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José Eduardo Palacio Soares – Bloco Nutrição e Metabolismo – GT5 COLESTEROL O colesterol é o esteroide característico dos tecidos animais e desempenha várias funções essenciais no organismo. Por exemplo: O colesterol é componente estrutural de todas as membranas celulares, modulando sua fluidez, e, em tecidos especializados, o colesterol é o precursor dos ácidos biliares, dos hormônios esteroides e da vitamina D. O fígado tem papel central na regulação da homeostasia do colesterol. Por exemplo, o conjunto hepático de moléculas de colesterol é formado a partir de várias fontes, que incluem a dieta, a síntese de novo pelos tecidos extra-hepáticos e a síntese local. O colesterol é eliminado do fígado pela bile no lúmen intestinal sem sofrer modificações ou é convertido em sais biliares. Ele também é enviado para os tecidos periféricos como componente das lipoproteínas plasmáticas. Em humanos, o equilíbrio entre o influxo e o efluxo de colesterol não é perfeito, resultando em deposição gradual de colesterol nos tecidos, particularmente no endotélio vascular. Quando a deposição de lipídeos leva à formação de placas, causando o estreitamento dos vasos (aterosclerose), significa que há um fator potencial de risco à saúde, aumentando a incidência de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e vasculares periféricas. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Nutrição e Metabolismo – GT5 ESTRUTURA DO COLESTEROL O colesterol é um composto muito HIDROFÓBICO. Sua estrutura consiste em quatro anéis hidrocarbonados fundidos (A, B, C e D), chamados "núcleo esteroide". ESTERÓIS: Os esteroides com oito a 10 átomos de carbono na cadeia lateral ligada ao carbono 17 e um grupo hidroxila no C3 são classificados como esteróis. O colesterol é o principal esterol dos tecidos animais. NOTA: Esteróis vegetais, são pouco absorvidos por humanos. Depois de absorvidos pelos enterócitos, eles são transportados ativamente de volta para o lúmen intestinal. Como o colesterol pode ser transportado junto com os esteróis vegetais, esses compostos parecem reduzir a absorção do colesterol presente na dieta. Por esse motivo, dietas contendo fitoesteroides são usadas no tratamento da hipercolesterolemia. ÉSTERES DE COLESTEROL: A maior parte do colesterol plasmático está na forma de éster (com um ácido graxo ligado ao carbono 3). O éster de colesterol é uma molécula AINDA MAIS HIDROFÓBICA que o colesterol livre (não esterificado) e não é encontrado nas membranas celulares, existindo apenas em pequenas quantidades na maioria das células. Devido a sua hidrofobicidade, o colesterol e seus ésteres devem ser transportados ASSOCIADOS A PROTEÍNAS, como componentes de partículas lipoproteicas ou devem ser SOLUBILIZADOS POR FOSFOLIPÍDEOS e SAIS BILIARES NA BILE. SÍNTESE DO COLESTEROL O colesterol é sintetizado por praticamente todos os tecidos humanos, embora fígado, intestino, córtex adrenal e os tecidos reprodutivos, incluindo ovários, testículos e placenta, sejam os maiores contribuintes para a síntese endógena do colesterol presente no organismo. Como no caso dos ácidos graxos, todos os átomos de carbono do colesterol são derivados do acetato e o NADPH é o doador dos equivalentes redutores. A rota de síntese do colesterol é endoergônica, sendo a energia garantida pela hidrólise de ligações tioéster de alta energia da acetil-coenzima A (CoA) e dos fosfatos terminais do trifosfato de adenosina (ATP). A síntese requer enzimas encontradas no citosol e nas membranas do retículo endoplasmático liso (RE). A velocidade da rota de síntese responde a mudanças na concentração de colesterol. Existem mecanismos de regulação que modulam a velocidade da síntese endógena em função da velocidade de excreção. Um desequilíbrio nessa regulação pode elevar os níveis circulantes de colesterol, aumentando o risco de doença vascular. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Nutrição e Metabolismo – GT5 1.SÍNTESE DE HMG-CoA: As duas primeiras reações da síntese de colesterol são similares às que produzem corpos cetônicos, resultando na formação HMG-CoA . Inicialmente, duas moléculas de acetil-CoA se condensam para formar acetoacetil-CoA. A seguir, uma terceira molécula de acetil-CoA é adicionada, produzindo HMG-CoA, um composto de seis carbonos. (Nota: as células do parênquima hepático possuem duas isoformas de HMG-CoA-sintase. A enzima citosólica participa da síntese de colesterol, enquanto a enzima mitocondrial é responsável pela síntese de corpos cetônicos.) 