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MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca ANATOMIA HEPÁTICA O fígado é a maior víscera abdominal, pesando de 1kg-1,5kg (1,5- 2,5% da massa magra do corpo humano), é revertido pelo peritônio; Localização: Quadrante superior direito do abdome. O fígado é dividido anatomicamente em macroscópica e funcional: Figura 1: Anatomia macros- cópica do fígado. É dividido em 4 lobos: Lobo direito (o de maior volume e participa da formação de todas as faces do fígado), lobo esquerdo (menor e mais fino que o lobo direito e tem um ápice); lobo quadrado (é uma proeminência na face inferior do fígado, é localizado anteriormente ao hilo hepático) e lobo caudado (é uma proeminência nas faces inferior e posterior do fígado, localizado posteriormente ao hilo hepático); O fígado se prende ao diafragma, à parede anterior do abdome e às demais vísceras por porções do peritônio, as quais denominamos ligamentos. São eles: 1. Ligamento coronário: Forma-se pela reflexão do peritônio originado do diafragma sobre a face posterior do lobo direito. 2. Ligamentos triangulares: São dois, o ligamento triangular esquerdo e o direito: o O ligamento triangular esquerdo é uma lâmina dupla de peritônio que se estende sobre a margem superior do lobo esquerdo; o Já o ligamento triangular direito é uma estrutura no ápice da área não recoberta por peritônio do fígado; 3. Ligamento falciforme: Entre o ligamento coronariano que separa os lobos direito e esquerdo e prende o fígado à parede anterior do abdome; 4. Ligamento redondo: É a ligação venosa obliterada da veia umbilical que era aberta durante a vida fetal: o A veia umbilical é obliterada no adulto, porém, quando há hipertensão portal, esta veia pode voltar a ser pérvia e então gerar a cabeça de medusa. Figura 2: Face parietal (anterior) e face visceral (posterior) e suas relações anatômicas. Anatomia funcional (Proposta por Couinaud): Dividido em 8 segmentos hepáticos, e cada segmento possui a sua tríade portal: veia porta, artéria hepática e ducto biliar: o O fluxo sanguíneo hepático é de 1500ml/min; o Leva grande parte do debito cardíaco: 25%. Figura 3: Na primeira imagem, a anatomia segmentar do fígado, e na segunda a demonstração esquemática de cada porção segmentar. Essa divisão é realizada pela linha imaginária de Couinaud – na altura da veia hepática média –, segue em direção anteroposterior até a posterior, onde tem a fossa da vesícula biliar, dividindo o fígado funcional em pedículo portal direito e esquerdo. O pedículo direito é dividido em anterior (segmento 5 e 8) e posterior (segmento 6 e 7), o pedículo esquerdo possui a fissura umbilical, também sendo divido em anterior (3 e 4) e posterior (2). O segmento 1 localizado no lobo caudado é independente, envolve a veia cava inferior. IRRIGAÇÃO E DRENAGEM HEPÁTICA Os vasos responsáveis pela irrigação e drenagem venosa do fígado são a veia porta, a artéria hepática e as veias hepáticas. A veia porta é responsável por cerca de 75% do fluxo sanguíneo, é formada pelas veias mesentéricas superior e esplênica. No hilo hepático, divide-se em ramos esquerda menor e direito maior (devido ao lobo direito ser maior): o A distribuição das veias segue a distribuição dos segmentos, ex.: fígado direito: um segmento anterior e um posterior. O fígado possui conexões (shunts) no sistema venoso portal e sistêmico: Hepatopatia crônica descompensada e hipertensão portal Clínica Cirúrgica MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca o Veias submucosas do estômago proximal e esôfago distal; o Veias da parede abdominal e umbilical; o Plexo hemorroidário superior; o Comunicações retroperitoneais. A artéria hepática é responsável por 25% da irrigação do fígado. Esse vaso sai do tronco celíaco