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1 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2 APG 3 – As dores do mundo OBJ 1 – ARTICULAÇÕES Os 206 ossos do corpo humano fornecem suporte estrutural, proteção para os órgãos internos e facilitam a locomoção. Entretanto, para que a locomoção seja possível, é importante que esses ossos sejam capazes de se articular uns com os outros. A proteção dos componentes viscerais, ao contrário, é obtida pela imobilidade de ossos adjacentes. O ponto em que dois ossos se encontram adjacentes um ao outro (com ou sem a capacidade de se mover) é chamado de articulação. As articulações no corpo humano são classificadas baseadas na amplitude de movimento que elas exibem e pelo tipo de tecido que mantém os ossos vizinhos unidos. Classificação estrutural (tecido de ligação) Sinovial - os ossos não estão diretamente unidos; compartilham a cavidade sinovial que é fechada pela cápsula articular a qual faz a ligação dos ossos (exemplos: esternoclavicular, ombro, cotovelo, joelho, quadril, radiocarpal e tibioperoniais proximais) Fibrosa - os ossos são unidos com tecido conjuntivo fibroso denso (exemplos: suturas cranianas, articulações tibioperoniais distal e cuboideonavicular) Cartilaginosa - os ossos são unidos por cartilagem (articulações costocondrais); primária - sincondros e (composta por cartilagem hialina), secundária - sínfise (a cartilagem hialina cobre os ossos, mas é a fibrocartilagem que os liga) Classificação funcional (movimento) Sinartrose - pouca / nenhuma mobilidade (principalmente articulações fibrosas) Anfiartrose - alguma mobilidade (principalmente articulações cartilaginosas) Diartrose - elevada mobilidade (articulações sinoviais) Classificação funcional (eixos) Uniaxial - deslizamento ao longo de um único eixo Biaxial - move-se ao longo de dois eixos distintos Multiaxial - move-se ao longo dos três eixos CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES ARTICULAÇÕES SINOVIAIS As articulações sinoviais são mais frequentemente encontradas ao longo dos membros. Para que uma articulação seja classificada como sinovial, os dois ossos adjacentes participantes da articulação devem ser revestidos por cartilagem hialina. Além disso, a articulação é envolvida por uma cápsula que envolve a cavidade articular. O interior da cápsula é coberto por uma membrana sinovial, que é responsável por produzir e secretar líquido sinovial que lubrifica a articulação, ajudando a reduzir o atrito entre as extremidades ósseas onde elas se articulam uma com a outra. A cápsula é reforçada ainda por ligamentos, tendões e músculo esquelético. Essas articulações são capazes de uma ampla gama de movimentos e, consequentemente, são mais suscetíveis a luxações. Existem vários exemplos de articulações sinoviais, todas capazes de uma gama variada de movimentos. Estas incluem: a articulação esternoclavicular o ombro o cotovelo o quadril o joelho a articulação radiocarpal as articulações tibiofibulares proximais ARTICULAÇÕES FIBROSAS Em contraste com as articulações sinoviais, as articulações fibrosas são mais simples e menos móveis. As bordas articulares dos ossos são ligadas por tecido conectivo (conjuntivo) fibroso. A movimentação nessas articulações é desprezível. Articulações fibrosas são encontradas somente em três áreas ao longo do corpo. No crânio, por volta dos três anos, todas as fontanelas (regiões moles entre os ossos cranianos) se terão fundido. Os remanescentes, chamados de suturas cranianas, são conexões fibrosas (ligamentos suturais) que ocupam o espaço articular. Os ossos adjacentes irão ossificar completamente com o tempo, o que pode resultar em uma obliteração das linhas de sutura. Um segundo exemplo de articulações fibrosas são as articulações tibiofibulares (tibio-peroniais) distais e cuboideonavicular (entre os ossos cuboide e navicular). Elas são mantidas em sua posição por ligamentos interósseos, e são chamadas de articulações sindesmóticas (traduzido do grego, significando “mantidas unidas com uma faixa”). A articulação fibrosa final é encontrada na boca, onde a extremidade fixa dos dentes se articula com o alvéolo dentário. Essa articulação é chamada de gonfose. ARTICULAÇÕES CARTILAGINOSAS Articulações cartilaginosas são caracterizadas principalmente pelo fato de que elas conectam seus ossos vizinhos através de cartilagens. Elas exibem uma gama de movimentos que se https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/quantos-ossos-pode-encontrar-no-corpo-humano https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/ossos https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/histologia-da-cartilagem-hialina https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-ombro-glenoumeral https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-cotovelo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/visao-geral-e-tipos-de-tecido-conjuntivo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/visao-geral-e-tipos-de-tecido-conjuntivo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/cranio https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/as-suturas-cranianas https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-do-dente-pt 2 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco encontra entre as articulações sinoviais e as fibrosas. Existem dois tipos de articulações cartilaginosas, as sincondroses e as sínfises. As sincondroses (traduzido do