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HIV E AIDS Camila Rocha Almeida CONHECENDO O HIV os que codificam as proteínas estruturais (gag, pol e env) gag (antígeno de grupo): codifica a matriz proteica (MA ou p17), o capsídeo viral (CA ou p24) e as proteínas nucleares (NC ou p6 e p7) pol (polimerase): codifica as seguintes enzimas virais transcriptase reversa (RT ou p51/ p66), que também possui atividade de RNase H, protease (PR ou p10) e integrase (IN ou p32) env (envelope): codifica uma proteína inicial que é clivada, dando origem à proteína de transmembrana (gp41) e à proteína de superfície (SU ou gp120) os que codificam proteínas não estruturais (tat, rev, nef, vif, vpu, e vpr) regulatórios (tat e rev), necessários para replicação viral in vitro acessórios (vif, vpu, vpr e nef), que não são essenciais Retrovírus são vírus RNA que, pela enzima DNA polimerase RNA-dependente (transcriptase reversa), são capazes de copiar seu genoma de RNA em uma dupla fita de DNA, e de integrarem-se ao genoma da célula hospedeira. Um dos gêneros de retrovírus é o Lentivirus, no qual encontramos o HIV. O HIV é um vírus de aproximadamente 100 nm de diâmetro, envelopado, apresentando em sua superfície uma membrana lipídica oriunda da membrana externa da célula do hospedeiro e duas glicoproteínas (gp41 e gp120). Internamente a essa membrana, está a matriz proteica, formada pela proteína p17 e pelo capsídeo viral de forma cônica composto pela proteína p24. O genoma do HIV contém nove genes e duas regiões denominadas LTR (long terminal repeats), onde estão presentes elementos de controle para integração, transcrição e poliadenilação dos RNA mensageiros. Os genes podem ser divididos em dois grupos: O HIV é classificado em dois tipos (1 e 2), com o HIV-1 subdividido em quatro grupos: M (major), O (outlier), N (new) e P. Aparentemente o HIV-2 tem infectividade e patogenicidade menor que o HIV-1. Os testes de ELISA baseados apenas em proteínas sintéticas ou peptídeos do HIV-1 grupo M podem não detectar HIV-2 e HIV-1 grupo O. Esses vírus também não são detectados pelos testes comerciais de carga viral. O grupo M do HIV-1 representa a maior parte da pandemia: alguns subtipos têm sido relacionados com a transmissão viral, ou com a replicação viral, sendo que o subtipo C representa 56% das infecções no mundo. Em relação ao tratamento, o HIV-2 e o HIV-1 subtipo O não respondem aos inibidores não análogos da transcriptase reversa. O CICLO VIRAL Inicia com a entrada do vírus na célula, através da ligação da proteína de superfície (gp120) com o receptor da célula (molécula CD4) e a fusão mediada pela gp41. Seus correceptores são as moléculas CXCR4 e CCR5, cujos ligantes naturais são quimiocinas (SDF-1, para a primeira, e RANTES, MIP-1a e MIP-1b, para a segunda. É interessante ressaltar que indivíduos com deleção no gene CCR-5 são resistentes à infecção pelo HIV, e os indivíduos heterozigotos evoluem de forma mais lenta para a AIDS. Após entrar na célula, a proteína viral se liga à proteína APOBEC3G, um antiviral natural da célula, levando a sua degradação. HIV E AIDS Camila Rocha Almeida O CICLO VIRAL a) inibidores da transcriptase reversa: atuam na fase inicial do ciclo, impedindo a formação do DNA a partir do RNA b) inibidores da protease: atuam no final do ciclo impedindo a maturação da partícula viral c) inibidores da fusão: impedem a fusão da membrana viral com a celular impedindo a entrada do vírus d) inibidores da entrada: atuam impedindo a ligação do vírus ao receptor (CD4) ou aos correceptores (CCR5 ou CXC4) e) inibidores da integrase: impedem que o provírus recém-produzido pela RT integre-se ao genoma da célula hospedeira f) inibidores da maturação viral: ligam-se a regiões específicas da proteína precursora do gene gag impedindo a sua clivagem Nas primeiras 6 horas de infecção, o RNA viral é convertido a DNA pelas enzimas transcriptase reversa e ribonuclease H. A dupla fita de DNA é integrada de forma randômica ao genoma do hospedeiro pela enzima integrase, cujo funcionamento depende do cofator LEDGF/p75. Proteínas celulares e virais controlam a expressão gênica do HIV. Inicialmente, apenas as proteínas Tat, Rev e Nef são sintetizadas. O acúmulo da Tat no núcleo da célula aumenta a transcrição da Rev, que regula a expressão do RNA mensageiro, levando a produção das proteínas estruturais. Após a síntese da proteína precursora do Gag, esta é direcionada a membrana celular para montagem da partícula viral. A liberação do vírus é por brotamento; durante esta fase, a enzima protease processa as proteínas precursoras dos genes pol e gag, tornando a partícula viral madura e capaz de infectar uma nova célula. O conhecimento do ciclo viral permitiu que fossem desenvolvidas drogas antirretrovirais, que atualmente podem ser divididas em: COMO FUNCIONA A DINÂMICA DO VÍRUS? Na fase precoce, ocorre a ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor específico da superfície celular (principalmente linfócitos T-CD4), desencadeando a fusão do envelope do vírus com a membrana da célula hospedeira. Assim, há a liberação do capsídeo do vírus para o citoplasma da célula hospedeira, onde ocorre transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente da enzima transcriptase reversa. Esse DNA complementar é transportado para o núcleo da célula, onde pode haver integração no genoma celular (pro-vírus), dependente da enzima integrase, ou a permanência em forma circular, isoladamente. Na fase tardia, o pro-vírus é reativado e produz RNA mensageiro viral, indo para o citoplasma da célula, no