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Júlia Camargos FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA CLÍNICA MÉDICA I - ENDOCRINOLOGIA AULA 13 - TRATAMENTO DA HIPERCOLESTEROLEMIA INTRODUÇÃO: ● Hipercolesterolemia = aterosclerose = DAC ● Estudo MRFIT: CT 200-300 mg/dl = risco de 2 a 4 x ● Para cada diminuição de 39 mg/dl no LDL = < 30% DAC ABORDAGEM TERAPÊUTICA: - Considerações gerais ● Descartar doenças, fármacos ou outros fatores ambientais que possam estar determinando a elevação do colesterol ou mesmo exacerbando uma hiperlipidemia primária ● Identificar fatores de risco clássicos modificáveis ou não ● Identificar fatores de risco emergentes Doença tireoidianas: ● Temos que afastar o hipotireoidismo em todo paciente com dislipidemia (pode ser a causa de um dislipidemia secundária) ● Dislipidemia na vigência de hipotireoidismo: tratar o hipo primeiro e normalizar os exames laboratoriais → se a dislipidemia não melhorar, também devemos avaliar a necessidade de tratamento ● Dislipidemia não apresenta risco para hipotireoidismo (o hipot. que pode aumentar os lípides circulantes) Risco cardiovascular: ● Risco do paciente em 10 anos de uma doença aterosclerótica (SCA): tratamento baseado na classificação ● SCVD - Colégio Americano de Cardiologia (mais usada) ○ Em pacientes jovens o valor pode ser subestimado: levar em consideração outros fatores de risco (história familiar de risco cardiovascular) para decidir se começamos com tratamento ou nao FATORES DE RISCO CLÁSSICOS 1 Júlia Camargos FATORES DE RISCO EMERGENTES → ● Pacientes com doenças endócrinas com risco intermediário (de 5 a 19,9%), principalmente os pacientes com riscos adicionais: decisão de tratamento ou de intervenções preventivas não é muito certa ○ Fazer o Escore de Cálcio Coronariano: exame caro, mais complexo, menos acessível ○ A maioria não consegue fazer esse exame, avaliar individualmente cada paciente ● Pacientes sem diabetes, sem doença cardiovascular estabelecida, LDL > 70 com risco > 7,5% OU de 5 a 7,4% com 1 OU + fator de risco OU escore de cálcio coronariano > percentil 75: discutir risco e benefício do tratamento com paciente ○ Levar em consideração o quanto o paciente está disposto a mudar o estilo de vida (dieta, perda de peso, atividade física) ● Pacientes com história familiar prematura de doença cardiovascular estabelecida ou uma estória pessoal de doença cardiovascular: discussão dos benefícios ○ Avaliar a lipoproteína A, lipoproteína B e apolipoproteína B para tomar a decisão ● O risco intermediário na calculadora pode deixar dúvida quanto ao início do tratamento: avaliar individualmente ● Hipertrigliceridemia: tratar todos os pacientes > 500 mg/dL com Fibrato ○ < 500 mg/dL: avaliar o perfil do paciente → modificação do estilo de vida é a primeira conduta terapêutica ■ Dependendo do risco do paciente, tratamos primeiro com estatina para depois avaliar a necessidade do fibrato Dislipidemia e diabetes: ● Diabetes é uma doença aterosclerótica prematura (o que mata o paciente diabético é infarto, AVC ). Paciente com DM têm o mesmo risco cardiovascular que um paciente que teve IAM ● Paciente diabétique que já infartou: muito aterosclerótico ● DM2 com outro fator de risco cardiovascular (paciente de alto risco cardiovascular: > 20%): terapia com estatina + mudança no estilo de vida ○ meta: LDL < 70 mg/dL para reduzir o risco ● Paciente diabético com doença cardiovascular estabelecida (infarto, AVC) ou múltiplos fatores de risco → meta: < 55 mg/dL ○ Muito difícil chegar nessa meta: abordagem com múltiplas