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PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Edmundo Sebadelhe Valério Neto CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Tathyane Lucas Simão Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Jorge Hilário Bertoldi Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 22 N469p Neto, Edmundo Sebadelhe Valério Práticas de gestão de processos / Edmundo Sebadelhe Valério. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 111 p. : il. ISBN 978-85-69910-99-2 1.Gestão Empresarial. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Msc. Edmundo Sebadelhe Valério Neto Engenheiro ambiental (2013) e mestre em engenharia de Processos (2015) pela Universidade Tiradentes. Atualmente constitui o quadro de discentes de doutorado do programa de pós-Graduação em engenharia de processos (PEP) da Universidade Tiradentes desde 2015, atuando principalmente nos seguintes temas: oxidação eletroquímica, nanofios, células a combustível e nanocatalisadores. Possui experiência na área de engenharia de processos, em eletroquímica e no desenvolvimento de novos materiais catalíticos para modificação de eletrodos de trabalho. É revisor do periódico Interfaces Científicas – Exatas e Tecnológicas desde 2016, participou de 1 banca de trabalho de conclusão de curso em engenharia civil e supervisionou 3 projetos de iniciação científica. Sumário APRESENTAÇÃO ....................................................................01 CAPÍTULO 1 Introdução à Gestão de Processos .....................................9 CAPÍTULO 2 Papéis na Orientação por Processos.................................41 CAPÍTULO 3 Gestão Corporativa de Processos .....................................77 APRESENTAÇÃO O tema gestão de processos tem como objetivo principal servir de instrumento para conectar tudo o que é realizado em uma organização, fornecendo boas e inúmeras ferramentas para facilitar a comunicação e a cooperação, servindo de ponte entre as estratégias organizacionais e as atividades diárias realizadas junto aos processos organizacionais. Todavia, o modelo de gestão necessita ser bem difundido e praticado, pois para alcançar uma maior aceitação da gestão de processos na cultura organizacional, ainda é necessário percorrer um longo e árduo caminho. A discussão sobre processos e a gestão de processos não é algo recente e está originalmente associada à tradição da engenharia industrial e aos estudos dos sistemas sociotécnicos. Perceba que não existe uma interpretação consensual do termo, o que acaba por gerar confusão quanto à aplicação do conceito de processo em diferentes contextos. A gestão dos processos do negócio acaba representando uma nova maneira de visualizar as operações de negócios que vai além das estruturas funcionais tradicionais. Essa visão engloba todo o trabalho executado para entregar o produto ou serviço do processo, independentemente de quais áreas funcionais ou localizações estejam envolvidas. A gestão se inicia em um nível mais alto que aquele nível que realmente realiza o trabalho e, então, subdivide-se em processos menores ou subprocessos que devem ser realizados por uma ou mais atividades, que por sua vez, são decompostas em tarefas e em cenários de realização das tarefas. Esta disciplina discute amplamente o conceito da gestão dos processos em uma organização, servindo como uma estrutura teórica, que fornece embasamento teórico para que o aluno possa estudar e se preparar para implementar a gestão de processos em toda e qualquer organização, colhendo os frutos do sucesso em curto ou médio prazo. Além disso, a disciplina fornece meios para que o aluno possa escolher o melhor método para a realizar a gestão de processos e como gerencia-las durante todo o período de transição. Nesse contexto, foram apresentados, primeiramente, vários modelos de ciclo de vida que podem ser utilizados como guia para a implementação da gestão. Entretanto, vale ressaltar, que a utilização desses modelos não garante o sucesso da gestão de processos, cabendo as pessoas responsáveis pelo processo saber observar, encontrar os possíveis problemas e saber direcionar, quando necessário. Nesse contexto da gestão de processos, o primeiro capítulo desse módulo apresenta detalhadamente as considerações gerais da gestão por processos, passando pelos ciclos de vidas e seus mais diferentes modelos, passando pela diferença entre a estrutura funcional e orientada por processos, chegando na cultura de processos e matriz de desempenho. Por fim, o segundo capítulo e o terceiro capítulos apresentam em detalhes os diversos cargos que as pessoas podem desempenhar na gestão de processos organizacionais, assim como, os diversos setores que podem ser criados para guiar a organização ao sucesso. Boa leitura, bons trabalhos e uma excelente e profunda aprendizagem na gestão de processos. CAPÍTULO 1 Introdução à Gestão de Processos A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a gestão de processos e suas características. � Definição das diferenças entre as estruturas. � Compreender a transição entre as estruturas. � Identificar as diferenças entre a estrutura funcional e orientada por processos, para realizar essa transição. � Elaborar uma matriz de desempenho. 10 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS 11 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Contextualização O Gerenciamento de Processos é utilizado para melhorar a forma como os negócios das organizações são realizados e administrados. É uma abordagem disciplinada para identificar, desenhar, executar, medir, monitorar e controlar pro- cessos de negócio ponta-a-ponta com o objetivo de atender as estratégias da organização. As formas de gerenciamento têm se tornado o grande diferencial na gestão da produção, atualmente é preciso gerenciar com uma visão sistêmica que alca- nce fatores de produtividade considerando também aspectos de personalidade, capacitação, conhecimento técnico e comportamento. Sendo assim, como qualquer gerenciamento eficaz necessita de boas práticas, a gestão de processos produtivos do contexto atual trabalham em prol de uma produção planejada, controlada e devidamente acompanhada em todas as suas etapas. A Gestão de Processos O estudo de processos sempre teve uma grande demanda por parte das organizações em todo o planeta. No início da década de 90, houve uma maior concentração do foco na melhoria das operações, com as lógicas da Administração Científica de Taylor, o qual é considerado um dos precursores da engenharia de produção. A utilização de técnicas e instrumentos para entender e melhorar os processos organizacionais, sempre acompanhou os profissionais nas organizações produtivas. No fim da década de 80 e no início da década de 90, houve uma intensificação no uso do conceito de processos sob a alcunha de reengenharia, a qual foi sucedida por uma deterioração do conceito de processos (PAIM et al., 2009). Paralelamente, as propostas do Sistema Toyota de Produção, em particular o Controle da Qualidade Total (TQC), continuaram a se disseminar, em muito baseados na abordagem processual, ainda que de modo aparentemente periférico, mas sem movimentos objetivos de adoção da gestão deprocessos. A primeira década dos anos 2000, em especial nos últimos anos, está assistindo novamente a uma corrida das organizações para o conceito de processos. Diversos estudos reforçam uma retomada do crescimento da demanda das organizações pelo conceito de gestão de processos (PAIM et al., 2009). 12 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Melhorar os processos é uma ação básica para as organizações responderem às mudanças que estão constantemente ocorrendo em seu ambiente de atuação e para manter o sistema produtivo competitivo. Pode-se dizer que esse movimento mais recente de gestão de processos está fortemente associado à adoção da tecnologia da informação. Qualquer organização produtiva tem, sem exceção, que coordenar o trabalho. Os mecanismos de coordenação do trabalho estão intrinsecamente relacionados à forma como os recursos e as atividades estão projetados, ao modo como essas atividades são geridas no cotidiano e aos meios pelos quais a organização irá gerar o aprendizado e promover as melhorias nas operações e na forma de coordenação do trabalho em si. Dessa maneira, gerir processos é útil para qualquer organização, pois a necessidade de governar deriva exatamente da própria ação de dividir e organizar o trabalho em si (PAIM et al., 2009). A figura a seguir apresenta uma comparação gráfica entre a visão departamental e a visão por processos. Apesar de discussões de que na realidade a visão funcional passou a existir a partir de uma visão de linhas de montagem de Henry Ford, a realidade é que essa visão se disseminou para outras atividades fora do chão da organização. Além disso, as técnicas fordistas eram funcionais, já que cada trabalhador tinha uma visão departamental. A visão orientada por processos procura entender “o que precisa ser feito e busca formas de fazê-lo”. Nela, as tarefas não são definidas exclusivamente em função dos departamentos da organização. Ao decidir o que precisa ser feito, primeiramente têm-se em mente as atividades que agregarão valor para a organização sem se preocupar inicialmente em saber qual o departamento que as executará (BALDAM et al., 2014). Melhorar os processos é uma ação básica para as organizações responderem às mudanças que estão constantemente ocorrendo em seu ambiente de atuação e para manter o sistema produtivo competitivo. Figura 1 – Visão departamental x visão de processos Companhia Visão Departamental Visão Departamental Evento Evento Companhia Processo Fonte: <https://tecproit.wordpress.com/2009/08/12/gestao-por-processos-diferenca- entre-a-visao-departamento-e-visao-por-processos/>. Acesso em: 24 jan. 2018. 