Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
@danielleferreira._ Contaminação do leite Introdução O leite é um alimento muito nutritivo para os seres humanos, mas também é um ambiente favorável para a multiplicação de microrganismos, em função das características que ele apresenta. Segundo a Instrução Normativa nº 76 de 26 de novembro de 2018: na Contagem Padrão em Placas são contadas as bactérias aeróbias estritas e/ou aeróbias facultativas Fontes de contaminação Dependendo da forma como o leite é obtido, ele pode apresentar uma carga microbiana inicial e, dependendo da forma como ele é armazenado, ele pode apresentar uma carga microbiana muito alta no momento do recebimento no laticínios, e isso vai levar a alterações nas características da matéria-prima, levando a perdas de qualidade geral nos produtos final. A contaminação pode chegar a um nível que impossibilita a utilização do leite com matéria-prima. A contaminação depende de várias ações dos responsáveis pela obtenção do leite. Algumas fontes de contaminação: ● Internamente: cocos gram-positivos, bactérias láticas, Pseudomonas spp, Staphylococcus spp (S. aureus), Streptococcus uberis e Escherichia coli (causadora da mastite) ● Externamente: podem estar associados à pele do animal ou ao ambiente (solo, cama, fezes, resíduos de silagem e outros alimentos, água) - Campylobacter spp, Listeria monocytogenes (é patogênico), psicrotróficos formadores de esporos (principalmente Bacillus e Clostridium) ● Manipulador: S. aureus (pode causar intoxicação alimentar) e patógenos de origem entérica (Salmonella, várias cepas de Escherichia) ● Equipamentos e instalações (equipamentos de ordenha, tanques de resfriamento, etc): devido a má higiene realizada ou falta de manutenção preventiva/corretiva - bactérias psicrotróficas gram-negativas (Pseudomonas spp, Flavobacterium spp, Klebsiella spp,, Aeromonas spp, ● Alcaligenes spp - relacionadas à higienização); bactérias gram-positivas (Corynebacterium spp, Micrococcus spp, Microbacterium spp, Bacillus spp e Clostridium formadores de esporos) ● Alguns gêneros de fungos podem ser encontrados no leite: Candida, Kluyveromyces, Pichia, Penicillium) - alguns desses fungos possuem a capacidade de produzir toxinas Como minimizar a contaminação ● implementação das Boas Práticas Agropecuárias - higiene pessoal e saúde dos colaboradores, bom manejo dos animais e efetiva higienização dos tetos antes da ordenha, deixar os animais em pé logo após a ordenha obs: úbere saudável contribui muito pouco para a contaminação da matéria-prima e sua limpeza antes da ordenha é difícil principalmente por ser uma área muito grande Biofilme É uma população microbiana que forma um filme na superfície de equipamentos ou instalações, e eles vão se multiplicando até conseguirem se desprender da superfície, aumentando a contagem de microrganismos no leite cru. Depois de estabelecido, o biofilme só pode ser retirado com uma limpeza mais pesada e muitas vezes mecânica. Resíduos de leite garantem a multiplicação de microrganismos e formam condições favoráveis para selecionar grupos microbianos específicos (bactérias termodúricas). Importância da refrigeração Mesmo sob refrigeração, no decorrer dos dias a contagem de unidades formadoras de colônias tende a aumentar. Por isso é importante ter uma baixa carga microbiana inicial. A multiplicação microbiana é muito mais intensa quando o leite não é mantido sob refrigeração, o que faz com que ele apresente a contagem microbiana máxima muito rapidamente. A temperatura ideal de armazenamento é de no máximo 4ºC, onde o crescimento microbiano é mais lento. Variações pequenas na temperatura de armazenamento trazem consequências consideráveis para o crescimento microbiano. A refrigeração pode ser feita na própria fazenda de origem do leite ou em um tanque de extensão comunitário que fique localizado em uma propriedade que seja próxima. O tanque de resfriamento é um tanque que deve ser dimensionado de forma a permitir o refrigeramento do leite cru em temperaturas de no máximo 4ºC no tempo máximo de 3 horas. O leite deve ser coado antes de ser armazenado, para evitar a presença de pelos ou outros fragmentos grandes. O leite deve ser coletado pela empresa em até 48 horas após a ordenha. Microrganismos psicrotróficos São microorganismos que, apesar de não ter a temperatura de refrigeração como temperatura ótima para seu crescimento, são capazes de crescer na temperatura de refrigeração. São um problema em lácteos pois, quando associados ao leite, são capazes de produzir enzimas (proteases e lipases) que deterioram a qualidade do