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No mundo: uma das complicações mais frequentes na gravidez e suas formas mais graves constituem as principais causas de morbidade e mortalidade materna e perinatal! No Brasil: é responsável por cerca de 35% dos óbitos maternos, com uma taxa de 140-160 casos para cada 100.000 nascidos vivos! DIAGNÓSTICO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg Aferir com: • Paciente em repouso por pelo menos 15 minutos; • Posição sentada e pernas descruzadas; • Bexiga vazia; • Em silêncio; • Preferencialmente sem ter praticado atividade física há menos de 60-90 minutos e sem ter ingerido alimentos, café, bebidas alcoólicas ou fumado há menos de 30 minutos; • Manguito apropriado. Se valores alterados, confirmar com nova aferição após 4h em repouso. FATORES DE RISCO • Raça negra. *** • Primigestação → mais de 70% dos casos. *** • Idade materna avançada → acima dos 40 anos. • Nível socioeconômico desfavorável → formas mais graves. • Antecedentes pessoais ou familiares de hipertensão arterial e/ou pré-eclâmpsia. *** • Gravidez múltipla → incidência de 30%, independente da paridade. • Obesidade. *** • Diabetes. *** • Doença renal. • Trombofilias. *** • Isoimunização Rh. • Doença trofoblástica gestacional. ETIOLOGIA Deficiência da invasão trofoblástica: Artérias espiraladas do leito placentário → precisam ser remodeladas ao longo da gestação → de alta resistência e baixo fluxo para diâmetro dilatado, com alto fluxo e baixa resistência. 1ºT → primeira onda de invasão trofoblástica, que atinge os vasos da decídua (mucosa uterina/endométrio). 2ºT (de 16 a 20-22 semanas) → segunda onda de invasão trofoblástica, que atinge vasos miometriais (camada uterina intermediária). Artérias espiraladas não modificadas pela invasão trofoblástica deficiente, mantêm uma camada muscular média, com diâmetro menor e alta resistência. Além disso, também podem surgir alterações ateromatosas nas paredes vasculares. Resultado: • Fluxo uteroplacentário reduzido; • Baixa oxigenação fetal; • Ativação endotelial seguida de vasoespasmo → HAS, oligúria, convulsões; • Aumento da permeabilidade capilar → edema, proteinúria e hemoconcentração; • Ativação da coagulação → plaquetopenia. Outras teorias: • Fatores imunológicos; • Disfunção endotelial e alterações inflamatórias; • Predisposição genética; • Fatores nutricionais; • Estresse. CLASSIFICAÇÃO ACOG E VII DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO • Hipertensão Arterial Crônica (Hac). • Hipertensão Arterial Gestacional (Hag). • Hipertensão Arterial Crônica Com Pré-Eclâmpsia Sobreposta. • Pré-Eclâmpsia (PE) / Pré-Eclâmpsia Grave (PEG) / Eclâmpsia / Sd. Hellp. Não se utiliza mais o termo DHEG (Doença Hipertensa Específica da Gestação)! HIPERTENSÃO CRÔNICA Diagnosticada quando: Há história de hipertensão arterial anterior à gestação; ou Há registro de hipertensão arterial antes da 20ª semana de gestação; ou Há registro de hipertensão arterial após a 20ª semana de gestação, sendo ela persistente além do puerpério. HIPERTENSÃO GESTACIONAL Diagnosticada quando: Há ausência de história de hipertensão arterial anterior à gestação e Ela se manifesta após a 20ª semana de gestação, sem a presença de proteinúria, não se mantendo além do puerpério. PRÉ-ECLÂMPSIA Hipertensão arterial após 20ª semana mais um dos critérios a seguir: 1. Presença de proteinúria: • 300 mg em urina de 24 horas; • Relação proteinúria/creatinúria (RPC) > 0,3 mg em amostra de urina isolada; • Proteína reagente em amostra de fita > 1+. 