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MUSCULAÇÃO E GINÁSTICA DE ACADEMIA Cristiano Cardoso de Matos Modelos de periodização na musculação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a importância da periodização do treinamento de força. � Analisar os efeitos das diferentes estratégias de periodização do trei- namento de força. � Elaborar uma periodização do treinamento de força a longo prazo. Introdução A periodização é o elemento-chave para um bom resultado em um treinamento de força. Alguns autores apontam que a falta de periodização pode acarretar resultados inferiores aos observados quando realizada uma periodização linear ou ondulatória. Além disso, a planificação do treino deve ser individual e para o dado momento. Neste capítulo, você estudará sobre a periodização do treinamento de força e, por consequência, da musculação. Além disso, conhecerá a importância da periodização, bem como quais são os seus efeitos. Por fim, conhecerá os tipos de periodização utilizados. 1 Importância da periodização do treinamento de força Um programa de treinamento de força bem estruturado, programado e periodi- zado que controle as variáveis do treinamento terá um resultado muito superior ao de um programa de treinamento sem periodização (NOVAES, 2008). Pode-se definir a capacidade coordenativa força como a capacidade que um indivíduo tem de aplicar uma força contra uma resistência (BOMPA; HAFF, 2012). A capacidade condicional força tende a aumentar com o crescimento da massa muscular (hipertrofia), bem como com a maturação do sistema nervoso (FUNDAÇÃO VALE, 2013). A força pode apresentar desdobramentos, como: força pura ou máxima, força associada à velocidade, ou à potência, e força associada à resistência, ou força resistida (FUNDAÇÃO VALE, 2013). A força explosiva ou potência pode ser entendida como a capacidade que o indivíduo tem de executar o máximo de força em um movimento explosivo. Já a força pura ou máxima é a máxima capacidade do indivíduo de coordenar o sistema neuromuscular para vencer uma resistência. Por fim, a força resistida é entendida como a capacidade do sistema muscular de realizar força por um máximo de tempo até entrar em fadiga (BOMPA; HAFF, 2012). Para que ocorram adaptações da força, independentemente do tipo, ao seu estímulo, deve ocorrer alterações em relação ao volume e à intensidade. O volume é entendido como o número de repetições de exercícios e séries, a frequência e a duração do treino. Já a intensidade pode ser entendida como a carga de treino, o intervalo de descanso e a velocidade de movimento (BOMPA; HAFF, 2012; FLECK; KRAEMER, 2017). Um dos pilares de um programa de treinamento de força bem estruturado e periodizado é o conhecimento sobre os princípios do treinamento de força, como, por exemplo: o princípio da individualidade biológica, que demonstra que cada indivíduo da mesma espécie é único; o princípio da especificidade, que relata que o estímulo deve ser o mais próximo do gesto a ser realizado; o princípio da sobrecarga, que consiste em sobrecarregar o organismo de maneira planejada; o princípio da reversibilidade, que transmite a ideia de que o estímulo dado pode ser reversível; e o princípio da continuidade, que aponta que o estímulo deve ser contínuo (BADILLO; AYESTARAN, 2001; BAECHLE; WESTCOTT, 2013; CHANDLER; BROWN, 2009; FAHEY, 2014; FLECK; KRAEMER, 2017; UCHIDA et al., 2003). Outro fator muito importante é a quantificação da intensidade. Uma das formas de montar a sessão de treino é por meio da prescrição com intensidades. Essas intensidades podem ser alcançadas por meio da percepção subjetiva de esforço (PSE). A PSE apresenta forte relação com outros indicadores internos de intensidade do exercício, como, por exemplo, o número de repetições máximas executadas durante um exercício. Além disso, foi observado que, conforme a intensidade aumentava, a PSE também aumentava. Para testes de 1 RM, foram encontrados valores de PSE de 9 a 10 quando utilizada uma escala de 1 a 10 pontos. Desse modo, acredita-se que exista uma proporcionalidade direta entre o valor apontado e a carga relativa (RASO; MATSUDO; MATSUDO, 2002). Modelos de periodização na musculação2 Em suma, a periodização é a manipulação planejada e planificada da relação entre volume e intensidade do treinamento. No