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1 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 AUSCULTA CARDÍACA FOCOS OU AREA DE AUSCULTA Servem como pontos de referência, uma vez que nas regiões correspondentes a eles, encontram-se as informações mais pertinentes às respectivas valvas. Foco ou área mitral: localizada no 5° espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular e corresponde ao ictus cordis ou ponta do coração. Serão melhor percebidos os fenômenos estetoacústicos – alterações de bulhas, estalidos, sopros – originados em uma valva mitral estenótica e/ou insuficiente. Foco ou área pulmonar: localizada no 2° espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno. Apresenta condições ideais para a análise dos desdobramentos – fisiológico ou patológico – da 2° bulha pulmonar. Fenômenos acústicos originados nas valvas pulmonares, normais ou lesadas, são audíveis apenas nesta área. Foco ou área aórtica: situada no 2° espaço intercostal direito, justa esternal. O melhor local para perceber os fenômenos acústicos de origem aórtica é a área compreendida entre o 3° e 4° espaço intercostal esquerdo, nas proximidades do esterno, chamada de foco aórtico acessório. Foco ou área tricúspide: base do apêndice xifoide, ligeiramente para a esquerda. Os fenômenos acústicos originados na valva tricúspide – principalmente o sopro sistólico indicativo de insuficiência desta valva – costumam ser mais percebidos nas proximidades da área mitral. – É indispensável auscultar o coração durante a inspiração profunda, com o que se obtém intensificação do sopro se ele for de origem tricúspide. Outras áreas: borda esternal esquerda; borda esternal direita; endoápex ou mesocárdio; regiões infra e supraclaviculares; regiões laterais do pescoço; regiões interescapulovertebrais. SEMIOTECNICA Deve-se levar em conta: o estetoscópio, ambiente em que se faz ausculta, posição do paciente e do examinador, orientação do paciente, escolha do receptor adequado, aplicação correta do receptor, manobras especiais. ✓ Posição padrão: decúbito dorsal com a cabeça apoiada em um pequeno travesseiro, com o tórax completamente descoberto. Médico do lado direito, de pé ou sentado, conforme altura da cama ou mesa de exame. ✓ Paciente de pé ou sentado na beira do leito/cadeira + examinador em pé do lado direito: posição mais propícia para ausculta de fenômenos estetoacústicos originado na base do coração. ✓ Paciente em decúbito lateral esquerdo com a mão esquerda na cabeça + médico de pé do lado direito: posição adequada para auscultar os fenômenos da área mitral; a 3° bulha e o sopro diastólico da estenose mitral são mais audíveis nessa posição. ✓ Paciente em pé debruçando-se sobre a mesa de exame: quando há hipofonese das bulhas ou quando se quer exacerbar os sons originados na base do coração. Obtém-se maior aproximação do coração à parede torácica, tornando as bulhas e os outros sons mais audíveis. ➢ Manobras especiais: as mais usadas são as manobras respiratórias (inspiração ou expiração forçadas), o 2 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 exercício físico e o uso de medicamentos que agem sobre o sistema circulatório. BULHAS CARDIACAS Primeira bulha (B1): representa fechamento da valva mitral (AE) antecedendo o fechamento da valva tricúspide (AD). Possui timbre mais grave, tempo de duração maior que a B2 e tem maior intensidade no foco mitral, coincidindo com o ictus cordis e com o pulso carotídeo → TUM. Segunda bulha (B2): fechamento das válvulas semilunares (aórtica e pulmonar), sendo o componente aórtico audível em toda área precordial. O ruído pulmonar é auscultado no foco pulmonar e na borda esternal esquerda. → Em condições normais, o componente aórtico precede o pulmonar; → A