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Cadeia Epidemiológica em Defesa Animal

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AULA 3 - CADEIA EPIDEMIOLÓGICA
Na aula passada, nós estudamos as características dos elementos que participam da
tríade epidemiológica (Tríade de Leavell & Clark). Vimos que, para que ocorra uma doença em um
indivíduo ou em uma população, vários fatores são necessários (multicausalidade). Já sabemos
que, para haver a ocorrência da doença, a tríade epidemiológica (agente, hospedeiro e meio
ambiente) precisa estar em desequilíbrio. Exceção é feita quando a doença for transmitida por
contato direto, já que, neste caso, não existe espaço físico (meio ambiente) entre o agente e o
hospedeiro.
Nesta aula, nós estudaremos como o agente chega até o hospedeiro. Assim, a cadeia
epidemiológica demonstra o processo de propagação das doenças transmissíveis. Se o
epidemiólogo conhece a cadeia epidemiológica da enfermidade que está acometendo a
população em estudo, ele pode, de forma mais racional, adotar medidas sanitárias capazes de
prevenir ou impedir a disseminação de tal enfermidade. Para montarmos uma cadeia
epidemiológica, precisamos ter em mente alguns conhecimentos:
Quem hospeda e transmite o agente é a fonte de infecção.
O agente abandona o hospedeiro pela via de eliminação.
O agente alcança o novo hospedeiro pela via de transmissão.
O agente penetra no novo hospedeiro pela porta de entrada.
1. FONTE DE INFECÇÃO (FI)
É o primeiro elemento da cadeia epidemiológica. Denomina-se FI qualquer hospedeiro
vertebrado que alberga um determinado agente etiológico e que pode eliminá-lo do seu
organismo, ou seja, transmiti-lo a um novo hospedeiro.
No entanto, algumas vezes a FI não é tão facilmente detectada, já que os hospedeiros que
albergam o agente etiológico podem desempenhar, de diferentes maneiras, o papel de FI. Por
exemplo, quanto ao estágio de evolução da relação hospedeiro-parasita, os hospedeiros que
albergam o agente etiológico podem ser classificados em:
a) Doentes: são os hospedeiros que albergam o agente etiológico e, conseqüentemente, revelam
sinais de alteração do equilíbrio orgânico. Esses sinais podem ser indefinidos, mas são devido a
existência do agente etiológico dentro do organismo hospedeiro. Os doentes podem apresentar-se
sob diferentes formas, dependendo do grau de alteração que o seu organismo apresenta.
- DOENTES TÍPICOS: são aqueles doentes que apresentam sintomatologia
clínica bastante característica de determinada doença ou de um grupo de doenças com as
mesmas características.
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- DOENTES ATÍPICOS: são os doentes que, acometidos por determinada
patologia, apresentam sinais clínicos ou de extrema malignidade, ou de extrema benignidade,
exteriorizando quadros pouco característicos da patologia em questão.
- DOENTES EM FASE PRODRÔMICA: nesta fase, o doente ainda não apresenta
sintomatologia clínica característica da enfermidade que está acometendo-lhe, pelo fato da
mesma ainda estar em sua fase inicial. Assim, os sintomas da doença já começaram, mas ainda
não são suficientemente característicos de tal enfermidade.
b) Portadores: diferentemente dos doentes, os portadores não manifestam qualquer alteração
orgânica ou sintomatologia clínica, apesar de albergarem e eliminarem o agente etiológico. Os
portadores também podem apresentar-se sob diferentes formas:
- PORTADORES SADIOS: são os hospedeiros que não apresentaram e nem
apresentam manifestações clínicas da doença, embora já tenham passado da fase de incubação
da mesma. O mais preocupante, é que esses portadores conseguem eliminar o agente etiológico,
ou seja, são transmissores da enfermidade.
- PORTADORES DE INCUBAÇÃO: são aqueles indivíduos que ainda não
apresentaram a sintomatologia clínica por estarem no período de incubação da enfermidade.
Nesta fase, mesmo não apresentando sinais característicos da doença, os portadores são
capazes de eliminar o agente etiológico e, com isso, propagar a enfermidade. Ressalta-se que,
após passar o período de incubação, esses portadores virão a apresentar a sintomatologia clínica.