13 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 O pensamento por processo é uma orientação gerencial visando agir pró-ativamente na identificação de oportunidades de melhoria nos processos, implementar novos conceitos de processos na solução de problemas organizacionais e atingir ganhos com a transferência de conhecimento e do pensamento por processos para funcionários, clientes e parceiros. O quadro a seguir apresenta as características de uma organização centrada e não centrada em processos, para se ter uma ideia mais clara sobre a visão de processos na organização. Quadro 1 – Características de organização centrada e não centrada em processos Organização centrada em processos Organização não centrada em processos Entende que processos agregam signif- icativo valor para a organização e facili- tam à organização atingir seus objetivos estratégicos. Não está completamente convencida da contribuição que a visão e estudos de processos podem trazer para a organi- zação e para a estratégia. Incorpora o BPM como parte da prática gerencial. Gerenciamento de processos não é o foco primário. Envolve o BPM na estratégia. Apoia várias iniciativas isoladas de BPM. Os executivos seniores possuem foco em processos, especialmente o presidente, pois os demais tendem a seguir o líder. Entende que o processo é importante pelos problemas que causa (qualidade, lista de reclamações etc.). Possui clara visão de seus processos e como se relacionam. Pode possuir cadeia de valor bem defin- ida, lista de processos e subprocessos. Talvez até possua alguns processos modelados. A estrutura da organização reflete seus processos. A estrutura da organização reflete seus departamentos. Entende que podem surgir tensões entre os processos e departamentos e possui meios de sanar tais situações. Pode tornar uma tensão em frustração e criar mentalidade de punição. Possui um executivo sênior destacado para área de processos e integração deles dentro da organização. Funcionalidades baseadas em respons- abilidade que não cruzam departamentos. Recompensas e prêmios baseados em metas de processos. Recompensas e prêmios baseados em metas e departamentos. Fonte: BALDAM et al. (2014). 14 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Os dois modelos ideais apresentados no quadro representam um conjunto de sintomas, em que pode haver uma mistura de sinais na organização. A mistura dessas duas visões, na verdade, é comum. Suas fronteiras são na maioria das vezes sutis, entretanto, a observação do quadro permite perceber que existem algumas diferenças cruciais entre as duas abordagens. As técnicas contemporâneas de gestão de processos, buscam esclarecer a contribuição de cada processo para a agregação de valor, para a geração de saídas indesejadas, conforme a International Organization for Standardization (ISO) 14000 que define diretrizes para a gestão ambiental de forma a garantir o controle do desempenho, e para a responsabilidade social da organização. Entretanto, isso não quer dizer que os processos ocorram de fato, conforme o modo previsto nos documentos escritos inicialmente. Afinal, as ferramentas que estes dispõem retratam somente uma parte do conhecimento necessário e ignoram as instabilidades técnicas e financeiras (BALDAM et al., 2014). Percebe-se que a maioria das organizações atuais são estruturadas em volta de estruturas funcionais, geográficas ou por produto. São raras as organizações que são estruturadas em torno de seus processos de negócio. A transformação dos processos e abordagens organizacionais pode parecer complicado e desafiador a princípio, mas se deve ter em mente que a organização pode realizar uma alteração nos seus valores, cultura, estrutura, processos e responsabilidades, buscando adotar uma visão centrada em processos e com orientação voltada para os clientes. Assim, na medida em que as organizações forem alcançando uma maior maturidade em processos, poderão ser implementadas (gradativamente) novas estruturas, competências e maneiras de motivar e recompensar os colaboradores. Esses novos papéis, responsabilidades e relacionamentos, geralmente levam a ocorrência de uma mudança significativa no foco do gerenciamento organizacional, e consequentemente, na forma como o trabalho é realizado, partindo de uma estrutura mais tradicional centrada em uma determinada função ou atividade, para uma visão centrada no desempenho interfuncional de processos ponta a ponta, os quais irão entregar valor para os clientes. Nesse contexto, a cadeia de valor de processos de negócio de uma organização descreve uma forma de pôr em foco esta cadeia que fornece valor ao cliente. Dessa maneira, cada uma das atividades tem seus próprios objetivos de desempenho conectados aos seus processos de negócio de origem. Os processos primários podem fluir através das funções da organização, através dos departamentos ou até mesmo entre empresas que fornecem uma visão completa do valor criado. Na medida em que as organizações forem alcançando uma maior maturidade em processos, poderão ser implementadas (gradativamente) novas estruturas, competências e maneiras de motivar e recompensar os colaboradores. 15 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 A globalizaçãoe seus atuais cenários dinâmicos exigem mais agilidade por parte das organizações, sejam elas públicas ou privadas, o que acaba implicando em profundas transformações na maneira de como a administração e a gestão são conduzidos. Dessa maneira, as organizações têm buscado tomar ações iniciativas para as mudanças, entretanto, na maioria das vezes, essas mudanças não chegam a ser implementadas, e quando são implementadas, seus resultados raramente são avaliados de forma objetiva e clara (MANUAL DE GESTÃO POR PROCESSOS, 2013). Isso mostra que o foco da qualidade e melhoria dos processos não deriva apenas da competência e vontade dos profissionais, é uma série de fatores estratégicos que vão contribuir de fato para a mudança organizacional (MANUAL DE GESTÃO POR PROCESSOS, 2013). Os gestores e/ou responsáveis por conduzir uma organização deve sempre ter em mente a pergunta: De que maneiras eu posso melhorar os processos da organização? A partir desse questionamento, buscar e encontrar o rumo para alcançar o resultado desejado, como o método mais adequado de realizar a gestão do processo. A gestão dos processos une, então, as pessoas da organização, de maneira a criar um ambiente agradável, cooperativo e produtivo, o qual assegura os resultados da organização. Identificar um processo é muito importante para definir a organização dos indivíduos e dos demais recursos da instituição. É um conceito fundamental na projeção dos meios pelos quais a instituição pretende entregar seus produtos ou serviços aos seus clientes. Um processo, em essência, representa uma sequência de atividades a serem realizadas para a obtenção de um produto final (bem ou serviço). Por outro lado, processo de negócio é, então, um conjunto de atividades que tem por objetivo transformar as entradas (insumos), adicionando-lhes valor por meio de procedimentos, em bens ou saídas (serviços) que serão entregues e devem atender aos clientes (PRADELLA; FURTADO; KIPPER, 2012). Nesse contexto, é importante relembrar ao leitor que existem três tipos diferentes de processos de negócio ponta a ponta: • processos primários ou essenciais; • processos de suporte; • processos de gestão. Os processos primários são definidos como processos ponta a ponta, multifuncionais, que direcionam as entregas de valor aos clientes. São também denominados como processos de núcleo, pois representam as atividades essenciais que a organização desempenha para cumprir sua missão. Esses processos constituem a cadeia de valor que cada etapa somada à etapa A gestão dos processos une, então, as pessoas da organização, de maneira a criar um ambiente agradável, cooperativo e produtivo, o qual assegura os resultados da organização. 16 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS precedente, em que a cadeia de valor de processos de negócio de uma organização descreve uma forma de pôr em foco esta cadeia de processos que fornece valor ao cliente. Cada uma dessas atividades tem seus próprios objetivos de desempenho conectados aos seus processos de negócio de origem (PRADELLA, FURTADO e KIPPER, 2012). Esses processos primários podem fluir através das funções da organização, através dos departamentos ou até entre empresas que fornecem uma visão completa do valor criado. As atividades principais, por sua vez, são aquelas que estão envolvidas na criação física do produto ou do serviço, por meio das ações de marketing, e transferem para o comprador e para o suporte de pós-venda, denominado valor adicionado. Já os processos de suporte são estruturados para dar suporte aos processos primários. A principal diferença entre processos primários e de suporte é que os processos de suporte não entregam diretamente o valor aos clientes, enquanto que os processos primários fazem (PRADELLA, FURTADO e KIPPER, 2012). Entretanto, isso não significa que os processos primários são menos importantes para uma organização, devendo ser deixados de lado. Esses processos podem ser críticos e estratégicos para as organizações, na medida em que a organização efetivamente executar os processos primários. Por fim, os processos de gestão são entendidos como processos usados para medir, monitorar e controlar as atividades de negócios. A nomenclatura “gestão de processos” deriva do inglês: Business Process Management (BPM). Os processos de gestão garantem que um processo primário ou um processo de suporte atinjam metas operacionais, financeiras, reguladoras e legais. Esses processos não conferem valor diretamente aos clientes, mas são de extrema importância para garantir que a organização opere com eficiência e eficácia (PRADELLA; FURTADO; KIPPER, 2012). As atividades principais, por sua vez, são aquelas que estão envolvidas na criação física do produto ou do serviço, por meio das ações de marketing, e transferem para o comprador e para o suporte de pós- venda, denominado valor adicionado. Visto tudo isso, o que é gestão de processos de negócios? Segundo William J. Kettinger e Varun Grover, a gestão de processos é um método que envolve a formalização ou institucionalização do planejamento, estruturação e avaliação dos processos, que pode ser implementada de forma radical (reengenharia) ou incremental (melhoria contínua). Dessa maneira, as organizações que se engajarem na gestão de processos devem aplicar múltiplos métodos para coletar informações, redesenhar e acessar os seus processos. 