leite como matéria-prima e após processado. Esses microrganismos trazem grandes perdas, tanto para os produtores quanto para a indústria e é devido a isso que criou-se a exigência de manter o leite sob refrigeração. As proteases degradam as proteínas do leite e é por isso que os leites contaminados com microrganismos proteolíticos apresentam menor rendimento na produção de queijos e outros derivados lácteos. Outros microrganismos são produtores de lipases, que são enzimas que atuam sobre lipídios. Elas hidrolisam principalmente os triglicerídeos, liberando ácidos graxos no meio, o que causa principalmente alteração de sabor nos produtos lácteos produzidos com esse leite (sabor de ranço). Obs: tanto as lipases quanto as proteases não são eliminadas pelo tratamento térmico durante a produção dos produtos lácteos, então elas podem continuar agindo mesmo depois de prontos. Tratamento térmico Alguns microrganismos podem ser incorporados ao leite se não forem tomados os devidos cuidados com a higiene, dentro eles os principais são os deterioradores e os patogênicos. É por isso que o leite deve passar por tratamento térmico, para que os microrganismos sejam eliminados e também para inativar enzimas naturais do leite. Durante o processamento do leite, alguns constituintes podem ser alterados.Durante o tratamento térmico pode ocorrer: desnaturação de proteínas, alterações na lactose, levando à formação de novas substâncias e perda de nutrientes (principalmente vitamina C e tiamina/vit B1). Reação de Maillard - acontece entre proteína e a lactose, levando à formação de compostos de cor castanha. Quando acontece essa reação, ocorre a perda de aminoácidos essenciais, principalmente a lisina, então pode levar a uma perda nutricional. Outra alteração importante que pode acontecer nos constituintes do leite em função do tratamento térmico é a desnaturação proteica. As proteínas do soro são mais sensíveis ao calor, então elas são desnaturadas com mais facilidade. Também pode levar a uma complexação da caseína com as proteínas do soro, o que prejudica a produção do queijo e pode levar a formação de sabores indesejados. Por outro lado, a desnaturação e a complexação são positivas na produção de iogurtes. Obtenção higiênica do leite Biossíntese e secreção do leite A síntese dos componentes do leite ocorre, em sua maior parte, nas células das glândulas mamárias, a partir de precursores resultantes da digestão. Os mamíferos digerem os alimentos com objetivo de obter componentes simples, solúveis e de baixa massa molar, como por exemplo monossacarídeos, pequenos peptídeos e aminoácidos, e ácidos graxos. Essas substâncias são posteriormente transportadas através do sangue aos órgãos do corpo, incluindo a glândula mamária, para fornecerem energia e servirem de precursores no metabolismo, incluindo a síntese de proteínas, lipídeos e outros. Quanto a uma célula secretora da glândula mamária, representada aqui por essa figura à esquerda, os precursores dos componentes do leite são retirados do sangue pela extremidade basal e na extremidade apical os componentes do leite são secretados para o lúmen. Por exemplo, as proteínas são formadas no retículo endoplasmático e transportadas para a vesícula de Golgi e, também nessa vesícula de Golgi, outros componentes do leite. Os triglicerídeos são sintetizados formando pequenos glóbulos que aumentam de tamanho quando são transportados para a extremidade apical da célulae depois também são liberados no lúmen. O epitélio glandular, que consiste em camadas de células secretoras, forma corpos esféricos chamados de alvéolos. Cada um deles possui um lúmen central, no qual o leite recém sintetizado é secretado. A partir daí o leite pode fluir por pequenos dutos, para canais cada vez maiores, até chegar em uma cavidade chamada de cisterna do úbere. Da cisterna, o leite pode ser liberado através das tetas, no entanto normalmente a excreção não ocorre de forma espontânea, sendo necessário ocorrer a contração dos alvéolos a partir da contração da musculatura ao redor dos alvéolos. Para acontecer essa contração, o hormônio ocitocina precisa ser induzido. Esse hormônio é induzido pelo estímulo realizado pelo bezerro mamando ou pelo ordenhador, que simula o movimento do bezerro. Ordenha Hoje, tem-se dois tipos de ordenha: manual e mecânica, sendo possível, em ambas, a obtenção de um leite de alta qualidade microbiológica, ou seja, com baixa contagem microbiana. Esse controle é devido, principalmente, à condição higiênica aplicada na ordenha e armazenamento posterior do leite. Na ordenha manual, há uma pessoa responsável por