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Direito do Consumidor: Vulnerabilidade e História

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DIREITO DO CONSUMIDOR
Professor Leonardo Roscoe Bessa
1ª Prova: 18/09
2ª Prova: 20/11
AULA 1 – 31/07
VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR
· Nos últimos 50 anos, houve reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor. Nas relações estabelecidas entre consumidores e fornecedores, há uma fragilidade de uma das partes. Em razão dessa fragilidade, o Estado apresenta normas de proteção à esta pessoa mais frágil para, assim, reequilibrar a relação.
· Palavra-chave para entender o fundamento da proteção do consumidor é a vulnerabilidade. Vulnerabilidade como sinônimo de fragilidade.
· Essa proteção do frágil/vulnerável, pelo Estado, viola o princípio da igualdade? Não. Em última análise, a proteção do consumidor decorre do próprio princípio da igualdade, que significa tratar desigualmente os desiguais. Considerando a vulnerabilidade (fragilidade) do consumidor no mercado, o Estado realiza proteção diferenciada a este sujeito de direitos.
· Vulnerabilidade é sinônimo de hipossuficiência? Pelo CDC e para a doutrina, hipossuficiência e vulnerabilidade não se confundem. A hipossuficiência está prevista no art. 6º, VIII do CDC, e significa dificuldade no processo civil de provar determinado fato, ensejando a inversão do ônus da prova. De outro lado, a vulnerabilidade é a fragilidade inerente a todo e qualquer consumidor, a qual justifica a sua defesa pelo Estado e está prevista no 4º, I, CDC.
Em que pese essa distinção, a jurisprudência acaba usando um termo pelo outro.
REFERÊNCIAS HISTÓRICAS
Quando surgem as primeiras normas de direito do consumidor?
· Simbolicamente, o dia 15 de março de 1962 é considerado o dia do nascimento do direito do consumidor. Neste dia, o atual presidente do EUA, John Kennedy, faz um discurso direcionado ao Congresso defendendo a importância e direito dos consumidores. Este dia foi indicado como Dia Mundial do Consumidor pela ONU.
· Na década de 70 começam a surgir leis pontuais (específicas) de defesa do consumidor, principalmente nos EUA e Europa.
· Na década de 80, ocorrem dois fenômenos: a Resolução nº 39/248 da ONU em 1985 e a promulgação da Constituição Federal de 1988 no Brasil. 
A Resolução da ONU recomenda aos países que editem normas de proteção ao consumidor ou que fortaleçam as normas já existentes. Além disso, estabelece que essas normas devem seguir direitos básicos: direito à saúde, direito à proteção contra práticas abusivas, direitos à proteção contra cláusulas abusivas, direito do consumidor de ser ouvido nas decisões que afetem seus interesses, etc.
· Embora não tenha cogência, essa resolução possui reconhecimento internacional na importância da proteção do consumidor pelo Estado.
· No caso do Brasil, essa resolução influenciou o art. 6º do CDC. Esse artigo estabelece os direitos básicos do consumidor.
A atual Constituição traz destaque aos direitos do consumidor três passagens. Esses três dispositivos foram referidos pelo CDC em seu art. 1º.
· Art. 5º, XXXII, CF: o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
· Art. 170, V, CF: A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: defesa do consumidor;
· Art. 48, ADCT: O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
· Na década de 90, surge o Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8078/90. 
Essa lei foi elaborada por uma comissão de juristas, foi inspirada na legislação internacional, coordenada pela professora Ada Pelegrine e teve um destaque mundial.
O que é um código? Legislação que reúne todas as normas sobre determinada área. 
· Hoje, o CDC pode ser visto como uma lei com duas características: boa abrangência da matéria que disciplina e certa organicidade. 
· O CDC trata, principalmente, das relações contratuais que vão afetar todo e qualquer contrato. Por mais que tenha uma boa abrangência, não consegue abranger todas as matérias, todos os detalhes. O próprio artigo 7º do CDC estabelece que os direitos do CDC não excluem os de outras normas mais específicas. Isto é, o próprio CDC reconhece a importância da influência e diálogo de outras normas.
AULA 2 – 06/08
Continuação – Vulnerabilidade
Vulnerabilidade é o fundamento da proteção do Estado pelo consumidor.
· Classificação doutrinária (Cláudia Lima Marques): consumidor não é frágil apenas pelo aspecto econômico, mas também por outros aspectos:
· Vulnerabilidade Fática/Econômica: superioridade econômica e financeira do fornecedor em relação ao consumidor.
Também está relacionada às práticas anticoncorrenciais (anticompetitivas) cujo o maior prejudicado é o consumidor. Exemplos: monopólios, cartel (combinação de preços), etc.
· Vulnerabilidade Jurídica: é a ausência de conhecimento jurídico e de outros conhecimentos técnicos, como matemática financeira, contabilidade, etc.
Normalmente, o fornecedor tem mais conhecimentos.
· Vulnerabilidade Técnica (informacional): é a ausência (déficit) de conhecimentos que o consumidor tem em relação a produtos e serviços que estão cada vez mais complexos, gerando dificuldade de uma escolha adequada.
É o fornecedor que detém o conhecimento sobre os produtos e serviços que lança no mercado.
O consumidor tem sempre menos conhecimento que o fornecedor. Isso acarreta em uma dificuldade de escolha (quanto maiores as informações, maiores as chances de escolha do consumidor). 
DIÁLOGO DAS FONTES
Esta expressão é utilizada pela Claudia Lima Marques (mas foi criada por um alemão chamado Erik Jayme), e também é adotada pelo STJ.
· Fontes tem sentido de leis.
· Diálogo das fontes: intepretação e aplicação simultânea de vários diplomas legais (fontes) para resolução de determinada questão fática. Em outras palavras, seria a ideia de que muitas questões fáticas são resolvidas a partir da análise de várias leis em conjunto. Ex: CDC, CF, lei de plano de saúde, etc.
· Art. 7, caput do CDC é um convite ao diálogo das fontes: os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
· O diálogo das fontes é uma ideia de que se deve enfrentar as questões fáticas a partir desta complementação entre normas. Mas não significa que essa técnica sempre vai resolver as questões, pelo contrário, às vezes cria uma dificuldade. Por exemplo: quando o CDC fala uma coisa, e uma norma especial fala uma coisa totalmente contrária. Essas normas não estão revogadas uma pela outra, pois ambas são leis especiais. Qual prevalece? 
AULA 3 – 07/08
Continuação – Diálogo das Fontes
Diálogo das Fontes é a aplicação simultânea de vários diplomas legais no mesmo fato. Uma norma complementa a outra. Uma norma supre a lacuna da outra.
· O que acontece quando as normas entram em conflito direto?
Por exemplo: o art. 51, I do CDC estabelece que são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Já o Código Brasileiro de Aeronáutica possibilita a limitação da indenização.
Essa questão foi levada ao tribunal.
· O STJ tem vários julgados que dão prevalência ao CDC, pois o Código estaria em maior consonância com a Constituição Federal, que dá proteção ao consumidor como direito fundamental.
· No entanto, o STF tem um julgado recente que dá prevalência às leis especiais que dispõem sobre a limitação da indenização, em detrimento do previsto no CDC.
Esse tema ainda gera controvérsias, até por mesmo por uma oscilação da jurisprudência, principalmente com relação à possibilidade de limitar indenização quando há extravio de bagagem.
· Então,que fazer quando duas normas especiais estão em contradição direta em uma questão relacionada à direito do consumidor? Para alguns autores, como Cláudia Lima Marques e Bruno Mirale, o CDC deve prevalecer sempre porque possui “estatura diferenciada”, já que o fundamento da defesa do consumidor é constitucional.