grego, significando “com cartilagem”) – também chamadas articulações cartilaginosas primárias – são articulações nas quais cartilagem hialina se encontra com osso. Essas articulações altamente imóveis podem ser observadas nas articulações costocondrais da cavidade torácica anterior e nas placas epifisárias dos ossos longos. As sínfises (cartilaginosas secundárias) são o segundo grupo de articulações cartilaginosas. Elas são encontradas primariamente ao longo da linha média do corpo. As características destas articulações incluem superfícies ósseas adjacentes revestidas por cartilagem hialina e conectadas por tecido fibroso, com algum grau de mobilidade. As articulações intervertebrais, a sínfise púbica e o ângulo manubrioesternal de Louis são todos exemplos de sínfises. Em alguns casos pode haver cavidades articulares, mas elas nunca são sinoviais em sua natureza. AMPLITUDE DE MOVIMENTOS Existem quatro classificações de movimentos articulares. Baseado em sua localização, as articulações podem: se mover para trás e para frente ao longo de um único eixo (uniaxial) se mover ao longo de dois eixos distintos (biaxial) se mover ao longo de todos os três eixos (poliaxial ou multiaxial) deslizar uma sobre a outra (movimentos de deslizamento), no caso de ossos chatos Articulações uniaxiais e biaxiais podem ser subdivididas em relação aos movimentos de articulações específicas. Por exemplo, os cotovelos e joelhos são classificados como articulações em dobradiça (trocleartroses) – somente flexão e extensão podem ocorrer nessas articulações. As articulações radioulnares (radiocubitais) são chamadas de articulação em pivô (trocoides) – o rádio roda sobre a ulna no ponto de contato. Já as articulações temporomandibulares são exemplos de articulações condilares (bicondilianas) – o côndilo da mandíbula encontra-se na fossa mandibular do osso temporal, e a movimentação é restrita a um plano. Articulações biaxiais são elipsoides ou selares. A articulação elipsoide no punho permite desvio ulnar (cubital) ou radial independente, bem como flexão e extensão da mão. Uma combinação destes movimentos dá a falsa impressão de que a articulação do punho é poliaxial (multiaxial). A primeira articulação carpometacarpal possui a forma de uma sela invertida, que permite o movimento em dois eixos, apesar deste não se dar de forma independente. Esses movimentos são vitais para a oposição do polegar e, consequentemente, para a funcionalidade da mão. A mais móvel de todas as categoriasarticulares – as articulações poliaxiais (multiaxiais) – são observadas no ombro, quadril e articulações esternoclaviculares. Elas são chamadas ainda de articulações em “bola e soquete” (esferoides), devido ao formato de bola de uma superfície articular (a cabeça do úmero) e a forma em soquete da outra superfície (a cavidade glenoide). Os membros ligados por essas articulações são capazes de adução, abdução, extensão e flexão. Os movimentos da articulação esternoclavicular diferem, na medida que ela sofre protração, retração, elevação e depressão. Finalmente, as articulações deslizantes (ou articulações planas) podem ser encontradas nas articulações acromioclavicular, intermetacarpal, tibiofibular proximal e algumas das articulações intertársicas. FONTE: KENHUB OBJ 2 - OSTEOARTRITE: ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E FATORES DE RISCO A osteoartrite (OA) é a forma mais comum de doença articular1 e afeta principalmente quadris, joelhos, mãos e pés. Nos EUA, estima-se que 36,4% dos indivíduos com mais de 60 anos apresentem OA de joelhos.2 No Brasil, a população de indivíduos maiores de 60 anos, hoje com cerca de 19 milhões, irá saltar, em 2050, para mais de 64 milhões.3 Trata-se de dado alarmante, considerando- -se a incapacidade, perda de qualidade de vida e os custos ao sistema de saúde gerados por essa doença. Até algumas décadas atrás o tratamento da OA era limitado ao uso de analgésicos simples, anti-inflamatórios, medidas físicas, infiltrações com corticoides e, nos casos refratários, tratamento cirúrgico. O progressivo entendimento da fisiopatologia da OA, a percepção de que o processo não é puramente mecânico e/ou de envelhecimento, e o esclarecimento das vias inflamatórias envolvidas levaram à aplicação clínica de vários outros medicamentos e medidas FONTE: CONCEITOS ATUAIS EM OSTEOARTRITE - Márcia Uchôa de Rezende A osteoartrite (OA) é a mais frequente causa de doença crônica musculoesquelética, sendo sem dúvida, a maior causadora de limitação das atividades diárias na população de idosos. Neste momento, pelo menos 27 milhões de pessoas estão sendo atingidas pela osteoartrite nos EUA, representando um custo anual de aproximadamente 60 bilhões de dólares. Atualmente, cerca de 40% dos adultos com idade superior a 70 anos sofrem de OA do joelho. Destes, 80% apresentam limitações de movimento e em 25% a realização das atividades diárias está comprometida FONTE: OSTEOARTRITE - FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO MEDICAMENTOSO - FÁBIO FREIRE JOSÉ A osteoartrite (OA) tem sido considerada uma condição degenerativa da articulação, conseqüência quase inevitável do envelhecimento. O metabolismo e o fenótipo da cartilagem afetada, no entanto, apontam para uma situa ção oposta, na qual se destaca a presença de condrócitos ativados, que produzem aceleradamente todos os componentes da matriz extracelular. Paralelamente, toma curso um processo de degradação que, ao