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Entendimento das crianças sobre a morte A morte pode ser definida de maneira clara e objetiva, como a “interrupção completa e definitiva das funções vitais de um organismo vivo, com o desaparecimento da coerência funcional e destruição progressiva das unidades tissulares e celulares”. A criança é vulnerável às implicações da morte nas separações triviais do cotidiano. A ausência da figura materna, vivida pelo bebê em seus primeiros meses de vida, é sentida como uma morte, devido aos sentimentos de desespero e solidão. Essas sensações ficam registradas, o que ocasiona uma associação futura entre morte e ausência, perda, separação, aniquilamento e desamparo. O significado de morte nessa fase da vida varia segundo a forma como os adultos com os quais a criança convive lidam com a perda, bem como é influenciado pelo contato que possa ter havido entre a criança e uma pessoa falecida, uma vez que, de acordo com Bromberg (2009), o medo da morte origina-se do medo de perder a pessoa amada, de romper vínculos. Percebe-se que nos primeiros anos de vida, é difícil para a criança definir morte, e isso se deve principalmente ao fato de seu egocentrismo, onipotência e de seu pensamento mágico. Para ela, a morte representa o desconhecido e o mal e está associada à falta de movimento e à cessação de algumas funções vitais. Mas, à medida que a criança cresce, vivencia mortes efetivas no ambiente que a rodeia, o que a faz tentar compreender esses fatos. CONCEITOS Irreversibilidade – compreensão de que o corpo físico não pode mais viver depois da morte, ou seja, o reconhecimento de que não se pode retornar ao estado anterior, pois a morte é algo permanente; Não-funcionalidade – compreensão de que as funções vitais deixam de existir com a morte; Universalidade – compreensão de que tudo o que é vivo morre, ou seja, a morte é um evento inevitável. De acordo com o desenvolvimento cognitivo segundo Piaget a percepção de morte pela criança vai amadurecendo conforme ela cresce. No período pré-operacional (2 aos 7 anos), as crianças não fazem distinção entre seres animados e inanimados, além de não acreditarem na irreversibilidade da morte, que é entendida como castigo e afeta a vida cotidiana da criança. No período das operações concretas (7 aos 11 anos), a criança já sabe distinguir os seres que têm vida dos que não têm, bem como se dá conta da irreversibilidade da morte. Ainda necessita de aspectos perceptivos da situação, como imobilidade, para identificar a morte. É nesse estágio do desenvolvimento que surgem as mais importantes estruturas cognitivas, como o amadurecimento do conceito de causalidade. No período das operações formais (a partir dos 11 anos), a criança percebe a morte como um processo interno do organismo, entendendo a universalidade e inevitabilidade desse evento. Percebemos que o conceito de morte para a criança gira em torno de dois pontos importantes: a percepção da ausência e, em seguida, a compreensão da permanência dessa ausência (irreversibilidade). Nessa concepção, existem quatro fases na compreensão da morte: Fase de incompreensão total, de 0 a 2 anos, a criança acredita que a doença é provocada por ela. Na fase abstrata de percepção mítica, dos 2 aos 4-6 anos, a criança percebe a morte como reversível, provisória e punitiva. Na fase concreta de realismo e de personificação, até os 9 anos, a criança desenvolve a capacidade de compreender a relação de causa e efeito, sendo a morte personificada e percebida como um processo biológico permanente, inevitável, irreversível e universal, gerando angústia e luto. Na última fase, a abstrata, a partir dos 10- 11 anos, ocorre o acesso à angústia existencial, ou seja, a criança desenvolve explicações amplas, gerais e lógicas sobre a morte, reconhecendo-a como oposta à vida corporal. Estudos indicaram que crianças entre três e cinco anos não entendem a morte como definitiva. Nessa faixa etária, a morte é relacionada ao sono e percebem-na como temporária, gradual e reversível. Dos cinco aos nove anos, a criança personifica a morte como alguém que vem buscar a pessoa. Ela passa a ser percebida como irreversível, mas não como universal. A partir dos nove anos, a morte é entendida como cessação das atividades, que ocorre dentro do corpo e tem caráter universal. A criança doente tem um contato mais direto e íntimo com seu corpo, o que a faz percebe as mudanças físicas, facilitando assim a percepção prematura da morte. O problema se agrava quando, no âmbito profissional, lidamos com a morte diariamente, o que é bastante comum no ambiente hospitalar. A situação fica ainda mais complicada quando temos que trabalhar a doença, hospitalização e iminência de morte em crianças, pois a morte na infância é percebida como algo impensável, já que, como defesa, associamos a finitude da vida à velhice. A morte na infância desestrutura emocionalmente o adulto, e este tenta, magicamente, resolver o conflito calando-se. Percebemos que, tanto a equipe de saúde quanto os próprios familiares buscam fugir do tema. Referencia SIQUEIRA, T. D. A. A evolução do significado da morte durante a infância. Universidade federal do Amazonas. EFDeportes.com, revista digital. Buenos Aires, 18. N°183, 2013.
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