· Para o professor, o CDC não tem esse “fator diferenciado”. O que se pode fazer é uma ponderação de direitos, com base nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
Resumindo, não há uma saída pronta.
RELAÇÃO DE CONSUMO
Relação de consumo é importante para se verificar em que situações se aplica o CDC.
Simplificando, há relação de consumo quando se tem consumidor de um lado, e fornecedor de outro. Se a outra parte da relação não for fornecedor, não há relação de consumo.
· O fato de não ser aplicado o CDC não significa que o comprador não terá proteção alguma. Ele terá proteção, só que essa proteção não será decorrente do CDC, mas sim do Código Civil, do contrato, de outras normas...
A definição de relação de consumo decorre dos conceitos de consumidor, fornecedor, produto e serviço. O CDC traz esses conceitos:
· Fornecedor: 
 Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Esse conceito abrange toda e qualquer atividade do mercado. 
O que limita o conceito de fornecedor? O termo “desenvolvem”. Esse termo dá o sentido de continuidade, de habitualidade, de profissionalidade. 
Assim, quem faz uma venda esporádica de uma venda ou serviço, não é fornecedor.
Em relação ao conceito de fornecedor, cabe destacar dois pontos: 1. É necessário que haja habitualidade ou profissionalidade no desenvolvimento das atividades mencionadas no caput do art. 3º; 2. A atividade precisa ser remunerada direta ou indiretamente. 
Observação: remuneração não indica que a atividade precisa ser lucrativa. A atividade lucrativa é aquela que obtém receita para distribuição entre os sócios. Atividade remunerada é aquela que é cobrada. Pode haver uma remuneração direta ou indireta.
AULA 4 – 13/08
Continuação – Relação de Consumo
· Consumidor:
O conceito do art. 2º, caput, é chamado de conceito padrão. O CDC traz ainda outros três conceitos que a lei chama de consumidor por equiparação (ou consumidores equiparados):
· Art. 2°, caput: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
· Art. 2º, § único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
· Art. 17: Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
· Art. 29: Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
Desdobramentos do art. 2º: 
Até mesmo as pessoas jurídicas podem ser consumidoras, desde que sejam o destinatário final.
O que seria destinatário final? O conceito padrão de consumidor constante no caput art. 2º ensejou, em torno do significado da expressão destinatário final, duas correntes doutrinárias: maximalista e finalista.
A expressão destinatário final é denominado pela doutrina de elemento teleológico do conceito de consumidor.
1. Maximalista (objetiva): amplia o conceito de consumidor. Para a maximalista, basta que o consumidor seja o destinatário final fático.
2. Finalista (subjetiva): limita o conceito de consumidor. Para a finalista, consumidor deve ser o destinatário final fático e econômico. O destinatário final econômico é o uso familiar, pessoal, não profissional.
Exemplo: uma loja de sapatos compra sapatos, água, energia, etc. Com relação aos sapatos, a loja não é consumidora (pois compra para revender). Para a teoria maximalista, a loja é consumidora no que diz respeito à água, energia, etc. Já para a teoria finalista, a loja não é consumidora em nenhuma das hipóteses.
Em um primeiro momento, a discussão, ao ser levada ao STJ gerou a adoção da corrente finalista (pela 2ª Seção do STJ). Posteriormente, o STJ minimiza a referida corrente, criando o denominado finalismo mitigado, que significa analisar a vulnerabilidade da pessoa jurídica no caso concreto. A doutrina denomina tal corrente de finalismo aprofundado.
O STJ analisa a vulnerabilidade com base na classificação da Cláudia Lima Marques (vulnerabilidade fática/vulnerabilidade jurídica/vulnerabilidade técnica).
Desdobramentos do art. 17:
O consumidor por equiparação do art. 17 também é chamado de bystander (significa “quem está perto de uma situação”).
O art. 17 que para efeitos da disciplina acidente de consumo, equipara-se a consumidor todas as vítimas do evento (vítimas de um acidente de consumo).
Os acidentes de consumo estão disciplinados nos artigos 12 a 16 do CDC, e são denominados de responsabilidade pelo fato do produto e do serviço.
São situações em que a pessoa não se encaixa no art. 2º, caput, nem mesmo comprou ou utilizou o produto, mas se torna vulnerável pela situação fática.
Exemplo: um avião cai e deixa vários feridos. Esses feridos não são consumidores (pelo art. 2º), mas são vítimas de um acidente de consumo. Portanto, pelo art. 17 se equiparam ao consumidor e podem ajuizar ação de indenização contra a empresa aérea como se consumidores fossem, com todo o CDC a seu favor (inversão do ônus da prova, responsabilização objetiva, etc.).
AULA 5 – 20/08
Continuação – conceitos de consumidor
Desdobramentos do art. 2º, § único:
O consumidor pode ser protegido coletivamente. A proteção é coletiva.
Ex: publicidade enganosa. Todos são atingidos coletivamente.
A doutrina entende que esse dispositivo é desnecessário. Crítica: a proteção coletiva do consumidor não é novidade, já que ela decorre da Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública), e também de outros dispositivos do CDC (art. 81/ss). 
Nesse caso, ele não é consumidor equiparado, ele é efetivamente um consumidor, sendo protegido de forma coletiva.
Desdobramentos do art. 29:não
O art. 29 está tratando de dois capítulos que tem várias seções (Ex: SPC, cobrança de dívidas, publicidade, oferta, contratos, etc.).
Três pontos importantes:
1. Esse dispositivo reforça a ideia de tutela coletiva do consumidor.
2. Destaca que a proteção do consumidor pode se dar antes do contrato (Ex: oferta, publicidade, etc.). Alguns chamam de proteção preventiva. Basta a exposição, não necessariamente deve ter sido contratado o produto ou serviço.
3. Discussão doutrinária: Há necessidade ou não de vincular a interpretação do art. 29 com o elemento teleológico (destinatário final) do art. 2º, caput? Em outras palavras, para se aplicar o art. 29, deve-se verificar no caso concreto se a pessoa é potencial destinatário final do produto/serviço?
Para a maior parte da doutrina, NÃO. Mas mesmo os doutrinadores que entendem que o art. 29 deve ser aplicado independentemente da análise da destinação final do produto e do serviço, defendem que há que se considerar, para não banalizar a aplicação do CDC, a vulnerabilidade no caso concreto.
Esse debate é doutrinário, e não jurisprudencial.
· Produto: está previsto no art. 3º, §1º do CDC.
 § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Observação: produto imaterial é aquele se não se pode “pegar”. Ex: software, músicas, arquivos digitais, etc.
· Serviço: está previsto no art. 3º, §2º do CDC. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Observação: o serviço deve ser remunerado. O §2º ajuda a definir o conceito de consumidor. A necessidade de remuneração estende-se também ao produto.
A doutrina entende que a remuneração pode ser direta ou indireta.
O STF entendeu, por exemplo,que a relação entre usuário e Facebook é de consumo, considerando que há uma remuneração indireta, embora o consumidor nada pague pelo uso da rede social.
Os bancos estão sujeitos ao CDC? Sim. Mas antigamente havia uma discussão sobre a diferença entre serviços bancários e operações bancários. Assim, os Bancos defendiam que os serviços estão sujeitos ao CDC, mas as operações bancárias não. 
Súmula 297 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicado às instituições financeiras.
O STJ ao editar a súmula 297, não acatou a tese que pretendia excluir do CDC as denominadas operações bancárias.