sobrepujar a capacidade anabólica do tecido, determina sua progressiva perda. Essas alterações https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-do-cotovelo https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/articulacao-temporomandibular https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/anatomia-da-mao 3 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco podem iniciar-se já na idade adulta, mas geralmente ultrapassam o horizonte clínico após a quarta ou quinta década de vida, tornando-se mais prevalente com o avançar da idade. A osteoartrite afeta 3,5% da população geral e aproximadamente 10% dos indivíduos acima dos 60 anos. Com o aumento da expectativa de vida, o contingente atingido tende a alcançar cifras alarmantes. Em face desse cenário, a comunidade científica tem dedicado um crescente esforço na elucidação dos mecanismos fisiopatológicos e no desenvolvimento de fármacos e procedimentos capazes de mudar a história natural da doença. As duas últimas décadas têm assistido ao surgimento de medicamentos com ação específica sobre a cartilagem, denominados fármacos de ação lenta na osteoartrite, mas, embora promissores, a real magnitude da sua eficácia ainda permanece controversa. O transplante de cartilagem e o implante de condrócitos, ativados ou não com fatores de crescimento, já são uma realidade, porém têm indicação limitada aos casos de lesões focais, sendo pouco eficientes na perda difusa da cartilagem, como ocorre na osteoartrite. A mais nova perspectiva intervencionista é o emprego da engenharia tecidual a partir de células-tronco e condrócitos. Ao lado dessas novas opções, o alvo principal do tratamento continua sendo a educação e aplicação de medidas físicas, destinadas basicamente a mudar a distribuição anormal das cargas mecânicas que atuam sobre a articulação. Medidas simples como proteção articular, exercícios apropriados e órteses são altamente eficientes. DEFINIÇÃO A osteoartrite decorre de uma multiplicidade de fatores causais, desencadeantes e agravantes, devendo, portanto, ser encarada como uma síndrome, na qual a perda qualitativa e quantitativa da cartilagem articular acarreta uma significativa remodelação óssea hipertrófica local e uma inflamação secundária, via de regra de pequena magnitude. Para a caracterização da osteoartrite é obrigatória a presença da dor, visto que alterações anatomopatológicas, bioquímicas e verificadas por meio de métodos de imagem podem ocorrer de modo assintomático, situação que não deve ser diagnosticada como osteoartrite. Do ponto de vista fisiopatológico, a osteoartrite é definida como uma insuficiência da cartilagem articular, decorrente de um predomínio da degradação sobre a síntese, que evolui com inflamação local, proliferação sinovial e enfraquecimento global dos ligamentos e músculos. Surge como resultado da interação de fatores biológicos (genéticos, inflamatórios, metabólicos, hormonais e envelhecimento) e mecânicos (trauma, displasias, obesidade, maus alinhamentos, perda de propriocepção etc.). FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5 EPIDEMIOLOGIA Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000, a população com faixa etária acima dos 60 anos representa 8,6% do total ou 15 milhões de indivíduos, e a expectativa de vida atingiu os 70,4 anos. O envelhecimento populacional é uma tendência mundial e as estimativas nacionais apontam na mesma direção: em 2050, cerca de 18% da nossa população será constituída por indivíduos com mais de 65 anos e com uma expectativa de vida de 81,3 anos. Logo, a osteoartrite, que já é um grave problema de saúde pública, afetará cada vez mais pessoas em nosso país, o que poderá comprometer de forma importante a qualidade de vida dos brasileiros, assim como o sistema previdenciário e de saúde. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS No mundo todo, a osteoartrite é identificada como uma das principais causas de afastamento do trabalho, além de onerar significativamente o sistema de saúde por meio de internações e cirurgias reparadoras. No Brasil, dados obtidos junto ao Instituto Nacional de Previdência Social mostram que as doenças osteoarticulares ocupam o terceiro lugar das causas de incapacidade laborativa (10,6%), ficando atrás apenas das doenças mentais e cardiovasculares, e que a osteoartrite responde por 7,8% desses casos. PREVALÊNCIA A osteoartrite acomete aproximadamente 3,5% da população geral e sua prevalência aumenta com a idade, atingindo 10% dos indivíduos acima dos 60 anos2 . Esses dados se referem à doença manifesta e não a achados radiográficos ou histopatológicos isoladamente, pois sabe-se que, muito antes de o processo eclodir cli nicamente, um lento e silencioso curso fisiopatológico compromete as estruturas atingidas. Achados histopatológicos, por exemplo,revelam que o processo nos joelhos e quadris inicia-se já na adolescência, e aos 40 anos 90% dos indivíduos apresentamalguma alteração tecidual compatível com a doença3 . Quanto aos achados radiográficos característicos, 52% da população adulta já apresenta OA de joelhos, e, destes, 20% com quadro moderado ou grave, mesmo sem sintomas. Além disso, 85% dos indivíduos na faixa dos 55 aos 64 anos apresentam algum grau de OA em uma ou mais articulações, e acima dos 85 anos essa cifra aproxima-se dos 100%. O estudo National Health and Nutrition Examination Survey II demonstra que, na faixa etária dos 75 aos 79 