terapias 2 Júlia Camargos ● Idoso (>75 anos) com ou sem DM2 em tratamento com estatina: avaliar o prognóstico do paciente, interação medicamentosa (sinvastatina tem alta interação, potencializa efeitos colaterais) ○ Idoso com DM: alto risco cardiovascular → precisa de tratamento ○ Se ele tem mais de 75 anos não tem benefício em iniciar uma terapia para colesterol ● Adultos com DM2 usando estatina e com valor residual de triglicerídeos >150 mg/dL: usar ômega 3 EPA DHA (os genéricos não resolvem) ○ se estiver > 500 mg/dL: adicionamos fibrato ● DM2 com algum grau de lesão renal (entre 1 e 4), principalmente os pós transplantes: tomar estatina independente do risco cardiovascular ● Ao escolher a estatina precisamos levar em conta a função renal: ○ Pitavastatina, Pravastatina (não tem no Brasil) , Rosuvastatina: clearance renal parcial ○ Atorvastatina, Fluvastatina, Lovastatina e Sinvastatina: metabolizadas pelo fígado → usadas nos pacientes com lesão renal ○ Todas as estatinas precisam de ajuste posológico com exceção da atorvastatina e fluvastatina ● Pacientes DM2 com retinopatia: ○ pacientes demoram muito tempo para conseguir o tratamento oftalmológico ○ usar fibrato + estatina para diminuir a progressão da retinopatia diabética ■ fenofibrato é uma molécula protetora na progressão da retinopatia: o paciente deve tomar mesmo com triglicérides normal ● DM1 com 40 anos ou mais OU duração do DM1 > 20 anos OU complicações microvasculares (nefropatia, retinopatia, neuropatia): terapia com estatina independente do risco cardiovascular ○ meta: LDL < 70 (risco cardiovascular aumentado) ○ não pode ser usado em pacientes gestantes ou que queiram engravidar → Na prática existem 4 estatinas disponíveis no mercado: Sinvastatina, Atorvastatina, Rosuvastatina (maior potência) e Pitavastatina (potência muito baixa, exclusiva para quem teve efeito colateral com os outros) ABORDAGEM TERAPÊUTICA - Estratificação de risco: Primeiro passo: identificação de manifestações clínicas da doença aterosclerótica ou de seus equivalentes, como a presença de DM, DVP, etc... = risco > que 20% em 10 anos para evento cardiovascular Modalidade de tratamento: ● Modificação do estilo de vida: ○ obrigatória - principalmente no risco intermediário ○ depende no nível de colesterol do paciente e do objetivo: seguir a tabela ■ paciente jovem, baixo risco, LDL < 190: apenas mudança de estilo de vida, não precisa de tratamento farmacológico logo de início ○ Baixa ingestão de gordura na alimentação; Gordura saturada x monoinsaturada x poliinsaturada; Fibras solúveis e fitosesterois; Atividade física; Perda de peso → abordagem multidisciplinar (nutricionista e educador físico) 3 Júlia Camargos ■ LDL: modificação de estilo de vida na atividade de vida não é tão impactante, o principal é a dieta ■ Triglicerídeos: modificação de estilo de vida na atividade de vida e dieta tem grandes benefícios ● Sempre calcular o SCVD para estratificar o risco do paciente 4 Júlia Camargos TERAPIA FARMACOLÓGICA: Estatinas: ● Mecanismo de ação: inibição HMG-CoA redutase por competição, no fígado ● Tipos/Eficácia: rosuvastatina > atorvastatina > sinvastatina > lovastatina = pravastatina > fluvastatina ○ pitavastatina: droga mais nova, pouco efeito colateral, potência muito baixa ● Indicações: reduzem a mortalidade cardiovascular e a incidência de eventos isquêmicos coronários agudos, a necessidade de revascularização do miocárdio e o AVC - Sinvastatina: usamos no máximo 40 mg. Com uma dose de 20 mg, abaixamos em média 27% do seu colesterol e, 40 mg em torno de 35% → Ex.:Paciente