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Yasmin Barbosa, M7. DOENÇAS EXANTEMÁTICAS Introdução As doenças exantemáticas são, em sua maioria infectocontagiosas, sistêmicas, acompanhadas de manifestações cutâneas agudas (rash) e sendo grande parte delas acompanhadas de febre. A erupção cutânea se deve a uma ação direta do agente causador ou de seus produtos(a maioria das doenças exantemáticas são causas por vírus). O diagnóstico diferencial da febre com erupção na pele é extremamente amplo. É importante saber a definição dos termos empregados para definir a alteração dermatológica e o seu mecanismo de lesão: Quase todas as doenças exantemáticas clássicas se iniciam com um enantema, alguns inclusive patognomônicos, como o do sarampo. Os principais tipos de lesões elementares dentro do contexto das doenças exantemáticas são: Os microrganismos podem causar erupção cutânea por diversos mecanismos: por invasão e multiplicação direta na pele (varicela, herpes simples), por ação de toxinas (escarlatina e infecção estafilocócica), por ação imunoalérgica (maioria das viroses exantemáticas) ou por dano vascular causando obstrução e necrose da pele (meningococemia – patologia que não abordaremos aqui). Com isso, pode-se dividir as apresentações exantemáticas em dois tipos básicos de exantema: o maculopapular e papulovesicular. Estes, como já dito, têm características próprias em cada doença, mas é possível agrupar qual está mais relacionado a determinada etiologia: Vale ressaltar que, das patologias listas acima, sarampo, rubéola e varicela são preveníveis por vacina o que mudou o panorama quanto à incidência destas doenças no Brasil já que tais vacinas fazem parte do esquema de imunizações preconizadas pela Sociedade Brasileira de Imunizações. A vacina tetra viral protege a criança contra os vírus do sarampo+rubéola+caxumba+- varicela e 1ª dose deve ser dada aos 12 meses e a 2ª dose aos 15 meses, não havendo esta vacina, pode ser dada a tríplice viral (sarampo+rubéola+caxumba) e, em administração separada, no mesmo dia, ser aplicada a dose da varicela. Recomenda-se ainda um reforço da varicela aos 4 anos de idade. Em caso de surto ou exposição domiciliar ao sarampo antes dos 12 meses de vida, a 1ª dose pode ser aplicada a partir dos 6 meses de idade, em seguida, deve ser administrada aos 12 e 15 meses as doses previamente preconizadas. Eritema é uma lesão de pele com coloração avermelhada-róseo decorrente de alteração vascular. Quando é disseminada pelo corpo, chama-se eritema e, quando presente em mucosas, chama-se enantema. Yasmin Barbosa, M7. Diagnóstico diferencial Apesar da similaridade de alguns quadros nas doenças exantemáticas, outros possuem quadro clínico típico ou alguma peculiaridade que já permite um direcionamento diagnóstico. Para identificar os quadros clínicos típicos e peculiaridades é preciso realizar uma boa anamnese que englobe: faixa etária da criança, calendário vacinal, tempo início e progressão do exantema, presença de sinais/sintomas prodrômicos(diz-se dos sintomas próprios de cada moléstia e cuja identificação permite um diagnóstico certo) e manifestações clínicas associadas. Além disso, um bom exame físico deve ser capaz de caracterizar bem o exantema e outras lesões em pele e mucosas associadas, bem como outros sinais clínicos que ajudam a fechar o diagnóstico. EMP: exantema maculopapular; SARAMPO PARAMOXIVÍRUS; GÊNERO MOBILLIVIRUS; FAMÍLIA PARAMYXOVIRIDAE) O sarampo é uma doença exantemática viral extremamente contagiosa que pode evoluir para óbitos em crianças < 1 ano e desnutridas. Etiologia: paramixovírus; Mecanismo de transmissão: via aérea, por meio de aerossol; Tempo de incubação: 8 a 12 dias; Tempo de contágio: desde 2 dias antes do início do pródromo até 04 dias após o aparecimento do exantema. Cuidados com os contactantes: aplicar a vacina contra o sarampo até 72 horas após o contágio; após esse período, até 6 dias, aplicar a imunoglobulina humana normal. Para crianças normais, a dose é de 0,25 mL/kg; nos imunodeprimidos, é 0,5 mL/kg; Isolamento: respiratório (uso de máscara) até 4 dias após o início do exantema; Quadro Clínico : A doença começa com pródromos que duram de 3 a 4 dias, com febre, tosse, cefaleia, mal-estar, prostração intensa, incomum em doenças virais. A febre é elevada, atingindo o auge na época do aparecimento do exantema, o que difere também da maioria das viroses, e