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Crianças pequenas; Mulheres grávidas; Idosos; Pacientes com lesões medulares; Usuários de sondas vesicais; Diabéticos; Imunossuprimidos. 1.Definição A Infecção do Trato Urinário (ITU) é definida como uma resposta inflamatória dos tecidos de qualquer parte do trato urinário à invasão bacteriana ou, mais raramente, a outros agentes infecciosos, como fungos e vírus. A presença de patógenos na urina implica infecção, pois se espera que esta seja estéril. Essas infecções podem ser sintomáticas ou assintomáticas e, em alguns casos, evoluir com sepse e até morte, caso não sejam tratadas. A incidência de ITU entre mulheres é o dobro daquela entres homens. Entre os homens, as ITUs são incomuns até os 50 anos. Após essa idade, pode ocorrer hipertrofia prostática, causando obstrução ao fluxo urinário, com aumento da incidência de ITU. Populações especialmente suscetíveis à ITU: 2. Conceitos Bacteriúria: a presença de bactéria na urina em qualquer quantidade. Estudos recentes consideram infecção em pacientes mulheres sintomáticas com contagem de 10³ bactérias/mL, pacientes homens com contagem de 10^4 bactérias/mL e pacientes com uso de cateteres urinários com contagem de 10² bactérias/mL. Bacteriúria assintomática: é um termo muito utilizado e significa isolamento de bactérias na urina, em contagens significativas, porém sem sintomas locais ou sistêmicos. Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia, pacientes idosos e com disfunções neurogênicas não devem ser tratados com antibióticos. A infecção urinária recorrente por reinfecção trata-se de infecção das vias urinárias causada por novos micro- organismos em intervalos variáveis após a erradicação de uma infecção prévia. A infecção urinária recorrente por recidiva trata-se de infecção das vias urinárias causada pelo mesmo micro- organismo durante ou após a conclusão do tratamento. Piúria: presença de leucócitos na urina; não é uma indicação absoluta de infecção urinária inespecífica. A infecção urinária não complicada caracteriza-se por não apresentar alterações anatômicas ou doenças associadas, sistêmicas ou locais (diabetes, cálculos). Apresentam-se como cistite e pielonefrite e comumente deixam poucas sequelas. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO A infecção urinária complicada é uma infecção em um indivíduo com o trato geniturinário anormal, funcional ou de forma estrutural. 3. Etiologia e fisiopatologia As ITUs desenvolvem-se mais frequentemente em mulheres, quando uropatógenos da flora fecal colonizam o introito vaginal. Causadas, principalmente, por germes Gram negativos (85% pela bactéria Escherichia coli). Infecções nosocomiais são causadas, principalmente, por Pseudomonas aeruginosa e Serratia Marcescens. a) Idade Na população geriátrica, a apresentação clínica da ITU é frequentemente atípica. O risco de ITU associa-se à dificuldade de controle urinário (incotinência em mulheres e prostatismo em homens). O uso de cateteres urinários e as alterações anatômicas ou funcionais do trato urinário também são fatores de risco. Infecções polimicrobianas são frequentes. b) Fatores Comportamentais Os fatores comportamentais associados à ITU são atividade sexual (mulheres mais sexualmente ativas têm maior incidência de ITU) e uso de espermicidas (que aumenta a colonização por E. coli). Há diferenças anatômicas que predispõem a ITU, como uma menor distância entre a uretra e o ânus. c) Diabetes mellitus Bacteriúria assintomática e ITU sintomática são mais frequentes em diabéticos que em não diabéticos. d) Lesão espinhal ou cateterização vesical Em pacientes com lesão espinhal ou em uso de cateteres, a ITU é muito frequente e está relacionada a mortalidade e morbidade importantes. e) Gravidez Cerca de 4 a 10% das grávidas têm bacteriúria assintomática, e 1 a 4% desenvolvem cistite aguda. 4. Classificação Podem-se classificar as ITUs, de acordo com sua localização anatômica, em alta e baixa, em sintomática ou assintomática, complicada ou não complicada, recorrente ou esporádica. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO 5. Fatores envolvidos Vários fatores estão envolvidos no desenvolvimentos das infecções urinárias. Vias ascendente: colonização por bactérias da flora intestinal devido a fatores mecânicos, defecação, higiene pessoal e sudorese. Via hematogênica: é rara e acontece em situações específicas, como tuberculose, abscessos renais e perinefréticos. Via linfática Extensão direta: abscessos intraperitoneais, causados por doenças intestinais inflamatórias (diverticulite), abscessos perivesicais e fístulas do trato geniturinário. Cistite: envolvendo a bexiga; Pielonefrite: envolvendo o rim. 6. Vias de Aquisição 7. Achados Clínicos A urina normal é estéril. Assim, a presença de micro- organismos na urina é considerada uma ITU. A bacteriúria assintomática só deve ser tratada em grupos específicos (grávidas, diabéticos, idosos, com disfunção neurogênica com sintomas, ou que serão submetidos a procedimentos invasivos). a) Cistite Disúria (dor ou dificuldade à micção) é causada por cistite, porém pode ser um sintoma de uretrite ou vaginite. Normalmente, é associada a polaciúria, sensação de urgência urinária e dor suprapúbica. Piúria acontece na cistite e na uretrite, mas é rara na vaginite. Hematúria ocorre em 25% dos pacientes com cistite, mas é rara nas duas outras afecções. Os sintomas da cistite são geralmente agudos e múltiplos, e na uretrite são graduais e leves. Pacientes com corrimento vaginal têm maior chance de terem uretrite ou vaginite. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Pielonefrite xantogranulomatosa Pielonefrite enfisematosa Anatomia patológica: o rim aparece geralmente aumentado de volume devido ao edema na superfície capsular. Observam-se pequenos abscessos amarelados, elevados, circundados por uma borda hemorrágica e que aparecem, principalmente, no córtex renal. A pelve renal apresenta-se com a mucosa congestionada, espessada e recoberta com exsudato. A patogenia não é clara. Infecção crônica, obstrução e doença calculosa. Os sintomas incluem dor em flanco, febre, anorexia, emagrecimento, hematúria, mal-estar e sinais de irritação, como urgência, disúria e polaciúria. Ao exame físico, geralmente ocorre dor à palpação em flanco e até massa palpável. Anatomia patológica: rim geralmente aumentado de volume, com dilatação pielocalicial causada por cálculos e/ou pus. Nódulos amarelo-laranja, áreas de necrose tecidual e supuração. Microscopia com neutrófilos, linfócitos, plasmócitos e resíduos necróticos. É difícil diferenciar a pielonefrite xantogranulomatosa de outras causas de massas renais, principalmente carcinoma renal. Complicação rara da pielonefrite aguda, principalmente em diabéticos insulino-dependentes não controlados (90%), com presença de gás nos túbulos coletores. O diagnóstico da pielonefrite enfisematosa é feito por métodos de imagem que demonstram gás tanto no Dispareunia (dor genital no ato sexual), corrimento vaginal, odor alterado, disúria sem polaciúria e sem urgência urinária sugerem vaginite. O exame físico pouco revela na cistite, mas é necessário um exame ginecológico para avaliar pacientes com corrimento vaginal. O exame de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário) pode ser utilizado para confirmar piúria ou presença de bactérias. A urocultura geralmente não é necessária nos casos de cistite, mas deve ser realizada com antibiograma na suspeita de pielonefrite. b) Pielonefrite Febre, em geral, acima de 38°C, taquicardia, sinal de Giordano, dor costovertebral, náuseas e vômitos são sugestivos de pielonefrite. A grande maioria dos pacientes apresenta sintomas de ITU baixa, como disúria e polaciúria, mas esses achados podem ser negativos. Na suspeita, devem ser realizados exame de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário) e urocultura com antibiograma. Em pacientes com sonda, deve-se preferir o uso de sonda de alívio intermitente,que se associa a risco menor de infecção. Vaginites Uretrites Cistite intersticial Pielonefrite aguda X Pielonefrite crônica Gravidez parênquima renal quanto no retroperitônio. 