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Aula 04 Livro Didático Digital Raquel Elisabeth Dumaszak Psicologia da Aprendizagem Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor RAQUEL ELISABETH DUMASZAK Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS Autor RAQUEL ELISABETH DUMASZAK Olá. Meu nome é Raquel Elisabeth. Sou formada em Psicologia, nas modalidades bacharelado e licenciatura, e atuo com Psicologia, Educação e Aprendizagem. Tenho interesse em assuntos que envolvem neurociências, comportamento e cognição, os quais segui na pós-graduação. Fui convidada pela Editora Telesapiens para integrar seu elenco de autores independentes. Espero contribuir bastante com seu aprendizado teórico e profissional! Conte comigo! INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO Teorias do desenvolvimento .......................................................... 12 Teorias comportamentais – O Behaviorismo ...................................... 13 Watson – o pai do Behaviorismo ................................................................... 13 Aprendizagem por Condicionamento clássico ......................16 A teoria de Skinner ...................................................................................................... 19 Aprendizagem por condicionamento operante .....................21 O humanismo ........................................................................................26 Carl Rogers – breve histórico .............................................................................27 A pessoa como centro .............................................................................................29 O ensino centrado no aluno ...............................................................................32 Psicanálise .............................................................................................. 37 Freud e a Psicanalise – breve histórico .....................................................37 As fases de desenvolvimento na teoria Psicanalítica ................. 39 A fase oral ................................................................................................................ 41 A fase anal ...............................................................................................................42 A fase fálica ............................................................................................................43 https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE Periodo de latência e fase genital .................................................... 46 Psicanalise e a Educação ..................................................................................... 46 Aprendizagem na adolescência ...................................................48 Estresse e estratégias de resiliência .......................................................... 50 A ansiedade na sala de aula ...............................................................................53 Bibliografia ............................................................................................. 59 https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE Psicologia da Aprendizagem 9 UNIDADE 04 Psicologia da Aprendizagem10 No campo do desenvolvimento infantil existem várias teorias, que abordam desde as fases do crescimento da criança até a maneira que ela se comporta no mundo. Nesta unidade trabalharemos três teorias do desenvolvimento. As três que são consideradas as mais importantes e fundamentais. E suas implicações no processo de aprendizagem. A primeira, o Behaviorismo, tem como foco do desenvolvimento o comportamento da criança diante das situações vividas por ela. Assim, o desenvolvimento acontece mediante os estímulos que são dados no ambiente, e as respostas emitidas pelo sujeito. A aprendizagem também é concebida desta mesma forma. A segunda, o Humanismo, o foco está todo no sujeito. O desenvolvimento e a aprendizagem acontecem através das experiências que o homem vivencia no mundo em que vive, como essas vivencias se constroem mediante as relações interpessoais que cada sujeito estabelece. A aprendizagem é autodeterminada. A terceira, a Psicanálise, o desenvolvimento se da a partir da organização da energia em torno das zonas erógenas, constituindo assim fases de desenvolvimento. A aprendizagem se da através da relação afetiva e de identificação que existe entre professor e aluno. No último tópico da unidade, falaremos um pouco sobre alguns fatores que interferem de forma negativa na aprendizagem: O estresse e a ansiedade. Esses fatores atrapalham o desempenho escolar, principalmente de adolescentes. A aprendizagem é um processo importante em todas as fases da vida escolar. E deve ser entendida de diferentes formas, para que no ambiente da sala de aula, seja melhor aproveitada. INTRODUÇÃO Psicologia da Aprendizagem 11 Olá. Seja muito bem-vindo a quarta unidade, onde o nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: • Compreender sobre diferentes teorias de desenvolvimento . • Compreender sobre a aplicabilidade dessas teorias na aprendizagem (Humanismo). • Fases da Teoria da Psicanálise. • A Aprendizagem na Adolescência. Então? Preparado para mais um encontro produtivo? Ao trabalho! OBJETIVOS Psicologia da Aprendizagem12 Teorias do desenvolvimento As teorias do desenvolvimento representam uma forma de compreender as crianças e adolescentes, através da descrição e exploração das mudanças psicológicas, comportamentais e de personalidade que as crianças sofrem no decorrer do tempo. Elas buscam explicar de que maneiras importantes estes pequenos sujeitos mudam no decorrer do tempo; como essas mudanças afetam o seu comportamento e a sua aprendizagem, e também, como podem ser descritas e compreendidas. Essas teorias são importantes paradelimitar algumas diferenças que existem na personalidade das crianças e adultos. O interesse pelo estudo do desenvolvimento da infância é recente em termos de História da Humanidade Até aproximadamente o sec. XIX as crianças eram tratadas como adultos; a partir dos 3 a 4 anos de idade já participavam das mesmas atividades que os adultos. No início do sec. XX percebe-se uma preocupação mais ampla com as crianças e com a necessidade da educação formal. A disciplina era exercida ainda de forma violenta, com várias formas de castigo tanto em casa como na escola. Essas atitudes somente começaram a mudar com o estudo mais sistemático e científico a respeito da criança e do seu desenvolvimento. Ao longo desta aula iremos discorrer sobre a relevância desse saber, mostrando algumas importantes teorias do desenvolvimento infantil e como se relacionam com a aprendizagem. Dúvidas? Não se preocupe. Recorra ao fórum de dúvidas e discussões para socializar o seu conhecimento e esclarecer todas as suas dúvidas. Depois, desenvolva as atividades e questões sugeridas. Nós estaremos a sua disposição em caso de dificuldades! Vamos começar então nossos estudos. Psicologia da Aprendizagem 13 Teorias comportamentais – O Behaviorismo A abordagem comportamental entende que a aprendizagem é regulada por fatores chamados situacionais: a situação em que o comportamento ocorre (em que momento o aluno se comporta de determinada maneira), o próprio comportamento (que comportamento ele manifesta) e as suas consequências (o que acontece com o aluno quando ele se comporta assim). O efeito da interação dessas contingências sobre o aluno depende de suas características internas somadas à sua história de vida e ao momento específico em que a aprendizagem está ocorrendo. A teoria comportamental trabalha com modificações de comportamento utilizando-se de técnicas próprias. É especialmente utilizada quando é necessário clarificar e estabelecer limites, extinguir comportamentos inadequados ou para desenvolver comportamentos novos. Geralmente suas técnicas, de forte impacto, são utilizadas juntamente com outras abordagens complementares. O Behaviorismo salienta a importância do planejamento da ação pedagógica de forma a fazer com que a aprendizagem do aluno gere consequências naturalmente reforçadoras (positivas) ao aprender. Watson – O Pai do Behaviorismo Ivan Pavlov foi um fisiologista russo que descobriu em suas pesquisas com cães a teoria do “reflexo condicionado”. Os estudos de Pavlov serviram de base para as teorias comportamentais, de Watson e