma maior avaliação do nutricionista * É fundamental para estabelecer o plano dietético e otimizar a qualidade do atendimento * Ferramentas de triagem de risco nutricional: - Mini Nutritional Assessment (MNA) –Miniavaliação Nutricional (MAN); - Subjective Global Assessment –Avaliação Subjetiva Global (SGA); - Nutritional Risk Screening (NRS 2002); - Screening Tool Risk Nutritional Status And Growth (Strong Kids); - Malnutrition Universal Screening Tool (MUST) –Instrumento de Triagem Universal de Desnutrição. - Graz Malnutrition Screening (GMS) -Ferramenta de triagem de risco nutricional A MAN e a ASG podem ser utilizadas tanto para triagem de risco nutricional como para avaliação do estado nutricional (“avaliam história e exame físico”). As ferramentas de triagem de risco nutricional geralmente não contemplam a obesidade, exceto quando associada a uma doença catabólica. Mini avaliação nutricional (MAN): - Foi desenvolvida especificamente para avaliação nutricional de idosos hospitalizados. - É sensível para identificar risco nutricional e desnutrição em estágio inicial, uma vez que inclui aspectos físicos e mentais que frequentemente afetam o estado nutricional do idoso, além de aspectos dietéticos. - Questionário: * Avaliação antropométrica: peso, estatura, perda de peso, CB, CP * Avaliação geral: estilo de vida, uso de medicamentos, mobilidade * Avaliação dietética: número de refeições, ingestão de alimentos, autonomia para comer sozinho * Autoavaliação: percepção da saúde e do estado nutricional Nutritional Risk Screening (NRS 2002): - NRS 2002 é um instrumento de triagem nutricional que inclui, como diferencial, a idade do paciente, tanto de adultos como de idosos, e engloba pacientes clínicos e cirúrgicos no âmbito hospitalar, ou seja, não discrimina pacientes e abrange muitas condições patológicas. - Pode ser aplicado independente da doença e da idade. Por não excluir grupos específicos, o instrumento pode ser considerado o mais recomendado, entre outros, em âmbito hospitalar. - Detecta a desnutrição ou o risco de desenvolvê-la durante a internação hospitalar. Além disso, classifica os pacientes segundo a deterioração do estado nutricional e gravidade da doença, ajustando à idade, quando superior a 70 anos. - Divide-se em: 1. Avaliação do estado nutricional: mensurar altura e peso para o escore do IMC 2. Diagnóstico final: somar os escores das etapas; somar 1 ao escore total = paciente > 70 anos; analisar o risco nutricional > 3 e iniciar o suporte nutricional Malnutrition Universal Screening Tool (MUST): - Instrumento de triagem universal de desnutrição - Pode ser aplicada em pacientes adultos, idosos, cirúrgicos, ortopédicos, em cuidados intensivos, podendo ser adaptada ate mesmo em gestantes e lactantes. Indicada para uso na comunidade, mas também para pacientes ambulatoriais, clínicos ou hospitalizados. - Também tem o objetivo de identificar a obesidade (IMC > 30kg/m²) - Critérios utilizados: 1. Perda não intencional de peso (passado) 2. IMC (presente) 3. Efeito da doença aguda sobre a ingestão alimentar (futuro) STAMP: - Ferramenta de triagem nutricional para avaliação de desnutrição em pediatria. - Baseada em: 1. Pergunta sobre diagnóstico com implicação nutricional 2. Pergunta sobre a ingestão alimentar 3. Avaliação do peso e da altura STRONGkids: - Considerado mais efetivo e menos trabalhoso avaliar o risco nutricional de crianças. - Ele avalia: * Presença de doenças de alto risco ou cirurgia de grande porte prevista * Perda de massa muscular e adiposa, por meio de avaliação clínica subjetiva * Ingestão alimentar e perdas nutricionais (diminuição da ingestão alimentar, diarreia e vômito) * Perda ou nenhum ganho de peso (em crianças menores de 1 ano) - Baseado em: 1. Pergunta baseada em doença/cirurgia – PROFISSIONAL DE SAUDE 2. Pergunta sobre possível depleção nutricional (por ASG) – PROFISSIONAL DE SAUDE 3. Sinais e sintomas gastrintestinais (vomito e diarreia), consumo alimentar e intervenção nutricional preexistente – CUIDADOR 4. Perda/não ganho de peso nas últimas semanas – CUIDADOR - O somatório dos pontos identifica o risco de desnutrição, além de guiar o aplicador sobre a intervenção e o acompanhamento necessário. O escore de alto risco do StrongKids mostraram associação significativa com o maior tempo de hospitalização. Triagem nutricional em pacientes críticos: Nutrition Risk in The Critically (NUTRIC score): - Identifica doenças graves de cuidados intensivos que mais poderão se beneficiarde uma terapêutica nutricional mais agressiva. - A ferramenta une marcadores preditores de desnutrição aguda e crônica, inflamação aguda e crônica e outcome. - A gravidade da doença é dada pela utilização dos scores tradicionais de gravidade utilizados habitualmente nas UTIs, o APACHE e