e se ramifica em artéria gástrica esquerda, artéria esplênica e artéria hepática comum. Uma vez no hilo hepático, ela se divide em ramos direito (hepática média) e esquerdo (hepática esquerda que entra do Triângulo de Canot); As veias hepáticas direita, média e esquerda. A direita drena completamente os segmentos VI e VII e parcialmente os segmentos V e VIII. A veia hepática intermédia drena os segmentos IV, V e VIII. Já a veia hepática esquerda drena os segmentos II, III e IV. O segmento I drena diretamente para a veia cava inferior – revisar a figura 3; O sistema biliar transporta bile dos hepatócitos para os ductos biliares, é composto por: o Ducto hepático direito e esquerdo que origina o ducto hepático comum; o Ducto cístico se une ao ducto hepático comum que origina o ducto biliar comum ou colédoco; o Ducto colédoco se une ao ducto pancreático (Wirsung) que desembocam na papila de Vater. HISTOLOGIA HEPÁTICA As células hepáticas se dispõem em lóbulos hepáticos que histologicamente são polígonos microscópicos. Cada lóbulo é uma unidade funcional, composto por no centro uma veia centro lobular e nos cantos o espaço porta (tríade portal = vênula – ramo da porta, arteríola – ramo da artéria hepática – e dúctulo biliar). Ainda nos lóbulos possuem o espaço de disse: composto por células estreladas (armazenamento de proteínas e produtoras de colágeno) e sinusóides hepáticos: composto de células endoteliais e as de Kupffer (células de defesa e fagocitose). Figura 4: Histologia hepática. O fígado possui 3 zonas: o Zona 1: Periportal (rica em nutrientes e O2); o Zona 2: Intermediária; o Zona 3: Perivenular (pobre em nutrientes e O2). O caminho da circulação hepática começa na zona 1 no canto do lobo hepático e percorre os sinusoides na zona 2 até chegar nas veias centro lobulares na zona 3, caminhando para veias sublobulares, para as veias hepáticas e desembocam na veia cava inferior. O sangue caminha da periferia em direção ao centro, já a secreção biliar faz o caminho contrário, do centro para a periferia. FISIOLOGIA HEPÁTICA Sendo um órgão misto, ou seja, endócrino e exócrino, quais são as funções hepáticas? Eliminação de toxinas; Coordenação do metabolismo intermediário: Formação dos aminoácidos, carboidratos, lipídeos e vitaminas; Metabolismo da bilirrubina e síntese de ácidos biliares; Síntese de proteínas: Albumina (apenas produzida no fígado) e proteínas plasmáticas; Fonte de glicose sérica (glicogênio/gliconeogênese); Coagulação e regeneração. HEPATOPATIA MANIFESTAÇÕES NA HEPATOPATIA Fases: Inicial: o Oligossintomática: Poucos, leves e/ou difusos sintomas, ex.: fadiga e sintomas gastrointestinais (náuseas e vômitos) ou; o Diagnóstico suspeitado em exames laboratoriais de rotina. Agudas: São neurovasculares, ex.: hepatite fulminante: o Icterícia; o Manifestações circulatórias e neurológicas (principalmente alterações no nível de consciência). Crônicas: Estigmas hepáticos (foco da aula): Existe a fase compensada e descompensada: o Fase compensada: 1. Ausência de complicações da hipertensão portal (estados avançados de hepatopatia) e disfunção hepática: Estágio 1: Ausência de varizes ou ascite – ácumulo de liquido na cavidade peritoneal –; mortalidade 1%; Estágio 2: Varizes, mas sem ascite ou sangramento; mortalidade 4%. o Fase descompensada: Presença de complicações; a sobrevida média de 1,6 anos: o Estágio 3: Ascite com ou sem varizes; mortalidade 20%; o Estágio 4: Sangramento por varizes, com ou sem ascite; mortalidade 57%. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca ESTADIAMENTRO DA FUNÇÃO HEPÁTICA 1. Classificação de Child-Pugh: Reflete capacidade e reserva hepática funcional e também retrata porcentagem de mortalidade operatória. Tabela 1: Classificação de Child-Pugh: Os critérios e variáveis atribuem ao paciente um valor, em pontos, que determina qual o grau de estado do paciente. Grau A: 5-6 pontos, grauB: 7-9 pontos e grau C: 10-15 pontos: o Paciente com 7 pontos ou mais já são considerados descompensados, já é considerado procedimentos mais invasivos ou transplante. Existe uma dica para lembrar dos critérios da classificação de Child-Pugh: BEATA: o B: Bilirrubina; o E: Encefalopatia hepática; o A: Ascite; o T: Tempo de protrombina: o A: Albumina. 2. Classificação de Meld (Modelo para Doença Hepática Terminal): Sistema de pontuação para avaliar a gravidade da doença hepática crônica; Mais simples e com melhor capacidade de prever sobrevida dos hepatopatas; Aos critérios/as variáveis avaliadas são: bilirrubina sérica, creatinina sérica e índice internacional normalizado (INR); Usado em pacientes descompensados: (Paciente com Child igual ou de maior que 7 já são considerados descompensados, e por isso será necessário calcular o MELD) A partir dessa classificação avalia-se prioridade na fila de transplante, avalia-se a realização de TIPS e também por ser marcador prognóstico. EXAMES LABORATORIAIS Testes de função hepática: Não são diagnósticos de hepatopatia: Podem possuir hepatopatas com exames laboratoriais normais e vice-versa. 1. Aminotransferases: Lesão da membrana dos hepatócitos: o AST ou TGO: São menos especificas, por poder ser encontrada em miocárdio, músculo esquelético, rim e cérebro; o ALT ou TGP: Altamente específica do fígado, logo, muito fidedigna. Não existe uma boa correlação direta entre os níveis das transaminases e o grau da lesão hepática, ou seja, quando há uma hepatopatia e uma alteração de função de transaminases não significa exatamente que há graus mais elevados de lesão hepática. Nas hepatites mais agudas, a alteração das transaminases para maior de 10x do valor de referência, mas isso não se traduz nas hepatopatias crônicas. Fosfatase alcalina (FA): Não é uma enzima própria de hepática, pois pode estar aumentada em ossos, placenta e intestino delgado. É encontrada na membrana dos hepatócitos, próximos ao canalículo biliar, logo é uma enzima cuja alteração é vista (geralmente) em doenças da via biliar; Quando associada a elevação da GamaGT: É um indício mais consistente de alteração hepática. Bilirrubina total e frações: Função excretora e detoxificadora do fígado: Paciente com hiperbilirrubinemia quando a custa de bilirrubina direta se fala de doenças hepáticas ou obstruções hepáticas, quando a custas de bilirrubinas a custas de indireta é devido a degradação de bilirrubinas dentro das hemácias ou doenças hereditárias. Albumina: É produzida exclusivamente no fígado, logo é um valioso teste de síntese do órgão; possui meia vida de 15 a 21 dias: Na disfunção hepática há queda da albumina (menor que 3), mas também pode ter em desnutrição e infecção crônica; É importante avaliar as globulinas, devido a diminuição de bactérias e o aumento de imunoglobulinas que sugerem algumas etiologias de hepatopatia crônica. Tempo de protrombina (TAP): Marcador de circulação. É uma das melhores provas de medida da função hepática; meia-vida muito mais curta que albumina. CIROSSE HEPÁTICA A fisiologia da cirrose hepática se dá pela atividade necroinflamatória crônica que ativa células de Kupffer e sistema imunológico. Quando isso acontece, as células estreladas sintetizam a matriz extracelular (composto principalmente por colágeno tipo I e III) que se deposita no espaço de Disse, gerando a capilarização dos sinusóides e posterior fibrose em ponte. Assim, o sangue passa direto sem sofrer absorção pelos hepatócitos, isso acaba levando ao aumento da resistência MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca vascular intra-hepática, que é a gênese da hipertensão portal. Então, nesse momento