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Direito à desconexão

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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
O DIREITO À DESCONEXÃO:
UMA ANÁLISE A PARTIR DA 
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
¹ Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR (2013), pós-graduando em direito médico e empresarial, membro 
da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/PE. Atua como advogado militante em direitos humanos, direito médico, 
homoafetivo e cível.
² Bacharel em Turismo pela Faculdade Integrada do Recife –FIR (2003), realizou a especialização em Gestão da Qualidade de 
Serviços pela Universidade de Pernambuco - UPE (2005), bacharel em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco - 
UNICAP (2010), advogado militante em direito consumerista.
³ Bacharel em Turismo pela Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP (2003), também bacharel em Direito pela Universidade 
Católica de Pernambuco - UNICAP (2007), realizou a especialização em Direito Judiciário e Magistratura do Trabalho pela 
ESMATRA 6º Região em conjunto com a Faculdade Boa Viagem (2013) e Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Escola 
Superior de Advocacia da OAB-PE em conjunto com a Faculdade Joaquim Nabuco (2014), advogada militante na área trabalhista, 
administrativista e sindical.
Adrian Gabriel Serbim de Lima Fontes¹
Jorge de Faria Neves Filho² 
Tatiana Sampaio Luna³
Porquanto em seis dias Eu, o SENHOR, fiz o céu, a terra, o mar e tudo o 
que há neles, mas no sétimo dia descansei (Ex. 20:11)
 Desde meados de fevereiro de 2020, o Brasil se encontra em um cenário, talvez, 
nunca vivenciado anteriormente. Com o registro dos primeiros casos do novo coronavírus, 
e tendo em vista a alta taxa de contágio, bem como o alto índice de letalidade, algumas 
medidas precisaram ser tomadas de maneira urgente; dentre elas, o distanciamento social. 
 O distanciamento social é uma medida que visa reduzir a propagação da doença 
e, em decorrência disso, é imposta uma paralização de atividades consideradas não 
essenciais. Continuam apenas serviços como hospitais, mercados, farmácias e alguns 
outros definidos por decretos federais, estaduais e municipais. 
 O já previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) tomou novos 
contornos, uma vez que, no período que antecedeu à pandemia, o teletrabalho não 
era uma modalidade muito utilizada no Brasil. Com a vigência da Lei nº 13.647/17, 
comumente denominada “Reforma Trabalhista”, incluiu-se o artigo 75-B na CLT que 
diz que: “Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora 
das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de 
I N T RODUÇ ÃO
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”.
 Entretanto, com o aumento do teletrabalho que, nesse período, ficou conhecido 
como home office (termo americano que, em seu literal, significa trabalho em casa), alguns 
impasses surgiram e, dentre eles, como se daria a jornada de trabalho e de descanso; uma 
vez que, com as tecnologias existentes, associadas à internet, cada vez mais cobram-se 
respostas mais rápidas, o que gera a expectativa de que o trabalhador sempre estará à 
disposição da empresa, para quando esta necessitar.
 A questão trabalho versus tempo não se apresenta como novidade jurídica, sendo 
sempre um dos embates centrais das relações de trabalho, e em meio a esse cenário 
incomum e pandêmico, houve uma aceleração na revolução digital - revolução industrial 
4.04, a necessidade de se manter em casa fez com que as portas das residências se abrissem 
para receber o trabalho – sem nenhum modo de preparo anterior – fomentando a 
implementação do teletrabalho e o uso das tecnologias digitais como ferramentas 
essenciais.
 Para que o tema seja adequadamente compreendido, alguns resgates históricos 
são imprescindíveis, principalmente no que se refere às origens do direito ao descanso 
laboral e sua importância, histórica e social, face às novas formas de trabalho que se 
intensificaram com a pandemia e que, com certeza, desenharão uma nova história nas 
relações de trabalho futuras.
 Algumas religiões, que tem a Bíblia como livro referência, apresentam que o Antigo 
Testamento já previa uma regulamentação social sobre o descanso, especificamente nos 
dez mandamentos:
Lembra-te do dia do shabbãth, sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles realizarás 
todos os teus serviços. Contudo, o sétimo dia da semana é o shabbãth, sábado, consagrado a Javé, 
teu Deus. Não farás nesse dia nenhum serviço, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu 
escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que estiverem morando em tuas 
cidades (Ex, 8:11, JAMES, King).