entanto, outras variáveis devem ser levadas em consideração, como a ordem dos exercícios e o intervalo de recuperação, bem como a correta manipulação dos princípios do treinamento (FLECK; KRAEMER, 2017). O conceito de periodização não é algo novo, visto que a sua utilização é milenar. Os gregos, no período das Olimpíadas, já utilizavam a periodização, porém de uma forma mais rudimentar. Com o passar dos anos, muitos autores utilizaram diferentes conceitos e modelos para essa planificação, com esta sendo modificada para cada esporte conforme a demanda e a necessidade. Um dos principais autores foi Kotov, que, em 1916, dividiu o treinamento em três períodos: geral, preparatório e específico. Outros autores mais recentes que se destacaram foram Matveev, em 1950, Issurin, em 1986, Verkhoshansky, em 1990, e Bompa, em 1999 (DIAS et al., 2016; FUNDAÇÃO VALE, 2013). A Figura 1, a seguir, apresenta o modelo de periodização TETRA, um dos primeiros modelos de periodização utilizados para o treinamento de força. Figura 1. Modelo de periodização TETRA. Esse modelo utilizava ciclos de três dias de treino por um de repouso (ou exercício ligeiro) e tinha uma duração de 4 meses. Fonte: Adaptada de Alves (2010). Modelo Tetra 1° dia — treino de fraca intensidade 2° dia — treino de alta intensidade 3° dia — exercício ligeiro ou descanso 4° dia — treino de média intensidade 100% 50% 1° 2° 3° 4° 3Modelos de periodização na musculação Em suma, uma periodização é estruturada em períodos de treinamento, compreendidos em: preparatório, competitivo e de transição (Quadro 1). Fonte: Adaptado de Bompa e Haff (2012). Período de treinamento Preparatório Competitivo Transição Subfases (Macrociclos, meso- ciclos e microcilos) Preparação geral Pré- -competitivo Transição Preparação específica Competitivo Quadro 1. Períodos de treinamento e suas subfases O macrociclo é uma estrutura de maiores períodos de treinamento, que podem ser semestrais ou anuais. O macrociclo é dividido em três períodos: preparatório, competitivo e transição (BOMPA; HAFF, 2012). Já o mesociclo é caracterizado como um conjunto de microciclos, cada um com um objetivo previamente definido. Sua duração varia de 2 a 6 semanas ou de 2 a 6 mi- crociclos. Cada mesociclo tende a possuir um objetivo diferente (BOMPA; HAFF, 2012). Por fim, o microciclo é composto por pequenas sequências de treinamento que se sucedem regularmente. Ele pode ser entendido como a programação semanal de treinamento. Alguns autores apontam que a estrutura e o conteúdo do microciclo determinam a qualidade do processo de treinamento (BOMPA; HAFF, 2012). No artigo “Evolução histórica da periodização esportiva”, de Dias et al. (2016), é apre- sentado o estado da arte dos modelos teóricos de periodização, concebendo os surgimentos históricos, as propostas e os detalhes dos modelos de periodização na literatura ao longo deste século, principalmente a partir da década de 1950. Para ler o artigo na íntegra, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/jhUaW Modelos de periodização na musculação4 O ato de periodizar é uma prática muito antiga, visto que os próprios gregos já a utilizavam. Recentemente, vários pesquisadores propuseram teorias a respeito dessa prática. Essas pesquisas acabaram sendo utilizadas para formular o que se sabe hoje sobre a periodização do treinamento de força. Contudo, ainda existem profissionais que não planificam o treino de seus alunos. Ou seja, mesmo com o vasto conhecimento disponível na literatura científica sobre os resultados do treinamento periodizado em relação ao treinamento não periodizado,esses profissionais, por comodismo ou falta de comprometimento, não periodizam o treinamento de seus alunos. 