2. Disfunções orgânicas maternas: • Renal – creatinina > 1,1 mg/dl; • Hepática – TGO/TGP aumentadas em 2x o basal ou epigastralgia; • Neurológica – turvação visual, escotomas, cefaleia, estado mental alterado... • Hematológica – plaquetas < 100.000, hemólise ou CIVD. 3. Disfunções uteroplacentárias: • RCIU assimétrico ou doppler umbilical alterado. HIPERTENSÃO CRÔNICA COM PRÉ-ECLÂMPSIA SOBREPOSTA Diagnosticada quando: Há história de hipertensão arterial anterior à gestação; ou Há registro de hipertensão arterial antes da 20ª semana de gestação; ou Há registro de hipertensão arterial após a 20ª semana de gestação, sendo ela persistente além do puerpério. + proteinúria! ECLÂMPSIA Hipertensão/PE + convulsões tônico-clônicas generalizadas! SÍNDROME HELLP Entidade clínica que pode ocorrer na pré-eclâmpsia ou na eclâmpsia e se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas associados. Incidência de 4-12% na PEG e 11% nos casos de eclâmpsia. Riscos maternos e fetais muito elevados → mortalidade gira em torno de 24% e 30-40% respectivamente. H: HEMÓLISE • Resulta em aumento de bilirrubina e LDH. • Presença de esquizócitos: eritrócito fragmentado pela passagem em vasos lesionados e com deposição de fibrina. EL: ELEVAÇÃO DE ENZIMAS HEPÁTICAS • Resultado da necrose hepatócitos. • TGP mais sensível. • LDH também pode elevar. LP: PLAQUETOPENIA • Resultado do aumento da sua destruição. • Exacerba-se na CIVD. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES Maternas: • Insuficiência hepática; • Insuficiência renal aguda; • Descolamento prematuro de placenta (DPP); • Coagulação intravascular disseminada (CIVD); • Hemorragia cerebral; • Edema pulmonar; • Óbito. Fetais: • Prematuridade; • Restrição de crescimento intrauterino (RCIU); • Sofrimento fetal; • Óbito perinatal. SEGUIMENTO PRÉ-NATAL Identificação de fatores de risco. Rastreamento periódico de pré-eclâmpsia e profilaxia. Controle clínico materno e avaliações periódicas de vitalidade fetal. Encaminhamento ao PNAR ou ao hospital em situações de maior gravidade. Consultas mais frequentes, dependendo de cada situação. RASTREAMENTO LABORATORIAL DE PE/HELLP 1. Ácido úrico – normal abaixo de 4,5 mg/dL. 2. Bilirrubina total – normal até 1,2 mg%. 3. Creatinina – normal abaixo de 1,1 mg/dL. 4. LDH – normal abaixo de 600 UI/dL. 5. TGO – anormal se aumento de 2x o basal (>70). 6. TGP – anormal se aumento de 2x o basal (>70). 7. Proteinúria de 24h ou proteinúria e creatinúria em amostra – normal abaixo de 300 mg ou 0,3 mg (RPC). 8. Coagulograma. 9. Fibrinogênio – normal acima de 300 mg/dL. 10. Hemograma com plaquetas – normal acima de 100-150.000/mm3; esquizócitos não devem estar presentes. VITALIDADE FETAL Cardiotocografia → HAC ou HAG compensadas e sem PE ou outras complicações. • Semanal até o parto a partir de 34 semanas; • A partir de 28 semanas, em casos de pré- eclâmpsia leve, RCIU ou oligoidrâmnio – semanal até o parto; • Casos mais graves devem ser monitorados mais frequentemente; • Em hospital, a cada 48h em média o exame deve ser realizado. Dopplerfluxometria → pode ser realizada a partir de 28 semanas; a periodicidade irá depender do quadro clínico. Perfil biofísico fetal → avaliação dinâmica associada à USG. • Avalia – MF / tônus / MR / FC / ILA; • Normal acima de 8; • Pode ser realizado nas mesmas situações que o doppler ou não. TRATAMENTO – HAC/HAG 1. Pindolol 10-30 mg/dia. 2. Metildopa 500 mg - 2 g/dia → droga mais utilizada no brasil. 