- PORTADORES CONVALESCENTES: são aqueles hospedeiros que tiveram a
cura clínica da enfermidade, mas continuam albergando e eliminando o agente etiológico. Se essa
condição (cura clínica com eliminação do agente) for transitória, denominamos esses hospedeiros
de portadores convalescentes temporários. No entanto, se for uma condição que persiste por
longo tempo, esses hospedeiros são denominados de portadores convalescentes crônicos.
c) reservatórios: são todos os vertebrados que atuam como fonte de infecção no processo de
disseminação da doença. No entanto, um reservatório é um hospedeiro de espécie diferente
daquela espécie em que estamos aplicando a medida sanitária. O reservatório também é
suscetível às alterações orgânicas ocasionadas pela presença do agente etiológico, podendo ser
classificado em qualquer um dos tipos de fonte de infecção já relacionados.
2. VIAS DE ELIMINAÇÃO (VE)
É o meio utilizado pelo agente etiológico para sair do hospedeiro e alcançar o
meio exterior, na tentativa de alcançar um novo hospedeiro. A via de eliminação de um agente
está estritamente ligada ao seu local preferido de multiplicação ou ao seu local de colonização
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dentro do organismo do hospedeiro. Assim, o conhecimento da patogenia da doença em estudo é
essencial, pois, com esse conhecimento, saberemos quais os locais de lesão e,
conseqüentemente, do agente etiológico, ficando mais fácil sabermos qual é a via de eliminação
do respectivo agente. A seguir estão listadas as vias de eliminação mais importantes no processo
de disseminação das doenças transmissíveis.
- secreções oro-nasais e expectorações;
- secreções uro-genitais;
- secreção láctea;
- tumores;
- excreções;
- placenta, líquidos fetais e feto;
- exsudatos e descargas purulentas;
- descamações cutâneas;
- tecidos animais.
3. VIAS DE TRANSMISSÃO (VT)
São os recursos utilizados pelo agente etiológico, após ter deixado a fonte de infecção,
para atingir um novo hospedeiro. Os agentes etiológicos mais sensíveis precisam de rápidas vias
de transmissão; caso contrário, serão inativados. Por outro lado, os agentes etiológicos mais
resistentes podem sobreviver por períodos maiores fora de um organismo (hospedeiro).
A seguir estão descritas as principais vias de transmissão utilizadas pelos diferentes
agentes etiológicos encontrados no nosso ecossistema.
a) Contágio: é o mecanismo de transferência rápida do material infectante fresco, desde a fonte
de infecção até o novo hospedeiro, caracterizando-se sempre a presença de ambos no mesmo
espaço e tempo. Esta transferência pode ser direta ou indireta.
- CONTÁGIO DIRETO: ocorre um contato físico entre superfícies, ou seja, entre o
novo hospedeiro e a fonte de infecção. Assim, não existe um relacionamento do agente com o
meio exterior. Esta forma de contágio é de extrema importância para os agentes etiológicos mais
sensíveis, pois os mesmo, muitas vezes, não conseguiriam sobreviver às adversidades do
ambiente.
- CONTÁGIO INDIRETO: neste caso, não há contato físico entre hospedeiro e
agente de forma direta, ou seja, alguns fatores, normalmente ambientais, são necessários para
colocar hospedeiro e agente em contato. É importante que se assegure a transferência rápida do
material infectante para o hospedeiro, não se esquecendo que hospedeiro e fonte de infecção
devem estar presentes no mesmo espaço e tempo.
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b) Transmissão aerógena: ocorre quando o agente etiológico permanece por um período
relativamente longo no ar, em suspensão, sendo que a presença concomitante da fonte de
infecção e do agente não ocorre. É a transmissão pelo ar, envolvendo outras alternativas de
disseminação de agentes infecciosos, como aerossóis e poeira.
