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Qual a diferença entre Mundo do Fatos e Mundo Jurídico?

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Mickaella Marcolino

Após ler os textos da inexistência da dicotomia entre mundo jurídico e mundo fático, tese essa inovadora do Dr. José Maria Rosa Tesheiner, adentrei em profunda meditação do que vem ocorrendo diante de nossos olhos: o modismo da alteração das leis.   Tal modismo vê-se constantemente na Lei Maior, se é que ainda existe sua essência, até o Código Civil, indo diretamente para leis esparsas. Todas modificadas ao léu de uma experiência...   São alteradas, conjuntamente, as leis penais, remetendo o caráter da pena para outra seara, onde transações dão lugares às punições mais brandas de caráter educativo – e, não se enganem os Senhores que a pena mais severa não deixa de ser um lenitivo ao lesado (caráter vingativo, ao invés da moeda corrente que a pena pune a conduta e não o agente), mesmo que o bem jurídico seja a sociedade. Lembrando a questão da culpa, muitas vezes afastada pelo “Funcionalismo do Direito Penal” de Roxin e Jacobs, este presente na Legislação Ambiental pela imputação objetiva que visa tutelar “direito da dimensão ao meio ambiente”. A lesão de determinado objeto dá lugar à conduta sancionável.   Uma alteração sempre reflete em outra lei e assim por diante, e.g., a Lei dos Juizados Especiais Federais que ab-rogou diversos aspectos da Lei 9099/95.   Vendo constantes alterações, acréscimos de artigos acompanhados de letras, começo a concordar que o reflexo social mais dá influxo no mundo jurídico do que este no mundo fático o que desvanece, por vez, qualquer separação entre os dois. Eis que quando o conjunto é influenciado pelo subconjunto eles estão tão imiscuídos que não dá mais para falar em separação simbólica entre mundo jurídico e mundo fático.   Não só vivemos o “modismo das alterações”, mas o da “experimentação”: será que tal alteração dará certo? Surgem críticos e comentaristas. Bem como o “ver para crer” na sua efetividade do cotidiano dos brasileiros. Só esse temor velado já denota que o certo hoje é chamar de conjunto integrado do que separado – a própria matemática que separa, une, logicamente, dois mundos que antes eram considerados separados. E aqui já saímos da filosofia movediça ao concretismo dos valores sociais.   Falo em modismo de alterações porque tenho a sensação de que o dito sistema jurídico como está não presta e não condiz com a sustentabilidade social brasileira, onde mais se aplica a felicidade da ignorância do que a visão frustante da sabedoria. Mais feliz o “cortador de cana” do que os nossos cientistas e operadores, os quais deparam-se inopinados com suas alterações inócuas e de nenhuma efetividade real, sempre tendo à vista aumento de criminalidade, morosidade processual, etc. Algumas alterações, inclusive, alvos de ADIN´s para entreter o nossos Tribunais e o mais alto Pretório, apinhados de processos –  estes também objeto de futuras mudanças (é o modismo das alterações que chegou para ficar...)   Na verdade, assaca a dúvida do que sejam as dimensões do direito. O que são dimensões do direito aqui no Brasil? Termo que substitui com presteza as gerações de direitos, evitando a confusão de que um substitui o outro, mas complicando já que mostra a existência de todos eles conjuntamente (vários autores explicam, convincentemente o que são, mas não satisfazem o porquê de seu reconhecimento legislativo se já existiam ou era previsível que viessem a existir).   Ao invés de direitos e suas dimensões, passamos ao seguinte:   Urge a simples indagação: que dimensão encontra-se o sistema jurídico? A resposta é simples: sendo a dimensão uma grandeza é na dimensão do modismo das alterações, dimensão moderna que carrega consigo o sistema jurídico, e, este perde a força em sua nomenclatura que não mais existe a linha que o separava dos acontecimentos e fatos sociais. Visto que o mesmo é hoje chamado de “aberto”, se é aberto e está dentro de outro maior, perde seu viso de transformar, sendo diuturnamente transformado porque a “ponte” para o trânsito jurídico alargou-se de maneira tal que a linha separadora deixou de existir e sentido mudou, virando uma ponte de mão-dupla.   Assim, os termos vagos e imprecisos da lei são preenchidos em seu significado no mundo dos fatos, na realidade, nada mais (lembrando que sou adepto que mesmo a lei clara merece interpretação a determinado caso concreto).   Bom. Se necessário alterar é porque não mais há mundo jurídico puro e matemático, senão um mundo latente, dinâmico, capaz de pleitear mudanças: é o mundo dos fatos, mais forte que uma dicotomia, mais resistente que uma nomenclatura. Flagrante de matizes capazes de preocupar pensadores e alterar os timbres da cor de um mundo que já não satisfaz; o próprio e arcaico mundo jurídico do dever-ser. Com certa resistência, me curvo que o plano da inexistência deixa de existir pelos fundamentos esposados, já que os fatos também geram efeitos.   Vivemos a dimensão jurídica do mundo dos fatos, onde já se procura reconhecer, a homoafetividade, a relativização da coisa julgada, o processo civil como instrumento da verdade real, etc.   A tendência sumular, objeto de mudanças no Judiciário, não deixa de ser um reconhecimento que a própria jurisprudência já assumia um papel mais forte que a lei afastando-a ou amenizando-a (exemplificamos com o artigo 3º do Estatuto da Mulher Casada, onde os bens desta comunicam-se com as dívidas contraídas pelo marido, salvo prova contrária produzida pela consorte que não foram em proveito do casal). A jurisprudência em seu sentido exato de precedentes reiterados é fonte robusta do direito e advém dos litígios onde estão pessoas, mesmo que pleiteando objetos patrimoniais. A preocupação fica nas “súmulas dos interesses”, conquanto para não fugir do foco principal, isso poderá ser matéria de outras indagações a serem oportunamente realizadas por todos que se interessam sobre o futuro do direito .
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DLRV Advogados

O mundo dos fatos é aquele que vivenciamos no dia-a-dia.

O mundo jurídico é aquele que contempla apenas os fatos de relevância jurídica. É regido por rígidas regras e padrões de conduta.

Nem todos os acontecimentos do mundo dos fatos são jurídicos. Jurídicos são apenas aqueles relevantes para o direito, suscetíveis de regulação pela norma jurídica, capazes de criar, transformar, transferir ou eliminar direitos. 

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