B2 vem depois do pequeno silêncio, seu timbre é mais agudo, soa de maneira mais seca → TA. → Na expiração, as valvas fecham sincronicamente originando um único ruído. Já na inspiração, a sístole do VD se prolonga em função do maior afluxo sanguíneo e o componente pulmonar sofre um retardo que é suficiente para perceber os 2 componentes → desdobramento fisiológico/inspiratório da segunda bulha (TLA). → Em condições normais, a B2 é mais intensa nos focos da base (aórtico e pulmonar). → Nas crianças, a B2 tem maior intensidade no foco pulmonar. Em adultos e pessoas idosas, observa-se o contrário, isto é, a B2 é mais intensa no foco aórtico. Terceira bulha (B3): ruído protodiastólico de baixa frequência com origem nas vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra a cavidade durante o enchimento ventricular rápido. É mais audível na área mitral, com o paciente em decúbito lateral esquerdo. → TU Quarta bulha (B4): ruído débil no fim da diástole ou pré-sístole, devido à uma brusca desaceleração do fluxo sanguíneo, mobilizado pela contração arterial ao encontrar sangue no ventrículo ao final da diástole. → A inspiração aumenta a negatividade da pressão torácica e acentua a pressão abdominal, determinando maior afluxo de sangue ao VD, o que retarda a 3 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 sístole do VD, separando os componentes aórtico e pulmonar da 2° bulha (desdobramento). → A expiração aumenta a pressão positiva pulmonar, promovendo maior chegada de sangue ao VE, retardando sua sístole, aproximando os componentes. RITMO E FREQUENCIA CARDIACA Reconhecidas a B1 e B2, o passo seguinte consiste em determinar o ritmo do coração e a frequência cardíaca. Para determinar a FC, conta-se 1 minuto inteiro – em adultos o n° de batimentos/minuto vai de 60 a 100. Havendo apenas 2 bulhas, trata-se de ritmo de 2 tempos ou binário; quando se torna audível um 3° ruído, passa a ser um ritmo de 3 tempos ou ritmo tríplice: TUM-TA-TU-TUM-TA-TU- TUM-TA-TU. ARRITMIAS CARDIACAS As principais podem ser reconhecidas ou suspeitadas ao exame clínico, apoiando-se nos sintomas relatados pelo paciente e nos elementos obtidos ao exame do pulso radial, do pulso venoso e na ausculta do coração. É necessário, portanto, considerar as manifestações subjetivas e as objetivas diretamente relacionadas com elas e as manifestações que decorrem de eventuais distúrbios hemodinâmicos por elas causados. Nas taquiarritmias extrassinusais e nas bradiarritmias, podem ocorrer os mais importantes distúrbios hemodinâmicos, em função da diminuição do débito cardíaco (DC). → Pode ocorrer isquemia miocárdica por diminuição do fluxo coronariano, que é agravada quando a arritmia ocorre em paciente que já apresenta alguma enfermidade, em especial a aterosclerose, que reduz o lúmen vascular. → A intensidade da sintomatologia é diretamente relacionada com a frequência cardíaca, com o tempo de duração da taquicardia e com o estado do miocárdio. Taquicardia sinusal: aumento do número de batimentos cardíacos, com frequência superior a 100 bpm, podendo chegar a 150 em adultos e a 180 em crianças. ➢ Ocorre devido à exacerbação do tônus simpático e/ou redução do tônus vagal: condições fisiológicas (esforço/emoção) e patológicas (febre, hipertireoidismo, anemia, insuficiência cardíaca e circulatória periférica), como mecanismo de compensação para aumento do débito cardíaco. ➢ Ausculta: FC elevada (taquicardia/taquisfigmia), aumento da intensidade da B1 decorrente de ampla 4 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 abertura das valvas AV e o aumento da força de contração ventricular. Bradicardia sinusal: redução do n° de batimentos cardíacos, com FC inferior a 60 bpm, geralmente em torno de 40 a 50. ➢ Deve-se à exacerbação