4 Para Schwab (2016, s.p.) a quarta revolução industrial, no entanto, não diz respeito apenas a sistemas e máquinas inteligentes e 
conectadas. Seu escopo é muito mais amplo. Ondas de novas descobertas ocorrem simultaneamente em áreas que vão desde o 
sequenciamento genético até a nanotecnologia, das energias renováveis à computação quântica. O que torna a quarta revolução 
industrial fundamentalmente diferente das anteriores é a fusão dessas tecnologias e a interação entre os domínios físicos, digitais e 
biológicos.
 Aristóteles ainda, ao pensar sobre os teares automáticos, previa que a tecnologia 
seria o fim da escravidão, com a consequente diminuição do trabalho. Na concepção do 
filósofo, o sonho de todo Homem seria a busca pelo ócio, para que este pudesse se tornar 
um ser pensante e longe da alienação provocada pelo trabalho. (PEÑA-RUIZ, 2011, p 
157). Duas direções concebem uma universalização dessa realização humana livre: a 
primeira, com a automatização gradual de todas as tarefas mais penosas, tendo como 
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
consequência à humanidade desincumbida do que é servil e, a segunda, da partilha das 
tarefas entre todos os homens, não dispensando ninguém, cada um reservando, assim, 
pelo menos parte de sua vida para dedicar-se dentro do seu tempo livre para o interesse 
que lhe aprouvesse.
 As projeções de Aristóteles, ao que parece (ainda) não se concretizaram. Com a 
evolução das máquinas e a saída do Homem do meio rural para os centros urbanos, como 
consequência da Revolução Industrial, o direito ao descanso restou quase inexistente, 
ocasionando revoltas, greves e a luta da classe laboral para implantação dessa medida.
 Essa preocupação com o direito à vida íntima, ao ócio criativo, e demais direito da 
personalidade, é denominada, na literatura de Lafargue, (1999, s.p.), de Direito à Preguiça. 
Surgiu em um manifesto escrito em 1880, como uma defesa da classe trabalhadora contra 
a exploração dos detentores do capital à sua época, e se transformou em um dos temas 
centrais do mundo do trabalho, devido à preservação do direito à liberdade, a busca da 
autonomia de escolhas para o tempo livre, e aos prazeres da vida.
 O presente artigo tem como objetivo apresentar ao leitor a construção teórica do 
que é o direito à desconexão, uma vez que ainda é um tema recente e pouco discutido na 
seara trabalhista. Objetiva ainda apresentar a importância deste junto aos demais direitos 
fundamentais, especialmente diante de um cenário atípico como o que se tem vivido com 
a pandemia do Covid-19, que, ao impor o isolamento social como uma das medidas de 
conter o contágio, dada a alta taxa de letalidade da doença, reformulou a jornada laboral 
em diversos setores, ao implementar o teletrabalho como uma medida a ser seguida.
A INTENSIFICAÇÃO DO TRABALHO REMOTO
E MEIOS DIGITAIS COMO EFEITO DA PANDEMIA1.
 Com o já mencionado distanciamento social, as relações de trabalho precisaram 
se renovar do dia para noite, construindo novos paradigmas e, como decorrência disso, 
não houve o devido tempo de amadurecimento para lidar com o trabalho remoto e os 
meios digitais. Direitos que antes podiamser facilmente identificados e usufruídos, agora 
precisam ser novamente repensados e reestruturados, de maneira a preservar a qualidade 
de vida dos trabalhadores e trabalhadoras do país, estando, dentre eles, as configurações 
do trabalho remoto.
 Marx, ao tratar sobre o assunto máquina versus homens, qualifica que o crescimento 
tecnológico é um ganho para a humanidade, contudo, o meio econômico em que ele está 
inserido (capitalismo) faz com o que a tecnologia pareça com uma “fera predadora”, pois 
traz a ilusão de que a mesma fomenta o desemprego e a exploração: “São necessários tempo 
e experiência até que os operários, aprendendo a distinguir entre a máquina e seu emprego 
capitalista, ataquem não o meio material de produção, mas seu modo social de exploração” 
(PENA-RUIZ, 2011, p. 161).
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
 Conforme Nascimento (2013, p. 1034): 
Não há conceito legal de trabalho a distância, mas a expressão é usada para designar o trabalho que 
não é realizado no estabelecimento do empregador, e sim fora dele, portanto, com a utilização dos 
meios de comunicação que o avanço das técnicas modernas põe à disposição do processo produtivo, 
em especial no setor de serviços (2013, p. 1034).