o SOFA. Métodos de avaliação do estado nutricional: - Não há padrão ouro para determinação do EM, por isso, é necessário a obtenção do maior número possível de dados com base na história dietética e clínica, exame físico, medições antropométricas e laboratoriais. - Métodos utilizados: Métodos objetivos Métodos subjetivos Antropometria Exame físico Composição corpórea Avaliação global subjetiva Parâmetros bioquímicos Consumo alimentar Métodos SUBJETIVOS de avaliação do estado nutricional: ● Avaliação subjetiva global (SGA): - Avaliação realizada por meio de entrevista e exame clínico do paciente, engloba não apenas as alterações da composição corporal, mas também alterações funcionais do paciente. - É de grande utilidade quando os demais dados da NA encontram-se indisponíveis - Originalmente desenvolvida e validada para uso em pacientes cirúrgicos, sendo posteriormente aplicada e adaptada a outras situações clínicas. - Indica: * modificações na ingesta alimentar – pode ser quantitativa ou qualitativa e avalia-se o tipo e duração da modificação, bem como descarta qualquer intencionalidade. * alterações no peso corporal – considera-se o percentual de perda de peso e relaciona-se com o tempo de perda. * Presença de sinais e sintomas gastrintestinais – consideram-se essas alterações significativas quando ocorrem diariamente por mais de duas semanas. * presença de doenças que aumentam as demandas metabólicas – resultante de doenças catabólicas (queimaduras, sepse, neoplasia, etc). * o estado funcional – relata alterações na duração e intensidade das atividades diárias. * o grau de perda de gordura e massa muscular - O SGA consiste em um questionário dividido em 2 partes: 1. Perguntas sobre perda de peso, alteração da ingestão, sintomas e alterações da capacidade funcional. 2. Preenchida pelo nutricionista, médico ou enfermeiro e considera a avaliação de fatores associados ao diagnostico que, porventura, aumentem a demanda metabólica. ● Exame físico (semiologia nutricional): - Objetivo de identificar sinais de carências especificas de nutrientes. - Técnicas de exame físico: 1. Inspeção 2. Palpação 3. Percussão 4. Ausculta - Técnicas de exame físico – manifestações de carências nutricionais: Local Sinais Carências Cabelo Perda de brilho, quebradiço, despigmentado, fácil de arrancar (sem dor) Proteína Zinco Olhos Conjuntiva pálida Mancha de Bitot Xerose conjuntival (secura) Xerose córnea (falta de vida) Queratomalacia (córnea delgada) Arco córneo (anel branco ao redor do olho) Xantelasma (bolsas amareladas ao redor dos olhos) Ferro Vitamina A Riboflavina (B12) Piridoxina ( ) Hiperlipidemia Lábios Estomatite angular (lesões nos cantos da boca) Escaras do ângulo Queilose (avermelhamento ou edema de lábios e boca) Riboflavina Gengivas Esponjosa, sangrando Gengiva vazante Vitamina C Pele Hidratação – pode ser avaliada pelo turgor Palidez – redução da cor rósea da pele (anemia, isquemias) Presença de escaras, ulceras de pressão, feridas Cianose – coloração azulada da pele e extremidades das mãos e dos pés Icterícia – coloração amarelada que pode aparecer difusamente na pele, assim como na esclerótica, nas conjuntivas palpebrais, nos lábios. As causas incluem doenças hepáticas e hemólise eritrocitária Carotenemia – coloração amarelada que acompanha concentrações elevadas de caroteno. Não atinge a esclerótica Petéquias – esquimoses, hematomas profundos e hemartroses são observadas nos distúrbios de coagulação sendo agravados ou desencadeados pela deficiência de vitamina K. Língua Escarlate e inflamada Magenta (purpura) Edematosa Papila filiforme, atrofia e hipertrofia Ácido nicotínico Riboflavina Niacina Ácido fólico / Vitamina B12 Glândulas Aumento da tireoide e paratireoide Iodo Proteína Unhas coiloníquias Forma de colher, finas, côncavas Unhas de Terry – com coloração esbranquiçada – comum no idoso e em pacientes com doenças crônicas. Ferro Músculo temporal e Bola gordurosa de Bichart Leve – depressão da musculatura Moderada – exposição do arco zigomático Grave – visualização de um contorno ósseo, envolvendo a orbita, o arco zigomático e o ramo ascendente da mandíbula -> } Músculo polegar adutor Leve – pequena depressão do relevo muscular Moderada – depressão evidente do relevo Grave – visualização do contorno ósseo do indicador e polegar formando uma concha Musculatura dos MMII Coxa – quadríceps femural – ausência de tônus muscular será observada pela atrofia da musculatura e perda do relevo Panturrilha – gastrocnêmico – a presença de alterações morfológicas será observada pela perda de relevo, flacidez muscular e pele com dobras. Musculatura do tórax Supraclavicular, fúrcula esternal, infraclavicular, deltoide e trapézio – atrofia destas regiões indica que o paciente já perdeu massa muscular há muito