do tônus vagal e/ou redução do tônus simpático, em condições fisiológicas (sono, vagotomia, treinamento físico intenso), patológicas (hipotireoidismo, hipertensão intracraniana) e por ação de medicamentos (digital, reserpina, bloqueadoresbeta-adrenérgicos, amiodarona), disfunção do nó sinusal, por exemplo, como ocorre na doença de Chagas. ➢ A FC aumenta com exercício e diminui com as manobras de estimulação vagal. Ocorre alongamento do ciclo cardíaco a expensas da fase diastólica. Arritmia sinusal: variação na FC, geralmente relacionada com a respiração: inspiração – há aumento do n° de batimentos cardíacos – e na expiração, há diminuição. A frequência é normal ou diminuída (bradiarritmia sinusal). ➢ Deve-se a variações da influência vagal sobre o nó sinusal, que está estreitamente relacionada com a respiração. ➢ Observado em condições fisiológicas (crianças/adolescentes) e patológicas (hipertensão intracraniana, cardiopatia aterosclerótica) e em geral, desaparece com o exercício e a apneia. ➢ Ausculta: irregularidade na sequência das bulhas, as quais ocorrem ora mais rapidamente, ora mais lentamente, devendo ser diferenciada da extrassistolia e da fibrilação atrial. Extrassístoles: resultam de estímulos nascidos em focos ectópicos, por mecanismos variados. São prematuras, ocorrendo em um momento anterior ao da sístole normal, habitualmente sendo seguidas de uma pausa, chamada pausa compensadora. ➢ Nas supraventriculares, o estímulo origina-se nos átrios ou na junção atrioventricular (EXS atriais e juncionais), e nas ventriculares, em qualquer dos ventrículos – podem apresentar-se isoladas ou agrupadas. ➢ Quando agrupadas, constituem o bigeminismo (uma EXS após cada sístole normal); o trigeminismo (uma EXS após 2 sístoles normais), em pares/pareadas (ocorrem 2 a 2 entre sístoles normais); ou em salva (conjunto de 3 sístoles sucessivas). ➢ Em derivação do ECG, são chamadas monomórficas (apresentam mesma morfologia) ou polimórficas (diferentes morfologias). ➢ Podem decorrer de causas extracardíacas, cardíacas ou por ação de medicamentos – ênfase para cardiopatia chagásica crônica e cardiopatia isquêmica como fatores etiológicos. ➢ Quando muito frequentes, podem prejudicar o enchimento diastólico, ocasionando o aparecimento de manifestações de baixo DC por mecanismo semelhante ao das taquiarritmias. ➢ Ausculta: são percebidas como batimentos extras, superajuntados ao ritmo de base. A B1 do batimento extrassistólico supraventricular é hiperfonética, estando a onda de pulso presente, pois a sequência das contrações ventriculares é mantida. o As extrassístoles ventriculares não se acompanham de onda de pulso. Sendo percebida apenas na B1, seguindo-se um silêncio maior que o existente entre 2 bulhas normais e que corresponde à pausa compensadora. o A contração pós-extrassistólica produz bolhas mais intensas e resulta em uma onda de pulso mais ampla, justamente porque houve tempo para maior 5 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 enchimento das cavidades ventriculares. Taquicardia paroxística: ao surgir foco ectópico ativo de localização supraventricular ou ventricular, emitindo estímulos em uma frequência entre 150 e 250/min, o coração passa a ser por ele comandado, consubstanciando o que se chama de taquicardia paroxística (supra ou ventricular), conforme a localização do foco. ➢ As crises tem início e término súbitos, geralmente o espaço entre uma e outra é contado em semanas, meses ou até anos. ➢ Quanto à sintomatologia, além da palpitação, podem aparecer manifestações de baixo débito cardíaco e de restrição diastólica; quanto maior a FC e o tempo de duração da arritmia, quanto pior o estado prévio do coração, tanto mais intensas serão as manifestações clínicas. ➢ Ausculta: