Quanto ao prazo da posse exigido para o usucapião familiar pro morare, cumpre ainda tratar da contagem do tempo. Com efeito, o termo inicial (dies ...
Quanto ao prazo da posse exigido para o usucapião familiar pro morare, cumpre ainda tratar da contagem do tempo. Com efeito, o termo inicial (dies a quo) é verificado no primeiro dia em que são exercidos atos possessórios com as qualificações de animus domini e pro habitatio, o qual coincide com o abandono do lar pelo ex-cônjuge ou ex-companheiro. Dessa forma, surge a seguinte indagação: quando estará configurado o abandono do lar? Conforme será visto no próximo item, o abandono do lar consiste na saída do ex-cônjuge ou ex-companheiro do imóvel conjugal, de forma voluntária, ficando inerte quanto à ocupação exclusiva do bem realizada pelo outro consorte que lá permaneça. Caracteriza-se, pois, pelo verdadeiro menosprezo quanto ao imóvel do qual também é titular do domínio, haja vista que aquele que abandona o lar não irá mais praticar qualquer ato possessório a fim de exercer a função social da sua propriedade, nem mesmo sequer irá apresentar qualquer forma de oposição ao modo como é utilizado. Destarte, a situação de abandono do lar, na verdade, é construída com o passar do tempo, não sendo possível visualizar sua configuração com a análise de um dia isolado. Todavia, verificada a permanência da situação de abandono pelo prazo contínuo de dois anos, restará cumprido o requisito temporal para a aquisição do domínio integral pelo usucapião familiar, tendo sido o seu dies a quo o dia em que houve a saída do ex-cônjuge ou ex-companheiro do lar conjugal.