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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA Departamento de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Psicologia Disciplina: Psicologia e Profissão. Docente: Lígia Portela. Discente: Yasmin Da Silva Rosário. A História da Psicologia no Brasil A construção da psicologia como ciência e profissão no Brasil expressa um percurso minucioso e complexo dentro da história. Dessa forma, a psicologia se apresenta em diversos formatos e contextos desde o período colonial brasileiro, até o momento de sua afirmação constitucional. Segundo Antunes (2012), a existência de ideologias de cunho psicológico na colônia, principalmente, no processo catequético da Companhia de Jesus, fez-se determinante no início das aplicações da psicologia no Brasil. Ou seja, os jesuítas adotaram um formato de psicologia moral na época, com o uso de metodologias censuradoras, de modo a repreender e oprimir os costumes indígenas e africanos. Outro momento histórico importante para a construção da psicologia, ocorre quando a corte portuguesa decide se realocar no Brasil, no século XIX. Desse modo, desenrola-se um enorme desenvolvimento demográfico, urbano, educacional e cultural. Como resultado, o crescimento desorganizado desses centros urbanos acarreta na precarização sanitária dos mesmos. Criando assim, a necessidade de associar o progresso acadêmico e intelectual no Brasil à organização de métodos higienistas. Logo, de acordo com Antunes (2012), a questão social foi colocada em maior destaque nesse momento, de modo que, médicos e profissionais da educação utilizavam saberes psicológicos para a metodização das problemáticas enfrentadas. Nessa perspectiva, é importante ressaltar que nesse período a principal difusora das ideias psicológicas (advindas da Europa) no Brasil era a medicina. Ademais, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e a da Bahia não só fortaleceram essas ideias, mas também, elaboraram novos saberes [ANTUNES 2012]. Dito isso, além dos motivos sanitários supracitados, esses profissionais se apoiaram nesses saberes para a escrita de teses doutorais, visto que, em 1840 surgiram os primeiros hospícios no Brasil. Ademais, utilizaram dos mesmos para reforçar práticas de marginalização social, principalmente, contra os afrodescendentes. De 1890 a 1930, vai do inicio ao fim da República Velha brasileira, marcada pela abolição da escravidão, o avanço das plantações de café e a chegada de imigrantes. Esse contexto, era extremamente benéfico e lucrativo para os cafeicultores, uma vez que, a economia brasileira estava voltada quase exclusivamente ao café e o mesmo era extremamente valorizado internacionalmente. Dessa maneira, potencializando a desigualdade social e a insatisfação das camadas inferiores aos cafeicultores. A partir disso, o pensamento de avanço tecnológico e industrial torna-se um ideal nesse momento, advindo dos pensamentos liberais crescentes na Europa. Por conseguinte, esse ideário chegou à psicologia como forma de autonomização da mesma. Fornecendo assim, um espaço para a expansão da psicologia científica, sobretudo, as teorias europeias e estadunidenses. Outrossim, a aplicação dessa psicologia chegou com o propósito do desenvolvimento trabalhista e industrial, afirmando os conceitos modernizantes propostos na época. Consequentemente, esses ideais promoveram o declínio constante do café e o fim da República Velha. De 1930 a 1962, começa o período de consolidação da psicologia como ciência no Brasil. Com a entrada do governo de Getúlio Vargas, inicia-se o processo de modernização urbana e social a partir do êxodo rural e práticas de populismo. Sucedido por Juscelino Kubistchek, ocorre um maior estímulo a esse processo, com planos de industrialização como 50 anos em 5 e a institucionalização de Brasília como nova capital do país. Todos esses fatores, e os consequentes governos dão contexto para o avanço dos estudos e pesquisas científicas envolvendo a psicologia e a gradual separação da medicina. Além disso, ao longo dos anos 50, surgem cursos superiores de psicologia em algumas