8. Exames Complementares Em pacientes do sexo feminino com ITU não complicada, definida pela presença de sintomas como polaciúria, disúria, dor suprapúbica e urgência urinária, sem alteração estrutural de trato urinário, o diagnóstico se baseia na história clínica. Exames complementares não são indicados (urina tipo 1 e urocultura). Quanto a todos os outros pacientes, é necessária a confirmação diagnóstica, com exames laboratoriais. ITU em homens é considerada infecção complicada, pois frequentemente se associa a anormalidades estruturais de trato urinário. Teste com fitas reagentes quimicamente impregnadas são de grande utilidade, e o resultado positivo geralmente é suficiente. Apresença de piúria é praticamente universal, seja em pacientes com ITU baixa, seja com pielonefrite, e a ausência dela sugere fortemente diagnóstico alternativo não infeccioso. O exame definitivo para o diagnóstico de ITU é a urocultura, que deve ser colhida antes da introdução de antibióticos. Considera-se que o melhor espécime para a urocultura seja a urina de jato médio após higiene íntima. Deve-se suspeitar da presença de complicações como o abscesso perinefrético em todos os pacientes em que a febre não ceda após 5 dias de antibioticoterapia prolongada, e exames de imagem devem ser realizados nessa situação. 9. Diagnóstico Diferencial 10. Tratamento As fluoroquinolonas, associações de sulfametoxazol- trimetoprim, aminoglicosídeos e cefalosporinas de 3ª geração constituem os antibiótipos mais empregados. a) Bacteriúria assintomática Não deve ser tratada, exceto nas seguintes situações: INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Pré-operatório de cirurgia urológica Pré-operatório de colocação de próteses Portadores de transplantes de órgãos sólidos Granulocitopenia Norfloxacino (400 mg), 12/12 horas; Ácido nalidíxico (500 mg), 6/6 horas; Nitrofurantoína (100 mg), 6/6 horas; Cefadroxila (250 mg), 12/12 horas; Cefalexina (250 mg), 6/6 horas. b) Cistite na mulher As mulheres com sintomas sugestivos não se indicam exames de urina ou de urocultura, dese que sejam exluídas algumas condições como febre, dor, DM, gravidez, entre outros. Há consenso na literatura que o tratamento por 3 dias seja tão eficaz quanto o tratamento por 5 a 7 dias. Deve-se iniciar o tratamento empírico oral por 3 dias com: c) Cistite na mulher grávida Devem ser colhidos exames de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário) e urocultura, e deve ser iniciado o tratamento empírico com cefadroxila, cefalexina ou amoxicilina. d) Cistite no homem Na maioria dos casos, a cistite no homem associa-se à hiperplasia prostática. Devem ser realizados exame de urina (urina tipo 1 ou sedimento urinário) e urocultura, além do exame clínico da próstata. e) Cistite em pacientes com diabetes, imunossupressão, internação hospitalar recente ou história de cálculos renais Na preseça de sinais sistêmicos como febre, dor abdominal, náuseas ou vômitos, deve-se suspeitar de pielonefrite, tratada por 10 a 14 dias (eventualmente, 28 dias). f) Cistite no idoso Em mulheres idosas, sem comorbidades e com ausência de achados de pielonefrite, a medicação de escolha é a ciprofloxacina por 3 dias (250 mg, 12/12 horas). Ciprofloxacina: 400 mg IV, ou 500 mg VO, 12/12h; Ceftriaxona: 1 a 2 g IM/IV, 1 x/dia; Aminoglicosídeo: IM ou IV em dose única diária amicacina, 15 mg/kg, ou gentamicina, 5 mg/kg. Fluconazol: 200 mg ao dia, por 7 a 14 dias; Anfotericina B: 0,3 mg/kg/dia, em dose única (alguns autores recomendam curso de até 7 dias). g) Pielonefrite aguda nao complicada h) Infecções em pacientes com sonda vesical Os cateteres devem ser trocados, e, caso a bacteriúria persista 48 horas após a retirada do cateter, indica-se o tratamento. Porém, pacientes criticamente doentes, com diagnóstico presuntivo de ITU, devem receber tratamento antibiótico imediato. i) Infecções po Candida Pacientes com candidúria sintomática devem ter sonda vesical trocada e o tratamento iniciado. São possíveis as seguintes opções: 11. Profilaxia Em pacientes com infecções urinárias de repetição, definidas por 3 ou mais episódios ao ano, deve ser considerada profilaxia. O estrogênio tópico é altamente efetivo em pacientes na menopausa que habitualmente apresentam ITU e cistites de repetição. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO (ITU) Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO
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