17 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Jeston 2008 lista os principais termos utilizados na definição da gestão por processos de negócios, os quais serão apresentados no quadro a seguir. Quadro 2 – Definições dos termos utilizados para a definição de BPM Realização Realizar os objetivos estratégicos como descrito no planeja- mento estratégico da organização no nível do projeto e sobre a realização do valor ou benefícios do negócio como descrito no projeto do negócio. Organização Refere-se a uma empresa ou partes de uma empresa, talvez uma unidade de negócio que é discreto por direito. É o negócio de processo de ponta a ponta associado com essa parte de uma organização. Esse foco de ponta a ponta irá garantir que uma abordagem de silo não ocorra. Objetivos Varia de metas estratégicas ao longo de uma organização até metas individuais de processos. É alcançar os resultados do pro- cesso ou seus objetivos. O BPM não é exatamente um objetivo, mas sim um meio para se atingir os objetivos. Melhoria Refere-se a fazer os processos de negócios mais eficientes e efetivos. Gestão Refere-se à gestão, desempenho e medição dos processos e das pessoas. É organizar todos os componentes e subcomponentes para os seus processos, ou seja, organizar pessoas e suas habi- lidades, motivações, desempenho, recompensas, processos, es- trutura e sistemas, necessários para dar suporte aos processos. Controle É fazer a gestão dos processos de ponta a ponta e envolver todo o ciclo PDCA. Um componente essencial do controle de habilidade de medir corretamente os parâmetros. Se não for possível medir alguma coisa, você não poderá o controlar nem fazer a sua gestão. Essencial Nem todo processo em uma organização contribui diretamente para alcançar os objetivos estratégicos da organização. So- mente os processos essenciais são os que contribuem. Negócio A implementação de um BPM deve ter um impacto no negócio at- ravés da entrega de benefícios. Deve ter foco no “coração” dos pro- cessos de negócios que são essenciais para a atividade primária da organização, ou seja, aqueles processos que realmente contribuem para que a organização alcance os seus objetivos estratégicos. Processos Existem muitas definições para processos, assim, como existem muitos processos. Segundo Roger Burlton, um processo verda- deiro engloba todas as coisas que se faz para fornecer a al- guém que se preocupa com o que eles esperam receber. Essa definição cobre o processo de ponta a ponta, partindo do gatilho original doprocesso para a satisfação das partes interessadas. O teste final para a plenitude de um processo é se o processo entregar um produto ou serviço que satisfaça completamente uma parte interessada externa ou outro processo interno. Fonte: Adaptado de Jeston (2008). 18 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Muitos comentaristas e vendedores fornecem definições que especificam a tecnologia (ferramentas de automação) como um componente essencial da gestão por processos de negócios. De fato, a gestão por processos é uma tecnologia. O gerenciamento de processos é uma parte integrada do gerenciamento normal. É importante para a liderança e para a gestão, reconhecer que não existem limites para a melhoria dos processos de negócios dentro de uma organização. Assim, a gestão acaba se configurando como um programa que deve ser continuamente mantido. Por último, mas não menos importante, a gestão requer que a organização possua uma visão de ponta a ponta e bom senso, ambos os quais muitas vezes pode estar em falta dentro do ambiente de trabalho (JESTON, 2008). Considerações Gerais da Gestão por Processos A literatura especializada propõe alguns modelos que podem ser utilizados para orientar a gestão dos processos de negócios. Muitos deles assumem a forma de ciclos, ou seja, contêm uma série de ações que se repetem na fase seguinte. Assim, em assuntos relacionados à gestão de processos, é comum encontrar o termo “ciclos de BPM” (BALDAM et al., 2014). Todos os modelos de ciclos de vida de BPM envolvem seis etapas, as quais estão representadas na figura a seguir. Figura 2 – Modelo de ciclo de vida de um BPM Fonte: O autor. 19 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Dentre os modelos mais importantes, podem-se citar (BALDAM et al., 2014): a) Modelo de Burlton (2001) Baseia-se na ideia de fases sequenciais que se alinham desde a fase de definição da estratégia até a operação do processo. Esse modelo defende a estrutura em dois níveis, modos e fases. Assim, os modos são: • modo de estratégia: envolve as fases de definir todo o contexto do negócio para que ocorra a mudança, assim como, arquitetura de processos e alinha- mento das estratégias de negócios; • modo de design: envolve as fases de criação da visão para a mudança, compreensão do processo existente e renovação do modelo do processo; • modo de realização: engloba as fases de desenvolvimento de habilidades e mecanismos de suporte e implantação da mudança; • modo operacional: envolve a fase de operar o processo e implantação da melhoria contínua. As fases que estão contidas nesse modelo são: • definição do contexto do negócio para mudança: deve-se assegurar que ocorra uma compreensão comum do cenário de negócios, que esteja plenamente esclarecida por todos aqueles que tomarão as decisões. É um esforço para garantir que os membros da organização compartilhem da visão que os envolvidos em alto nível possuem, que por sua vez, irá determinar o sucesso da organização futuramente. O resultado dessa fase deve ser um relatório com resumos do estado atual e futuro durante a implementação do plano; • arquitetura de processos e alinhamento das estratégias: arquitetar e alinhar as relações entre os processos de negócios, tecnologias e recursos. Nessa fase, o resultado esperado é a produção de prioridades para um programa de mudança organizacional; • criar a visão da mudança: determinar e confirmar os requerimentos de desempenho do estado futuro que são desejados do processo a ser renovado, definir o escopo e outras variáveis características a serem analisadas; • compreensão do processo existente: obter uma compreensão suficiente do processo atual da organização, o qual irá criar uma base para mudanças futuras; • renovação do modelo do processo: desenhar ou redesenhar o processo, assim como, suas diretrizes e habilitadores de modo a se alinhar com os requerimentos dos envolvidos no processo. O resultado esperado é uma maior confiança e menor risco para o processo; 20 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS • desenvolver os habilitadores e mecanismos de suporte: detalhar todos os componentes para a entrega da solução dos processos de negócio. A organização deverá construir ou alterar os mecanismos de suporte requeridos ao novo processo. Além disso, são definidas as ações, papéis, regras, estrutura e realinhamento de incentivo a colaboradores; • implementação da mudança: tem como objetivo preparar todos os envolvidos que serão afetados de alguma maneira pela solução que será implementada. Geram versões dos acordos para a estratégia de transformação; • operação do processo e implantação da melhoria continuada: tem como principal objetivo o uso continuado e estável do processo, além da busca contínua por oportunidades de melhoria baseada em experiência, novos habilitadores e melhoria do conhecimento. O resultado esperado é a implementação de todas as mudanças necessárias para atingir a melhoria desejada. b) Modelo de Havey (2006) Tem como propósito a criação de uma estrutura de compreensão simples no entendimento do BPM. Esse modelo apresenta seis fases essenciais: • obtenção de requerimentos: evidenciar os objetivos gerais do processo a ser tratado. O resultado esperado é um relatório com os direcionadores gerais do processo que será trabalhado; • documentação dos casos de uso: o processo a ser trabalhado deve ser documentado, o que resultará na geração do modelo desejado e especificações gerais de implantação; • arquitetura e design: as especificações gerais e individuais do processo a ser implantado, infraestrutura, equipamentos, programas, treinamentos e são preparados; • desenvolvimento: implantação da solução planejada, preparação dos treinamentos e planos de marketing; • fase de teste: realização de testes da solução implantada; • produção: uso continuado da solução