Não há conceito legal de trabalho a distância, mas a expressão é usada para designar o trabalho que 
não é realizado no estabelecimento do empregado Identificada, portanto, a relação de emprego, 
todos os direitos laborais são estendidos a quem atua em domicílio [...]. Assim, para determinar a 
existência da subordinação jurídica e até mesmo de eventual sobrejornada, é irrelevante a presença 
física de um fiscal patronal quando equipamentos controláveis a distância (câmeras de vigilância, 
sensores de presença, dispositivos de acompanhamento via GPS, entre outros) são capazes de 
oferecer monitoramento detalhado do comportamento e do desempenho do empregado durante a 
execução dos serviços. r, e sim fora dele, portanto, com a utilização dos meios de comunicação que 
o avanço das técnicas modernas põe à disposição do processo produtivo, em especial no setor de 
serviços (2013, p. 1034).
“§ 1º Para fins do disposto nesta Medida Provisória, considera-se teletrabalho, trabalho remoto ou 
trabalho a distância a prestação de serviços preponderante ou totalmente fora das dependências 
do empregador, com a utilização de tecnologias da informação e comunicação que, por sua 
natureza, não configurem trabalho externo, aplicável o disposto no inciso III do caput do art. 62 
da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1943.”
 E ainda conforme Martinez (2012, p. 187):
 A invasão do trabalho na vida privada das pessoas como efeito da pandemia trouxe, 
como uma resposta de urgência, a Medida Provisória n° 9275 que esclareceu o que seria 
trabalho remoto em seu § 1°, Art. 4°:
 Diuturnamente, a pandemia acelerou não só uma revolução tecnológica nas relações 
de trabalho, mas também a exploração da massa operária através da necessária remodelação 
do trabalho físico para a modalidade remota. 
 Com a constante ligação entre patrão e empregado, via internet, houve, notoriamente, o 
aumento de volume de trabalho pelas exigências imediatas e sem organização, transformando 
a massa obreira em mero instrumento do mercantilismo, desprezando a condição ser humano, 
como se máquinas fossem, a exemplo inclusive da fala do presidente Jair Bolsonaro, para 
quem “Os CNPJs estão morrendo”, (PARAGUASSU, 2020) - demonstrando que as vidas 
mantidas em trabalho não representam vidas, mas, somente uma forma de angariar lucros. 
 Os absurdos são tantos que, em períodos pandêmicos, funcionário bom é aquele 
que responde mensagens, e-mails ou ligações, seja qual for à hora do dia, independente se é 
horário de trabalho ou não. Muitas vezes, uma ligação, ou até mesmo uma mensagem fora 
5 A MP 927 perdeu sua validade em 19 de julho de 2020. Em consequência, houve a perda da sua eficácia no mundo real para as 
relações de emprego. Deste modo, a regência volta a ser a própria CLT.
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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
do horário de trabalho, é suficiente para causar no empregado uma sensação de ansiedade, 
de que algo não foi feito, de que precisa dar mais de si para a empresa. Inclusive, sob o falso 
nome de ‘colaboradores’, ‘parceiros’, ‘comprometidos’, as empresas cada vez mais sugam de 
seus funcionários, gerando, inclusive, preterição daqueles que parecem seguir a CLT no que 
diz respeito à jornada de trabalho. 
 Reuniões intermináveis através das inúmeras plataformas, quase sempre sem 
agendamento prévio, cobranças via redes sociais, horário para realizar o login, porém sem 
horário para realizar o logoff e tantas outras formas de cobrança que impossibilitam o devido 
descanso dos trabalhadores, que necessitam estar sempre à disposição da empresa. A aplicação 
da tecnologia por esse prisma serve como meio de subjugação da classe laboral, de maneira a 
excluir a efetivação do direito à desconexão. 
 É notório, portanto, que apesar dos esforços para a preservação dos direitos 
conquistados pela classe trabalhadora, o capitalismo exige, em suas fases cíclicas, o ataque 
frontal aos direitos sociais, e oportunamente nesta pandemia, algumas empresas parecem 
estar lucrando cada vez mais, em cima e em detrimento dos hipossuficientes. 
 Decerto que, principalmente em tempos pandêmicos, a modalidade de trabalho 
remota tem suas vantagens e desvantagens. Entretanto, seus limites devem ser estritamente 
traçados, uma vez que, com a urgência que o novo modelo pediu, em face do coronavírus, a 
ausência de regulamentação que estabeleça limites claros trouxe a confusão do ambiente de 
trabalho com o ambiente doméstico, promovendo uma conexão constante do empregado 
com o labor. Assim sendo, é fundamental que se traga o direito à desconexão para o centro 
do debate como um direito necessário, porém distante da realidade da classe trabalhadora, 
uma vez que ainda não existem contornos claros de como este deve ser exercido.
