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1 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Mário INTRODUÇÃO • Traumáticas: rins, ureteres, bexiga, uretra e genitália externa. • Não traumáticas: retenção urinaria aguda, parafimose, escroto agudo, prostatite aguda. TRAUMÁTICAS • Incidência: representam 10% de todos os traumas de um Serviço de Emergência. • Rins (67%), bexiga (22%), genitália externa (7%), uretra (3%) e ureteres (1%). TRAUMA RENAL • É o terceiro órgão mais lesado no trauma abdominal, superado apenas pelo baço e fígado. • 80 a 95% dos traumas renais são fechados e o restante por ferimentos penetrantes. • A maioria dos traumas fechados é de lesões menores (contusões e lacerações menores que 1 cm). • Os penetrantes são normalmente graves com necessidade de exploração cirúrgica. • Lesões por desaceleração são de quadro insidioso, no entanto muito graves. • Patologias renais pré-existentes (rim em ferradura, defeito JUP, hidronefrose e tumores) são mais suscetíveis a lesões secundárias ao trauma. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Hematúria (nem sempre presente). • Instabilidade hemodinâmica • Dor lombar. • Hematoma em flanco. DIAGNÓSTICO • História, exame físico e avaliação hemodinâmica (mais importante). • TC em duas fases (uma fase sem contraste e outra com contraste). • Urografia excretora. • USG? • RNM. • Pielografia endovenosa “single shot”: injeção de contraste não alergênico seguido de raxio X (10min) → avaliação grosseira e contralateral. Lesão no polo inferior do rim direito. CLASSIFICAÇÃO TRATAMENTO • Progressivamente mais conservador (98% dos casos). • Traumas penetrantes necessitam de exploração cirúrgica (lesões associadas). • Únicas indicações absolutas para exploração cirúrgica de trauma renal são: instabilidade hemodinâmica, hematoma peri-renal pulsátil (se observa durante uma arteriografia) ou em expansão e sangramento persistente. • Extravasamento urinário isolado pode receber tratamento conservador, com resolução espontânea em até 87% dos casos. • Arteriografia com embolização arterial ou colocação de stents. 2 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Mário COMPLICAÇÕES • Urinoma (tumor formado por urina), abscesso peri- renal, sangramento, fístula arterio-venosa. TRAUMA URETERAL • Raro e ocorre principalmente de forma iatrogênica 80% e lesões externas 20%. • Lesões intra-abdominais normalmente associadas. • Lesões por traumas fechados – extremamente raras. • Lesões iatrogênicas (cirúrgicas ginecológicas, colo-retais e urológicas). APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Grande parte dos casos não apresenta nem mesmo hematúria. • Dor local. • Peritonite: extravasamento urinário. • Tumoração e dor local: retroperitônio. • Anúria: obstrução bilateral parcial ou total. • Febre e infecção secundária. • Fístula urinária. DIAGNÓSTICO • Pielografia retrógrada (padrão-ouro): trauma de uretra e rim. • TC com contraste: avaliação do retroperitônio (hematomas e coleções). • Exame laboratorial do líquido fistuloso. CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO • De hematomas à lacerações. • Varia de acordo com o grau da lesão. • Colocação de cateteres duplo J. • Anastomoses termino-terminais uretero-ureterais e uretero-piélicas, trans uretero-uretero anastomose, uretroneocistostomias. • Auto-transplante renal. COMPLICAÇÕES • Fístulas urinárias, urinomas, abscessos, peritonites e estenoses ureterais. TRAUMA VESICAL • Associada a fratura da pelve em 80 a 95% dos casos. • Rotura extra-peritoneal – espículas ósseas pélvicas (55%). • Rotura intra-peritoneal (mais grave; urina para dentro do peritônio) – compressão da cúpula vesical (38%) • Mistas (5 a 8%). APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Dor supra-pubica e irritação peritoneal. • Incapacidade de urinar. • Elevação de escórias séricas. • Hematúria macroscópica. • Cerca de 15 a 50% dos casos de fratura pélvica e hematúria macroscópica tem lesões vesicais. DIAGNÓSTICO • Uretrocistografia (indicação absoluta; acurácia entre 85 a 100%): trauma de uretra e bexiga. • Cistotomografia com contraste (enche a bexiga e faz uma TC associada). 