Skinner. As teorias comportamentais do desenvolvimento nasceram em um berço científico positivista, onde o conhecimento para ser de fato uma ciência necessitava passas por etapas sistemáticas de observação e confirmação empírica. Assim, em meados do sec. XIX nos Estados Unidos J. B. Watson foi o primeiro representando do chamado ambientalismo. Psicologia da Aprendizagem14 DEFINIÇÃO: Positivismo- Escola filosófica criada pelo francês Augusto Comte (1798-1857). Para os filósofos positivistas a ciência deve ser construída por meio de um protocolo sistemático de observações empíricas e de fenômenos concretos passiveis de serem observados e confirmados por consenso público. Watson ficou famoso com uma declaração em que dizia: “Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e o mundo que eu especificar para criá-las e garanto poder tomar qualquer uma ao acaso e treiná-la para ser o especialista que se escolher – médico, advogado, artista, gerente comercial e até mesmo mendigo ou ladrão, independentemente de seus talentos, inclinações, tendências habilidades, vocações e da raça de seus ancestrais.” Figura 1: J. B. Watson Fonte: Googol30 | Wikimedia Commons | Public Domain https://commons.wikimedia.org/wiki/File:John_Broadus_Watson.JPG Psicologia da Aprendizagem 15 Com este discurso Watson dava início aos estudos do comportamento e da influência do ambiente na aprendizagem. Ele lançava o behaviorismo, e transformava o estuda da aprendizagem no estudo da modificação do comportamento como resultado da experiência. Alguns pontos são fundamentais no pensamento de Watson, são eles: • Rejeição a introspecção: Watson acreditava que a introspecção era uma fonte insatisfatória de dados, e que a ciência deveria lidar apenas com fatos acessíveis a todos. • Crença no ambiente maior que na hereditariedade: no pensamento de Watson predominava fatores objetivos em detrimento daquilo que era subjetivo, assim, priorizava aquilo que poderia ser aprendido através dos sentidos e da observação. • E também, que o efeito do ambiente na aprendizagem se dá por meio de condicionamento de reflexos: pois assim não seria necessário recorrer a faculdades não observáveis para explicar comportamentos de homens e animais. Watson foi considerado o pai do Behaviorismo norte-americano. Ele era discípulo de Pavlov, nos estudos de reflexo condicionado. E também inspirou outros pesquisadores como, por exemplo, E.L. Thorndike, que desenvolveu em sua pesquisa a Lei do Efeito. DEFINIÇÃO: Lei do efeito: a repetição de um ato que causa um resultado desejável aumenta a probabilidade de ocorrência deste mesmo ato. Psicologia da Aprendizagem16 Pavlov em suas pesquisas chegou a seguinte formula: a associação de um estímulo não condicionado (comida), com a apresentação de um estímulo neutro (campainha), pode provocar uma resposta condicionada (salivação), ou seja, aprendida. Aprendizagem por Condicionamento clássico Como vimos Pavlov desenvolveu as suas pesquisas sobre o condicionamento do comportamento, analisando o comportamento dos cães. Pavlov foi o primeiro que desenvolveu uma teoria sobre o condicionamento do comportamento, que poderia ser aplicada a – teoricamente – qualquer contexto. Primeiramente consideramos que o Estímulo Reflexo ou Incondicionado (S1) gera uma resposta que chamamos de resposta incondicionada (R1). A salivação dos cães de Pavlov é, inicialmente, uma resposta incondicionada ao estímulo incondicionado, que é o alimento. Estímulo Incondicionado: estímulo que elicia automaticamente uma resposta incondicionada, por exemplo, o alimento. Resposta Incondicionada: resposta que é automaticamente eliciada pelo estímulo incondicionado, por exemplo, a salivação. Pavlov descobriu então que, associando um estímulo neutro (S2), como o som de uma sineta, antes do estímulo incondicionado, os cães já começavam a salivar. A isso deu-se o nome de condicionamento. Um som é apresentado logo antes do EI (alimento). Os dois estímulos são então associados, gerando assim uma resposta. Depois do processo de condicionamento, os cães passaram a salivar assim que ouviam a sineta. O som passou a ser um Estímulo Condicionado (S2) e a salivação, uma Resposta Condicionada (R2). Estímulo Condicionado: estímulo que passa a eliciar uma nova resposta após o condicionamento clássico, por exemplo, o som da sineta. Resposta condicionada: resposta que é eliciada pelo estímulo condicionado após o condicionamento clássico. Observe o esquema: Psicologia da Aprendizagem 17 Figura 2: Esquema de aprendizagem por condicionamento clássico. Fonte: Elaborada pelo autor. RESUMINDO: O condicionamento clássico é a aquisição de uma nova resposta (a resposta condicionada) a um estímulo previamente neutro (o estímulo condicionado) que sinaliza, confiavelmente, a chegada de um estímulo incondicionado. SAIBA MAIS: Assista ao vídeo “Condicionamento clássico explicado” para saber mais sobre essa forma de condicionamento. Link: https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE S2 S1 S2R1 Aprendizagem Reflexo Inato Reflexo Aprendido R2 Legenda: S1: Estímulo Incondicionado R1: Resposta incondicionada S2: Estímulo Neutro/Estímulo condicionado R2: Resposta condicionada https://www.youtube.com/watch?v=YMsqEmhaszE Psicologiada Aprendizagem18 VOCÊ SABIA? Você sabia que Watson ficou tão impressionado com os estudos de Pavlov sobre o condicionamento de comportamentos, que resolveu testar a aplicabilidade do método em respostas emocionais humanas, como o medo? Para isso, ele e sua assistente de pesquisa, Rosalie Rayner, realizaram um estudo com um bebê de 11 meses, o pequeno Albert. Watson usou como estímulo neutro um rato de laboratório. Albert não tinha medo do rato, quando ele viu o rato antes do condicionamento, aproximou-se dele e o tocou. Watson então se esgueirou por trás de Albert e bateu com um martelo em uma barra de ferro, produzindo um som muito forte. A resposta de Albert foi de evitação e fuga (chorar e tentar engatinhar para longe) a esse ruído. Watson e Rayner associaram então a visão do rato com o ruído, algumas vezes, até que apenas a visão do rato produzia a resposta de medo e evitação em Albert. Watson demonstrou com esse experimento que com é possível condicionar até mesmo respostas emocionais, a partir do condicionamento clássico. Fonte: Racconish | Autor: John B. Watson | Domínio público https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Little_Albert_experiment_(1920).webm Figura 3: Watson e o experimento com o pequeno Albert Psicologia da Aprendizagem 19 A teoria de Skinner Figura 4: B. F. Skinner Fonte: Esquilo | Wikimedia Commons | CC BY 3.0 | GFDL https://commons.wikimedia.org/wiki/File:B.F._Skinner_at_Harvard_circa_1950.jpg B. F. Skinner nasceu em 1904, na Pensylvania. Ano em que Pavlov recebia o Premio Nobel de Medicina. Estudou a obra de Watson “Behavior: an Introduction to Comparative Psycology”, e também a publicação de Thorndike “Psicologia educacional”. Em 1931, Skinner concluiu seu doutorado em Psicologia pela Havard, e começou a lecionar na Universidade de Minnesota em 1936. VOCÊ SABIA? Você sabia que Skinner escreveu várias obras ao longo de sua carreira, entre elas está um romance? Pois é, Walden II (1948) é um romance que retrata uma sociedade ideal, onde não há violência, privilégios, divisão de classes, propriedade privada. Skinner deixa claro neste livro, sua crença de que, a vida do homem pode ser boa, mediante um planejamento que vise o maior bem para o maior número de pessoas, aplicando os princípios da teoria de reforçamento. Psicologia da Aprendizagem20 A proposta teórica de Skinner era baseada na análise cientifica do comportamento. Nesse pensamento o homem não é autodeterminado nem autossuficiente, mas é determinado pelo ambiente. Para Skinner, as versões iniciais do ambientalismo eram falhas, pois deixavam muito espaço para o homem autônomo, e para ele, o ambiente assume funções que antes eram atribuídas ao homem. Skinner ressalta que o homem não controla o ambiente, contudo, ele também não é uma vitima do mesmo. O homem é controlado por um ambiente que ele ajuda a construir. Deste modo, os estímulos (Sa) que vem do ambiente, geram respostas (R) no homem, que por sua vez devolve uma resposta (Sc) ao ambiente. Podemos fazer o seguinte esquema: Sa ------- R --------Sc Estímulo Ambiental Resposta Estímulo Consequente Figura 5: Esquema