ocorre a necrose, fibrose e regeneração, com alterações arquitetônicas: nódulos de regeneração que não são funcionais. Etiologia: Hepatite crônica e doença hepática e alcoólica são responsáveis por 80% dos casos de cirrose no Brasil; Manifestações clínicas: No início pode não ter alteração, mas quando há os inicias são: perda ponderal, fraqueza, mal-estar. Atentar-se para a história pregressa. Em casos mais crônicos: Icterícia, ascite (presença de sinal de macicez móvel e semicírculo de Skoda, realizar o sinal de Piparote,), esplenomegalia e visceromegalias, circulação lateral proeminente (cabeça de medusa), edema, ginecomastia, teleangiectasias, eritema palmar, flapping (movimentos assicrônicos da mão): Hiponatremia, hipocalmeia e acidose metabólica também podem estar presentes. MANIFESTAÇÕES LABORATORIAIS Anemia, leucopenia e trombocitopenia; Coagulopatia; Hipoalbuminemia; Elevação AST e ALT (geralmente 3x valor de referência): o Relação AST/ALT maior que 2: provável da etiologia ser cirrose alcoólica. FA e GGT: Aumentados se colestase presente; Bilirrubinas totais: 3mg/100ml na descompensação hepática grave. Lembrar de solicitar sorologia para hepatite, Alfafetoproteína (acompanhar desenvolvimento de CHC – carcinoma hepatocelular). EXAMES DE IMAGEM Na fase inicial são todos normais. RNM (ressonância magnética): Mais fácil identificação de nódulos regenerativos; USG (ultrassonografia) ou TC (tomografia): Serve para rastreio semestral de CHC em pacientes cirróticos associada a dosagem alfafetoproteina. OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES Biópsia: Padrão-ouro: o Não é um exame de rotina, é reservado para dúvida diagnóstica; o Pode ser realizado por via percutânea (evitar se presente coagulopatia ou ascite moderada), transjugular venosa ou via laparoscópica; o Os achados são: Ácino hepático desregulado, hepatócito sem funcionar e necrose perivenular. COMPLICAÇÕES NA INSUFICIÊNCIA HEPATOCELULAR O que gera as complicações na insuficiência hepática? Descompensação. Encefalopatia hepática, síndrome hepatorrenal, complicações pulmonares; desnutrição crônica, coagulopatia, anormalidades hematológicas, doença óssea e hepatocarcinoma. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA É um quadro reversível caracterizado por alterações neurológicas de graus variáveis, decorrente de falência hepática. Encontrado nas lesões aguda e nas crônicas (mais comum); Apresenta um diagnóstico eminentemente clínico: Principal achado é a alteração no nível de consciência; exames complementares excluem alguns diagnósticos diferenciais; Mecanismo: A insuficiência hepatocelular ou shunt portossistêmico faz com que o sangue não seja depurado nos hepatócitos, deixando as toxinas intestinais livres, a exemplo da amônia (É produzida nos enterócitos pelo catabolismo proteico, e em condições normais é transformada em ureia ou glutamina) que ultrapassa a barreira hematoencefálica causando a neurotoxicidade; Classificação: Fluxograma 1: Classificação da encefalopatia hepática. Quadro clínico: Distúrbios de comportamento (agressividade, agitação), sonolência/letargia, inversão ciclo sono-vigília, fala arrastada com bradipsiquismo, hálito hepático/halitose; Asterixis (“flapping”), incoordenação muscular, crise convulsivas /descerebração; O sinal clínico Flapping (Figura 5): Contrações descornados e repetidas de mão e de pé quando se faz uma hiperextensão excessiva, conhecido como batimento de asa de borboleta, é muito sugestivo de encefalopatia hepática. Fatores precipitantes que podem levar a descompensação: Peritonite bacteriana espontânea, hemorragia digestiva alta (sangramento por varizes esofágicas é metabolizado por bactérias); Hipocalemia (aumenta a produção renal de amônia); MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Alcalose