1ª lesão: extra-peritoneal; 2ª lesão: intraperitoneal. CLASSIFICAÇÃO • Lesões não penetrantes, contusas ou fechadas • Lesões penetrantes. TRATAMENTO • Lesões extra-peritoneias: tratamento clássico conservador (85% de sucesso) – sonda vesical de demora por 10 a 14 dias para drenar a urina – ou cirúrgico em casos associados a outras complicações. 3 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Mário • Lesões intra-peritoneais: exploração cirúrgica. • Controle radiográfico em pós-operatório (10 a 14 dias). Lesão intra-peritoneal (compressa branca na direção do umbigo) COMPLICAÇÕES • Fístulas urinárias para a pele, uro-ascite (distensão abdominal por urina) e incontinências ou retenções urinárias (pacientes com lesões graves no esfíncter próprio da bexiga ou parede anterior ao trígono). TRAUMA URETRAL • Lesões uretrais anteriores e posteriores. • As lesões da uretra anterior, em sua maioria, é de uretra bulbar – queda a cavaleiro. • As lesões da uretra posterior estão normalmente associadas a fraturas de bacia, com lesão associada de bexiga, em 10 a 20% dos casos. • Mulheres: extremamente raras. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Sangue no meato uretral (mais comum). • Hematoma escrotal ou perineal sinal em “asa de borboleta”. • Próstata deslocada superiormente ao toque retal. DIAGNÓSTICO • Uretrografia retrógrada (padrão-ouro). 1ª imagem: lesão incompleta; 2ª imagem: lesão completa CLASSIFICAÇÃO • De distensão sem ruptura até lesões parciais-totais ou combinadas com comprometimento vesical. TRATAMENTO • Sondagem uretro-vesical cuidadosa com estudo radiológico visando posicionamento correto do balão. • Manutenção da sona por 14 dias e posterior controle radiográfico. • Cistostomia em caso de uretra não pérvia (punção na bexiga e drenar por cima). • Em um segundo tempo, uretroplastias pendulares ou posteriores, com e sem enxertos mucosos. • Uretrotomias internas. COMPLICAÇÕES • Estenoses uretrais e disfunção erétil. TRAUMA GENITAL • Fratura de pênis (mais comum). ✓ Intercurso sexual. ✓ Auto-punição (países orientais). ✓ Mordedura de animais. ✓ Acidentes automobilísticos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Estalido associado a dor, perda súbita da ereção e tortuosidade peniana. • Hematoma de haste peniana. • Em 10 a 15% dos casos existe lesão de uretra peniana. DIAGNÓSTICO • História e quadro clínicos típicos. • USG com doppler: descontinuação da túnica albugínea. 4 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Mário • Uretrografia: suspeita de lesão uretral. TRATAMENTO • Conservador (analgesia e compressas de gelo) quando não há ruptura da túnica albugínea. • Desenluvamento do pênis e rafia da túnica albugínea. • Uretrorrafia e derivação urinária (cistostomia). COMPLICAÇÕES • Curvaturas penianas, estenoses uretrais e disfunção erétil. NÃO TRAUMÁTICAS RETENÇÃO URINÁRIA AGUDA • É a incapacidade de eliminar, por via natural, a urina contida na bexiga, em consequência de uma disfunção neurogênica (individuo tetraplégico, paraplégico, com alzheimer e outras demências) ou obstrução mecânica. • Mais frequente no homem (uretra maior). OBSTRUTIVAS • VUP, estenose uretral, HBP, calculose vesical, tumores da bexiga, carcinoma da próstata e trauma urogenital. NÃO OBSTRUTIVAS • Funcionais: disfunção vesical de origem neurogênica (diabéticos), infecção geniturinária, pós-operatório imediato e dor perineal. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Dor supra-púbica associada a sudorese e ansiedade. • Gotejamento miccional aos esforços. • Globo vesical visível e palpável. • Uretrorragia (trauma). • Incotinência urinária por transbordamento ou paradoxal. DIAGNÓSTICO • História clínica, exame físico e presuntivo (com prioridade para o alívio da retenção).TRATAMENTO • Promover o esvaziamento vesical. • Calor local, estímulo visual e deambulação. • Sondagem vesical de alívio ou de demora. ✓ Sondas de alívio: situações transitórias (plásticas, duras) retiradas após a saída total da urina. ✓ Sondas de demora: situações permanentes (flexíveis e auto-elásticas) mantidas após o esvaziamento vesical. • Técnica de sondagem: cateteres finos (jovens) e cateteres calibrosos (idosos). • Passagem da sonda: ✓ Antissepsia da genitália externa (clorexidina, povidine – não utilizar à base de álcool). ✓ Assepsia em todo o procedimento – material estéril (luvas, gazes, seringas e sondas). ✓ Lubrificação do canal uretral (xilocaína geleia). ✓ Introdução do cateter de forma suave e firme (mandril metálico). ✓ Insuflação do balão (10 ml de água destilada) após a introdução completa da sonda. ✓ Tração da sonda – posicionamento do balão no colo vesical. ✓ Recobrir a glande com prepúcio/parafimose. 