anos, as alterações radiográficas compatíveis com a OA estão presentes nas mãos em 84% dos casos, nos pés em 51%, nos joelhos em 13,8% e nos quadris em 3,1% dos indivíduos INCIDÊNCIA A incidência da osteoartrite dos joelhos situa-se entre 1645 e 2406 casos por 100.000 indivíduos-ano. Para a osteoartrite dos quadris, a incidência observada é de 47,36 a 88,05 por 100.000 indivíduos-ano. No estudo de coorte de Framingham, mulheres com 71 anos desenvolveram alterações radiográficas nos joelhos na taxa de 2% ao ano e sintomas no ritmo de 1% ao ano, os homens tiveram taxas de 1,4 % e 0,7%, respectivamente7 . A incidência de osteoartrite das mãos varia de 2 a 4% ao ano, dependendo da idade da população estudada. DISTRIBUIÇÃO ENTRE OS SEXOS A osteoartrite acomete igualmente ambos os sexos até os 40 anos5 . Na década seguinte, as mulheres apresentam uma elevação discretamente superior na incidência da OA das mãos, dos quadris e dos joelhos, e essa tendência se torna 4 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco marcante após os 50 anos. A incidência tende a se estabilizar após os 70 anos nos homens e 80 anos nas mulheres. Na mulher, é mais freqüente a forma generalizada idiopática, com o envolvimento das mãos. FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5 FATORES DE RISCO/ETIOPATOGENIA Gênero, idade, trauma, uso excessivo, genética e obesidade contribuem para iniciar o processo de lesão nos diferentes componentes da articulação. FONTE: CONCEITOS ATUAIS EM OSTEOARTRITE - Márcia Uchôa de Rezende FATORES GENÉTICOS Algumas formas de osteoartrite estão fortemente vinculadas à transmissão genética, como a forma generalizada e a forma nodal das mãos. A prevalência dos nódulos de Heberden é duas vezes mais freqüente em mães e três vezes em irmãs de mulheres que apresentam essa manifestação clínica, quando comparadas a mulheres sem antecedentes familiares. Num estudo, no qual se utilizou a hidroxiprolina urinária como um marcador do catabolismo cartilaginoso, verificouse que filhos de pacientes com osteoartrite das mãos, clinicamente saudáveis do ponto de vista articular e sistêmico, apresentavam evidência de um metabolismo anormal do seu colágeno, corroborando a idéia de que essa forma de osteoartrite teria um componente genético IDADE Existe um aumento na prevalência e incidência da OA com a idade. O motivo pelo qual isso ocorre ainda não está bem esclarecido. Sabe-se que a cartilagem se torna mais suscetível à fadiga, à medida que envelhece. Isso decorre de uma série de alterações bioquímicas no colágeno e nos proteoglicanos da cartilagem. Os condrócitos tornam-se menos capazes de sintetizar proteoglicanos, e o conteúdo dessas moléculas diminui progressivamente durante a exposição da cartilagem a forças de compressão. Além disso, há uma modificação na relação entre os principais glicosaminoglicanos da matriz: a relação sulfato de condroitina 6/sulfato de condroitina 4 está aumentada, e a densidade dos agregados de glicosaminoglicanos diminui. Na OA, pelo menos nas fases iniciais, ocorrem fenômenos opostos ao observado no envelhecimento: a síntese dos proteoglicanos está aumentada e a relação entre os sulfatos de condroitina 6 e 4 está diminuída. Outros fatores estão associados a maior incidência de osteoartrite com o avançar da idade: a carga mecânica sobre a articulação aumenta por causa da perda da propriocepção, redução da congruência articular e instabilidade articular por deficiências musculotendíneas. TRAUMAS Traumas podem ocasionar seqüelas na conformação óssea e articular, roturas miotendíneas, capsulares e ligamentares, consolidação viciosa, rotura e descolamento osteocartilaginosos e meniscais e lesões neurovasculares. Essas alterações podem provocar perda da congruência e estabilidade articular, favorecendo o surgimento ou agravamento da osteoartrite. Segundo alguns autores12, o risco relativo para o desenvolvimento da osteoartrite nos joelhos é 2,95 vezes maior nos indivíduos com história de trauma pregresso. OBESIDADE A obesidade pode ser um fator de risco para a OA em determinadas articulações de carga. Indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35 apresentam risco 4,0 a 4,8 vezes maior para OA de joelhos7,13. No quadril14, o risco de OA foi 2 vezes maior nos indivíduos com IMC de 30 a 35 em relação aos com IMC < 25, porém outros autores não encontraram associação entre OA de quadril e obesidade. DEFORMIDADES ARTICULARES A conformação espacial da articulação é fundamental para o desempenho ideal de suas funções. A existência de deformidades pode aumentar a carga sobre a cartilagem e contribuir para o desenvolvimento da OA. O quadril é uma das articulações que mais freqüentemente apresenta alguma anormalidade, como deslocamento congênito, Legg-Perthes e epifisiólise de cabeça femoral. Variações anatômicas como a displasia acetabular e os ângulos anormais do colo femoral também têm sido relacionadas ao aumento do risco de osteoartrite de quadril. ATIVIDADE FÍSICA OCUPACIONAL Atividades que requeiram determinadas posturas e carga excessiva sobre alguma articulação podem desencadear ou agravar a OA, pois a integridade da cartilagem depende de um constante ciclo de compressão e descompressão articular. Porém, se essa compressão é extrema ou muito prolongada, o processo osteoartrítico pode ser acelerado, como acontece em joelhos de pessoas cujo trabalho exige agachamento prolongado ou como no quadril de