metabólica (alteração do pH levam a forma ionizada – amônio – para a não ionizada – amônia); Diuréticos de alça ou tiazídicos; Diagnostico: Clínico; Diagnósticos diferenciais (Tabela 2): o A nível metabólico:Hipo ou hiperglicemia, hipo ou hipercalcemia, hipocalemia e hipóxia; o Tóxicas: Intoxicação alcoólica, abstinência alcoólica, narcose por monóxido de carbono e drogas ilícitas e medicações; o A nível do SNC: AVC, meningite e abscesso, trauma e tumor. Critérios de West Haven: Estágios da encefalopatia (Tabela 2): É realizado pela consciência, intelecto e o comportamento e os achados neurológicos. Tratamento: Identificação e remoção de fatores precipitantes (medidas de prevenção, ex.: profilaxia para sangramento de varizes gastresofágicas, profilaxia de peritonite bacteriana espontânea, uso correto e não abusivo de diuréticos, controle de acidose, alcalose e hipocalemia); Dieta (evitar constipação intestinal), lactulona (corrige a constipação com lactulose de 15- 20ml de 8/8horas, objetivando 2-3 evacuações de fezes amolecidas por dia), se necessário outras drogas (ex.: metronidazol, neomicina que são antibióticos usados pensando em alterar pH intestinal, diminuir a flora colônica – risco de efeitos colaterais) e transplante hepático. SÍNDROME HEPATORRENAL (SHR) É uma insuficiência renal aguda que ocorre em 10% dos pacientes com cirrose avançada. Nesses casos, o parênquima renal encontra-se intacto, e ocorre uma vasoconstricção renal exacerbada que não responde a volume. É um desequilíbrio entre fatores vasodilatadores (ex.: óxido nítrico que vai vasodilatar, gerar uma hipovolemia relativa, hipertensão arterial e diminuir o volume circulante) e vasoconstrictores; Quadro clinico: Hepatopata com ascite volumosa associada a Oligúria ou elevação das escórias nitrogenadas; Conduta: I. 1º passo: Excluir outras causas de insuficiência renal aguda; II. 2º passo: Identificar fatores precipitantes: Sangramento gastrointestinal, infecção, diurese intensa com rápida perda de peso, paracentese de grande volume sem reposição de albumina (o objetivo de se fazer albumina é diminuir a perda de líquido para o terceiro espaço). Figura 6: Classificação da SHR. Tratamento: o Ao identificar o fator precipitante atuar nele; o Tratamento clínico é pouco efeito: Uso de vasoconstrictores sistêmicos (ex.: terlipressina, noradrenalina) e albumina intravenosa: 1g/kg/dia (máximo de 100g/dia). o Atuar na prevenção: Evitar o uso inapropriado de diuréticos; Corrigir precocemente os distúrbios, hemorragias e infecções; Pacientes infectados por PBE (Peritonite bacteriana espontânea): Administrar albumina. o Transplante hepático. COMPLICAÇÕES PULMONARES Síndrome hepatopulmonar: Ocorre em pacientes em estado mais grave, em que ocorre uma hipoxemia crônica devido a vasodilatação (por conta do oxido nítrico os capilares apresentam-se muito dilatados gerando menor oxigenação e consequente hipoxemia) vasculares e intrapulmonares. No quadro clinico há dispneia aos esforços: o Tratamento: Mesmo com medicamento, o paciente é cronicamente hipodérmico. Transplante hepático. Hipertensão portopulmonar: O mecanismo base é a vasoconstricção por algumas substâncias acumuladas. Incialmente pode ser reversível, mas com o tempo altera a arquitetura. Alguns achados são dispneia aos esforços, síncope, dor torácica, alteração nas bulhas cardíacas e hipertrofia do ventrículo direito: o Tratamento: Anticoagulação. Quando a pressão pulmonar for muito alta o paciente chega a ser contraindicação para o transplante. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca DESNUTRIÇÃO O paciente hepatopata é caracteristicamente desnutrido e hipercatabólico, devido a baixa ingestão de alimentos, alteração na mucosa absortiva intestinal (diminuição das vilosidades) e alterações no metabolismo proteico. COAGULOPATIA Por redução da síntese dos fatores de coagulação. O TAP é o primeiro exame a ser alterado, pois mostra via extrínseca e o fator VII – esse possui a meia vida mais curta; Nesses pacientes, quando necessário tratar sangramento é realizado o uso de plasma fresco congelado – por possuir todos os fatores de coagulação; Pode haver déficit dos fatores de coagulação e colestase devido ao déficit da vitamina K que influencia diretamente na cascata: o Fazer dosagem de vitamina K e colher novamente em 24 horas. ANORMALIDADES HEMATOLÓGICAS Prevalência da anemia em 75% dos casos, devido a mecanismos multifatoriais: o Dilucional devido ao acúmulo de liquido; o Redução da vida média das hemácias de 100-120 dias para 20-30 dias devido a: Hiperesplenismo: Aumento das visceromegalias, ex.: Esplenomegalia congestiva ou por hemólise; Alteração no metabolismo eritrocitário tornando as hemácias instáveis; Alteração da composição lipídica de suas membranas com aumento do teor de colesterol e lecitina. o Redução da resposta eritropoietica à anemia devido a: Efeito direto do álcool na medula óssea, gerando algum grau de anemia medular; Anemia megaloblástica por carência de folato; Anemia ferropriva por sangramento crônico, ex.: sangramento das varizes esofágicas; Queda da produção de eritropoetina hepática. DOENÇA ÓSSEA Osteoporose: Devido à má absorção de vitamina D e/ou redução da ingesta de cálcio: o O tratamento é feito com bisfosfonatos. HEPATOCARCINOMA (CHC) A cirrose é o principal fator predisponente para o CHC e as principais condições associadas são: hepatite viral crônica (A e B), álcool, esteato hepatite não alcoólica, hemocromatose hereditária, hepatite autoimune, deficiência de alfa1-antitripsina, cirrose biliar primária. SÍNDROME DA HIPERTENSÃO PORTAL O sistema porta é composto pela veia mesentérica superior e veia esplênica: o A pressão normal do sistema porta é de 3 a 5 mmHg, definimos como hipertensão portal quando esse valor é maior que 5; o O sistema porto-hepático é onde ocorre a “primeira passagem no fígado”, ou seja, antes das substancias circular por todo o corpo, ela passa pelo fígado, ex.: medicamento. Etiologia: o Pré-hepática: Trombose da veia porta, veia esplênica e/ou condições que aumentam o fluxo portal, associada a hipercoagulabilidade; o Intra-hepática: Pré-sinusoidal causada principalmente por esquistossomose (podem não apresentar ascite); Sinusoidal causada por cirrose hepática que destrói a arquitetura portal; Pós-sinusoidal causada por doença hepática veno-oclusiva. o Pós-hepática: Trombose da veia hepática – conhecida como Síndrome de Budd-Chiari –, obstrução da veia cava inferior e doenças cardíacas, ex.: ICC. Patogênese: Resistência aumentada que causa uma obstrução ou hiperfluxo devido a vasodilatação esplâncnica, levando a uma pressão aumentada, dificultando o fígado em drenar o sangue levando ao represamento desse nos vasos anteriores; Gradiente de pressão (é calculado por aferição direta por cateteres – via subcutânea até sistema porta – ou por aferição por punção da veia jugular via cateter com balão da veia jugular até a veia cava superior, entrando nas veias hepáticas): o > 5mmHg: Hipertensão portal; o > 10mmHg: Formação de varizes; o > 12mmHg: Aumento da chance de ruptura de varizes. Não é necessário medir a pressão do sistema porta para diagnóstico de hipertensão portal. A suspeita diagnóstica começa na clínica, com os sinais e sintomas (esplenomegalia, encefalopatia hepática, ascite, circulação colateral – cabeça de medusa: vasos recanalizados após abertura da veia umbilical). Exames complementares: o USG com Doppler: (Principal método de imagem). Avalia a direção e velocidade do fluxo, além de outros órgãos, ex.: baço; o EDA: Para