2. SÍNTESE DO ÁCIDO MEVALÔNICO (MEVALONATO) A próxima reação, a redução do HMG-CoA formando ácido mevalônico, é catalisada pela HMG-CoA-redutase e é a etapa limitante da velocidade e o passo regulador da síntese do colesterol. Ela ocorre no citosol, usando duas moléculas de NADPH como agente redutor, liberando CoA, o que torna a reação irreversível. (Nota: a HMG-CoA-redutase é uma proteína intrínseca da membrana do RE, com o domínio catalítico voltado para o citosol). José Eduardo Palacio Soares – Bloco Nutrição e Metabolismo – GT5 3. SÍNTESE DO COLESTEROL: [1] O mevalonato é convertido em 5-pirofosfomevalonato. A reação ocorre em duas etapas, ambas com transferência de um grupo fosfato doado pelo ATP. [2] Uma unidade isoprênica de cinco carbonos, isopentenil-pirofosfato (IPP), é formada pela descarboxilação do 5-pirofosfomevalonato. A reação requer ATP. (Nota: o IPP é o precursor dos isoprenoides, uma família de moléculas com diversas funções. O colesterol é um isoprenoide esterol). [3] O IPP é isomerizado a 3,3-dimetilalil-pirofosfato (DPP). [4] Uma molécula de IPP condensa-se com uma de DPP, para formar o composto de dez carbonos geranil-pirofosfato (GPP). [5] Uma segunda molécula de IPP condensa-se com o GPP para formar farnesil-pirofosfato (FPP), com 15 carbonos. [6] Duas moléculas de FPP condensam-se e sofrem redução, com liberação de pirofosfato, gerando o composto de 30 carbonos chamado ESQUALENO. [7] O esqualeno é convertido no esterol lanosterol em uma sequência de reações catalisadas por enzimas associadas ao RE, que usam oxigênio molecular e NADPH. A hidroxilação do esqualeno desencadeia a ciclização da estrutura, formando lanosterol. [8] A conversão do lanosterol em colesterol é feita em uma sequência de reações, que resultam na: → diminuição da cadeia carbonada de 30 para 27 átomos, →na remoção de duas metilas do C4, →na migração da ligação dupla do C8 para C5 e →na redução da ligação dupla entre C24 e C25. (Nota: essas reações são catalisadas por enzimas associadas ao RE, e incluem diversas reações enzimáticas diferentes). José Eduardo Palacio Soares – Bloco Nutrição e Metabolismo – GT5 REGULAÇÃO DA SÍNTESE DO COLESTEROL A reação da HMG-CoA-redutase, enzima limitante da velocidade e principal ponto de controle da biossíntese do colesterol, está sujeita a diversos tipos de controle metabólico. 1. REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GÊNICA POR ESTEROIS. A expressão do gene da HMG-CoA-redutase é controlada pelo fator de transcrição PLERE-2 (proteína ligadora do elemento de resposta a esteróis- 2), que se liga ao DNA no elemento cis de resposta a esteróis (ERE) no gene da redutase. 2. ACELERAÇÃO DA DEGRADAÇÃO ENZIMÁTICA DEPENDENTE DE ESTEROL. A própria HMG-CoA-redutase é uma proteína integral da membrana do RE sensível a esteróis. Quando os níveis celulares de esteróis são altos, a redutase se liga a proteínas lnsigs. Essa ligação leva à ubiquitinização e à degradação proteossomal da redutase. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Nutrição e Metabolismo – GT5 3. FOSFORILAÇÃO/DESFOSFORILAÇÃO INDEPENDENTE DE ESTERÓIS. A atividade da HMG-CoA-redutase é controlada por modificações covalentesproduzidas pela ação da proteína-cinase ativada por monofosfato de adenosina (AMP) ou AMPK e por uma fosfoproteína-fosfatase. A forma fosforilada da enzima é inativa, enquanto a desfosforilada é ativa. (Nota: a AMPK é ativada por AMP, de modo que a síntese de colesterol, da mesma forma que a dos ácidos graxos, diminui quando existe menor disponibilidade de ATP). 4. REGULAÇÃO HORMONAL: A quantidade (e, consequentemente, a atividade) da HMG-CoA-redutase é controlada por hormônios. O aumento da concentração de insulina e tiroxina favorece o aumento da expressão do gene da HMG-CoA-redutase. O glucagon e os glicocorticoides exercem efeito oposto. 5. INIBIÇÃO POR FÁRMACOS. As estatinas são análogos estruturais do HMG-CoA e são (ou são metabolizados a) inibidores competitivos e reversíveis da HMG-CoA-redutase (Figura 18. 7). Esses fármacos são usados para diminuir os níveis plasmáticos de colesterol em pacientes com hipercolesterolemia. DEGRADAÇÃO DO COLESTEROL Em humanos, a estrutura cíclica do colesterol não pode ser degradada até CO2 e H2O. O núcleo esteroide é eliminado intacto pela conversão em ácidos e sais biliares, que são excretados nas fezes, e pela secreção de colesterol na bile, que o transporta até o intestino para eliminação. No intestino, parte do colesterol é modificada por bactérias antes da excreção. Os principais compostos formados são os isômeros coprostanol e colestanol, derivados reduzidos do colesterol. Junto com o colesterol, esses compostos representam a maior parte dos esteróis fecais neutros.
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