alta FC, sendo usual uma frequência maior que 180 bpm nas formas supraventriculares e menor que este valor nas ventriculares. Na ventricular, podem-se perceber ligeiras variações no ritmo e na intensidade da B1. Fibrilação atrial: a atividade do nó SA é substituída por estímulos nascidos na musculatura atrial, em uma frequência de 400 a 600 bpm. Estabelece-se, ao nível da junção AV, uma barreira protetora, de tal maneira que apenas uma parte dos estímulos chega aos ventrículos, de modo irregular. ➢ O ritmo cardíaco é completamente irregular, observando-se não apenas mudanças na intensidade da B1 de um batimento para outro, mas também variações nos intervalos de tempo entre as bulhas. ➢ Quando a FC é elevada, observa-se o chamado “déficit de pulso”, isto é, o número de pulsações radiais é menor que a FC, justamente porque não há tempo para o enchimento dos ventrículos quando as contrações se sucedem rapidamente. ➢ As causas mais comuns de fibrilação atrial são a estenose mitral, a doença de Chagas, a cardiopatia isquêmica e o hipertireoidismo. ➢ No bloqueio atrioventricular total, estabelece-se completa independência entre a atividade atrial e a ventricular. – Doença de Chagas e cardiopatia isquêmica são as causas mais frequentes. ➢ Em geral, na bradicardia sinusal, a FC é superior a 40 bpm, enquanto no bloqueio atrioventricular total, é inferior a 40 bpm. Bloqueio de ramo: ocorrência de retardo (incompleto) ou impossibilidade (completo) de condução do estímulo no nível dos ramos direito ou esquerdo do feixe de His. ➢ No bloqueio completo, o estímulo para ativação ventricular do outro ramo é conduzido pela própria musculatura miocárdica, o que ocasiona um atraso na despolarização do ventrículo correspondente ao ramo bloqueado. ➢ No bloqueio completo do ramo esquerdo, observa-se o desdobramento paradoxal da B2, que surge quando o paciente faz uma expiração forçada. Na inspiração, os componentes aórtico e pulmonar se superpõem, ouvindo-se um ruído único. ➢ As causas mais frequentes de bloqueio de ramo são a doença de Chagas e cardiopatia isquêmica. CLIQUES E ESTALIDOS ESTALIDOS DIASTÓLICOS: podem ocorrer nas estenoses das valvas mitral e tricúspide e, mais raramente, na insuficiência mitral e na comunicação interatrial. ❖ Estalido de abertura mitral: na estenose mitral, em decorrência das modificações anatômicas e das alterações pressóricas, a abertura da valva mitral passa a provocar um ruído 6 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 seco, agudo de curta duração; costuma ser intenso e palpável. o Mais audível com o paciente de decúbito lateral esquerdo, na área mitral e na borda esternal esquerda, na altura do 3° e 4° espaço intercostal. o Para ocorrer o estalido é necessária certa flexibilidade da valva, entretanto quando existe intensa calcificação ou quando ocorre hipertensão pulmonar muito grave, o estalido de abertura mitral deixa de existir. ❖ Estalido de abertura tricúspide: mais audível na borda esternal esquerda e, ocasionalmente, na borda esternal direita. As características estetoacústicas são as mesmas do estalido mitral – diferenciação ocorre através do sopro e tipo de pulso venoso. ESTALIDOS PROTOSSISTÓLICOS (PULMONAR E AÓRTICO): são ruídos de ejeção, por indicarem súbita ejeção de sangue nos vasos da base. Tem origem vascular e são produzidos pelas vibrações da parede do vaso. → São ruídos de alta frequência, agudos e intensos, produzidos na artéria pulmonar e na aorta. → É possível ouvir melhor o EP pulmonar na área pulmonar e na borda esternal esquerda, sendo encontrado na estenosa pulmonar moderada, na dilatação idiopática da artéria pulmonar, na comunicação interatrial e na hipertensão pulmonar grave. → O EP aórtico é mais audível na região que vai das