2 Efeitos das diferentes estratégias de periodização do treinamento de força Diversas variáveis podem interferir no resultado da montagem de uma pe- riodização para o treinamento de força, como: a ordem dos exercícios, o tipo de ação muscular, a intensidade, o volume, o tempo de recuperação entre as séries, a velocidade de execução dos movimentos e a quantidade de sessões de treinamento em um determinado tempo (FLECK; KRAEMER, 2017). Segundo Fleck e Kraemer (2017), para o treinamento de força voltado ao aumento da massa muscular, são recomendadas de 3 a 5 séries de 8 a 12 repetições com intensidade baixa e volume muito alto. O autor observa, ainda, que, para o treinamento de força com a finalidade de aumentar os níveis de força máxima, são recomendadas de 3 a 5 séries de 2 a 6 repetições com intensidade média e volume alto. Para o treinamento de força, geralmente são utilizados dois modelos de periodização. O primeiro modelo, chamado de periodização linear (clássica ou tradicional), foi o primeiro a ser desenvolvido para o treinamento de força, cuja característica é alterar o volume e a intensidade de maneira inversa. Nele, ocorre a diminuição do volume com o aumento da intensidade. Ou seja, esse modelo começa com um alto volume (grande número de repetições) e uma baixa intensidade (baixa carga), porém, ao longo do período de treinamento, ocorre uma inversão, diminuindo o volume (baixo número de repetições) e aumentando a intensidade (alta carga). Dessa forma, o pico de força, ou o pico do aumento da massa muscular, é atingido no período competitivo (FLECK; KRAEMER, 2017), conforme a Figura 2. O modelo linear é similar ao modelo tradicional, proposto por Matveev, em 1950. O Quadro 2, a seguir, apresenta um exemplo do modelo de periodização linear. 5Modelos de periodização na musculação Meso- ciclo Micro- ciclo Número de séries Número de repe- tições Inter- valo de descanso Percen- tual de 1 RM Mesociclo 1 4 semanas 4 15–12 1 minuto 65–70% Mesociclo 2 4 semanas 4 10–8 2 minutos 75–80% Mesociclo 3 4 semanas 4 6–4 3 a 4 minutos 85–95% Quadro 2. Modelo de periodização linear Observa-se, nesse modelo, que o volume de treino foi diminuindo com o passar das semanas e, paralelamente, a intensidade foi aumentando. O estudo de Capucho et al. (2018) comparou a resposta de dois grupos de seis atletas em relação ao treinamento de força. O primeiro grupo não realizou nenhum tipo de treinamento. Já o segundo realizou treinamento de força com uma periodização linear. Foram duas sessões de treinamento por oito semanas. Como resultado, o grupo que realizou o treinamento de força com periodização linear teve uma melhora na força muscular de membros inferiores, observada em dois testes — o agachar e pular (squat jump) e o salto de contra movimento (countermovement jump) — em comparação ao grupo-controle. O segundo modelo é a periodização ondulatória, mais recente em relação ao primeiro. Nesse modelo, ocorre uma alternância entre o volume e a inten- sidade, criando uma maior variação no estímulo do treinamento (FLECK; KRAEMER, 2017). Além disso, os ganhos de condicionamento permanecem por períodos prolongados. Esse modelo é ajustado para atletas que possuem muitas competições ao longo de um ciclo de treinamento. São utilizadas três zonas de treinamento: 4 a 6 RM (repetições máximas), 8 a 10 RM e 12 a 15 RM. Podem ser adicionadas também de 2 a 4 RM ou de 20 a 25 RM. As variações de repetições podem ocorrer diária, semanal ou quinzenalmente. O Quadro 3 apresenta um exemplo de modelo de periodização ondulatória. Modelos de periodização na musculação6 Figura 2. Relação entre o volume e a intensidade quando comparados os períodos pré- -temporada, temporada e pós-temporada em uma periodização linear. Fonte: Fleck e Kraemer (2017, p. 246). Número de semanas Número de séries Número de repetições Intervalo de descanso Percentual de 1 RM 1ª semana 4 12–15 1 minuto 65–70% 2ª semana 4 4–6 3 a 4 minutos 85–90% 3ª semana 4 8–10 2 minutos 75–80% Quadro 3. Modelo de periodização ondulatória Observa-se, nesse modelo, que o volume e a intensidade de treino variam de uma semana para a outra de maneira não linear, e sim ondulatória. Essa variação ocorre tanto para o aumento quanto para a diminuição do volume e da intensidade. O Quadro 4, a seguir, apresenta um exemplo de modelo semanal e quinzenal de uma periodização linear. 