3. Anlodipino 5-20 mg/dia. 4. Nifedipina 30-120 mg/dia. TRATAMENTO – CRISE HIPERTENSIVA TRATAMENTO – IMINÊNCIA OU ECLÂMPSIA Indicado em casos de PEG ou eclâmpsia, devendo ser mantido por até 24h após o parto. Usar bomba de infusão e monitorar toxicidade. SULFATO DE MAGNÉSIO Monitorar sinais abaixo a cada 4 horas e suspender o uso da medicação se: • FR < 16 irpm; • Bradicardia; • Diurese < 100 ml/4h; • Reflexos patelares abolidos. Antídoto: • Gluconato de cálcio 10%. Risco de PCR! PREDIÇÃO/PROFILAXIA DE PE Dopplerfluxometria das artérias uterinas na USG morfológica de 1ºT → estima o risco de PE e RCIU precoces. Rastreamento laboratorial de PE e profilaxia medicamentosaem pacientes com fatores de risco principais. Medicações: • Aas 100-150 mg/dia a partir da 12ª semana gestacional e preferencialmente antes da 16ª; suspender com 36 semanas ou manter até o parto → há controvérsias. • Cálcio 1-1,5 g/dia a partir da 12ª semana gestacional até o parto. QUANDO ENCAMINHAR? Ao PNAR → hipertensas com outras comorbidades ou que necessitam de terapia anti-hipertensiva múltipla; casos de pré-eclâmpsia. Ao hospital → FEBRASGO: toda paciente com pré- eclâmpsia deve ser hospitalizada. Controverso – depende do serviço! • Pacientes com controle insatisfatório da PA, sinais premonitórios ou crise hipertensiva; • Pacientes com dopplerfluxometria alterada, RCIU (PFE < p10) ou oligoidrâmnio (ILA < 8); • Pacientes com indicação de interrupção da gestação. QUANDO INTERROMPER? HAG ou HAC → se possível (controle clínico materno e vitalidade fetal preservados), seguir até a DPP. PE + IG ≥ 36/37 semanas: • FEBRASGO: interrupção; • ZUGAIB: se PE leve e houver condições, ir até a DPP. Controverso! PE + IG > 33 e < 36/37 semanas: • Quadro leve – aguardar até 36/37; • Quadro grave – interromper. PE + IG < 33 semanas → conduta conservadora se quadro estável. HELLP: • Acima de 34 semanas: interrupção; • Abaixo de 34 semanas: corticoterapia para maturação pulmonar, seguida de interrupção. Em situações de PEG abaixo de 24 semanas, a realização imediata do parto está associada a baixa chance de sobrevida fetal, enquanto que o prolongamento da gestação acrescenta risco importante para a morbimortalidade materna. Recomendações: • Interrupção após discussão com o casal e obtenção de registro escrito de consentimento informado; • Se a opção for pela conduta expectante, realizar avaliação materno-fetal diária, em centro especializado em obstetrícia de alto risco. COMO INTERROMPER? ATRAVÉS DA INDUÇÃO DO PARTO!!! Dependendo da situação clínica, avaliar via de parto mais rápida no momento. HELLP: • Abaixo de 30 semanas, sem TP e com Bishop < 5 → cesárea após MgSO4; • Abaixo de 32 semanas + CIUR + alteração de AU ao doppler, sem TP → cesárea; • Nas demais situações, em geral, é preferencial a indução do parto. PONTOS-CHAVE Principal lição: ser capaz de detectar precocemente a PE. Assistência pré-natal adequada evita a evolução para formas graves. A via de parto preferencial, quando possível, é a vaginal. Atendimento de formas graves deve ser realizado em serviços terciários, com adequado controle clínico materno e rigorosidade na avaliação da vitalidade fetal.
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