trabalhadores rurais. A osteoartrite das articulações interfalangianas distais das mãos, por sua vez, é mais freqüente em trabalhadores da indústria têxtil (fiandeiros e catadores de algodão) e braçais. ATIVIDADE FÍSICA NÃO-OCUPACIONAL A freqüência de osteoartrite é maior em atletas de elite, podendo afetar inclusive algumas articulações não diretamente relacionadas à execução do esporte. Admite-se que os micro e macrotraumas sejam os responsáveis pela doença verificada nesses esportistas. Estudos epidemiológicos não têm demonstrado maior risco de osteoartrite em corredores amadores quando comparados à população geral. Por isso, aceita-se que o esporte isoladamente não tenha poder de desenvolver a osteoartrite, mas sim o esporte muito competitivo. Estudos sugerem que a atividade vigorosa (4 horas por dia), aliada à idade ou a lesões articulares prévias, aumente a incidência de AO DENSIDADE MINERAL ÓSSEA Existe uma menor freqüência da associação entre osteoartrite e osteoporose do que seria a esperada na observação clínica, considerando-se a alta prevalência de ambas. Pacientes com osteoartrite de joelho e quadril normalmente têm uma maior densidade mineral óssea que os indivíduos de controle. DEFICIÊNCIA DE ESTRÓGENO 5 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco Sabe-se que, na mulher, a osteoartrite inicia-se basicamente após os 40 anos, e sua incidência aumenta significativamente após a menopausa. Segundo estudos observacionais, a terapia de reposição hormonal pósmenopausa poderia ter efeito protetor sobre o desenvolvimento de artrose de joelhos, porém esses achados não apresentaram significância estatística18. Assim, ainda permanece no campo das hipóteses a real relação da deficiência estrogênica com a OA. FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5PATOLOGIA A IMPORTÂNCIA DA INFLAMAÇÃO Já é bem estabelecido que a sinóvia, o osso e a cartilagem são os três principais tecidos atingidos pelos mecanismos patológicos da OA.6 A cartilagem tradicionalmente recebe a maior atenção no estudo da OA devido à grosseira destruição encontrada em espécimens patológicos e estudos de imagem, assim como devido a imensa quantidade de processos biológicos nela ativados. Eventos chave que ocorrem na cartilagem incluem o desbalanço metabólico e o surgimento de sinalizadores de degradação, estimulados por cascatas de citocinas, e a produção de mediadores inflamatórios.7 Em pacientes com OA, os condrócitos, assim como as células sinoviais, produzem níveis aumentados de citocinas inflamatórias, como a interleucina 1β (IL-1β) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que, por sua vez, diminuem a síntese de colágeno e aumentam mediadores catabólicos, como metaloproteinases (MMPs) e outras substâncias inflamatórias como interleucina 8 (IL-8), interleucina 6 (IL-6), prostaglandina E2 (PGE2) e óxido nítrico (NO).7 Além disso, estresse mecânico, tanto por compressão estática quanto por dinâmica, aumenta a produção de NO pelos condrócitos, assim como a expressão de óxido nítrico sintetase (NOS). Os agentes oxidantes, entre eles o NO, promovem apoptose de condrócitos, processos catabólicos e degeneração da matriz. Sendo assim, são causadores de dois importantes eventos patogênicos característicos dos condrócitos osteoartríticos - senescência prematura e apoptose. Estes eventos ajudam a formar o conceito de que a OA é uma doença do envelhecimento prematuro da articulação. Sinovite ocorre mesmo nos estágios iniciais da OA e pode ser subclínica. Estudos artroscópicos demonstram alterações na sinóvia de até 50% dos pacientes com OA, muitos dos quais não apresentavam sinais clínicos de sinovite. Técnicas mais novas utilizando ressonância nuclear magnética (RNM) de 3 Teslas têm demonstrado que a inflamação sinovial é mais comum do que se imaginava anteriormente. Diferentemente da Artrite Reumatoide (AR), a inflamação sinovial na OA geralmente é encontrada próxima a áreas com osso e cartilagem patologicamente danificados. Esta sinóvia hiperreativa pode liberar proteinases e citocinas capazes de acelerar a destruição articular FONTE: CONCEITOS ATUAIS EM OSTEOARTRITE - Márcia Uchôa de Rezende Embora a cartilagem articular tenha recebido grande atenção nesta doença, há pouca evidência sugerindo que a perda de cartilagem articular contribui diretamente para a dor, pois essa estrutura é aneural. Em contraste, o osso subcondral, o periósteo, a membrana sinovial e a cápsula articular são ricamente inervados e contêm terminações nervosas que poderiam ser a fonte de estímulos nociceptivos na OA. Osso subcondral Um crescente corpo de evidências mostra que o osso subcondral está ativamente envolvido na patogênese da OA através de vários mecanismos possíveis, incluindo: defeito em seu papel de “amortecedor”; função anormal do osteócito; e aumento da produção de citocinas e metaloproteinases (MMPs). Estes eventos ao nível do osso subcondral são claramente demonstrados por ressonância magnética (MRI) de alta resolução das articulações. Áreas brilhantes do osso subcondral na RM, comumente observadas em OA precoce e estabelecida e em indivíduos com dores nas articulações, provavelmente correspondem a áreas de lesões de edema da medula óssea (EMO), ocorrendo de forma idiopática ou em resposta ao trauma ósseo. FONTE: OSTEOARTRITE - FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO MEDICAMENTOSO - FÁBIO FREIRE JOSÉ A cartilagem normal é um tecido altamente