O DIREITO À DESCONEXÃO COMO DIREITO FUNDAMENTAL 
CONTRA O ABUSO DO USO DOS MEIOS DIGITAIS E TECNOLÓ-
GICOS E PRESERVAÇÃO DO TEMPO LIVRE2.
 Várias são as normas regulamentadoras do direito ao descanso e ao lazer, núcleos 
fundamentais do conceito de trabalho digno, a exemplo da Constituição Federal de 1988, 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, do Pacto Internacional sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturas (PIDESC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o 
qual o Brasil é signatário, bem como do Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente, 
trazido ao Brasil pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). 
 São vastas ainda as normas que tratam sobre o aspecto mais fundamental do ser: 
a dignidade da pessoa humana. Reconheça-se ainda o valor social do trabalho, desde que 
observados o repouso, o lazer e a limitação na jornada de trabalho. Vale salientar que 
todos esses direitos já conquistados não podem ser objeto de negociação ou até mesmo de 
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
renúncia, devendo-se cumprir o que está disposto na CFRB/88 e demais ordenamentos. 
Assim sendo:
Os direitos fundamentais podem ser conceituados como a categoria jurídica instituída com a 
finalidade de proteger a dignidade humana em todas as dimensões. Por isso, tal qual o ser humano, 
tem natureza polifacética, buscando resguardar o homem na sua liberdade (direitos individuais), 
nas suas necessidades (direitos sociais, econômicos e culturais) e na sua preservação (direitos 
relacionados à fraternidade e à solidariedade) (ARAUJO, 2005, p. 109-110).
Esclareça-se que o não-trabalho aqui referido não é visto no sentido de não trabalhar completamente 
e sim no sentido de trabalhar menos, até o nível necessário à preservaçãoda vida privada e da 
saúde, considerando-se essencial esta preocupação (de se desligar, concretamente, do trabalho) 
exatamente por conta das características deste mundo do trabalho marcado pela evolução da 
tecnologia, pela deificação do mercado e pelo atendimento, em primeiro plano, das exigências do 
consumo (MAIOR, 2003, p. 3).
 O art. 6º da CFRB/88, ao elencar os direitos fundamentais sociais, foi claro ao 
colocar no rol, dentre outros, o direito ao trabalho, bem como o direito ao lazer (ambos, 
portanto, no mesmo patamar) e à saúde. Nesse sentido, a lição de Kümmel (2007, p. 05) 
merece atenção, para quem “Denominado constitucionalismo social e ocupando a mais 
alta classe na hierarquia dos direitos, os direitos constitucionais trabalhistas passaram a ser 
considerados direitos fundamentais; a servir de freio às tendências desregulamentadoras 
do direito do trabalho”. Não restam dúvidas que a preocupação maior do legislador era 
não reduzir a massa operária em escravos, conforme outrora o foram.
 Deste modo, o Direito à desconexão (ou desligamento total das comunicações 
com o trabalho por um período de tempo) são os contrapontos do trabalho exacerbado, 
impedindo que a sociedade entre em degeneração com pessoas trabalhando demais e outras 
sem nenhum trabalho, principalmente em virtude dos aparatos técnicos e tecnológicos 
empregados nos dias atuais, onde não é permitido aos trabalhadores se desvincularem dos 
seus trabalhos, no intuito de realizar e concretizar o direito de não trabalho, ou seja, ter o 
seu efetivo descanso depois de encerrar à jornada de trabalho.
 Em que pese tais normas, o direito à desconexão ainda é um tema em construção, 
com pouca jurisprudência e nenhuma legislação sobre a temática, porém sua finalidade é 
preservar as garantias fundamentais e os diretos sociais (Art. 6° e 7° da CFRB/88), estes 
consagrados como cláusulas pétreas e imutáveis. Sendo assim, outra não seria sua natureza 
jurídica senão uma garantia tríade: o direito ao descanso, o direito ao lazer e o direito 
à saúde. O direito à desconexão, conforme já restou comprovado, também é um direito 
fundamental.
 Explica-se: o fato social gerador deste direito em especifico foi o abuso dos meios 
tecnológicos como forma de controle da vida (inclusive íntima) do trabalhador pela parte 
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patronal, a exemplo da fiscalização de condutas em redes sociais, a expansão da jornada 
de trabalho, através do imediatismo que tecnologia gera – onde tudo pode ser resolvido 
de pronto – permitindo que as cobranças das chefias para com seus subordinados se 
dessem infinitamente, inclusive com o aumento do volume de trabalho sem devida a 
contraprestação salarial. 
