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Habilidades Clínicas IV Intoxicações Exógenas 4ª Fase Laura B. Terribile Mecanismo de Ação Os principais efeitos agudos do etanol que ocorrem em concentrações (5-100 mmol/l) relevantes para o consumo de álcool em adultos são: • aumento da inibição mediada pelo GABA e glicina; • inibição da entrada de Ca 2+ através de canais de cálcio voltagem- dependentes; • ativação de certos tipos de canais de K+; • inibição da função do receptor ionotrópico (canais de íons dependentes de ligantes) de glutamato; • inibição do transporte de adenosina. O etanol aumenta a ação do GABA nos receptores GABA A de maneira semelhante aos BZD O efeito do etanol é visto somente em alguns subtipos de receptor GABA A O etanol também pode agir na pré-sinapse para aumentar a liberação de GABA. O etanol produz um aumento consistente da função do receptor de glicina. O etanol reduz a liberação de transmissores em resposta à despolarização dos terminais nervosos ao inibir a abertura de canais de cálcio voltagem-dependentes nos neurônios. O etanol também reduz a excitabilidade neuronal ao ativar canais de K + retificadores de influxo ativados pela proteína G (GIRK), assim como potencializa a atividade do canal de potássio ativado por cálcio (BK). Os efeitos excitatórios do glutamato são inibidos pelo etanol em concentrações que produzem efeitos depressores do SNC in vivo. A ativação do receptor de glutamato NMDA é inibida em concentrações de etanol menores das que são necessárias para afetar os receptores AMPA. Efeitos do Álcool nos Sistemas Além dos efeitos agudos do etanol no sistema nervoso, a administração crônica também causa dano neurológico irreversível. Isso pode ser devido ao próprio etanol ou a metabólitos como acetaldeído ou ésteres de ácidos graxos ou a deficiências nutricionais (p. ex., de tiamina) que são comuns em alcoólatras. O principal efeito agudo cardiovascular do etanol é o de produzir vasodilatação cutânea, central em sua origem, que causa uma sensação de calor, mas que na verdade aumenta a perda de calor. Diurese é um efeito familiar do etanol. É causada pela inibição da secreção do hormônio antidiurético (HAD) e a tolerância se desenvolve rapidamente, de modo que a diurese não sejamantida. O etanol produz uma série de efeitos endócrinos: • Ele aumenta a produção de hormônios esteroides adrenais ao estimular a glândula pituitária anterior(adeno-hipófise) a secretar o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). • No entanto, a elevação da hidrocortisona (cortisol) plasmática, geralmente observada em alcoólatras (produzindo uma “síndrome pseudo-Cushing”), deve-se parcialmente à inibição do metabolismo da hidrocortisona no fígado pelo etanol. Junto com o dano cerebral, o dano hepático é a consequência grave mais comum, a longo prazo, do consumo excessivo de etanol. A acumulação aumentada de gordura (esteatose) progride para hepatite (i. e., inflamação do fígado) e eventualmente para necrose hepática irreversível e fibrose. Cirrose é um estágio final, com fibrose extensa e focos de hepatócitos em regeneração que não são corretamente “canalizados” para o sangue e sistema biliar. Desvio do fluxo sanguíneo portal ao redor do fígado cirrótico geralmente leva ao desenvolvimento de varizes esofágicas, que podem sangrar. Ocorre aumento do acúmulo de gordura no fígado após uma grande dose única de etanol por: • Liberação aumentada de ácidos graxos do tecido adiposo, que é resultado de estresse aumentado, causando descarga simpática; • Prejuízo à oxidação dos ácidos graxos, devido à carga metabólica imposta pelo próprio etanol. Metabolismo do Etanol O metabolismo hepático do etanol mostra cinética de saturação em concentrações bem baixas de etanol, logo a fração de etanol removido diminui com o aumento da concentração que atinge o fígado. Se a absorção do etanol é rápida e a concentração na veia porta é alta, a maior parte do etanol escapa para a circulação sistêmica enquanto, com a absorção lenta, mais é removido pelo metabolismo de primeira passagem. Essa é uma das razões pelas quais beber etanol com estômago vazio produz um efeito farmacológico mais intenso. O metabolismo do etanol ocorre quase que exclusivamente no fígado e principalmente por uma via que envolve oxidações sucessivas, primeiramente para acetaldeído e depois para ácido acético. A disponibilidade de NAD + limita a taxa de oxidação de etanol para cerca de 8 gramas por hora em um adulto normal, independentemente da concentração de etanol, Álcool Etílico Habilidades Clínicas IV Intoxicações Exógenas 4ª Fase Laura B. Terribile causando o aparecimento de cinética de saturação no processo. Também leva à competição entre etanol e outros