7Modelos de periodização na musculação Fonte: Adaptado de Fleck e Kraemer (2017). Sema- na 1 Sema- na 2 Sema- na 3 Sema- na 4 Sema- na 5 Sema- na 6 Não linear semanal 12–15 repeti- ções/ séries 4–6 repeti- ções/ séries 8–10 repeti- ções/ séries 12–15 repeti- ções/ séries 4–6 repeti- ções/ séries 8–10 repeti- ções/ séries Não linear quin- zenal 12–15 repeti- ções/ séries 12–15 repeti- ções/ séries 4–6 repeti- ções/ séries 4–6 repeti- ções/ séries 8–10 repeti- ções/ séries 8–10 repeti- ções/ séries Quadro 4. Modelo semanal e quinzenal com três distintas zonas de treinamento ao longo de seis semanas em uma periodização linear Em sua pesquisa, Bussi et al. (2017) verificaram o efeito de um programa de treinamento de força com periodização não linear em seis atletas ao longo de 24 sessões de treino. Primeiro, foram comparados os resultados desses atletas antes de começarem a realizar a periodização. Os avaliados passaram por uma semana de adaptação prévia, e os exercícios avaliados foram: puxada frontal, supino, cadeira flexora, cadeira extensora, panturrilha na máquina e agachamento. Em uma sessão de treino, eles deveriam realizar de 10 a 12 repetições. Na outra, de 4 a 6 repetições. Essa alternância manteve-se por 12 semanas. Os atletas deveriam realizar o movimento até a falha concêntrica. Observou-se que, após as 24 semanas de treinamento de força com periodização não linear, os atletas aumentaram os níveis de força nos exercícios avaliados em aproximadamente 10% em comparação ao momento sem treinar. Pires, Pires e Figueira Junior (2017) determinaram a resposta de 14 semanas de treinamento de força comparando o modelo de periodização linear com o modelo ondulatório em 17 indivíduos, divididos em dois grupos. O grupo que realizou a periodização linear utilizou o seguinte modelo: 15 a 20 repetições por 2 semanas, 10 a 12 repetições por 4 semanas, 6 a 8 repetições por 4 semanas e, por fim, 6 repetições por 4 semanas. Para o grupo que realizou a periodiza- ção ondular, na primeira sessão de treino da semana, foram realizadas de 10 a 12 repetições. Na segunda sessão da semana, foram realizadas de 8 a 6 repetições. Por fim, na terceira sessão de treino da semana, foram realizadas 6 repetições. Essa alternância permaneceu ao longo das 14 semanas de treino. Foram avaliadas Modelos de periodização na musculação8 as transferências do treino em terra para a água nas variáveis cinemáticas, como frequência média de braçadas, comprimento médio de braçadas e velocidade média de nado. Como resultado, observou-se que a periodização ondulatória apresentou melhores resultados nas variáveis cinemáticas em comparação ao modelo linear. Portanto, indivíduos mais treinados respondem mais rapidamente e apresen- tam uma melhora mais intensa com a periodização não linear. Também é muito abordado que programas não periodizados apresentam resultados muito inferiores quando comparados com os programas periodizados (FLECK; KRAEMER, 2017). No livro Fundamentos do treinamento de força muscular, Fleck e Kraemer (2017) demonstram as orientações da American College of Sports Medicine para enfatizar os resultados do treinamento. Na tabela a seguir, são discriminadas as diferenças de treinos iniciantes, intermediários e avançados em relação aos seguintes objetivos: aumento de massa magra, aumento da força, potência e resistência em relação à frequência semanal, quantidadede séries por exercício, quantidade de repetições por série, intensidade e descanso. Tipo de prati- cante Fre- quência semanal Quanti- dade de séries por exercício Quanti- dade de repetições por série Inten- sidade (% de 1RM) Descanso entre séries (min) Ênfase na força Prati- cante iniciante 2 ou 3 sessões para todo o corpo 1-3 8-12 60-70 2-3 exer- cícios pri- mários, 1-2 exercícios secundários Prati- cante interme- diário 3 sessões para todo o corpo, 4 para rotinas divididas Múltiplas 8-12 60-70 2-3 exer- cícios pri- mários, 1-2 exercícios secundários Prati- cante avan- çado 4-6 rotinas divididas Múltiplas 1-12 Até 100 de uma forma perio- dizada 2-3 exer- cícios pri- mários, 1-2 exercícios secundários 9Modelos de periodização na musculação Tipo de prati- cante Fre- quência semanal Quanti- dade de séries por exercício Quanti- dade de repetições por série Inten- sidade (% de 1RM) Descanso entre séries (min) Ênfase na hipertrofia Prati- cante iniciante 2 ou 3 sessões para todo o corpo 1-3 8-12 70-85 1-2 Prati- cante interme- diário 3 para sessões de corpo inteiro, 4 para rotinas divididas 1-3 8-12 70-85 1-2 Prati- cante avan- çado 4-6 rotinas divididas 3-6 1-12 (mais 6-12) 70-100 de forma perio- rizada 2-3 exer- cícios pri- mários, 1-2 exercícios secundários Para o treinamento de força, são empregados dois tipos de periodização: linear e não linear. A periodização linear possui uma oposição entre volume e