 No entendimento jurídico anterior ao caos pandêmico, o direito à desconexão 
ganhou uma conotação restrita em seu exercício, pois tinha um alvo definido: os 
teletrabalhadores. Com a pandemia, o direito à desconexão se alarga para abranger boa 
parte dos trabalhadores, devido ao alargamento em proporções imensuráveis do uso da 
tecnologia como principal ferramenta de comunicação para qualquer fim, seja dentro do 
ambiente físico do trabalho ou em trabalho remoto. Sem os devidos limites, estaremos face 
às novas formas precarizadas de trabalho, com medidas que atentam contra as garantias 
sociais dispostas na CFRB/88. Ressalte-se, entretanto, que os limites devem ser dados pelo 
Estado, e não pelo livre-mercado. 
 O direito à desconexão surge, portanto, como parte integrante da dignidade 
humana, componente fundamental para a manutenção da saúde, da qualidade e da 
própria vida do trabalhador. O trabalho desenfreado transforma-o em objeto de 
multiplicação de capital e desperta o sentimento de ambição de forma mórbida e 
distorcida. (LAFARGUE, 2013, p. 25)
 Não é à toa que, diante da propagação da pandemia do Covid-19, se discute tanto 
o significado do que será o novo normal, bem como o estreitamento e a rediscussão 
dos postos de trabalho e do meio ambiente de trabalho6, mediante as novas relações de 
trabalho/emprego, a partir de uma análise criteriosa das proposições atualmente adotadas 
em relação à tecnologia como ferramenta funcional para o exercício do trabalho. Esse 
cenário caótico é um ótimo propulsor para a aprovação do Projeto de Lei nº 6038/2016, 
que pretende acrescentar o art. 72-A na CLT, determinando que: “É vedado ao empregador 
exigir ou incentivar que, fora do período de cumprimento de sua jornada de trabalho, o 
empregado permaneça conectado a quaisquer instrumentos telemáticos ou informatizados 
para verificar ou responder a solicitações relacionadas ao trabalho”.
 Com o caos vivido desde a chegada do coronavírus, percebe-se que a preocupação 
central da população passa a ser o acesso ao trabalho ou a sua manutenção. Porém, destaque-
se que manter o emprego em um período de caos social não implica que este se deve dar de 
qualquer maneira e sem os devidos controles. Parece que, nesse sentido, falar em trabalho 
digno e especificamente do direito à desconexão passa a ser um recorte marginalizado, um 
6 Para Moraes (2002) nesse enfoque global, não só o posto de trabalho (local da prestação), mas todos os fatores que interferem no 
bem-estar do empregado (ambiente físico, onde estão os agentes responsáveis à verificação das condições insalubres e perigosas), e 
todo o complexo de relações humanas na empresa, a forma de organização do trabalho, sua duração, os ritmos, os turnos, os critérios 
de remuneração, as possibilidades de progresso etc., servem para caracterizar o meio ambiente de trabalho.
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
direito invisível, quando na verdade esse é um meio de integração aos novos modelos das 
relações de trabalho, pois o silêncio sobre esta temática representa um ataque direto à vida, 
ao lazer, à saúde e à dignidade do trabalhador.
DIREITO À DESCONEXÃO COMO FATOR FUNDAMENTAL,
DIRETRIZ DA SAÚDE E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA3.
 A CLT estabelece que o patronato deva observar as instalações e ambientes de suas 
empresas e de onde seus funcionários laboram; ambiente esse que se estende para onde o serviço 
é realizado, bem como os de maquinários e utensílios utilizados, preocupando-se ainda com 
os padrões de higiene, salubridade, medicina e engenharia do trabalho, dentre outros. 
 Devem ainda assumir medidas que causem a prevenção de acidentes nestes locais ou 
no ato do exercício da função, assegurando que o trabalho exercido assegure a saúde física e 
psíquica do trabalhador. 
 Entretanto o histórico de trabalho no nosso país sempre teve uma conduta de 
desordenamento, mesmo antes da industrialização. Não havia normas que assegurassem às 
condições de segurança e higiene do trabalho. Após o período de industrialização brasileira, 
os trabalhadores começaram a se organizar em massa objetivando conquistar direitos, dentre 
eles, os que envolviam a segurança no trabalho, contudo, somente a criação de leis não foi o 
suficiente para a consecução dos objetivos, ou seja, a manutenção de um ambiente de trabalho 
que respeite a dignidade de seus obreiros (RENNER, 2012, p. 22).