qual as proteínas virais são produzidas e quebradas em subunidades, por intermédio da enzima protease. Essas proteínas virais produzidas regulam a síntese de novos genomas virais, e formam a estrutura externa de outros vírus que serão liberados pela célula hospedeira. O vírion recém-formado é liberado para o meio circundante da célula hospedeira, podendo permanecer no fluído extracelular, ou infectar novas células. HIV E AIDS Camila Rocha Almeida COMO FUNCIONA A DINÂMICA DO VÍRUS? Durante a fase aguda, a carga viral é de aproximadamente 105 a 107 cópias/mL, que diminui aproximadamente 100x após um período de 8 a 10 semanas, provavelmente devido ao desenvolvimento de células T citotóxicas. Segue-se um período em que o nível da carga viral mantém-se constante. Nesta fase, a quantidade de vírus presente no plasma correlaciona-se com a progressão para AIDS. O nível basal da carga viral de um indivíduo pode sofrer flutuações, devido a infecções ou administração de vacinas. A replicação viral ocorre principalmente nos órgãos linfóides, na região perifolicular dos centros germinativos. A quantidade de vírus presente neste local pode ser até 100 vezes maior que no sangue. A meia-vida da partícula viral no plasma é de apenas 6 horas e que são produzidas cerca de 109 a 1010 partículas virais por dia. A maioria das partículas virais (93 a 99%) são produzidas por linfócitos CD4 ativados, que têm meia-vida de apenas um dia. As restantes (1 a 7%) são provenientes principalmente de células como macrófagos, cuja meia-vida é de 14 dias. As células T de memória são responsáveis pela produção de menos de 1% das partículas virais presentes no plasma. A alta taxa de replicação viral é responsável pelo surgimento de mutações que geram resistência aos antirretrovirais. EPIDEMIOLOGIA O HIV continua a ser um grande problema de saúde pública global, tendo ceifado cerca de 36,3 milhões de vidas até agora. Havia cerca de 37,7 milhões de pessoas vivendo com HIV no final de 2020, mais de dois terços das quais (25,4 milhões) estavam na Região Africana da OMS. De 2007 até junho de 2020, foram notificados no Sinan 342.459 casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo mais prevalente na região Sudeste com 152.029 (44,4%) casos. Nesse mesmo período, foi notificado no Sinan um total de 237.551 (69,4%) casos em homens e 104.824 (30,6%) casos em mulheres. A razão de sexos para o ano de 2019 foi de 2,6 (M:F), ou seja, 26 homens para cada dez mulheres. No que se refere às faixas etárias, observou-seque a maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se no grupo de 20 a 34 anos, com percentual de 52,7% dos casos. Com relação à raça/cor autodeclarada, observa-se que 40,1% ocorreram entre brancos e 50,7% entre negros. Em um período de dez anos, houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes: em 2009, registraram-se 2,3 casos/mil nascidos vivos e, em 2019, essa taxa passou para 2,8/mil nascidos vivos. Esse aumento pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV. De 2000 a junho de 2020, registrou-se um total de 802.078 casos de aids no país, sendo que 554.842 (69,2%) foram notificados no Sinan. Em um período de dez anos, a taxa de detecção apresentou queda de 17,2%: em 2009, foi de 21,5 casos por 100 mil habitantes e, em 2019, como mencionado, de 17,8 casos a cada 100 mil habitantes. HIV E AIDS Camila Rocha Almeida FORMAS DE TRANSMISSÃO O HIV pode ser transmitido pela troca de uma variedade de fluidos corporais de pessoas infectadas, como sangue, leite materno, sêmen e secreções vaginais. O HIV também pode ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez e o parto. Os indivíduos não podem ser infectados por meio do contato cotidiano comum, como beijos, abraços, apertos de mão ou compartilhamento de objetos pessoais, comida ou água. É importante notar que as pessoas com HIV que estão tomando TARV e são suprimidas por vírus não transmitem o HIV a seus parceiros sexuais. O acesso precoce ao TARV e o apoio para permanecer em tratamento são, portanto, essenciais não apenas para melhorar a saúde das pessoas com HIV, mas também para prevenir a transmissão do HIV. FATORES DE RISCO ter sexo anal ou vaginal desprotegido; ter outra infecção sexualmente transmissível (IST), como sífilis, herpes, clamídia, gonorreia e vaginose bacteriana; compartilhamento de agulhas, seringas e outros equipamentos de injeção e soluções de drogas contaminadas ao injetar drogas; receber injeções inseguras, transfusões de sangue e transplante de tecidos e procedimentos médicos que envolvam cortes ou perfurações não esterilizadas; e experimentando ferimentos acidentais por agulha, incluindo entre trabalhadores de saúde Os comportamentos e condições que colocam os indivíduos em maior risco de contrair o HIV incluem: EPIDEMIOLOGIA Em 2020, 680.000 de pessoas morreram de causas relacionadas ao HIV e 1,5 milhão de pessoas contraíram o HIV. Desde o início da epidemia de AIDS (1980) até 31 de dezembro de 2019, foram notificados no Brasil 349.784 óbitos tendo o HIV/aids como causa básica. No geral, os coeficientes de mortalidade apresentaram queda nos últimos dez anos em todas as faixas etárias, com exceção da faixa de 60 anos ou mais, que mostrou aumento de 38,5%. Não há cura para a infecção pelo HIV. No entanto, com o aumento do acesso à prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados eficazes do HIV, incluindo para infecções oportunistas, a infecção pelo HIV tornou-se uma condição de saúde crônica gerenciável, permitindo que as pessoas que vivem com o HIV tenham uma vida longa e saudável.