implementada. c) Modelo de Khan (2004) O início desse modelo foi caracterizado pela definição do processo que será estudado e melhorado. Após essa etapa, o processo apresenta progresso contínuo, o qual é composto pelas fases de modelar, automatizar, gerenciar e otimizar o processo: • modelar: fazer o mapeamento do processo ideal e definição dos “donos do processo”, que são os seus responsáveis; 21 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 • automatizar: verificação dos possíveis erros antes do processo ser colocado realmente em prática; • gerenciar: os processos passam de eletrônicos para reais, deve ser realizado o acompanhamento do processo para solucionar as circunstâncias não esperada; • otimizar: utilização de ferramentas de tecnologias da informação para fornecer informações sobre custos e gargalos no processo, para poder realizar estudos sobre os processos sobre trocas de recursos e tarefas. d) Modelo de Harrington, Esseling & Nimwegen (1997) O mais antigo dos modelos apresentados nesse módulo, neste modelo, é necessário a criação de uma estrutura de planejamento, de maneira a traçar ações gerais dos projetos dos processos que serão realizados. e) Modelo de Smith & Fingar (2003) Neste modelo, o ciclo de vida do BPM é dividido nas fases de descoberta, design, distribuição, execução, interação, controle, otimização e análise do processo. Esse modelo faz muito sentido se for aplicado para projetos isolados no processo. f) Modelo de Muehlen & Ho (2005) Modelo amplo que atinge todas as áreas essenciais do ciclo de vida de um BPM. Apresenta uma visão continuada e conexão de informação bem formuladas. É focado em ferramentas de tecnologia da informação. g) Modelo de Schurter (2006) Esse modelo foi proposto na XIV Conferência Anual do Business Management Group. Possui a visão integrada como ciclo, sem atividades isoladas, assim, tem uma visão voltada para um grupo de atividades, com três fases interligadas e uma fase adicional, são elas: • fase inicial ou fase de entrega: visa a captação da essênciada visão estratégica, resultando na definição de um projeto de negócio especialmente projetado para fornecer um objetivo estratégico ou que melhor sirva à organização. Essa fase cruza oito categorias, sendo, a fase da descoberta, análise, modelagem, validação, integração, implantação, controle e melhoria; através de quatro dimensões, estratégia, pessoas, processos e sistemas; • refinamento interativo: o ciclo de vida do BPM se move no sentido para uma visão mais estreita do processo inicialmente entregue. Geralmente, o 22 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS refinamento do processo é uma etapa que possui o menor tempo de duração; • ponto de mudança: quando um processo é requerido para atender um objetivo novo ou refinado, pode ser que o processo precise passar por um ponto de mudança, que se caracteriza por um estágio que requer enorme esforço de mudança do design para que alterações sensíveis ocorram nos processos organizacionais; • retirada de operação do processo: quando o processo não servir mais (não responder as metas), o mesmo deve ser retirado de operação. Na prática, isso ocorre quando mudanças ocorrem na organização. h) Modelo de Jost e Scheer (2002) Modelo com ideia de ciclo ininterrupto, em que as etapas envolvidas são: • design: modelagem, integração e documentação do processo desejado, que são, por sua vez, baseados em uma estrutura de processos global da organização; • implantação: desenvolver as ferramentas dos programas ou trabalho manual, além de realizar o treinamento das equipes, fazer a gestão da mudança e monitoramento das instancias que estão em uso no processo; • controle: verificar se o processo está funcionando de acordo com as metas que foram estabelecidas para o seu funcionamento perfeito. Todos esses modelos, que foram apresentados anteriormente, têm em comum o fato de que todos eles supõem que a organização já possua sua estrutura toda voltada para a realização do BPM. Entretanto, nenhum desses modelos apresentados corresponde exatamente a realidade encontrada em uma organização. Assim, na prática, é impossível prever a partir de um simples esquema teórico, como que a gestão dos processos ocorrerá exatamente, assim como, os seus resultados. Qualquer modelo que seja utilizado, serve como uma orientação valiosa e poderosa para a prática, todavia, as pessoas responsáveis pela implementação do BPM possuem desenvolvem um papel fundamental e fazem toda a diferença na gestão dos processos de negócios. As formas de gestão são imprescindíveis para o sucesso e longevidade de uma organização e vem se tornando cada vez mais o grande diferencial na gestão dos processos de uma organização. Atualmente, é preciso realizar o gerenciamento com uma visão sistêmica que alcance fatores de produtividade considerando também aspectos de personalidade, capacitação, conhecimento técnico e comportamento. Um outro diferencial é conhecer a fundo os objetivos do trabalho nos diferentes níveis da organização. A gestão dos processos precisa abranger as atividades intelectuais do processo produtivo garantindo o Nenhum desses modelos apresentados corresponde exatamente a realidade encontrada em uma organização. 23 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 planejamento adequado e a organização das atividades sob a liderança eficaz, ou seja, com controles bem definidos e monitorados possibilitando a implementação de ações corretivas em tempo hábil, de maneira a evitar perdas relevantes (ARAUJO, 2011). O foco da organização em resultados e nos clientes, é alvo de vários sistemas de gestão e a aplicação de várias metodologias diferenciadas busca garantir resultados esperados para os indicadores de processos. Neste contexto, destacam-se seis pontos principais para as boas práticas de gestão dos processos de produção e negócios (ARAUJO, 2011): 1) O planejamento é a função administrativa que vai determinar antecipadamente quais são os objetivos que deverão ser atingidos, assim como, o que deve ser feito para atingir esses objetivos da melhor maneira possível, ou seja, sem objetivos definidos e planejamento, a organização fica sem direcionamento. 2) Determinação das metas a serem alcançadas pela produção, objetivos e metas indicando em que a organização pretende chegar mostram a visão, valor e missão da mesma. 3) A liderança é um fator primordial e relevante, necessita de objetivos, metas e planos bem elaborados e definidos que levem ao alcance de resultados sólidos sem esquecer de cumprir regras e procedimentos agregados, promovendo o desenvolvimento constante através da utilização de ferramentas, como a capacitação técnica. 4) Conhecimento técnico do processo e domínio do processo produtivo. A gestão da produção tem por finalidade aumentar a eficiência e eficácia do processo produtivo como um todo, cuidando para que os objetivos dos processos sejam alcançados. 5) A definição da metodologia do trabalho é um fator crítico de sucesso em muitas organizações, já que a avaliação permanente do processo, identifica falhas e corrigi durante o processo de produção. Ela é fundamental e recebe o nome de gerenciamento da rotina do dia a dia. 6) Os resultados devem ser controlados, ou seja, os resultados só serão bons se seus objetivos, metas e princípios forem bem observados durante a fase de planejamento. A análise dos resultados de uma organização é a visão do desempenho, permitindo a organização gerir meios de fato, não de suposições ou opiniões. Visto tudo, nota-se que a maioria das organizações ao longo de sua operação, acabam descobrindo que para serem eficazes e eficientes em suas operações de gestão dos processos, as mesmas devem atribuir claramente as responsabilidades pelo desenho, documentação, manutenção dos processos, aparelhos e saúde em longo prazo. Além disso, com o passar do tempo e aprimoramento das atividades, novas funções, atribuições, responsabilidades e estruturas funcionais podem surgir. 24 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Diferenças Entre Estrutura Funcional e Orientada por Processos A estrutura tradicional das organizações engloba o gerenciamento hierárquico dos recursos e delegação das responsabilidades de um nível para outro. Por outro lado, aquelas organizações que são orientadas por processos atribuem a responsabilização horizontal pela entrega de valor ao cliente, isso envolve, o desenho dos processos e sua medição, documentação e transformação. Em vez de comando e controle, os gerentes do processo capacitam, orientam, defendem e apoiam os gestores funcionais e as equipes que executam o processo (GUIA ABPM CBOK, 2013). Existem ainda algumas organizações que podem criar estruturas híbridas (entre estrutura tradicional e estrutura voltada para o processo). Essa estrutura híbrida inclui uma dimensão de processo combinada com uma dimensão funcional, de produto ou geográfica. Na estrutura híbrida, a estrutura matriarcal, na qual permanecem unidades funcionais, que por sua vez, é responsável pela especialização do trabalho e dos indivíduos. Por outro lado, existe uma nova unidade, transversal à estrutura, responsável por alocar os recursos nos processos. Essa estrutura, chamada de matriarcal forte, define que o gestor do processo tem maior autonomia sobre os recursos em relação ao gestor funcional. Esse modelo híbrido teve os clássicos conflitos de dupla subordinação e dos indicadores de desempenho globais e locas (PAIM et al., 2009). Outras organizações podem dar um salto complexo e ousado, se estruturando quase inteiramente em torno de processos (GUIA ABPM CBOK, 2013). A estrutura funcional possui o enfoque muito forte em cumprir as metas estabelecidas pela organização. Na maioria das vezes, essa estrutura acaba esquecendo que várias atividades da área funcional da organização estão inseridas na parte dos processos que fazem parte da cadeia de valor da organização. Nota-se que os resultados apresentadosde cada departamento, influenciam diretamente os resultados que são obtidos pela organização. Entretanto, o enfoque funcional proporciona uma perda de conexão com o objetivo da empresa em relação ao cliente, fortalecendo o isolamento relacionado à busca do resultado departamental. Dessa maneira, as áreas realizam o seu trabalho de forma isolada e com baixa comunicação interdepartamental (ASSESPRO, 2011). Uma das maiores dificuldades que as organizações encontram em começar a aplicar a visão de processos é que geralmente as pessoas têm experiência muito forte e aprendizado empresarial parcial e fixado em um departamento e/ou áreas funcionais, ou seja, foca apenas em aprender sobre a sua área de atuação. Nota- se que desde criança, as pessoas são acostumadas a estudar separadamente Em vez de comando e controle, os gerentes do processo capacitam, orientam, defendem e apoiam os gestores funcionais e as equipes que executam o processo. 