cai em lise no terceiro ou quarto dia do exantema. A tosse é seca, intensa (incomoda o paciente), está sempre presente e é acompanhada de uma coriza abundante, hialina no início e purulenta nos dias subsequentes. Os olhos ficam hiperemiados, com lacrimejamento e fotofobia e, nos casos mais graves, ocorre edema bipalpebral. A prostração pode ser intensa, denotando comprometimento sistêmico. O enantema é a primeira manifestação mucocutânea a aparecer e é característico. A orofaringe fica hiperemiada e na região oposta aos dentes molares aparecem manchas branco-azuladas, pequenas, de cerca de 1 mm de diâmetro, chamadas de manchas de Koplik; A mancha de Koplik é um sinal patognomônico de sarampo. Elas surgem 1-2 dias antes do exantema e desaparecem 2-3 dias após. Cerca de 2-4 dias após o início do quadro intensifica- se aquele quadro inicial, o paciente fica prostrado e surge o exantema maculopapular morbiliforme, ou seja, existem áreas de pele livre de lesão entre as lesões. Este exantema tem progressão cefalocaudal (região retro auricular – pescoço – face – tronco – extremidades). As manchas aparecem 1 ou 2 dias antes do exantema e desaparecem 2 ou 3 dias depois. O exantema inicia-se atrás do pavilhão auricular, disseminando-se rapidamente para o pescoço, a face e o tronco e atinge a extremidade dos membros por volta do terceiro dia. Ele é maculopapular eritematoso, morbiliforme como regra, mas, em Yasmin Barbosa, M7. determinadas áreas, pode confluir. Na fase do exantema, a doença atinge o seu auge, ficando o paciente toxêmico, febril, com os olhos hiperemiados, queixando-se da claridade, com intensa rinorreia e tosse implacável. Para os não familiarizados, a aparência é a de uma doença grave. O exantema começa a esmaecer em torno do terceiro ou quarto dia, na mesma sequência que apareceu, deixando manchas acastanhadas. Diagnóstico: O diagnóstico é clinico, mas todos os casos suspeitos de sarampo devem ser submetidos a exames sorológicos para identificação de IgM e IgG do vírus em amostras de soro, urina e swabs de naso e orofaringe. A identificação do vírus tem como objetivo conhecer o genótipo do mesmo para diferenciar um caso autóctone de um importado e diferenciar o vírus selvagem do vacinal, já que a vacina é feita com vírus atenuado. Para conseguir realizar essas análises, o Ministério da Saúde recomenda coleta das amostras até o 7º dia após início do exantema, sendo que o IgM é possível ser identificado desde o início da doença até 1 mês após a mesma. Importante ressaltar que, o material coletado deve ser enviado para o laboratório acompanhado daquela Ficha de Notificação. Tratamento: Não há tratamento específico, mas é possível realizar medidas de suporte com sintomáticos. Recomenda-se a administração de vitamina A (palmitato de retinol) em menores de 2 anos de idade (< 6 meses: 50.000 UI, 6-12 meses: 100.000 UI e > 12 meses: 200.000 UI), 1 vez ao dia, por 2 dias. Complicações: O sarampo, apesar de ser uma “doença de infância”, não deve ser considerado moléstia banal “que todas as crianças devem ter”. O número de complicações é grande, podendo-se citar, entre elas: laringite, às vezes muito acentuada, traqueobronquite, pneumonite intersticial, ceratoconjuntivite, miocardite, adenite mesentérica, diarreia com perda importante de proteína e panencefalite esclerosantesubaguda. Otite média é a principal complicação bacteriana. Também podem suceder sinusite, pneumonia bacteriana, púrpura trombocitopênica, encefalomielite, reativação de tuberculose pela imunodepressão. Em crianças menores de 1 ano de idade e desnutridas, é causa não desprezível de óbito. Em adolescentes e adultos, a gravidade tende a ser maior. Devem ser considerados, além do sarampo clássico, mais duas formas de apresentação: o sarampo modificado e o sarampo atípico. O primeiro acontece quando o vírus acomete pessoas que têm imunidade relativa, ou pela aquisição intrauterina de anticorpos (portanto, ocorre apenas em crianças pequenas), ou por terem tomado gamaglobulina. Nesses casos, o tempo de incubação é maior, de mais de 3 semanas, os pródromos são mais leves, raramente observa-se mancha de Koplik e o exantema também é leve. Já o sarampo atípico, que ocorre em crianças que previamente tinham tomado vacina de vírus morto, é mais grave, com febre alta, cefaleia, mialgia, pneumonite grave e derrame pleural. O exantema é bastante variável, macular, vesicular