intensidade, geralmente com volume em grande quantidade e intensidade baixa nas etapas iniciais, e, conforme a progressão de treinamento, o volume é diminuído e a intensidade tende a crescer. Essas diferentes propostas de periodização produzem, naturalmente, respostas fisiológicas diferentes no organismo, de modo que a periodização linear tende a produzir uma resposta semelhante ao longo do tempo, sendo, nesse caso, recomendada para pessoas iniciantes e/ou que busquem o treinamento de força como uma estratégia de promoção da saúde. Já a periodização não linear, por sua característica on- dulatória, produz uma variação de estímulos que, consequentemente, geram respostas fisiológicas diferentes, sendo essa periodização mais recomendada para praticantes de musculação com experiência ou praticantes de esportes que necessitem de picos de força e potência ao longo da temporada. Modelos de periodização na musculação10 3 Periodização do treinamento de força a longo prazo Até o presente momento, foram abordados os dois principais modelos de periodização mais utilizados com o treinamento de foça. A literatura científica (FLECK; KRAEMER, 2017) aponta que indivíduos treinados respondem melhor à periodização ondulatória. Já indivíduos iniciantes ou pessoas que não visam ao desempenho podem se adaptar melhor à periodização linear. O modelo de periodização que segue é um modelo linear para um indivíduo sedentário de 45 anos. João é um empresário de 45 anos que nunca praticou exercícios regularmente. Após a visita anual ao seu médico para um check-up, o cardiologista de João solicitou que ele fizesse uma bateria de exames para verificar a saúde. Nos resultados, observou-se que os níveis de gordura no sangue de João estavam elevados, bem como a quantidade de gordura abdominal. As queixas frequentes do paciente são cansaço, falta de força e dores nas costas. João passa muito tempo sentado administrando a sua empresa de drones, e isso contribui para a sua má postura e fraqueza muscular. João é casado e pai de dois meninos, um de 3 e outro de 6 anos. Ao chegar em casa, o empresário tem uma rotina agitada, brincando com os filhos e ajudando a esposa com os cuidados da casa. Com base nos dados obtidos pela anamnese e os resultados dos exames de João, o médico solicitou que ele fizesse um treinamento de força, acompanhado de uma reeducação alimentar. João se matriculou em uma academia próximo à sua casa, e, devido à sua rotina, ele treinará no turno da manhã, antes do trabalho. Na academia, o professor de João realizou uma avaliação física para verificar a quanti- dade de massa magra e o percentual de gordura e realizou medidas corporais, avaliou a postura e aplicou uma anamnese para identificar possíveis fatores de risco do aluno. No dia posterior à avaliação, João retornou à academia, e o seu professor apresentou uma periodização de 6 meses. João treinará segunda, terça, quinta e sexta. Para segunda e quinta, serão treinados os membros superiores, em um total de 12 exercícios. Para terça e sexta, serão treinados os membros inferiores, em um total de 12 exercícios. O Quadro 5, a seguir, apresenta um modelo de periodização linear de seis meses para um aluno iniciante 11Modelos de periodização na musculação Meso- ciclo Micro- ciclo Número de séries Número de repe- tições Inter- valo de descanso Percen- tual de 1 RM Mesociclo 1 4 semanas 4 15 1 minuto 60% Mesociclo 2 4 semanas 4 12 1 a 2 minutos 65% Mesociclo 3 4 semanas 4 10 2 a 3 minutos 70% Mesociclo 4 2 semanas 4 10 2 a 3 minutos 70% 2 semanas 4 8 3 a 4 minutos 75% Mesociclo 5 2 semanas 4 8 3 a 4 minutos 75% 2 semanas 4 6 4 a 5 minutos 80% Mesociclo 6 4 semanas 4 6 4 a 5 minutos 80% No Quadro 5, pode-se observar que João iniciará o treinamento com um alto volume e baixa intensidade. A ideia é que seja realizada uma adaptação das estruturas, o que se pode observar pelas menores cargas e as maiores repetições. Ao longo dos mesociclos, a intensidade tende a aumentar para valores bem elevados, e o volume de treinamento acaba diminuído. Essa maior intensidade tende a causar uma grande sobrecarga no organismo, para poder estimular o aumento de massa muscular. Além disso, João usará as cargas mais elevadas somente após 5 meses de treinamento, quando seu corpo estará mais adaptado aos exercícios. Esse foi um