universidades e nota-se a evolução das associações de pesquisadores da área, que reclamam pela implantação constitucional da psicologia como profissão. De 1962 a 1980, no dia 27 de agosto de 1962, a Lei 4119 constitucionaliza a profissão de psicólogo. Nesse período, houve a Ditadura Militar de 64, que marcou o Brasil com extrema repressão social, política, intelectual e cultural, greves, reformas em todas as esferas e violência extrema. Consequentemente, todos esses fatores supracitados obstaram o avanço da psicologia, ao impulsionar o ensino superior privado e moderar o público, limitando o acesso de várias camadas a formação acadêmica no geral, incluindo a de psicólogos. Em contrapartida, temos a consolidação da psicologia clínica, contudo, acessível somente às classes econômicas mais altas, garantindo assim, uma promoção elitizada da profissão. De 1980 a 2012, é quando ocorre o processo completo de consolidação da psicologia. Dado que, em 1971 houve a criação do Conselho Federal de Psicologia, sendo então, uma representação da profissão, fonte da luta pelos direitos da mesma e expositor principal dos posicionamentos defendidos pela psicologia. Outrossim, o CFP definiu um código de ética para a profissão e auxiliou no desenvolvimento dos conselhos regionais e de outros órgãos cooperativos. Nesse contexto, o Brasil passava pela redemocratização, expondo o início de um momento mais estável na política no país. Desse modo, a psicologia foi capaz de definir um propósito mais claro da sua atuação como profissão, levando em consideração toda a sua importância social e o seu impacto em outras esferas no Brasil. Nessa conjuntura, é possível começar a visualizar as perspectivas futuras da psicologia no Brasil. De modo a, entender o ponto em que a psicologia se encontra no contexto atual e questionar onde a mesma quer chegar. Segundo Bock (2010), o Brasil precisa de uma psicologia nacional que possa ser aplicada no contexto brasileiro. Visto que, a psicologia brasileira é extremamente europeizada. Portanto, o pensamento dos psicólogos deveria se voltar para a construção de pesquisas e ideias voltadas às necessidades e vivências do cidadão brasileiro. Além disso, quando questionada, Bock afirma que prevê a psicologia brasileira daqui a 10 anos como uma profissão reconhecida e incluída em diversas áreas e setores diferentes, aplicando seus conhecimentos como forma de auxiliar positivamente os mesmos [BOCK, 2010]. Por fim, é nítido como a construção da psicologia como profissão e ciência foi um processo conturbado e complexo, dado aos contextos históricos enfrentados. Hodiernamente, é extremamente importante analisar a evolução e valorização da profissão no Brasil e, principalmente, compreender que a mesma está em constante evolução. Portanto, ainda enfrentará diferentes embargos ao longo do seu percurso. Entretanto, é necessário manter a consciência de enfrentar essas dificuldades, como diversos profissionais enfrentaram no passado para a psicologia ser o que é hoje no Brasil, a fim de garantir uma nova versão da psicologia ano após anos e perpetuar esse conhecimento por longas gerações. Referências bibliográficas: MASSIMI, Marina. Estudos históricos acerca da Psicologia: uma contribuição. In: FREITAS, R. H. (org.). História da Psicologia: pesquisa, formação, ensino [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. p. 69-83. ISBN: 978-85-99662-83-0. Availble from SciELO Books http://books.scielo.org> ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A Psicologia no Brasil: um ensaio sobre suas contradições. Psicologia: Ciência e Profissão, 2012, 32 (num. esp.), 44-65. A Psicologia no Brasil - A Psicologia como profissão: entrevista com Ana Bock. Psicologia : Ciência e Profissão, 2010, 30 (num. esp.), 247-258. CFP. 100 anos de Psicologia no Brasil Exposição 50 anos da Psicologia no Brasil: A história da psicologia no país. CFP. 2012 http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/pdf/catalogo50anos.pdfAcesso em: 29/082021. http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/pdf/catalogo50anos.pdf
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