 É fato que a realização de qualquer atividade laboriosa inclui em seu rol de 
funcionalismo os seus próprios riscos, e, para isso, temos as legislações nacionais pertinentes 
que tratam de tais situações, o que mostra a preocupação do Estado com o ambiente laborioso 
e com o próprio trabalhador, como forma de contenção de revoltas devido à exploração do 
ser humano, próprias do capitalismo. 
 Porém, diante de novas situações que surgem, o Direito, esse grande regulador da vida 
humana, deve nortear as novas relações surgidas, de maneira a proteger, principalmente, àqueles em 
situação mais vulnerável. Logo, face à urgência trazida pelo coronavírus no sentido de reformular 
maneiras de exercer as funções laborais, nos interessandoaqui o teletrabalho, a importância dos 
padrões de segurança no trabalho e saúde do trabalhador parecem ter sido olvidados.
 A desconexão como um direito, portanto, provém da necessidade real biológica e 
psíquica do ser humano em buscar o descanso e o divertimento como equilíbrio e manutenção 
da saúde e da vida do trabalhador, bem como, necessário apontar, a manutenção da própria 
empresa, uma vez que essa exaustão em seus funcionários implica em queda de produtividade, 
gera doenças ocupacionais, dentre outros fatores que impactam negativamente nos resultados 
do negócio.
 A compulsão pelo trabalho, conhecida pela nomenclatura em inglês de workaholic 
(basicamente o indivíduo que é dirigido por compulsões internas de alto envolvimento com 
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
o trabalho, e resulta em baixos níveis de prazer profissional), parece ser cada vez comum 
(PINHO, 2017). Nestes casos, o direito ao descanso/desconexão inexiste, apresentando 
o indivíduo baixa qualidade de vida, bem como um desequilíbrio entre a vida pessoal e 
profissional, causando adoecimento de várias formas.
No tocante à fisiologia do trabalhador, [...] as longas jornadas de trabalho têm sido apontadas como 
fato gerador do estresse, porque resultam em um grande desgaste para o organismo. [...] A par do 
desgaste para o organismo, o estresse é responsável ainda pelo absenteísmo, pela rotação da mão 
de obra e por acidentes de trabalho. Com relação ao fundamento de natureza econômica, tem-
se que um empregado descansado é capaz de produzir mais e com melhor qualidade. Quanto ao 
fundamento de natureza social, sabe-se que o obreiro precisa dispor diariamente de tempo livre 
para realizar seus compromissos sociais e dar atenção à sua família (TAVARES, 2016, p. 715).
 Não há dúvidas de que precisamos descansar para viver. Não há como falar em vida 
digna sem que se fale no devido descanso, principalmente dentro de um contexto onde a vida 
exige imediatidade nas respostas, através de uma hiperconectividade. A jornada de trabalho, 
estipulada pela CFRB/88, pode ser compensada ou reduzida, mas nunca ampliada. Haja vista 
que tal regra é estipulada para manter a saúde integral do trabalhador, com claras disposições 
dos momentos destinados ao descanso, lazer, e manutenção da saúde.
 Já se ventila um novo surto de doenças no país, porém, desta vez, de doenças 
ocupacionais relacionadas à ergonomia como lesões por esforços repetitivos (LER), o 
agravamento de patologias já existentes ou o surgimento de doenças que, ainda que não 
sejam consideradas ocupacionais, decorrem das novas condições de trabalho. 
 O teletrabalho e o abuso dos meios digitais são, conforme restou claro, uma fonte de 
esgotamento mental. A conectividade exacerbada reflete em doenças como a síndrome de 
burnout7 ou mesmo o transtorno de ansiedadȩ dentre tantas outras patologias mentais que 
podem surgir devido ao esgotamento físico e mental em decorrência do trabalho excessivo.
 Mesmo com o cenário pandêmico, devido à urgência que o isolamento social exigiu; os 
empresários não podem repassar o risco do negócio para os trabalhadores, sob o ônus maior 
de desgaste à saúde da classe operária. O art. 2º da CLT inclusive assevera que “Considera-
se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade 
econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”. 