25 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 as matérias, e leva esse hábito para a vida adulta e profissional; e isso é normal. Entretanto, esse “molde” mental pode e deve ser alterado, resultando em uma mudança de paradigma. Assim, é importante que se tenha consciência de que não se deve levar em consideração que uma organização irá conseguir mudar a sua visão rapidamente, partindo de uma visão de departamentos separados para um modelo orientado por processos. Essa mudança significa que a organização irá evoluir de uma visão de processos verticais (processos departamentais) para uma visão em que processos são desenhados e executados horizontalmente (orientado por processos) (ASSESPRO, 2011). Percebe-se que o caminho para se alcançar a orientação por processos é longo e passa por um amadurecimento gradativo. O ponto inicial parte da conscientização inicial da organização e do pessoal envolvido sobre a importância de observar e realizar o acompanhamento e gerenciamento do processo. Se em um primeiro momento a organização tem seus processos verticais como o principal foco, a primeira evolução é fazer com que a organização tenha seus processos transversais reconhecidos. Um processo transversal é um processo que representa de maneira básica os principais processos de uma organização, e geralmente, são reconhecidos como processos primários. Retornado para visão organizacional, é muito importante que cada processo possua uma espécie de “dono”, o qual é responsável por realizar o acompanhamento da execução do processo, fazendo também a gestão do desempenho do mesmo e estando sempre atento para correção das possíveis falhas, e dessa maneira, dando prosseguimento ao processo. A partir desse momento, a organização apresenta uma estrutura matriarcal fraca, a qual valoriza muito as áreas e departamentos funcionais, ou seja, nesse tipo de estrutura, a parte mais importante é o gerente da área. Nesse contexto, as decisões são mais fortes na visão funcional. Em seguida, com a evolução e amadurecimento da organização na visão orientada por processos, nota-se que essa visão ainda apresenta uma fraca visão orientada ao cliente, já que valoriza muito as áreas funcionais. Por outro lado, a estrutura matriarcal forte, está relacionada com a evolução da percepção de que os processos transversais são mais importantes, já que englobam o valor ao cliente. Nesse caso, departamentos ainda existem, entretanto, perdem força e passam a servir os processos (ASSESPRO, 2011). Na visão orientada por processos, os departamentos podem evoluir para o conceito de centros de excelência. Assim, nesses centros de excelências, os profissionais com habilidades especificas ou maior grau especialização podem ser contratados, entretanto, os mesmos são alocados com a necessidade de prover suporte ao processo como um todo e no desenvolvimento da equipe de processos, de tal maneira que as habilidades necessárias para a correta execução dos processos sejam garantidas. As diferenças entre a estrutura funcional e a estrutura orientada por processos são apresentadas na figura a seguir. Um processo transversal é um processo que representa de maneira básica os principais processos de uma organização, e geralmente, são reconhecidos como processos primários. 26 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Figura 3 – Visão funcional tradicional x visão orientada por processos Fonte: Disponível em: <http://blogdobpm.blogspot.com.br/2011/03/o-tombamento-da- gestao-empresarial-por.html>. Acesso em: 24 jan. 2018. A figura anterior apresenta uma trajetória de mudança partindo da estrutura funcional tradicional até uma estrutura orientada por processos, na qual as unidades funcionais têm menor destaque. Esse esquema reforça alternativas em que os processos vão gradativamente sendo priorizados na estrutura. Na primeira imagem, não há representação formal dos processos na estrutura, e somente os departamentos ou unidades organizacionais integram. Na segunda imagem (no sentido da seta vermelha), os processos transversais passam a ser reconhecidos pela organização, que continua a ter elementos funcionais, mas reconhece em segundo plano, os processos transversais, caracterizando uma estrutura matriarcal fraca. Ela também pode ser definida como uma organização funcional, que gerencia seus processos transversais, e não necessariamente uma estrutura matriarcal. A diferença estaria em não formalizar a responsabilidade pelo processo como um todo (PAIM et al., 2009). Na terceira imagem, a estrutura continua a ser matriarcal, porém os processos estão priorizados. Isso caracteriza uma estrutura matriarcal forte, conforme citado anteriormente. No caso de conflitos, a prioridade de decisão fica com os processos. Na quarta e quinta imagens, as unidades funcionais perdem importância e são, muitas das vezes, repositórios de recursos ou unidades para desenvolvimento dos recursos. Os processos transversais passam a ser o principal eixo em torno do qual a organização constrói seu projeto organizacional. Essas duas últimas imagens são utilizadas na Gestão por Processo (GPP) (PAIM et al., 2009). Esse esquema reforça alternativas em que os processos vão gradativamente sendo priorizados na estrutura. 27 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Geralmente, as organizações formam trajetórias relacionadas com o modelo de gestão de processos, e essas trajetórias usualmente pendulam entre os três modelos citados (gestão funcional, gestão transversal e gestão por processos). No movimento que vai da gestão pura funcional para uma gestão por processos, a seguinte trajetória pode ser proposta (PAIM et al., 2009): Figura 4 – Trajetória sentido gestão por processos Fonte: Adaptado de PAIM et al. (2009). Na gestão por processos, há alterações na estrutura organizacional e em outros elementos integrantes do projeto organizacional visando priorizar os processos como um eixo gerencial de maior importância que o eixo funcional. Há mudanças maiores do que simplesmente enfatizar os processos em oposição a hierarquia e colocar ênfase especial sobre os resultados dos clientes. Isso acaba implicando em mais do que orientar a gestão para entender os processos transversais e incluir ou alterar elementos integrantes do projeto organizacional para além da orientação por processos e para além de uma estrutura organizacional por processos (PAIM et al., 2009). Na gestão por processos, há alterações na estrutura organizacional e em outros elementos integrantes do projeto organizacional visando priorizar os processos como um eixo gerencial de maior importância que o eixo funcional. 28 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Na gestão por processos funcionais, as decisões tendem a ter mecanismos de coordenação, capacitação, reconhecimento, sistemas de informação, avaliação de desempenho, alocação de recursos financeiros, reprojeto de processos e tratamento de requisitosde clientes centrados nas unidades funcionais, ao passo que, na gestão por processos, essas decisões são orientadas prioritariamente pelos processos (PAIM et al., 2009). Além da Figura 3, o quadro a seguir pode ajudar na compreensão das diferenças entre a gestão por estrutura funcional e a gestão por estrutura orientada por processos. Quadro 3 – Principais diferenças entre gestão por função e gestão por processos Gestão por estrutura funcional Gestão por estrutura orientada por processos Visão restrita apenas à estrutura or- ganizacional. Abordagem voltada ao cliente. Nenhum departamento possui a re- sponsabilidade total por um trabalho ou processo completo. Busca gerenciar, medir e melhorar os processos organizacionais de forma global, e não apenas localizada. Muitas vezes, o departamento não compreende completamente o seu papel produção de produtos ou serviços entregues aos clientes. Gestão orientada à eficiência e eficácia, objetivos e tomadas de decisão basea- das nas necessidades dos clientes. Barreiras interdepartamentais di- ficultam a gestão do fluxo de infor- mações a otimização do trabalho. Estabelecimento de metas, indicadores de desempenho e controles através de equipes interfuncionais. Foco baseado apenas na gestão dos recursos internos. Foco na satisfação das necessidades dos clientes e nos resultados. Fonte: Cruz (2010). As tarefas que objetivam para a gestão de