vizinhanças do 4° espaço intercostal esquerdo junto à borda esternal até a mitral. Pode ser encontrado nas lesões valvares aórticas (estenose e insuficiência), coarctação da aorta, aneurisma da aorta, dilatação aórtica de etiologia aterosclerótica ou hipertensiva e em algumas cardiopatias congênitas cianóticas com desvio do fluxo sanguíneo paraa aorta (tetralogia de Fallot grave e truncus arteriosus). ESTALIDOS MESOSSISTÓLICOS E TELESSISTÓLICOS: ruído entre a 1° e a 2° bulha, no intervalo sistólico (clique sistólico), com origem na brida pericárdica ou pleuropericárdica ou o prolapso da valva mitral. → Ruído de alta frequência, seco, agudo, situado no meio ou no fim da sístole, cuja intensidade varia durante os movimentos respiratórios e com as mudanças de posição, sendo audível nas áreas mitral ou tricúspide. → Os estalidos mesossistólicos são considerados indicativos de prolapso das valvas mitral ou tricúspide, mesmo na ausência de sopros. SOPROS São produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. Quando se forma turbilhões, o fluxo deixa de ser laminar (normal) e surgem vibrações que originam ruídos (sopros). Aparecem na dependência de alterações do próprio sangue, da parede do vaso ou das câmaras cardíacas, sobretudo nos aparelhos valvares. Mecanismos formadores de sopro: 1. Aumento da velocidade da corrente sanguínea: provoca formação de turbulências que originam os sopros. Sendo um mecanismo que surge após exercício físico, na anemia, no hipertireoidismo e na síndrome febril. 2. Diminuição da viscosidade sanguínea: exerce efeito amortecedor sobre a turbulência do sangue, mas em caso de portadores de anemia (sopros anêmicos), a formação do sopro se dá pela diminuição da viscosidade sanguínea que acompanha esta afecção. 3. Passagem de sangue através de uma zona estreitada: O turbilhonamento 7 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 produz vibrações que correspondem aos sopros. Os defeitos valvares (estenose/insuficiência) e algumas anormalidade congênitas (comunicação interventricular, persistência do canal arterial) representam zonas de estreitamento entre 2 câmaras cardíacas ou entre uma câmara e um vaso ou entre 2 vasos. 4. Passagem do sangue para uma zona dilatada: explicam-se os sopros de alguns defeitos valvares, dos aneurismas e o rumor venoso. 5. Passagem do sangue para uma membrana de borda livre: originam-se vibrações que se traduzem como sopros. Quanto à situação no ciclo cardíaco podem ser classificados em sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos/contínuos. a. Sopros sistólicos: dividido em sistólico de ejeção e sopro sistólico de regurgitação. → Ejeção: causados por estenose da valva aórtica ou pulmonar e se originam durante o período de ejeção ventricular. Começa no intervalo que corresponde à fase de contração isovolumétrica. → Quando a pressão intraventricular ultrapassa a pressão intra-aórtica e intrapulmonar, o sangue começa a ser expulso dos ventrículos. A ejeção começa lenta, é máxima na mesossístole e reduz na telessístole (sopro em crescendo-decrescendo). → Regurgitação: audível desde o início da sístole; por isso aparece com a B1 recobrindo-a e mascarando-a. Ocupa todo o período sistólico com intensidade mais ou menos igual e termina imediatamente antes da B2 ou pode recobri-la. → Causados pela regurgitação de sangue dos ventrículos para os átrios, quando há insuficiência mitral ou tricúspide, ou de um ventrículo para o outro, quando existe uma comunicação entre eles. Durante todo o período sistólico, o sangue continua regurgitando e só deixa de fazê- lo ao terminar a contração ventricular. b. Sopros diastólicos: aparecem durante a diástole e, conforme o momento em que nela se situam podem ser classificados em