do Condicionamento Operante. Fonte: O autor. A teoria de Skinner gira em torno do controle do comportamento e dos estudos das consequências observáveis. Ele escolheu algumas áreas do comportamento humano para dar exemplos sobre o controle. • Controle pessoal. • Educação. • Governo. Para todos estes aspectos, Skinner utiliza o sistema de reforço/ punição para explicar sobre o controle. Toda sociedade estabelece normas e regras de convivência, receber alguma gratificação, admiração é o Skinner chama de reforço. Aquilo que recebemos como incentivo para a manutenção de determinado comportamento. A punição, ao contrário, Psicologia da Aprendizagem 21 é a consequência que escapa ao desejável. É utilizada sob forma de censura ou acusação, com a intenção de extinguir um comportamento. Skinner preconiza que todo comportamento pode ser aprendido, inclusive o comportamento verbal. Ele define o comportamento verbal como “o comportamento reforçado pela mediação com outras pessoas”. A aquisição da linguagem aqui, se dá por meio da imitação do comportamento verbal dos adultos. Estes vão reforçando suas respostas para que elas se tornem cada vez mais próxima do padrão de linguagem considerado adequado. Como consequência desse reforçamento seletivo da comunidade, a criança aprende a discriminar quais, dentre as suas verbalizações, implicarão em reforços e quais não. REFLITA: Vimos até aqui que, a partir da análise do comportamento, bastaria que manipulássemos as variáveis ambientais, mediante reforço aos comportamentos esperados e punição para os comportamentos indesejáveis; seria possível obter qualquer resultado que quiséssemos aprender e ensinar o que melhor nos convém. Você acredita que uma aprendizagem nestes moldes tenha um resultado satisfatório? Acredita que seja duradouro? Aprendizagem por condicionamento operante No condicionamento clássico a aprendizagem se dá pela associação de estímulos ambientais e suas respostas. No condicionamento operante, essa relação é complexificada, pois associa os comportamentos a suas consequências, mediante processo de reforço ou punição. É chamado de condicionamento Operante porque opera no ambiente, produzindo uma consequência. A pesquisa sobre o comportamento e suas consequências teve início com Thorndike e sua caixa enigmática. Nos seus estudos com a Psicologia da Aprendizagem22 caixa Thorndike desenvolveu a Lei do Efeito: qualquer comportamento que resulte em consequência satisfatória tende a ser repetido, e qualquer comportamento que resulte em consequência insatisfatória tende a não ser repetido. Figura 6: E. Thorndike Fonte: Ineuw | Wikimedia Commons | Public Domain https://commons.wikimedia.org/wiki/File:PSM_V80_D211_Edward_Lee_Thorndike.png Skinner, na dec. de 30, redefiniu os termos de Thorndike, para ele “consequências satisfatórias e insatisfatórias” eram termos muito subjetivos. Assim, no pensamento de Skinner, um reforçador é um estímulo que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta anterior; e um estímulo punitivo diminui a probabilidade de ocorrência dessa resposta. DEFINIÇÃO: Reforçador: Estímulo que aumenta a probabilidade de uma resposta anterior. Punitivo: estímulo que diminui a probabilidade de ocorrência de uma resposta anterior. Psicologia da Aprendizagem 23 DEFINIÇÃO: Reforço: processo pelo qual a chance de se obter uma resposta é aumentada mediante a apresentação de estímulo reforçador. Punição: processo pelo qual a chance de se obter uma resposta é diminuída mediante a apresentação de estimulo punitivo. DEFINIÇÃO: Estímulo apetitivo: um estímulo que é agradável, por exemplo, dinheiro, boas notas, comida. Estímulo aversivo: um estímulo que é desagradável, por exemplo, um choque elétrico, notas baixas, doença. Deste modo, o reforço é o processo pelo qual a probabilidade de uma resposta é aumentada mediante a apresentação de um estímulo reforçador depois da resposta, e a punição é o processo pelo qual a chance de uma resposta ocorrer é diminuída mediante a apresentação de um estímulo punitivo depois da resposta. Imagine que você está condicionando operantemente sua cachorrinha. Assim, se cada vez que ela sentar você der comida, a comida será o estímulo reforçador e o processo de aumentar o comportamento de sentar seria chamado de reforço. Igualmente, se você a condicionasse a parar de pular sempre que apertar um spray de água em seu rosto, o spray de água seria o estímulo punitivo e o processo para reduzir o comportamento de pular seria chamado de punição. Skinner não apenas redefiniu os termos da Lei de Efeito, mas também ampliou a pesquisa, subdividindo os termos em Reforço Positivo e Negativo, e Punição Positiva e Negativa. A palavra “positivo” aqui significaque um estímulo foi adicionado; e a palavra “negativo” quer dizer que um estímulo foi removido. Skinner também definiu dois tipos de estímulos. Estímulo apetitivo – estímulo agradável; e Estímulo aversivo – estímulo desagradável. Psicologia da Aprendizagem24 DEFINIÇÃO: Reforço positivo: reforço que é apresentado um estímulo apetitivo. Reforço negativo: reforço que é removido um estímulo aversivo. Punição positiva: punição em que é apresentado um estímulo aversivo. Punição negativa: punição em que é removido um estímulo apetitivo. No reforço positivo, é apresentado um estímulo apetitivo (agradável), já na punição positiva e apresentado em estímulo aversivo (desagradável). Por exemplo, elogiar uma criança por fazer tarefas, é um processo de reforço positivo, pois se acrescenta um estímulo agradável – o elogio. Bater em uma criança por não obedecer às regras, é exemplo de punição positiva, pois se acrescenta um estímulo desagradável - bater. No reforço negativo, um estímulo aversivo é retirado, já na punição negativa, um estímulo apetitivo é retirado. Vejamos um exemplo de reforço negativo seria tomar um analgésico para se livrar de uma dor de cabeça. A remoção da dor (estímulo aversivo) leva a maior chance de repetir o comportamento de tomar o analgésico. Um exemplo de punição negativa é cortar o carro de uma jovem (estímulo apetitivo) depois que ela chegou além da hora combinada. Ser privada de dirigir levará a uma maior obediência futura. Veja o quadro a seguir: Positivo Negativo Reforço É apresentado um estímulo agradável. É removido um estímulo desagradável. Punição É apresentado um estímulo desagradável. É removido um estímulo agradável. Figura 7: Reforço e Punição negativos e positivos. Fonte: O autor. Psicologia da Aprendizagem 25 IMPORTANTE: É importante deixar claro que o que serve de reforço ou punição é relativo a cada indivíduo, em contexto específico, e em determinado momento do tempo. O que nos diz se um estímulo serviu como reforçador ou punitivo é se o comportamento- alvo continuar ocorrendo (reforço) ou para de ocorrer (punição). RESUMINDO: Condicionamento Operante é a aprendizagem a partir da associação dos comportamentos as suas consequências. Deste modo, comportamentos que são reforçados, ou seja, que produzem consequências satisfatórias serão fortalecidos. E, por outro lado, comportamentos que são punidos, ou seja, que produzem consequências insatisfatórias serão enfraquecidos. ACESSE: Assista ao vídeo “Skinner e o condicionamento operante” para saber mais sobre essa forma de condicionamento. Link: https://www.youtube.com/watch?v=A9GWeVA5O1k https://www.youtube.com/watch?v=A9GWeVA5O1k Psicologia da Aprendizagem26 O Humanismo EXPLICANDO MELHOR: O Humanismo faz parte da chamada “terceira tendência” na psicologia americana. É denominado assim, pois se diferencia radicalmente das duas forças maiores da psicologia: o Behaviorismo e a psicanálise. No humanismo a ideia de homem psicológico é rejeitada, e é adotado o ponto de vista fenomenológico e existencialista para compreender homem e o mundo. O existencialismo moderno se desenvolve em torno do conceito fenomenológico de intencionalidade, significando a característica do pensamento que independe dos fatos objetivos ou dos eventos externos. Para clarificar a influência do existencialismo, é importante esclarecer alguns aspectos da filosofia da época: • Todas procedem de uma vivência existência, difícil de definir e variável de filósofo para filósofo. • O objetivo principal da investigação é o que se chama existência e o sentido atribuído a este vocábulo é variável, mas trata-se de uma maneira de ser particularmente