ADIN 2591, também conhecida como ADIN dos Bancos. Nesta ação, os Bancos pretendiam a inconstitucionalidade do referido artigo, sob a tese de que o art. 192 da CF/88 diz que a estrutura do sistema financeiro deveria ser regulamentada por lei complementar, e o o CDC é uma lei ordinária. O Supremo, por 9 votos a 2, julgou improcedente entendendo que a relação entre banco e clientes não precisava ser regulada por lei complementar, e que o CDC não interferia na estrutura do sistema financeiro.
AULA 6 – 21/08
RESPONSABILIDADE CIVIL NO CDC
O CDC regula duas espécies de responsabilidade de forma mais detalhada:
· Responsabilidade por Vício do Produto/Serviço: a ideia de vício está ligada à funcionalidade do produto ou serviço. O produto e/ou serviço tem um fim que lhe é inerente. Quando o produto/serviço não atinge o vício que lhe é inerente, diz-se que ele possui um vício.
· Responsabilidade por Fato do Produto/Serviço: o CDC tem uma preocupação para além da funcionalidade. O produto e/ou serviço devem ser seguros. Quando o CDC fala em segurança, é em um sentido mais amplo que a integridade psíquica e física (acidentes de consumo). Tem a ver também com o patrimônio do consumidor.
Exemplo: um produto causou um incêndio que consumiu todo o apartamento de uma pessoa. Mesmo ninguém se machucando, o STJ entendeu que o fato ofendeu à segurança patrimonial.
A responsabilidade por fato do produto/serviço pode ser denominada de acidente de consumo. 
· A doutrina denomina, da responsabilidade por vício do produto, a chamada garantia legal do produto.
Garantia de fábrica: é concedida pelo fornecedor, conforme as condições que ele estabelece.
· Não é obrigatória.
· Escolha do consumidor.
· Individual.
	Garantia legal:
· É obrigatória, e independe da garantia de fábrica ou da vontade do fornecedor.
· Regulada em lei.
· Solidária: tanto o comerciante (fornecedor) quanto o fabricante podem ser acionados.
· Para alguns autores, há distinção entre vício e defeito. O primeiro estaria relacionado a funcionalidade do produto e do serviço, enquanto o segundo à responsabilidade por fato de produto e do serviço (acidente de consumo). Todavia, a lei utiliza um termo pelo outro. Como se pode observar no disposto do art. 26, §3º.
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
O mesmo ocorre com os termos “publicidade” x “propaganda” e “vulnerabilidade” x “hipossuficiência”.
VÍCIO DO PRODUTO
O vício do produto tem um paralelo no Código Civil, que é o vício redibitório.
A disciplina do CDC é mais protetiva que a do CC.
Vício redibitório (vício oculto).
· Os vícios sujeitos à proteção do CC são aqueles ocultos.
· Alguns doutrinadores defendem que os vícios de menor gravidade não abrangidos.
· O responsável pelo vício é o vendedor.
· Consumidor tem duas alternativas:
1. Desfazimento do negócio (redibição) – devolve todo o dinheiro.
2. Abatimento proporcional do preço – devolve uma parte do dinheiro.
Vício de QUALIDADE do Produto – art. 18 do CDC.
· Palavra-chave: funcionalidade.
· Vício oculto e/ou aparente. Na prática, o que ocorre mais é o vício oculto. O vício não é perceptível.
· A noção de vício é ampla, seja aparente, seja de menor ou maior gravidade.
· Todos da “cadeia” são responsáveis pelo vício: solidariedade passiva: vendedor, comerciante, fabricante, transportador, empacotador e etc.
· Consumidor tem três alternativas (além de perdas e danos):
1. Desfazimento do negócio – devolve todo o dinheiro;
2. Abatimento proporcional do preço – devolve uma parte do dinheiro;
3. Troca por outro produto.
· Prazos maiores (para reclamar, para ajuizar ação, para aparecimento do vício, etc.).
Observação: vício não diz respeito apenas a não funcionar, mas também a não funcionar de acordo com o que foi anunciado.
· Solidariedade
Solidariedade significa a dívida poder ser exigida integralmente de qualquer um daqueles solidários por ela.
A solidariedade não atende a uma noção de “quem causou o dano, deve repará-lo”.
Art. 18, CDC: Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
Consumidor pode exigir o vício de qualquer um dos fornecedores na cadeia e, depois eles que se acertem.
Observação: O STJ entendeu que, se há uma assistência técnica do fabricante na cidade do consumidor, o consumidor não pode se dirigir diretamente ao fornecedor.
· Alternativas do Consumidor
Estão previstas no art. 18, §1º do CDC.
Vício deve ser sanado em 30 dias. Não o sendo, o consumidor pode escolher entre três alternativas:
1. Substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso.
2. Restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
3. Abatimento proporcional do preço.
Cabe ao consumidor escolher entre as alternativas.
Atenção: Embora as perdas e danos sejam citadas, expressamente, somente na alternativa da restituição do dinheiro, cabem, na doutrina, para as três hipóteses em homenagem ao disposto no art. 6º, VI, CDC (são direitos básicos do consumidor).
AULA 7 – 27/08
· Indisponibilidade da Garantia
Norma de ordem pública (art. 1º do CDC) são aquelas que não podem ser afastadas pelas partes contratantes. Significa dizer que, mesmo com a concordância do consumidor, o que foi estipulado pela lei não pode ser alterado.
· A manifestação do consumidor não tem valor jurídico (a cláusula é nula).
· Tudo que está no CDC é norma de ordem pública. Há apenas uma única exceção.
· E tudo com relação à garantia legal, tem incidência automática e não pode ser afastada pelas partes.
Exemplos de dispositivos no CDC que preveem expressamente norma de ordem pública: 
Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
 I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
Qualquer cláusula em sentido contrário não tem valor jurídico.
· Relação entre garantia legal e garantia contratual
Uma complementa (adiciona) a outra. Não se excluem.
Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneiraadequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações.
O art. 50 tem dois objetivos: 1. Estabelecer que a garantia contratual depende da vontade do fornecedor; 2. Estabelecer que a garantia contratual precisa de um documento, de um “termo”, ao contrário da garantia legal, que é automática.
· O termo de garantia traz as condições.
· A garantia pode ser condicionada a exigências ao consumidor. A garantia contratual é facultativa, e suas condições podem ser limitadas conforme art. 50 do CDC.
Em tese, a garantia contratual é bilateral pois depende da vontade de ambas as partes. Mas na prática, ela é “unilateral” (o fornecedor oferece sob seus termos).
· A garantia contratual é chamada também de garantia de fábrica, pois ela é fornecida pelo fabricante. Geralmente, essa garantia não é fornecida pelo vendedor.
Observação: Ao lado da garantia legal existem duas garantias contratuais: 1. Garantia de fábrica; 2. Garantia estendida.
A garantia estendida é, na verdade, um contrato de seguro que precisa da aceitação do consumidor com o pagamento de determinado valor (prêmio). O prêmio é o valor pago pelo seguro.
· Prazo de 30 dias:
É previsto no art. 18, §1º:
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
O fornecedor tem o direito de sanar o vício.
· Esse prazo de 30 dias começa a contar do momento que o consumidor procura o fornecedor para informar acerca do vício.
Esse dispositivo é muito criticado pela doutrina, pois traz um direito para o fornecedor que acaba prejudicando legítimos interesses do consumidor. A doutrina, em face deste quadro, propõe interpretação restritiva ao direito do fornecedor, estabelecendo que: 1. O prazo de 30 dias só pode ser invocado uma única vez pelo fornecedor, ainda que o vício seja diferente; 2. Mesmo que o fornecedor utilize prazo inferior a 30 dias, isso não gera um saldo de dias em seu favor caso surja novo vício.