processos com sucesso emergem como resposta à natureza comparativa e competitiva das organizações privadas e públicas em uma constante busca por formas de aumentar a produtividade, maximizar o retorno e adquirir excelência em seus mercados. Essa natureza desdobra influências externas para as organizações, que precisam de respostas internas que podem ser dadas ou alcançadas pelo projeto ou reprojeto de processos, pelo gerenciamento do funcionamento no dia a dia, assim como pelo registro e acompanhamento sistemático do desempenho histórico dos processos. O objetivo é promover o aprendizado sobre os processos e, assim, sustentar o aprimoramento constante no desempenho da organização (PAIM et al., 2009). Percebe-se que quando se permite a criação de um ambiente em que o colaborador, pode chegar a sua empresa todos os dias sabendo que terá a 29 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 oportunidade de aprender alguma coisa nova e, quando é estimulado, a ter curiosidade em saber como as coisas funcionam, a organização adquire uma boa vantagem competitiva (FALCO; CASTANHEIRA, 2012). Nesse contexto, a mudança de orientação pode servir como uma espécie de impulso em direção ao sucesso da organização. Cultura de Processos Algumas organizações encontram dificuldades em amadurecer na gestão dos processos devido a questões exclusivamente culturais. A depender da cultura da organização implementada, os colaboradores podem ser acomodar, sentindo- se desestimulados para toda e qualquer tentativa de inovação, renovação ou revisão de processos. Muitas vezes, a cultura organizacional acaba funcionando como uma barreira, que acaba fazendo com que muitos gestores encontrem dificuldades durante a implementação da gestão de processos ou projetos de maneira eficiente (PROJECT BUILDER). O que é cultura organizacional de processos? Cultura organizacional é um conjunto de padrões de comportamento, determinadas posturas ou filosofias de trabalho que acabam dominando as rotinas da organização. Se configura como uma mentalidade impregnada no modo de agir de cada colaborador, estabelecendo modelos e direcionando o comportamento diário das equipes. No dia a dia de uma organização é muito simples observar os aspectos culturais de uma empresa. Uma jornada de trabalho flexível, possuir determinados padrões relacionados à qualidade dos projetos e/ ou processos, instituir o uso de roupas formais ou informais, apresentar níveis de controle e autonomia estruturados, estabelecer políticas de reconhecimento de resultados e de valorização dos profissionais, são apenas alguns poucos exemplos (PROJETC BUILDER). Alguns modelos culturais são apresentados no quadro a seguir. Cultura organizacional é um conjunto de padrões de comportamento, determinadas posturas ou filosofias de trabalho que acabam dominando as rotinas da organização. Se configura como uma mentalidade impregnada no modo de agir de cada colaborador, estabelecendo modelos e direcionando o comportamento diário das equipes. 30 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Quadro 4 – Alguns modelos culturais que podem ser encontrados nas organizações Cultura do poder Incide mais em pequenas organizações, principalmente pelo fato do poder permanecer canalizado em um úni- co ponto central, com poucos processos, regras e pro- cedimentos. Valorizam o colaborador e apresentam um alto índice de rotatividade na área intermediária de hi- erarquia. Cultura dos papéis Destaca-se por sua lógica e racionalidade excessiva. Nesse tipo de organização, há descrição de tarefas, definição de autoridades, lista de procedimentos para comunicação e regras para a solução de conflitos. Nes- sa cultura, a organização é vagarosa para consolidar a identificação de mudanças. Cultura da tarefa É orientada para trabalhos e projetos. A determinação de equipes multidisciplinares para resolver problemas é fomentada e valorizada, o que acaba viabilizando uma reação rápida e criativa. O clima tende a ser agradável e costuma a concentrar disputa por recursos, proporcio- nando um maior rigor de controle, através de normas rígidas e procedimentos. Cultura da pessoa Considerada rara pois está relacionada aos indivíduos e seus valores. Fonte: Adaptado de PROJETC BUILDER [s.d]. Para criar uma cultura, as pessoas precisam se inserir nos processos de uma organização de maneira uniforme e consistente. Esses processos englobam um conjunto de normas, procedimentos, padrões, ferramentas, crenças e demais aspectos do desenvolvimento humano que as pessoas empregam para uma determinada finalidade. A prática contínua faz com que a organização atinja a maturidade nos seus processos, ponto no qual, os processos são definidos, administrados, medidos, controlados e otimizados (ABPMP, 2013). Segundo ABPMP (2013), alguns indicadores de maturidade em processos são: • acordo geral sobre o que são os processos do negócio; • compreensão de como os processos de negócio interagem e afetam uns aos outros; • definição clara do valor que cada processo produz para os clientes; • documentação de como cada processo produz seus respectivos resultados; • entendimento de quais habilidades são necessárias para cada processo; • compreensão da maneira que cada processo é executado; • medição contínua do desempenho de processos; 31 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 • decisões de gerenciamento com base no conhecimento do desempenho do processo; • mudança de abordagem de gerenciamento para incorporar processos; • novos papéis para gerenciar processos em estruturas organizacionais. Transição de Estrutura Funcional Para Estrutura Orientada por Processos Antes mesmo da revolução industrial e do surgimento do paradigma fordista-taylorista, os sistemas de medidas de desempenho contábeis já eram utilizados por artesãos. No início do século XIX, os gestores das fábricas passaram a tomar decisões que se baseavam em informações sobre o custo por hora da transformação da matéria-prima em produtos totalmente finalizados, particularizadas e por departamentos e indivíduos. Dessa maneira, os gestores eram obrigados utilizar meios que fossem eficientes para acompanhar o desempenho do processo produtivo de cada funcionário, e as informações que eram obtidas, eram utilizadas como informações extras para conceder remuneração adicional aos funcionários mais produtivos e estipular metas para que os demais também tivessem sucesso (TEZZA, BORNIA e VEY, 2010). A partir dos anos 1960, como surgimento da visão voltada para a qualidade dos processos, as organizações passaram a utilizar indicadores não financeiros focados em qualidade e em outras categorias, como a velocidade e a flexibilidade, ao lado do custo, como fatores importantes para o sucesso, fazendo com que os indicadores financeiros que eram tradicionalmente utilizados, se tornassem menos importantes. Dessa maneira, iniciava-se uma ruptura e aqueles velhos e obsoletos indicadores financeiros que eram utilizados em meados dos anos 80, e assim, a visão das organizações começou a se voltar para os mais diversos tipos de abordagens teóricos, práticos, financeiros, não financeiros, estratégicos, táticos, operacionais, focados em processos e nas pessoas, e muitas outras variações (TEZZA, BORNIA e VEY, 2010). Dessa maneira, é imprescindível que uma organização tenha adotado e incorporado um sistema de acompanhamento ou de medição de desempenho, já que é extremamente necessário que a organização disponha de dados e informações que permitam gerenciar o seu presente e simular a situação futura, sempre levando em consideração as constantes mudanças que o mercado interno e externo impõe sobre a mesma. Nesse contexto, o sistema de medição de desempenho é um conjunto de medidas referentes à organização como um todo, 32 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS às suas partições (divisões, departamentos, seção etc.), aos seus processos, de forma que as suas atividades estejam organizadas em blocos bem definidos, para assim, refletir as características do desempenho de cada nível gerencial interessado (ALMEIDA, 2013). Percebe-se que o objetivo principal da utilização de um sistema de medição de desempenho é poder estabelecer com sucesso o grau de evolução ou estagnação de todos os processos envolvidos e também dos seus bens e/ou serviços, para assim, no momento adequado, a organização seja capaz de aplicar ações preventivas ou corretivas, de maneira a colocar a organização de volta no rumo certo, alcançando os objetivos traçados inicialmente. Visto isso, as medidas de desempenho podem ser utilizadas para poder conhecer: • a maneira como os processos estão sendo realizados; • se as metas estão sendo atingidas; • a satisfação dos clientes; • o controle dos processos; • em que é necessário a instalação de um processo de melhoria. Segundo Almeida (2013), o sucesso de um sistema de medição de desempenho se baseia nos seguintes princípios: • medir somente aquilo que é importante. Não medir demais. Medir coisas que dê impacto ou sejam indicadores do sucesso organizacional. Entretanto, deve ser ressaltado que medir gera custos; • equilibrar o conjunto de medidas. Procurar, no momento de definição das medidas, e considerar as perspectivas das pessoas que tomam as decisões, ou seja, questionar para as pessoas o que elas acham que deva ser medido; • oferecer uma visão, tanto vertical quanto horizontal do desempenho da organização. A visão vertical se refere à gestão dos recursos da organização e a visão horizontal, à gestão dos resultados; • envolver os funcionários no desenho e na implementação dos sistemas de medição. Proporcionar aos funcionários o senso de propriedade, o que leva a melhorar a qualidade do sistema de medição; • alinhar as medidas com os objetivos e as estratégias organizacionais. As medidas, em todos os níveis de organização, devem dar suporte à tomada de decisões e alavanca à orientação dos esforços para o alcance das metas estabelecidas. 