humana. • A existência é concebida de maneira atualista. Ela nunca é, mas cria-se em liberdade; é um projeto, um devir. • Os existencialistas consideram o homem como mera subjetividade, e esta é entendida em sentido criador: o homem cria-se livremente a si mesmo, ele é a sua liberdade. Psicologia da Aprendizagem 27 IMPORTANTE: O Humanismo é também um dos pilares da psicologia da terceira força. Com o interesse pelos valores humanos, o reconhecimento da pessoa como entidade de valor incalculável. O Humanismo contemporâneo assume um caráter comunitário, diferente do humanismo histórico da renascença. Carl Rogers foi o teórico que identificou essa terceira tendência na Psicologia. E foi também quem representou essa nova vertente teórica. Carl Rogers – breve histórico Figura 8: Carl Rogers Fonte: File Upload Bot (Magnus Manske) | Wikimedia Commons | CC BY 2.5 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carl_Ransom_Rogers.jpg Psicologia da Aprendizagem28 Carl Rogers foi um terapeuta-educador, que não priorizou nenhuma das duas profissões – e isso não o prejudicou. Ele via em ambas a oportunidade de desenvolvimento do ser humano. Seu trabalho não consistia em analisar o campo da educação, nem o campo da saúde mental; mas sim na defesa de uma atitude profissional que facilite o desenvolvimento de todos. Rogers nasceu em 1902, no estado de Illinois; numa família religiosa. Cresceu isolado e limitado pelas crenças religiosas e rigidez moral da família. Em 1922, numa viagem a Pequim para assistir uma conferência da Federação Mundial de Estudantes Cristãos, fez uma excursão pela China Ocidental. Segundo relatos de Rogers, “a partir desta viagem, seus objetivos, valores, propósitos e filosofia passaram a ser os seus próprios” divergente de tudo que lhe havia sido transmitido ate então pelos pais. Em 1924 iniciou seus estudos no Unios Theological Seminary. Concluiu seu doutorado em 1931 no Teacher College da Universidade de Columbia. Em 1930, já publicava artigos em revistas especializadas. Seu primeiro trabalho foi num centro de orientação infantil, em Rochester. Nos 12 anos que trabalhou neste centro, Rogers desenvolveu seu modelo terapêutico, que ele denominou terapia de relacionamento. VOCÊ SABIA? Rogers produziu vídeos sobre o seu método de trabalho, para fins de pesquisa e de aperfeiçoamento da técnica. Alguns vídeos estão disponíveis da internet. Você pode encontrar um deles neste link: https://www.youtube.com/ watch?v=bIxAQ79RmL4 https://www.youtube.com/watch?v=bIxAQ79RmL4 https://www.youtube.com/watch?v=bIxAQ79RmL4 Psicologia da Aprendizagem 29 Em 1951, Rogers publicou o livro “Terapia Centrada do Cliente”. Nesta publicação, ele ressalta o aspecto mais revolucionário de seu pensamento: o cliente é quem deve ter a força orientadora da relação terapêutica. Em 1969, lançou o livro “Liberdade para aprender”. Este foi um marco para a educação, pois, continha bem claramente às condições educacionais necessárias para Rogers. A explicação Rogeriana do processo de aprendizagem escolar também é entendida como sendo uma terceira força nas teorias de aprendizagem, por se diferenciar das teorias associacionistas e cognitivas. Rogers entendia a aprendizagem escolar como um aspecto de um processo de autorrealização. A pessoa como centro Como vimos anteriormente, Rogers desenvolveu uma teoria terapêutica que ficou conhecida representante da terceira força em psicologia. Essa abordagem Rogeriana sobre personalidade e conduta, enfatiza o sujeito e suas relações interpessoais; o foco é o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, a construção e a organização pessoal da realidade; a capacidade de atuar, como um ser integrado. A orientação interna do sujeito, o autoconceito, a visão autentica de si mesmo são também conceitos que Rogers enfatizou nos seus escritos. Psicologia da Aprendizagem30 Fonte: Freepik Na perspectiva Rogeriana, o homem é único, tanto em sua vida interior, em suas percepções e, também, na sua avaliação do mundo. A pessoa é considerada um processo contínuo de descoberta de seu próprio ser. Não há modelo a seguir. O objetivo do homem é a autorrealização, o uso pleno desuas potencialidades e capacidades. Para Rogers, o homem não tem um fim determinado, mas possui liberdade para se apresentar como um projeto permanente e inacabado. “O homem é arquiteto de si mesmo”, é o que Rogers afirma. O homem é consciente de sua incompletude, ao mesmo tempo em que sabe que é um ser em transformação e um agente transformador da realidade. DEFINIÇÃO: A teoria Rogeriana da ênfase ao sujeito, porém não há uma dicotomização do homem e mundo. O homem se atualiza, e atualiza o mundo. Psicologia da Aprendizagem 31 Para Rogers, o ser humano reconstrói em si o mundo exterior, a partir de sua percepção, dos estímulos, das experiências, e lhes atribui significados próprios. O mundo é produzido pelo homem; e tem papel fundamental na criação de condições de expressão para a pessoa, cuja tarefa é o desenvolvimento pleno do seu potencial inerente. O foco da teoria Rogeriana é o sujeito, mas uma das condições necessárias para o desenvolvimento individual é o ambiente. A visão de mundo e da realidade é desenvolvida impregnada de conotações particulares na medida em que o homem experiencia o mundo e os elementos experienciados vão adquirindo significados para o indivíduo. Segundo Rogers, o papel do subjetivo não deve nunca ser minimizado. Desta forma, ele rejeita qualquer forma de controle e manipulação das pessoas, mesmo que seja sob o pretexto de tornar as pessoas mais felizes. A crença na fé e a confiança – termos de Rogers – na capacidade da pessoa, em seu próprio crescimento, constituem o pressuposto básico da teoria Rogeriana. RESUMINDO: Na perspectiva Rogeriana ser humano significa: a) ser um organismo em processo de integração, independente, autônomo e, como tal, devendo ser aceito e respeitado; b) ser uma pessoa na qual os sentimentos e experiências ocupam um papel importante no desenvolvimento; c) ser uma pessoa que possui uma capacidade de autogerir-se, de reajustar-se, capacidade que deve ser liberadas não diretivamente; d) ser uma pessoa considerada no aqui e agora; e) ser uma pessoa que interage com outras pessoas, e que é compreendida e aceita tal como é. Psicologia da Aprendizagem32 O ensino centrado no aluno Vimos que para Rogers o sujeito deve estar no centro de tudo. E não poderia ser diferente quando pensamos no âmbito educacional. O sujeito tem papel fundamental na elaboração do conhecimento. Para Rogers, o homem conhece ao experienciar, ao vivenciar realidades que possuam significados concretos para ele, e, além disso, que proporcione mudança e crescimento. Fonte: Pixabay NOTA: A educação não deve ser apenas para a pessoa em situação escolar, mas deve ser uma educação para o homem. Tudo o que está a serviço do crescimento pessoas, interpessoal ou intergrupal é educação. Nesse processo de aprendizagem, os motivos de aprender devem ser os do próprio aluno. Psicologia da Aprendizagem 33 A finalidade da educação é criar condições que facilitem a aprendizagem do aluno, liberando sua capacidade de autoaprendizagem, tornando possível o seu desenvolvimento intelectual e emocional. Seria a criação de condições nas quais os alunos pudessem tornar- se pessoas de iniciativa, de responsabilidade, de autodeterminação, de discernimento, que soubessem aprender coisas que lhes serão úteis para a solução de seus problemas e que tais conhecimentos os capacitem a adaptar-se com flexibilidade as novas situações. A escola, de acordo com este posicionamento, é aquela que respeita a criança como ela é, e oferece condições para que ela possa desenvolver-se. É uma escola que possibilita e estimula a autonomia do aluno. Neill, um outro autor da perspectiva humanista, afirma a respeito da escola: Obviamente uma escola que faz com que alunos ativos fiquem sentados em carteiras, estudando assuntos em sua maior parte inúteis, é uma escola má. Será boa apenas para os que acreditam em escolas desse tipo, para os cidadãos não criadores que desejam crianças dóceis, não criadoras, prontas a se adaptarem a uma civilização cujo marco de sucesso é o dinheiro. [...] criadores aprendem o que desejam aprender para ter os instrumentos que o seu poder de inventar e o seu gênio exigem. Não sabemos quanta capacidade de criação é morta nas salas de