 Assim, repassar esse ônus para o trabalhador, não oferecendo as devidas condições de 
trabalho, nem a devida fiscalização, traz para o empregador a regência do parágrafo único do 
art. 927 do Código Civil: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, 
7 A “sensação de estar acabado” abala diversos profissionais. O significado da Síndrome vem do termo inglês “Burn Out” que significa 
queimar completamente. É classificado como CID10 (Z73.0). Tem como sintomas: Falta de entusiasmo pelo trabalho, cansaço 
físico e mental, baixa autoestima, depressão, sentimento de incapacidade. É possível que o enfermo também possua sintomas 
físicos advindos da doença como: Fadiga constante, dores musculares, distúrbios de sono, enxaquecas, cefaleias, transtornos 
cardiovasculares, distúrbios no sistema respiratório, disfunções sexuais e alterações menstruais em mulheres (PEREIRA, 2002).
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor 
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. A pandemia não pode 
ser um óbice para o não fornecimento das condições próprias do trabalho ou teletrabalho, 
sob pena da perda de saúde do trabalhador, esta por muitas vezes irrecuperável.
 Estatui ainda o art. 186 do Código Civil que: “Aquele que, por ação ou omissão 
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar danos a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Dessa forma, para que haja responsabilidade 
civil, necessita-se de conduta humana (ação ou omissão), o dano ou prejuízo e o nexo de 
causalidade. Logo, aquele que comete tal ato tem o dever de reparação. 
 Entretanto não havia previsão legal precisa nas situações que envolvessem danos 
morais e relação de trabalho, apenas o art. 114 da CFRB/88 que aduz que é de competência da 
justiça do trabalho processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, 
decorrentes da relação de trabalho.
 Merece nossa atenção um dos pontos principais que a Lei 13.467/17, conhecida 
como Reforma Trabalhista, passou a prever. Diante dos inúmeros abusos cometidos pela 
camada patronal, e nesse cenário da pandemia, especificamente no que concerne às jornadas 
extraordinárias em decorrência do teletrabalho, a reforma apresentou o denominado 
dano existencial, anteriormente previsto apenas na CFRB/88, Código Civil e Código do 
Consumidor. Para Boucinhas Filho (2013, p. 451), o dano existencial é:
[...] conduta patronal que impossibilita o empregado de se relacionar e de conviver em sociedade por 
meio de atividades recreativas, afetivas, espirituais, culturais, esportivas, sociais e de descanso, que 
lhe trarão bem-estar físico e psíquico e, por consequência, felicidade; ou que impede de executar, 
de prosseguir ou mesmo de recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua vez, responsáveis 
pelo seu crescimento ou realização profissional, social e pessoal.
 Fica claro, portanto, que o trabalho desenfreado, a hiperconectividade, a não 
desconexão, impedindo que o funcionário tenha direito ao descanso, ao lazer, ao tempo 
que é seu para que o utilize como bem entender é um dano existencial, tutelado, além das 
normas mencionadas, pelos dispositivos 223-B e 223-C da CLT. O direito a desconexão 
é, reitere-se, concretizado judicialmente através do dano existencial8, uma reparação 
monetária pela impossibilidade de progredir por falta de tempo para aquele que está em 
constante conexão, todavia, não mais terá as horas trabalhadas de volta em sua vida para 
seus projetos pessoais. A indenização pecuniária serve de consolo, porém não compra ou 
restaura a saúde perdida.
8 O Tribuna Superior do Trabalho vem se posicionando no sentido de que a sujeição do empregado à jornada extraordinária 
extenuante revela-se como causa de dano existencial, o qual consiste em uma espécie de dano imaterial. A lesão moral se configura no 
momento em que se subtrai do trabalhador o direito de usufruir de seus períodos de descanso, de lazer, bem como das oportunidades 
destinadas ao relacionamento familiar, ao longo da vigência do pacto contratual. TST - RR: 4107420145090654, Relator: Guilherme 
Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 13/03/2019, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 22/03/2019).
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAISA título de conhecimento, destacamos a jurisprudência da 3ª Região, que garantiu 
ao trabalhador o direito à desconexão:
DANO EXISTENCIAL. JORNADA EXCESSIVA. INDENIZAÇÃO DEVIDA.1. O direito 
fundamental do trabalhador à saúde, perpassa, necessariamente, pelo respeito à limitação da 
jornada, como corolário da dignidade humana, do valor social do trabalho e da função social da 
empresa. O trabalhador, enquanto ser que aliena a sua força de trabalho, tem direito à desconexão. 
2. O dano existencial é uma espécie de dano moral decorrente de uma frustração que impede a 
realização pessoal do trabalhador, afetando negativamente sua qualidade de vida. Os projetos 
pessoais e as relações sociais dos trabalhadores podem ser frustrados devido a condutas ilícitas 
praticadas por seus empregadores. 3. Assim, presentes todos os pressupostos da responsabilização 
civil (ato ilícito, dano efetivo, nexo de causalidade entre a conduta ilícita e os transtornos sofridos 
pelo trabalhador e a culpa patronal), não há como afastar a reparação pretendida pelo obreiro, 
merecendo a conduta ilícita patronal, a devida e proporcional reprimenda pelo Poder Judiciário. 