Observação: sempre que, em razão da extensão do vício, o produto fique desvalorizado ou perca sua qualidade, o consumidor pode recusar o saneamento do vício, e escolher entre as 3 alternativas cabíveis.
Exemplo: em razão do vício, seria precisar trocar todo o motor do carro, o que desvalorizaria o automóvel.
 § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
O que é produto essencial? O produto essencial deve ser analisado no caso concreto. Por essencialidade, entende-se a necessidade que o consumidor tem daquele produto no seu dia a dia. Exemplo: geladeira; pessoa que usa o carro diariamente. 
Essa essencialidade varia de pessoa para pessoa.
Observação: por mais que a lei garanta o direito do fornecedor em sanar o vício em 30 dias, pode ser possível indenização. 
O entendimento é que, se no prazo de 30 dias, a ausência da posse do bem gerar um dano ao consumidor, ele pode pedir indenização, em face do disposto no art. 6, VI (princípio da efetiva reparação do consumidor -> direito básico do consumidor).
AULA 8 – 28/08
· Prazo para reclamação do vício: prazo que o consumidor tem para ajuizar a ação.
Não se confunde com o prazo de 30 dias que o fornecedor tem para sanar o vício.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.
[...]
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
Produtos duráveis x Produtos não duráveis: produtos não duráveis são aqueles que se extinguem com o uso ou logo após. Ex: alimentos. Produtos duráveis seriam todos os outros. 
A lei não diferencia. Essa definição é dada pela doutrina.
Prazo:
· 30 dias para serviços ou produtos não duráveis.
· 90 dias para serviços ou produtos duráveis.
Em tese, esse prazo começa a contar da entrega efetiva do produto/serviço. No entanto, no direito do consumidor, o mais comum é o vício ser oculto, assim, deve ser aplicado o §3º. No vício oculto, aquele tido como perceptível apenas após o uso do produto, o prazo decadencial vai se iniciar com o aparecimento do defeito.
No entanto, há uma discussão se este prazo do §3º seria “infinito”, pois pela literalidade desse dispositivo, o consumidor poderia reclamar de um vício que apareceu muitos anos depois da compra. Portanto, o juiz, no caso concreto, analisará se houve um desgaste natural do produto ou se é um vício do produto.
Critério da vida útil: é uma forma de determinação do prazo decadencial do §3º. Em face do disposto no §3º do art. 26, a doutrina desenvolveu a teoria do critério da vida útil do produto, de modo a limitar a garantia legal dos produtos ao se analisar se o vício decorre do desgaste natural da coisa, ou se se trata de um problema de fabricação, que só se manifestou muito tempo depois.
STJ adotou esse critério no acórdão do REsp 984106/SC[footnoteRef:0]. [0: https://www.conjur.com.br/dl/cdc-proteger-consumidor-obsolescencia.pdf] 
Antes desse acórdão, o STF utilizava o art. 50 do CDC e aplicava a soma dos prazos. Por exemplo: o produto foi comprado com garantia contratual de 1 ano, então se somava esse 1 ano com os 90 dias da decadência. No entanto, isso não é previsto em lei, o início da garantia legal não tem a ver com o fim da garantia contratual. O início da garantia legal tem a ver com a manifestação do vício.
No REsp 984106/SC, o STJ afasta também esse entendimento de soma do prazo da garantia contratual com a garantia legal.
O CDC estabeleceu duas hipóteses que obstam o prazo decadencial:
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado).
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
O que é obstar? Há divergência na doutrina sobre o significado do verbo “obstar”. Para alguns, obstar significa interromper (prazo zera e recomeça do início). Para outros, obstar significa suspender (prazo continua de onde foi paralisado).
· A reclamação (§2º, I) não precisa ser escrita, deve apenas ser comprovada.
· O dispositivo vetado estabelecia que obstava a decadência a reclamação perante o PROCON. No entanto, a doutrina entende que, por analogia ao inciso I, a reclamação perante o PROCON ainda obsta o prazo decadencial.
O que é um inquérito civil? O inquérito civil precede a ação coletiva. É um procedimento administrativo de investigação, instaurado pelo Ministério Público, para apurar lesão a direito coletivo (não apenas na área do consumidor). Após, o próprio Ministério Público ajuíza ação.
Observação: o art. 19 traz a hipótese de vício de quantidade do produto.
 Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcionaldo preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.
AULA 9 – 03/09
Continuação - Vício do produto:
· Vício de Qualidade: Art. 18.
· Vício de Quantidade: Art. 19.
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.
Esse artigo deve ser interpretado de forma teleológica. Embora a literalidade do §2º do art. 19 indique que a responsabilidade recai unicamente sobre o comerciante quando o instrumento não estiver aferido por órgãos oficiais, a melhor interpretação indica que, sempre que houver problemas nesse instrumento de pesagem (independentemente de pesagem oficial) a responsabilidade é exclusiva do comerciante (quem pesa). 
· O que isso quer dizer? O §2º diz que o comerciante só é responsável se não tiver conforme as medições oficiais, mas a interpretação diz que, independentemente, de estar conforme as medições oficiais, basta apenas ter um problema com o instrumento.
Ademais, esse dispositivo exclui a solidariedade, pois a responsabilidade recai sobre o agente que pesa, que tira a medida etc.
VÍCIO DO SERVIÇO
· Relaciona-se com a legitima expectativa do consumidor, isto é, o contrato tem uma importância menor do que a da legitima expectativa gerada entorno do serviço.
· Vício de serviço: não atinge o que o consumidor quis.
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
Observação: as perdas e danos são sempre cabíveis nas três hipóteses (incisos I, II e III). Essas hipóteses são de livre escolha do consumidor.
· O art. 21, cuja a interpretação está em consonância com o art. 70 do CDC, indica que a utilização de peças usadas no reparo de produtos exige o consentimento do consumidor, mediante autorização expressa.
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
· Serviços prestados pelo Serviço Público:
A aplicação do CDC dependerá do enquadramento do Estado como fornecedor, sendo que, quando houver tal enquadramento, o CDC será aplicado a essas relações de consumo. 
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. 
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Sobre o tema, existem três correntes:
1ª Corrente: sempre que houver uma prestação de serviço pelo Estado e houver remuneração direta ou indireta (impostos), o Estado é fornecedor. Baseia-se no art. 6º, X, do CDC.
Corrente minoritária (não é aceita).
2ª Corrente: O Estado está sujeito ao CDC sempre que o serviço público for remunerado por preço ou tarifa pública. Essa mesma corrente entende que se o serviço público for remunerado por taxa, não há incidência do CDC. 
3ª Corrente: Não importa a natureza jurídica da remuneração. Sempre que o consumidor desembolsar um valor para receber o serviço (remuneração direta), se aplicará o CDC. Corrente dominante. 
STJ oscila entre a 2ª e a 3ª corrente.
AULA 10 – 04/09
· Serviços essenciais devem ser contínuos: 
Isso significa dizer que o consumidor que deixa de adimplir com serviços de energia ou água tem direito a manutenção do serviço?