diagnostico de varizes esofágicas e se presente qual seu grau, além de se necessário aplicar terapia via EDA; MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca o USG endoscópica: Método adicional não utilizado em rotina. Serve para avaliar mais criteriosamente as varizes esofágicas; oAngioTC ou AngioRM: Métodos não invasivos que avaliam a situação do sistema porta. Importante para suspeita de trombose do sistema portal; o Angiografia: Método invasivo realizado através da hemodinâmica, utilizado para mapear anatomia e traçar plano diagnóstico. Em pacientes com hipertensão porta é preciso fazer acompanhamento com EDA: A cada 2/3 anos quando não há evidencias de varizes; Quando há evidências de varizes: o Anual para pacientes classificados com Child-Pugh B/C; o Se for varizes pequenas: 1/2 anos. VARIZES ESOFÁGICAS Pacientes a partir de Classe B de Child Pugh tem maior risco de sangramento digestivo alto; Tratamento profilático: o Em varizes de médio e grande calibre (F 2 /F 3) e varizes de pequeno calibre em paciente Child-Pugh B/C ou pontos avermelhados na EDA; o Clinico através do betabloqueador: Propranolol; o Cirúrgico: Ligadura endoscópica de varizes caso o paciente não tolere o betabloqueador. Em episódios de sangramento: Estabilização clínica (monitorizar, hidratar, reposição volêmica e a depender do caso, reposição sanguínea, antibioticoprofilático) + Interrupção do sangramento + Prevenir outras complicações; Medidas para interromper o sangramento: Endoscopia (primeira opção por ter visão direta das varizes), Drogas vasoconstrictoras, ex.: somatostatina e octreotide, balão, TIPS e cirurgia – Basicamente nessa mesma ordem. o Terapia endoscópica: 1. EDA: Utilizada para sangramento agudo e prevenção de recidivas. Como dito anteriormente primeiro tratamento por cessar 80-90% do sangramento; Realizado ligadura por elástica ou injeção endoscópica de algumas substâncias - Figura 7: 2. Tamponamento por balão de Sengstaken-blakemore: Medida temporânea (recidiva em 50º% dos casos), utilizada para estabilização do paciente para posterior realização de EDA ou em falta de EDA no estabelecimento (Figura 8): Método: Com o paciente intubado, é introduzido o balão pela narina até chegar na cavidade gástrica, é insuflado o balão (primeiro gástrico e segundo esofágico) para cessar o sangramento das varizes (85%); Complicações: Perfuração, isquemia, necrose da mucosa do esôfago, broncoaspiração. 3. TIPS (Derivação portossistêmica transjugular intra-hepática): Essa derivação geralmente ocorre entre as veias hepática direita e porta, gerando uma descompressão do sistema porta com intervenção endoscópica: Método: É cauterizado uma veia hepática e cria-se uma fístula da veia hepática e da veia porta, depois passa um shunt – prótese autoexpansível, comunicando o sistema porta com a circulação via veia hepática; É indicado para pacientes em casos mais avançados de cirrose com risco de sangramento e pacientes com sangramento atípico e falha de outras terapêuticas; Desvantagem: É um procedimento invasivo que aumenta a presença de encefalopatia hepática, além do risco de estenose da prótese quando fica implantada por mais de 1 ano. 4. Derivações cirúrgicas: Falhas ou contraindicações de EDA e TIPS: Desvantagem: Mortalidade > 25%, risco de recidiva de sangramento alta. Pode ser de derivações não seletivas (portocava terminolateral, laterolateral, por interposição e esplenorrenal convencional que desviam completamente o fluxo sanguíneo porta para longe do fígado) e seletivas: derivação esplenorrenal distal das veias gástricas curtas, baço e veias esplênicas para a veia renal esquerda. Figura 9: Na imagem acima as derivações não seletivas e a imagem ao lado a derivação seletiva.
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