(TRT da 3.ª Região; Processo: 0000243-07.2015.5.03.0099 RO; Data de Publicação: 23/01/2017; 
Órgão Julgador: Quarta Turma; Relator: Bruno Losada Albuquerque Lopes). (grifo nosso)
 Não há dúvidas de que a jornada de trabalho na modalidade remota deve respeitar às 
diversas normas e legislações trabalhistas, especialmente no que se refere às suas limitações 
temporais. O trabalho em exagero, apresentado pelo contexto atual, apenas esgaça o 
ser individual, retirando-lhe parcela da sua dignidade, e, em consequência, esquece-
se da sociedade e do próprio trabalho, deixando de ser um meio social ecologicamente 
equilibrado, imperando a loucura desenfreada pelo sustento básico, tornando-se, assim, 
um “vale-tudo” para sobreviver.
CONSI DE R AÇÕE S F I NA I S
 É fundamental proteger o Homem no mais profundo da sua intimidade, de forma 
a resguardar principalmente a natureza humana de cada um, que se encontra desperta no 
tempo vago, onde a vontade própria impera, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-
se, entreter-se, ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada voluntária ou sua 
livre capacidade criadora, pois, neste momento, encontra-se livre das obrigações laborais, e 
despoja-se das cobranças profissionais limitadoras de sua personalidade e modeladoras de 
seu perfil especializado (CHEMIN, 2009, p. 151). Portanto, não existe separação alguma 
entre o direito à desconexão como direito do princípio da dignidade humana.
 É de extrema urgência, nesse momento que o mundo vive; a intervenção do Estado 
no sentido de regular as novas relações de trabalho e formas de exercê-lo surgidas durante 
a pandemia, principalmente no que se refere aos limites de jornada diária, bem como 
oferecer claros contornos sobre horários de trabalho versus horários de descanso, de forma 
a buscar o equilíbrio social, para que se concretize o que aqui trabalhamos como direito 
fundamental à desconexão.
O DIREITO À DESCONEXÃO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
 É este, portanto, um direito ao descanso, uma regulamentação contra o modelo de 
escravização e exploração. O direito à desconexão vem ainda e, sobretudo, para impedir 
que a pandemia do Covid-19 e o isolamento social sirvam de pano de fundo para se 
instalar um sistema escravocrata digital e assegurar a camada operária condições salubres 
de teletrabalho, respeitando os direitos sociais constitucionais adquiridos após séculos de 
luta contra um sistema capitalista opressor, buscando sempre aperfeiçoá-los, conforme a 
evolução da sociedade, e em benefício da classe operária.
 Reivindicar o direito à desconexão se faz primordial para recuperar à dignidade 
humana da classe laboral, demonstrando que a mitigação do direito à desconexão como 
fundamental é uma continuidade do ato exploratório do mundo do capital, onde a servidão 
serve aos interesses das elites. Este paradigma precisa ser rompido e reclassificado para que 
se busque a dignidade de forma global e que a vida de todos os operários, independente da 
função que exercem, se realize em sua plenitude, seja pelo exercício de um trabalho digno, 
de acordo com os ditames sociais, conforme preconizado pela lei, bem como garantindo 
o convívio social e familiar, o lazer, o ócio criativo, dentre outras possibilidades que 
reconheçam o direito fundamental à dignidade humana da classe operária.
R E F E R Ê NCI A S
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BÍBLIA KING JAMES ATUALIZADA (KJA): Edição Popular. Tradução dos manuscritos 
nas línguas originais do Tnakh (Bíblia Hebraica), e o B’rit Hadashah (Novum Testamentum 
Graece), de acordo com o estilo clássico, majestoso e reverente da Bíblia King James (Authorized 
Version), de 1611. Tradução e revisão permanente a cargo do Comitê Internacional de Tradução 
da Bíblia King James para a língua portuguesa, sob direção da Sociedade Ibero-Americana & 
Abba Press no Brasil. São Paulo: Abba Press, 2012. BOUCINHAS FILHO, Jorge Cavalcanti; 
ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. O dano existencial e o direito do trabalho. Revista LTr. São 
Paulo, v. 77, n. 04, p. 450-458, 2013.
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PANDEMIA E CRISES: PERCEPÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
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