· Em um primeiro momento, a jurisprudência do STJ, com base no art. 22 do CDC, vedava o corte de fornecimento de energia elétrica e água em face de inadimplemento do consumidor. Posteriormente, houve mudança de posição considerando, principalmente, o disposto no art. 6, §3º, II da Lei 8987/95, quando se passou a admitir o corte, desde que observados alguns requisitos:
1. Notificação prévia do consumidor;
2. Não pode haver corte quando o débito for muito antigo (+5 meses);
3. Não é possível o corte se houver discussão judicial do débito;
4. Débito deve ser líquido e certo, e não meramente estimativo.
· Uma corrente minoritária no STJ tem se manifestado no sentido de que não pode haver corte quando este resultar em ofensa à dignidade humana (diálogo com a Constituição Federal).
Para o professor: o diálogo das fontes com perspectiva constitucional da proteção da dignidade da pessoa humana (art. 3º da CF) sugere que, em casos concretos, quando houver possibilidade de ofensa a valores existenciais (são aqueles que projetam a dignidade da pessoa humana) o corte deve ser evitado. Alguns ministros do STJ, embora em votos vencidos, destacaram esse ponto.
FATO DO PRODUTO
· Considerações iniciais:
Palavra-chave: segurança.
Produtos devem ser seguros. Não podem gerar acidentes que afetem à integridade física, psíquica ou, ainda, patrimonial do consumidor.
· O art. 12 trata-se de hipótese de responsabilidade objetiva.
· Responsabilidade subjetiva: deve haver nexo de causalidade entre dano e culpa, isto é, deve ser provado que o fato foi causado por negligência, imprudência ou imperícia ou, ainda, por uma ação intencional.
· Responsabilidade objetiva: não há análise de culpa.
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
· A responsabilidade do comerciante é diferenciada (art. 13). Pela literalidade do art. 12, apenas são responsáveis pelo fato do produto: fabricante, produtor, construtore o importador.
· Recall: se depois de lançado o produto, a empresa verificar que há um defeito que coloca em risco a segurança dos consumidores, a empresa deve fazer um chamamento para que os consumidores possam realizar o conserto, trocar a peça defeituosa, etc. O objetivo é prevenir acidentes.
Está previsto no art. 10, §1º.
Art. 10, § 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
Atenção: Se o consumidor não comparece ao recall e sofre um acidente, a empresa é obrigada a indenizar? Sim, o recall não exclui a responsabilidade do fornecedor caso ocorra um acidente após ao procedimento de chamamento.
· O prazo para pretensão indenizatória decorrente de acidente de consumo é de 5 anos (art. 27). Trata-se de prazo prescricional.
AULA – 10/09
Continuação - FATO DO PRODUTO
A responsabilidade civil nada mais é do que um terceiro arcar com o dano que você sofreu.
Responsabilidade é objetiva.
· Pressupostos da Responsabilidade Civil (por acidente de consumo):
(O que a vítima do dano precisa provar para que ela seja indenizada)
· Produto defeituoso;
A doutrina, com base no art. 12, classifica o produto defeituoso em três grandes categorias:
· Defeitos de projeto ou concepção: a ideia do projeto não atende a segurança que dele é possível esperar (a ideia do produto já é equivocada).
· Defeitos de fabricação: a ideia é correta, mas na hora de fabricar, há um problema. Exemplo: uso de produto equivocado. Falha atinge apenas alguns modelos.
· Defeitos de comercialização: diz respeito à falta de informações sobre o uso adequado dos produtos. Alguns chamam de defeito de informação.
· Relação de causalidade;
· Dano: moral e/ou material. Podem ser inclusive cumulados (Súmula 37, STJ).
· Dano moral: no CDC é entendido como uma ofensa à integridade física do consumidor.
· Dano material: dano emergente e lucro cessante.
Não há análise da ação ou omissão (não é pressuposto explícito). O pressuposto é o produto defeituoso.
· Responsabilidade do comerciante:
Está prevista no art. 13 do CDC.
Ao contrário do que ocorre no vício do produto (art. 12), no fato do produto a responsabilidade recai, em regra, sobre o fabricante (construtor, produtor, importador). O comerciante só tem responsabilidade nas três hipóteses do art. 13:
1. O fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
É o chamado produto anônimo.
2. O produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
Não há identificação clara: falta algum elemento.
3. Não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Ocorrendo uma dessas hipóteses, há solidariedade (entre comerciante e fabricante. O fato de incluir o comerciante, não exclui a responsabilidade do fabricante. 
Atenção! Se o produto não tiver a identificação do fabricante, mas o consumidor descobrir por meios próprios quem fabricou o produto, pode ajuizar ação contra o comerciante e contra o fabricante.
*A doutrina diz que a responsabilidade do comerciante em fato do produto é subsidiária. Para o professor, está equivocada. Pois o art. 13 deixa claro que o comerciante responde igualmente. 
· Direito de regresso: § único do art. 13
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.
· Vedação da denunciação da lide: art. 88 do CDC.
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.
A denunciação da lide é uma hipótese de intervenção de terceiros.
Pelo exposto no art. 88, para não gerar uma demora na satisfação do direito do consumidor, o legislador veda a denunciação a lide.
De acordo com a doutrina, a vedação da denunciação à lide prevista no art. 88 deve se aplicar a qualquer ação ajuizada pelo consumidor contra o fornecedor (seja ela sobre fato do produto, fato do serviço, vício do produto ou vício do serviço). Para o STJ, a vedação se aplica apenas para fato do produto e fato do serviço.
· Prazo prescricional: art. 27
O prazo para ajuizamento da ação é de 5 anos, cuja o termo inicial é o conhecimento do dano e sua autoria. Este prazo se aplica tanto para fato do produto, quanto para fato do serviço.
· Bystander: (art. 17)
Este dispositivo se aplica tanto para fato do produto, quanto para fato do serviço, e determina que qualquer pessoa que for vítima de um acidente de consumo pode invocar o CDC em seu favor, para fundamentar uma ação de indenização.
Trata-se de consumidor por equiparação.
AULA – 11/09
Continuação – FATO DO PRODUTO
· Excludentes de responsabilidade: art. 12, §3º.
Hipóteses que, uma vez provadas, afastam a responsabilidade de indenizar o consumidor.
Art. 12, § 3°: O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
Ex: produto falsificado ou extraviado da linha de montagem.
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Ex: não seguiu as instruções com segurança.
A doutrina e jurisprudência destacam que o § 3º do art. 12 prevê hipóteses de inversão ope legis do ônus da prova, ou seja, cuida-se de inversão automática, que independe da análise do caso pelo juiz, ao contrário do que ocorre no disposto no art. 6º, inc. VIII (inversão ope judicis).
A jurisprudência admite que a indenização seja diminuída em casos em que o consumidor é responsável parcialmente pelo dano.
 
· Riscos do desenvolvimento: 
O risco do desenvolvimento consiste no fato de que os riscos advindos da introdução de um produto no mercado não serem conhecidos ou identificados prontamente, só sendo conhecidos depois, por um desenvolvimento tecnológico não existente na época em que o mesmo foi inserido no mercado.
A doutrina debate se, no Brasil, os denominados riscos do desenvolvimento excluem a responsabilidade do fornecedor. A maior parte entende que não, considerando que, ao contrário do que ocorre na Europa, não há previsão expressa de exclusão de responsabilidade.
Na Europa, o tema está regulamentado pela Diretiva Europeia de Acidente de Consumo nº 85/374, a qual dá liberdade expressa aos países para incluir ou excluir os riscos do desenvolvimento como excludente de responsabilidade. Na prática, apenas dois ou três países adotaram a exclusão;
FATO DO SERVIÇO – ART. 14, CDC
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
· Considerações iniciais:
Assim como os produtos devem ser seguros, os serviços também devem ser.
O prazo prescricional é o mesmo.
Também há a figura do bystander.