diabáetico com alto risco cardiovascular com LDL de 200 → meta: LDL < 55 - usar sinvastatina nao vao adiantar, precisa de uma mais potente (Rosuvastatina, Atorvastatina) ● Efeitos colaterais: Náuseas, fadiga, distúrbios do sono, mialgia, cefaléia, alteração da função intestinal, erupção cutânea, miosite, aumento de CPK, rabdomiólise e hepatite ○ Estatina pode piorar o DM do paciente (aumenta a glicose) ● Contra-indicações: Gestantes, amamentando e hepatopatias agudas; descontinuadas antes de cirurgias de grande porte 5 Júlia Camargos Medicamentos acessórios: - Resinas sequestrantes de ácidos biliares: usa pouco na prática devido aos efeitos colaterais ● Tipos/Mecanismos de ação: colestiramina, reduzem a absorção intestinal de sais biliares e consequentemente, o colesterol ● Apresentação/Doses: 4g em pó para ser diluído em 60 a 90 ml de líquido, de 12/12hs ● Eficácia/Indicações: <15% a 21% no LDL e > 3% o HDL ● Efeitos colaterais: constipação, plenitude gástrica, meteorismo, piora de hemorróidas ● Interação medicamentosa: digitálicos, tiroxina, tiazídicos, betabloqueadores, varfarina, ácido fólico, ferro, vitaminas lipossolúveis - Ácido nicotínico: usa muito pouco, efeitos colaterais chatos ● Mecanismo de ação: atua inibindo a liberação de AGL pelos adipócitos, suprime também a síntese e secreção hepática de VLDL. ● Posologia: 500 mg ao deitar ajustando a dose a 4 semanas, até 1.000 mg ● Eficácia/Indicações: reduz o CT e LDL em 15 a 25%, < o TG em 30 a 40% e eleva o HDL em 15 a 25% ● Efeitos colaterais: rubor cutâneo, náuseas, tonteira, desconforto abdominal, irritação gástrica, secura da pele, prurido, mialgia e raramente visão turva ● Contraindicações: DM2 (?), alteração da função hepática, doença ulcerosa péptica, gota - Fibrato: não usa para tratar colesterol (usa na terapia coadjuvante da retinopatia diabética) ● Tipos: fenofibrato, ciprofibrato, bezafibrato, genfibrozil 6 Júlia Camargos ● Mecanismos de ação: ativação do fator de transcrição PPAR-alfa e consequente aumento da oxidação de AGL no fígado e músculo, maior captação muscular de AGL, menor aporte de AGL para o fígado e redução de secreção hepática de TG e VLDL, catabolismo da VLDL ● Eficácia: 25 a 60% de redução dos TG, 5 a 25% de elevação do HDL e 10 a 20% de queda do LDL (?) ● Indicação: hiperTG não responsiva a MEV ou à terapia de uma eventual doença de base ● Efeitos colaterais: náuseas, diarreia, redução da libido, dor muscular, astenia, prurido, cefaléia e insônia, elevação discreta das enzimas hepáticas - Ezetimibe: o mais usado (ajuda terapêutica caso a estatina não dê certo) ● Mecanismo de ação: inibe a absorção do colesterol alimentar e biliar sem afetar a absorção de vitaminas lipossolúveis. Usado em associação com estatina ● Eficácia: < 15 a 20% no LDL, > 2,5 a 5% no HDL - Estudo ENHANCE ● Efeitos colaterais/Contra-indicações: poucos efeitos colaterais, evitados na gestação, amamentação e hepatopatias Terapias combinadas: ● Estatina e fibrato: atrativa para tratamento da dislipidemia diabética e da dislipidemia combinada, principalmente quando TG > 400-500 mg/dl ● Outras associações: estatina com niacina, estatina com sequestrante PCSK9: novidade, terapia imunológica, usadas nas dislipidemias genéticas muito graves (não respondem à terapia convencional) ● forma homozigótica da hipercolesterolemia familiar ● pacientes com APOB muito alta ou LDL > 500 ● Praluent: o único disponível do Brasil (muito caro) → Berinjela? efeito benéfico apenas em coelhos (humanos não) 7
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