aula. (Neill apud Mizukami, 1986) Psicologia da Aprendizagem34 Fonte: Pixabay Figura 11: A educação não se da apenas na sala de aula, mas em todo lugar que estimule a autonomia e possibilite novas experiências. Neill era um tanto radical com relação a como a escola deveria ser. Mas quanto à proposta Rogeriana, tentativas de aplicação foram feitas; levando em consideração os limites da escola, contudo estabelecendo um ambiente de aprendizagem que favorecesse a liberdade para aprender. Rogers propunha um ensino não diretivo, ou seja, dirigir a pessoa à sua própria experiência para que assim, ela possa estruturar-se e agir. A não diretividade implica num conjunto de técnicas que tem como base a confiança e o respeito pelo aluno. A partir disso, é possível afirmar que há uma teoria da aprendizagem na proposta Rogeriana para a educação. Teoria em que os princípios básicos são: • Todo aluno tem potencialidade para aprender a tendência e realizar essa potencialidade. • Todo aluno possui capacidade organísmica de valoração. • Todo aluno manifesta resistência à aprendizagem significativa. Psicologia da Aprendizagem 35 • Se for pequena a resistência do aluno, então ele realiza sua potencialidade para aprender. • O aluno, ao realizar sua potencialidade para aprender, torna- se aberto à experiência, e reciprocamente. • A autoavaliação é função da capacidade organísmica de valoração. • A criatividade é função da autoavaliação. • A autoconfiança é função da autoavaliação. • A independência é função da autoavaliação. O professor nesta abordagem assume um papel de facilitador da aprendizagem, devendo ser autentico (aberto a experiências) e congruente, ou seja, integrado. Isso implica também, o professor aceitar seu aluno e compreender os sentimentos que ele possui. O aluno, nesta abordagem, deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes à aprendizagem, que tem significado para ele. O aluno deve ser compreendido como um ser que se autodesenvolve e cujo processo de aprendizagem deve-se facilitar. DEFINIÇÃO: A aprendizagem para Rogers tem a qualidade de um envolvimento pessoal – a pessoa como um todo, tanto no sentido sensível quanto sob o aspecto cognitivo. Ela é auto-iniciada. Mesmo quando o primeiro impulso ou o estimulo vem de fora, o senso de descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de dentro. É penetrante. Suscita modificação no comportamento, nas atitudes, talvez mesmo na personalidade do educando. É avaliada pelo educando. Este sabe se está indo ao encontro de suas necessidades, em direção ao que quer saber. O lócus da avaliação pode-se dizer, reside afinal, no educando. Significar é a sua essência. Quando se verifica a aprendizagem, o elemento de significação desenvolve-se, para o educando, dentro da sua experiência como um todo. (Rogers, 1972 apud Mizukami, 1986). Psicologia da Aprendizagem36 RESUMINDO: A proposta Rogeriana para a educação é a de que: a) Restaure e estimule a curiosidade do aluno; b) Encoraje o aluno a escolher seus próprios interesses; c) Promova todos os tipos de recursos; d) Permita que o aluno faça escolhas responsáveis, e que assuma a responsabilidade das consequências de suas opções; e) Dê ao aluno papel ativo na formação e na construção de um programa que ele faz parte; f) Promova interação entre os meios reais; g) Focalize, por meio da interação, os problemas reais; h) Desenvolva a autodisciplina e crítica, para que os alunos sejam capazes de avaliar tanto as suas quanto as contribuições dos outros; i) Capacite o aluno a adaptar-se inteligente, flexível e criativamente a novassituações problemáticas do futuro. Psicologia da Aprendizagem 37 Psicanálise Um dos marcos do sec. XX é com certeza a Psicanálise e a descoberta do inconsciente. Não se pode dissociar a imagem de Sigmund Freud da origem e consolidação dessa teoria, apesar da existência de grandes nomes entre os colaboradores iniciais de Freud. Diante disso vamos a um estudo dos principais conceitos e a sua relação com a educação. Freud e a Psicanálise – breve histórico Figura 12: Freud em 1905 Fonte: Triggerhippie4 | Autor: Ludwig Grillich (1856–1926) | Wikimedia commons | Public Domain https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sigmund_freud_um_1905.jpg Psicologia da Aprendizagem38 Sigmund Freud nasceu em Freiberg, em 1856. Ingressou seus estudos na Universidade de Viena em 1873, concluindo a faculdade de medicina em 1881. Dedicou-se a psiquiatria para posteriormente concluir que os conhecimentos existentes não eram significativos. Nas décadas de 1880/1890 Freud foi reconhecido como um neurologista de renome. Iniciou os estudos com Charcot em Paris. Charcot era um psiquiatra conhecido por seus estudos e trabalhos com histéricas. Freud acompanhou seus seminários e a descoberta de que fenômenos histéricos e a hipnose constituíam um mesmo processo. Embora mais tarde as teorias de Charcot não tenham sido uteis para a Psicanálise, os estudos sobre o processo sugestivo e sintomas de doenças mentais constituirão a base para o pensamento de Freud. Figura 13: Charcot dando uma aula no Hospital Salpêtrière, em Paris. Fonte: Gryffindor | Autor: Photo by David Monniaux | Wikimedia commons | Public Domain https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pr_Charcot_DSC09405.jpg Psicologia da Aprendizagem 39 SAIBA MAIS: O principal colaborador nas ideias iniciais de Freud é Joseph Breuer, médico que realizava na Áustria pesquisas sobre o tratamento da histeria com a hipnose. O trabalho de Breuer no caso Ana O., ficou conhecido como o primeiro caso tratado no modelo psicanalítico. O método de eliminar os sintomas com a retomada de recordações traumáticas passadas, que se torna conhecido como Método Catártico, e ficou conhecido como “a cura pela fala”. Em linhas gerais estes são os dados iniciais da teoria de Freud, que continuou a ser construída nos 50 anos que se seguiram. As obras centrais do modelo psicanalítico são: Os estudos sobre a histeria, escritos com Breuer em 1893-1895; A interpretação dos sonhos, de 1900; Psicopatologia na vida cotidiana, de 1901; Três ensaios para uma teoria sexual, de 1905; Os três ensaios clínicos de 1909-1911 (o pequeno Hans; O homem dos ratos; O caso Schreber); Os instintos e seus destinos, de 1915; Luto e melancolia, de 1917; Além do princípio do prazer, de 1920; O Ego e o Id, de 1923; Inibição, sintoma e angústia, de 1926. As fases de desenvolvimento na teoria Psicanalítica A teoria psicanalítica versa sobre a estruturação psíquica; sobre a existência de processos inconscientes e sua influência na vida do sujeito. Na teoria estão presentes conceitos que não cabem ser explicitados aqui, mas ressaltaremos aqueles que são necessários para compreender as fases de desenvolvimento infantil que Freud desenvolveu ao longo dos seus estudos. Psicologia da Aprendizagem40 DEFINIÇÃO: O conceito de libido: a libido é uma energia afetiva original, que mobiliza o organismo na direção de seus objetivos. Ela sofre progressivas organizações durante o desenvolvimento, cada uma suportada por uma organização biológica. Cada nova organização da libido é apoiada em uma zona erógena corporal, e caracteriza uma fase de desenvolvimento. A libido é uma energia voltada para a obtenção de prazer. Nesse sentido, define-se a libido como uma energia sexual, num sentido amplificado do termo; e cada fase de desenvolvimento como uma etapa psicossexual de desenvolvimento. IMPORTANTE: A sexualidade não é vista por Freud em seu sentido usual, mas abarca a evolução de todas as ligações afetivas estabelecidas desde o nascimento ate a sexualidade genital adulta. Ou seja, a energia sexual mencionada, é para a psicanálise uma energia vital, que move as estruturas do sujeito. Ao organizar-se em torno das zonas erógenas definidas, a libido caracteriza as fases do desenvolvimento infantil: fase oral, fase anal, e a fase fálica. Há também um período intermediário, sem novas organizações, antes da fase final, é o chamado período de latência. E, por fim, a fase genital, que é uma organização adulta. DEFINIÇÃO: Podemos definir então fase de desenvolvimento como a: organização da libido, em torno de uma zona erógena, dando uma fantasia básica e uma modalidade de relação de objeto. Psicologia da Aprendizagem 41 A fase oral Ao nascer o bebê perde a relação simbiótica com a mãe, e com o corte do cordão, a separação