A responsabilidade é objetiva (expressão “independentemente de existência de culpa”).
· Serviço defeituoso é aquele que não atende à legitima expectativa de segurança (o juiz vai analisar o caso concreto).
· Em caso de acidente de consumo decorrente de serviço defeituoso, a lei prevê exceção à responsabilidade objetiva: art. 14, §4º.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Trata-se de responsabilidade subjetiva (negligência, imprudência, imperícia).
AULA – 17/09
Continuação – FATO DO SERVIÇO
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Quando se usaa expressão “o fornecedor”, no singular, dá a entender que não há solidariedade. Fornecedor é apenas quem forneceu o serviço. Ao contrário do que ocorre por exemplo no art. 18 (vício do produto) que traz a expressão “os fornecedores”, indicando que fornecedores são todos aqueles da cadeia de produção do art. 3º.
Uma parte da doutrina entende que há solidariedade 
O art. 14 não prevê solidariedade automática entre os diversos fornecedores, como ocorre na hipótese do art. 18 e 19. Todavia, doutrina e jurisprudência afirmam que tal solidariedade existe utilizando-se do disposto no § único do art. 7º. Professor não concorda com esse entendimento.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
Esta “segurança que o consumidor pode esperar do produto” é um conceito aberto, que deverá ser analisada pelo juiz no caso concreto.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
O §3º prevê hipóteses de excludentes de responsabilidade. 
· Quando há culpa concorrente do consumidor ou de terceiro, o valor indenizatória deve ser reduzido proporcionalmente, conforme orientação do STJ.
A expressão “quando provar” refere-se a uma hipótese de inversão do ônus da prova ope legis.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Profissional liberal é aquele que exerce sua atividade independentemente de vínculo empregatício com outra pessoa. Exemplo: médicos, dentistas, arquitetos, eletricistas, etc.
Se um desses profissionais causarem um dano, decorrente do serviço, para responsabilizá-los deve haver a comprovação de culpa (negligencia, imprudência e imperícia).
O STJ entende que sempre que o profissional liberal estiver no polo passivo, ainda que ele tenha operado em um hospital, a responsabilidade é subjetiva.
A jurisprudência do STJ afirma que sempre que o profissional liberal (contratado pelo consumidor) realiza um serviço dentro de um hospital, por exemplo, sua responsabilidade pessoal continua subjetiva, ou seja, o consumidor deve provar a culpa.
*não se aplica o CDC na relação entre advogado e cliente (entendimento do STJ).
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Trata-se de consumidor por equiparação: bystander.
Prazo prescrional: 5 anos.
AULA – 24/09
PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CDC
· Teoria Contratual Clássica:
Referência histórica: 1804 (edição do Código Civil Francês).
· Liberdade contratual: decorre da autonomia da vontade. Para gerar obrigações em uma relação contratual, isso deve decorrer da sua vontade.
A vontade da pessoa é capaz de gerar direitos obrigações no direito civil, definindo o conteúdo do contrato.
A ideia é de pouca interferência do Estado nos negócios jurídicos.
· Força vinculante: também chamado de princípio da obrigatoriedade, da intangibilidade do contrato. Que é resumido na expressão: Pacta sunt servanda: “contrato faz lei entre as partes”.
Logo, se a parte não cumprir o pactuado, o Estado interfere para obrigar o cumprimento.
· Relatividade das convenções: em regra, o contrato só afeta as partes contratantes, nem beneficiando nem prejudicando terceiros.
· Nova Teoria Contratual:
A proteção contratual do consumidor se insere no movimento maior de mudança de paradigma pelo qual passa o direito privado. A nova teoria contratual não é exclusiva do direito do consumidor: decorre antes da mudança de paradigma do direito contratual promovida pelo direito privado.
A nova teoria contratual não extingue os princípios da teoria contratual clássica. Na verdade, a nova teoria promove uma releitura de tais princípios.
Essa mudança ainda está se concretizando.
Princípios que vão se mesclar (mitigar) com aqueles já existentes:
· Boa-fé objetiva: A boa-fé objetiva é, em síntese, a exigência de que as partes ajam com lealdade e transparência nas suas relações jurídicas.
Está prevista no art. 422 do CC.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
· Equilíbrio econômico: o contrato não pode ser um meio de enriquecimento de umas das partes, e empobrecimento de outra parte. O Estado interfere no conteúdo do contratual buscando a chamada justiça contratual.
Pelo princípio do equilíbrio econômico, o Estado deixa de ser indiferente ao conteúdo do contrato, verificando no caso concreto, se há uma exagerada desproporção entre as obrigações.
Para alguns autores, o equilíbrio econômico estaria inserido no princípio da boa-fé objetiva.
Não está previsto em um artigo específico, sua ideia está prevista em vários artigos: 156, 157, 478 (Teoria da Imprevisão), CC.
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
· Função social do contrato: Pelo princípio da função social do contrato deve-se verificar os efeitos que aquele contrato acarreta na sociedade. Se tais efeitos forem negativos, pode-se dizer que houve ofensa à função social do contrato. 
Está prevista no art. 421 do CC.
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
AULA – 25/09
Continuação – NOVA TEORIA CONTRATUAL
O CDC adota a nota teoria contratual, tanto de forma explicita quando de forma implícita. Exemplo: art. 51, IV e art. 4º, III.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: 
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
A função social do contrato no CDC não decorre de um princípio explicito, como ocorre no Código Civil. A ideia é a de uma visão sistemática do CDC: pelo princípio da função social do contrato deve-se verificar os efeitos que aquele contrato acarreta na sociedade. Se tais efeitos forem negativos, pode-se dizer que houve ofensa à função social do contrato.
Exemplo: Lei 13.455/17: Dispõe sobre a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidos ao público em função do prazo ou do instrumento de pagamento utilizado, e altera a Lei no 10.962, de 11 de outubro de 2004.
Art. 1º Fica autorizada a diferenciação de preços de bens e serviços oferecidosao público em função do prazo ou do instrumento de pagamento utilizado. 
Parágrafo único. É nula a cláusula contratual, estabelecida no âmbito de arranjos de pagamento ou de outros acordos para prestação de serviço de pagamento, que proíba ou restrinja a diferenciação de preços facultada no caput deste artigo. 
Outro exemplo de ofensa à função social do contrato: art. 51, XIV
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
O CDC trabalha com a nova teoria contratual, tanto em um momento contratual, quanto de forma pré-contratual, seja por meio de regras, seja por meio de princípios.
PROTEÇÃO CONTRATUAL NO CDC
· O CDC adota de modo explícito e implícito os princípios da nova teoria contratual: boa-fé objetiva, equilíbrio econômico e função social do contrato.
Além disso, estabelece, em vários momentos, regras que, em última análise, refletem referidos princípios. Como exemplo, pode-se citar a disciplina da oferta no CDC (art. 30 e 35).
· Oferta
Oferta é quando o vendedor/fornecedor se dirige aos consumidores.
Isso se dá individualmente, ou de maneira ampla, que é a publicidade.
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
A doutrina classifica a oferta em publicitária e não publicitária.
· A oferta publicitária é aquela que atinge uma coletividade de pessoas. Ex: veiculadas em sites, TV, jornal, outdoor, etc.
· A oferta não publicitária é aquela dirigida a um consumidor. Ex: vendedor e consumidor conversando diretamente.
Princípio da vinculação: ofertou, tem que cumprir (“não minta, não exagere”). Decorre do art. 30. Abrange as duas espécies de oferta.
Consequências do descumprimento da oferta: estão previstas no art. 35.