tempo (perda crônica) Musculatura intercostal e paravertebral Cifose – reduz a sustentação do corpo Redução da capacidade de expansão ventilatória pulmonar Atrofia muscular – maior tempo no ventilador mecânico Sistema digestório Disfagia Odinofagia Pirose ou azia Regurgitação Flatulência Hematemese – vomito com sangue vivo ou em borra de café Melena – eliminação de sangue digerido juntamente com as fezes Enterorragia – eliminação de sangue vivo em > volume e que muits vezes é a própria evacuação, indicando sangramento intestinal Hematoquezia – sangramento do reto ou anus onde fica em torno das fezes sem se misturar com elas ou goteja em pequena quantidade pós evacuação Abdome Plano – normal Globoso – obesidade e gravidas Escavado – afundamento do abdome próximo ao estomago (privação crônica de alimentos) Ascético (ascite) – acúmulo de líquidos no abdome “duro e brilhante” Distensão abdominal Edema (sinal de Cacifo) Hipoproteinemia e/ou hipoalbuminemia Valores: < 5,0g/L de Ptn totais e < 2,5g/L de albumina, são capazes de gerar edemas. Quando no tornozelo, perna e região sacral – maior tempo acamado, maior grau de desnutrição e redução da albumina. Métodos OBJETIVOS de avaliação do estado nutricional: ● Antropometria: idade, sexo, peso corporal, altura, dobras cutâneas, circunferências ou perímetros corporais - Peso: 1. Peso atual: peso aferido na balança no dia ou em até 24 horas do atendimento 2. Peso usual: referido pelo pct como peso “normal”. Usado se não houver relato de perda de peso 3. Peso ideal: definido segundo o IMC médio. 4. Peso ajustado: estimado a partir do peso atual e do ideal (ajustado p/obesidade e desnutrição) 5. Peso corrigido: utilizado para pacientes amputados 6. Peso estimado: utilizado para os casos que são impossíveis de realizar a medida do peso e não há 7. outras formas de determiná-lo - Perda de peso: Tempo Perda significativa % Perda severa % 1 semana 1 -2 > 2 1 mês 5 > 5 3 meses 7,5 > 7,5 6 meses 10 > 10 ● Composição corporal: índice creatinina-altura, excreção de 3-metill-histidina, nitrogênio, potássio e água corporal total ● Níveis hepáticos de proteína: albumina, pré-albumina, transferrina, proteína carreadora de retinol, proteína carreadora de tiroxina ● Testes imunológicos: hipersensibilidade cutânea tardia ● Combinação dos itens anteriores: índices de prognósticos nutricional ● Métodos fisiológicos: função muscular, dinamômetro ● Exames bioquímicos: variam de acordo com a doença – lesões orgânicas e celulares ● Consumo alimentar: importante para avaliar alterações causadas pela doença - Os inquéritos dietéticos podem fornecer informações tanto qualitativas como quantitativas, a respeito da ingestão alimentar, sendo utilizados para avaliar o consumo alimentar de indivíduos e populações. - Métodos retrospectivos: QFA e R24h Etapas da abordagem nutricional do paciente hospitalizado: ● Primeira abordagem – visitainicial: - Realizada até 24 horas após a internação hospitalar. 1. ACOLHIMENTO – onde ocorre a identificação do profissional e o estabelecimento do vínculo nutricionista/paciente. Nesta ocasião são repassadas informações sobre a importância da dieta no seu tratamento. 2. ANAMNESE ALIMENTAR - breve entrevista realizada para identificar preferências, intolerâncias, aversões, alergias, tabus, condições do apetite e da mastigação e funcionamento do trato gastrintestinal. 3. TRIAGEM DE RISCO NUTRICIONAL E AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL – realizada para identificação e classificação do estado nutricional. É necessário que se tenha um protocolo padrão. ● Segunda abordagem – diagnóstico nutricional: ● Terceira abordagem - Intervenção nutricional: 1. Priorização dos diagnósticos nutricionais de acordo com a gravidade 2. Aplicação das intervenções baseadas em evidências 3. Definição dos desfechos para cada diagnóstico 4. Execução da intervenção nutricional Individualizada deve ser estabelecida a partir do cálculo de necessidades energéticas e nutricionais, e adequada a cada doença e/ou situação clínica. ● Quarta abordagem – monitorização e reavaliação: - Monitorização: acompanhamento do paciente e coleta dos novos dados - Reavaliação: comparação com as condições preexistentes, os resultados esperados e os padrões estabelecidos - aceitação e evolução da dieta - avaliação contínua da ingestão alimentar - controle do estado nutricional - necessidade de modificação na conduta nutricional ● Quinta abordagem – orientação nutricional para alta hospitalar: - Realizada mediante constatação da necessidade do paciente de orientação de alta para uma dieta especial. - Fazer com antecedência suficiente para permitir o planejamento individual, a orientação e a compreensão do paciente e/ou do cuidador.
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