1ª imagem: cateter de alívio. • Se não conseguir a sondagem → cistostomia. ✓ Situações em que a uretra não se encontra pérvia. ✓ Punção após anestesia local da pele. 1. Bexiga repleta. 2. Não inclinar o trocáter. 3. Evitar a transfixação da parede vesical posterior. 4. Colocação da sonda com insuflação do balão. 5. Esvaziamento vesical lento – hematúria descompressiva. 5 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Mário PARAFIMOSE • Desenvolvimento prepucial fisiológico. • Prepúcio exuberante. • Fimose. • Quando o prepúcio de abertura estenótica é retraído expondo a glande e não é prontamente reduzido caracteriza-se como parafimose. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Dor localizada. • Edema da extremidade do pênis. • Aumento da sensibilidade peniana. • Prepúcio retraído com anel estrangulando o sulco balano-prepucial. TRATAMENTO • Redução manual com compressão digital da glande. • Diminuição do edema residual. • Cirúrgico – secção do anel estenótico, sob anestesia e redução prepucial. ESCROTO AGUDO Torção testicular (TT): • Dor testicular unilateral aguda. • Acomete crianças e homens jovens. • Importância do diagnóstico diferencial. • Fatores de pré-disposição: ciclismo, hipismo, natação, patinação e mal formação anatômicas. • Quadro clínico: dor testicular unilateral, súbita e intensa; dores reflexas; associação com náuseas e vômitos. • Diagnóstico: ✓ Quadro clínico clássico. ✓ Exame físico: testículo retraído, horizontalizado, epidídimo localizado anteriormente. ✓ Manobra de Prehn (não melhora a dor com a elevação testicular) e sinal de Angel (testículo horizontalizado). ✓ Exames de imagem: USG com doppler colorido (sensibilidade de 89,9%, especificidade de 98,8% e falso positivo de 1%) e cintilografia testicular (usava no passado). • Tratamento: ✓ Distorção manual: manobra “em livro aberto”, realizada de forma medial-lateral, sucesso em 2/3 dos pacientes. ✓ Cirúrgico: - Urgência em sua realização. - Até 12h → taxa de sucesso de 60% e atrofia de 40%. - Via de acesso: rafe escrotal. - Distorção do testículo: compressas úmidas e mornas. - Fixação dos dois testículos em 3 sítios diferentes com fios inabsorvíveis. Orquiepididimite (OE): • Dor testicular de instalação insidiosa. • Acomete mais adultos jovens e idosos. • Importância do diagnóstico diferencial. • Fatores de pré-disposição: uretrites, infecções urinárias bacterianas e virais, pós-operatórios (sondas), utilização de cateteres urinários e manobras para esvaziamento vesical. • Quadro clínico: dor testicular unilateral insidiosa de menor intensidade; dores reflexas; associado com processos infecciosos urinários; estado febril. • Diagnóstico: ✓ Quadro clínico clássico. ✓ Exame físico: hiperemia escrotal, calor local. ✓ Manobra de Prehn (melhora da dor com a elevação testicular). ✓ Exames laboratoriais. ✓ Imagens: USG com doppler colorido. • Tratamento: anti-inflamatórios, antibióticos, compressas quentes-úmidas e suporte escrotal e repouso (processo lento). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Torção de apêndice (testicular-epididimátio), hérnia, hidrocele, trauma/abuso sexual, vasculites e celulites, edema escrotal idiopático. 6 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Mário PROSTATITE BACTERIANA AGUDA • Processo infeccioso da próstata associado a infecção do trato urinário de forma ascendente, ou refluxo da urina vesical infectada para os ductos prostáticos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Adinamia, anorexia, febre, calafrios, artralgia, dores lombares, orquialgia, urgência miccional, disúria e polaciúria. DIAGNÓSTICO • Hemograma. • EAS com cultura e antibiograma (E. coli ou plurimicrobiana). • PSA. • Coleta de secreção prostática. • Toque retal e cateterismo uretral (evitar). TRATAMENTO • Antibioticoterapia empírica contra bactérias gram- negativas e enterococos x culturas. • Repouso e ingesta hídrica. • Sulfametoxazol-trimetoprima. • Fluoroquinolonas: 4 a 6 semanas ✓ Ciprofloxacina. ✓ Levofloxacina. • Hospitalização. COMPLICAÇÕES • Prostatite bacteriana crônica e reagudizações.
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