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
O terceiro inciso traz hipótese em que o contrato foi realizado. Geralmente, cabe quando a percepção da qualidade anunciada depende do uso do produto.
Observação: Perdas e danos cabem para todas as hipóteses, pois decorrem do art. 6º do CDC (direitos do consumidor).
A única limitação com relação a oferta, isto é, a oferta não vinculará quando envolver alta subjetividade (quando envolve análises de difícil mensuração objetiva não há a vinculação). Isso se extrai pela expressão: “suficientemente precisa” (art. 30).
Exemplo: “carro espaçoso”, “produto barato”, “internet rápida”.
Equívoco do anúncio:
Há um debate se o anuncio equivocado vincula. Três correntes:
1ª corrente: a oferta vincula sempre. Se houve um erro, isso se dá por risco do fornecedor. O fornecedor deve buscar indenização de quem fez o erro (ação regressiva).
2ª corrente: entende que não há vinculação quando for evidente que se trata de um erro. Essa corrente entende que a boa-fé objetiva se aplica ao consumidor e ao fornecedor, portanto, o consumidor não pode se aproveitar de situações que acarretem em enriquecimento sem causa. Esta é a corrente jurisprudencial majoritária.
3ª corrente: é o meio termo. Deve haver a análise do caso concreto. A 3ª corrente exige a análise do caso concreto e parte da ideia de que o preço ínfimo de um produto ou serviço no mercado de crescente concorrência não significa, por si só, má-fé do consumidor na aquisição daquele bem ou serviço.
Para o professor, o preço ínfimo de um produto, por si só, não pode presumir a má-fé do consumidor, pois, atualmente é natural empresas fazerem promoções em razão da alta competitividade do comércio.
AULA – 01/10
Continuação – Proteção Contratual no CDC
A oferta decorre do princípio da boa-fé. 
· Publicidade:
A publicidade tem duas finalidades, a saber: 
· Informar.
· Convencer. 
Publicidade ≠ propaganda:
· Publicidade: tem o animus de venda dos produtos. Se refere a divulgação de produtos e serviços no mercado de consumo.
· Propaganda: é a difusão de uma ideia sem necessariamente o animus de vender alguma coisa. Está mais no campo da opinião e sua valoração. Refere-se a divulgação de um pensamento ideia, religião, etc.
Em que pese essa distinção, o ordenamento jurídico brasileiro acaba utilizando um termo pelo outro. O CDC dá prioridade ao termo prioridade, mas utiliza no art. 60, a expressão “contrapropaganda”. Já a CF/88, prefere o termo “propaganda comercial” (vide art. 220, CF).
Marketing: é mais amplo que a propaganda, sendo toda a técnica que visa criar um produto e faze-lo vender bem. Exemplo: promoção “pague dois e leve três”. 
Princípios: art. 36 a 38 do CDC.
· Princípio da identificação (art. 36, caput, CDC) – serve para que o consumidor possa conhecer o produto ou serviço que está sendo ofertado pelo fornecedor, aumentando o poder crítico do consumidor. 
Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem.
· Princípio da vedação/proibição à publicidade enganosa (art. 37, § 1º) – ocorre quando a publicidade visa enganar o consumidor.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
A publicidade enganosa se divide em:
· Falsa – é uma mentira direta, que chega a ser evidente sua falsidade. 
· Enganosa (sentido estrito) – ocorre quando parte da informação é incoerente com o conteúdo do produto ou serviço. Ex: é anunciado uma promoção de um veículo por um preço X, contudo, nas letras miúdas vem um preço diferente para a versão apresentada; ou, a fidelidade de um ano exigida em comercial de telefone que não deixou clara essa informação.
· Princípio da vedação/proibição à publicidade abusiva (art. 37, § 2º)
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
Observação: O disposto no art. 31, do CDC, não se aplica a publicidade, todavia, quando há informação sobre determinado aspecto ou preço do produto, a informação tem que ser completa, sob pena de se caracterizar publicidade enganosa por omissão. Ex: se a publicidade tratar do preço, não poderá omitir que a parcela sofrerá reajusto previsto pela correção monetária. Ou seja, embora não haja obrigatoriedade de o fornecedor colocar todas as informações em sua publicidade, deve ser fiel ao que colocar, além é claro da completude de informações.
Sanções do CDC:
· Penal (8.137/90 e art. 61 a 74 do CDC) – ocorre quando a conduta for definida como crime;
· Administrativa (art. 55 a 60, do CDC) – quaisquer ofensas ao direito do consumidor acarretam em sanções administrativas;
· Civil – ocorre em decorrência da violação de um direito do consumidor, que ensejaráem uma indenização convertida em: danos morais e/ou danos materiais.
AULA – 02/10
Continuação – Publicidade
Publicidade – divide-se em:
· Enganosa: de acordo com a doutrina, considerando que a proteção do CDC é a todos, para a análise do potencial de “enganosidade” não deve ser analisado o homem médio, mas sim o consumidor mais vulnerável.
· Falsa
· Enganosa (sentido estrito)
· Abusiva: É aquela que contraria/desrespeita valores da sociedade.
O art. 37 §2º traz um rol exemplificativo com exemplos de publicidade abusiva.
Preocupação que vai além do consumidor, a preocupação é com a coletividade, a sociedade.
A CF no art. 220, §4º permite publicidade de tabacos, bebidas e etc., mas a publicidade deve estar acompanhada de advertências.
§ 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
A Lei 9.294/96 dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas, nos termos do § 4° do art. 220 da Constituição Federal.
O art. 38 traz uma hipótese de inversão do ônus da prova:
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.
A doutrina, ao comentar o art. 38, sustenta que se trata de mais uma hipótese de inversão ope legis do ônus da prova.
Esse artigo se alinha com o disposto no art. 36, § único.
Art. 36, Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem.
Apenas pelo fato de o fornecedor não possuir esses dados, ele comete um crime por omissão. O descumprimento do § único do art. 36 caracteriza, em tese, o crime descrito no art. 69 do CDC:
Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade:
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
AULA – 08/10
Continuação – Proteção contratual no CDC (art. 46/ss)
O consumidor poderá ficar com uma via escrita do contrato.
· Contratos de adesão (art. 54)
Nos contratos de adesão, as cláusulas manuscritas, de acordo com doutrina e jurisprudência possuem mais valor jurídico do que as disposições padronizadas, tendo em vista que refletem a real vontade das partes.
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 
§ 1º A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.
§ 2º Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no §2º do artigo anterior.
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.   
§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
O destaque do contrato, a que se refere o §4º, pode ser negritando a clausula que se deseja destacar, colocando as letras em caixa alta, dentre outras formas de destaque.
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
O art. 47 traz uma proteção para o consumidor visando minimizar eventuais prejuízos que podem ser originados por um contrato de adesão. Ademais, o dispositivo se aproxima do disposto no art. 423, do CC, sendo que a diferença entre ambos é que, no CDC, SEMPRE haverá uma interpretação favorável ao consumidor, enquanto que no CC, tal benefício se aplica apenas as cláusulas ambíguas ou contraditórias. 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
O art. 48, reforça a ideia de que tudo que é dito ao consumidor integra o contrato e pode ensejar execução especifica. Isso decorre do princípio da boa-fé objetiva.
Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos.
· Direito de arrependimento (art. 49)
O prazo será contado do ato do recebimento do produto, sendo que, será contado da data de sua assinatura somente se o produto for entregue junto ao ato da assinatura, como por exemplo, a compra de um arquivo digital. 
Observação: o art. 49, não se aplica a passagens aéreas. 
Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. 
Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.