fazer os movimentos nas tetas dos animais para retirar o leite, e o utensílio coletor para esse leite é um ambiente aberto. Já quando falamos de ordenhadeira mecânica, tem-se um ambiente fechado, devido à estrutura do equipamento. A ordenhadeira mecânica é composta por: bomba de vácuo, depósito de vácuo, recipiente de armazenamento do leite retirado, válvulas reguladoras de vácuo, pulsador, encanamento ou canos de vácuo e teteiras, coletores, mangueiras, drenos, etc, sendo que algumas dessas peças entram em contato com o leite. Apesar da ordenha mecânica acontecer em sistema fechado, tem mais superfícies de contato , em locais que por vezes são difíceis de higienizar, o que exige um maior cuidado com a higiene. É importante frisar que, havendo atenção às boas práticas de higiene, é possível a obtenção de um leite com alta qualidade microbiológica. Visando uma maior qualidade microbiológica do leite cru, é necessário ter atenção à rotina de ordenha. A rotina de ordenha é de total importância para a qualidade microbiológica do leite cru. A ordenha deve ser realizada em ambiente calmo e tranquilo, de preferência em horários fixos, com os animais bem alimentados e descansados. Os primeiros jatos de leite devem ser utilizados para realização dos testes de mastite. O teste da caneca de fundo escuro deve ser realizado em todas as ordenhas e, além de servir para o diagnóstico clínico da mastite, onde verifica-se a possível presença de grumos e sangue, presta-se também a estimular a descida do leite e retirar os primeiros jatos, que poderiam apresentar uma maior concentração de microrganismos. Outro teste que pode ser utilizado antes da ordenha é o CMD, para o diagnóstico de mastite subclínica. Recomenda-se a realização dessa análise no mínimo uma vez por mês. O reagente utilizado nesse teste atua sobre os leucócitos do leite, causando rompimento da parede celular. Esse rompimento faz com que seja liberado o material genético das células, que fará com que aconteça a formação de uma viscosidade dessa mistura de leite e reagente. Quanto maior a concentração de leucócitos no leite, maior a viscosidade formada. Após esses testes iniciais, deve-se realizar a higienização dos tetos com atenção à antissepsia, chamada de pré-dip quando realizada antes da ordenha. O dip em si consiste na imersão dos tetos em solução antisséptica com objetivo de sanitização, ou seja, reduzir a carga microbiana residente dos tetos, para diminuir a chance de contaminação. Para tal, alguns produtos químicos podem ser utilizados, sendo importante respeitar a concentração do princípio ativo e o tempo de contato. Em seguida, os tetos devem ser secos com papel toalha descartável. Após o pré-dip, a ordenha pode ser iniciada. Recomenda-se ordenhar primeiro os animais sadios e por último os animais com mastite ou outra enfermidade. O leite dos animais tratados com antimicrobianos deve ser descartado enquanto estiver sendo feito o tratamento e durante o período de carência. Após a ordenha, é feito o pós-dip, que é uma antissepsia dos tetos após a ordenha. É feito com o objetivo de evitar a entrada de microrganismo no úbere, através do canal do teto, após a ordenha. O produto utilizado protege através da formação de uma camada no teto. Vários produtos diferentes são utilizados tanto no pré quanto no pós-dip, entre eles: iodo, ácido láctico, cloro, clorexidina, compostos fenólicos, etc, sendo que a escolha do produto depende de vários fatores como tempo de validade do produto, estabilidade que o produto oferece, a segurança para os animais e para os ordenhadores, possibilidade ou não de interação com outros produtos, custo-benefício, etc. Microbiota do leite cru O leite é sintetizado de forma estéril, ou seja sem a presença de microrganismos. Então, enquanto ainda está nos alvéolos, o leite é estéril, mas pode ser contaminado ainda dentro do úbere do animal, pois, como o esfíncter do teto da vaca não fecha totalmente logo após o fim da ordenha, pode haver a entrada, mesmo que limitada, de microrganismo por essa via. Durante e após a ordenha, outras possibilidades de contaminação existem e muitas podem ser as fontes dessa contaminação, como já foi falado anteriormente. Tanto os microrganismos patogênicos quanto os deterioradores podem ser encontrados no leite, principalmente dependendo das condições de produção do leite e eles podem se multiplicar no leite. No sentido de evitar a contaminação e posterior multiplicação dos microrganismos, deve-se minimizar a carga microbiana inicial (através da realização de boas práticas de higiene) e armazenar o leite refrigerado.
Compartilhar