diferenciado, constituído basicamente por uma matriz extracelular responsável por aproximadamente 95% do volume do tecido, enquanto os condrócitos e condroblastos ocupam os 5% restantes (Figura 1A). A matriz cartilaginosa é composta por uma rede de proteoglicanos, açúcares com estrutura terciária altamente complexa, capazes de exercer a função de mola biológica. Os proteoglicanos são constituídos por grupamentos denominados agrecanos, ligados ao ácido hialurônico. Os agrecanos, por sua vez, têm um eixo central protéico no qual se ligam polímeros de açúcares denominados glicosaminoglicanos (Figura 1A). Existem vários tipos de gli cosaminoglicanos, e na cartilagem hialina predominam o sulfato de condroitina e o sulfato de queratano, que são cadeias de dissacarídeos, ricos em glicosamina. Os proteoglicanos sulfatados são por conseqüência altamente aniônicos e hidrofílicos. Já a rede de colágeno da cartilagem exerce funções basicamente de resistência e compactação, além de permitir a interação célula-matriz. O colágeno II é o mais importante, chegando a representar aproximadamente 90% do colágeno total. Os colágenos VI, XI e IX compõem o restante. Na cartilagem em crescimento, existe também o colágeno X. Quando a cartilagem lesada sofre regeneração, ela é substituída por uma fibrocartilagem rica em colágenos I, III e V, que, por serem ectópicos, não têm as propriedades necessárias para conferir resistência e elasticidade ideais ao tecido. Os elementos da matriz são continuamente reciclados para permitir ao tecido capacidade de adaptação à demanda biomecânica. A velocidade desse turnover é bastante lenta na cartilagem normal, porém suficiente para manter o trofismo do tecido. Sabe-se que a osteoartrite ocorre basicamente por um desacoplamento da síntese e da degradação do tecido cartilaginoso, que compromete gravemente as propriedades físico-químicas normais do tecido. As reais causas do desenvolvimento da OA ainda permanecem desconhecidas. Sabe-se, porém, que fatores que aumentam o estresse mecânico e os que propiciam uma cartilagem anormal, isto é, um tecido com capacidades de resistência, elasticidade e dissipação de cargas reduzidas, podem desencadear o surgimento e a piora da osteoartrite (Figura 2). 6 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco O condrócito é o executor e controlador do processo de renovação da cartilagem. Ele é dotado de um arsenal enzimático que degrada o colágeno e os proteoglicanos, e é capaz de elaborar novas moléculas quantitativa e qualitativamente adequadas às necessidades biomecânicas do momento, por meio da ação reguladora de mediadores pró- catabólicos (citocinas) e pró-anabólicos (fatores de crescimento). A atividade catabólica da cartilagem decorre basicamente da ação da IL-1 (interleucina 1) e do TNF alfa (fator de necrose tumoral alfa), sintetizados pelos condrócitos e pela membrana sinovial. Na OA, existe um aumento na produção dessas citocinas, bem como de seus receptores. Elas agem principalmente por meio do aumento de produção e ativação de enzimas líticas, como as metaloproteases via elevação do plasminogênio e seus ativadores, e pela diminuição de produção do TIMP (inibidores teciduais das metaloproteases) e dos inibidores do plasminogênio. Além disso, tanto o fator de necrose tumoral alfa como a interleucina 1 acarretam uma diminuição na síntese dos elementos da matriz e/ou modificam o padrão normal de sua produção. A IL1 age sobre o condrócito, suprime a produção dos colágenos II e IX, próprios da cartilagem articular, e aumenta a produção dos colágenos I e III, o que gera uma matriz impropriamente reparada e agrava a OA. No aspecto morfológico, esse comprometimento se traduz, inicialmente, pela presença de ondulações e perda de continuidade na superfície cartilaginosa (fibrilações e erosões). A cartilagem progressivamente perde es pessura, e o osso subcondral pode ficar exposto e sujeito a cargas anormais. O tecido ósseo, por sua vez, responde com hipertrofia e metaplasia óssea encondral, que leva à formação de exostoses marginais: os osteófitos. Com a evolução do processo, fragmentos de cartilagem destacam-se e ficam soltos no líquido sinovial, sendo fagocitados pelas célulasda membrana sinovial. Isso provoca inflamação sinovial e liberação de citocinas e enzimas proteolíticas no líquido articular, que agravam o processo de degradação da cartilagem. Na análise histológica da cartilagem, inicialmente ocorre um aumento no conteúdo de água, presumivelmente por ruptura na rede colágena, que acarreta uma maior retenção do líquido pelos proteoglicanos. Os condrócitos, distribuídos de maneira homogênea pela matriz, tornam-se metabolicamente mais ativos, com núcleos hipertróficos e multiplicação celular, principalmente junto às fibrilações, formando clones de duas ou mais células (Figura 1B). Nas fases finais do processo artrósico, o estado de hidratação da cartilagem diminui por causa da grande depleção dos proteoglicanos. Verificam-se também a morte de condrócitos e um conseqüente aparecimento de áreas acelulares na cartilagem, além de figuras de necrobiose e presença de restos celulares (Figura 1C). 