protodiastólico, mesodiastólicos e telediastólicos/pré-sistólicos. → Ocorrem nas estenoses atrioventriculares (mitral e tricúspide) e insuficiência das valvas aórtica e pulmonar. → Nas estenoses AV, ocupa a parte média da diástole, momento em que se dá o enchimento rápido dos ventrículos; algumas vezes se prolonga, podendo sofrer certo reforço no fim da diástole ou pré-sístole. → São sopros de baixa frequência e tonalidade grave, o que lhes confere o caráter de “ruflar”. → Outro grupo aparece quando as valvas sigmoides aórticas e pulmonares não se fecham completamente. Podem ficar restritos à primeira parte da diástole (protodiástole) ou ocupar também a mesodiástole e a telediástole. São sopros de alta frequência, decrescendo e tonalidade aguda, qualidades que em conjunto dão a estes sopros caráter “aspirativo”. → Consequência da “regurgitação/refluxo de sangue” de um dos vasos da base para um dos ventrículos. c. Sopros sistodiastólicos ou contínuos: são ouvidos durante toda a sístole e a diástole, sem interrupção, recobrindo e mascarando a B1 e a B2. 8 Lorena Almeida | TXV| 2021.2 → A parte sistólica desses sopros costuma ser mais intensa e mais rude. São designados sopros “em maquinaria” porque lembram o ruído de máquina a vapor em movimento. → Aparecem na persistência do canal arterial, nas fístulas arteriovenosas, nas anomalias dos septos aortopulmonares e no rumor venoso. Relação do sopro com a fase da respiração: melhor exemplificada pela manobra de Rivero-Carvallo, com a qual se diferencia o sopro da insuficiência tricúspide do da insuficiência mitral. Execução da manobra: paciente em decúbito dorsal, receptor do estetoscópio na área tricúspide com atenção na intensidade do sopro. Paciente deve fazer uma inspiração profunda, durante a qual o examinador verifica intensidade do sopro → Se não houver alteração ou se o sopro diminuir de intensidade, diz-se que a manobra de RC é negativa, nesse caso o sopro é apenas propagação de um sopro originado na valva mitral. → Se o sopro aumenta de intensidade, pode-se concluir que sua origem é no aparelho valvar tricúspide. ➢ Outra influência da respiração pode ser observada nas lesões aórticas, cujos sopros tornam-se mais audíveis se o paciente fizer uma expiração forçada. Relação do sopro com a posição do paciente: paciente sentado com o tórax fletido para diante → sopros da base do coração (insuficiência aórtica) mais nítidos; paciente em decúbito lateral esquerdo → ruflar diastólico da estenose mitral mais intenso; paciente sentado ou de pé → rumor venoso aumenta de intensidade (diminui/desaparece quando deita). Relação do sopro com o exercício: o exercício quase sempre intensifica o sopro ao aumentar a velocidade sanguínea e estimular o sistema adrenérgico, sendo usado em suspeita de estenose mitral. SOPROS FUNCIONAIS: não dependem da presença de lesões anatômicas dos vasos ou do coração, com origem no simples aumento da velocidade da corrente sanguínea ou na diminuição da viscosidade do sangue, como ocorre nas anemias, hipertireoidismo, após exercício físico e durante períodos febris. SOPROS ORGÂNICOS: determinados por modificações estruturais em vasos ou aparelhos valvares. Somente é possível dizer, com segurança, que o sopro é orgânico quando ele for de grande intensidade (+++ a ++++), de alta frequência, com ampla irradiação e acompanhado de frêmito. SOPROS INOCENTES: sistólicos, de baixa intensidade (+ a ++), suaves, sem irradiação, mais audíveis na área pulmonar e região mesocardíaca, com nítidas variações pelas mudanças de posição do paciente. Não são acompanhadas de alterações das bulhas cardíacas e de frêmito e não há evidências de dilatação e/ou hipertrofia das cavidades cardíacas.
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