modelo de periodização para um aluno iniciante. Para os próximos 6 meses, conforme as respostas obtidas na avaliação física, o aluno já poderia realizar uma periodização ondulatória, visto que já apresenta uma carga de treino estabelecida. O Quadro 6, a seguir, apresenta um modelo de periodização ondulatória de 6 meses após carga de treino estabelecida. Modelos de periodização na musculação12 Meso- ciclo Micro- ciclo Núme- ro de séries Número de repe- tições Intervalo de descanso Percen- tual de 1 RM Mesociclo 1 2 semanas 4 12 2 a 3 minutos 70% 2 semanas 4 8 3 a 4 minutos 80% Mesociclo 2 2 semanas 4 12 2 a 3 minutos 70% 2 semanas 4 8 3 a 4 minutos 80% Mesociclo 3 1 semana 4 12 2 a 3 minutos 70% 1 semana 4 6 3 a 4 minutos 85% 1 semana 4 10 2 a 3 minutos 75% 1 semana 4 6 3 a 4 minutos 85% Mesociclo 4 1 semana 4 12 2 a 3 minutos 70% 1 semana 4 6 3 a 4 minutos 85% 1 semana 4 10 2 a 3 minutos 75% 1 semana 4 6 3 a 4 minutos 85% Mesociclo 5 1 semana 4 12 2 a 3 minutos 70% 1 semana 4 8 3 a 4 minutos 80% 1 semana 4 10 2 a 3 minutos 75% 1 semana 4 6 3 a 4 minutos 85% Mesociclo 6 1 semana 4 12 2 a 3 minutos 70% 1 semana 4 8 3 a 4 minutos 80% 1 semana 4 10 2 a 3 minutos 75% 1 semana 4 6 3 a 4 minutos 85% Quadro 6. Modelo de periodização ondulatória de seis meses após carga de treino es- tabelecida 13Modelos de periodização na musculação Observa-se, no modelo não linear, que houve uma alternância semanal ou quinzenal nas intensidades. Nos dois primeiros mesociclos, a variação foi quinzenal, ao passo que nos quatro últimos mesociclos, a variação foi semanal. Portanto, com um maior tempo de treino, o aluno suporta melhor as variações no volume e na intensidade, com menores chances de lesão nos tecidos. A periodização é uma prática imprescindível para o professor de educação física, de modo que esse profissional deve saber adequar o tipo de periodização ao público com o qual ele atua. Para saber mais sobre os tipos de periodização, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/SnTK9 Desse modo, percebe-se queas respostas ao treinamento de força estão diretamente relacionadas à periodização. Essa planificação não é algo novo, visto que concepção é milenar. Muitos autores pesquisaram sobre as teorias relacionadas a essa planificação, bem como muitos modelos foram estruturados a base de outros modelos. No entanto, ainda não existe um consenso a respeito de qual é o melhor modelo. A única certeza que se tem é que os resultados são maximizados com a prática da periodização em comparação a um protocolo de treino não periodizado. ALVES, F. J. Modelos de periodização. EFDeportes.com: Revista Digital, Buenos Aires, ano 15, n. 148, 2010. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd148/modelos- -de-periodizacao.htm. Acesso em: 25 jan. 2020. BADILLO, J. J. G.; AYESTARAN, E. G. Fundamentos do treinamento de força: aplicação ao alto rendimento esportivo. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. BAECHLE, T. R.; WESTCOTT, W. L. Treinamento de força para a terceira idade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. Modelos de periodização na musculação14 BOMPA, T.; HAFF, G. G. Periodização: teoria e metodologia. 5. ed. São Paulo: Phorte, 2012. BUSSI, L. et al. Efeitos de um programa não linear diário no desempenho da força em jogadores de Futebol sub 20. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, Belém, v. 11. n. 68. p. 513–518, 2017. CAPUCHO, T. et al. Impacto do treino de força no tempo de partida em jovens nada- dores. Motricidade, Ribeira de Pena, v. 14, n. 2–3, p. 150, 2018. CHANDLER, T. J.; BROWN, L. E. Treinamento de força para o desempenho humano. Porto Alegre: Artmed, 2009. DIAS, H. M. et al. Evolução histórica da periodização esportiva. Corpoconsciência, Cuiabá, v. 20, n. 1, p. 67–79, 2016. FAHEY, T. D. Bases do treinamento de força para homens e mulheres. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. FLECK, S. J; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. FUNDAÇÃO VALE. Crescimento, desenvolvimento e maturação. Brasília: Fundação Vale, 2013. (Cadernos de Referência de Esporte, v. 3). 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Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 15Modelos de periodização na musculação
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