· Decreto 7.962 – serve de complemento ao respectivo artigo.
AULA – 16/10
Continuação – Proteção Contratual no CDC
Em resumo, o CDC autoriza o contrato de adesão, mas estabelece regras para as formas de apresentação e interpretação desse contrato. No entanto, o CDC trata também do conteúdo do contrato. O CDC tem um rol de cláusulas nulas, que não possuem valor jurídico quando constantes no contrato.
O art. 51 é o principal dispositivo que trata de limites ao conteúdo do contrato:
Das Cláusulas Abusivas
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
Trata-se de rol exemplificativo. Inclusive, o inciso IV dá abertura para o juiz analisar qualquer cláusula inserida no contrato de consumo.
· Iníqua = injusta/cruel.
· Abusiva = excessiva/desproporcional.
O juiz deve analisar os valores do ordenamento jurídico, é o que a lei diz que é razoável. Não é uma valoração pessoal do juiz.
Com base no art.51, IV, também é possível identificar o caráter exemplificativo do art. 51. Todavia, a doutrina destaca que a densificação do dispositivo deve ser realizada a partir de valores do ordenamento jurídico, e não de valores subjetivos e pessoais do magistrado.
Qual é a sanção pela abusividade da clausula? Nulidade de pleno direito. Não prescreve e pode ser decretada de ofício.
A sanção pela inserção de cláusula abusiva em contrato de consumo é a nulidade de pleno direito, a qual significa que o ato é nulo, e não anulável. Como consequência, sustenta a doutrina, que esta nulidade pode ser reconhecida de ofício. Todavia, o STJ contraria tal entendimento ao editar a sumula 381.
SÚMULA N. 381. Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. Referências: CPC, art. 543-C. CDC, art. 51.
Essa súmula é muito criticada pela doutrina. No entanto, o STJ utilizou o fundamento de que o CPC impede o reconhecimento de ofício.
Princípio da conservação do contrato:
§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.
Regra geral: uma cláusula anulada não “corrompe” todo o contrato. Deve ser feito um esforço de integração. Essa integração pode se dar, inclusive, por entendimento jurisprudencial.
· O art. 51, §2º, ao ser conjugado com o art. 6º, V, oferece ampla possibilidade para o juiz evitar a invalidade de todo o contrato, ao oferecer a possibilidade de alteração do conteúdo de determinadas cláusulas.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
AULA – 22/10
Continuação – Proteção Contratual no CDC
Cláusulas abusivas – Principais Características:
· Rol exemplificativo.
· Independe da análise subjetiva do consumidor (se houve dolo, existência de má-fé ou intuito de obter vantagem indevida ou exagerada).
· Reconhecimento de ofício pelo juiz.
· Dupla possibilidade conferida ao juiz: declarar a nulidade ou promover a modificação da cláusula.
· Nulidade de pleno direito/Nulidade absoluta.
· O primeiro esforço do juiz deve ser no sentido de afastar unicamente a cláusula abusiva, mantendo-se os efeitos jurídicos das demais, a não ser que decorra ônus excessivo a qualquer das partes.
· Possibilidade de alteração do conteúdo da cláusula, promovendo-se a revisão do contrato. Artigo 6º, V.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
As cláusulas de limitação ou exclusão do dever de indenizar são vedadas, pois as normas do CDC são “de ordem pública e interesse social” (artigo 1º) e, portanto, inafastáveis.
Observação: o art. 51, I, CDC, não veda a imposição de cláusula penal compensatória em favor do fornecedor, isto é, prévia estipulação contratual de um valor indenizatório decorrente da rescisão contratual.
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;
Exemplo: possibilidade de arrependimento nas compras de produtos e serviços realizadas “fora do estabelecimento comercial” (artigo 49 do CDC).
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
A escolha de determinado fornecedor decorre, dentre outros fatores, da confiança e, consequentemente, qualidade dos seus produtos e serviços.
Observação: o dispositivo não impede, naturalmente, que o fornecedor celebre contrato de seguro para obter indenização em hipóteses variadas de danos ao consumidor.
Observação: a transferência da obrigação a terceiros só é possível quando o próprio CDC a autoriza expressamente. Exemplo: artigo 20, § 1º (§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor).
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
Esse inciso é complementado pelo §1º.
Cuida-se, sem dúvida, do principal dispositivo relativo a nulidades de cláusulas contratuais nas relações de consumo.
É uma disposição aberta que muito depende de labor hermenêutico do aplicador do direito para preenchimento, em concreto, de seu conteúdo.
A responsabilidade do Judiciário é intensa, com a necessidade de bem fundamentar as decisões, de modo a afastar as críticas como a argumentação de subjetivismo e arbitrariedade.
- Construção, com sabedoria e firmeza, dos contornos de boa-fé objetiva e equilíbrio econômico do contrato, com base neste inciso.
Exemplo: 90% de cláusula penal compensatória, nos contratos de compra e venda de imóveis. Jurisprudência: a redução ou aumento de percentual (até 25%) depende da peculiaridade do caso e o artigo 53 do CDC deve ser analisado em harmonia com outros dispositivos do CDC.
Outros exemplos: STJ – nulidade de cláusula contratual:
· que obriga o consumidor a esperar o término da construção do edifício para a devolução do dinheiro a que tem direito;
· que permite o cancelamento do contrato em virtude de atraso no pagamento de uma única parcela pelo consumidor (tese do adimplemento substancial);
· que permite a cobrança de tarifa (interbancária) mediante a escolha de pagamento por boleto bancário;
· que limita tempo de internação do consumidor.
SÚMULA N. 302. É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. 
AULA – 23/10
Continuação – Cláusulas Abusivas
O art. 51 possui disposições com caráter mais principiológicos, como é o caso do inciso IV, e outras com caráter mais objetivo, a exemplo do que ocorre no inciso I.
No primeiro caso, a jurisprudência, com o passar do tempo, irá definir o sentido e alcance do dispositivo.
Quando a disposição é mais objetiva, não há tantas divergências.
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
No contrato, o fornecedor não pode vedar a inversão do ônus da prova. Esta é uma norma de ordem pública que não pode ser afastada ou mitigada por vontade das partes.
Logo, em todas as situações que o CDC, ou qualquer outra lei, realizar a distribuição do ônus da prova, não podem as partes alterar o comando legal.
Observação: no direito civil, pode haver essa alteração.
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
A arbitragem é um método extrajudicial de resolução de conflitos. Lei de Arbitragem http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm
Três correntes:
1ª: Cláudia Lima Marques: defende que não pode haver arbitragem para solucionar conflitos decorrentes de relações de consumo.
2ª: Nelson Nerys: defende que pode haver uma cláusula no contrato prevendo a arbitragem, mas o consumidor precisa ter uma concordância real a esta cláusula (art. 4º, §2º, Lei nº 9307/96).
3º: Ministra Nancy (STJ): defende que a arbitragem é possível, mas a opção pela arbitragem deve ocorrer depois do conflito, e não antes por meio de cláusula contratual.
Para o professor, a posição da Cláudia Lima Marques é radical, e que as posições do Nelson e do STJ se alinham melhor com o CDC.
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Adesao-voluntaria-a-arbitragem-impede-consumidor-de-buscar-Judiciario-para-resolver-conflito-em-contrato-de-adesao.aspx
"Percebe-se claramente que os recorrentes aceitaram sua participação no procedimento arbitral, com a assinatura posterior do termo de compromisso arbitral, fazendo-se representar por advogados de alta qualidade perante a câmara de arbitragem", comentou a ministra ao negar provimento ao recurso

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