7 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco Figura 2. A osteoartrite decorre principalmente da atuação de fatores que acarretam sobrecarga sobre a cartilagem articular, bem como de deficiências intrínsecas desse tecido, que vão promover uma degradação da cartilagem, ativando condrócitos que passam a produzir não só elementos estruturais, mas também enzimas com ação sobre as moléculas da matriz, acelerando a sua degradação. Paralelamente, a membrana sinovial se torna inflamada, o que piora o processo. FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5 QUADRO CLÍNICO Na feitura do diagnóstico de OA deve-se considerar, utilizando os critérios do American College of Rheumatology (ACR) para fins de diagnóstico e classificação, a OA do quadril, joelho e mãos em pacientes com dor nessas articulações. Os critérios clínicos e radiográficos do ACR para a classificação da OA do joelho apresentam sensibilidade de 91% e especificidade de 86% e incluem dor no joelho, osteófitos em radiografias do joelho e pelo menos uma das seguintes características: idade superior a 50 anos, rigidez que dura menos de 30 minutos e crepitação. Existe uma grande dissociação clínico- -radiológica na OA. Muitos indivíduos apresentam alterações radiológicas sem a presença de qualquer manifestação clínica. Por outro lado, alguns apresentam quadro clínico compatível com OA, sendo as alterações radiológicas pouco significativas. Assim, o diagnóstico e a conduta da OA do joelho assintomática são comuns, especialmente entre os pacientes mais idosos com o joelho contralateral com OA radiográfica sintomática e naqueles com OA de quadril. FONTE: OSTEOARTRITE - FISIOPATOLOGIA E TRATAMENTO MEDICAMENTOSO - FÁBIO FREIRE JOSÉ O principal sintoma da osteoartrite é a dor articular. No início, ela é inconstante e de fraca intensidade. Com a progressão da doença, torna-se contínua e difusa, com característica basicamente mecânica, isto é, protocinética (a dor aparece com o início do movimento e melhora com o repouso), o que permite diferenciá-la da artrite reumatóide, na qual a dor é do tipo inflamatória, ou seja, presente mesmo ao repouso. A evolução do processo leva à perda gradual da estabilidade articular e, conseqüentemente, à dor de maior intensidade com limitação funcional da articulação. No exame físico, é comum encontrarmos dor à palpação, crepitação aos movimentos e alargamento articular de consistência óssea. Às vezes, estão presentes sinais inflamatórios, derrame articular e comprometimento musculotendíneo. Os casos de evolução mais grave apresentam redução importante da amplitude do movimento, podendo chegar à anquilose. A rigidez matinal, quando presente, geralmente é de curta duração (menor que 15 minutos). A dor difusa à palpação na OA tem um importante valor propedêutico. A identificação de dor localizada periarticular remete à possibilidade do diagnóstico de bursites, tendinites ou lesões ligamentares/meniscais, muitas vezes associadas à própria osteoartrite ou decorrente desta. CAUSAS DE DOR NA OSTEOARTRITE O motivo que mais freqüentemente leva o paciente com osteoartrite a consultar o médico é a dor. Existe, porém, uma relativa dissociação entre a dor e o grau de lesão dos tecidos articulares e também com os achados dos métodos de imagem. Somente 40% dos pacientes com alterações marcantes na radiografia simples apresentam dor. É freqüente a queixa de dor significativa em casos de OA radiograficamente leve. Essa relativa dissociação clínico- radiográfica se deve em parte às várias causas capazes de acarretar dor na artrose. No Quadro I, estão referidas as causas de dor na osteoartrite. FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5 ARTICULAÇÕES MAIS ACOMETIDAS A osteoartrite apresenta características clínicas próprias, segundo a articulação atingida, sendo, portanto, apropriada a abordagem individualizada das articulações mais freqüentemente acometidas. 8 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco JOELHOS A dor protocinética é um sintoma muito característico da OA de joelhos. Existe uma piora à flexão, como ao subir e descer escadas, e, nos casos mais graves, limitação à amplitude completa de flexão e extensão do movimento. Na artrose do compartimento fêmoro-patelar, verifica-se dor mais intensa à flexão e manobra da compressão patelar (pressão forçando a patela contra o fêmur). Crepitação articular é um importante sinal, pois está quase sempre presente. E edema com derrame articular pode ocorrer. Uma piora da dor e do edema pode significar a presença simultânea de artropatia por cristais de pirofosfato de cálcio, osteonecrose ou colapsamento do osso subcondral. A OA do joelho pode evoluir com deformidade em varo e com menor freqüência, em valgo. MÃOS O envolvimento das mãos é mais freqüente nas mulheres e tem forte influência genética, associando-se em aproximadamente 85% dos casos com a forma generalizada da osteoartrite. Nas mãos, as articulações mais afetadas são, em ordem de freqüência, as interfalangianas distais (IFD), a primeira carpometacarpal ou rizartrose e as interfalangianas proximais (IFP). Em muitos pacientes, verificase alargamento de consistência rígida nas regiões dorsolateral e dorsomedial das articulações IFD e IFP, denominadas nódulos de Heberden (Figura 6) e Bouchard, respectivamente. Essa forma de doença é também chamada de OA nodal. Sua distribuição é, via de regra, poliarticular e simétrica. Os nódulos representam proliferação osteocartilaginosa e constituem uma das manifestações mais comuns e características da OA idiopática. Entre os pacientes com nódulos interfalangianos, destaca-se um subgrupo que apresenta a doença com um comportamento mais agressivo, cursando com maior destruição