ou petequial. Esta última forma de apresentação do sarampo, apesar de rara, é uma preocupação, em decorrência da teórica possibilidade de ocorrer se as vacinas não forem bem conservadas: 1. Diagnóstico: dosagem de anticorpos pela inibição de hemaglutinação (IH), neutralização, fixação de complemento (CF), realizada na fase inicial e 2 a 3 semanas após, com aumento de 4 vezes o título, ou pela pesquisa de anticorpos da classe IgM, os quais se positivam a partir do sexto dia do exantema; 2. Prevenção: é feita com vacina de vírus vivo e atenuado, aplicada no 12o mês de vida, e dose de reforço entre 4 e 5 anos de idade. Como após os 12 anos muitas pessoas perdem os anticorpos, podendo contrair a doença, já em uma idade de maior risco de complicações, recomenda-se que se aplique mais um reforço nesse grupo etário. RUBÉOLA (TOGAVÍRUS; GÊNERO RUBIVIRUS; FAMÍLIA TAGAVIRIDAE) Assim como o sarampo, a rubéola é uma doença de etiologia viral altamente contagiosa e, sua importância epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e à síndrome da rubéola congênita (SCR). A Rubéola também é uma doença de notificação compulsória (deve ser preenchida a respectiva ficha de Notificação/Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola) e prevenida por vacina (tríplice viral)! Etiologia: togavírus; Transmissão: via aérea, por meio de perdigotos; Tempo de incubação:14 a 21 dias; Tempo de contágio: de poucos dias antes até 5 a 7 dias depois da erupção; ATENÇÃO! Febre por mais de 3 dias após o início do Sarampo é um sinal de alerta! Importante se atentar para complicações (otite média, pneumonia, encefalites...). Yasmin Barbosa, M7. Cuidados com os contactantes: observação,a vacina é a única forma de prevenir a ocorrência de casos, não havendo evidências suficientes para realização de profilaxia pós- exposição. Isolamento: Respiratório e de contato para os casos adquiridos pós-parto, até 7 dias após o exantema. As crianças com infecção congênita são consideradas infectantes até 1 ano de idade ou até que a pesquisa de vírus na nasofaringe e na urina se negative; Quadro clínico: Principalmente em crianças não se observa pródromo, mas em adolescentes e em adultos podem aparecer sintomas gerais brandos antecedendo 1 a 2 dias o exantema que se inicia na face, espalhando-se rapidamente para o pescoço e o tronco e atingindo os membros já em 24 horas. O exantema é maculopapular róseo, pode, eventualmente, coalescer no tronco e tem curta duração, de 3 ou menos dias. Eritema maculopapular da rubéola Em alguns casos, observam-se, no palato mole, lesões petequiais, conhecidas como sinal de Forscheimer, que não é patognomônico dessa doença. Um achado marcante, entretanto, é a adenomegalia, que pode anteceder em até 7 dias o exantema. São acometidos, principalmente, os gânglios da cadeia cervical e retroauricular. Metade dos casos apresenta esplenomegalia discreta. As complicações na criança são raras, citando-se a púrpura trombocitopênica, a encefalite e, em mulheres, a artralgia. A grande importância da rubéola é na gestação em consequência da possibilidade de promover dano fetal; a vacinação em crianças visa fundamentalmente a proteger as mulheres suscetíveis do seu convívio; Diagnóstico: Isolamento do vírus do material de nasofaringe ou da urina. Pesquisa de anticorpos da classe IgM e de IgG contra rubéola no soro; Prevenção: é realizada com a vacina de vírus vivo e atenuado, que é aplicada após os 12 meses de idade. Complicações: As complicações na criança são raras podendo ocorrer trombocitopenia que costuma ocorrer 2 semanas do início do exantema, no entanto, é autolimitada logo não é necessário nenhum tratamento específico. De modo mais grave, podem ocorrer a encefalite pós- infecciosa panencefalite por rubéola. A primeira é decorrente do efeito viral direto, ocorre 7 dias após o início do exantema provocando convulsões, cefaleia e sinais neurológicos focais e levando ao óbito em 20% dos casos. Já a panencefalite progressiva da rubéola que pode ocorrer anos após o quadro clínico da doença havendo um distúrbio neurodegenerativo evoluindo com óbito em 2-5 anos. Exantema Vesicular VARICELA (VARICELAZOSTER; FAMÍLIA HERPETOVIRIDAE) Também conhecida por catapora, esta doença atualmente é prevenida por vacina na tetra viral o que levou a redução da sua incidência (1º dose com 15 meses e reforço aos 4 anos de idade). A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente possa ocorrer um segundo episódio de varicela. É uma doença de notificação compulsória apenas se caso grave, ou seja, que necessite internação. Em crianças imunocompetentes a varicela tem curso benigno, repentino e autolimitado. Etiologia: vírus da varicela-zóster, do grupo herpes; Transmissão: por aerossol, contágio direto e pela transmissão vertical. Tempo de incubação:10 a 21 dias; Tempo de contágio: do décimo dia após o contato até a formação de crostas de todas as lesões; Isolamento: respiratório e de contato; Cuidados com os contactantes: A imunoglobulina humana antivírus varicela-zóster (VZIG) deve ser indicada nas seguintes situações: A vacina da varicela é dada na tetra viral ou de forma isolada. A 1ª dose é com 15 meses e o reforço pode ser feito com 4 anos de idade. Yasmin Barbosa, M7. crianças imunocomprometidas, sem história prévia de catapora; gestantes suscetíveis; recém-nascidos cuja mãe tenha tido catapora dentro de 5 dias antes ou 48 horas após o parto; prematuros (gestação com 28 semanas) cuja mãe não tenha tido varicela; e prematuros (gestação com menos de 28 semanas) independentemente da história materna. A dose indicada é de 125 U para cada 10 kg e deve ser aplicada em 48 horas (até no máximo 96 horas) após a exposição. O uso de aciclovir como profilaxia em comunicantes é discutível, mas quando este for um adulto ou um paciente imunodeprimido e para o qual não se disponha da VZIG, talvez seja de interesse, pois nessas situações as manifestações da doença podem ser mais intensas e graves; Quadro clínico: Principalmente em crianças, o exantema é o primeiro sinal da doença, mas, eventualmente, podem-se notar febre baixa e mal-estar, os quais são mais proeminentes em adolescentes e em adultos. A erupção inicia-se na face, como máculas eritematosas que rapidamente se tornam pápulas, vesículas, pústulas e, finalmente, crostas. Essas lesões aparecem em surtos, geralmente por 3 a 5 dias, antecedidas por febre (viremia), promovendo um aspecto polimórfico do exantema. O envolvimento do couro cabeludo e das mucosas orais e genitais é frequente. As crostas permanecem por 5 a 7 dias e depois caem, deixando uma mácula branca, que não é permanente. Quandoa pele foi anteriormente traumatizada ou sofreu abrasão, como cirurgias, radioterapia, queimadura, presença de eczema, dermatite de fraldas, etc., as lesões costumam ser mais numerosas nessa região. Exantema papulovesicular polimórfico da varicela Diagnóstico O diagnóstico da varicela é clínico e costuma ser típico não necessitando a realização de testes comprobatórios, no entanto, é possível em casos graves quando é necessário realizar diagnóstico diferencial pode-se realizar coleta do líquido das lesões vesiculares nos primeiros 3-4 dias de erupção. Também está disponível a sorologia com IgM e IgG. Tratamento Envolve o uso de sintomáticos como anti-histamínicos para atenuar o prurido, antitérmico e analgésicos (estes, não salicilatos). O tratamento específico é com Aciclovir para menores de 12 anos ou pessoas com imunocomprometimento, comorbidades ou risco para agravamento do quadro. Além disso, deve-se recomendar a lavagem das lesões de pele com água e sabão, bem como é fundamental cortar as unhas da criança como forma de prevenir lesões de pele secundárias em decorrência o intenso prurido. TRATAMENTO ESPECÍFICO DE VARICELA PARA CRIANÇAS Crianças sem comprometimento imunológico Crianças com comprometimento imunológico ou casos graves 20mg/kg/dose, via oral, 5 vezes ao dia, dose máxima de 800mg/dia, durante 5 dias. 10mg/kg, endovenoso a cada 8 horas, infundido durante uma hora, durante 7 a 14 dias. Complicações: A principal complicação é a infecção bacteriana secundária das lesões de pele, causadas por estreptococos e estafilococos, em decorrência do prurido que é porta de entrada para estes patógenos presentes na pele e que podem causar piodermites, erisipela e celulite. A pneumonia intersticial também é uma complicação comum, sobretudo, em crianças imucomprometidas sendo importante causa de óbito neste grupo. Além disso, podem ocorrer manifestações hemorrágicas, hepatites e complicações no SNC, esta última é mais frequente em crianças < 5 anos e pode tanto atingir o cerebelo causando ataxia, quanto pode levar ao quadro de encefalite responsável por sonolência, coma e hemiplegia.
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