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1 PERÍCIA PSICOLÓGICA Podemos definir perícia psicológica no contexto forense como o exame científico, desenvolvido por um especialista, realizado com o uso de métodos e técnicas reconhecidas pela Psicologia, com a efetivação de investigações, análises e conclusões sobre os fatos e pessoas, apontando uma possível correlação de causa e efeito, além de identificar a motivação e as alterações psicológicas dos agentes envolvidos no processo judicial. → Destacamos que “peritagem” e “expertise” são sinônimos de perícia. SEGUNDO ORTIZ: → A palavra perícia vem do latim peritia que significa: destreza, habilidade. → Considerada uma prova judicial, a perícia tem a peculiaridade de ser produzida mediante intervenção de uma pessoa encarregada de expressamente certificar-se dos fatos para dar conhecimento deles ao Julgador. → Os resultados da perícia são apresentados por meio de um parecer sucinto, apenas com respostas aos quesitos formulados, ou via laudo técnico com exposição detalhada dos elementos investigados, sua análise e fundamentação das conclusões, além de resposta aos quesitos formulados. (BRANDIMILLER, 1996). UM BREVE HISTÓRICO → Início no reconhecimento da profissão: década de 1960. → Os primeiros trabalhos ocorreram na área criminal, enfocando estudos acerca de adultos criminosos e adolescentes infratores da lei (Rovinski, 2002). → Lei Federal nº 7.210/84): o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária (Fernandes,1998). → Os pacientes passaram a ser classificados em duas grandes categorias: de maior ou de menor severidade, ficando o psicodiagnóstico a serviço do último grupo, inicialmente. → Os pacientes de maior severidade, com possibilidade de internação, eram encaminhados aos psiquiatras (Rovinski, 1998). → A partir de estudos comparativos e representativos, foi demonstrado que os diagnósticos de Psicologia Forense podiam ser melhores que os dos psiquiatras (Souza, 1998). O CFP (1995) considera que entre outras atribuições, cabe ao psicólogo "REALIZAR PERICIAS E EMITIR PARECERES SOBRE A MATÉRIA DE PSICOLOGIA" (art.4, n.º6). Cumpre ressaltar que de acordo com a legislação, o psicólogo pode atuar como perito judicial ou assistente técnico nas varas cívis, criminais, de justiça do trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando laudos, pareceres e perícias a serem anexadas aos processos (art. 5) 2 QUEM SOLICITA? → É importante deixar claro que é sempre função do juiz determinar ou não a realização de uma perícia, sendo ou não provocado pelas partes. → É de competência do juiz determinar os técnicos e nomear o perito que é o profissional de sua confiança. → Essa, inclusive, é uma das características da perícia: ocorrer via “requisição formal” e o seu objeto de investigação é colocar luz, esclarecer uma situação ou fato polêmico que vem de um conflito de interesses que está sob disputa no âmbito do sistema jurídico. → O nosso Código de Processo Civil (CPC), diz que a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação. O juiz indeferirá a perícia quando: 1. A prova do fato não depender do conhecimento especial de técnico. 2. For desnecessária em vista de outras provas produzidas. 3. A verificação for impraticável. → Nomeado perito, o psicólogo deve avaliar a dinâmica emocional do periciando, procurando esclarecer os quesitos solicitados pelo juiz. → Portanto, utilizando instrumentos psicológicos, com auxílio de uma escuta e de um raciocínio especializado do psicólogo, o perito deverá elaborar o laudo, contendo as respostas que lhe foram solicitadas, devidamente fundamentadas e respeitando as normas éticas de sua profissão (Silveira, 2001). AS PERÍCIAS JURÍDICAS JUIZADO DE MENORES: onde são atendidos especialmente os menores carentes; Verifica-se que os fatores ambientais são as principais causas dos desajustamentos tanto afetivos quanto emocionais. VARAS DA FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES: com as desadaptações, quer no casal que passa pelo processo, quer na prole envolvida nos litígios, resultantes dos desajustes familiares, ocorre também a necessidade de trabalho pericial. DIAGNÓSTICO SITUACIONAL → Especialmente quando a disputa pela guarda, a presença do psicólogo faz-se imprescindível para a verificação dos fatores subjetivos que predominam nas mútuas acusações. → Assim, forma-se uma perspectiva abrangente e nítida da situação e podendo-se mesmo distinguir, em detalhes, toda a dinâmica familiar. Utiliza-se: 1. Os dados processuais (onde serão privilegiados os laudos de áreas afins da psicologia), 2. O estudo pormenorizado das entrevistas (tanto em relação ao que se pode extrair delas como dados objetivos ou subjetivos), 3. Os fatos constatados nas anamneses 4. O próprio comportamento expresso pelos analisados na fase de coleta de dados 3 → A abrangência de um estudo psicológico somente será possível numa perícia caso o técnico disponha de uma perspectiva flexível e ampla de