substratos metabólicos para os estoques disponíveis de NAD +, o que pode ser um fator no dano hepático induzido pelo etanol. O metabólito intermediário, acetaldeído, é um composto reativo e tóxico e isso também pode contribuir para a hepatotoxicidade. A álcool desidrogenase é uma enzima citoplasmática solúvel que fica confinada principalmente em células hepáticas, e oxida o etanol ao mesmo tempo que reduz o NAD + a NADH O metabolismo do etanol faz com que a razão entre NAD + e NADH diminua, e isso tem outras consequências metabólicas (p. ex., aumento do lactato e lentificação do ciclo de Krebs). Praticamente todo o acetaldeído produzido é convertido para acetato no fígado, pela aldeído desidrogenase. O acetaldeído circulante geralmente tem pouco ou nenhum efeito, mas a concentração pode tornar-se muito maior em certas circunstâncias e produzir efeitos tóxicos. Hipoglicemia e Intoxicação alcoólica O álcool é metabolizado no fígado por duas reações de oxidação. O etanol é primeiramente convertido em acetaldeído pela álcool-desidrogenase. O acetaldeído é oxidado posteriormente a acetato pela aldeído-desidrogenase. Em cada reação, elétrons são transferidos para o NAD +, resultando em um aumento maciço na concentração de NADH citosólico. A abundância de NADH favorece a redução de piruvato em lactato e de oxalacetato (OAA) em malato. (Nota: o aumento nos níveis de lactato pode resultar em acidose láctica, e como o lactato compete com urato para excreção pelos rins, pode também resultar em hiperuricemia.) O piruvato e o oxaloacetato são ambos intermediários na síntese de glicose via gliconeogênese. Assim, o aumento de NADH mediado por etanol faz com que os intermediários da gliconeogênese sejam desviados para vias alternativas de reação, resultando na síntese diminuída de glicose. Isso pode acelerar a hipoglicemia, especialmente em indivíduos que tiveram depleção em seus estoques de glicogênio hepático. (Nota: a reduzida disponibilidade de OAA permite o desvio de acetil-CoA para síntese de corpos cetônicos no fígado, e isso pode resultar em cetoacidose alcoólica.) A hipoglicemia pode produzir muitos dos comportamentos associados à intoxicação alcoólica – agitação, prejuízo de julgamento e agressividade. Assim, o consumo do álcool por indivíduos vulneráveis – aqueles em jejum ou que se submeteram a exercício exaustivo e prolongado – pode produzir hipoglicemia, que pode contribuir para os efeitos comportamentais do álcool. O consumo de álcool pode também aumentar o risco de hipoglicemia em pacientes que fazem uso da insulina. Dessa forma, os pacientes que seguem um protocolo de tratamento intensivo com insulina são advertidos acerca do risco aumentado de hipoglicemia, que geralmenteocorre muitas horas depois do consumo de álcool. (Nota: o consumo crônico de álcool pode também resultar em fígado graxo alcoólico, devido ao aumento na síntese de triacilgliceróis. Isso ocorre como resultado da diminuição na oxidação de ácidos graxos, devido à queda na razão NAD+/NADH, e ao aumento na lipogênese, devido à maior disponibilidade de ácidos graxos {catabolismo diminuído} e de gliceraldeído 3-fosfato a desidrogenase é inibida pela baixa razão NAD+/NADH. Com o consumo continuado de álcool, o fígado graxo pode progredir para hepatite alcoólica, seguida por cirrose alcoólica). Resumex O álcool é absorvido sem passar pela digestão química no corpo. A bebida é absorvida já no estômago, no duodeno e no cólon e atravessa a membrana do tecido sem digestão. No fígado, o etanol é metabolizado, inicialmente pela presença da álcool-desidrogenase (ADH) que o converte em acetaldeído. Depois, o acetaldeído, pela aldeído desidrogenase, é convertido é acetato. Nestes dois processos de metabolização, há a participação das coenzimas de transporte de elétrons, que é o NAD+, convertido em NADH. O acetato é convertido em acetil CoA, que pode ser usado no ciclo de Krebs e até na síntese de lipídios (lipogênese). No caso do alcoolismo, a enzima álcool-desidrogenase pode estar bloqueada, então o organismo usa um sistema mitocondrial de oxidação do etanol, chamado de MEOS. JEJUM Quando não nos alimentamos, falta glicose, e o corpo a produz usando uma das vias que é a gliconeogênese. Essa via usa NAD+ para acontecer. Se bebermos antes de comer, teremos aumento do NADH, pois o NAD+ já foi utilizado e vai estar diminuído, não permitindo que haja síntese de glicose que o corpo precisa, causando uma hipoglicemia. GLICONEOGÊNESE A glicose é produzida a partir do lactato, que depois é convertido em piruvato, depois em oxalacetato que vira malato e volta a ser oxalacetato por uma série de reações que irão culminar na síntese da glicose.
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