da cartilagem e do osso subcondral, este último podendo apresentar múltiplos cistos e erosões ósseas (Figura 7). Esse tipo de OA constitui a osteoartrite nodal erosiva, caracterizada por diversos autores como uma forma distinta de OA19. A rizartrose engloba o envolvimento do trapézio com o primeiro metacarpal e, em menor freqüência, o trapézio com o escafóide. Ela está particularmente relacionada ao uso do polegar, no seu movimento de pinça, principalmente se houver aplicação de força excessiva. A formação de osteófitos no local acarreta o aspecto de “mão quadrada” (Figura 8). Muitas vezes, o envolvimento dessa região traz sérios prejuízos funcionais. QUADRIL O quadril é uma articulação freqüentemente comprometida, e, em muitos casos, a doença evolui para a incapacidade total com indicação cirúrgica (substituição por prótese ortopédica) (Figura 9). É mais freqüente em homens e pode ser uni ou bilateral. O envolvimento bilateral é o mais freqüente, porém, mesmo quando unilateral do ponto de vista clínico, ambos os quadris podem estar comprometidos. COLUNANa coluna, a dor se apresenta bastante correlacionada aos movimentos e às posturas, isto é, tem caráter mecânico, e melhora com o repouso e durante o sono. Com freqüência, ela também está relacionada à presença de espasmo muscular paravertebral. A radiografia simples da coluna normalmente mostra a presença de osteófitos nas articulações que estão sob forças de compressão (Figura 10). Quando existe um desalinhamento lateral da coluna, isso significa a presença de osteófitos na face convexa. A dor à flexão geralmente indica um comprometimento dos discos intervertebrais, e a dor à extensão, o envolvimento das articulações interapofisárias. O surgi mento de complexos disco-osteofitários decorrentes de acometimento mais avançado dessas articulações pode provocar síndrome da estenose do canal raquimedular, na qual o paciente, normalmente idoso, apresenta dor mecânica na coluna, com piora à extensão e claudicação neurogênica. A claudicação ocorre de forma lenta e progressiva, podendo ocasionar dificuldade para deambulação, por causa da compressão medular, a qual também pode causar dor irradiada para os membros inferiores, do tipo radicular ou atípica. No envolvimento cervical, pode haver dor na região do trapézio e na nuca e cefaléia occipital. Na região lombar, a dor piora com a permanência em pé ou sentado. O envolvimento da coluna torácica, embora freqüente, geralmente não se traduz em sintomas importantes, pois trata-se de um segmento estabilizado pelo gradeado costal. A coluna pode ser alvo também de um envolvimento ósteo- hipertrófico que já foi considerado um tipo específico de osteoartrite, denominada diffuse idiopathic skeletal hyperostosis (DISH) ou hiperostose senil anquilosante, ou ainda doença de Forestier (Figura 11). Caracteriza-se por calcificações e ossificações dos ligamentos ântero-laterais da coluna, afetando mais comumente a coluna torácica e a lombar. É mais evidente do lado direito da coluna. Os discos intervertebrais são relativamente poupados. Podem ocorrer calcificações em outras regiões tenoligamentares do esqueleto como no calcâneo, olécrano e patela. A DISH associa-se também com obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus e doença coronária. Habitualmente, a dor e a limitação na amplitude dos movimentos são leves ou moderadas, desproporcionais ao quadro radiográfico. 9 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 2 - Osteoartrite: etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e fatores de risco FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DA OSTEOARTRI TE Existem diversas classificações da osteoartrite. Uma das mais utilizadas, por considerar aspectos clínicos, patogênicos, bioquímicos, biomecânicos, topográficos e genéticos, é a proposta por Altman et al. 20. Segundo essa classificação (Quadro II), a osteoartrite é definida como idiopática quando não existem fatores predisponentes identificáveis e secundária quando decorre de agentes locais ou sistêmicos que, ao agirem na articulação, modificam suas características biomecânicas, favorecendo o surgimento da OA. Tanto a forma idiopática como a secundária podem ocorrer de modo localizado ou generalizado. A forma localizada é definida quando restrita a um ou a dois grupos articulares (por exemplo, joelhos e quadris) e a generalizada quando envolve três ou mais grupos articulares. Na OA secundária, existe geralmente o envolvimento de poucas articulações, sendo mais freqüentes aquelas que suportam carga, como joelhos, coxofemorais e coluna vertebral. A forma idiopática comumente é poliarticular e quase sempre envolve as mãos. 10 Ially Mariana SOI V FASAI Med 2020.2Obj 3 – Dor inflamatória X Dor mecânica FONTE: CLÍNICA MÉDICA – FMUSP – VOL 5 OBJ 3 – DOR INFLAMATÓRIA X DOR MECÂNICA Essa classificação é referente ao ritmo da dor. Na coluna, o ritmo é dividido em mecânico e inflamatório. A DOR DE CARÁTER MECÂNICO é intimamente relacionada às atividades físicas e posturais do indivíduo, ou seja, a dor normalmente é desencadeada pela atividade/exercício e melhora com o repouso. A DOR INFLAMATÓRIA OU NÃO MECÂNICA pode aparecer ou piorar com o repouso e melhorar com o movimento. O indivíduo pode apresentar dor noturna, ao acordar e dor acompanhada de rigidez matinal. Entre as dores de caráter inflamatório estão as espondiloartropatias
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