enfoques teóricos em diferentes abordagens da psicologia. Um laudo, em geral, segue uma linha teórica com base em uma abordagem psicológica. Todavia, as questões colocadas na forma de quesitos por certos casos específicos poderão conduzir a necessidade de conhecimento sobre os outros saberes, levando em conta, no entanto, os aspectos psicodinâmicos que envolvem o caso específico. O PAPEL DO ESPECIALISTA EM PSICODIAGNÓSTICO → Não se deve esquecer que os psicodiagnósticos constituir-se-ão em anexos do laudo e, mesmo as folhas de respostas embora não sejam acrescentadas ao relatório, ficarão à disposição dos assistentes técnicos para possível verificação e conferência da classificação das respostas. → Em certos casos, é também de grande valia a utilização do ludodiagnóstico, dependendo da faixa etária e/ou dos bloqueios verificados. → É de se levar em conta, ainda, que existem casos em que os litigantes se negam a se submeter ao psicodiagnóstico. Nesses casos, o perito-psicólogo deverá trabalhar com esse dado analisando, no contexto específico, considerando-se: (1) Que a recusa sugere uma forma de "proteção" do sujeito, ou seja, de não se expor psicologicamente; (2) ou por impossibilidade real de arcar com as despesas do profissional que procederá aos exames psicológicos. → Mesmo quando não se realiza o psicodiagnóstico, os demais elementos de análise, especialmente as entrevistas e os dados de anamnese, se forem profundamente esmiuçados, fornecerão subsídios suficientes para instruir o Diagnóstico Situacional. ASSISTENTE TÉCNICO → Resolução nº 008/2010 - atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário. → Essa resolução informa que o assistente técnico é o profissional capacitado para questionar tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito e, portanto, deverá atuar eticamente, sem prejuízo do princípio da autonomia teórico - técnica e ético - profissional, devendo o periciando ou beneficiário, desde o início, ser informado. → O assistente técnico restringirá sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando quesitos que venham a esclarecer pontos não contemplados ou contraditórios, identificados a partir de criteriosa análise. → Ademais, o Art. 429, do Código de Processo Civil dispõe que “para desenvolver sua função, o assistente técnico poderá ouvir pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre outros meios”. A síntese dos elementos disponíveis para análise, ao serem confrontados com os dados aflorados nos psicodiagnósticos, permite um DIAGNÓSTICO SITUACIONAL Entretanto, diferentes autores, entre os quais Landry (1981) eFoucault (1983), alertam que o prévio conhecimento do processo judicial poderá contaminar as conslusões do perito A fim de dar o devido apoio pericial, torna-se indispensável a realização do psicodiagnóstico ou da presença de especialistas em psicodiagnóstico para que o perito não incorra em ilações e correlações precipitadas e, muitas vezes, fantasiosas. 4 Art. 2º - O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e qualidade do serviço realizado. → É de competência do juiz determinar os técnicos e nomear o perito. → Nomeado perito, o psicólogo deve avaliar a dinâmica emocional do periciando, procurando esclarecer os quesitos solicitados pelo juiz. → O trabalho a ser realizado pelo assistente técnico tem objetivo e fim idêntico àquele atribuído ao perito; entretanto, o assistente técnico é o psicólogo de confiança da parte que a contrata para a auxiliar a fundamentar seus argumentos. → O assistente técnico é contratado para realizar avaliação psicológica, acompanhar de perto o desenrolar do processo e comentar o trabalho do perito judicial, desde que corresponda a ética profissional. A FUNÇÃO DO ASSISTENTE TÉCNICO Havendo divergências conclusivas, no estudo realizado, sendo considerado o caso inadequado ou insuficiente: • Nestas situações o assistente técnico pode solicitar que os litigantes se submetam a novas entrevistas, ou ainda aplicar ou encaminhá-los para que especialistas apliquem e avaliem outros testes que não sejam conflitantes com aqueles já utilizados. • Contudo, só se justificarão reaplicações de testes e/ou aplicação de novas provas se muitíssimo bem fundamentada esta pretensão pelo assistente técnico. • Não seria demais lembrar que o psicodiagnóstico é estressante, uma vez que obtém dados dos examinados, e muitas vezes, sem lhes dar o devido retorno. O PSICÓLOGO E A JUSTIÇA → O perito-psicólogo deverá dispor de tempo para priorizar o trabalho pericial, levando em conta a necessária agilização da Justiça, imposta por situações aflitivas. → Cabe ainda esclarecer que na perícia psicológica difere das outras pericias somente no quesito referente a subjetividade dos fatos. 5 → Portanto leva-se em conta que a Psicologia possui também suas próprias normas técnicas e princípios éticos, que não podem ser desconsiderados na realização das perícias. LAUDO PSICOLÓGICO OU PERICIAL E PARECER PSICOLÓGICO “Na elaboração de documento, o psicólogo baseará suas informações na observância dos princípios e dispositivos do Código de Ética” (Resolução CFP n.