é irreversível. A criança deve assim iniciar a sua adaptação ao meio. A luta entre os instintos de vida e de morte já é um combate franco neste momento. Os processos já existentes na vida intrauterina, de incorporar os alimentos e excretar o que é prejudicial, serão agora deslocados para as relações com o mundo. A amamentação é um exemplo disso. Ao nascer, a estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca. É pela boca que se buscará o equilíbrio homeostático aparentemente perdido. É pela boca que começará a provar e a conhecer o mundo. É pela boca que fará sua primeira e mais importante descoberta afetiva: o seio. O seio é o primeiro objeto de ligação infantil com o mundo. É o depositário dos seus primeiros amores e ódios. Neste momento a libido está organizada em torno da zona erógena oral. E a modalidade de relação oral é a incorporação. A criança incorpora o leite e o seio e isso é o equivalente a ter a mãe dentro de si. O vínculo inicial pode então ser estabelecido. Tudo o que a criança pega é levada a boca: é comendo que ela conhece o mundo e que as identificações são estabelecidas. IMPORTANTE: Freud percebe que, além da necessidade de alimentação, a criança sente prazer no ato de mamar. O prazer oral é uma modalidade que se estabelece paralelamente ao prazer de se alimentar, mas que se separa dele. Este vínculo de prazer inicial, será a base de futuras ligações afetivas. Psicologia da Aprendizagem42 Figura 14: Estatua feminina com um bebê, fase anal. Fonte: Pixabay. IMPORTANTE: Devemos ter em mente que os modelos psicológicos são organizados sempre tendo como base alguma organização biológica. Assim, no tópico anterior, a modalidade incorporativa é a estrutura de base do primeiro ano de vida. No segundo e terceiro ano, o controle muscular e a organização psicomotora estão em maturação. É o período que se inicia o andar, o falar e que se estabelece o controle dos esfíncteres. No inicio do segundo ano de vida, a libido passa da organização oral para a anal. Dois processos psicológicos básicos estão se organizando. O primeiro diz respeito às fantasias que a criança elabora sobre os primeiros produtos, realmente seus, que coloca no mundo. O segundo, diz respeito ao modelo de relação a ser estabelecido com o mundo através de seus produtos. A fase anal Psicologia da Aprendizagem 43 Primeiro a criança desenvolve o sentimento que ter coisas suas, que ela produz e que pode ofertá-las ou negá-las ao mundo. Percebemos isto no andar e no falar, de modo mais imediato. NOTA: O período é denominado fase anal, pois, a libido se organiza sobre a zona erógena anal. A fantasia básica será ligada aos primeiros produtos, principalmente ao valor simbólico das fezes. Duas modalidades de relação serão estabelecidas: a projeção e o controle. As fezes assumem um lugar central na fantasia da criança. São objetos que vem de dentro do próprio corpo, que são parte dessa criança, de certo modo. E, são objetos que geram prazer ao serem produzidos. Durante o treino de esfíncteres, as fezes são dadas como presentes ou recompensa aospais. E se o ambiente é hostil, são retidas. Quando o desenvolvimento é normal, cada elemento que a criança produz é sentido como bom e valorizado. O sentimento básico que fica estabelecido a conduzirá por todas as fases posteriores da vida a sentir que ela é adequada e que o que ela produz é bom; portanto será sempre livre e estimulada a produzir. Esse sentimento de que o que produzimos é bom, é necessário para todas as reações produtivas que estabelecemos com o mundo: trabalho, família, filhos, sociedade. A fase fálica Aluno (a), no terceiro ano de vida a libido se organiza novamente, agora a erotização passa a ser dirigida para os genitais. Há um interesse infantil por eles, a masturbação torna-se frequente e normal, e surge a preocupação com as diferenças entre meninos e meninas. Essa discriminação sexual não caracteriza a existência de dois genitais, o masculino e o feminino, mas apenas a presença ou ausência do pênis. Psicologia da Aprendizagem44 Então, meninos são aqueles que têm pênis, e meninas são aquelas que não o possuem. A erotização dos genitais, que se inicia nesse período, traz inicialmente a fantasia de meninos e meninas terem um pênis. Mas à medida que o desenvolvimento se processa, a percepção correta da realidade confirmara para a criança que só o homem é portador de pênis, ficando a mulher na condição de castrada. Na visão freudiana, essa organização do pensamento infantil fornecerá as bases diferenciais das organizações psicológicas masculinas e femininas. Nesta fase a fantasia básica é fálica. E a tarefa deste momento é organizar os modelos de relação entre o homem e a mulher. IMPORTANTE: Nunca devemos esquecer que estamos falando aqui da organização da fantasia infantil. A procura por parceiros para satisfação sexual real é uma tarefa da vida adulta, é um trabalho da fase genital. A libido está organizada em torno da zona erógena genital, mas configurada pela fantasia fálica. Há um acúmulo de tensão, de energia que deve ser descarregada na sensação de prazer. E a descarga de energia, nesse caso energia sexual, implica na busca por um objeto, nesse caso um elemento do sexo oposto. É, portanto, natural que nesta etapa o menino busque uma figura feminina que cumpra este papel. E a figura feminina que ele tem mais próxima é a mãe. A maioria dos vínculos de prazer da infância está ligado a mãe; a mãe preenche este papel na fantasia infantil. E é esta relação que servirá de suporte para que, quando adulto, possa buscar uma parceira sexual com quem estabelecerá vínculos afetivos e sexuais. O pai neste momento também tem papel fundamental na fantasia da criança. O pai coloca-se como um interceptor entre o filho e a mãe. As fantasias infantis de se casar com a mãe, ou ser seu namorado, são Psicologia da Aprendizagem 45 vedadas pelo pai. O menino fica então com um sentimento ambivalente de ódio e amor, em relação ao pai. Isso configura-se o que Freud chamou de Complexo de Édipo. DEFINIÇÃO: Complexo de Édipo: estabelece-se um triangulo amoroso – o pai, a mãe e o filho. O pai, maior, mais forte e dono da mãe, é sentido pelo filho como um adversário contra o qual não pode lutar. Na fantasia infantil, devido à erotização e ao amor pela mãe; o pai como forma de punição, o castra. Configura-se então o temor pela castração, que obriga o menino a reprimir a atração sentida pela mãe. A repressão que ocorre no Édipo marca o fim da fase fálica infantil. E estabelece o modelo de busca de um amor que será retomado na adolescência. VOCÊ SABIA? Édipo Rei é uma peça do teatro grego antigo escrita por Sófocles por volta de 427 a.C.. Aristóteles, na sua Poética, considerou esta obra como o mais perfeito exemplo de tragédia grega. Centra-se na família de Édipo, descrevendo eventos com mais de 8000 anos. A história desta família é determinada por uma profecia que Édipo irá matar o seu pai e casar com a sua mãe; a ação desta primeira peça é a descoberta da realização dessa profecia. Fonte: https:// pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipo_Rei https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipo_Rei https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89dipo_Rei Psicologia da Aprendizagem46 Período de latência e fase genital Com a repressão que ocorre no Édipo, a energia libidinal se desloca para outros objetivos que não sexuais. A isso chamamos de realizações socialmente produtivas de sublimação. O período de latência caracteriza-se pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social. Não há uma nova organização de zona erógena, nem de fantasias básicas, nem de novas modalidades de relações objetais. É um período intermediário entre a fase fálica e a fase genital adulta. A sexualidade permanece reprimida até sua eclosão na puberdade. Alcançar a fase genital constitui, para a psicanálise, o pleno desenvolvimento do adulto normal. As adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas. Agora é a hora das realizações. É capaz de amar num sentido amplo, definindo um vínculo sexual significativo e duradouro. Psicanalise e a Educação Em seu estudo autobiográfico Freud afirma que: “não contribui com coisa alguma para a aplicação da Psicanálise à educação, mas é compreensível que as investigações da vida sexual das crianças e de seu desenvolvimento psicológico