33 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 A medição do desempenho é reconhecidamente um elemento importante na administração dos programas de qualidade por permitir orientar os esforços organizacionais e levar a conhecimentos em que, como e quando implementar as mudanças. Perceba que tanto na implementação das medidas de desempenho como na metodologia para a gestão dos processos, deve-se procurar o envolvimento dos funcionários e incentivar o levantamento de ideias, reafirmando e orientando os esforços da organização para alcançar o sucesso. A medição do desempenho organizacional não se refere apenas a uma coleta de dados associados a um objetivo em específico. As melhores medidas de desempenho são uma espécie de medida de alerta, a qual envolve, por sua vez, a prevenção e identificação, direcionando a organização para a obtenção da melhor adequação ao uso dos produtos e/ou serviços e da satisfação dos clientes. A medição do desempenho nada mais é que uma gestão dos resultados, procurando eliminar as variações dos processos, produtos ou serviços (ALMEIDA, 2013). Seus atributos principais, segundo o autor são: • refletir tanto as necessidades dos clientes quanto as necessidades da organização; • fornecer uma base adequada para a tomada de decisões; • ser compreensíveis; • ter uma ampla aplicação; • ser interpretados uniformemente; • ser compatíveis (mensuráveis) com os sensores existentes; • ser precisos na interpretação de dados; • ser economicamente aplicáveis. Para a medição do desempenho, as organizações podem utilizar os indicadores de desempenho organizacional, as quais se configuram como ferramentas básicas utilizadas para dar suporte a gestão dos processos organizacionais. Com esses indicadores, as organizações são capazes de medir efetivamente os processos organizacionais, apontando os possíveis desvios no planejamento realizado inicialmente. Esses indicadores são essenciais para o controle e gestão dos processos organizacionais, possibilitando o estabelecimento de metas e o seu desdobramento, pois os resultados são de fundamental importância para toda organização, para a tomada de decisões e para o novo ciclo de planejamento. Os indicadores podem ser classificados de acordo com a figura a seguir. As melhores medidas de desempenho são uma espécie de medida de alerta, a qual envolve, por sua vez, a prevenção e identificação, direcionando a organização para a obtenção da melhor adequação ao uso dos produtos e/ ou serviços e da satisfação dos clientes. 34 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Figura 5 – Classificação dos indicadores de desempenho Fonte: O autor. Em que: Quadro 5 – Classificação dos indicadores de desempenho e suas definições Fonte: O autor. Indicadores estratégicos Informam o quanto que a organização se encon- tra na direção da conquista de sua visão. Refletem o desempenho com relação aos fa- tores críticos para o êxito organizacional. Indicadores de produtividade Medem a proporção de recursos consumidos com relação às saídas dos processos. Devem andar juntos com os indicadores de qualidade. Indicadores de qualidade Focam as medidas de satisfação dos clientes e as características do produto ou serviço. Medem se o produto ou serviço é percebido pe- los usuários do processo e a capacidade do pro- cesso em atender os requisitos desses usuários. Indicadores de capacidade Medem a capacidade de resposta de um pro- cesso através da relação entre saídas produzi- das por unidade de tempo. 35 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Quais os benefícios de utilizar as medidas de desempenho na adoção da visão orientada por processos? Os benefícios da utilização das medidas de desempenho são várias, dentre as quais podem ser citadas: • observar mais claramente se as necessidades dos clientes estão sendo atendidas; • melhorar a compreensão de todos os processos organizacionais; • garantir que as decisões da organização sejam tomadas por meio dos fatos; • indicar os pontos que devem receber atenção e melhorias; • mostrar claramente se as melhorias estão realmente acontecendo; • revelar os problemas encobertos; • observar se os fornecedores e/ou patrocinadores estão satisfeitos plenamente; • ver se a visão orientada por processos foi realmente implementada. Nesse contexto, a estrutura orientada por funções (estrutura funcional) representa um agrupamento de executores especializadospara realizar tarefas relacionadas a um determinado recurso, conhecimento ou habilidade. Essas estruturas funcionais verticais tradicionais apresentam vários problemas, entretanto, houve um momento em que essa estrutura funcionava bem, pois era assim que o mercado funcionava. O foco do cliente não era relevante e as organizações ditavam o que o consumidor necessitava. Conforme citado anteriormente, cada colaborador era especializado em fazer apenas o trabalho de sua área funcional específica (ABPMP, 2013). O surgimento dos sistemas Entreprise Resource Planning (ERP), foi o que impulsionou as organizações a buscarem a orientação por processos. As transformações que foram impostas com o advento do ERP, tiveram sucesso justamente por levar em consideração a visão voltada por processos e não na tecnologia, dessa maneira, as organizações que adotaram essa visão começaram a ter uma maior taxa de sucesso que as organizações come estruturas funcionais. O ERP se configurou como um ponto de ruptura que forçou as integrações entre funções tradicionais de negócio colocando em evidencia uma maior necessidade das organizações se voltassem para a orientação por processos. A estrutura orientada por funções (estrutura funcional) representa um agrupamento de executores especializados para realizar tarefas relacionadas a um determinado recurso, conhecimento ou habilidade. 36 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Matriz de Desempenho A matriz de desempenho reflete o conceito de uma abordagem integrada para que ocorra a melhoria do desempenho do processo. Aqui, o principal é a ênfase em uma abordagem integrada e a interação dinâmica entre os demais níveis e as variáveis da matriz. As organizações que colocam em prática o conceito da matriz de desempenho são aquelas que realmente fizeram uma transição significativa rumo a organização orientada por processos (ABPMP, 2013). O quadro a seguir apresenta a visão de uma organização que adotou a visão orientada por processos. Quadro 6 – Matriz de desempenho Nível Objetivos e medições Desenho e im-plementação Gerencia- mento Corporativo. Objetivos e medições da organi-zação para o sucesso corporativo. Corporativo. Corporativo. Processo. Objetivos e medições de proces-so para o sucesso do processo. Desenho e implementação de processo. De processo. Trabalho ou executor do trabalho. Objetivos e medições de suces- so do trabalho ou executor. Desenho e implementação de trabalho. Do trabalho ou executor. Fonte: Adaptado de ABPMP (2013). Na avaliação do desempenho de uma organização, a mesma deve escolher quais serão os fatores críticos que serão empregados como parâmetros para a realização da comparação e adequação do sistema. Após a definição desses fatores, a organização estará pronta para comparar os resultados obtidos por ela, com um padrão pré-estabelecido. Caso algum resultado não esteja satisfatório, a organização deve impor ações corretivas para solucionar de vez os problemas encontrados. A matriz de desempenho é construída com base na inter-relação entre os ambientes interno e externo, focando na questão dos custos, evidenciando as vacâncias de desempenho e clarificando as prioridades do negócio (TEZZA, BORNIA e VEY, 2010). 37 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Atividades de Estudos: 1) O que significa visão orientada por processos? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ 2) Qual a definição de processos de gestão? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ 3) O que é ciclo de vida de BPM? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ 4) Qual a definição de cultura de processos? Cite alguns modelos culturais geralmente encontrados em uma organização. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ 5) Qual a classificação dos indicadores de desempenho? Explique resumidamente cada um deles. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 38 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS 6) Disserte brevemente sobre a matriz de desempenho. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ Algumas Considerações Este capítulo teve como objetivo principal apresentar uma revisão bibliográfica detalhada, expondo e explicando em detalhes os principais conceitos envolvidos na gestão dos processos. O modulo é iniciado com uma introdução que busca fazer com que o aluno entenda o porquê de melhorar os processos dentro de uma organização, apresentando as diferenças entre a visão departamental e a visão por processos. Em seguida, o leitor é apresentado ao conceito de ciclos de vida de BPM e a alguns modelos principais de ciclos de vida. Esses ciclos de vida, simplificadamente, são uma espécie de “receita” contendo uma lista de ações cíclicas que vão se repetindo nas fases seguintes. Vários modelos de ciclo de vida foram apresentados, os quais podem ser aplicados para alcançar o sucesso na gestão de uma organização, entretanto, ressalta-se que esses modelos apresentados não correspondem ao que é realmente encontrado em uma organização. Em seguida, o leitor é apresentado ao conceito de cultura de processos e ao conceito de matriz de desempenho. A cultura de processos é o conjunto de ações, padrões e comportamentos que dominam os pensamentos e tomada de decisão, dentro do ambiente organizacional. É muito importante que essa cultura seja uniforme e consistente, para que dessa maneira a organização possa atingir a maturidade nos seus processos. A maturidade de uma organização pode ser utilizada como um meio de avaliação e comparação para melhoria, de modo a gerar informações para incremento de capacidade e competência de uma específica área dentro de uma organização, ou seja, é uma ferramenta que pode ajudar a organização a ser melhor sucedida em sua área. Por fim, chegamos na matriz de desempenho, a qual é uma maneira da organização acompanhar a realização e o sucesso de seus processos, através da utilização alguns parâmetros. Embora tudo o que foi apresentado no decorrer desse modulo foi apresentado com um bom nível de detalhe, perceba que mesmo assim há uma necessidade de o leitor buscar mais formas para explorar a literatura disponível e ampliar os seus conhecimentos sobre o assunto. 39 Introdução à Gestão de Processos Capítulo 1 Referências ABPMP – Association of Business Process Management Professionals. Guia para o gerenciamento de processos de negócio corpo comum de conhecimento. v. 3, 1. ed. Brasil, 2013. ALMEIDA, M. Sistemas de medição de desempenho. [s.d.]. Disponível em:<http://marcioqualy.blogspot.com.br/2013/06/sistemas-de-medicao-de- desempenho.html>.Acesso em: 15 jul. 2017. ARAUJO, K. F. N. As boas práticas do gerenciamento dos processos de uma cadeia produtiva. 2011. Disponível em: <http://www.administradores.com. br/artigos/negocios/as-boas-praticas-do-gerenciamento-dos-processos-de-uma- cadeia-produtiva/57169/>. Acesso em: 14 jul. 2017. ASSESPRO. Organização de empresas orientada por processos. 2011. Disponível em: <http://assespro.org.br/na-midia/noticias-regionais/2011-10-14- organizacao-de-empresas-orientada-por-processos/>. Acesso em: 14 jul. 2017. BALDAM, R. L., et al. Gerenciamento de processos de negócios: BPM – Business Process Management. 2. ed. São Paulo: Érica, 2014. CRUZ, T. BPM & BPMS. Business process management & business process management Systems. 2. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2010. FALCO, A.; CASTANHEIRA, R. O processo de gestão de pessoas em empresas de comunicação. Revista Comunicação & Mercado, v. 1, n. 1, 2012. p. 21-35. JESTON, J.; NELIS, J. Business process management: practical guidelines to successful implementations. 2. ed. Estados Unidos: Elservier Publishing Company, 2008. MPF. Secretaria Jurídica e de Documentação Escritório de Processos Organizacionais do MPF. Manual de gestão por processos. Brasília: Copyright, 2013. PAIM, R.; CARDOSO, V.; CAULLIRAUX, H.; CLEMENTE, R. Gestão de processos: pensar agir e aprender. Porto Alegre: Bookman, 2009. PRADELLA, S.; FURTADO, J. C.; KIPPER, L. M. Gestão de processos: da teoria à prática: Aplicando a metodologia de simulação para a otimização do redesenho de processos. São Paulo: Atlas, 2012. 40 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS PROJECT BUILDER. A cultura organizacional e o gerenciamento de projetos: qual a relação? 2017. Disponível em: <http://www.projectbuilder.com.br/blog- home/entry/blog-gestao-de-projetos/a-cultura-organizacional-e-o-gerenciamento- de-projetos-qual-a-relacao>. Acesso em: 15 jul. 2017. TEZZA, R.; BORNIA, A. C.; VEY, I. H. Sistemas de medição de desempenho: uma revisão e classificação da literatura. 2010. p. 75-93. CAPÍTULO 2 Papéis na Orientação por Processos A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender os papeis e funções dos responsáveis pela instância do processo; � Entender os organismos de governança para poder definir ações a serem tomadas; � Controlar e implementar mudanças em um processo. � Identificar os donos do processo e detalhar as suas funções. 42 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS 43 Papéis na Orientação por Processos Capítulo 2 Contextualização Organizações orientadas por processos nos diversos estágios de desenvolvimento incluem indivíduos que realizam ou dão suporte à execução e transformação de processos, dentre os quais se destacam os seguintes papéis: Dono de processos; Gerente; Analista; Designer; Arquiteto de processos entre outros. Para ter sucesso, a organização precisa ter esses papéis bem definidos. Mas apenas rotular não basta, é fundamental entender por que esses papéis e responsabilidades existem e por que são importantes. Assim como, o entendimento de que um único indivíduo pode realizar vários papéis, isso irá variar conforme o tamanho da organização e a extensão de seus processos. O tamanho da organização e a dimensão dos seus processos irá definir a quantidade de papéis e organismos de governança necessários para a orientação de processos. Conhecendo os Principais Papéis Para a implantação de um sistema de gestão por processos de negócios é necessário que a organização possua uma estrutura mínima para que ocorra a execução do processo de gestão de maneira satisfatória. Entretanto, vale frisar que, ainda que essa estrutura possa, em certos casos, ser informal, um reconhecimento formal de que as pessoas possuem papéis bem definidos e constantes facilita a continuidade e permite melhor acompanhamento das metas. É também necessária uma infraestrutura composta por computadores, ambiente de publicação dos resultados e espaço físico para reuniões (BALDAM et al., 2014). A composição de um BPM varia conforme a política da organização. É muito comum, a gestão dos processos ser considerada uma atividade de suporte, cruzando a cadeia de valor da organização, associada às atividades correlacionadas com o desenvolvimento organizacional (BALDAM et al., 2014). A cadeia de valor, nesse contexto, representa o conjunto de atividades que são desempenhadas por uma organização, englobando desde as relações com os fornecedores e ciclos produtivos, até a fase de distribuição final. Algumas das atividades são realizadas de maneira pontual (por exemplo, modelagem e otimização de processos específicos). Dessa maneira, parte da equipe que está envolvida numa organização matricial se caracteriza por uma rede de interações entre as equipes de projeto e os elementos tradicionais. 44 PRÁTICAS DE GESTÃO DE PROCESSOS Assim, no estudo de um determinado processo, haverá pessoas de diversos departamentos ou setores. Por conseguinte, a equipe deve possuir competências para atuar segundo essa abordagem (BALDAM et al., 2014). Para a realização de um BPM com sucesso, Baldam et al. (2014) sugerem três equipes, com os papéis funcionais que se seguem: a) Equipe de BPM Equipe permanente na estrutura organizacional, a qual ficará responsável por coordenar as diversas ações de BPM na empresa. A equipe de BPM é composta basicamente por: • gerente de BPM: é chamado na literatura, em inglês, de Chief of Process Office (CPO), é o cargo mais alto na organização durante o BPM. Pode ser também um diretor, superintendente ou outro, a depender da estrutura e porte da empresa; • líderes de processo: atuam em desenhos e redesenhos de processos, modelagem, atividades de formatação, cadastro e controle de revisões de padrões no sistema de gerenciamento de documentos e execução do autodiagnóstico de conformidade de processos. Podem fazer parte, ou não, da equipe de BPM; • auditor de processos: tem a função principal de verificar se o processo modelado corresponde ao que está sendo executado, verificar registros, desvios de documentação etc., ou seja, garantir o alinhamento do processo à gestão e vice-versa. A experiência que a empresa porventura possua em uma auditoria interna, de programas de ISO 9000 (gestão da qualidade em organizações), pode ser muito útil nessa atividade. b) Equipe do processo É uma equipe temporária e multidisciplinar, em estrutura matricial, que possui o propósito de atuação específica em um dado processo. Uma vez que o processo é implantado e está funcionando perfeitamente, a operação dele é repassada aos usuários finais, controladores etc. Essa equipe inclui: • dono do processo: é a pessoa responsável pelo alinhamento do processo às diretrizes estratégicas da organização, estabelecendo metas e resultados esperados e analisando os riscos envolvidos. Deve ser necessariamente um membro da alta direção; • gestor do processo: é responsável pela implementação e melhoria contínua do processo, desdobrando as metas em itens de controles e definindo ações de melhoria; 45 Papéis na Orientação por Processos Capítulo 2 • líder do processo: é escalado a partir da equipe de BPM para auxiliar nos trabalhos específicos do processo em análise; • gerentes de departamento: principais contatos no site, responsáveis pelo sucesso do projeto, coordenam recursos da empresa, comunicam progresso do projeto ao dono do processo; • especialistas no tema: é responsável por fornecer conhecimento e know how sobre o tema, apresenta perspectiva do usuário final para o novo sistema e processo, fornece percepções de novas maneiras de atingir eficiência e eficácia operacional; • equipe de tecnologia da informação: responsável por fornecer informações sobre infraestrutura disponível para a solução de processos em andamento e sobre ajustes necessários para as novas soluções sugeridas. c) Equipes de
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