º 017/2002). → O laudo psicológico ou pericial refere-se a uma prova técnica, comunica os resultados de uma avaliação psicológica. → É redigido pelo perito nomeado pelo juiz, não devendo ultrapassar o necessário para a tomada da decisão judicial. → “O laudo fornece um diagnóstico situacional, que visa a auxiliar a busca de alternativas a uma situação conflitiva” (Bernardi, 1992). O laudo psicológico deve conter: Cabeçalho (nome do perito e sua titulação, nome do autor da solicitação e sua titulação); Dados de identificação do periciando e data; Objetivo da avaliação (esclarecer quais ações o laudo deverá subsidiar); Métodos e técnicas utilizados (instrumentos de coleta de dados); Descrição da conduta do periciando, a história clínica; Análise dos resultados; Conclusão (hipótese diagnóstica e/ou prognóstico, encaminhamentos relacionados à demanda); Identificação do profissional (registro do CRP) O PARECER POR PARTE DO ASSISTENTE TÉCNICO: → Deve ser fundamentado em uma avaliação técnica visando dirimir dúvidas, considerando os quesitos apontados. → É redigido pelo assistente técnico, exigindo deste psicólogo competência no assunto. → O juiz, habitualmente, determina ao perito que se manifeste em relação as críticas feitas ao seu laudo, delimitando o prazo quanto aos documentos. → A parte que desejar esclarecimentos do perito ou do assistente técnico deverá fazê-lo em forma de quesitos até 5 (cinco) dias antes da audiência (Código de Processo Civil, Seção VII, art. 435). QUANTO AOS INSTRUMENTOS PERICIAIS: ENTREVISTA: A fundamentação teórica do psicólogo permite realizar a entrevista em condições metodológicas mais restritas, convertendo-a em instrumento científico com resultados confiáveis. A entrevista, utilizada isoladamente, não substitui outros procedimentos de investigação da personalidade, mas completa os dados obtidos por outros instrumentos. “O laudo pericial, não deve apenas apontar as dificuldades, conflitos e patologias, mas focalizar as potencialidades e os aspectos construtivos do examinando.” 6 Observação: É importante enfatizar que durante a entrevista pode-se observar a aparência física, o comportamento verbal e não verbal, indicadores de tensão e ansiedade e as reações emocionais do periciando. Uma outra modalidade, a observação participante ou visita, pode ser realizada na própria casa do periciando, onde há maior possibilidade de observação do relacionamento familiar. TESTES PSICOLÓGICOS: Os testes devem ser considerados como instrumentos auxiliares e não podem ser utilizados como única fonte de avaliação. A escolha do teste psicológico está vinculada ao objetivo do estudo, às características do sujeito, a qualidade do teste e à experiência do aplicador. Empregam-se testes para avaliação objetiva da personalidade, da inteligência, do desempenho motor, etc. Cumpre salientar que a síntese dos resultados da testagem deve incluir a dinâmica psicológica (ansiedades e defesas) e o grau de maturidade da personalidade, portanto devem apresentar os aspectos positivos (amadurecidos, criativos) e aspectos negativos (imaturos, patológicos) da personalidade do periciando. A avaliação psicológica pode ser feita por diferentes métodos e técnicas, em função da natureza da avaliação e do objetivo do estudo. SIGILO PROFISSIONAL → Em relação aos dados obtidos na avaliação, sugerindo que deve ser informado apenas o que for necessário para o esclarecimento da situação judicial. → O dado obtido na avaliação psicológica em perícia, reflete um quadro situacional e temporal, considerando a natureza dinâmica e não cristalizada do periciando. → Cunha (2000) é da opinião que a devolução é de responsabilidade de quem encaminhou o processo, isto é, se o pedido de uma avaliação foi feita pelo juiz, é a ele que os resultados devem ser remetidos, cabendo-lhe a incumbência de comunicar os resultados. → Um outro autor (Clemente, 1995) no entanto, sugere ser obrigação do psicólogo comunicar a seus clientes os resultados obtidos na avaliação. Enfatiza, no entanto, que toda informação fornecida deve ser útil ao examinando e deve ser feita em linguagem acessível, salientando-se a segurança relativa das conclusões. QUANTO A NOMEAÇÃO → Apresentação da qualificação pessoal, no prazo de dez dias, pelo perito nomeado, ao Ofício de Justiça; → Declaração do perito de que não tem vínculo de parentesco sanguíneo com os juízes e servidores da unidade judiciária em que há de atuar; → Cópia de certidões dos distribuidores cíveis e criminais das comarcas da capital e de seu domicílio, relativas aos últimos dez anos; → Declaração do perito que não se opõe à vista de seu prontuário pelas partes e respectivos advogados e demais interessados a critério do Juiz; → No prazo máximo de dois anos ou sempre que houver alteração na titularidade da Vara, o perito deverá atualizar toda documentação.