tenham atraído à atenção dos educadores e lhes mostrado seu trabalho sob uma nova luz”. Apesar disso, numa análise de sua obra, podemos identificar algumas vezes em que ele fez referência à educação. Em “O mal-estar da civilização” ele diz. “Vamos tornar claro para nós mesmos qual a primeira tarefa da educação. A criança deve aprender a controlar seus instintos. É impossível conceder-lhe liberdade de pôr em prática todos os seus impulsos sem restrições.” Em outro trecho Freud diz: “A educação e a terapêutica acham-se em relação atribuível uma com a outra. A educação procura garantir que algumas disposições da Psicologia da Aprendizagem 47 criança não causem qualquer prejuízo ao indivíduo ou a sociedade. [...] A educação constitui uma profilaxia, que se destina a prevenir [...] tanto a neurose quanto a perversão; a psicoterapia procura desfazer o menos estável dos dois resultados e instituir uma espécie de pôs-educação.” “O educador, contudo, trabalha com um material que é plástico, aberto a toda impressão e tem de observar perante se mesmo a obrigação de não moldar a jovem mente de acordo com suas próprias ideias pessoais, mas antes segundo as disposições e possibilidades do educando.” (Obras completas, vol XII, apud Goulart, 2015) Sabemos que para a criança o professor é um substituto paterno. O professor pode assim abrir o caminho para a aprendizagem, ou pode bloquear lhe o caminho. O papel da transferência na relação criança- professor é fundamental. IMPORTANTE: Embora o professor não seja um terapeuta, é importante que ele conheça os fenômenos psíquicos que permeiam a relação dele com o aluno. A identificação com o professor é de maior importância para o desenvolvimento da personalidade e para a aprendizagem intelectual. Além disso, as fantasias das crianças são expressas no brincar e no falar, o professor pode, desde a pré-escola, ser orientado para lidar com elas. SAIBA MAIS: Se você ficou interessado em saber mais sobre as fases de desenvolvimento psicossexual, veja este vídeo: https:// www.youtube.com/watch?v=uJcEEdD1g4c. Sobre a relação da Psicanalise com a Educação, veja este vídeo: https:// www.youtube.com/watch?v=iMiizJ1YkQA. https://www.youtube.com/watch?v=uJcEEdD1g4c https://www.youtube.com/watch?v=uJcEEdD1g4c https://www.youtube.com/watch?v=iMiizJ1YkQA https://www.youtube.com/watch?v=iMiizJ1YkQA Psicologia da Aprendizagem48 Aprendizagem na adolescência Falamos até aqui sobre diferentes modos de compreender a aprendizagem. Seja na infância ou na adolescência, os autores das teorias mencionadas (Behaviorismo, Humanismo e Psicanalise)não diferenciam muito. Alguns aspectos, porém, devem ser ressaltados no período da adolescência, como fatores que podem alterar o rendimento escolar. Como por exemplo, a ansiedade e o estresse. No Behaviorismo, a aprendizagem é regulada por fatores situacionais (estimulo externo) que geram alguma consequência (resposta) no, ou para, o indivíduo. No Humanismo, a aprendizagem se dá pela experiência do homem com o mundo, através da sua autodeterminação e autorregulação. Na Psicanálise, a aprendizagem é permeada pela afetividade e pela transferência na relação professor- aluno, a identificação é fundamental. O rendimento escolar pode ser definido como as modificações no indivíduo, que são proporcionadas pela aprendizagem, e a capacidade de recorrer a sua estrutura cognitiva para ultrapassar as dificuldades e solucionar problemas. O rendimento é medido por notas ou conceitos que apontam para o aproveitamento ou não aproveitamento da situação de ensino e aprendizagem. O desempenho escolar pode ser afetado por diversos fatores. Externos, como a escola e a família. E também internos, como autoconceito acadêmico, motivação, ansiedade e outros. Psicologia da Aprendizagem 49 NOTA: Estudos acadêmicos sobre desempenho escolar salientam que, quando professores demonstram apoio, carinho, aprovação e elogios, os alunos apresentam maior desempenho escolar. E quando a escola oferece apoio, mais estabilidade e flexibilidade, e, quando pais estão cientes das necessidades desenvolvimentais de seus filhos, apoiando suas decisões, um clima favorável é estabelecido. Depois da família, a escola tem sido percebida como um local ideal para a construção de novas maneiras de compreender a sociedade e de construir novos hábitos, incluindo aqui novos hábitos de saúde. De acordo com a concepção que a Organização Mundial de Saúde – OMS tem de saúde, entendemos que fatores ligados à escola podem influenciar na saúde do indivíduo. DEFINIÇÃO: A OMS define saúde como “um estado de completo bem- estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade. [...] A extensão a todos os povos dos benefícios dos conhecimentos médicos, psicológicos e afins é essencial para atingir o mais elevado grau de saúde.”. Fonte: http://www.direitoshumanos.usp.br/index. php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da- Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da- saude-omswho.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constitu http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constitu http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constitu http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constitu Psicologia da Aprendizagem50 REFLITA: A saúde psicológica é diretamente ligada à saúde física de um sujeito. Sendo assim, compreendemos que adolescentes que não conseguem construir, manter e modificar adequadamente as características dos relacionamentos interpessoais; frequentemente evoluem para quadros depressivos e ansiosos. E, levando em consideração que a aprendizagem se dá num meio social – a escola, através da relação entre professor-aluno e aluno- aluno, a qualidade dessa aprendizagem fica comprometida. A adolescência é um período marcado por diversos conflitos relacionados à identidade, ao futuro, as transformações corporais; assim as dificuldades nos relacionamentos interpessoais e estresse podem ser causados tanto por modificações sociais que o sujeito vivencia nesta etapa, quanto pelas suas mudanças biológicas que caracterizam a puberdade. Estresse e estratégias de resiliência Um evento estressor é caracterizado como um estímulo que ameaça o organismo, gerando consequências que podem ser físicas ou psicológicas. Podemos facilmente identificar como evento estressor a morte de alguém, um acidente, uma violência, uma doença física entre outros. Contudo, episódios diários menores, eventos corriqueiros como pequenas frustrações, demandas irritantes, coisas que acontecem no dia a dia são situações que podem causar prejuízos e ser igualmente nocivas. Psicologia da Aprendizagem 51 EXPLICANDO MELHOR: O estresse é uma condição patológica, que se desenvolve quando o indivíduo conclui que as dificuldades eventuais são excessivas, e que a sua capacidade de as enfrentas é menor. Isso impossibilita que o indivíduo crie estratégias para lidar com esses eventos estressores. Essa diferença entre o evento estressor e a capacidade do indivíduo de superá-lo, altera sua qualidade de vida, trazendo prejuízos, diminuindo a motivação para atividades diárias. Pode também provocar uma sensação de incompetência e de inabilidade, e em consequência, baixa autoestima. DEFINIÇÃO: Evento estressor pode ser definido como uma situação do dia a dia que causa alguma irritação, frustração, diminuição de motivação ou nervosismo. Pode também ser uma situação maior como um ataque violento, a morte de alguém, a descoberta de uma doença. O estresse provoca mudanças na vida do indivíduo; mudanças biológicas e psicológicas. A resposta corporal do indivíduo, em termos neurobiológicos, é uma ativação do sistema nervoso simpático e da hipófise, glândulas necessárias para o gerenciamento das emoções e por manter a homeostase. Já as respostas psicológicas são várias, e são também relativas. Cada indivíduo reage de uma forma diante de um evento estressor. Mas em geral, elas envolvem cansaço, confusão mental, dificuldade de concentração, prejuízo na memória, queda de produtividade, irritabilidade, agressividade, apatia, queda de autoestima, desgaste, isolamento, falta de energia, baixo rendimento escolar, comportamento hiperativo, hipersensibilidade emotiva, além de depressão e outras psicopatologias. Psicologia da Aprendizagem52 Alguns autores têm sugerido a resiliência e o uso de estratégias de coping como