- AEROSSÓIS: são as fragmentações das partículas líquidas das secreções
oro-nasais, por exemplo, no caso de um espirro. As partículas que apresentam mais do que 0,1
milímetro de diâmetro são chamadas de gotículas de Pflugge e, devido ao seu peso, não
conseguem atingir grandes distâncias, sendo depositadasno solo. Contudo, com a dessecação,
os agentes infecciosos, se sobreviverem, podem ser ressuspendidos com a poeira, atingindo
novos hospedeiros. Por outro lado, as partículas que apresentam entre 0,01 e 0,001 milímetro, por
serem mais leves, podem atingir novos hospedeiros a longas distâncias, favorecendo os agentes
infecciosos mais frágeis.
- POEIRAS: os agentes infecciosos que tenham uma certa resistência suportam uma
dessecação mais lenta e, com isso, tornam a se ressuspender, sob a forma de poeira, no ar
atmosférico, como já foi descrito anteriormente.
c) Transmissão pelo solo: o solo é depositário de tudo que lhe é lançado, sendo, por isso,
naturalmente contaminado por inúmeros agente infecciosos. Alguns precisam dele para realizar
parte de seu ciclo evolutivo, outros, apenas permanecem ali até conseguirem atingir um novo
hospedeiro.
d) Transmissão por alimentos: alguns alimentos contaminam-se naturalmente por estarem em
contato contínuo com o solo, e, conseqüentemente, com agentes infecciosos. Outros alimentos,
ao serem processados de forma inadequada, tornam-se contaminados, colocando em risco a
saúde da população consumidora.
e) Transmissão por vetores: vetor é um organismo invertebrado que dá proteção ao agente
infeccioso, proporcionando-lhe condições indispensáveis a sua propagação. Atuam de forma ativa
na propagação do agente. De acordo com as suas características, os vetores podem ser
classificados em vários tipos.
- VETORES MECÂNICOS: sua função é apenas transportar o agente infeccioso, que
não sofrerá nenhuma alteração biológica, até o novo hospedeiro.
- VETORES BIOLÓGICOS: alguns agentes infecciosos necessitam se multiplicar ou
concluir parte do seu ciclo evolutivo antes de atingir um novo hospedeiro. Os vetores biológicos
proporcionam estas características a tais agentes. O vetor biológico tem participação ativa do
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processo de transmissão, pois é ele quem retira o agente da fonte de infecção, dá a ele condições
de sobrevivência e, após o período extrínseco de incubação, leva-o até o novo hospedeiro.
Diferentes formas de penetração no novo hospedeiro podem ser utilizadas pelos agentes
infecciosos, após saírem dos vetores.
f) Transmissão por hospedeiro intercalado: o hospedeiro intercalado é um invertebrado que
não exerce participação ativa no processo de transferência do parasita, podendo ser
indispensável para o ciclo do agente ou apenas protegê-lo enquanto o mesmo permanecer no
meio exterior. A diferença do hospedeiro intercalado com o vetor biológico é que o primeiro
participa de forma passiva na transmissão do agente infeccioso.
g) Transmissão por produtos biológicos: os produtos imunizantes, como os soros e as vacinas,
assim como as diversas modalidades terapêuticas, quando não devidamente controlados, podem
transformar-se em importantes vias de transmissão do agente infeccioso.
h) Transmissão por fômites: os fômites tem particular importância naqueles casos onde o
agente infeccioso possui uma maior resistência às condições ambientais.
i) Transmissão por veiculadores animados: animais e pessoas que entram em contato com o
agente infeccioso podem transmiti-los a novos hospedeiros de forma passiva.
j) Transmissão por produtos não comestíveis de origem animal: couros, lãs, penas são
importantes veículos de propagação de agentes infecciosos.
4. PORTA DE ENTRADA
Porta de entrada nada mais é do que o ponto ou local de penetração do agente no
novo hospedeiro. Muitas vezes um mesmo agente infeccioso pode penetrar no novo hospedeiro
por diferentes portas de entrada. Inúmeras portas de entrada podem ser citadas:
- mucosa do trato respiratório;
- mucosa do aparelho digestivo;
- mucosa do aparelho genito-urinário;
- mucosa conjuntiva ocular;
- pele;
- canal do teto;
- ferida ou cicatriz umbilical.

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