forma de enfrentamento desses eventos estressores. Resiliência tem sido definida como a capacidade que o indivíduo possui de superar as adversidades ou a habilidade de lidar com algum episódio estressor e superá-lo. Já as estratégias de coping são os esforços empregados pelo indivíduo na tentativa de lidar com situações estressantes. REFLITA: Você já passou por alguma situação em que exercitou a resiliência? Quais foram as suas estratégias para superar uma situação de estresse? As estratégias de coping são recursos cognitivos, emocionais e comportamentais orientados para a redução do estresse em situações adversas. A estratégia a ser empregada em tal situação depende da avaliação que o indivíduo faz da mesma. Assim, em situações avaliadas como modificáveis, o indivíduo emprega estratégias que focalizam o problema, e em situações avaliadas como não modificáveis, as estratégias focalizam na emoção. Autores mencionam que as estratégias mais utilizadas por adolescentes são as estratégias de distração que envolve relaxamento, como por exemplo: prática de exercícios, abuso de substancias, entre outras alternativas. Essas estratégias são para alívio temporário do estresse, mas não atuam na fonte do problema. Psicologia da Aprendizagem 53 Figura 15: Alunos exercitando a meditação como estratégia contra o estresse. Fonte: Freepik A aprendizagem pode ser afetada positiva ou negativamente por diferentes fatores. Podemos perceber que os fatores estressores influenciam negativamente nesse processo. Mas é possível, mesmo dentro da sala de aula, ensinar aos alunos adolescentes como lidar com estes eventos, criando estratégias de enfrentamento próprias de cada sujeito. Com o fortalecimento dessas estratégias e do senso de capacidade de superação dos problemas, a tendência é que cada vez menos estes eventos interfiram no desempenho escolar dos alunos. A ansiedade na sala de aulaEntão, vimos como o estresse pode afetar os alunos em sala de aula. Agora, outro fator que interfere no desempenho de alunos, em grande parte nos adolescentes, é a ansiedade. Psicologia da Aprendizagem54 Figura 16: Ansiedade diante de situações escolares pode atrapalhar o desempenho escolar. Fonte: Pixabay EXPLICANDO MELHOR: Ansiedade pode ser caracterizada como uma sensação de perigo iminente, aliada a uma atitude de expectativa, que provoca uma perturbação mais ou menos profunda. Também pode se manifestar como um sentimento avassalador de medo de tudo que está relacionado ao contexto escolar, ou a certas situações escolares, determinadas disciplinas, professores, situações de avaliação, colegas, entre outros. DEFINIÇÃO: Ansiedade é caracterizada como uma sensação de perigo iminente, aliada a uma atitude de expectativa, que provoca uma perturbação mais ou menos profunda. Pode se manifestar como um sentimento de medo de tudo que está relacionado ao contexto escolar, ou a certas situações escolares, determinadas disciplinas, professores, situações de avaliação, colegas, entre outros. Psicologia da Aprendizagem 55 Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da ansiedade. Fatores comuns relacionados ao ambiente familiar são: pais excessivamente críticos, constantes comparações, alto nível de exigência quanto à realização do filho. Fatores mais comuns relacionados ao ambiente escolar são: criar expectativas não realistas com relação ao desempenho de seus alunos, promover um clima de pressão para realização das tarefas, comparação entre os alunos, sistema de avaliação rígido e ameaçador, clima de competição. O surgimento da ansiedade também está associado à capacidade da criança ou adolescente interpretar seu desempenho escolar, em relação a sua turma e ao seu próprio desempenho anterior. REFLITA: É possível diferenciar a ansiedade em duas formas distintas: a preocupação e a emotividade. A preocupação é um componente cognitivo, diz respeito às expectativas negativas sobre si mesmo, como por exemplo, a situação de prova e suas possíveis consequências. Já a emotividade, é relacionada com sentimentos de desprazer, nervosismo e tensão, com presença (ou não) de sintomas físicos, como tremores, suores, taquicardia e outros. Apesar de serem distintas, a preocupação e a emotividade se correlacionam. O desempenho escolar é afetado negativamente em grande parte pela preocupação. Isso ocorre porque os sintomas da emotividade tendem a diminuir quando o teste ou exame começa, à medida que as preocupações permanecem, podem aumentar e tendem a permanecer mesmo depois da avaliação. Psicologia da Aprendizagem56 EXPLICANDO MELHOR: A ansiedade diante de avaliações tem sido uma preocupação dos educadores, considerando que ela tende a aumentar com a avançar da escolaridade, gerando um padrão motivacional disfuncional que prejudica o desempenho acadêmico dos alunos. Visto que a situação de avaliação escolar é um mal necessário, cabe aos professores, à escola e a família auxiliar esse aluno a lidar de forma mais funcional com situações ansiogenas. Teóricos da psicologia cognitiva acreditam que alunos ansiosos têm hábitos de estudos deficientes, apresentam dificuldade de organizar o material e não processam a informação adequadamente; e isso retroalimenta o ciclo da ansiedade. E como resposta a isso, hábitos efetivos de estudos, capacitam os alunos a organizar tarefas de modo que elas exijam menos capacidade cognitiva do que seria necessário. Alimentando assim, bons hábitos de estudos, gerando motivação e diminuindo a ansiedade. A hipótese e de que a alta ansiedade tende a aumentar as demandas feitas na capacidade cognitiva, enquanto que hábitos apropriados de estudos e estratégias efetivas para realização de provas capacitam o aluno altamente ansioso a lidar mais apropriadamente com as demandas da tarefa. A psicologia cognitiva tem demonstrado que as estratégias de aprendizagem podem auxiliar no controle de variáveis como ansiedade, a motivação para a aprendizagem, as atribuições de causalidade para o sucesso e fracasso escolar, entre outras, e dessa forma contribuir para a manutenção de um estado interno satisfatório que favoreça a aprendizagem. Com isso podemos dizer que nem todos os problemas podem ser resolvidos na escola, mas algumas questões relacionadas à ansiedade, principalmente a ansiedade relacionada a momentos de avaliação, Psicologia da Aprendizagem 57 o professor pode e deve auxiliar seu aluno a lidar de uma forma mais funcional com esse momento. Há alguns procedimentos que o professor pode adotar em sala de aula, a fim de prevenir o desenvolvimento da ansiedade. Esclarecer a finalidade da avaliação; atenuar a pressão do tempo na realização de avaliações; informar os alunos quanto à forma de avaliação; fornecer instruções sobre o tempo; minimizar o uso de comparações em sala de aula; evitar que alunos ansiosos tenham que se expor em sala de aula; avaliar de várias maneiras diferentes, não só por testes e provas; ressaltar os pontos fortes de seus alunos e auxiliar na superação das dificuldades; são práticas importantes e de fácil uso para o professor, e que contribuem para a prevenção da ansiedade em sala de aula. Figura 17: Professores e alunos trabalhando juntos. Fonte: Freepik. Psicologia da Aprendizagem58 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: BELLONI, M. L.; GOMES, N. G. Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração. Revista Educação e Sociedade. Vol. 29, n. 104. P. 717-746. 2008 Disponíveis em https://www.redalyc.org/ html/873/87314209005/ Chegamos ao final de nossa disciplina de Psicologia da Aprendizagem. Espero que você tenha aproveitado bastante todas as informações oferecidas nessas quatro unidades de aprendizado. Desejo sucesso e que você possa fazer um bom trabalho em sua jornada profissional. https://www.redalyc.org/html/873/87314209005/ https://www.redalyc.org/html/873/87314209005/ Psicologia da Aprendizagem 59 BIBLIOGRAFIA GOULART, I. B. Psicologia da educação: fundamentos teóricos e aplicações à prática pedagógica. 21 ed. Ed. Vozes, 2015. RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W. R.; DAVIS, C. Psicologia do desenvolvimento: Teorias do desenvolvimento, conceitos fundamentais. Vol 1., São Paulo: EPU, 1981. ____________________________. Psicologia do desenvolvimento: a idade pré-escolar. Vol 3, São Paulo: EPU, 1981. Sistema Nervoso Autônomo
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